domingo, 3 de maio de 2009

DIANA - B. 1. DIANA 2 - ENGLISH TRANSLATION

TRADUZIDO DO INGLÊS
Por
José Patrício

spielenschach@hotmail.com

DIANA 2


CAPÍTULO 1

Naquela manhã às seis trinta, acordei uma hora mais cedo do que o habitual. O sentimento agradável, morno que estava a assumir o meu estômago misturava – se com uma tremenda energia de excitação que me impedia de continuar a dormir.
Ouvi o Romano a entrar pelo corredor.
“ Bom dia Gorgeous! Já a pé?!”
"Bom dia! Penso que devido ao facto de estar tão entusiasmado por ter encontrado o nosso novo apartamento tive há pouco uma explosão de energia súbita para acordar.”
Para minha surpresa despertara muito antes da hora habitual e estava a fazer café na cozinha.
Enquanto estava para ali deitada à espera dele a minha mente rememorava os últimos anos de minha vida. Acumulei durante alguns anos uma experiência que muitos não conseguiram durante a vida toda. Chegara ao ponto de ter de lançar mão da prostituição, já que havia perdido tudo, afim de pagar as minhas dívidas conseguindo chegar muito próximo dos 300 clientes habituais no espaço de quinze meses e apaixonar – me apenas por um, onze meses depois, para largar a profissão passados mais cinco meses. Era tudo tão vívido que parecia que fora ontem que tinha deixado para trás o meu título de prostituta, mas tinham passado apenas três meses desde a última provação com meu último cliente.
Romano parecia tão entusiasmado como eu à medida que entrava no quarto com duas enormes chávenas de café que acabara de preparar enchendo a casa de um agradável aroma misturado com a doce brisa estival que astuciosamente penetrava no quarto através da abertura das persianas e tapando tudo com um enorme e irritante sorriso.
Só quando se ajoelhou à beira da cama para me dar a chávena de café é que eu prestei atenção à expressão dele. Nunca o tinha visto tão radiante e fresco na medida em que o seu sorriso radiante e fresco iluminava mais intensamente o quarto do que os raios de sol entrando furtivamente pelas persianas da janela. Melhor do que as palavras poderiam explicar, expressava obviamente o mesmo sentimento que eu.
Perecia – me mais excitado, mais aliviado na medida em que o pesadelo estava a chegar ao fim e que finalmente íamos ser capazes de começar vida nova longe das quatro paredes que me obcecavam desde o dia em que me comprometera no relacionamento com a minha profissão de prostituta. As mesmas paredes que pareciam colocar os pés do mundo sobre os meus ombros continuavam a sufocar – me com a acumulação da negatividade que os meus clientes tinham colocado lá em troca de me esmerar a ouvir os seus problemas com atenção. Discutíamos a espécie de lugar de que íamos à procura até serem horas de Romano se ir embora para o escritório. Concordámos ambos que era necessário que abandonássemos Carcavelos e como um bónus tivéssemos uma chance melhor de encontrar uma casa, que preferíamos a um apartamento, pelo mesmo valor. Era esta a decisão certa na medida em que me veio a ideia de que Napoleão poderia dispor de um jardim exterior. No exacto momento em que Romano chegou à porta da rua gritou – me:
“Começa a procurar agentes imobiliários na net e combina visitas aos locais. Vamo – nos embora daqui!”

E assim ocupei o dia todo; navegava na net em cima daquele mesmo colchão em que trabalhara por aqueles quinze meses todos. O colchão onde me havia industriado a ter entretidos os homens, a ouvir os seus problemas, dar – lhe conselhos, prestar atenção às suas fantasias, ser sua amiga mas também o mesmo colchão onde tivera uma arma apontada à cabeça e em que desflorou para mim a dependência da droga.
Pela primeira vez os colchões, de mistura com a minha história, produziam emissões claras de positivas vibrações através do meu estômago enquanto procurava os e-mail dos agentes imobiliários. A luz que divisara nessa noite e que me conservava viva no local preciso onde quase ultrapassei as raias da sanidade mental principiava a aquecer – me.

CAPÍTULO 2

No curto espaço de dois dias eu o Romano fizemos várias marcações com agentes imobiliários procurando propriedades que se enquadrassem nos nossos planos.

Efectuávamos a nossa primeira visita na sexta-feira seguinte à hora do almoço. Encontrei Romano à uma da tarde na estação de serviço que se encontra próximo de Azóia onde combináramos reuni - mo – nos com o agente imobiliário que nos dissera para estacionarmos na berma da estrada que partia da estação de serviço e segui – lo por uma rua sinuosa em que as paredes das casas se encontravam cobertas de flores vermelhas e púrpuras cujas pétalas cobriam o pavimento empedrado como uma peça de arte que se prolongasse até ao cimo da colina.
Envolvido no agradável cheiro a alfazema, o Pobre Romano subia pela ladeira com dificuldade enquanto o suor lhe caía pela cara abaixo e se misturava com o idílico cenário. Chegámos passados cerca de cinco minutos em frente a uma porta de madeira toda coberta de hera. Sem adivinharmos o que nos aguardava, entrámos com o homem e a primeira coisa que se me deparou foi o proprietário a pintar e a dar os últimos retoques à casa. Contornámos a mobília empilhada no meio dos quartos enquanto seguíamos o agente imobiliário na visita dos compartimentos. Eu e o Romano ficámos convencidos de que a casa ia ser alugada sem ser mobilada e como não estava a gostar do aspecto do lugar depressa chamei a atenção para isso logo que dei uma olhadela aos trastes antiquados que se escondiam por debaixo da coberta.
Muito bem, a mobília vai – se embora. É exactamente aquela velharia da minha mãe quando eu tinha dezanove anos e que eu e a minha irmã sabíamos de sobra que tinha de desaparecer.”
“Isto é, se quisermos alugar o local”, acabou ele por dizer com um sorriso.
Mas não era isso que eu queria ouvir. Embora a casa de dois pisos tivesse janelas altas suficientes, bonitos terraços espaçosos e um jardim com cerca de dez metros quadrados para Napoleão, havia qualquer coisa que faltava neste edifício de vinte anos muito bem iluminado mas, ao mesmo tempo, tão escuro e pesado.
Agradecemos ao proprietário e sem comentarmos continuámos ansiosos à espera de ver a casa seguinte que se situava um quilómetro abaixo.
Quando chegámos a uma fiada de portas altas, eu e o Romano olhámos um para o outro cheios de entusiasmo perante a perspectiva de partilhar o nosso primeiro lugar enquanto o agente imobiliário se atarefava à procura da chave certa no molho enorme que lhe pendia da mão.
Quando conseguiu seguimo – lo através de uma sala de estar escura a servir de entrada e que conduzia a uma abertura estreita agradavelmente coberta de hera. Imediatamente à esquerda havia outra porta que o homem, uma vez mais, tentava abrir com uma chave coberta de ferrugem. Por fim a porta abriu – se rangendo e libertando um forte odor a bolas de naftalina e uma parca claridade de electricidade e sol. O homem chegou – se para o lado e pediu – nos para entrar.

Encontrámo – nos no que parecia ser uma cozinha medieval com uma velha mesa de madeira azul enorme onde podiam sentar – se pelo menos doze pessoas e que faria orgulhosa qualquer mãe italiana. O chão era de pedra e os poucos armários que existiam à volta do quarto quadrado eram feitos de madeira branca aberta gradeada.
Romano olhou para ver minha reacção, chocado como se isto fosse o último tipo de lugar que esperava encontrar. Como o agente imobiliário observava a minha reacção, depressa quebrou o silêncio
“Esta casa pertence à família do duque".
Falando sinceramente não estava preocupada que a casa pertencesse à Rainha de Inglaterra! Havia qualquer coisa naquela cozinha que me metia medo!
Dando – se conta da alteração da minha expressão pediu para o seguirmos à sala de estar onde a luz brilhante penetrava através de várias janelas.
Para meu assombro logo que entrei naquela sala de estar de quarenta metros quadrados fui tomada pela mais magnificente energia que jamais experimentara em anos. Simplesmente libertava a mais morna e mais poderosa das vibrações. Era isto! Não precisava de ver mais quartos, eu seria mais que feliz vivendo naquele!
Dois lados do aposento consistiram em janelas altas e estreitas que compreendiam o comprimento total da parede. Um dos lados era interrompido pela porta de entrada principal entre elas, dando passagem para o mais maravilhoso e bem cuidado jardim. O outro lado era por sua vez interrompido por uma enorme lareira e as janelas em cada lado conduziam a um velho pátio adornada com postes de iluminação e uma mesa de ferro e cadeiras igualmente de ferro fixas com pequenas pedras.
Um pouco afastada do pátio a um nível mais alto vemos uma enorme piscina exterior e Jacuzzi com um pequeno chalé tipo casa do lado direito.
Antes de continuarmos a seguir o homem para outro quarto a expressão de Romano havia – se iluminado logo que vira o sorriso agora estampado na minha face e sentia a energia positiva que a casa estava exercendo sobre mim.
A esfregar as mãos e agora com um olhar satisfeito no semblante, na perspectiva de fazer a sua choruda comissão, o agente imobiliário deu – nas as boas-vindas ao quarto principal com um aspecto tal que era como se estivesse situado nas montanhas dos Alpes com a sua enorme lareira. Não havia tecto, no seu lugar fasquias de madeira velha entrelaçadas de maneira a formar uma pirâmide precisamente por cima da gigantesca cama do tamanho da de um rei com três das quatro paredes da sala de estar cobertas de estilizadas janelas.
O homem conduziu – nos por outra porta ao quarto que dava para um banheiro de estilo rural que tinha acesso a outro quarto com o qual era compartilhado. Desta vez o quarto era pequeno com reluzentes paredes brancas, um apurado velho aparador que era usado como guarda-roupa e uma pequena cama individual camuflada com a sua igualmente branca e luminosa coberta.
Eu realmente não precisava de ver outros quartos. Esta era a casa que eu queria e Romano fez – me sentir com nitidez mais que satisfatória.
"É esta, hein? " perguntou o homem enquanto nos dirigíamos para a cozinha para ver o quarto em baixo cuja entrada era por ali.
"Sem dúvida ‚ que é" repliquei.
Mas de algum modo ter de caminhar para aquela cozinha era transtornante para mim. Havia qualquer coisa com ela que não era capaz de entender. Era como se nos encontrássemos em duas épocas e zonas de energia totalmente diferentes; escuro, versus luz, positivo versus negativo.
A casa fora construída em forma de "L" frente a frente. Este lado da casa tinha uma porta que conduzia ao pátio que, se incluído na forma da casa, formaria um quadrado perfeito.
Finalmente víramos o jardim bem cuidado e a casa de hóspedes que circundava o bonito, contudo velho edifício que em tempos idos deveria ter sido residência da família Real.
Sem fazer qualquer pergunta, Romano olhou para o agente imobiliário, apertou – lhe a mão e disse com um sorriso
"Eu penso que vamos ficar com ele. Manter – nos – emos em contacto."
Eu e o Romano tínhamos feito já mil e um planos para decorar a casa antes de regressarmos aos nossos automóveis. Tinha já como garantido que ali seria o lugar perfeito para um novo começo.

Não consegui sossegar durante o resto da tarde a planear como iria decorar a casa. Alguém deveria ter imaginado que eu era viciada em cocaína.
Depois, naquela mesma tarde Romano ligou – me para o trabalho para me pedir que me encontrasse com ele na agência imobiliária afim de combinarmos o contrato.
Quando chegámos, nem deu para acreditar o que a Directora nos veio a dizer
" Sinto muito. Temos aqui um caso especial. O dono da casa não só quer a renda dos meses normais paga com antecedência, como também quer uma garantia bancária equivalente a 3 meses de aluguer.”
Numa tentativa para nos acalmar devido ao estúpido pré – requisito, explicou que a Proprietária tinha sido azarada com todos os inquilinos anteriores, um dos quais não lhe pagara durante um ano inteiro.
"Está bem, pensaremos nisso e dar – lhe – emos a conhecer se estamos preparados para aceitar tais condições ridículas". Disse Romano enquanto ambos nos levantávamos para ir embora.

Passámos o fim-de-semana inteiro a tentar encontrar uma solução para dispormos do dinheiro para a ultrajante garantia bancária, a caução e o mês de adiantamento. Tudo considerado totalizava 7.500 euros o que estava longe de ser uma soma fácil de conseguir para um casal na nossa situação.
Queríamos a casa com tanta precipitação que domingo à noite tinha engendrado um plano para cobrir os custos. Eu pediria emprestado dinheiro de investidores para usar como uma garantia bancária e Romano tentaria arranjar o resto pedindo o abono de Natal com antecedência.
No dia seguinte voltámos à agência imobiliária com todas as exigências e prontos a assinar o contrato mas surgira agora outro obstáculo! Desta vez a Proprietária insistia em conhecer – nos antes de assinarmos o contrato. Como se isto não chegasse, só regressaria ao país na semana seguinte!
Pus – me a olhar para o Romano tentando convencer a Directora a mudar de ideias, muito embora a decisão não fosse sua, mas em vão. Finalmente Romano convenceu a Senhora que tudo bateria certo e então que receberíamos as chaves logo que o dinheiro garantisse a assinatura do contrato e acima de tudo, a aprovação da Proprietária.
Para minha estupefacção a Directora concordou e deu – nos as chaves mas com a condição de apenas podermos mudar para lá a mobília mas nós, não. Realmente nem podia acreditar como é que uma profissional podia concordar em fazer uma coisa destas sem um contrato assinado mas penso que o dinheiro falou mais alto do que o dever e fomo – nos embora com enormes sorrisos irónicos.
No dia seguinte estive o dia inteiro atarefada na embalagem da totalidade das caixas. Cada coisa, grande ou pequena, tinha de seguir, depois de lhe dar uma limpeza completa, para dentro dos milhares de pacotes. À medida que as limpava, pintava – se – me na imaginação o meu ritual de limpeza após cada sessão de clientes e era agora altura de fazer o mesmo com todos as minhas paradas de modo a expelir para a retaguarda toda a energia negativa.
Mantive – me tão ocupada que a duração da manhã me pareceu não excedera uma hora e logo me apercebi estar acordada para a grande mudança.
Estava tudo pronto a marchar com excepção do meu colchão de trabalho que seria utilizado para dormirmos até ao dia da assinatura do contracto e depois mandado fora para sempre. Eu ainda nem acreditava que tudo isto estava a acontecer, tão desejosa de ver o apartamento para trás das costas. Todas aquelas más recordações, todo o sofrimento psicológico, tudo! Imediatamente antes da última caixa estar a ser transportada pelo carregador, beliscava – me para ter a certeza de que isto não era um sonho, fechei a porta e segui – o para o elevador.
Levámos três dias completos a decorar a casa. Quando acabámos de mobilá – la colocámos tudo, com excepção das camas do quarto de hóspedes no chalé das traseiras e fizemos uso de tudo o que trouxéramos afim de evitar gastar dinheiro que não tínhamos.
A casa parecia fantástica. A cozinha tinha um motivo dos anos sessenta e a sala de estar estava decorada com simplicidade e gosto com algumas peças de arte e os mínimos essenciais. Os quartos foram mantidos como os encontrámos; planos, simples e brancos.

Um dia antes de termos combinado um encontro com a proprietária, Romano recebeu uma chamada do agente imobiliário para irmos à casa urgentemente.
Deixou imediatamente o trabalho, foi – me buscar ao meu apartamento e fomos. “Vamos perder a casa, não vamos, Romano?
“Não sejas patética! Só temos que nos mudar. Mas que diabo de ideia te deu?" disse tentando manter uma aparência despreocupada enquanto acelerava pela estrada.
Mantive – me calada durante o resto da viagem rememorando o que Romano tinha pedido que a Directora fizesse. Sabia que não estava certo e que traria problemas.
Quando chegámos à sala de estar lá estava a Directora com outro agente imobiliário a acalmar aquela Senhora de aparência aristocrática de longos cabelos lisos e compridos, atados atrás em estilo campestre e usando calças verdes e um casaco de tweed, que recusou admitir a nossa presença e estava sentada à lareira amuada.
A Directora chamou – nos à parte e, discretamente explicou que a Proprietária não estava o mínimo contente com a situação e que não devíamos ter mudado qualquer mobília.
Romano saltou imediatamente em nossa defesa:
“O que quer dizer que não devíamos ter mudado a mobília? Por que diabo me deu a Sr.ª. as chaves? Certamente que não lhe entreguei todo esse dinheiro apenas para tirar medidas!” disse para a Directora que, indelicadamente tentava lançar-nos as culpas.
A Proprietária estava ali sentada em silêncio como uma criança mimada até que finalmente disse com um exagerada entoação Real:
“Gostaria que todos se colocassem fora deste assunto. Não posso acreditar que possa vir a confiar nos senhores após ocorrências como estas. Façam favor de fazer os preparativos necessários para sair.”
Meu Deus, pensei chocada por semelhante atitude caprichosa. Como é que uma mulher de quarenta anos se pode comportar como uma criança mimada de dez anos de uma classe mais adiantada? Não dava para acreditar todo aquele cenário. Era como se fôssemos nós a merecer ser censurados enquanto na prática tinha sido falta do agente Imobiliário em ter concordado com Romano.
Levei um bom bocado a digerir o que de facto ouvia até que Romano olhou para a Proprietária e disse
"Alto lá, a Sr.ª tem o nosso dinheiro e a ridícula garantia bancária que pediu. Qual é afinal o problema connosco? Não lhe parecemos suficientemente ricos? Então devíamos parecer endinheirados como muita gente e que na prática não pode para pagar as contas da electricidade? Tenha calma, isso é absurdo.”
Todo aquele cenário me estava a dar a volta ao estômago, primeiro porque a casa significava tanto para nós, e segundo porque não havia no mundo maneira de me curvar àquela Senhora de tão estúpida aparência. Com «Título» ou sem ele. Até parecia que queria pôr – nos a suplicar – lhe para mudar de ideias e dar – nos autorização para ficar. Penso que isto é de uma má criação tal, de facto discriminatória mas não vou continuar aqui a discutir o assunto. Respeito a decisão e, falando com sinceridade, não me sentiria o mínimo confortável a viver num lugar onde a proprietária não confia em nós.
“É deveras insultuoso”, disse para a Directora em frente da proprietária como se lá não estivesse, precisamente como tinha feito connosco.
Não era isto que a mulher queria ouvir. Estava agora mais convencido do que nunca de que o que ela queria que fizéssemos era pedir – lhe para ficar. Olhei para toda a gente que estava no quarto, despedi – me com uma boa tarde e sugeri a Romano que nos fôssemos embora.
“Estarei em contacto” disse para a Directora que empalidecera.

Passada que fora uma hora, Romano telefonou -lhe e passou uns bons dez minutos a gritar e a ameaçar que ia empreender acção legal antes de finalmente lhe pedir para tentar convencer a Proprietária a mudar de ideias.
Todos nós sabíamos que a culpa era da Directora, portanto ainda estávamos com esperança de que resolveria o assunto a nosso favor no interesse de todos.
Para o fim da tarde telefonou a informar – nos de que falara mais uma vez com a proprietária e de que as perspectivas de mudar de ideias eram muito escassas. Contudo pediu – lhe para lhe dar alguns dias para se acalmar.
Já não sabia o que esperar na medida em que toda esta situação era tão bizarra e surreal que se assemelhava a algo como um filme. “A mim? Mas porque é que todas estas histórias ridículas vêm ter comigo?” e pensei de mim para comigo que não resistiria a permanecer no meu apartamento nem um minuto mais e agora ter de esperar umas noites até que a cabra caprichosa se decidisse e se fosse na verdade para ser a nosso favor.
Romano passou o resto da noite amaldiçoando a situação e ameaçando avançar com acção legal se a resposta da Proprietária fosse negativa. Mas todos sabíamos que acção legal implicaria estar sem mobília até o assunto ir a tribunal e neste país poderia significar para sempre. Ambos sabíamos que os nove meses passados tinham tido um péssimo efeito em ambos e que estávamos ficar sem energia de reserva para combater os infindáveis problemas.

Logo após o almoço do dia seguinte Romano telefonou do trabalho e logo que vi o seu número o meu intestino anunciou – me que era qualquer coisa que tinha a ver com a casa. E de certeza más notícias. E tinha razão.
“Desculpem amigos, disse a directora, não há mudança na opinião da estúpida mulher e quer toda a mobília fora dentro dos próximos três dias. ”
Isto era loucura total e mais furioso do que nunca, Romano teimava em processá – los a todos mas a última coisa que eu queria era outro infindável pesadelo. Mais do que nunca sentia – me precisamente como se nada disto pudesse acontecer; que eu e o Romano não poderíamos ficar juntos pois que havia contra nós uma força mais potente do que a nossa.
Uma vez mais comecei a telefonar para as companhias de mudanças e nem pude acreditar que a avaliação para uma muda era só seis dias depois. Chamei a Directora para a informar do problema ficando a saber que a proprietária parecia agora arrependida daquela estúpida decisão.
“Já temos confusão que chegue! tudo isto foi longe demais. Quero um lugar para viver, não para ser envolvida nos jogos de uma mulher caprichosa. Não vou desistir de marcar a mudança da minha mobília. “
Por alguma estranha razão tive um ímpeto que me levou a perguntar ao director pela primeira casa que víramos tal como Romano havia mencionado no meio de toda esta confusão. Meu dito meu feito, fiz – lhe uma oferta de trezentos euros a menos do que o preço pedido. Naturalmente que não irá aceitar. Vamos ver.
Para minha completa surpresa a Directora telefonou – me após ter falado com o dono informando – nos de que a oferta havia sido aceite. O que é engraçado é que quanto menos nos preocupamos com uma coisa mais depressa a conseguimos, pensei. Mas de modo algum queria ir para lá.
Fortemente compungidos por dentro, todos nós tínhamos esperança que no dia em que os carregadores chegassem a estúpida da proprietária tivesse reunido a necessária coragem para nos vir pedir desculpa pelo injusto comportamento, mas não o fez e eu e Romano para ali estávamos sem dizer palavra enquanto a companhia de mudanças embalava tudo outra vez, tudo aquilo que nos tinha tomado tanto tempo a arranjar numa casinha acolhedora e confortável.
A indignidade de toda aquela situação impedira – nos de ver o pior. Agora estávamos perante um furgão carregado e os empregados a perguntarem – nos a direcção de destino. Foi nessa altura e só nessas altura, que chegámos à conclusão de que não tínhamos nenhuma.
Romano olhou para mim.
“Não há opção, Diana. Tem de regressar tudo ao teu apartamento.”
Não podia acreditar. Toda a espécie de pensamentos e perguntas estúpidas me assaltaram a cabeça; o que diriam os vizinhos? Então e agora? Libertar – me – ia alguma vez daquelas paredes destrutivas? O que é isto, uma praga?
Romano deu aos homens a minha direcção e nós seguimos atrás deles. O silêncio manteve – se durante todo o caminho até chegarmos a casa. Sabia que se dissesse uma única palavra rebentaria a chorar e romano, por seu lado, demasiado assustado para dizer fosse o que fosse na medida em que se apercebia que eu era um vulcão prestes a explodir. Sabia bem a premência com que eu necessitava de deixar aquele lugar e de algum modo se sentia culpado por mandar – me de volta para lá.

Ao chegarmos à porta do meu apartamento Romano pediu desculpa. Escondendo todas as minhas emoções acumuladas na minha garganta, olhei para ele e disse:
“Não peças desculpa, Romano. Isto não devia acontecer. Sabes que não posso continuar a viver contigo neste lugar. E vou dizer – te uma coisa. Se passar pela aflição e embaraço de ver desaparecer uma única peça de mobília que seja, de regresso, por aquela porta, não será tão cedo que me irei daqui embora e suportar tudo isso de novo. Nem posso acreditar…Isto não era suposto acontecer. Não és capaz de ver isso?”
Talvez fosse um grito de ajuda. Talvez não fosse mais do que frustração por não termos estado à espera e ter encontrado alternativa de alojamento. Talvez fossem só as memórias de todos aqueles meses em que não podia compreender porque é que Romano era feliz a viver num lugar onde eu trabalhava em vez de partilhamos um espaço só para nós dois. Mas tudo somado era necessário um milagre para que Romano arranjasse uma solução na medida em que o furgão estava prestes a chegar ao meu apartamento.
Romano meteu a cabeça entre os braços na banca de cozinha e começou a chorar e
abanando a cabeça disse:
“Sabes que não é justo. Não faças isso, Diana. Chegámos tão longe, por favor, não me faças uma coisa dessas.”
“Romano, no minuto em que a mobília entrar pela porta não vai sair tão cedo. Era um erro enorme. Devia ter percebido isso quando me queria libertar do inferno e tu vivias confortavelmente no lugar onde eu trabalhava.”
Romano continuava a suplicar e no meio do seu resmoneio parou de abanar a cabeça, levantou – a das mãos e disse:
“Disseste que a primeira casa aceitara a tua oferta no outro dia, certo? Portanto vamos aceitá – la. Toca a andar daqui para fora.”
De certeza que Romano estava a brincar. A minha mobília estava na rua, o homem das mudanças cobrava lá fora ao minuto e aqui estava este sujeito a dizer para enviarmos tudo para a primeira casa sem sequer termos negociado o contrato de novo! Isto estava a tornar – se perfeita loucura, principalmente após termos mudado para a última sem assinarmos o contrato. Mas, de qualquer maneira, sentia – me demasiado fraca para jogar mais jogos e mantive – me calada a ouvir Romano a explicar a situação pelo telefone à Directora.
Enquanto o observava não pude deixar de imaginar que a senhora devia ter pensado que estávamos deveras descontrolados na medida em que Romano tentava desesperadamente remediar a embaraçosa situação.
Passados alguns minutos a Directora telefonou a responder. Para nosso espanto tinha conseguido falar com um dos donos que ainda se encontrava na casa a pintar e para nossa descrença concordou em que enviássemos o furgão sob a condição de arrumarmos toda a mobília num dos quartos disponíveis enquanto acabava uns biscatos.
Nem podia acreditar. Odiava o lugar mas por uns momentos pensei adorá – lo. Era o nosso salvador.
Eu e Romano nunca estivemos tão excitados. Não podíamos perder nem mais um segundo à espera do elevador e então corremos pelas escadas do edifício abaixo em direcção aos das mudanças que tinham estado pacientemente à espera de ordens no furgão.
“Desculpem rapazes. Houve uma mudança de plano. Não é aqui! É próximo do local de onde viemos. Sigam – nos” disse com um sorriso.
Antes que pudéssemos dar o nosso décimo passo na direcção do carro de Romano o homem chamou – nos:
“Ouça amigo. Não temos tempo para isto. Estamos atrasados para a mudança que se segue. Na verdade não podemos fazer – lhe o que pede.”
“Vá lá homem, não nos faça uma coisa dessas. Se lhe deixam a mobília aqui, é isso, acaba – se a nossa relação. Vá lá…Temos andado num inferno. Pagar – lhes – ei o dobro se necessário”
O homem fechou a porta do furgão e começou a discutir a situação com os outros dois colegas.
“Ok. Segui – lo – emos”
No preciso momento em que ia entrar para o carro olhei para Romano e disse
“Da última vez que levámos a mobília sem contracto assinado, olha o que aconteceu”.
“Está bem, Diana, tens toda a razão mas desta vez foi o dono que disse que o contracto só estará pronto ao fim de três dias”, replicou com um sorriso enquanto seguíamos para o novo lar.



CAPÍTULO 3

Tinham-se escoado dois dias desde que mandáramos a mobília para a nova casa e era esta a manhã combinada para assinarmos e nos serem entregues as chaves.
Quando estava quase a fechar a porta do apartamento atrás de mim, depois de ter dado um última olhadela pelos quartos e explodia com vívidas memórias, Romano olhou para mim e perguntou – me se tinha deitado fora o que tinha deixado na gaveta da cozinha. Olhei – o com uma expressão embaraçada pois que já lhe tinha dito na noite anterior que ia deixar alguns pratos e talheres para o Alex, meu amigo que me ia arrendar o apartamento
“Não, Diana, não estou a falar disso. Refiro – me aos teus telefones. Prometeste – me deitá – los fora mas ainda lá ficaram.”
Romano tinha mais que razão. Tinha prometido lançá – los fora mas alguma coisa dentro de mim estava cheia de medo de efectivar semelhante coisa. Como é que eu havia de fazer se as coisas não resultassem e não pudesse pagar as dívidas? O que decidir se me desentendesse de algum modo com o Romano?
Todos os meus medos e inseguranças governavam ainda a minha vida embora estivessem agora mais camuflados do que nunca no subconsciente. Se deitasse fora os telefones isso significava que se alguma vez fosse forçada a voltar a todos os meus clientes regulares que acumulara naqueles quinze meses de pesadelos ficariam perdidos. Significaria que tinha de começar tudo outra vez a partir da estaca zero. Detestava sonhar que seria forçada a regressar mas não podia permitir – me depender fosse de quem fosse numa aventura de negócio para pagar as minhas dívidas.
Naquele momento a guerra intestina que de vez em quando provocava uma revolução na minha cabeça quando eram mencionados os telefones começava a fazer sentir – se de novo. Não havia nada que eu mais desejasse do que ver os malditos a arder numa grande fogueira ao ar livre mas ao mesmo tempo era capaz de arriscar a minha vida nas chamas para os salvar. De qualquer modo convenci – me a mim própria que tínhamos chegado longe e Romano havia mostrado que na verdade sentia muito carinho por mim não obstante o meu passado; assim, sem ser capaz de ter segundos pensamentos, fui direita à cozinha, abri a gaveta onde tinha posto os telefones, peguei neles e, saindo pela porta da frente, regressei para o pé de Romano.
Desde que entrámos na estrada que Romano, silencioso e inexpressivo, aguardava para observar o que eu fazia com eles. Pedi – lhe para esperar no carro enquanto atravessava a via na direcção dos contentores do lixo. Antes que a guerra do meu interior se reacendesse e se começasse a travar a centésima batalha, abri a tampa e atirei – os para dentro.
Quando entrei no carro tive a sensação de que havia cruzado a raia de uma zona desprovida de tempo e de gravidade, como se passasse a flutuar no espaço. A minha impressão era a de um milhão de tons a deslizar dos meus ombros para baixo. Rapidamente este sentir foi substituído por outro de arrependimento e ansiedade. Romano pôs o carro em movimento e seguiu sem abrir a boca até que finalmente, passado um quilómetro, olhou para mim e disse:
“Muito bem, menina, qual é a sensação? Ficaste feliz com o que fizeste para que finalmente tudo esteja acabado?” perguntou num tom de voz conservador perante os solavancos do carro. Foi nesse preciso momento que o meu estômago começou nervosamente a incomodar – me e todo o arrependimento havia sido deixado precisamente naquele troço de estrada onde ele proferira aquelas palavras. Senti – me finalmente liberta do passado e não mais com capacidade para me classificar como uma prostituta. No fim de contas como podia ser eu sem a minha mais importante ferramenta, o meu telefone de trabalho?
Chegámos ao nosso novo lar, assinámos o contracto e começámos a olhar para aqueles quartos vazios logo que o proprietário e a directora saíram.
Para minha agradável surpresa a casa parecia totalmente diferente sem o pesadelo da velha mobília que tornava carregado o ar. Tinha a percepção de ser mais positiva embora não estivesse completamente segura se isso era devido à ausência da mobília ou ao simples facto de que havia salvo a nossa relação, inopinadamente, arrastando – nos para fora do mais negativo lugar da terra, o meu apartamento, o lugar onde eu vivia. Sabia que não poderia ter continuado com ele por mais tempo debaixo daquele tecto para parar de alimentar as alienações mentais que havia criado a seu respeito.
Eu e Romano atirámos – nos ao trabalho a tirar a mobília do quarto de reserva e a desencaixotar os volumes. Sentimo – nos exaustos ante a perspectiva de fazer tudo aquilo outra vez e encontrámo – nos a arranjar tudo num dia o que é muito pouco quando comparado aos três da última casa, dado a excitação inicial de fazer tudo na perfeição se ter evaporado.
A lareira era a maior atracção daquela noite. Iluminava os sessenta metros de sala de estar com uma acolhedora e positiva ambiência. Do lado oposto divisava – se a alta janela do tecto que atravessava o comprimento do quarto a sobrepujar o gracioso jardim campestre iluminado por um sobrelevante farol de nevoeiro. Não era nada se comprada com a outra mas era neste momento o nosso lar e tínhamos de torná – lo o melhor possível. O mais importante era que nos encontrávamos fora do alcance de todos os olhares predadores e da pesada nuvem de bruma ou seja o produto de uma colectividade feita de aparências numa sociedade onde as pessoas preferem passar fome para poderem comprar carros e vestuários caríssimos, para se iludirem mutuamente no que diz respeito ao status. Após darmos os últimos retoques na sala de estar, Romano sugeriu que mandássemos vir um takeaway do encantador restaurantezinho italiano que víramos ao fundo da colina.
A comida italiana não me atrai absolutamente nada mas estava tão exausta e esfomeada que até era capaz de comer um cavalo.
Enquanto o foi buscar tomei o meu primeiro imersão na minha nova casa de banho démodée para depois me dirigir à sala de estar e decorá – la com centenas de velas coloridas antes de pôr a mesa do jantar na mesinha do café que se encontrava entre a lareira e o sofá de couro.
Romano regressou quando acendia o incenso e comentou acerca da transformação do lugar especialmente com a luz dos círios tremeluzentes, a lareira e o fundo da música Enigma.
Sentámo – nos no chão em frente um do outro a jantar mas o todo ambiental estava a tirar – me o apetite da comida, antes me incitava a fome de fazer amor com ele na medida em que a música que se ouvia me recordava constantemente uma das minhas mais sensuais e excitantes experiências, que passara com Alexandra, a minha ex – namorada.
De algum modo recusara sempre ouvir aquela música desde que acabámos alguns anos atrás, só que alguma coisa me impeliu a pô – la.
Os poderosos sentimentos de desejo que se estavam a apoderar de mim eram suficientes para enviar vibrações para Lisboa e Romano podia senti – las mais do que qualquer um. Não eram necessárias palavras nem expressões, nada, mesmo nada era preciso. Eram simplesmente fortes, fazendo – me sentir que estava a transformar o coxim onde estava sentada num trapo molhado sempre que olhava para a lareira que era, naquele momento, o lugar onde todas as minhas fantasias metamorfoseadas num brasido se podiam libertar com uma intensidade ardente.
Subitamente senti uma boca molhada por detrás do pescoço forçando – me a cerrar os olhos e a lançar a cabeça para trás. O meu espaço entre o baixo – estômago e a vagina começara a arder mais intensamente do que as chamas vociferantes diante de mim. Deixei simplesmente levar – me com a força a que me rendia.
Levantei a cabeça e recuperei contacto com as chamas que pareciam mais ferozes do que nunca. Romano fez deslizar a mão para o meu top e começou a acariciar – me o mamilo. Avizinhava – se o desenlace de uma autêntica cena de amor mas eu queria colocar aqueles sentimentos na minha fantasia e deixar o meu espírito adormecer no seio daquelas impetuosas, esbravejantes labaredas e abandonar a Romano o meu corpo para satisfazer as suas necessidades. Recordei apaixonadamente um amigo meu, o Paulo que afirmou que não ia ter sexo com a mulher enquanto estivesse grávida. Apelidava esse seu gesto como um acto de respeito para com ela e para a criança que estava para nascer. Simultaneamente recordava ter lido como as grávidas têm por via de regra um desmedido apetite por sexo. O simples acto de Paulo recusar satisfazer a mulher era mero acto de auto – domínio e auto – controle. Como me sentiria eu se Romano me reprimisse deste sentimento no caso de estar a proteger a sua criança até ao ponto em que eu chegasse a pedir ou fazer alguma coisa que demonstrasse o que então sentiria?
O meu espírito avançou para o futuro. Desta vez encontrava – me grávida de um filho de Romano. Tinha – o aguardado o dia inteiro. Os minutos pareciam horas e as horas pareciam dias. A sensação escaldante de o ter dentro de mim transferiu – se para a minha mente e para o meu ser.
Quando finalmente Romano chegou a casa fui cumprimentá – lo à porta começando a beijá – lo intensamente enquanto sentia o filho no meu estômago. Havia seis meses que não era penetrada e estava desejosa que aquele momento quebrasse o ciclo.
“Não, Diana. Já te tinha dito. Nada de sexo antes da criança nascer.”
Comecei a pedir e a suplicar até ao ponto em que começou a gritar e a mandar – me parar.
“Tu és mulher. O teu desejo só será satisfeito quando eu disser e até que dês à luz a criança tens de ser reprimida de ter prazer. Por outro lado, dado que sou homem, tenho o direito de me deleitar com quem quiser enquanto o teu estado perdurar.”
Quanto mais ouvia estas palavras mais a fome aumentava e mais reprimida e avassalada me senti. Continuei a imaginar Romano a encaminhar – se para um dos quartos vagos e fechar a porta atrás de si.
Ao visionar tudo pelo buraco da fechadura vi uma bela mulher, nua, sentada na berma da cama em frente dele, também sentado como ela. Colocou – lhe a mão na cabeça enquanto ela começava a abrir – lhe o fecho das calças antes de lhe meter o bem teso e erecto pénis na boca e encostando a cabeça à sua pélvis até ao púbis.
O completo cenário fez – me murmurar de inveja pois estava ali com alguém que parecia uma prostituta e tinha – me proibido o prazer.
Comecei a acariciar – me enquanto Romano a puxava da cama, lhe fazia dar meia volta e a obrigava a ajoelhar – se em frente dele deslizando – lhe o pénis que humedecia de saliva para dentro da vagina friccionando – a com intensidade tal e de modo a fazê – la gritar de êxtase.
Subitamente o meu ouvido apanhou um gemido; era Romano que atingia o clímax. Regressei à realidade para me encontrar na mesma posição no sofá em que tinha visto a prostituta no leito na minha imaginação desenfreada.
Fixáraramo – nos em poucos dias e apoderara – se de nós a sensação de que vivíamos ali havia anos. Napoleão depressa se juntou a nós e encontrava – se tão ocupada nas suas aventurosas correrias pelo pátio de recreio que me fez vir à ideia a necessidade que tinha antes de a levar a passear em intervalos de algumas horas. Mas que alívio! Para meu espanto total, Romano começou a fazer diariamente um percurso de dez quilómetros para almoçar em casa e ao fim do dia chegava uma hora mais cedo do trabalho. Recordava que ele nunca fizera isso antes a não ser que estivesse para me encontrar com um amigo para almoçar. Nesses casos isso era uma rotina.
Era para mim um grande problema nessa altura. Era como se me recordasse dele apenas na hora do almoço se tivesse planos e se me sentisse como se estivesse mais interessado nas companhias de quem eu ia estar. No entanto se almoçasse sozinha na minha rotina, como a maioria das vezes, ele almoçava no trabalho e eu nunca era convidada.
Mas as coisas mudaram. Talvez não fossem como eu tinha pensado. Agora que toda a gente sabia que nos tínhamos mudado juntos, sentia – se como se tivesse mais liberdade de deixar o escritório para se vir encontrar comigo.
Precisamente no momento em que Romano estava a fechar a porta para regressar ao trabalho, após o almoço, Marilyn telefonou. Não podia acreditar! Tinham precisamente passado seis meses desde a última vez que falara com ela. Ansiosa para me pôr a par dessas notícias todas convidei – a nessa mesma tarde.
Enquanto esperava por ela lembrei – me do nosso primeiro encontro onde a elegante, amarga, bem – educada senhora me pedia desesperadamente ajuda quando estava prestes a perder tudo depois de arruinar o seu emprego onde estava há muito tempo para embarcar numa nova aventura de um negócio que acabou por falhar.
As minhas reminiscências foram interrompidas pela campainha da porta. Ela acabara de chegar, abri e, para minha surpresa, Marilyn já não era aquela frágil, magra senhora de pele de azeitona que eu conhecia. Tinha engordado no mínimo cinco quilos e parecia mais saudável do que alguma vez a vira antes.
Cumprimentou – me e seguiu – me para a sala de estar. Pela primeira vez na nossa relação ela estava muito alegre e não podia largar o largo sorriso que ostentava na face. Quando lhe perguntei porque estava tão feliz respondeu que se reconciliara com o antigo namorado. Pela minha vida que não podia acreditar no que estava a ouvir. O que ainda era mais difícil de digerir era que o rapaz a tinha, no passado recente, deixado por alguém que o enganou e que originou o seu regresso a Marilyn!
Passámos horas à conversa rindo acerca dos nossos dias de trabalho embora na altura não constituíssem assunto para galhofa. Marilyn tivera sorte, só experimentou algumas semanas de profissão mas estou convencida de que quando se atendem alguns clientes é como atender 400. Eu, por outro lado, tinha trabalhado quinze meses e durante todo esse tempo nunca pensei poder ser afectada fisiologicamente, mas o futuro ainda tinha uma palavra a dizer.
“Então, Diana, ainda manténs algum contacto com alguns dos teus ex – clientes? perguntou.
“Naturalmente que sim, com alguns dos meus velhos regulares que tinham o meu número de telefone”
“Verdade? Mas porque te contactam eles? Querem – te a trabalhar? E o que é que se passa com Romano? “
“Não, ri”. Contactam – me de vez em quando a perguntar como correm as coisas. Não há ponta de desrespeito. São, de facto, bons amigos. E no que ponderando as preocupações de Romano, não lhe escondo coisíssima nenhuma e confia em mim, portanto como é que havia de desconfiar fosse do que fosse? Digo – lhe absolutamente tudo e é precisamente isso que ele admira em mim.
Mudando de assunto perguntei – lhe se o seu regresso ao antigo namorado era a única razão da mudança de espírito ou se havia mais alguma coisa de que me não falava. Marlyn curvou a cabeça e durante alguns momentos as lágrimas começaram a correr – lhe pela cara abaixo. Quando inclinou a cabeça para o lado para limpar a lágrima que enchia o seu olho direito ajoelhei – me à sua frente para a consolar e pedir desculpa por tê – la afligido.
As lágrimas de Marilyn transformaram – se subitamente num riso histérico de maneira que o sorriso regressou à sua face e perguntou:
“Já alguma vez ouviste falar no Dr. Sousa Martins?”
“Sousa quê? Era porventura um cliente teu ou meu?
Soltou uma segunda gargalhada, abanou a cabeça enquanto procurava os cigarros.
“Não querida. O Dr. Sousa Martins foi um Médico que morreu há cerca de cem anos. Os seus restos encontram – se sepultados no cemitério de Alhandra. É crença geral de que este médico ajudava aqueles que o procurassem.”
Calei – me muito bem calada para não a desapontar com tais assuntos. Sabia a direcção que ela estava a tomar e eu não acredito em espíritos, embora, admita que é a ferramenta mais poderosa para fazer as coisas acontecer. Contudo, creio que a maioria das pessoas são possuídas da crença de que existe um lugar ou uma entidade com um poder superior de que derivam mas, naturalmente apenas se acreditarmos de uma ou outra maneira. Recuei no tempo para os dias obsidiantes, asfixiantes da minha dependência da cocaína e de como também, em desespero chegara ao santuário de Fátima, não por acreditar no que lá havia acontecido, já que toda aquela história era pura criação governamental em momentos de desespero afim de fomentar a fé em tempos de guerra. Tinha – me dirigido lá, sim, para ficar rodeada de uma energia poderosa que milhões de crentes ali haviam acumulado e, se acreditasse nessa energia, poderia operar milagres porque o poder do espírito é, sem dúvida, a mais poderosa das ferramentas. Marilyn começou fortuitamente a explicar porque é que ia fazer uma visita ao Dr. Sousa Martins. Acreditava piamente em sortilégios e estava convencida de que fora alguém que fez com que se separasse do seu ex namorado. Para além disso, estava também convencida que alguém agira do mesmo modo para arruinar a sua vida financeira.
Continuei a ouvir e a analisar Marilyn e o seu arrazoado em silêncio. Em primeiro lugar, não podia haver qualquer explicação lógica para o facto de alguém lhe querer roubar o namorado e, em segundo lugar, porque é que alguém a havia de ter enfeitiçado para a obrigar a perder dinheiro já que ao chegar ao fim do dia o lucro não revertia para os outros. Isto era mais que evidente para mim.
Quando passei a analisá – la, tinha já observado muita gente que havia recorrido à crença admitindo que as suas vidas haviam sido postas de pernas para o ar devido a este tipo de situações. Era como se as pessoas sentissem a necessidade de acreditar que havia alguém estranho capaz de as provocar devido a tais rituais. Uma desculpa fácil quando na verdade deviam crer que o poder reside no facto de se controlarem e que era nelas que residia o problema e nelas também a capacidade de ajustar soluções para os resolver.
O que estas pessoas não conseguiam compreender era aquilo que consegui descobrir por mim mesma alguns anos atrás quando também havia sido influenciada a acreditar em semelhantes invencionices. A diferença entre mim e elas era que eu libertei – me e li tudo o que me apareceu sobre o assunto ao ponto de pôr tudo isso em dúvida e descobrir que a magia existe apenas na cabeça das pessoas que querem influenciar os outros a esse respeito e só irá funcionar se o receptor se deixar influenciar acreditando e conferindo – lhe assim poder.
Passara meses sem fim a tentar imaginar porque é que semelhantes rituais eram realizados com coisas tais como velas coloridas e concluí finalmente que esses instrumentos são apenas meras ferramentas para conduzir o espírito na direcção certa mas, no fim de contas, o que prevalece é o poder da mente e, acima de tudo, da crença.
Mas, tudo isto já eu o havia dito a Marilyn. Contudo, na medida em que estava demasiado envolvida em acreditar nessas coisas em lugar de se esforçar e investigar por si mesma, não podia delir o lado negativo da irrealidade. Tinha – lhe dito que quanto mais acreditasse mais havia de alimentar a negatividade e contribuir para desenvolver um ciclo destrutivo como alguém que de facto tentasse colocar alguma destas coisas em primeiro plano. Em caso negativo devia estar ainda na exacta situação de medo que isso acontecesse e fosse realidade palpável com consequências negativas para ela ou fosse quem fosse na sua órbita para quem, segundo a sua ideia, estavam destinadas.
Perguntou se podia confiar em mim e ante o meu olhar de consternação perante a sua ridícula pergunta suspirou e pediu – me para lhe fazer uma chávena de café.
Dirigi – me para a cozinha e deixei – a pensar na maneira como me iria contar. Após o meu regresso dei a Marilyn a grande chávena de café expresso, um hábito que ela adquirira quando costumava fazer – me companhia nos intervalos dos meus clientes.
“Ah, ainda te lembras que desde o tempo em que te encontrei só bebo em chávenas grandes?”, disse com um sorriso.
”Como poderia esquece – me? Costumava passar o tempo a fazer – te aquelas chávenas enquanto lias o tarot. A propósito, ainda o lês? Por favor não me digas a frequência com que o fazes.”
“Na verdade deixei – me disso desde que comecei a visitar o cemitério”, replicou.
“Fantástico. Sempre tentei dizer – te que a tua vida girava à volta dessas cartas. Estava deveras preocupada contigo. Não era nada saudável e de nenhum modo normal.”
Marilyn começou então a explicar toda a história daquilo de que estava desejosa de me dizer e, assim, começou por recuar um ano. A má escolha que havia feito ao deixar o seu longo período de desemprego transformou – lhe a vida numa confusão e começou a suspeitar de todos aqueles que acarinhava incluindo o namorado.
Estava agora convencida que ele mantinha um caso com uma rapariga brasileira pelo simples facto de a ter cumprimentado num bar local. A paranóia levou – a a consultar uma amiga, a Lucy que deitava normalmente as cartas. Esta aconselhou – a a procurar uma pessoa mais poderosa no mesmo campo que lhe havia de acabar por resolver o problema do relacionamento. Mas mal pensava Marilyn naquilo em que se ia meter.
Portanto, seguiu o conselho da Lucy e fez uma marcação para consultar uma velha senhora em Cascais. Depois de deitar as cartas de tarot, a senhora informou – a de que o namorado andava a ser enfeitiçado com a finalidade de os separarem. Ao pedir – lhe ajuda e conselho, a velha mulher depressa sugeriu que deviam fazer um esconjuro o que significava que o namorado só passaria a ser capaz de ter relações sexuais com ela.
Marilyn concordou antes de negociar o preço com a mulher que se apressou a dizer que um tal ritual lhe iria custar para cima de 200 euros na medida em que a reza feita contra a tal e o seu namorado era extremamente forte. E, naturalmente era necessária! No curto espaço de algumas semanas, o seu relacionamento com o namorado deteriorava – se em lugar de se compor e já não havia mais sinal de rapariga brasileira. Contudo, passados dois meses Marilyn descobriu que o falhanço do seu relacionamento havia levado o namorado a deixá – la por uma stripper de leste.
Mas não tinha só este problema. O problema real surgiu depois de se ter encontrado comigo. A sua insistência em estar infestada de pragas levou – me a tentar educá – la com aquilo que eu havia concluído dos meus estudos acerca do assunto.
Também lhe dissera “quem semeia ventos colhe tempestades” e tudo aquilo que, conscientemente, tentares fazer aos outros vai – te acontecer a ti já que o subconsciente é uma ferramenta muito poderosa.
“É sempre importante ter uma consciência clara de ser capaz de diferenciar entre paranóia e realidade. É sempre também um pré – requisito para atingir positivamente o futuro. O consciente de alguém que é culpado há – de trazer inevitavelmente um futuro de negatividade que por seu turno se vai transformar em realidade.”
A ignorância disto deu origem a uma semente de dinamite no subconsciente de Marilyn, pronto a medrar e a apoderar – se do seu ser embora na altura ela não estivesse de facto a prestar atenção aquilo que eu lhe dizia na medida em que era uma firme crente da feitiçaria. A parte acerca de “quem semeia ventos colhe tempestades” ajustou – se – lhe na perfeição. Depois, sabendo que tinha concordado com a mulher e que lhe pagara para fazer o ritual ao namorado, quando de facto nada se passava, entre ele e a brasileira, fê – la acreditar que ela própria tinha sido a causa do seu envolvimento com a stripper.

A salvação de Marilyn da confusão que havia criado para ela própria surgiu quando numa manhã a mulher da limpeza, sempre cheia de histórias e tagarelice, lhe disse que não devia ir trabalhar na sexta – feira já que queria ir visitar o cemitério em Alhandra. Como a curiosidade de Marilyn no que diz respeito a estas coisas é muito grande, perguntou naturalmente à senhora qual a razão e ela explicou – lha.
Embora a idade da velha empregada a impedisse de fazer uma limpeza em condições e o seu amor ao paleio ajudasse ainda mais, Marilyn confiava nela. A idade tinha – lhe dado muita experiência e o seu coração morno e amoroso deu a Marilyn o impulso necessário para fazer uma visita ao cemitério.

Em conclusão, Marilyn foi ao cemitério e pediu desculpa ao Doutor Sousa Martins por se ter deixado convencer pela feiticeira a tirar – lhe o encantamento. Passadas algumas semanas e para sua completa surpresa, o namorado telefonou – lhe e têm vivido juntos desde então.
A minha opinião não se alterou mas não quis desapontar Marilyn. Penso que o seu desespero era tal que quis por isso visitar o local em que muitos acreditavam procurando que essa energia positiva a rodeasse. Procedeu bem e, de facto, aclarou – lhe de tal modo o espírito que lhe permitiu livrar – se daquela energia negativa de tal maneira que na vez seguinte foi contactada pelo seu ex e vibrou positivamente.

Pouco tempo após Marilyn se ter ido embora, Carla telefonou para ver como iam as coisas. Eu e Carla passámos muitas coisas em comum. Tínhamos a mesma idade, a mesma mentalidade, a mesma educação de crianças e as mesmas perspectivas. Encontrámo – nos num clube nocturno de Cascais um ano após termos chegado ao país e a partir daí mantivemos – nos as melhores amigas. Era ela uma das poucas mulheres que eu respeitava e de que gostava, uma vez que vivia no país mas devido à minha passada profissão estivera muito pouco tempo com ela, embora conversássemos todos os dias ao telefone.
Carla voltou a encontrar Marilyn quando trabalhava no meu apartamento e quando lhe disse que tinha estado por ali naquela mesma tarde ficou ansiosa por saber o que tinha sido feito dela.
Enquanto explicava a visita de Marilyn ao cemitério, e o quanto parecia que lhe havia sido reconfortante, Carla pediu mais pormenores de modo a poder fazer – lhe uma visita. Isto foi como que um choque para mim na medida em que partilhávamos os mesmos pontos de vista a respeito do assunto mas também fiquei a saber que tinha sido assaltada por severas dores de cabeça e assim interpretei o facto como sendo a necessidade de encontrar um lugar positivo para visitar.

No dia seguinte, de manhãzinha, Carla pôs em execução o que planeara, comprou um mapa e dirigiu – se ao cemitério para me telefonar só quando se encontrava na vizinhança para dizer que tinha acabado de testemunhar uma enorme pilha na estrada, mais elevada do lado esquerdo, que ela atravessara na direcção do cemitério. Era o resultado de um acidente que envolvera quatro ou cinco camiões e a cabine do condutor de uma delas estava tão compactada como sardinhas em lata.
“Seja quem for que se encontre neste camião está com certeza reduzido a milhões de bocadinhos. Seria necessário um milagre para que alguém saísse dali em menos de dois pedaços”.
Passado um quarto de hora voltou a telefonar – me.
“Diana, nunca irás acreditar. Encontro me aqui no cemitério. Naturalmente que estou na parte exterior do túmulo do Dr. Sousa Martins. Isto é deveras arrepiante. O cemitério situa – se numa colina abrangendo a estrada. Posso ver nitidamente o local do acidente e o camião esmagado de que falava há pouco está em linha recta com o túmulo.”
Quando Carla disse isto fui possuída de um calafrio mas depressa me vi livre dele imaginando que se naquele local era tudo tão santo porque é que as pessoas naquele camião ficaram reduzidas a bocadinhos?
Algo me impulsionou para fazer o que não era habitual e ligar a TV. Passada meia hora vieram as notícias e um dos cabeçalhos a ser transmitido era sobre o acidente.
“Oh meu Deus” exclamei enquanto olhava para as imagens do camião reduzido a latas só para ouvir o repórter dizer que o condutor tinha sobrevivido miraculosamente e escapado com ferimentos ligeiros.

Tal como eu, Carla sentiu a necessidade de ler tudo o que de algum modo tinha conseguido captar a sua atenção. Era o seu modo de analisar as coisas e chegar às suas próprias conclusões de modo que naquela mesma tarde regressou a casa com uma pilha de livros que comprara sobre Sousa Martins e naquela noite leu – os a todos para me falar do assunto no dia seguinte.
“É espantoso, Diana. Este autor é formidável. Escreve com tanta clareza e pela primeira vez encontro neste país um português que pensa como nós. Afinal não somos tão loucas assim”, rematou com uma risadinha e acrescentou
“Podes ter a certeza que vou contactá – lo e dar – lhe os parabéns.
Passadas algumas horas Carla voltou a telefonar – me. Escrevera um e-mail em inglês dirigido ao autor. Certamente não esperando que ele lhe respondesse e, para seu espanto, respondeu no espaço de alguns dias.

CAPÍTULO 4

Havia dois dias que nos tínhamos mudado para a nossa nova casa e o odor a frescura que passava através da janela aberta misturava – se com o cheiro das rosas que Romano me trouxera para casa à hora do almoço provocando – me um sentimento de felicidade arredado de qualquer espécie de bulício.
Pouco depois de Romano sair para o trabalho, Marilyn telefonou. Não dava para acreditar! Fazia agora seis meses desde a última vez que falara com ela. Ansiosa por me pôr a para das notícias mais recentes, convidei – a para vir à nossa nova casa naquela mesma tarde.
Enquanto esperava comecei a rememorar o nosso primeiro encontro na costa onde a elegante, amarga e bem-educada senhora me pedia desesperadamente ajuda quando estava prestes a perder tudo quando, após longo tempo de estar empregada ter embarcado numa nova aventura de negócio que acabou por falhar.
As minhas reminiscências foram interrompidas pela campainha da porta. Chegara. Abri e, para surpresa minha, Marilyn não era já aquela frágil, magra senhora que eu recordava. Tinha ganho no mínimo cinco quilos e parecia estar com mais saúde do que alguma vez a vira na minha vida.
Cumprimentou – me e seguiu – me para a sala de estar, abanando continuamente a cabeça como se examinasse cada canto da casa antes de se congratular com o nosso novo lar. Pela primeira vez durante a nossa breve amizade estava radiante, extravasando de felicidade incapaz de disfarçar o seu permanente sorriso na cara. Quando, de imediato, inquiri a razão da sua jovialidade respondeu – me que se havia reconciliado com o seu ex – namorado. Por nada deste mundo queria acreditar no que estava a ouvir e pedi – lhe para repetir para ela mesma que esse homem já a havia trocado no passado recente por outra só para regressar para ela depois que essa outra o enganou. Passámos horas sem fim a falar e a rir – nos dos nossos dias de trabalho embora nessa altura não fosse motivo para brincar. Marilyn havia tido sorte na medida em que a sua experiência na profissão fora apenas de algumas semanas mas estou convicta que atender apenas alguns clientes é precisamente como atender quatrocentos.
Por outro lado eu trabalhara quinze meses e durante todo aquele tempo nunca pensei que tinha sido afectada fisiologicamente mas o futuro ainda estava para se revelar.
“Assim, Diana, manténs ainda contacto com alguns dos teus ex clientes? Perguntou.”
“Na verdade mantenho, com alguns dos meus antigos regulares.Com os que têm o meu número privado.”
“Isso é verdade? Mas porque te contactam eles? Querem – te a trabalhar? Então e Romano?”
“Não”, gargalhei, “Contactam-me de vez em quando a perguntar como vão as coisas. Não há desrespeito absolutamente nenhum. São, de facto amigos. E no que diz respeito a Romano, não lhe escondo nada e confia em mim, assim porque é que ele havia de pensar alguma coisa? Conto – lhe tudo e é isso precisamente que ele admira em mim.”
Mudei de assuno e perguntei – lhe se o regresso ao ex namorado era a única razão para aquela mudança de espírito. Marilyn baixou a cabaça e durante alguns momentos as lágrimas correram – lhe pela cara abaixo. Enquanto inclinava a cabeça para o lado para limpar uma lágrima que lhe enchia o olho direito ajoelhei – me para a consolar e pedir desculpa por a ter estado a atormentar. Subitamente as lágrima deram origem a uma hilaridade histérica enquanto o sorriso lhe reganhava a face e perguntou:
“Já ouviste falar de Sousa Martins?”
“Sousa quê? Era algum dos teus ex clientes ou talvez meu?
Deu outra sonora gargalhada, meneou a cabeça e procurou os cigarros.
“Não, querida, Sousa Martins era um médico que morreu há cerca de cem aos. Os seus restos mortais encontram – se no cemitério de Alhandra. As pessoas acreditam que este médico sempre ajudou as pessoas que o procuram.”
Calei – me para não desapontar Marilyn acerca de tais assuntos. Conhecia o caminho que ela tomava e, embora não acreditasse em espíritos estava, no entanto, convencida que a mente era a ferramenta mais poderosa para fazer as coisas acontecer. Acreditava todavia que quanto mais as pessoas acreditavam num lugar ou numa entidade, mais o poder seria derivado daí mas…naturalmente só se as pessoas acreditassem de uma maneira ou de outra. Tudo isto me estava a provocar a ansiedade dos dias sufocantes da minha dependência da cocaína e como em desespero havia chegado ao santuário de Fátima, não por acreditar nas aparições já que para a mim toda a história não passava de manobra governamental numa atitude de desespero em tempos de guerra. Mas antes lá tinha ido para me encontrar rodeada por aquela poderosa energia que milhões de crentes acumulara ali e se cria que esta energia podia operar milagres já que o poder da mente era o mais poderoso dos instrumentos. Marilyn começou finalmente a explicar porque é que se sentiu impelida a fazer uma visita ao Dr. Sousa Martins. Era uma verdadeira crente da feitiçaria e estava plenamente cônscia de que alguém havia feito com que se separasse do ex namorado tal como havia acontecido para arruinar a sua vida financeira.
Continuava a ouvir e analisar a sua conversa em silêncio. Primeiro não podia haver qualquer explicação lógica para alguém lhe roubar o ex namorado e, segundo, não posso compreender porque é que havia de pensar que alguém a tinha enfeitiçado afim de perder o dinheiro que era seu já que no fim do dia ninguém o ia ganhar para ela?
Tal como a estava a analisar, já havia analisado muita gente que teimava em acreditar que as suas vidas andavam para trás devido a este tipo de situação. Era uma desculpa fácil em lugar de crer que o poder residia de facto no seu próprio controle dependendo da sua força de vontade resolver os problema que se desenvolvessem dentro de si.
O que esta gente não compreendia era aquilo que tive de descobrir por mim própria alguns anos antes quando fui influenciada a confirmar em mim precisamente as mesmas coisas. A diferença residia no facto de eu me ter libertado e lido tudo o que me apareceu sobre o assunto ao ponto de pôr tudo isso em dúvida e descobrir que a magia existe apenas na cabeça das pessoas que querem influenciar os outros a esse respeito e só irá funcionar se o receptor se deixar impressionar dando – lhe crédito e conferindo – lhe assim poder.
Passara meses sem fim a tentar imaginar porque é que semelhantes rituais eram realizados com coisas tais como velas coloridas e concluí finalmente que esses instrumentos se destinam precisamente a atingir as vibrações precisas para conduzir o espírito na direcção certa mas, no fim de contas, o que prevalece é o poder da mente e, acima de tudo, da crença.
Mas, tudo isto já eu o havia dito a Marilyn. Contudo, na medida em que estava demasiado envolvida em crer nessas coisas em lugar de se esforçar e investigar por si mesma, não podia omitir o lado negativo da irrealidade. Tinha tentado convencê – la de que quanto mais acreditasse mais havia de alimentar a negatividade e contribuir para desenvolver um ciclo destrutivo como alguém que de facto tentasse colocar alguma destas coisas em primeiro plano. Em caso negativo devia estar ainda na exacta situação de medo que isso acontecesse e fosse realidade palpável com consequências negativas para ela ou fosse quem fosse na sua órbita para quem, segundo a sua ideia, estavam destinadas.
Perguntou se podia confiar em mim e ante o meu olhar de consternação perante a sua ridícula pergunta suspirou e pediu – me para lhe fazer uma chávena de café.
Dirigi – me para a cozinha e deixei – a pensar na maneira como me iria contar. Após o meu regresso dei a Marilyn a grande chávena de café expresso.
“Ah, ainda te lembras que desde o tempo em que te encontrei só bebo em chávenas grandes?”, disse com um sorriso.
”Como poderia esquece – me? Costumava passar o tempo a fazer – te aquelas chávenas enquanto lias o tarot. A propósito, ainda o lês? Por favor não me digas a frequência com que o fazes.”
“Na verdade deixei – me disso desde que comecei a visitar o cemitério”, replicou.
“Fantástico. Sempre tentei dizer – te que a tua vida girava à volta dessas cartas. Estava deveras preocupada contigo. Não era nada saudável e de nenhum modo normal.”
Marilyn começou então a explicar toda a história daquilo de que estava desejosa de me dizer e, assim, começou por recuar um ano. A má escolha que havia feito ao deixar o seu longo período de desemprego transformou – lhe a vida numa confusão e começou a suspeitar de todos aqueles que acarinhava incluindo o namorado.
Estava agora convencida que ele mantinha um caso com uma rapariga brasileira pelo simples facto de a ter cumprimentado num bar local. A paranóia levou – a a consultar uma amiga, a Lucy que deitava normalmente as cartas. Esta aconselhou – a a procurar uma pessoa mais poderosa no mesmo campo, uma benzedeira em Cascais que lhe havia de acabar por resolver o problema do relacionamento. Mas mal pensava Marilyn naquilo em que se ia meter.
Portanto, seguiu o conselho da Lucy e fez uma marcação. Depois de deitar as cartas de tarot, a senhora informou – a de que o namorado andava a ser enfeitiçado com a finalidade de os separarem. Ao pedir – lhe ajuda e conselho, a velha mulher depressa sugeriu que deviam fazer um esconjuro o que significava que o namorado só passaria a ser capaz de ter relações sexuais com ela.
Marilyn concordou antes de negociar o preço com a mulher que se apressou a dizer que um tal ritual lhe iria custar para cima de 200 euros na medida em que a reza feita contra a tal e o seu namorado era extremamente forte. E, naturalmente era necessária! No curto espaço de algumas semanas, o seu relacionamento com o namorado deteriorava – se em lugar de se compor e já não havia mais sinal de rapariga brasileira. Contudo, passados dois meses Marilyn descobriu que o falhanço do seu relacionamento havia levado o namorado a deixá – la por uma stripper de leste.
Mas não tinha só este problema. O problema real surgiu depois de se ter encontrado comigo. A sua insistência em estar infestada de pragas levou – me a tentar educá – la com aquilo que eu havia concluído dos meus estudos acerca do assunto.
Também lhe dissera “quem semeia ventos colhe tempestades e tudo aquilo que, conscientemente, tentares fazer aos outros vai – te acontecer a ti já que o subconsciente é uma ferramenta muito poderosa.
É sempre importante ter uma consciência clara de ser capaz de diferenciar entre paranóia e realidade. É sempre também um pré – requisito para atingir positivamente o futuro. O consciente de alguém que é culpado há – de trazer inevitavelmente um futuro de negatividade que por seu turno se vai transformar em realidade.”
A ignorância disto deu origem a uma semente de dinamite no subconsciente de Marilyn, pronto a medrar e a apoderar – se do seu ser embora na altura ela não estivesse de facto a prestar atenção aquilo que eu lhe dizia na medida em que era uma firme crente da feitiçaria. A parte acerca de “quem semeia ventos colhe tempestades” ajustou – se – lhe na perfeição. Depois, sabendo que tinha concordado com a mulher e que lhe pagara para fazer o ritual ao namorado, quando de facto nada se passava, entre ele e a brasileira, fê – la acreditar que ela própria tinha sido a causa do seu envolvimento com a stripper.

A salvação de Marilyn da confusão que havia criado para ela própria surgiu quando numa manhã a mulher da limpeza, sempre cheia de histórias e tagarelice, lhe disse que não devia ir trabalhar na sexta – feira já que queria ir visitar o cemitério em Alhandra. E naturalmente Marilyn achou – se inclinada a perguntar porquê.
Embora a idade da velha empregada a impedisse de fazer uma limpeza em condições e o seu amor ao paleio ajudasse ainda mais, Marilyn confiava nela. A idade tinha – lhe dado muita experiência e o seu coração morno e amoroso deu a Marilyn o impulso necessário para fazer uma visita ao cemitério.

Em conclusão, Marilyn foi ao cemitério e pediu desculpa ao Doutor Sousa Martins por se ter deixado convencer pela feiticeira a tirar – lhe o encantamento. Passadas algumas semanas e para sua completa surpresa, o namorado telefonou – lhe e têm vivido juntos desde então.
A minha opinião não se alterou mas não quis desapontar Marilyn. Penso que o seu desespero era tal que quis por isso visitar o local em que muitos acreditavam procurando que essa energia positiva a rodeasse. Procedeu bem e, de facto, aclarou – lhe de tal modo o espírito que lhe permitiu livrar – se daquela energia negativa de tal maneira que na vez seguinte foi contactada pelo seu ex e vibrou positivamente.

Pouco tempo após Marilyn se ter ido embora, Carla telefonou para ver como iam as coisas. Eu e Carla passámos muito em comum. Tínhamos a mesma idade, a mesma mentalidade, a mesma educação de crianças e as mesmas perspectivas. Encontrámo – nos num clube nocturno de Cascais um ano após termos chegado ao país e a partir daí mantivemos – nos as melhores amigas. Era ela uma das poucas mulheres que eu respeitava e que sabia da minha antiga profissão.
Carla voltou a encontrar Marilyn quando trabalhava no meu apartamento e quando lhe disse que tinha estado por ali naquela mesma tarde ficou ansiosa por saber o que tinha sido feito dela.
Antes que pudesse acabar Carla pediu mais detalhes afim de a poder visitar.
Isto foi como que um choque para na medida em que partilhávamos os mesmos pontos de vista a respeito do assunto mas também fiquei a saber que tinha sido assaltada por severas dores de cabeça e assim interpretei o facto como sendo a necessidade de encontrar um lugar positivo para visitar.

No dia seguinte, de manhãzinha, Carla pôs em execução o que planeara, comprou um mapa e dirigiu – se ao cemitério para me telefonar só quando se encontrava na vizinhança para dizer que tinha acabado de testemunhar uma enorme pilha na estrada, mais elevada do lado esquerdo, que ela atravessara na direcção do cemitério. Era o resultado de um acidente que envolvera quatro ou cinco camiões e a cabine do condutor de uma delas estava tão compactada como sardinhas em lata.
“Diana, seja quem for que se encontre neste camião está com certeza reduzido a milhões de bocadinhos. Seria necessário um milagre para que alguém saísse dali em menos de dois pedaços”.
Passado um quarto de hora voltou a telefonar – me.
“Diana, nunca irás acreditar. Encontro me aqui no cemitério. Naturalmente que estou na parte exterior do túmulo do Dr. Sousa Martins. Isto é deveras arrepiante. O cemitério situa – se numa colina abrangendo a estrada. Posso ver nitidamente o local do acidente e o camião esmagado de que falava há pouco está em linha recta com o túmulo.”
Quando continuava fui possuída de um calafrio mas depressa me vi livre dele imaginando que se naquele local era tudo tão santo porque é que as pessoas naquele camião ficaram reduzidas a bocadinhos?
Algo me impulsionou para fazer o que não era habitual e ligar a TV. Passada meia hora vieram as notícias e um dos cabeçalhos a ser transmitido era sobre o acidente.
“Oh meu Deus” exclamei enquanto olhava para as imagens do camião reduzido a latas só para ouvir o repórter dizer que o condutor tinha sobrevivido miraculosamente e escapado com ferimentos ligeiros.

Tal como eu, Carla sentiu a necessidade de ler tudo o que de algum modo tinha conseguido captar a sua atenção. Era o seu modo de analisar as coisas e chegar às suas próprias conclusões de modo que naquela mesma tarde regressou a casa com uma pilha de livros que comprara sobre Sousa Martins e naquela noite leu – os a todos para me falar do assunto no dia seguinte.
“É espantoso, Diana. Este autor é formidável. Escreve com tanta clareza e pela primeira vez encontro neste país um português que pensa como nós. Vou contactá – lo e dar – lhe os parabéns.
Passadas algumas horas Carla voltou a telefonar – me. Escrevera um e-mail em inglês dirigido ao autor. Certamente não esperando que ele lhe respondesse e, para seu espanto, obteve resposta no espaço de alguns dias.

CAPÍTULO 5

O contacto de Carla com o escritor foi praticamente o começo de um novo episódio. Era para assinalar o começo de uma grande quantidade de trocas de e-mails durante as semanas seguintes e a sua crescente amizade conduziu – a a sugerir que lhe oferecêssemos a minha história. A minha história de Prostituta já que a minha tentativa havia falhado.
O autor ficou emocionado com semelhante convite mas ao mesmo tempo hesitante para não melindrar os seus fiéis leitores. Sugeriu que ela própria pegasse em papel e pena e se pusesse ao trabalho de escrever a sua última versão e era este o trabalho a que ia dedicar – me nas próximas semanas, abrir o livro de Pândora que estava cheio das minhas vívidas memórias, passá – las para o papel e entregá – las a Carla
Depois de cumprir o meu dever de todas as manhãs, tratar do meu negócio de importação – exportação que conseguira manter através das minhas crises, providenciando – me os meus custos de vida básicos, dei comigo a devanear pelos caminhos do campo estreitos e ventosos gritando silenciosamente por inspiração. Cada som, movimento ou odor acordava em mim uma sensação que me traziam de volta as necessárias memórias para correr para casa e preencher infindáveis páginas até que o agourento piar das corujas me lembrava que a noite há muito substituíra o dia.
Em compensação, cada palavra escrita trazia de retorno todas as emoções e sentimentos experimentados na minha profissão.
Uma palavra era mecha despoletando todo aquele manancial de emoções e sentimentos de meu tempo de trabalho. Cada vocábulo emprestava um odor forte ao meu sentido do olfacto, uma sensação de tristeza, de ódio, traição, solidão, felicidade…
Mas todos esses vocábulos eram, em cada noite, deixados exactamente onde tinham sido colocados, no papel e um suspiro de alívio de introspecção imersa da auferida experiência deixada agora para trás de mim.
Romano era o meu inquebrável apoio durante este período. Chegava a casa como uma criança excitada impaciente por ler as minhas memórias antes de se direccionar para a cozinha para confeccionar o jantar para depois esperar que a tarde chegasse ao fim, altura em que o seguia para a cama. Quanto mais escrevia sobre a minha experiência e história com o Romano, mais achava que o meu relacionamento se consolidava. Não mais experimentei os sentimentos negativos em relação a ele, que eram fruto da minha profissão do passado misturados de inquirições a que continuava a tentar responder e que, em contrapartida, criavam os ingredientes perfeitos para um potente cocktail de macaquinhos no sótão, tomando agora um perfil de positividade. Pela primeira vez aquilatava o quanto Romano tinha feito e o quanto se tinha sacrificado pela nossa relação e, assim, o desmedido desvelo que tinha para comigo e o seu empenhamento para que tudo funcionasse.
Ambos podíamos experimentar a sensação de que a parede de ferro que tinha sido o impedimento entre nós estava agora a desmoronar – se rapidamente na nossa frente, e não passava um dia em que ele não mostrasse a sua gratidão chegando a casa com um ramo de flores para assim continuamente renovar a energia no lar.

Enfim, todas as minhas memórias estavam passadas para o papel prontas para serem entregues a Carla que lançou mãos ao trabalho condensando, estruturando e reescrevendo a literatura para depois as encaminhar para o autor.
Para minha consternação, como complemento disse não estar satisfeita com o trabalho e informou – me que decidira ser prostituta por um dia.
“Não estou satisfeita com isto, Diana. Preciso meter – me na tua pele, emocionalmente, já se vê. Já me decidi. Vou atender alguns clientes.”
“Carla, tu estás maluca? Porque raio de ideia queres tu descer tão baixo? Fizeste um bom trabalho. Sinceramente, a minha opinião é que isso não vai beneficiar – te em nada. Por favor, não faças uma coisa dessas.”
“Diana, tu já me conheces, sabes que não adiantas. Vá lá, vais ou não ajudar – me a andar com este cometimento para a frente?”
Enquanto Carla falava veio – me à ideia a similaridade da resposta que dei a Simão. Recordei a altura em que primeiro lhe transmiti ir inaugurar o meu trabalho como prostituta e como, sabendo que era inútil tentar dissuadir – me quando tudo estava já decidido, se ofereceu para ser o meu primeiro cliente.
Tinha sido deixada numa situação incómoda na medida em que poderia ficar ressentida comigo no futuro. No fim de contas, segundo a lógica, qual é a diferença entre dormir com clientes para escrever um livro ou fazer disso um modo de vida? Mas Carla continuou a insistir e antes que eu o soubesse, estava a ajudá – la a fazer os arranjos necessários para ir para a frente com a tentativa.
Comprámos o novo cartão telefónico e comprometera – me a colocar o anúncio no jornal.
Para minha estranheza, Ana, a mesma senhora que me havia intimidado quando do meu primeiro telefonema respondeu:
“Bom dia. Correio Da Manhã. Posso ajudar?”
Antes que pronunciasse mais uma palavra que fosse, já tinha conhecido a minha voz!
“Diana, como estás? Como tens passado? Tens – te espaçado tanto agora, seis meses talvez, o que se passa contigo, estás ok?”
Passados uns cinco minutos de conversa com esta simpática senhora que ao tempo fazia parte da minha equipe perguntei-lhe a brincar se ainda se lembrava do meu anúncio.
“Claro que me lembro. Carcavelos, licenciada. 27 Anos…Convive casa própria…Discreto e privado. Telefone…”
“Exacto! Meu Deus, lembras – te na perfeição”, disse com um risinho antes de lhe dizer para o colocar de novo no dia seguinte.
“O quê?! Vais começar outra vez, Diana? Não, não faças mais isso, seria uma grande vergonha. Chegaste tão longe no que diz respeito ao abandono dessa vida! Realmente não é vida para ninguém.”
Nem podia acreditar! Esta senhora que nunca conhecera estava sinceramente preocupada em fazer – me sentir no direito de informá – la de que o anúncio não era para mim fazendo – me imediatamente recordar que tinha mudado o número original.
Carla estava agora apetrechada; cartão telefónico comprado e anúncio posto para a próxima Sexta – feira mas, uma minúcia; onde é que iríamos montar o palco dos acontecimentos? A casa dela estava completamente fora de questão por causa do noivo tal como a minha, na medida em que a última coisa que eu queria fazer era desrespeitar Romano.
A única pessoa que cruzou o meu espírito foi o meu amigo Alex que tinha o meu apartamento de renda e sem hesitar, peguei no telefone e liguei – lhe a perguntar se o podia utilizar.
“Mas com certeza que podes. Desde quando é que tens medo de fazer isso?” riu antes de eu começar a explicar toda a história.
“O quê? Mas ficaste porventura doida varrida? Decerto te decidiste a gozar comigo, não?”
Levou – me um bom pedaço mas finalmente consegui arranjar maneira de o convencer assumindo que era tudo por uma causa que valia a pena: pesquisa. Para além disso, recordei – lhe que ele, de facto, estava a viver numa ex casa de passe e, a partir daí, qual era a diferença? Era uma desculpa muito débil mas deu resultado, eu sabia, por fim combinou deixar as chaves no contador da electricidade na Sexta – feira seguinte com a condição de não usar a cama do seu quarto e de que colocássemos os preservativos fora do apartamento.

CAPÍTULO 6

Os meus recentes passeios diários na procura de inspiração despoletaram em mim apetite para continuar. Todo aquele mundo novo constituído agora pelo que me rodeava no seu estado selvagem me despertou a curiosidade de explorar cada pedrinha, cada árvore e cada detalhe mesmo o mais insignificante da área.
No dia anterior ao encontro marcado com Carla e Alex decidi dobrar a extensão do passeio mas desta vez com o cão para me preparar para o dia seguinte e parti com Napoleão para mais uma aventura.
O sol brilhava mais intenso do que num dia de verão não obstante a nudez triste das árvores cujas folhas do Outono decoravam agora todas aquelas pedrinhas arredondadas com os seus tons mornos e dourados. De certa maneira a minha memória intuía ter já travado conhecimento com este atalho que ao chegar ao fim me desvendou a casa gloriosa transformada no nosso ninho por aqueles poucos dias. Sem ser capaz de encarar as emoções amargas por ser despojada da casa puxei por Napoleão e avancei em direcção ao café que se avistava à distância.
Enquanto descíamos, Napoleão parou para cumprimentar um ouriço – cacheiro e enquanto esperava que se aborrecesse do seu novo amigo, olhei para trás, para a mansão e vi a estúpida da proprietária fechando as grandes portas atrás de si e a entrar no carro.
Quando Napoleão finalmente acabou, retomámos a nossa expedição e ouvímo – la pôr o carro a funcionar apenas para o desligar logo a seguir. Quando chegámos ao café sentei – me à mesinha de ferro e pedi um sumo de laranja e uma torrada com manteiga para Napoleão e comecei a descontrair com o coro das avezinhas enquanto olhava para a vereda que levava à casa quando, repentinamente, vi a proprietária a aproximar – se do café.
Chegou em poucos minutos e para minha consternação sentou – se do outro lado no terraço vazio do estabelecimento. Por uma questão de educação tentei naturalmente não olhar na sua direcção afim de evitar alguma azeda confrontação, mas quanto mais tentava evitar mais tinha a sensação que o seu olhar me estava a escaldar a face. Subitamente senti como que um magnete a direccionar – me os olhos para ela sorvendo o seu sumo, a olhar na minha direcção do cimo dos olhos cada vez com mais insistência e forçando – me a acentuar ainda mais o meu olhar inexpressivo noutra direcção. Subitamente levantou – se e caminhou na minha direcção e Napoleão saltou para ela. Desculpei – me instantaneamente na medida em que o canino não tinha o açaime que a lei exigia mas não obstante começou imediatamente a fazer uma cena ameaçando apresentar queixa contra o perigoso cão. Inopinadamente apercebi – me que tinha um rasgão na camisola e antes que pudesse vê – lo dei – lhe o meu número de telefone pedindo – lhe para me ligar afim de a indemnizar. Mas começou a resmungar em baixo tom de voz na sua aristocrática maneira e com maus modos.
Nervosa por causa do que a malcriada da mulher era capaz de fazer se não tivesse a sua compensação paguei a conta e regressei a casa procurando imaginar como diabo me iria livrar da confusão que Napoleão havia criado.
Precisamente quando estava a chegar Romano telefonou. A mulher chamara a polícia e esta telefonou – lhe a ele em lugar de me telefonar a mim a despeito de lhe ter dado a ela o meu número em primeiro lugar. Mas depois lembrei – me que não estava a lidar com uma pessoa normal e portanto presumi que necessitava de um intermediário para passar a mensagem. Expliquei a Romano o que acabava de acontecer e que devia resolver o problema.
Passados uns minutos Romano telefonou de novo. A proprietária recusou – se a falar com ele alegando que só o faria com a responsável que era eu. O agente policial exigiu que me reunisse com ela às três horas daquela mesma tarde.
Quando Romano chegou a casa para almoçar teimou em acompanhar – me e ser ele a resolver o problema.

Na manhã seguinte de manhã, exactamente às oito e meia em ponto fui-me encontrar com Carla tal como tínhamos combinado. No fim de contas sabia quem estava a enfrentar e sabendo do que era capaz, tão petrificado como eu pois podia fazer uma queixa inevitável conduzindo a que Napoleão acabasse ali a sua existência. Mas a minha intuição dizia – me que devia agir sozinha ou de outro modo as coisas podiam descontrolar – se.
Às quatro e quarenta e cinco estava já, tomada de pânico, da parte de fora das portas enormes a cogitar como diabo iria livrar – me de tudo isto. O dia em que nos pusera ante a humilhante experiência encontrava – se ainda fresco na minha memória e de cada vez que a brisa suave me fustigava as faces era constatada pela realidade de que a vida de Napoleão estava em perigo. Exactamente às três menos cinco o meu telefone tocou. Era o polícia:
“Desculpe Diana mas a senhora pediu para voltar no sábado à mesma hora”. Não podia acreditar. Toda aquela tortura para nada. Todo o tormento e agonia da espera para depois me dizerem que a senhora tinha de mostrar o seu poder e fazer - me passar os dias mais próximos a senti – lo com grande intensidade.
Na manhã seguinte quando estava prestes a fechar a porta da frente para me encontrar com Carla voltei – me e vi Napoleão deitado na relva absorvendo religiosamente os raios do sol da manhã antes que desaparecesse durante o que parecia ser um eternidade por trás das infindáveis nuvens negras que se aproximavam na distância. A realidade voltou a puxar – me e não podia, uma vez mais, por muito que tentasse, livrar o meu pensamento da temível mulher. Cheguei ao edifício de Alex. Carla já se encontrava na rua esperando dentro do carro. Bati na janela e sugeri que subíssemos.
Carla estava nervosa mas tentava escondê – lo desesperadamente por detrás da sua corajosa expressão e, para se alhear, perguntou o que se passava comigo começando a contar – lhe a infeliz experiência do dia anterior resumindo – lhe o encontro com a proprietária para a fazer tomar consciência da seriedade que tudo aquilo podia atingir. Antes que pudesse fechar a porta da frente de Alex Carla foi direita à cozinha e começou a esquadrinhar o aparador até que finalmente encontrou café. Procurava tornar – me o mais confortável possível no desconfortável banco observando – a a tentar nervosamente acalmar – se enquanto preparava as chávenas e esperava pelo coador para filtrar. Quando me estendia a xícara o telefone tocou o que a levou a deixá – la cair não lhe atingindo os pés por centímetros.
“Merda! São os nervos. Tive pesadelos durante toda a noite só de pensar em atender aquele telefone! Não sou capaz. Não sei o que dizer.”
“Vá lá Carla, se não mudas de ideias então atende o telefone. Isto é mais fácil para ti do que foi para mim quando comecei. O que eu quero dizer é que não tinha ninguém ao meu lado. Tive de aprender sozinha. Tu estás a fazer isto porque queres, não por necessidade, portanto trata de atender.”
Sentou – se do lado oposto num banco enquanto eu limpava o café derramado e apanhava os pedaços de chávena a abanar os pés e a olhar nervosamente pela janela.
Enquanto limpava quebrei o silêncio para lhe explicar o que fazer e ao mesmo tempo esperando que não fosse teimosa e voltasse atrás com a sua ridícula decisão.
Ao explicar – lhe isto, um misto de emoções tomou conta do meu ser: o medo, o desespero e a solidão todos voltaram a inundar – me ao ponto de se me bloquear a garganta e de me sentir como se estivesse em choque. Ao contrário de Carla não tinha ali ninguém para me explicar e apoiar no meu primeiro dia e só então reconheci o quanto estava desesperada por ter singrado sozinha.
“Desculpa Carla. Estava só a lembrar – me do meu primeiro dia.
“Está bem. Mas vou – te dizer uma coisa. Não é por nada. Mas de certeza que tiveste muita coragem. Penso que as pessoas não irão entender até que ponto! O que é mesmo mais estranho é que atendeste estes indivíduos todos os dias, sozinha, nesse local.”
“Então, mas que diabo, qual é afinal o teu problema?”disse numa tentativa de lhe infundir coragem para atender o telefone.
Acabámos os cafés e, já não havia desculpas para não nos lançarmos ao trabalho. Carla ainda recusou responder ao telefone que não deixava de tocar embora estivesse mais determinada do que nunca a ir para a frente com toda aquela história e, aconteceu que a chamada seguinte era para mim.
“Olá, Diana. És mesmo tu?”

Fiquei absolutamente sem conseguir falar! Como sabia este indivíduo o meu nome? Então percebi. Mesmo sendo um número de telefone diferente, era o meu anúncio. Oh meu Deus! Todas as sensações regressaram para me inundarem com mais força do que nunca fazendo – me sentir que regressara aquela dimensão.
Inquiri:
“Eh! desculpe ter sido indelicada, mas com quem é que estou a falar?”
“Não sei se te lembras de mim, é o João, fiz – te uma visita acerca de um ano. Naturalmente que estive contigo algumas vezes. É tão bom poder voltar a sentir – te! Bem tenho tentado constantemente mas o teu número de telefone habitual está sempre desligado” disse ele.
Devia ter adivinhado que era o João. A maioria dos nomes era João, Pedro, ou Carlos…Mas diferentemente dos meus dias de trabalho em que me teria esmerado na conversa para me lembrar exactamente quem era esse “João” deixei ficar o assunto por aí, era um João e pronto, e informei – o de que já não estava a trabalhar.
“O quê, deixaste de trabalhar? O que é que queres dizer com isso? Mas puseste um anúncio. Quer porventura isso dizer que és agora a Madame?”
Não sabia o que dizer. Não tinha previsto isto, portanto, após alguns segundos de pausa aproveitei uma oportunidade e disse com uma gargalhada que sim e insinuando se desejava fazer uma marcação.
“Bem, Diana, eu estava a pensar em ficar contigo, realmente, mas assim não, obrigado, espero ver – te voltar a trabalhar. Vemos – nos por aí.”
“Amoroso, pensei. Vê lá tu que é uma pessoa que deseja ver – me bater outra vez no fundo, portanto podia esperar que eu começasse a trabalhar outra vez.” Que negativo!
Logo que desliguei o telefone várias memórias vieram encher – me a cabeça com diversas sensações; aquelas que me fizeram lembrar o tempo em que fiz de recepcionista para as raparigas da casa de passe enquanto voava alto em cocaína e era ameaçada pela máfia local.
A chamada seguinte foi semelhante à primeira e por aí adiante a terceira e a quarta… Bonito, pensei de mim para comigo. Quando estava a atingir o fim da minha profissão as chamadas eram mais raras devido à crise económica mas agora, que surpresa! Subitamente vêem o anúncio e começam a chamar quer fosse o mesmo número de telefone ou não.
Isto fez – me sentir mais ingénua do que nunca. Pensava já ter visto tudo mas, repentinamente, cheguei à conclusão de que a maioria dos meus clientes que diziam que me visitavam a mim tomava – me por tola na medida em que não podia passar um dia sem que verificassem na “secção classificada”, mesmo que pensassem justificar – se dizendo que estavam a lê – la na esperança de me encontrarem.
Finalmente respondi a uma nova chamada.
“Olá. Estou a telefonar por causa do anúncio no jornal de hoje. Estarei a falar com a pessoa certa? Pode dar – me algumas informações se faz favor?”
Antes que o homem me pudesse fazer mais perguntas respondi:
“Mas naturalmente que posso. Tenho 27 anos, um metro e sessenta e cinco de altura, elegantemente constituída, peito avantajado, cabelos compridos e olhos verdes.”
“Soa tudo lindamente mas podes dizer – me as tuas medidas se faz favor? E trabalhas sozinha?
“Posso, trabalho sozinha. Desculpa mas não sei as minhas medidas, no entanto asseguro – te que não vais ficar desiludido.”Antes que pudesse dizer alguma coisa acrescentei:
Dir – te – ei a razão. Porque é que não passas por cá? Se não te agradar o que vires podes – te ir embora e sem ressentimentos.”
Imediatamente o homem ficou mais descontraído e fez uma marcação deixando Carla durante meia hora na expectativa de receber o seu primeiro guinéu.
Carla lutava sem êxito durante este tempo, temendo a chamada do cliente a perguntar pelo edifício e pelo número da porta. Inicialmente dissera que estava nervosa porque lhe metia medo atender as chamadas telefónicas mas a realidade nua e crua era que estava agitada por causa de toda esta aventura ou simplesmente porque a enlouquecera logo de início. A sua teimosia não lhe permitia render – se e quanto mais eu lhe pedia para desistir do assunto mais zangada ficava pois que na medida em que a sua parede de ferro se tornou transparente eu percebia tudo.
“Carla, olha só quantos romancistas escrevem acerca de enredos diversos como assassínios em série, etc. Isso não significa que eles se ponham a ir para a rua a matar para tentar meterem – se na pele do criminoso.”
“Não, tens toda a razão mas ouve, não posso acatar seriamente a tua opinião uma vez que não têm provas. Para mais, como podes conjecturar uma coisa dessas? Oh, e por favor, faz – me outro café” disse tentando desesperadamente esconder o medo.
“Pois bem, espero realmente que nunca te passe pela cabeça escrever sobre seja o que for relacionado com isso”, gargalhei numa tentativa de aliviar a pesada atmosfera antes de acrescentar:
“Não estejas nervosa. Não estás sozinha. Lembra – te que estarei na sala ao lado. Cumprimenta o cliente e leva – o para o quarto disponível. Está confiante e cria conversação e pergunta-lhe entrementes se gostaria de utilizar o quarto de banho e tomar um duche.”
Estava sentada a ouvir como se nunca ninguém lhe tivesse dito nada parecido antes não obstante o facto de que havia passado a semana anterior a ler os meus apontamentos e a escrever acerca disso.
“Depois despe – te e diz – lhe a para fazer o mesmo. Com um mínimo de sorte há – de estar habituado a este tipo de coisas e fá – lo – à automaticamente. Uma vez feito isso pede – lhe para se sentar na cama e depois deixa a tua iniciativa agir pois bem sabes que quando eles estão no leito fazem o primeiro movimento. Salta – lhe para cima, começas a beijá – lo e a acariciar – lhe o pénis. Seja o que for que fizeres não o metas na boca sem preservativo. Mesmo sem estar erecto, coloca primeiro o preventivo.”
Carla continuava a ouvir. Podia ver pela sua expressão facial que estava a pensar que tudo aquilo era mais simples de dizer do que de fazer.
“Passado um bocado aproxima – te da cara e vê se ele prefere ficar por cima ou por baixo ou mesmo se te impele a outra posição. É basicamente isso. Serão, mais ou menos, cinco minutos a não ser que tenhas azar e apanhes uma minoria que nunca mais acaba. Lembra-te, estás a fazer isto para pesquisa. Nunca mais o verás. Oh…depois recebe o dinheiro. Espera, não, não faças como eu fiz, faz como eu digo. Pede – lho primeiro.”
Recordava a paciência que tinha com todos aqueles homens e como me tornara amiga da maioria, tratando – os todos como indivíduos iguais e nunca como Rozen, o meu ex companheiro de apartamento me dissera para fazer. Por outras palavras, exactamente o que eu estava a dizer a Carla que fizesse. Era o perfil profissional; nada de conversa, só trabalho.
Mas o meu respeito por todos, que me respeitavam, ou o respeito que eles me retribuíam, tinha impedido que eu fosse como se supunha serem todas as profissionais: fria. E acima de tudo, a minha aptidão tinha impedido de ver aqueles homens como meros clientes, de preferência como simples indivíduos e não símbolos do euro.
A minha reminiscência foi interrompida, mais uma vez, pelo telefone. Carla levantou – se do seu banco e começou a passear de um lado para o outro no chão da cozinha tal como um animal enjaulado enquanto eu respondia. Era o seu primeiro cliente a avisar que já se encontrava na rua e, assim, dei ao homem o resto da direcção e desliguei.
“Oh meu Deus. O que é que eu vou fazer?”, perguntou sorrindo nervosamente.
Perguntei – lhe pela última vez se queria mudar de ideias.
“Não, mas gostaria que estivesse tudo acabado. Jesus! Estava longe de pensar que fosse esta pilha de nervos”.
Pela primeira vez na nossa história admitiu que estava nervosa depois de ter falhado miseravelmente de se convencer a ela mesmo e a mim de que podia esconder o que era sempre o primeiro pensamento de todas “desejar ver isso terminado.”
Dei – lhe alguns preservativos, desejei – lhe boa sorte e dirigi – me para um dos quartos.
A campainha da entrada soou. Hesitou detrás da porta sabendo que não havia maneira de escapar à sua decisão de enfrentar quem estava do outro lado e respirando profundamente puxou – a para ao abrir – se dar repentinamente de cara com um velho homem de cabelos grisalhos e luzidios.
Enquanto procurava suster a respiração, espalhou os cabelos pelos ombros saudou – o e mandou o entrar.
O homem fez o que lhe dissera e desconfiado seguiu – a directamente até ao quarto de banho.
“Estás sozinha, Cindy? Trabalhas há muito tempo?” perguntou enquanto observava curiosamente à sua volta a alcova típica do solteiro.
“Estou, estou sozinha. É a minha primeira vez, portanto desculpa se me encontro um bocado nervosa”.
O homem, igualmente agitado e com um apurado sexto sentido de uma mulher não se deixara absolutamente nada convencer de que estivesse sozinha. Pediu licença para utilizar o quarto de banho mesmo antes de ela ter oportunidade de lho perguntar e Carla começou a despir – se para revelar uma fita de renda e soutien a condizer antes de se deitar de barriga para baixo, nervosamente, esperando o regresso do homem
Este que parecia não ter mais de cinquenta e cinco anos, dirigiu – se para o quarto.
“Minha querida, usas porventura aftershave? O teu quarto de banho está cheio de ‘mens’…”foi incapaz de terminar a frase ao deparar com Carla mexendo nervosamente o rabo forçando – o a despir – se sem mais observações, para revelar os seus valores arruçados.
Era esta a última pergunta que Carla necessitava de ouvir e começou nervosamente a casquinar ao aparecer – lhe na frente este sujeito medianamente alto, com peso acima do aconselhável para a sua altura, sotaque de status superior, revelando as suas brilhantes qualidades grisalhas. Naquele momento o coração de Carla bateu mais depressa do que ela alguma vez imaginara fazendo – a duvidar pela primeira vez na vida se havia de aceitar a derrota e advertir que não podia continuar o acto.
“Não queres juntar – te a mim?” perguntou ela com um sorriso forçado dado que podia optar pela segunda alternativa.
“Mas com certeza, vou já juntar – me a ti. Como podia negar – me a semelhante
amorzinho?”
O homem pôs – se a caminho da coberta à playboy onde Carla se deitava e à medida que se aproximava dela o seu tom de voz começou a mudar abruptamente.
“Ai, ai que delícia me saíste minha querida. E que lindo rabo este” disse enquanto começava a apalpá – lo antes de dar uma mordidelazinha.
Carla saltou quando sentiu a fria saliva de encontro à sua carne. “Como é que um homem pode chegar e fazer sexo comigo sem saber o que ia encontrar? O que aconteceria se eu fosse gorda e feia, será que ele ainda seria capaz de ter uma erecção?” perguntava continuamente de si para consigo na medida em que se sentia agora como se fora uma peça de carne.
Numa desesperada tentativa de alijar aquela sensação de negatividade decidiu que era altura de se alhear do show na medida em que tudo o que havia escrito se lhe representou na memória como se a história fosse sua e os seus instintos a estivessem a informar de que este era um “caso perdido.”
Voltou – se de costas e embora o pénis do cliente não estivesse erecto isso não afectou a sua confiança pois sabia que não era incomum com homens nervosos e especialmente com mais de cinquenta e cinco anos.
Pôs – se de joelhos, afastou – lhe energicamente as pernas e começou a lamber – lhe a vagina furiosamente o que lhe provocou ânsia de vómitos quando sentiu a mistura de pele rugosa e fria saliva forçando os seus olhos a escapar do horrível lugar. “Presta atenção e agarra o preservativo. E controla – te. Isto é extremamente revoltante!” pensou de si para consigo.”
Enquanto deslizava os dedos no lado da cama para o encontrar, o homem não moveu a cabeça e pôde voltar – se ligeiramente, virando – o para procurar chegar – lhe ao pénis. Quando estava prestes a abrir o embrulho o homem levantou a cabeça para dirigir os olhos para ela.
“Vá lá querida. Estás decerto a gozar comigo? Não podes colocar o preservativo num falo mole. É ainda cedo. Tens de me voltar primeiro. Mete – o na boca, querida, vá continua, mete – o todo.”
O desrespeito patenteado colocou de novo os nervos de Carla à flor da pele com um sentimento de vingança já que era por demais sabedora que este indivíduo imaginava que podia tirar partido dela pelo facto de ser a sua primeira vez, tal como havia acontecido comigo. Ignorando os seus desejos colocou – lhe o a camisa-de-vénus antes de deslizar o pénis na boca, aliviada por descobrir que as contínuas queixas do homem eram agora substituídas por gemidos, enquanto lhe acariciava e lhe impelia o falo a entrar pelo orifício bucal ao ponto de começar a sentir náuseas.
“Oh querida és tão boazinha, precisamente uma verdadeira puta. Continua lá; chupa – mo todo. Continua querida, tu és competente para fazer isso.”
Continuou a chuchar e ao primeiro sinal de erecção recordou – me a minha infalível posição para levar o homem a atingir o clímax e, assim, moveu – se de molde a colocar – se em cima dele metendo – lhe o pénis na sua seca vagina enquanto lhe apertava os seios com muita força tentado desesperadamente chegar com a boca aos mamilos. Aqueles escassos segundos foram tempo suficiente para lhe vir à memória e perceber agora o significado da frase “deixar o corpo na sala enquanto a alma vagueava sem saber por onde ” para regressar quando o homem deu um grito prolongado de êxtase e teve o orgasmo.
Antes que acabasse completamente os gemidos ela envolveu – se numa toalha e correu para um dos cantos do quarto para evitar que lhe tocasse mais e ali ficou até que o homem se levantou e se vestiu.
Finalmente a sua aparência regressara à que tinha quando entrara; um verdadeiro senhor e, antes que pudesse apertar os sapatos, Carla estava pronta conduzindo – o pelo corredor para a porta de entrada e quando estava prestes a levá – lo para o exterior lembrou – se de haver esquecido qualquer coisa, o dinheiro! Não admira nada que estivesse com um enorme sorriso na a fisionomia quando a porta estava quase a fechar – se atrás dele. “Bom, não passei por aquilo tudo para nada” pensou e delicadamente fez lhe entender o que havia esquecido logo de princípio.
” Desculpa lá querido. Esqueci – me completamente”. “Desculpa querida. Parvo que eu sou, também me esqueci totalmente”, disse com ar inocente e tirou o dinheiro do bolso antes de Carla fechar a porta atrás dele com um suspiro.
Carla fechou – a atrás de si, suspirou e correu para dentro do quarto onde eu estava à espera.
”Meu Deus, Diana. Foi horrível! Que experiência tão desagradável! Nunca poderia imaginar antes vir a sentir – me como um pedaço de carne de talhante”, disse enquanto corria para mim. Mas antes de continuar a desculpar – se e meter – se no quarto de banho onde se demorou pelo menos uma hora, pude compreender a razão. Era como um ritual de purificação, não para a pele em especial mas para a totalidade do seu ser; corpo e alma. Era também uma maneira de se moralizar após uma fria experiência e recuperar energias para reconstituir a força que lhe permitisse fazer tudo aquilo outra vez. Carla saiu finalmente do banheiro libertando uma nuvem de vapor através do corredor enquanto se dirigia para a cozinha para se juntar a mim. “Tens a certeza que queres continuar, Carla? Na verdade penso que és já suficientemente dona do perfil que pretendes”, disse.
Determinada como de costume, insistia que escolhesse um jovem para a próxima vez afim de poder obter um perfil mais consentâneo com a realidade. Na verdade não compreendia esta obstinação já que “se fizeste com um fizeste com todos” mas deixei – me de argumentos.
“Não tinha de facto qualquer ideia do que estava a escrever. Fi – lo porque tinhas explicado tudo mas nunca teria imaginado a sensação, acrescentou enquanto Carla continuava a dar – me os restantes detalhes da sua experiência durante o café. O telefone tocou de novo e competia – me a mim saber e tentar determinar se a pessoa que se encontrava do outro lado satisfazia as preferências de Carla. Como diabo vou eu fazer isto? Do meu traquejo do passado como recepcionista por demais sabia eu que por vezes que a voz é uma desilusão.
Mas finalmente, o que eu acreditava ser o candidato eleito fez uma marcação e estava prestes a aparecer nuns escassos minutos.
Carla estava muito calma e mais confiante. O seu comportamento nervoso tinha sido agora substituído pelo seu normal sentido de humor e os quinze minutos depressa se evaporaram com o telefone a recordá – lo. Dei ao cliente o número do edifício e do apartamento e dirigi – me para o quarto.

Abriu a porta a um jovem de cabelos pretos, que vestia uns jeans e uma camisola leve de lã que parecia não ter mais de dezoito anos e, tirando partido da sua aparência tímida sentiu – se mais à vontade para ser ela própria e alegremente apresentou – se e perguntou – lhe o nome não antes de se lembrar de lhe pedir para pagar.
João manteve a cabeça baixa e seguiu – a para o quarto de banho permanecendo no entanto à porta até que ela lhe perguntou se desejava usá – lo.
Para seu completo espanto respondeu que não o que, instantaneamente, me fez lembrar a minha terrível experiência com Russell, o jovem cliente que deixou um traço de desconfiança na minha cama. Esperando o melhor, começou a despir – se e perguntou a João se gostaria de fazer o mesmo.

CAPÍTULO 7

Era agora Sábado de manhã e o pensamento de me encontrar com a temível senhora e vir a saber o destino de Napoleão dera como resultado três agonizantes noites sem dormir.
Eram duas e quarenta e cinco e, tal como da outra vez, lá estava eu sozinha em frente daquelas portas enormes mas desta vez, em lugar de ter por companheiro o agradável sol de Outono enfrentava a presença de escuras e tristonhas nuvens que ameaçavam abrir – se em cada segundo para limpar todos aqueles pedacinhos de terra e resíduos dispersados pelo vento.
Ouvi um carro aproximar – se e, para meu desgosto, estava na presença da proprietária que estacionava em frente dos portões obrigando – me a dar alguns passos para a retaguarda para lhe permitir as várias manobras.
Finalmente quando conseguiu arrumar o pequeno Smart no diminuto espaço de cerca de três metros e meio, retirou o seu saco Burberry e casaco de tweed do banco de passageiros saiu e, ao passar por mim, baixou silenciosamente a cabeça. Tal como o polícia esforçava – se por encontrar a chave mágica que servisse na fechadura de entrada das traseiras.
Subitamente começou a chover e, por delicadeza, perguntei à arrogante mulher se necessitava de ajuda.
“Não, obrigada, não preciso. Falaremos às três horas”
Permaneci imóvel a presenciar e ouvir o som das gotas de chuva a engrossar, ficando ambas ensopadas. Para meu horror redundaram em chuva torrencial forçando – a a encontrar rapidamente a chave. Quando finalmente conseguiu fui – me embora contornando – a pela retaguarda afim de escapar à tempestade mas a porta bateu a fechar – se na minha frente.
Pela minha vida que não consegui compreender como uma pessoa podia ostentar uma similar atitude tão baixa mas o seu comportamento anunciava – me problemas e não devia reagir.
Aproximavam – se as três horas e por isso bati à porta.
Só passado um minuto, exactamente às três em ponto a porta se abriu. Passei pela entrada da cozinha e encontrei a encharcada mulher a esconder – se atrás da enorme porta de madeira.
Logo que entrei fui automaticamente assaltada pelas mesmas vibrações do passado, dando como resultado uma imensa sensação de déjà vu produzindo uma sensação mais pessimista do que nunca por ter de confrontar – me com toda a experiência deixada para trás. Ali estava, intimidada na presença daquela mulher molhada até aos ossos enquanto esperava por ela para me dizer o que há tanto tempo temia ouvir.
“Siga – me por favor”, pediu enquanto se dirigia para a sala de estar.
Enquanto seguia sua Graça fui repentinamente tomada de uma forte sensação de optimismo que o compartimento emanava em doses descomunais. E dei comigo tentada a desenvolver conversa com a mulher ajoelhada à lareira tentando acender uma fogueira.
“Espero que compreenda porque está aqui”, proferiu à maneira de mestre-escola.
“O que aconteceu no café é inqualificável. Aquele monstro quase que me matava. Receio que tenha de ser abatido”
Nesse preciso momento quase que o meu estômago me saltou pela boca fora numa terrível tempestade, a maior que já testemunhara e corri para ela, ajoelhei e colocando – lhe a mão no ombro pedi – lhe para reconsiderar o que havia dito. Mas a mulher continuou impávida a observar as recém nascidas chamas e proferiu:
“O cão é um perigo, uma ameaça para a sociedade. Não vejo outra solução para este caso”
Em pânico, mordi as minhas palavras que estava prestes a proferir, que Napoleão devia ter farejado vibrações maldosas levando a proceder daquela maneira, mas de preferência olhei à volta do quarto e tentei reganhar o meu medo com a irresistível e poderosa positividade que estava contida naquelas paredes.
“Por favor. Pagarei o que for necessário. Farei o que for preciso, mas não me mande matar o cão.
Subitamente a mulher levantou a cabeça na minha direcção sem no entanto afastar o olhar do soalho e começou a despir a encharcada camisola bege para revelar um despretensioso soutien que emprestava à pele a coloração de porcelana branca.
“Então, se quer fazer alguma coisa, esfregue – me as costas por favor. A humidade está – me a fazer calafrios.” – Pediu, estendendo – me a camisola.
Não dava para acreditar. E ali estava com aquela mulher tímida, desculpa mimada de um ser humano a escassos meses do dia em que nos havia forçado a sair de sua casa, a ser convidada a friccionar – lhe as costas no momento em que a vida do meu cão estava em risco. Mas obedeci sem dizer palavra, fiz o que me pedia, e ajoelhei por trás dela de frente para a lareira a esfregá – la como pedira.
Repentinamente dei um salto como se uma enorme e fortíssima trovoada explodisse com a intenção de partir a terra em dois bocados. Quando olhei para baixo os seus olhos já não estavam pregados na fogueira. Encontravam – se cerrados enquanto se movia delicadamente de um lado para o outro deixando bem claro o que lhe avassalava o pensamento. Antes de lhe dar oportunidade de dizer alguma coisa que pudesse lamentar a seguir, prossegui o meu trabalho a partir do ponto onde o tinha deixado. Fechei os olhos e lembrei – me do primeiro dia em que entrei naquela sala de estar e como me tinha feito encher de força por ver tudo de uma perspectiva positiva e agora tinha de prová – lo.
Sempre esfregando, o meu espírito viajou no tempo recuando e eis Alexandra a meu lado beijando – me, procurando excitar – me antes de me meter os dedos na vagina até que todo o meu ser ficou preenchido de uma sensação escaldante, um inexprimível sentimento de bem – estar, estímulo, um desejo intenso de sentir a sua vulva roçar – se na minha com a doce impressão do proibido que os seus dedos criavam. A indescritível sensibilidade de ser acarinhada pela suave, sedosa pele no meu corpo ao ritmo de movimentos sensuais de ternura, amor, e paixão explosiva que senti sempre que nos tocávamos, chegava para preencher o quarto em que agora me encontrava com o poder de cada pequena reacção e com todo o enlevo sexual que o meu corpo havia experimentado na presença de Alexandra. Era esta, sem dúvida, a verdadeira sensação do êxtase, e o sentimento de paixão sensual fremente, avassaladora. Era a sensação infindável de que o mais ligeiro toque poderia desencadear no espírito os mais profundos desejos sem ser necessário o acto sexual. Era o último grito do sentimento, não obstante o facto de ter dormido com mais de cem homens só um conseguira chegar à beira para me libertar apenas de metade dos mesmos poderosos sentimentos ao mesmo tempo que os outros eram despojados em consequência da sua avidez da cópula, do clímax, sem sequer lhes cruzar o espírito a ideia de que esta poção existe.
Abri os olhos para deparar com a mulher a acariciar – se sensualmente enquanto as chamas se reflectiam na sua pele. Os meus pensamentos e os meus sentimentos haviam sido tão intensos que ela bebera cada gota do meu devaneio e eu fora agora deixada a desemaranhar toda aquela situação que ajudara a criar.
“Peço muita desculpa. Já estou atrasada e tenho de me ir embora”, disse baixinho.
A mulher regressou do transe com um salto arrebatando – me a camisola da mão com um olhar cheio de vergonha e cobrindo imediatamente o soutien com ela. Quando me despedi estava embaraçada com a experiência que eu presenciara para ter coragem de proferir uma palavra sequer. Mas de algum modo a minha intuição me advertia que o meu problema com esta mimada dama não se resolveria tão depressa, embora com mais optimismo na medida em que a energia do quarto me havia regenerado.

Haviam passado alguns dias após a minha experiência com a proprietária e embora a minha intuição me avisasse que o rabinho ainda não havia sido esfolado, estava a começar a pensar se não estaria enganada.
Carla estava a sentir – se muito positiva com a adaptação que fez ao livro. Tão somente introduzira mais emoção no que escrevera mas também o reescreveu para intercalar mais diálogo antes de o enviar à aprovação do escritor.
Um dia e uma noite tiveram o seu curso enquanto o romancista devorava cada página que ela escrevera para depois a chamar e dizer – lhe:
“Querida Carla, parabéns pelas emoções que desenvolveu, os expressivos sentimentos que desperta no seu trabalho mas as minhas mais sentidas condolências pelo seu mais recente estilo de escrever. Por que cargas de água decidiu desenvolver o diálogo? O discurso é para escritores que preterem a análise em seu benefício. Modernamente é pontual encontrar autores que regridam para o velho estilo. Desculpe Carla mas acabou por alienar tudo completamente.”
Sem argumentos e extremamente desapontada, sentiu – se como uma criança de escola com más notas nos exames quando pensava ter obtido marcas extraordinárias por aqueles que tinha falhado. Horas de trabalho ciosas da auto – confiança da sua habilidade de escritora que transportavam consigo foram – se literalmente pela janela fora.
Respeitava por demais o velho senhor para sequer o questionar preferindo fazer o que lhe sugerira e regressar ao estilo original. Mas havia um problema mais sério; tinha tanta certeza que o seu segundo rascunho ia agradar que eliminou o primeiro do computador. A única pessoa a possuir as cópias originais era o escritor e nem morta iria dizer – lhe o que tinha feito pois desse modo ele teria todo o direito de pensar que eu não estava boa da cabeça!
Regressou assim à escrivaninha numa tentativa de transformar as inúteis páginas de diálogo, mais uma vez, em parágrafos normais. E como o escritor era desconhecedor do seu handicap expressou a sua desilusão na altura em que ia completar o trabalho.
“Peço desculpa por ter apostado nas suas capacidades. Mas chega de conversa por agora. Falaremos daqui a alguns meses quando tiver completado o livro.” - Disse ironicamente.
Isto encheu – a de vazio como se tivesse perdido a única pessoa que lhe havia dado vontade forte e apoio mas acima de tudo a pessoa responsável por fazê-la acreditar nela própria. Mas fi – la dar – se conta de quais as suas verdadeiras intenções; queria exactamente que Carla provasse que estava enganado. Felizmente aceitou o meu conselho e olhou para os comentários como crítica construtiva ficando mais determinada do que nunca para lhe provar ter feito um bom investimento.
O meu relacionamento com Romano não podia ser mais forte durante este período fazendo – nos sentir mais unidos do que nunca. O seu contínuo apoio para o sucesso do livro apesar do facto de que ele tinha tudo a perder se se descobrisse a minha identidade provava ainda mais a sua devoção.
Era difícil passar um dia sem que houvesse troca de centenas de textos de mensagens românticas e era difícil haver um dia sem que eu não desejasse ver o relógio bater as seis, para poder atirar – me de novo para os seus braços
Toda a minha vida evoluía à sua volta. Se não possuía este obsessivo sentimento amoroso com os meus clientes, podia ainda menos pensar num relacionamento e deixá – lo crescer. Mas era ele o ente com quem eu desejava passar o resto da minha vida, o meu melhor amigo, o meu amante e protector.
Por esta altura Romano estava a enfrentar sérios problemas e eu sentia – me impotente na medida em que não estava em posição de ajudar ou apresentar soluções realistas. Contudo tentei dar o meu melhor conselho a despeito de não conhecer grande coisa acerca do seu próprio negócio e para além disso tornei – o consciente de que devia economizar e reduzir as despesas nas necessidades básicas bem como dividi – las entre nós.
Nesta miserável manhã de nevoeiro decidi abster – me do meu passeio matinal com Napoleão e visitar Alhandra para ver e sentir por mim o mesmo que Carla e Marilyn se fartaram de pregar. E mal havia despachado o meu difícil cliente de França que arrumei a escrivaninha e parti.
Pelo caminho eu e Romano trocámos infindáveis mensagens românticas até ao ponto de me pôr a sonhar enquanto descia no meu automóvel pela estrada escorregadia a pensar que era este o homem que eu queria para passar o resto da minha vida. Dentro de poucos minutos outro texto – mensagem chegou.
“Queres casar comigo?”
Dirijo o carro cheia de excitação obrigando um Rover atrás de mim a buzinar mas olhei para o condutor ao ultrapassar – me e sorria. Nada podia roubar – me o sentimento que tinha dentro de mim. Estava chocada, muda e a rebentar com tanta felicidade mas de algum modo desconfiava se Romano falava a sério ou se tinha perguntado na exaltação de doses românticas que estávamos a trocar. De qualquer modo decidi concentrar – me na grande controvérsia, tomei a próxima saída e regressei a casa a contar os minutos até ao regresso de Romano.
Tanto eu como o Romano evitávamos timidamente a pergunta e a resposta como se ambos estivéssemos indecisos se nos havíamos tomado reciprocamente a sério. No final de contas era eu a mulher que havia sido pedida oito vezes em casamento apenas para aceitar o oitavo até que depressa cheguei à conclusão, após a consumação do acto, que ele pensava que me controlava e acabou por mostrar as suas verdadeiras intenções com o decorrer do tempo. Passámos de preferência a maior parte da noite nus em cima dos sofás em frente à luz nevoenta, funda do jardim rodeado pela funda floresta, fazendo amor à luz da vela e ao som das vociferantes chamas da lareira nossas cúmplices. Enquanto ali jazíamos nos braços um do outro toquei delicadamente a mensagem que fora a responsável pela a intensidade sentimental que me envolveu durante o acto de amor. Romano respondeu que era tudo muito a sério levando o meu estômago a dar – me picadas de contentamento que eu desejava partilhar com o mundo inteiro neste preciso momento.
A tarde seguinte pareceu – me mais sombria do que o chuvoso dia anterior a despeito de um límpido céu onde brilhava um sol resplandecente. Talvez estivesse à espera que ele fosse um verdadeiro romântico como eu e que saísse e me fosse comprar um anel barato de modo a transformar a proposta em algo para recordar ou talvez eu estivesse a enganar – me a mim própria com essa desculpa; a desilusão real dentro de mim era ele nunca pegar no telefone para me falar do assunto deixando – me em dúvida acerca da sua sinceridade e todavia sem ma exteriorizar. Mas o futuro acabou por dizer a verdade sobre a minha dúvida.

CAPÍTULO 8

Parecendo igualmente alegre tal como da sua última visita, Marilyn telefonou para me convidar para um café na praia naquela mesma tarde.
Romano chegou a casa para almoço logo a seguir, aqueceu um pouco de massa e veio juntar – se a mim na varanda do cimo das escadas. A linda e pitoresca paisagem que abraçava a verde e luxuriante floresta juntamente com as azuis e frias ondas do mar e a grande cidade na distância em baixo, havia sido adulterada por um grupo de operários que utilizavam o nosso jardim para trabalharem no telhado dos nossos vizinhos.
Era esta a primeira vez que eu e Romano nos sentávamos a almoçar na varanda e a meio do caminho desculpei – me, dirigi – me ao quarto de banho só para voltar quando todos os trabalhadoras miravam a minha caminhada. Romano testemunhava tudo do canto dos seus óculos de sol e antes que me pudesse sentar atrás dele pegou – me na mão e conduziu – me para a parede da varanda que se situava directamente em frente da audiência. Colocou – se atrás de mim ao mesmo tempo que me agarrava e segredava apaixonado:
“Hum, bem querem foder – te mas não te podem chegar. És minha. Sou o único a poder entrar. Estás a ouvir – me?”
As palavras dominadoras de Romano misturadas com o simples facto de que estávamos a ser observados era suficiente para me fazer render ali e deixá – lo tomar o controle da sua mulherzinha. Encostou – me logo a seguir à parede de meio metro de altura e levou – me com ele para o chão principiando desesperadamente a puxar – me para baixo as minhas justas calças pretas e a abrir simultaneamente as suas antes de me fazer sentar em cima dele.
“Romano, pára com isso. Os trabalhadores podem ver – me.”
“Faz como te dizem. Podem ver o teu prazer, masturbar – se com o panorama do teu cu mas não podem tocar – te. Podem invejar o meu gozo enquanto se apercebem que estou a foder – te com todos os matadores.”
”E penetrou – me com tanta genica que dei um grito.”
“Continua, olha para eles de maneira que possam presenciar a dor que estás a experimentar para satisfazer as minhas necessidades.”
Quanto mais desenvolvia maior era a intensidade do meu sentir dentro de mim ao ponto de já não poder ouvir o trinar dos pássaros nem o zumbido das abelhas que até há pouco haviam providenciado a música de fundo. Só conseguia ouvir a voz dominadora de Romano enquanto me movia devagar para cima e para baixo em cima dele e olhava para a frente na direcção que me havia sido ordenada. Abruptamente começou a penetrar – me com mais força obrigando – me a gritar outra vez, primeiro de dor e agora de intenso prazer. Estava prestes a atingir o clímax e precisava virar a cabeça para baixo mas Romano não mo permitia tentando conter os meus sentimentos de se expressarem no meu rosto e, assim, foi em pleno, à vista dos operários que atingi o clímax.
Logo que Romano regressou ao trabalho fiz a minha purificação e dirigi – me ao encontro de Marilyn na esplanada do café em Carcavelos onde tínhamos combinado.
Cheguei vinte minutos mais cedo do que o combinado e pus – me a observar o que me rodeava. Parecia que toda a gente estava a tirar partido do magnífico dia que se enganara na estação pois tomara o Inverno pelo Verão.
Logo que a última mesa ficou liberta depois da conta paga, sentei-me, pedi um sumo de laranja, estendi o pescoço para beber deliciada toda a vitamina “D” que pudesse só para ser interrompida com uma pancadinha no ombro. Precisamente quando estava quase a dizer ”É incrível chegares a horas”, voltei – me e lá estava o Costa a destacar – se da turba!
“Olá Diana. Mas que surpresa agradável! Já há muito tempo que te não via. Perdi o telefone e também já não tenho o teu número privado. Penso que deves ter mudado o teu número de trabalho. Certo? De qualquer maneira, como tens passado e como vai o teu trabalho?”
Dei comigo a explicar a mesma história tal como havia explicado a outros ex clientes e depois quando era a vez de Costa a actualizar – se ali estava eu a lembrar – me dos seus dias de meu cliente após o seu recente divórcio e que me mandava mensagens a confessar – se apaixonado por mim deixando – me a tarefa de encontrar uma delicada solução sem ferir os seus sentimentos. A solução ao tempo foi esperar pela altura certa e para isso fi – lo compreender que não me podia dar ao luxo de uma relação até pagar completamente as minhas dívidas e os dias na minha profissão estivessem contados. Sabendo que o tempo era o melhor remédio acabou por ser a melhor desculpa. De facto provou – se pois encontrava – se agora imerso numa nova relação e parecia extremamente feliz.
“Formidável, Diana, ver – te de novo. Estou tão contente por teres deixado aquela vida; tenho o maior respeito e admiração pela tua coragem e personalidade”, disse antes de se ir embora.
Regressei à minha posição inicial. Eram 2,45 e Marilyn estava agora 20 minutos atrasada. “Típico dos portugueses” pensei enquanto recebia uma mensagem pensando que era dela mas era do Costa!
“Diana. És especial. Nunca consegui esquecer o que sentia por ti.”
“Merda” balbuciei. Por uma vez tenho de ser cruel para ser amiga, seguir o conselho de Romano e deixar de responder a estas mensagens!! Romano não podia ignorar o facto de que eu recebia mensagens sendo minha a culpa pois se respondia era porque queria, tal como desta vez; resolvi tomar o seu conselho e ignorar.
“Olá querida. Peço imensa desculpa.” Disse Marilyn enquanto corria para a mesa.
Tinha ido visitar uma amiga para lhe ler as cartas. “Não pode parar”, pensei, mas por delicadeza perguntei – lhe qual o resultado não obstante a sua vibração positiva.
“Sabes, Diana, há trinta anos que Lucy é a minha melhor amiga. Tem – me lido as cartas há tanto tempo que já nem me lembro e nunca falhou nem uma única vez”, disse.
“Oh, então tenho de lhe fazer uma visita para ver qual será o êxito do meu livro”, repliquei a brincar.
“O livro, Diana? Que livro? O que começaste a escrever precisamente antes do teu envolvimento com Romano?”
“Exacto, é esse mesmo. Mas não o escrevi eu, quem o está escrever é a Carla. Oh, e adivinha o quê. Tu também constas.”
O sorriso de Marilyn caiu ao chão.
“Oh meu Deus! Mas o que estás para aí a dizer, eu fazer parte? Diana, toda a minha reputação está em jogo. Oh meu Deus, Diana, tens de dizer à Carla para me tirar de lá.”
Tentei desesperadamente acalmá – la antes que tivesse um ataque de coração mas a atrapalhação ocupou – lhe a mente para poder prestar atenção ao facto de que as identidades e descrições das personagens haviam sido alteradas.
“Eu sabia! A Lucy tinha razão. Ela nunca falha. Ela disse que para além de tudo o que viria de bom no próximo futuro que devia também preparar – me para notícias desagradáveis”
Após três cervejas a angústia de Marilyn havia – se dissipado com os conteúdos do seu copo e com o seu velho feitio começou a falar infindavelmente sem se dar conta do tempo.
Às 4.30 Lucy telefonou. Tinham combinado encontrar – se no café vizinho às quatro horas e como de costume desculpou – se um milhão de vezes e sugeriu que Lucy viesse ter connosco ao café em que nos encontrávamos.
Lucy chegou passados alguns minutos e Marilyn abraçou – a como se a não tivesse visto há anos.
“Lucy, esta é a Diana” disse Marilyn enquanto me levantava para cumprimentar aquela senhora magra, não mais alta do que eu, que parecia não ter mais do que quarenta e cinco anos e possuidora de uma aura de enorme calor positivo que podia sentir logo que se aproximava chamando a atenção com as suas calças alargadas em baixo e camisola preta e os seus compridos cabelos igualmente pretos que tinha enrolados e atados atrás num bonito tufo. Para acrescentar mais um predicado, os seus olhos verdes claros reflectiam as ondas do mar à distância a condizer com a pele cor de canela.
“A sua cara é – me muito familiar, Diana” disse com um voz meiga, doce e poderosa. “Penso que a vi naquele edifício” continuou enquanto apontava para um enorme condomínio do outro lado da rua.
“É possível. Já estive lá uma ou duas vezes.” “O meu namorado vivia ali.” Respondi
“Oh, lembro – me agora de os ter visto aos dois. Conheço a sua família através da Internet e tenho visto a madrasta na benzedeira de Cascais” disse com uma expressão preocupada.
“Peço desculpa, a madrasta? Mas por que diabo…? Respondi com um misto olhar de descrença sabendo de sobra que a paranóica da madrasta tinha medo de largar o pai na rua por cinco minutos que fosse quanto mais visitar “uma bruxa em Cascais”.
Pois é, Diana, é verdade. Levei lá alguns dos meus clientes para quebrar alguns bruxedos. É a melhor das redondezas e faz alguma coisa por dinheiro, macumbas, como lhe chamas. Vi – a lá pelo menos três vezes. E sempre numa segunda-feira à tarde pois é o dia em que consigo o carro da minha filha para lá ir eu própria.
Fui – me embora para casa desejando não ter encontrado Marilyn. Descobrir isto agora após esta confusão das sinceras intenções da proposta de Romano; era a última coisa que precisava e não podia deixar de me lembrar da interferência da madrasta desde o dealbar do nosso relacionamento.
Jo, tal como a chamavam, era magra, de tez branca – pálida que disfarçava cuidadosamente com maquilhagem de um creme colorido daí resultando um contraste com a linha do maxilar. O seu estilo de cabelo nunca era o mesmo e mudava constantemente de cor como se estivesse desesperadamente a tentar descobrir um estilo que lhe desse identidade, mas com pouco resultado e em várias ocasiões, numa tentativa de parecer mais jovem, cometeu o erro de ostentar um estilo que a sua velha face de quarenta e cinco anos não pôde justificar.
O ar de elegância que desesperadamente tentava mostrar era por vezes destruído pelo seu sotaque verdadeiro que frequentes vezes a deixava escapar abaixo, do seu meio e tentativa de classe superior, daí resultando uma facilmente perceptível falsa postura. Para além disso acreditava piamente que tinha um perfil intelectual, vários graus universitários quando de facto a sua educação não chegava a tanto. Não que a inteligência se possa medir por um diploma universitário mas para alguém que como ela nem ao menos possuía um emprego, estava convencida de ser a coqueluche quando de facto era uma mera boneca social cujo objectivo na vida era ostentar alguma espécie de status especial numa sociedade onde as aparências predominam em lugar da individualidade e independência.
O regresso a casa pareceu – me curto, mesmo ficando presa no tráfico por mais de uma hora. Quando entrava pela porta da frente imediatamente senti o agradável odor da frescura e das flores antes de me aperceber de Romano escondido atrás da porta com um enorme ramo de lírios brancos.
“Então, o que se passa, Diana? Estás ok? Estás mais pálida do que uma folha de papel.”
“Oh, apenas uma dor de cabeça horrível. Isto passa. Só preciso deitar – me e descansar um bocado.” E dirigi – me para o sofá enquanto Romano metia um DVD no aparelho. Não me contendo continuei:
“Olha lá, não disseste uma vez que a tua madrasta ia regularmente a Fátima?”
Romano pareceu baralhado com a súbita questão e riu – se:
“É verdade, fica muito perturbada quando me vê a mim e ao meu pai a discutir e vai lá pedir auxílio. Mas porque perguntas?”
“Por nenhuma razão especial. Só porque penso tê – la visto lá. Era uma segunda – feira.
De qualquer maneira achei estranho vê – la sozinha já que me disseste que nunca larga o teu pai. Só que me esquecera de te dizer.
“Bem, é muito possível que fosse segunda – feira. É o dia em que dá as suas voltas como ir ao cabeleireiro, etc.
Nem pude acreditar, Lucy não estava a brincar e tudo fazia sentido! Isto é, nunca se separava do pai excepto à segunda – feira de tarde como Romano acabava de confirmar e depois, usava como desculpa habitual de que ia a Fátima quando na verdade ia visitar a benzedeira!
Fechei os olhos e fingi dormir para não ser perturbada e examinar a história da madrasta em todos os pormenores, recordando como Romano se tinha recusado a apresentar – me aos pais durante os primeiros meses do nosso relacionamento e, embora eu soubesse a verdadeira razão lógica, não foi, no entanto honesto comigo. Contudo era sincero acerca dos joguinhos que a madrasta andava a fazer.
Após algumas semanas do nosso relacionamento Jo procedia como a mulher – tipo, fazendo disso sua profissão, descobrir com quem andava Romano tornando – se a sua obsessão maior.
A princípio o comportamento de Jo pareceu – me inofensivo mas ulteriormente passou a seguir – me na minha própria rua. Imaginei que devia ter segundas intenções para levar as coisas a tais extremos. Porque estava tão preocupada com o enteado? Não era decerto por se sentir como se fora uma mãe para ele pois que a diferença de idade era até bastante pequena. Depois, o relacionamento tipo irmão – irmã estava também fora de questão porque Romano não a considerava sua parente, apenas, isso sim, a mulher de seu pai.
Era difícil haver um dia sem que Jo telefonasse a Romano de uma maneira doentia.
Como diz o velho ditado “as moscas caçam – se com mel e não com vinagre” mas havia alguma coisa de muito amargo na sua ternura.
Primeiro perguntei a Romano se o pai havia casado com acordo pré – nupcial e por minha surpresa ele assentiu pois que a lei impôs tais medidas devido à idade do progenitor acrescentando que este pedira para arranjar maneira de receber alguma coisa na eventualidade da sua morte.
Tudo era agora claro como água. Jo não fazia a mínima ideia de que eu era prostituta ou, doutro modo Romano tinha já sido informado. O seu grande receio era perder a cooperação de Romano em prol de outra mulher na medida em que ele iria ser o herdeiro legítimo.
Jo baixou na minha consideração logo que lhe comecei a topar o jogo. Romano chegou a casa naquela noite três horas mais tarde e ouvi – o resmungar quando entrava:
“Grande cabra! Que filha da puta de cabra metediça! O meu pai foi ao escritório e pela primeira vez a Madame resolveu esperar no carro. Esteve a pregar – me uma lição dizendo que me não estou a concentrar no trabalho e que passo todo o meu tempo a enviar mensagens à minha namorada. Para além disso, aquela grande cabra foi meter o nariz no meu relatório do banco e viu a transferência inicial que fiz para o novo negócio. Vou deixar a companhia.”
“O quê, vais deixar a companhia? Andou a bisbilhotar as tuas declarações bancárias? Estás a brincar! Mas que raio de merda têm as tuas declarações telefónicas a ver com ela?”
Jo havia ficado de tal modo furiosa acerca da minha secreta identidade que teve o descaramento de ir esquadrinhar o seu domínio privado até descobrir um bom argumento para desencadear uma querela no relacionamento entre pai e filho e, ao mesmo tempo, simular a mais inocente das criaturas.
Na manhã seguinte Romano dirigiu – se para o escritório determinado a entregar o seu pedido de demissão não obstante a minha insistência de que estava a permitir a interferência de outros onde não eram chamados. A verdade nua e crua era que Jo havia perdido o controle da vida de Romano e o seu último recurso seria alienar a sociedade pai – filho já que desse modo poderia manipular o pai. Mas não iria permitir – lhe interferir nem mais um bocadinho utilizando – me como desculpa. Instantaneamente agarrei no telefone e liguei para Romano e expliquei, com as lágrimas a correr – me pela cara abaixo que não tinha senão que acabar com a nossa relação pois era por minha causa que estava envolvido neste jogo monopolista.
Limpando as lágrimas dos olhos, decidi que chegara a hora de finalmente me confrontar com o homem de que Romano falava com tanta veneração.
O discurso que havia treinado volatilizou – se na minha cara quando foi Jo a atender o telefone.
“Olá. É a Diana. Sabe quem eu sou. Posso falar cm o Sr. Silva se faz favor?
“Desculpe mas encontra – se ocupado. Por favor não volte a marcar este número” e desligou.
Que grande impudência a desta mulher. Como o seu plano lhe estava a correr harmoniosamente teve a audácia de fazer o que fez e por isso avisei Romano do seu inqualificável comportamento. Romano, por seu turno comunicou ao pai e ainda não tinha passado meia hora o pai telefonou.
Sentindo – me desqualificada com toda aquela cena estava agora mais interessada em expressar o meu desgosto e perguntar se era aquele o seu normal comportamento com as pessoas que nunca vira e depois, qual era o seu problema? O pobre do homem ficou sem saber o que dizer ante o meu desaforo e desculpou – se um milhão de vezes pelos modos indisputáveis da mulher ao telefone e interferência.
Passada uma hora voltou a telefonar informando – me que Romano tinha agido com sucesso para resolver as suas desinteligências e que a sociedade continuava acrescentando que desejaria que reconsiderasse e não acabasse o relacionamento.
Romano chegou a casa cedo e aliviado naquela tarde atribulada e contou como Jo saiu de casa irada, na medida em que as coisas não correram de acordo com os seus planos e fazendo – se inocente telefonou – lhe na tentativa de empurrar as culpas para cima do pai.
“Vai ao apartamento, ao meu computador, e procura no arquivo Diana. Foi a informação que o teu pai me pediu para coligir, disse – lhe.
Por curiosidade Romano fez tal e qual ela pediu e estendeu – me uma cópia do documento escrito com alíneas de modo que explicava coisas ridículas metade das quais incorrectas no respeitante ao meus antecedentes; educação, trabalho, automóvel, vida sexual, boyfriend, o meu suposto machismo. Resumindo, todos os pontos positivos eram contornados de molde a dar – lhe um aspecto discordante e o restante ultrajantemente inexacto exceptuando a minha aparência e naturalmente a minha falta de jeito para a cozinha! Mas mais uma vez tudo isto vinha provar de que nem sonhavam com a minha profissão mas em vez disso tinham informações acerca do meu passado, numa sociedade que nada sabia de mim mas que me julgava pelo que lhes parecia ser; pela milha atitude, autoconfiança e espírito de independência.
Com a denegada intenção de denegrir o meu perfil na concepção do pai de Romano a mulher tornava – se ridícula.
O que a pobre da atrasada mental não era capaz de fazer ideia era de que eu olhava a sociedade com sobranceria exactamente pelo facto de que tentavam deitar – me abaixo minguando – lhes, no entanto, a coragem de o assumir.
Falar de mim, não era absolutamente novidade para quem quer que fosse que analisasse a situação. De resto, há um ditado que diz “Quer falem bem quer falem mal de mim isso dá – me importância.” Tratei da minha vida planeando o meu trabalho como qualquer pessoa normal mas porque levantei a cabeça, eis que sou discriminada. Mas idiota, isso não era e em lugar de quebrantar frente aos mexericos e permitir que destruíssem a minha confiança, usei isso a meu favor para edificar o meu prestígio concluindo que era eu própria e que a maioria desejava pura e simplesmente imitar – me mas sentiam que lhe diminuía a coragem. Para além disso não podiam aceitar o facto de que uma esposa se organizasse por si e tivesse êxito na vida em lugar de se apoiar num marido rico. Se fosse vista a falar para os seus amigos seria imediatamente apelidada de porca. Mal sabiam eles que os homens eram os únicos especímenes com quem de facto me sentia confortável na medida em que eram muito mais tratáveis do que as suas contrapartidas que passavam o tempo a cortar na casaca de toda a gente como a falsa da cabra que era a Jo.
Para acrescentar ainda mais confusão àqueles espíritos tacanhos, as pessoas pensavam automaticamente que havia realizado o meu dinheiro à custa dos homens. Bem, senti pena deles mas pude, na verdade, compreender porque sentiam daquele modo. Isto é, numa sociedade onde reinam as aparências, como poderia alguém despretensiosamente vestido como eu conduzir um carro tão caro e, acima de tudo ter miolos? As pessoas inteligentes tinham uma função a desempenhar, aliás diferente da minha. Tinham de representar o seu papel, actuar seriamente, sem graça e julgarem – se mais que os outros por não serem abençoados com um título de Dr.”
Assim, esses espíritos pretensiosos não podiam sequer imaginar que eu era provavelmente mais bem educada do que eles e que pensava por mim própria analisando as situações em lugar de ser tacanha a despeito do facto de que não a admitiria que ninguém me chamasse Dr.ª e em contrapartida recusasse fazer o mesmo. Para mim, os únicos doutores com direito a tal título eram aqueles que praticavam medicina. E ponto final.
Devido a toda aquela confusão que Jo havia engendrado o pai de Romano sentiu – se na obrigação de nos convidar para almoçar no domingo seguinte e até chegar o dia não pensei noutra coisa que não fosse o sentimento de hipocrisia de toda aquela experiência.
Jo tomou o controle da reunião com um acrescentado ar de superioridade como se nada tivesse acontecido e, numa tentativa de ganhar apoio para o evento convidou outros membros da família e, ao mesmo tempo, embora discretamente, tentava humilhar – me e olhar – me do seu pedestal de superioridade mas diminuía – lhe o êxito já que toda a gente era conhecedora do que se havia passado. Mas era uma profissional e, controlando – me, tinha pura e simplesmente pena dela em lugar de explodir e dar azo a que toda a gente visse que não ia descer ao seu nível embora tentasse desesperadamente provocar – me. Por isso passei a fingir que era muda. Mas cá se fazem cá se pagam e, para alguém que se atrevera daquela maneira a meter – se na minha vida e me falara daquele modo ao telefone, esta mulher despeitada em relação mim, não sabia com quem se estava a meter principalmente porque no passado tinha reagido muito mais por coisas de muito menor importância
Triste realidade a daquela experiência que tentei pôr para trás das costas pelo amor de Romano e convencida de que Jo acabara por aprender a lição par ter a veleidade de repetir o mesmo erro.

CAPÍTULO 9

Durante as semanas próximas do Natal ocupava o meu tempo na confusão da análise dos acontecimentos mais recentes que me conduziram a dar – me conta da barafunda e ansiando pelas antigas árvores inspiradoras da minha inteligência clarificadora das minhas dúvidas através da variedade que circundava o caminho.Tendo – me encontrando com Lucy e duvidando da sinceridade de Romano acerca de problema tão sério, tornei – me mais fria do que os suaves dias que o Inverno providenciava conduzindo – me a atravessar o tempo uma vez mais em retrospectiva.
Não conseguia compreender como é que Romano era capaz de ter uma namorada prostituta mas podia compreender ainda menos como podia esperar no quarto ao lado durante o meu trabalho não obstante o facto de eu o confrontar com o problema ao que me respondia que ali estava livre de medos e perigos. Mas lá bem no fundo é difícil de digerir os dias passados sozinha. Depois a sua escusa inicial de partilhar um novo espaço comigo na contrapartida de viver livre de encargos no meu apartamento, era decerto mentalmente transtornante. E, se de facto, acabámos por mudar, foi só numa fase adiantada, no limite das minhas forças decidindo – se a partilhá – lo com uma amiga. Escrever as minhas memórias deu – me oportunidade de ver as coisas no seu todo a uma luz diferente mas, será que essa luz me ofuscou a verdade?
Havia conhecido Romano em circunstâncias estranhas e por alguma razão desde o começo da nossa relação que me tornei mais fraca do que alguma vez fora na minha vida. E precisamente agora que reunia as minhas forças numa nova direcção e convencida de que tudo não passava de ilusões na minha cabeça, tudo veio até mim em retrospectiva para ser reexaminado com atenção microscópica.
Tempos como estes provaram – se auto – destrutivos para mim, aquela rapariga que conseguia fazer que qualquer pessoa virasse positiva e ganhasse força quando precisava não descortinava ninguém que a apoiasse com força suficiente para fazer o mesmo. A negatividade era tão grande que era forçada a questionar – me se a feitiçaria não existiria de facto e se a minha história e de Romano era uma consequência de Jo. Uma coisa era certa, nunca tivera uma relação que me levantasse tantas dúvidas.
Por outro lado será que Romano foi sempre correcto em dizer que o meu estado de espírito era uma consequência psicológica da prostituição? Mas algo estava certo, até ao inaugurar da nossa ligação e mau grado todos os problemas passados era trivial um sorriso permanente na minha face concedendo – me a proeza de ser aquele positivo rochedo em relação a diversos clientes que experimentavam dificuldades no seu dia a dia.
Martirizado o espírito com tudo o que Romano havia sacrificado e também partindo do princípio que não tinha problemas psicológicos desde o nosso contacto, a minha negatividade conduzia – me ao campo deserto onde o espesso nevoeiro que me rodeava desaparecia na montanha com a brisa que dirigia o meu destino.
Havia um constante confronto entre consciente e subconsciente. O meu subconsciente sabia que a verdade estava a ser escondida pelo mentiroso do meu consciente que me endrominava mas estava demasiado fraca para me permitir impor ao domínio do mais poderoso como se isso me obrigasse enfrentar a verdade.
Esse bruxedo era na decerto invenção do meu espírito e aquilo que era, de facto a minha verdadeira luta era algo que só o desenrolar do tempo poderia desvelar.
Quando cheguei a casa o carro de Romano estava estacionado lá fora. Quando entrava veio cumprimentar – me e perguntou onde tinha estado. Na minha vez perguntei – lhe se já não ia trabalhar naquela tarde já que estava agora em trajo de interior. Mas fiquei admirada ao reparar que eram quase seis horas. Tinha passado todo o dia a passear e a pensar. A escura e tristonha atmosfera impediu – me de fazer ideia do tempo.
Naquela noite encontrei uma óptima oportunidade de testar o terreno já que estava a falar com um velho amigo, Paul através do MSN. Paul havia sempre tentado juntar – se comigo mas sempre desfiz as suas esperanças antes que tivesse ensejo de pedir – me fosse o que fosse. No decorrer da conversa perguntou – me pelo meu relacionamento antes de finalmente reunir a coragem para expressar o seu desejo de estar na pele de Romano. Ri – me e Romano quis saber porquê e eu disse. Quando respondia a Paul “nunca terás a tua oportunidade” li bem alto para que Romano conseguisse ouvir. Paul replicou “nunca digas nunca”. Um impulso me levou a dizer que não, “vou – me casar” mas antes de escrever perguntei a Romano se lho podia dizer pois queria – lhe estudar a reacção e confirmar as minhas dúvidas. Para meu pesar Romano mudou pura e simplesmente de assunto e insistia hipocritamente que estava a enganar o homem dando – lhe falsas esperanças.
Naquele preciso momento a dúvida que me assaltava acerca da sinceridade de Romano no que dizia respeito ao casamento confirmava – se agora no meu espírito, rebentando com a mágica bola de sabão que havia criado quando ele escreveu “Queres casar comigo?“ Tinha andado a brincar com os meus sentimentos.
Cada vez mais as minhas frustrações eram descarregadas em cima de Romano com um sentimento de raiva, de ódio especialmente quando conjecturava que tinha estado com Jo durante o dia. Para piorar os factos, sempre que Romano ia a um almoço de negócios com o pai, era inapelavelmente excluída embora Jo estivesse sempre presente.
As minhas dívidas estavam a ser pagas com os investidores que eu conseguira amanhar para a companhia de Romano e, embora fosse benéfico para ambos, estava a começar a assustar – me mais do que nunca. Senti – me subitamente enclausurada e controlada pelas dúvidas que dominavam o meu espírito e, para aumentar o stress, Romano não abrira a boca sobre o negócio desses meses e não me era permitido comentar. Havia entrado na prostituição para pagar 150.000 euros a todos aqueles que depositaram em mim a sua confiança e não era agora que ia deixá – los mal. Depois, havia abandonado a prostituição na condição de investir na companhia de Romano nos moldes de pagar – me tal como o fazia a qualquer outro intermediário no negócio. Mas tudo parecia agora tão periclitante e negativo que não queria sentir – me como se me fizesse um favor ou tivesse uma obrigação. Era meu desejo fazer o que sempre quis, isto é, saldar as minhas dívidas de uma vez por todas.
Infindáveis noites sem dormir fizeram – me penosamente concluir que a única maneira que tinha pela frente era o retorno para onde nunca devia de ter saído até saldar o último cêntimo; a prostituição. E nesta manhã em especial fui forçada a chamar Romano que já saía pela porta para o pôr a par da minha decisão.
Romano ficou mudo de espanto à entrada da sala de estar.
“O quê? Depois de tudo o que fiz por ti, depois das vezes que fiquei a teu lado, estás com certeza a gozar comigo, certo?”
Mas apesar de Romano não ter a percepção do motivo da minha decisão sabia, no entanto, que tinha um ponto a discutir acerca do negócio mensal.
“Falamos depois”, disse. Bateu com a porta de entrada e saiu.
Naquela mesma noite perguntou se havia voltado ao meu juízo perfeito. Mas como é que isso era possível? Já não me encontrava mais em posição de sacrificar o meu trabalho já que o seu jogo com os meus sentimentos acerca de assuntos importantes havia conduzido a eliminar o nosso futuro em conjunto.
“Põe de parte o dinheiro para fazer o pagamento da ordem de amanhã”, disse.
Mas não seria aquela uma das vezes em que eu, uma vez mais, atingia o limite e me decidira retomar sozinha o meu ritmo de vida? Como habitualmente arranjou forma de me acalmar e aceitou dando – me um tempo extra para organizar a minha vida e pensar no que iria fazer.

Como se aproximava o Natal começámos a organizar a nossa agenda e por respeito a Romano e ao pai aceitei o convite para a consoada do dia 24.
A comprida mesa de jantar estava maravilhosamente posta com o mais fino cristal, china e prata e Jo trajando uma bata preta andava numa fona a destinar a ordem de lugares à mesa. Mandou – me sentar ao lado do pai de Romano e dos progenitores dela que tinham a mesma idade do pai que mandou sentar no lado oposto enquanto ela e Romano tomavam as cabeceiras Já que havia sido recusada a ajudar a levar as entradas da cozinha para a mesa sentei – me educadamente no meu lugar e não resisti à tentação de observar como sua Alteza pusera a mesa incorrectamente. Em poucos minutos apareceu com as travessas. De pé, à cabeceira, foi alvo fácil da minha continuada e irresistível curiosidade desta vez para admirar o belíssimo conjunto de lagosta artisticamente decorado com funcho. Como Jo tinha dificuldade em se mover à volta da mesa começou a enviar os apetitosos pratos guarnecidos a oiro especificando quem era o destinatário. Olhei para Romano com expressão cheia de perplexidade enquanto lhe estendia o prato que lhe havia sido destinado. Romano sorriu como se me lesse o pensamento, recusou e passou – o para a mãe.
“Não, não, querido, é para ti” gritou ela para que todos ouvissem.
Mas Romano disse não como se isso fosse um acto de cortesia. Foi tudo quanto precisei para me pôr a magicar durante a noite e não pude deixar de interrogar – me se alguma coisa havia sido posta na comida na medida em que os pratos eram todos idênticos! Mas fiquei instantaneamente muito ocupada a responder polidamente às perguntas que os seus pobres pais haviam listado a seu favor e que eram naturalmente a meu respeito; vasculhar a minha vida.
Quando foi servido o café Jo levantou – se e mandou toda a gente para o pé da árvore de Natal. Romano pegou no saco que trouxéramos e deu – o a Jo para distribuir os presentes que se encontravam dentro. Começou então a dar a cada um o seu bem arranjado embrulho deixando de lado uma pilha que era para o filho que estava a consoar com os pais da namorada.
“Chega ali aquele armário, na parede, e trás o meu presente,“ disse para Romano enquanto começava a abraçar e beijar o Pai dele.”
Romano fez tal qual ela pedira e voltou com um comprido casaco de peles.
“Oh meu Deus, que revoltante! A pele fica melhor nos animais”, exclamei.
Mas Jo estava demasiado contente com o presente para fazer comentários. Afim de quebrar o gelo Romano abriu a caixa que ela nos tinha dado e disse que era tempo de irmos. O seu sorriso tombou no chão quando viu duas chávenas de café e outras duas de chá. Despedimo – nos a seguir e fomos embora.
No regresso a casa Romano parecia triste embora embaraçado para comentar.
“Estou chocada. O teu pai tem – te moído o juízo para comprares fatos dizendo que pareces uma desgraça com os antigos, gasta milhares de euros num casaco de peles genuíno e a tua madrasta oferece – te um par de chávenas! Que ridículo! …”
“Eu sei”, disse em voz sumida.
A partir do momento em que acordei no dia de Natal que me enchi desesperadamente de tristeza por Romano, não obstante a minha luta interior. Mas tentei desesperadamente alhear – me e entregar – lhe os seus presentes. Um por um foi – os abrindo para encontrar uma nova peça de vestuário afim de substituir os já indecorosos fatos em uso. Não podia gastar aquele dinheiro mas sabia que se o fizesse continuaria a ostentar aqueles velhos trapos. Excitado, estendeu – me uma pequena caixa. Nem podia acreditar! Será que estava enganada? Iria tornar isso oficial? Abri com a respiração acelerada e para meu horror deparei com um lindíssimo colar com uma pérola. Desiludia, tentei desesperadamente parecer impressionada mas a emoção apoderou – se do meu ser, desatei a chorar e desculpando – me corri escada acima.
Haviam – se confirmado mais uma vez as minhas dúvidas. Com a quarta parte do dinheiro que gastou com a pérola poderia ter comprado um anel de noivado. Andara a divertir – se com os meus sentimentos e aqui estava eu a braços com toda esta negatividade que me rodeava por alguém que não constituía futuro para mim. Tinha de fazer alguma coisa e depressa. Não ia mais investir e perder o meu tempo com isto.
Marilyn telefonou a gritar exageradamente na manhã da Passagem de Ano. Mas a última coisa que precisava ouvir eram sinais de ansiedade.
“A Carla já me tirou do livro? Tens de prometer – me que o fará. Por favor, Diana ou a minha vida será destruída” choramingou.
Se pelo menos Marilyn fizesse uma pequenina ideia de como me sentia guardaria o seu desabafo para outro dia.
Eu e Romano decidimos que teríamos uma noite sossegada devido a toda aquela excitação da semana e então dirigimo – nos ao supermercado comprar uma garrafa de Champanhe. Durante o percurso recebeu uma chamada do seu maior Amigo para lhe dar a notícia de que se ia casar e a pedir – lhe para ser o padrinho. E eu ali sossegadinha a ouvir a conversa e, mais uma vez, à espera que me provassem que estava enganada.
“Mais uma vez parabéns e Feliz Ano Novo. Ver – nos – emos no próximo ano, portanto.”
Infelizmente continuava a ter toda a razão do meu lado. Não era invenção da minha cabeça. Romano não mencionou a sua proposta de alguns meses atrás. Mas, uma vez mais, guardei isso para mim pois tinha agora a prova de que andava à procura.
Às onze e meia chegámos ao cimo da serra de Sintra com a nossa garrafa de Champanhe afim de conseguirmos um vista perfeita do fogo de artifício que muito em breve iria enfeitar o céu que cobria a grande cidade lá em baixo. Sem mais delongas perguntei a Romano se podia abrir a garrafa pois tinha uma vontade imensa de me afogar nas suas bolhas. Parecendo baralhado com o minha sugestão fez o que lhe pedira provocando um murmúrio nos circunstantes.
À meia – noite os meus pensamentos negativos misturados com o Champanhe bloqueavam – me do mundo exterior.
“Não me pareces bem, hum? Vamos embora para casa”, disse.
Na manhã seguinte encontrei – me assoberbada por horrível dor de cabeça logo que abri os olhos pela manhã para encontrar Romano a dormir a meu lado com um lábio com sangue. Acordei – o instantaneamente e perguntei – lhe o que acontecera. Soergueu um pouco o tronco e começou a abraçar – me.
“Foste tu que fizeste isto.”
“O quê?” Nunca te faria uma coisa dessas fosse qual fosse a razão. O que aconteceu realmente?
“Não Diana, eu não fiz nada. Quando chegámos a casa chamaste Napoleão e disseste que te ias embora para a tua mãe. Forcei-te a ficar pois que não estavas em condições de conduzir. Foi então que me feriste com as unhas.
“Oh meu Deus, nem acredito que te tenha feito uma coisa dessas, Romano. Desculpa. Perdoa – me por favor”
Desatei a chorar e a pedir desculpa cada dez segundos durante a hora seguinte.
Mas que começo de Ano Novo!”

CAPÍTULO 10

Entrávamos abertamente no Ano Novo e de todo o meu coração esperava que não fosse uma repetição do ano anterior que tinha colocado pelo menos dez anos na minha cara; a minha pele estava seca, envelhecida e os meus olhos cansados e sem vida fazendo – me parecer dez anos mais velha ao espelho e mais amargurada do que nunca na medida em que a minha energia se tinha evaporando completamente.

Carla telefonou a dizer que estava agora na fase de enviar o livro acabado a várias editoras. Antes de desligar disse – lhe quanto estava sentindo e, naturalmente, sugeriu – me para me ir reabastecer de vibrações positivas a Alhandra e foi exactamente o que fiz naquela mesma tarde.
Quando cheguei fiquei paralisada em frente da tumba do Dr. Sousa Martins. Por qualquer razão estranha senti – me paralisada e parei de pensar. Quando voltei à realidade dei – me conta de que estava ali, como toda a gente a pedir ajuda. Mas o mais estranho de tudo era que realmente não sabia porque é que rezava e subitamente comecei a encontrar respostas para coisas que tinha subconscientemente pensado mas que o meu consciente desconhecia. Naquela altura muitas questões que ainda nem sequer me haviam aflorado ao pensamento encontraram misticamente resposta. Estas eram em relação aos meus hábitos alimentares e especialmente a todos os suplementos vitamínicos que estava a consumir. Algo me dizia para deixar de os tomar embora estivesse a ingerir aquelas centenas de diferentes suplementos por pensar que eram, de facto, benéficos. Que contradição! Por outro lado, havia uma voz que me segredava que devia mudar a minha maneira de pensar e começar a esforçar – me por conduzir a minha própria vida e não me preocupar mais com Romano. Toda a minha energia devia agora ser concentrada em trabalhar com Carla afim de conseguir um grande e duradoiro sucesso.
Tudo isto era muito estranho para mim na medida em que não estava à espera de respostas ao que estava a pensar e depois a dieta nunca me tinha passado pela cabeça uma vez que estava sempre em forma. Mas digeri toda a informação e fui para casa.
Nas semanas seguintes foi o que fiz; cortei a vitamina da dieta, comi maior quantidade de vegetais, e passei a ajudar Carla embora desconhecedora de como isso iria conduzir ao meu sucesso. Mas ao ajudá – la conseguia alhear o meu espírito de todo o resto e pela primeira vez desde que me relacionara com Romano pensei em mim e, assim, derramei toda a minha energia em algo de positivo em lugar de digerir a negatividade que sentia à volta dele. Nessa altura, fosse o que fosse que fizesse ou não fizesse, fosse o que fosse que ele dissesse ou não dissesse, tudo passou a ser indiferente para mim na medida em que o meu plano era melhorar e planear o que devia fazer.
Carla recebeu um e-mail da editora mais importante em Portugal. Não podíamos acreditar! O escritor que a havia enchido com tamanha força e positividade tinha razão; íamos vê-lo publicado!
Mal haviam passado algumas semanas comecei a imaginar algo de estranho no comportamento de Romano. Pela primeira vez na nossa história que não se preocupou em tocar-me. Não obstante os nossos problemas, nunca passava um dia sem que me fizesse algumas carícias e que não fizéssemos amor ou no mínimo sexo. Mesmo naquelas ocasiões em que eu tomava a iniciativa, para meu espanto, falhava, levando – o a desculpar – se dizendo que estava cansado ou que não se sentia bem. Embora estivesse determinada a não deixar que fosse o que fosse que ele fizesse ou não fizesse me afectasse alguma vez, não pude deixar de analisar o que se passava e coloquei – me na posição dos meus parceiros ex – clientes tentando compreender as suas razões para serem suspeitos.
Comecei a pensar se podia imputar a causa aos seus problemas de trabalho. Depois principiei a imaginar que devia ter estado com uma prostituta. Mas já lhe tinha dito desde o começo que não tinha problemas com ele pelo facto de ir a uma prostituta desde que não me escondesse o facto como todos os meus clientes ocultavam das suas companheiras. Para além disso tinha pertencido a esse mundo e compreendia como muitos homens pensam e fazem.

A maior e pior surpresa veio quando finalmente fizemos sexo uma semana mais tarde.
Estava um dia soalheiro e quente e tinha – me deleitado ao cimo das escadas, na varanda, a impregnar – me da energia dos vigorosos raios solares. Mal me apercebi que o carro de Romano se aproximava de casa, corri para baixo afim de o cumprimentar mas, quando cheguei, já se encontrava a cruzar a porta na minha direcção.
Sem proferir uma palavra puxou – me pelo braço e conduziu – me para a mesa de jantar de madeira como se fosse algemar – me. De pé atrás de mim, abriu – me o fecho dos jeans enquanto eu o via a olhar – me olhos nos olhos com um ar possessivo, através da imagem no espelho à nossa frente. Os meus jeans desceram até ao os tornozelos e, então, Romano afadigava – se furiosamente a desabotoar as calças com um olhar sério a dominar – lhe o olhar.
Empurrou – me para cima da mesa e como estava já inclinada abriu – me as pernas mantendo os pés colados aos meus para evitar que se fechassem. Não pude continuar a ver a nossa imagem no espelho porque a minha cara desceu a tocar a mesa e senti – lhe as mãos a acariciar – me os seios antes de passar a puxar – me firmemente os mamilos impelindo – me a gritar. Repentinamente senti uma forte dor a penetrar – me o ânus na medida em que tentava metê-lo com tal força que me fez sentir a sensação que tinha que usar o toilette e obrigando – me a pedir – lhe para parar devido à dor insuportável. Mas não me ouvia, não se importava comigo, apenas concentrado nos seus direitos, no seu prazer levando – o a meter com mais força. Até que, finalmente, a minha dor se transformou em deleitosos gemidos de êxtase obviando a que a ocorrência se não prolongasse para além de alguns segundos. Foi a primeira vez que Romano quis praticar sexo anal. Sempre lhe ouvi dizer que nunca tivera uma fantasia e agora, subitamente, veio uma à tona? Que bizarro! Fez – me automaticamente pensar que não me tinha tocado todos aqueles dias porque tinha estado, de facto, com prostitutas e começou a gostar de outros modos de fazer sexo.

Aproximava – se o fim do de Janeiro e, tal como no mês anterior, Romano não fez menção da existência de qualquer negócio. E tal como no mês anterior tinha cheques para liquidar e quando chegou a casa confrontei – o com a situação:
“Não devia ter – te dado ouvidos. Nunca devia ter – te dado ouvidos. Devia ter continuado naquela porcaria até ao fim. Fui tão estúpida confiar nas pessoas! Tudo isto é tão ridículo! Vou regressar ao trabalho.”
Romano sabia que tinha razão. Tinha desistido de trabalhar com a sua ajuda que de certo modo era benéfico para ambos mas que não me estava a ajudar nada. Lutava contra esta ideia tentando lançar – me a culpa! Como dizendo que eu preferia voltar ao meu trabalho porque era viciada em chupar os pénis dos homens, mas mais sabia eu que eram só desculpas uma vez que não conseguiu liquidar as contas dos meses anteriores permitindo – me assim comprar stock.
Isto causava – me imensa frustração na medida em que ficava entre a espada e a parede para agir e a e a minha decisão era usada contra mim implicando que preferisse ser prostituta. Uma vez mais não me disse a verdade; antes, como no passado, dava – lhes a volta de modo a culpar – me a mim pelo inconveniente.
No dia seguinte comunicou – me que tudo se havia arranjado e que não havia precisão de me preocupar com a transferência para o fornecedor pois tinha conseguido crédito para a minha companhia e estava fechado o acordo.
Fiquei chocada. Primeiro não me perguntou se concordava com semelhante acordo e depois não queria mais dívidas, antes pagar a pronto como nos meses anteriores!
Mas eu sabia qual era a razão, não tinha o dinheiro necessário para liquidar o débito à minha companhia e, assim, como eu não iria ter fundos para comprar a remessa seguinte colocou em crédito!
Durante o resto do mês as minhas frustrações cresceram no dia em que percebi o esquema. Como a sua companhia excedera o limite de crédito, usou a minha que tinha um recorde limpo para o obter para a dele. Mas a frustração não era tanto por causa disso mas sobretudo por não ser honesto e me tomar por estúpida.

Cada vez perdia mais a confiança em Romano e em cada dia que passava mais lamentava ter deixado o meu trabalho até os meus problemas ficarem resolvidos. Quanto mais analisava a situação mais me recriminava e desejava voltar à horrível profissão e acabar com isso de uma vez por todas.

Romano andava cada vez mais desconfiado com o meu comportamento provocando – lhe observações estúpidas sempre que tinha um texto – mensagem a alertar – me no meu telefone a despeito de ter tido sempre este procedimento desde que me conheceu.
Era esta uma das razões porque começámos a brigar e as nossas escaramuças estavam a tornar – se episódios regulares. Muitas delas fizeram – me conhecedora de que Romano teria andado a controlar as minhas chamadas e mensagens telefónicas bem como o computador e como não tinha nada a esconder – lhe nunca me passou pela ideia proteger os meus arquivos com password mas com o decorrer do tempo Romano passara a usar o mais ínfimo detalhe e a lançar – mo à cara de modo que comecei a interrogar – me da razão da sua paranóia. Explico; tinha outros telefones no escritório tal como outro computador e todavia deu – me acesso ao seu PC em casa que estava completamente limpo de informação que quisesse acautelar de mim. Estaria culpado de alguma coisa e, assim, pensar que eu podia fazer o mesmo? De qualquer modo tudo isto veio juntar – se à crescente descrença que estava a desenvolver a respeito dele.

O aniversário do pai chegava e não mencionou planos para ele embora o meu apurado sentido me dissesse que não estaria em casa para almoçar nesse dia. Para minha surpresa ou confirmação das minhas suspeitas, desculpou – se com um almoço de negócios, tendo o último sido há três meses. Senti um sentimento de revolta no meu estômago, não por não ter sido convidada mas por me ter intrujado com desculpas de sem senso. A verdade é mais fácil de aceitar e magoa menos.
Pela primeira vez e ao jeito de desforra fi – lo sentir – se como me havia feito sentir a mim e então aceitei um convite para jantar com amigos naquela noite. No meu regresso a casa estava furioso e afirmou que não se importava que estivesse com amigos mas, como meu namorado devia ser convidado. Não disse nada e fui para a cama onde me lembrei dos tempos em que ele dizia que nunca devia de o apresentar aos amigos. Era completamente mentira. As suas frustrações deviam acompanhar – me onde quer que eu fosse sozinha com eles embora soubesse que isso acontecia habitualmente sempre que me enervava e precisava de um ombro, por isso voltava – me para eles.
Chegou o aniversário de Romano pouco depois do do pai e como não nos falávamos cheguei a casa por volta das nove naquela noite trazendo comigo um pequeno presente mas ficou muito ocupado a gritar – me por ter chegado tão tarde para poder prestar atenção ao que estava embrulhado por dentro.
Tudo entre nós seguiu os mesmos padrões durante as semanas seguintes embora em termos mais aceitáveis. Depois já me deixava arrastar por ele uma vez mais na medida em que o amor que ainda sentia incendiar – me ignorava frequentemente os problemas a despeito de permanecerem alerta no meu subconsciente.
Aproximou – se também o meu dia de anos e a despeito da delicada situação queria passar a noite com Romano e confesso ter feito outros planos. Quando chegou a casa deu-me os parabéns, deu – me um beijo e passámos o resto da noite como se de outra qualquer se tratasse. Os sentimentos no meu íntimo estavam prontos a explodir e às dez da noite desculpei – me, levantei – me do sofá e fui para a cama. Nem um cartão de felicitações, nem uma rosa, nem um alfinete, nada! Mais do que nunca me senti usada, desapreciada, ou melhor, como uma prostituta mas desta vez com “um cliente regular.” Quanto mais pensava, mais determinada me tornava para fugir, para voltar ao trabalho, pagar as dívidas, acabar e depois encontrar alguém em quem pudesse confiar que me merecesse e que me amasse e que nunca mais me sentisse deste modo como com Romano.
Romano já tinha saído para o trabalho quando acordei. Enquanto descia as escadas para fazer café peguei no meu telefone e chamou – me a atenção uma mensagem que tinha sido aberta mas que não me recorda de ter lido:
“Tenho saudades tuas. Posso?”
Era uma mensagem típica do meu cliente Orlando. Mas em lugar de a achar irreverente e ignorá – la pensei “vai ser desta vez”. Não há tempo como o presente e sem hesitação respondi:
“Podemos encontrar – nos na Quinta – feira. Só em tua casa. O mesmo preço; cento e cinquenta.”
A cruel realidade depressa me penetrou gradualmente na medida em que o dia se desenrolava. Já não era pensar nem falar mas sim uma resolução que havia tomado e planeado. Por um lado senti – me feliz de ter tomado a atormentadora decisão mas por outro achei – me mais só do que nunca me sentira antes. Mas tinha de encarar os factos, não podia continuar a viver com alguém que se provara não ser de confiança, na medida em que a situação era agora mais intolerável do que aquelas quatro paredes que me abrigavam quando exercia a prostituição e me enamorei de Romano simultaneamente. Isto não era aceitável para nenhum de nós e por respeito por Romano não tinha alternativa senão acabar a relação e mudar – me para um quarto diferente até poder ir – me embora e alugar um apartamento para viver sozinha.

Parecia – me que havia uma hora que enviara aquela mensagem a Orlando mas já lá iam três dias significando que a nossa marcação era para o dia seguinte.
Romano tornara – se diferente desde que chegava a casa. Era como se tivesse pressentido alguma coisa. Nunca o decepcionei nem lhe menti e não ia começar agora; por isso pedi – lhe para se sentar no sofá em frente de mim enquanto reunia coragem para lhe dizer tudo o que me fervia por dentro sem o informar do que ia fazer no dia seguinte.
Antes de conseguir acabar a frase saltou no sofá como gorila ameaçado e gritou:
“Estás maluca? Não tens uma ponta de respeito? Sai da minha casa. Vai, vai … vai – te embora”.
E puxava – me, descalça, pela camisola para a porta gritando – me para me ir embora. Estava petrificada! Nunca o tinha visto assim, não sabia que fazer excepto desaparecer. Continuou a gritar, agora na minha cara, impedindo – me sempre que queria agarrar nas chaves do meu carro. Não podia fazer nada, estava encurralada contra a porta.
Compreendo a sua frustração embora tivesse recusado ver a razão da minha ao ponto de se chegar a esta conclusão. Mas continuei muda e queda ao ponto de que se encontrava hipnotizado pelos seus próprios gritos que não se apercebeu de mim a andar em direcção ao meu saco. Quando por fim forcei o meu regresso para a porta perguntou – me onde ia para depois me forçar para dentro da sala de estar atirando – me para cima do sofá.
Passada uma hora de estar ali sentada, constrangida a ouvi – lo continuamente a repetir – se e a desfeitear – me, acalmou e censurou – me da minha decisão em relação a Orlando, recusando compreender ou admitir compreender que a decisão tinha sido minha e apenas minha. Repentinamente pegou no meu telefone e procurou o número de Orlando. Foi então que cheguei à conclusão de que não tinha aludido ao número de Orlando durante a conversa. Tinha lido as minhas mensagens e esteve calado aqueles dias todos como se tudo continuasse normal. Marcou. Orlando respondeu e Romano começou a gritar e a ameaçar destruí – lo por ter sido a razão da minha decisão.
Orlando era fisiatra Muitas vezes recorrera a ele para conselho e evidentemente que contei tudo a Romano e também desta vez o havia posto ao corrente. Numa tentativa de o fazer sabedor de que alguma coisa estava seriamente errada, de que eu estava a interpretar as coisas negativamente mas que também poderia ser ele a causa. Uma das situações mencionadas foi o incidente do meu aniversário quando Romano nem sequer me escreveu um cartão. Mas o conselho de Orlando era o mesmo que o das poucas pessoas para quem me abrira a respeito; que não me merecia e que apenas servia para me dar cabo da cabeça.
Romano continuava a gritar ao telefone, a acusá – lo de se envolver nos nossos assuntos pessoais e tentando voltar – me contra ele de modo a que pudesse ficar comigo.
Não me encontrei com Orlando no dia seguinte. Estava demasiado abalada com toda aquela provação da noite anterior e também mais confusa do que nunca para poder ter ido para frente com isso. Mas decidi que tinha de me ir embora o mais depressa possível, não precisamente porque podia começar a trabalhar mas porque me tinham mandado sair da casa que eu considerava metade minha porque as despesas eram equitativamente divididas.

CAPÍTULO 11

Após informar Romano das minhas intenções de sair de casa, planeei continuar por mais um mês. Apesar da sua observação insultuosa quando disse “sai de minha casa” as minhas contas haviam sido pagas até então e não estava em posição nem mental nem financeira de fazer desperdícios com despesas desnecessárias.
Romano, embora discretamente, continuava a intrometer – se nos meus futuros planos conquanto simultaneamente fazendo um esforço enorme para proceder como o amigo que era agora. Mas embora eu recusasse discuti – los, sabia bem que regressaria ao trabalho e no entanto tentava convencer – me a continuar com as transacções mensais até que as minhas dívidas fossem pagas. Por um lado acabei por ficar silenciosa recusando – me a argumentar na medida em que a minha intuição me dizia que não ia a haver menção de outro negócio no futuro mais próximo com ou sem ele. De resto estava a tentar convencer – me de que a minha vida não dependia disso. Para mais, Romano sugeriu que ficasse em casa sem pagar renda até me ir embora. Era um grande alívio não me sentir pressionada mas de algum modo, quanto mais tempo lá ficava, mais o meu serviço tinha de ser adiado e portanto mais tempo demoraria a pôr tudo para trás das costas.
Estava praticamente a fazer um mês que vivia em casa sem pagar renda e tal como havia previsto, não havia sinais de negócio provando mais uma vez que a minha intuição estava certa.
Apesar de partilhar da casa se tornasse difícil, continuava a contar – lhe tudo a respeito da minha vida considerando – o o meu melhor amigo.
Apesar de superficiais, sentimentos de paixão crescente levavam – nos a fazer amor de quando em vez e a enterrar bem fundo quaisquer ressentimentos. Mas os dias seguintes trariam de novo a realidade mais agreste do que nunca levantando mais argumentos rancorosos advindo sempre do facto de que tinha ido jantar com amigos. Isto era totalmente inaceitável para ele e ao chegar a casa as suas frustrações conduziam – me à mesma situação de humilhação como daquela noite em que telefonou ao Orlando.
Era insanidade, em primeiro lugar porque queria que eu ficasse e depois, quando acedia, pensava que podia ditar as regras porque pagava a renda. Mas por demais sabia eu o jogo que ele andava a fazer. Como é que eu podia ir-me embora alguma vez se esperasse eternamente pela minha independência? As transacções, se viessem, demorariam uma vida inteira.
No Sábado de manhã acordei cheia de náuseas devido ao medo de enfrentar o fim – de – semana. Ao contrário das semanas em que havia desejado que ele chegasse, agora desejava – as terminadas mesmo ainda antes de começarem. Fim-de-semana significava que Romano andava por perto a provocar uma grande quantidade de querelas, frustrações e argumentos que me torturassem.
Imediatamente após me arranjar no toilette dirigia – me para a varanda afim de evitar estar no mesmo quarto que ele. Enquanto respirava profundamente e me deliciava com a magnífica paisagem que tinha o privilégio de partilhar sentia que tinha de a deixar mais depressa do que pensava por um destino diferente e era tempo de fazer um plano e firmar – me nele. O primeiro passo seria encontrar alguém que me emprestasse dinheiro suficiente para os primeiros meses de renda e respectiva caução.
Tinha acabado de abrir a minha lista de contactos quando ouvi Napoleão a ladrar e ao mesmo tempo o som da tristeza ante a perspectiva de ir perder o seu pátio de recreio. Mas neste momento não podia pensar em situações depressivas, tinha de ser forte e ouvir a melodia do que quer que fosse desde que se relacionasse com os meus planos futuros e comecei a preparar a mensagem para enviar a Carla e a mais alguns amigos.
Napoleão continuava a ladrar com mais força do que nunca e quando abri a resposta de Carla a aceder em emprestar – me o dinheiro, espreitei pela varanda para ver o que se passava. Olhando à volta ouvi o que me parecia ser alguém a cortar arbustos. Napoleão estava agora a ficar desesperada contra a parede que separava a casa da do caminho exterior. Enquanto olhava reparei num homem ainda novo com cerca de trinta anos aparecer com uma espada na mão. A criatura que vestia umas calças castanhas e um anoraque verde, pegou rapidamente na espada apontando – a para o céu logo que me divisou a olhar para ele. Permaneci completamente imóvel tal como ele fixando – o nos olhos como se estivéssemos brincando a fazer um jogo. Subitamente, com uma enorme e repentina pancada da espada, assaltou – me o meu carro Arial. Corri para dentro de casa e fui escada abaixo a gritar para Romano o que acabara de presenciar.
Romano correu para a porta e eu aconselhei – o a não abrir porque o homem estava louco; mas recusou – se a ouvir, abriu e começou a andar caminho acima. Abri a porta do jardim e soltei Napoleão que correu para ele quando Romano o confrontava enquanto ameaçava bater – lhe com a espada. Rendeu – se logo e largou o punhal deixando Romano a controlar o cão antes que atacasse.
“Mas que merda é esta?”, observou Romano.
Mas o homem estava a tremer de nervos e não respondeu e Romano, ao tomar consciência do seu medo perguntou – lhe se tudo estava ok. O homem abanou a cabeça e continuou a andar tartamudeando qualquer coisa acerca do aeroporto. Para meu horror Romano perguntou – lhe se precisava dinheiro para ir lá. Não podia acreditar no que estava a ouvir. Aqui estava um indivíduo que provara ser um perigo para a sociedade, que me havia causado prejuízos, ameaçando Romano com uma espada e ainda por cima lhe ofereciam dinheiro para o ajudar! O que ele precisava era de ser internado num hospital psiquiátrico e quanto a Romano carecia de aprender quando devia ser simpático e quando não.
O homem continuou o seu caminho e por fim desapareceu nos meandros do atalho. Quando olhei para trás apercebi – me de que Napoleão havia desaparecido. Fiquei ali a chamá – la durante pelo menos cinco minutos, mas nada. Quando regressava pelo atalho no caminho inverso na direcção de casa apercebi – me de que a garagem do nosso vizinho estava escancarada e enquanto me assomava para dentro para ver se o cão estava entre os arbustos vi que a porta principal se encontrava também aberta e que havia vidros partidos espalhados pelo chão.
Chamei Romano e ambos começámos a chamar através da porta da frente fazendo eco nas escadas de ferro que se escarpavam no vestíbulo. Tudo o que eu pude pensar foi que o indivíduo mencionara qualquer coisa relacionado com “aeroporto” fazendo – me acreditar que andava a fugir algo. Insisti em que revistássemos a casa para ver se havia alguém ferido lá dentro e assim resolvemos descer pela quase a pique escada de caracol tentando evitar os pedacinhos de vidro que eram os restos das molduras que antes protegiam as artísticas e preciosas pinturas de arte que adornavam as enormes paredes.
Para meu refrigério Napoleão apareceu quando nos aproximámos do fundo. Subitamente apercebemo – nos que o soalho estava coberto com uns bons dez centímetros de água mas continuávamos a vasculhar nos compartimentos em confusão verificando que, embora virados do avesso, não havia sinal de vida e, outra vez, de Napoleão. Continuámos desesperadamente à procura até que finalmente Romano encontrou o nosso fiel amigo numa pequena instalação sanitária de que já tínhamos dado pela conta mas que tomámos por um armário de cozinha. Em frente jazia um homem de aspecto doentio que dava a sensação de não respirar.
“Chama uma ambulância, chama já a polícia”, gritou Romano. Fiz como me mandaram até que Romano me informou que o homem ainda estava vivo.
“Está vivo, mas não sei se vai aguentar. Está a perder temperatura nesta água.”
A ambulância chegou em dez minutos e pouco depois a polícia.
“Isto parece um caso de overdose”, disse um dos da ambulância à medida que o punham na maca.
Foi – no pedido para acompanhar a polícia à esquadra afim de prestar declarações. Quando chegámos encontrámos o homem da espada. Miguel, como se chamava, era um célebre actor português que, afinal, era nosso vizinho, inquilino da casa onde descobríramos o homem da super dose. Mas Miguel estava irreconhecível. Só o tinha visto um par de vezes, a última a algumas semanas atrás e de então para cá o peso do seu corpo fora reduzido a metade!
Miguel estava preso por ter causado outros distúrbios em propriedade privada na congosta a pegar à nossa e a polícia esperava o telefonema do psiquiatra para procedimento subsequente. Pois de acordo com eles era doente mental. Mas qualquer coisa acerca do seu comportamento me estava a alertar de que usava a assim chamada doença mental como desculpa para os seus acessos mas, de facto, era na verdade muito mais inteligente do que levava as pessoas a pensar; em primeiro lugar ficou petrificado alterando imediatamente o seu comportamento psicótico quando Napoleão apareceu. Em segundo lugar enquanto estive ali sentada a observá – lo, toda a informação que os agentes lhe exigiram foi correctamente providenciada a despeito do facto de quando lhe perguntaram o que acontecera não ser capaz de se recordar. Em terceiro lugar, quando meti conversa com ele tratando – o como se fosse um doente, desatou a rir à gargalhada como se tivesse dó de mim por ser uma tonta de uma crédula. Mas acrescia algo que era motivo de alarme; Eu e Romano andávamos ainda amuados e encontrava – me sentada do lado oposto a ele e a Miguel que riam constantemente dizendo piadas e a certa altura ouvi o Romano proferir:
“Claro, a gente compreende - se. Sei exactamente o que queres dizer. Compreendo – te perfeitamente amigo”, antes de desatarem de novo a rir.
Em relação ao homem que encontrámos com overdose na casa, a polícia descobriu que era um vagabundo local que se deve ter ali abrigado durante os três dias em que esteve abandonada o que coincidia com o lapso de tempo em que Miguel esteve imerso nas suas deambulações psicóticas.
Segunda – feira chegou trazendo consigo o fim da excitação do fim – de – semana. A aventura de Sábado havia criado o tópico de conversação entre mim e Romano o que tornou aqueles dois dias mais toleráveis para mim subtraindo os nossos espíritos a questiúnculas.
Regressara ao trabalho e em lugar do meu passeio diário com Napoleão fui direita à minha faina e, assim, contactar agentes imobiliários para me arranjarem visitas. A fria e amarga realidade tocou – me mais forte do que nunca quando subitamente me apercebi que eu e Romano tínhamos terminado e no fim de contas apesar da dor e sofrimento que carregava, sabia que o tinha amado apaixonadamente e desejado que tudo tivesse sido diferente. Mas como podia entregar – me incondicionalmente e sacrificar tudo por alguém que me tornava insegura e em que não podia confiar? Mas o reverso da medalha era que havia uma vez mais possibilidade de eu ser motivo de censura por tudo o que Romano tentara convencer – me. O que estava eu afazer? Era essa realmente a minha falta?
Passei os três dias seguintes a embalar tudo. Cada coisa em pegava para embalar enchia - me de um longo desfiar de memórias para depois ser assaltada por um sem número de dúvidas sobre se fazia ou não asneira. Nem podia imaginar. Por um lado passava – se algo de tremendamente errado comigo; já não era mais eu própria. Por outro lado estava a abandonar a pessoa que ainda amava. Mas uma vez mais remanescia a coragem de embalar antes de me tornar insegura e não mais ter força de vontade suficiente para fazer isso no futuro. Lembrei – me do que ele disse uma vez: “Todos os homens olham para ti porque tens um rabo gracioso e um lindo par de tetas. Senão tudo seria diferente.”
Senti – me tão insegura que durante as semanas mais próximas, quer chovesse ou fizesse sol, cobria o meu corpo com uma comprida camisola larga de lã afim de esconder completamente a minha silhueta. A última coisa que eu queria pensar era atraí – los por causa disso. Mas embora não tivesse razão não era esse o problema. O problema residia no facto de, às escondidas, ter tentado desvanecer a minha confiança.

Enquanto fazia as embalagens fiz um intervalo para ir a Carcavelos ver apartamentos que tinha em vista e decidi ficar com o segundo.
Não era nada que se comparasse com o meu antigo. Muito mais pequeno e mais velho mas ao meu alcance e que ia ser meu que era o que contava. O contrato era para ser assinado na semana seguinte.
Romano esteve muito bem – educado durante este período esforçando – se muito por ser o mais simpático possível. Nessa noite mencionei que tinha encontrado um apartamento mas não pareceu perturbar – se pensando talvez que era outro “falso alarme.” Depois pediu – me para dispor de alguns minutos e explicar tudo o que pensava e pela primeira vez lhe disse acerca da proposta de casamento, da madrasta, do negócio e de todo o resto.
De algum modo ouviu e compreendeu. Todas as tentativas anteriores haviam caído em orelhas moucas. Ou talvez não tivessem sido tomadas seriamente a propósito de discussões ou querelas de molde a eu não poder replicar. Na medida em que já lhe tinha dito que havia coisas que não estavam bem. Sempre expressou aquilo com que não concordava e também como sempre me acusava de escondê – lo dos meus amigos. Mas não tinha razão. Fora, de facto apresentado. Mas de certo modo pensava bem, não o levei comigo porque das poucas vezes em que me encontrei com eles, foi de facto para esvaziar o eu peito dos problemas e paranóias pessoais. Depois, aquilo que ele não queria saber é que tinha a sua vida privada durante o dia em que fazia o que lhe dava na real gana daí resultando uma situação assimétrica injusta o que me levou a pensar que estava interessado em conhecer e conviver com os meus amigos de preferência a estar comigo.


Chegou o dia da assinatura do contrato. Embora fosse do conhecimento de Romano que seria naquela semana não sabia o dia. Como podia intuir alguma coisa chegou a casa do trabalho, inesperadamente cedo e olhou à sua volta para as centenas de caixas empilhadas a toda a volta do quarto. Com os olhos marejados de lágrimas perguntou se ia avante com isso.
“Tenho realmente muita pena, Romano; não posso continuar a viver com esta dúvida. De resto dei a minha palavra ao senhorio”
Repentinamente disse:
“Queres casar comigo?”
O estômago começou logo encher – se de picadas tal como havia acontecido na viagem para Alhandra mas subitamente as memórias da última experiência horrorizaram – me fazendo – mas desaparecer como se fossem arrastadas por caterpílares. A despeito de me terem provocado stress da última vez que só casaria com acordo pré – nupcial para além de que tinha brincado com os meus sentimentos no concernente a problemas muito sérios.
O telefone tocou. Era o Pai a perguntar como é que estava, intuitivamente sabendo que havia algo que não estava bem. Enquanto esperava sentada no sofá lembrei – me de quanto, por um lado, pensei que Romano tivesse medo de casar comigo porque o pai poderia não aprovar. Subitamente ouvi Romano dizer:
“Pai, vamos casar.”
Olhei para ele que repetiu
“É verdade, vamos casar logo que o registo marque a data.”
Não podia acreditar. Na verdade não podia crer no que estava a acontecer. Toda a tristeza acumulada acerca de tudo se evaporou ali e fui tomada a seguir por uma sensação de euforia e felicidade fazendo – me esquecer absolutamente todo o passado.
Saímos para nos encontrar com o proprietário e transmitir – lhe que houvera uma mudança de planos. Que íamos casar.


CAPÍTULO 12

As duas curtas semanas que conduziam ao casamento parecia não mais terminarem a despeito do nosso tempo ser ocupado a fazer os arranjos mais simples para a nossa pacata cerimónia civil. Decidimos que só os nossos pais deviam saber e estar presentes e as restantes pessoas serem informadas depois.
Eu e Romano não tínhamos outro tópico de conversa senão contar as horas que faltavam para o nosso grande dia. Embora o mais importante, a cerimónia propriamente dita e a data, fossem tratadas com cuidado, encontrava – me ainda num grande estado de choque e não podia digerir o facto de que tudo se tinha resolvido de um dia para o outro eliminando o passado e trazendo esperança para o futuro.
A brilhante tarde ensolarada tornou impraticável a permanência na sala de estar, aquecida como se fora um fogão. Tendo acabado de atender o telefonema de Carla a lembrar – me de Alhandra e numa desesperada tentativa de afogar os longos dias que haviam dobrado em extensão com a ansiedade do nosso casamento, peguei nas minhas chaves e andei para adiante.

Quando cheguei em frente da pedra tumular fui empossada da mesma estranha sensação da minha primeira visita mas de algum modo esta se fazia sentir mais intensa e mais poderosa. Uma voz interior me dizia para cortar carne e o peixe da minha dieta. Uma vez mais podia compreender como estas proteínas eram essenciais para uma alimentação saudável mas esqueci – me disso acreditando que o meu espírito estava aproveitando o melhor de mim e fui para casa sentindo positivamente e decidindo que havia de discutir a minha experiência com Carla numa data posterior.
Romano já se encontrava em casa quando cheguei e logo que abri a porta correu a cumprimentar – me, para me acompanhar a seguir até à sala de estar enquanto lhe contava os acontecimentos do dia. Quando passava pela mesa da sala de jantar, a revista ”Dinheiro e Direitos” chamou – me a atenção e perguntei o que era. Respondeu que tinha sido a Jo que lha tinha dado já que continha toda a informação necessária para os preparativos do casamento. Ficando muito céptica quanto às suas tentativas de ajuda, esqueci e dirigi – me para a cozinha para fazer café só para agarrar nele quando regressei para o pé de Romano no sofá. Para meu pavor os cabeçalhos eram todos acerca do divórcio. Quando abri a página correcta encontrei um parágrafo de um minuto em como fazer um pedido de licença de casamento e o resto era pura e simplesmente dedicado aos procedimentos de divórcio e às protecções do mesmo. Era absolutamente doentio o que ela estava a fazer. Aqui estávamos nós felizes acerca do nosso casamento e já interferia e espalhava a celebrada negatividade bem como protegia as jóias da família não se apercebendo de que estávamos a casar com acordo pré nupcial. Mas acima de tudo, porque é que estava interessada em ler esta revista acerca de como proteger o dinheiro e os direitos? Parecia uma praga conduzindo – me a passar o resto da noite divagando mais acerca do meu divórcio do que do casamento e fazendo – me infeliz.

Enquanto trabalhava no computador na tarde do dia seguinte, cheirou – me a chamusco. O cheiro intensificou – se dez vezes mais em pouco tempo enchendo – me de pânico. Enquanto desesperadamente tentava descobrir de onde vinha, fui levada a dirigir – me para a porta da sala de estar e depois para o quadro da electricidade que se encontrava por detrás. Comecei a ficar cada vez mais nervosa sentindo – me obrigada a avisar Romano do problema enviando – lhe uma mensagem.
Meia hora se havia escoada sem sombras de resposta e o cheiro era mais intenso do que nunca. Finalmente telefonou e pedi – lhe para vir rapidamente pois tinha a certeza que havia qualquer deficiência na caixa da electricidade que estava quase a explodir; disse – me para fechar o quadro e foi o que fiz. Mas o cheiro continuava pondo todos os meus haveres em perigo e por isso mandei – lhe uma segunda mensagem avisando – o da situação. Não respondeu.
Repentinamente, quando estava prestes a chamar os bombeiros vi fumo a sair da planta que estava junto da janela que se encontrava aberta. Para meu descanso era uma ponta de cigarro que tinha sido mal apagado e atirado para ali. Embora fosse um alívio foi também causa de preocupação já que o meu noivo achou este facto menos importante do que interromper uma reunião de negócios para vir em meu auxílio em caso de perigo! Mas veio a casa: duas hordas depois! E quando descobriu quão incomodada a situação me deixara, censurou – me principalmente por não ter logo apagado o cigarro. Mas o que teria acontecido se não fosse um cigarro, mas antes algo que estivesse deveras a arder? Teria chegado a casa depois dos bombeiros se terem ido embora.
Ao sofrer a amargura, a raiva, e a traição pela maneira como lidou ou melhor, ignorou a emergência, aceitei o convite que Simon me havia feito para jantar para essa mesma noite e fui – me embora para Carcavelos antes que Romano pusesse os pés em casa.
Durante o jantar Romano telefonou mas não respondi pois que me encontrava tão ocupada como ele quando precisei da sua ajuda. Então, como alternativa enviou – me mensagens e continuei a ignorá – las também o que o deixou furioso; deve ter também telefonado à minha mãe que por coincidência durante a sua conversa observou quão deveras preocupada se sentia com a situação que me tinha arranjado o Romano no que dizia respeito ao débito do IVA. Era verdade, de facto, tinha falado da minha preocupação à minha mãe há bem pouco tempo mas agora não era esse o problema. Em lugar de admitir que tinha errado e compreender porque estava nervosa resolveu arranjar um outro qualquer argumento para querelar afim de disfarçar o problema.
Continuei a ignorar as suas mensagens. Subitamente Simon baixou a cabeça e tocou – me no braço com o cotovelo quando nos encontrávamos no terraço do restaurante. Precisamente no momento em que estava prestes a meter na boca um garfo cheio de pâté vegetal, levantei o olhar e vi Romano a estacionar o carro provocando – me o derrube do meu copo cheio de vinho em cima da mesa. Simon pôs – se imediatamente de pé e começou a limpar as manchas com o guardanapo mas eu pedi – lhe para se sentar na medida em que Romano vinha para cima.
Aproximou – se da mesa desviando o olhar grave logo que me fitou e sorriu abertamente para Simon, apertou – lhe a mão e sentou – se à mesa. Simon não sabia o que fazer. Sabia por demais que Romano o odiava mas continuou ali sem levantar problemas, educadamente, até que Romano decidiu que era tempo de entabular conversa.
E assim começámos a conviver de tal modo que até pareciam dois amigos de longa data. Nem podia acreditar mas não disse nada à espera do me augurariam desta vez as minhas picadas estomacais. Subitamente Romano disse para Simon “Não queres acreditar que lhe dou cinco mil euros todos os meses e ainda se vai queixar à mãezinha que é uma miséria?”disse rindo sarcasticamente.
Quase que caí abaixo da cadeira! Não podia acreditar nos meus ouvidos. Em primeiro lugar era mentira; nunca fiz semelhante quantia num contrato. Segundo, nos últimos meses não tinha havido sequer sombra de comércio. Terceiro, o dinheiro que realizava não me era dado por ele, era negócio. Quarto, muito embora fosse tudo mentira, estava a discutir em público a minha vida privada! Como podia confiar nesse indivíduo com quem estava quase a casar?

Mas por sorte Simon já conhecia a situação. Ele era uma das pessoas a quem tinha pedido dinheiro para investir e embora sempre perguntasse como ia o negócio muitas vezes me dei conta de lhe contar que realmente não corria bem porque não havia transacções o que me estava a preocupar com a acumulação da dívida do IVA. O que de facto não sabia era que ele não tinha nada com isso porque o negócio era meu e era privado. Mas aqui estava Romano a discutir os meus assuntos privados embora totalmente alheado da realidade o que, de certo modo, imprime uma pitada de humor danoso a tudo isto. A pura verdade era que Romano pagava mensalmente o meu trabalho, mas não havia trabalho porque não havia negócio e decerto não iria dar – me algum.
Após termos emborcado uma garrafa de Alentejo fomos para casa.
Quando conduzia pela ventosa marginal magnificamente iluminada pelos raios da lua de parceria com as brandas ondas em baixo, Romano que seguia atrás, ligou – me e pediu – me desculpa pelo modo como se comportou à mesa a falar – me daquela maneira asseverando que não voltaria a acontecer, depois pediu – me para tomar a próxima saída à direita em direcção à floresta.
Procedi como me pediu e encontrei-me a entrar por um vereda estreita que atravessava o coração da floresta de Sintra. Eram onze da noite e a luz dos faróis e a lua cheia constituíam as únicas luzes do ermo para onde entrávamos. De cada lado agigantavam – se árvores enormes que pareciam espreitar cada movimento nosso e a cada instante recordávamos o habitat que trespassávamos como o voo atarefado do dragão pela vizinhança para lembrar – nos que ali também era vida. Subitamente Romano fez – me sinal com as luzes para encostar e parar. Assim fiz e cheguei até a uma enorme pilha de gigantesca rochas lisas e esculpidas. Romano virou então o carro na direcção do meu.
“Desliga as luzes e apeia – te” pediu.
Numa fracção de segunda entrámos num mundo novo ao mesmo tempo que prestávamos atenção ao estranho embora mas ameno som do vazio que de vezes em quando era interrompido pelo quebra de um ramo. A escuridão era total e o único vislumbre de luz era o reflexo da lua ressaltando nos brilhantes rochedos jacentes lá adiante. Não via nada na direcção de Romano. Simplesmente sabia que estava ali porque os meus sentidos o adivinhavam. Subitamente senti as suas mãos mornas em concha a apalpar – me a cara e a começar a beijar – me violentamente, obrigando – me a respirar com dificuldade. Mas não parou, colou – se a mim, roçando cada vez com mais força o pénis na minha vagina até que ambos perdemos o controle. O perigoso envolvimento de que nos encontrávamos rodeados apenas intensificava o sentimento animalesco dos instintos, criando mais luxúria, desejo intenso e vibrações positivas. Romano que estava a ficar louco, arrancou – me com tanta força a blusa que os botões ecoaram de encontro ao carro bisando logo com os meus soutiens que me libertaram os seios para ele os apalpar intensamente com as mãos nervosas.
Antes de me dar conta encontrei – me com a minha frágil camisete de algodão a balançar – se – me nos ombros e as minhas calças jazendo em baixo à volta dos meus sapatos de salto alto de borco para o capot do meu carro. Romano começou a penetrar – me com tal paixão e força que podia sentir – lhe os testículos a bater – me na vagina enquanto empurrava desesperadamente a pélvis e me apertava os seios como suporte tornando – se os meus gemidos cada vez mais intensos na medida em que ecoavam pela floresta. Subitamente agarrou – me pelos ombros, puxou – me para trás enquanto me apertava firmemente na sua percussão e enterrava com mais força. Agarrado a mim como se fosse meu dono atingiu o clímax para depois limpar o sémen em cada milímetro da minha pele enquanto libertava os seus últimos suspiros de prazer e satisfação.

CAPÍTULO 13

A espera de sem fim que conduzia ao dia do nosso matrimónio foi finalmente dissolvida num tempo que parecia pertencer a outra dimensão; a dimensão incomensurável da espera impaciente de excitação.

Era agora o grande dia e Romano acordou – me com uma enorme caneca de café e um sorriso que era iluminado pelas alaranjadas sombras dos raios solares irradiados através da janela lembrando – nos que chegara o dia por que ansiáramos. Mas, ao invés de qualquer outro dia, às sete horas, parecia ser muito tarde para acordar mas contudo tão longe do meio – dia. Não tinha a certeza de quem estava mais excitado se eu ou Romano. Passámos horas na cama a rir acerca de como iríamos casar e a comparar – nos a todos os casais tais como o do seu melhor amigo …que despenderam a eternidade de um ano de energia a planear o seu grande dia.
O total secretismo do nosso casamento tinha indubitavelmente acumulado uma espécie de adrenalina em mim pronta a explodir e o facto de irmos casar de jeans rotos era mesmo mais apelativo numa sociedade onde as “aparências” prevalecem.
Após infindáveis copos de doses duplas de expressos que deixaram a casa a cheirar melhor do que o mais elegante dos cafés, Romano saiu a resolver uns assuntos pendentes no escritório só para regressar algumas horas depois sobrecarregado de Rosas.
Estávamos finalmente prontos para avançar nos nossos jeans esfarrapados e camisas brancas enquanto segurava firmemente na caixinha dos anéis de matrimónio.
Na viagem para A Repartição de Registo Civil não resistíamos a imaginar como é que as famílias iam reagir pois que, no fim de contas nunca se tinham visto e depois, a minha mãe, conhecedora da mania de interferência da madrasta dele nas nossas vidas não iria ajudar nada.
Aproximávamo – nos da estrada cobertos de suor como consequência da pesada conversação e do calor não obstante o ar condicionado estar no máximo.
Entrámos na repartição do registo e eu quase que morria! Os meus pais vestiam despretensiosamente como lhes pedira, os pais de Romano um fato ordinário como de costume mas a madrasta, meu Deus! Destacou – se da rotina para aparentar ser superior a toda a gente mas por sua infelicidade acabou por se embaraçar a ela própria. Deve de certeza ter pensado que não falávamos a sério quando frisámos que devia aparecer sem cerimónias ou melhor, pensou que tentávamos enganá – la e colocá – la em ridícula situação mas infelizmente a sua paranóia fê – la ridicularizar – se na sua postura de dispendioso fato de seda creme decorado a imitações de ouro e sapatos dourados a condizer. Basicamente estava vestida de molde a ofuscar o brilho da noiva num tradicional casamento de igreja mas ali só conseguiu o recorde do disparate.
Enquanto esperávamos para ser chamados numa atmosfera pesada eu e Romano tentávamos desesperadamente juntar os dois grupos silenciosos mas nenhum deles sabia que assunto de conversa devia aventar e para além disso evitariam fazê – lo com medo de ferir susceptibilidades.
Como usualmente, a madrasta comportou – se como se nada tivesse alguma vez acontecido, embora muito mais calada do que nos nossos anteriores encontros. Por delicadeza tentei desesperadamente fazer o seu jogo muito embora a lembrança de ser uma das testemunhas para assinar o meu certificado me desse ânsias de vómito.
Entretanto o Pai de Romano dirigiu – se à sala de recepção para falar com o juiz. Sabia exactamente o que ele estava a fazer pois que certamente não era pagar os custos porque estávamos nós a tratar disso. Assegurava – se se haveria um acordo pré – nupcial na medida em que devia pensar que eu casava por dinheiro fazendo – me lembrar a temível revista.
Finalmente chegou a nossa vez. Sem saber o que fazer sentei – me timidamente ao lado de Romano à secretária do juiz e tudo o que consegui ouvir foi a desgastante voz de Jo no acompanhamento dando as suas instruções a toda a gente.
Quando o juiz pronunciou os nossos nomes, o pai de Romano interrompeu.
“Desculpe minha senhora mas enganou – se no nome do meu filho” disse em voz baixa e inquieta.
“Não, pai. Coloquei o nome de Diana antes do meu apelido”
O pai ficou sem saber o que dizer, forçado a deixar o juiz continuar.
Passados dez minutos os anéis eram trocados nervosamente e éramos declarados marido e mulher. Levou alguns segundos a chegar mas quando chegou, um formigueiro de ondas de choque se apoderou do meu estômago. Estávamos casados.

Por essa altura já as famílias se encontravam mais descontraídas e confortáveis na presença uma da outra e contra o meu desejo e de Romano a minha mãe insistiu que fôssemos todos celebrar o dia a casa dela acedendo desapontados por não podermos passar a noite num hotel. Quando chegámos comentei com os meus pais que o livro de Carla estava para ser lançado na semana seguinte e como o pai de Romano apreciava literatura os seus ouvidos não perdoaram levando – o a inquirir imediatamente o género do livro. Estava tão contente por me interrogar qual era o tópico do livro que eu respondi:
“Oh, a minha melhor amiga escreveu uma biografia”.
Entrementes Romano telefonou ao irmão que estava em Itália para lhe dar a notícia enquanto eu também me ocupava a enviar mensagens para toda a gente que conhecia. Subitamente ouvi o irmão dizer que Jo o havia informado que ela e o pai estavam consternados por nunca os termos convidado a irem a nossa casa. Continuei calada mas só quando Romano acabou de telefonar olhei para a minha mãe à vista de todos e disse:
“Estás a ver mamã. Convidei esta gente para nossa casa por várias vezes e recusaram só para depois irem dizer às pessoas que não haviam sido convidados”, disse com riso sarcástico
“Olha que não, disse Jo inocentemente”.
Ignorei – a e continuei
“Oh, esqueci – me de dizer que por altura do Natal Jo afirmara que nunca se atreveria a ir por causa do Rottweiler. Talvez quando me desembaraçar de Napoleão considere isso um “convite”, ri sarcasticamente de novo.
Mas Jo possuía o dom de mentir descaradamente especialmente sabendo que eu, Romano e o pai testemunhámos isso. De qualquer modo, um leopardo não pode mudar as suas manchas na pele e nada a respeito dela mudaria para o futuro. Mas Jo estava agora a sentir – se bastante inconfortável a despeito de não se atrever a mostrá – lo já que a prática havia feito dela uma perita nesse campo. Segredou ao ouvido do pai e este então inventou uma desculpa para os desculpar o que foi um alívio para mim e para Romano o que nos deu azo a ir embora e encontrar um hotel para a noite.
Despedimo – nos, passámos por nossa casa, fizemos as malas e fomos. O mundo era nosso.

CAPÍTULO 14

As semanas que se seguiram provaram ser as mais felizes da história da nossa relação na medida em que a enorme parede da dúvida que permanecera um severo obstáculo entre nós acabava de ser destruída e transformada em optimismo soberano.

A publicação do livro “300 clientes habituais” chegara e numa escassa semana o livro atingiu o número 6 na lista de best-sellers das nações. A publicidade chamou rapidamente a atenção de toda a gente e o pai de Romano e Jo não fizeram excepção.
“Leram o livro e perguntaram – me se era a teu respeito. Depois descobriram o negócio e o meu pai acusou – me de fraude e roubo da companhia. Diana, agora não deixa de pensar que tens uma desavergonhada por amiga.” Desabafou Romano quando chegava a casa para almoçar.”
Não sei o que dizer a não ser confessar que pedira a Romano para informar o pai do nosso negócio antes de o começarmos. Mas constantemente eu lhe repetia que devia dizer que a minha companhia era igual a qualquer outra que ele usava e dirigia sozinho. Mas depois de ler o livro, Jo juntou dois mais dois e andou pela firma a procurar a facturação à procura da minha companhia insistindo que a estava a usar ilegitimamente para desviar dinheiro. Era a última coisa que eu precisava. Não tivera uma única transacção havia cinco meses não obstante a insistência de Romano que havia de haver nos meses seguintes. Para além disso como fazia todo o negócio e facturação para a minha companhia estava completamente alheia a qualquer controlo e afligia – me a respeito da aquisição que ele fizera no princípio do ano e que ainda tinha de ser liquidada. À espera que tudo isso se resolvesse era, no entanto paga mensalmente com a quantia combinada mas não saía do negócio mas de pagamentos por fazer que a sua companhia estava em vias de liquidar. E ainda por cima não paguei o IVA pois que me havia persuadido a não me preocupar dado que os negócios futuros iriam cobrir rapidamente a soma acumulada acrescentando que ficava muito mais barato dever ao Governo do que ao banco.
Romano passou os dias seguintes a corrigir as facturas porque havia um erro no seu departamento de contas o que me deixou em pânico e a cogitar no que raio de diabo se passava. Mas como de costume persuadiu – me que estava tudo sob controle e pouca escolha me sobrou a não ser confiar na sua palavra apesar do meu sexto sentido me avisar do contrário. A atmosfera continuou pesada no escritório durante os dias que se seguiram quando forneceu ao pai toda a evidência de uma companhia legítima, etc. Ele e Jo, inevitavelmente, caíram. Como mais uma vez as coisas não correram a Jo de feição, telefonou Romano “Não posso acreditar no descaramento daquela cabra estúpida. Mas quem é que ela pensa que é? Há – de pagar por tudo isto” disse enquanto saía porta fora.
Jo tinha – o chamado aos gritos furioso e, desgostosa com a atitude dele, foi contactar imediatamente o pai admoestando – o a manter a esposa afastada dele para o futuro, com ele incluído ou não! Mas foi neste período de tensões que as verdades foram conhecidas. “Pago àquela cabra que nem sequer posso ver no meu escritório, 2.500 € mensais e toda a gente a despreza. Mal acaba de entrar e ei – la a dar ordens sempre que se encontra naquele estado de espírito.” Disse ele; “Estás a falar a sério? Qual é o diabo da posição dela para ganhar assim um salário tão bom?” Para minha consternação nem tem posição mas em lugar disso passa a vida a pavonear – se pelo escritório. Não podia acreditar numa coisa daquelas, aqui estava esta mulher a ser paga chorudamente para não fazer nada a não ser meter – se na vida dos outros. E eu, por outro lado, havia concordado em deixar a prostituição para fazer negócio com as companhias de Romano com a condição de beneficiar os dois; mas agora, apesar das minhas dívidas originais próximas da liquidação, as recentes substituíam – nas devido à perda de negócios. Mas de qualquer modo tinha de fazer um esforço para olhar para o lado bom das coisas já que Romano tinha agora deixado claro que a queria à distância.
Naquela noite, numa tentativa de manter os nossos espíritos longe do stress que os últimos dias haviam acumulado dirigimo-nos para um romântico restaurantezinho escondido à distância numa das velhas e românticas áleas estreitas bem no centro de Sintra.
Mal tínhamos acabado de nos sentar à graciosamente mesa posta com velas acesas desfrutando do nosso copo de puro vinho tinto, Romano sugeriu uma viagem a Madrid ao luar naquele mesmo fim – de – semana. Deliciada concordei e, prestes a começar a fazer planos, um cliente dele telefonou a perguntar se lhe podia empregar a irmã. Começava a provar a deliciosa massa que o pequeno empregado parecido com Hitler acabara de colocar na minha frente ao mesmo tempo que continuava a ouvir a conversa, convencida de que Romano responderia negativamente na medida em que recentemente havia despedido vinte empregados. Mas para meu horror quase que fiquei chocada quando ele disse que sim. Além disso, despedindo todo aquele pessoal, eu continuava todos estes meses aquém da raia do lucro sem uma transacção que fosse, e a ouvir esta conversa! Mas convenci – me a mim própria de que Romano estava, como de costume a proceder com bom senso e encontraria em breve uma boa resposta contra a perniciosa ideia.
Surgiu – me imprevistamente o pensamento de que fazia 15 anos que o meu pai havia falecido o que significava que tinha de lhe levar flores como a mim mesma havia prometido. Comecei a entrar em pânico. A excitação dos dias anteriores tinham – me impedido de me lembrar mas não me esqueci e não podia falhar.
Bebemos rapidamente os nossos cafés, pagámos a conta e pusemos – nos imediatamente a caminho dando – nos por satisfeitos se chegássemos às onze e meia sem mencionar o facto de que tínhamos de comprar flores.
Depois de pararmos na quinta estação de serviço tivemos sorte e comprámos as flores. O primeiro obstáculo estava vencido e enfrentávamos agora o seguinte; os enormes portões de ferro que fechavam o cemitério do mundo exterior. Era impossível; eram indestrutíveis e por isso começámos a investigar as paredes circundantes do cemitério que se elevavam na colina. Nada de bom. Davam – nos a sensação de serem duas vezes mais altas do que os portões. Dirigimo-nos à aldeia em baixo para vermos se a parede diminuía de tamanho enquanto descíamos e para nosso alívio parecia – o de facto e só haviam passado vinte minutos. Trilho adiante deparámos com outro sério obstáculo, o único caminho possível obrigava a passar pelos jardinzinhos das casas vizinhas.
Por fim, já tínhamos ultrapassado três e só faltava um mas para lá deste encontrava – se um poderoso São Bernardo vigiando sorrateiro cada movimento nosso. “Vamos Diana, temos de subir esta parede. Não consegue chegar – nos”

Romano ajudou – me a trepar antes de me estender as flores e quando estava quase a equilibrar – me na parede dos seus 20 metros de comprimento o cão começou a ladrar e ao saltar, fez – me deixar cair o ramo enquanto olhava aquelas pequeninas janelas impelida pelo barulho. Subitamente a porta abriu – se e uma senhora com rolos acendeu a luz do jardim e perguntou – nos o que andávamos a fazer mas eu estava demasiado ocupada em equilibrar – me para responder.
“Desculpe minha senhora, mas estávamos a tentar entrar no cemitério. O pai da minha mulher morreu faz hoje quinze anos e tinha prometido levar – lhe flores. Só dispomos de alguns minutos para fazê – lo.” Para nossa surpresa, a senhora adiantou – se, estendeu – me as flores e agarrou o cão enquanto continuávamos a andar pela parede. Quando chegámos ao outro lado, aproximou – se do lado que dividia a casa da colina campestre e disse que era virtualmente impossível trepar à parte mais baixa da parede do cemitério dado que tinha pelo menos três metros e meio de altura. Mas só me importava saber que tinha tentado o meu melhor e assim agradecemos à amável senhora e começámos a nossa difícil jornada enquanto ela continuava a falar atrás de nós.
“Ok. Estamos com sorte. Quando acabares de descer, esta vereda desemboca ao lado da minha casa. Vai dar à aldeia e por isso não precisas de subir a estas muros outra vez e arranjar problemas com os vizinhos.”
Quando finalmente atravessámos a colina atravancada de arbustos, a pé, chegámos à distante parede do cemitério e ali ficámos especados a olhar para aquele gigantesco monstro. “Olha. Está ali uma espécie de trabalho em tubo na parede. Vamos ver qual é a parte mais baixa e trepamos por ele. A propósito, que horas são?
Faltavam cinco minutos para a meia – noite! Cheios de medo corremos para o tubo e trepámos para ele enquanto desesperadamente tentávamos equilibrar – nos de modo que nos permitisse utilizá-lo para subir. A meio do percurso Romano alertou – me de que era quase meia – noite. Não déramos pela passagem do tempo. “Manda isso. Atira com o ramo daqui, Diana. Nunca conseguiremos lá ir.

Não tive alternativa senão firmar a mão numa falha da parede e atirar com o ramo com toda a minha força. Tinha tentado tudo o que era humanamente possível e era o que contava.
Quando regressávamos através da erva e das árvores dispersas, Romano agarrou – me por trás e disse – me para baixar as calças inclinar – me e segurar a árvore postada na minha frente. Mas a última coisa que queria era sexo; tinha o cabelo coberto de detritos pegajosos que se tinham agarrado e as pernas ardiam-me de roçar nas cáusticas urtigas. Mas Romano insistia que não tivera sexo durante todo o dia e que não demorava mais do que um minuto e obedeci; baixei as caças e agarrei – me à árvore permitindo – lhe penetrar – me a vagina e usá – la para aliviar a tensão de todos aqueles dias e quando deu um grito de satisfação senti – me excitada e a pensar que havia feito como me pedira.




CAPÍTULO 15


À medida que Romano se aproximava de casa às seis horas naquela tarde quente de sexta-feira corri para a entrada para o cumprimentar de pasta na mão e apesar do seu pedido para usar o quarto de banho, fechei a porta atrás de mim, estendi – lhe a pasta antes de me pôr a correr para o carro, permitindo – lhe apenas fazer as suas necessidades atrás da nossa árvore na vizinhança.
Aproximávamo – nos da fronteira espanhola eram dez horas da noite, o que significava que ainda tinha tempo de dar uma fugida ao café local e encomendar uma descomunal talhada de tortilha de batata. Enquanto nos sentávamos confortantemente nos altos bancos do bar perguntei casualmente se a irmã do cliente tinha ficado com o lugar. Para minha estranheza tinha de facto sido bem sucedida na segunda entrevista! Não foi preciso mais para perder o apetite e deixar os alimentos sem sequer lhes tocar.
Chegámos a Madrid algumas horas depois e, ao contrário da primeira etapa a viagem começou a parecer uma eternidade devido aos pensamentos negativos que me engolfavam o espírito. Quando acabei, por não me poder conter por mais tempo perguntei se haveria outro negócio já que pelos livros os problemas eram um assunto do passado.
“Mas com certeza, no próximo mês, prometo”, disse casualmente permitindo – me sentir mais à vontade visto que nunca prometera antes.
Ligeiramente mais descontraídos chegámos a um azafamado e deslumbrante parqueamento de hotel com mais lugares vazios do que automóveis. Como previsto, Romano havia reservado um quarto num dos mais caros hotéis da área mas desta vez em lugar de tentar poupar dinheiro como fizera antes permaneci calada já que sabia que iria gastar a diferença noutra coisa qualquer.
Enquanto o sol se esforçava sem sucesso por penetrar nas espessas cortinas do quarto alertando – nos de que eram horas de levantar, comecei a perscrutar o material borgonhês para descobrir uma enorme piscina deserta e, excitada, sugeri que continuássemos a dormir nas apetecíveis camas de sol que a circundavam.
Quando nos aproximámos do natatório, o som de crianças excitadas ecoou pelos corredores fora advertindo – nos de que não íamos ficar sozinhos e não hesitámos em entrar no ecológico jardim para descobrir uma família de quatro elementos.
O pai, de aparência vulgar, obeso, a rondar os quarenta e poucos com uma enorme barriga de cerveja tentava ler o seu jornal de finanças enquanto nos seguia com os olhos como que hipnotizado enquanto escolhíamos as cadeiras. A mãe, uma elegante mulher de pele de porcelana que aparentava descendência grega e ter cerca de trinta e cinco anos, repousava imaculadamente na sua cama solar ao lado do marido enquanto as suas duas crianças patinhavam ruidosamente na piscina.
E ali permanecemos placidamente nas nossas camas de sol embebendo – nos nos seus extraordinariamente quentes e húmidos raios não podendo, no entanto, deixar de notar o ar de autoritarismo com que o pai falava com os filhos. Quando me voltei comecei a notar o comportamento daquela família de classe média superior. O garoto, de quatro anos, e a irmã que aparentava não ter mais de dez corria continuamente para o lado da mãe enquanto o pai mostrava domínio sobre a família, mas embora os olhos da mãe se enchessem de simpatia para os filhos, não se atrevia a pronunciar uma palavra e permanecia silenciosa como se temesse o marido.
Quando me virei para Romano para comentar o que acabava de testemunhar ele estava já a olhar na mesma direcção.
“A pobrezinha parece aterrada com o bastardo. Só fala quando a isso é obrigada e mesmo nessa altura ele trata – a como um monte de merda. Na verdade não consigo compreender como é que estas mulheres se mantém casadas”, disse em voz baixa.
“Lá isso é verdade. Mas não tem alternativa. Precisa dele. Ele é o único que tem dinheiro e, se ameaçar deixá – lo ficará com os filhos. Assim está presa e dependente”.
Fiquei baralhada com a resposta na medida em que em qualquer sociedade civilizada a mãe tem a custódia dos filhos, portanto como podia ele dizer uma coisa dessas? De algum modo isto despoletava um alarmante sinal pois que se alguma vez viéssemos a ter filhos seria confrontada com semelhante situação como a que ele estava a descrever. Para Romano, o dinheiro era o último grito do poder. Isto eu descobri quando era ainda um cliente e obviamente as minhas tentativas para o fazer compreender que o dinheiro era apenas poder temporário pois se podia evaporar durante a noite e o verdadeiro poder era a capacidade para influenciar e que vinha do interior; obviamente falhava não obstante ter – me conduzido a pensar de outro modo.
Quando regressámos ao hotel, após o jantar, decidimos tomar umas bebidas no bar antes de nos dirigirmos para o quarto. Os homens voltaram todos a cabeça quando entrámos e avançámos para um canto sossegado, levando Romano a segurar – me com mais força como se estivesse a disputar um troféu. Sentámo – nos, pedimos uma garrafa de vinho e começámos a cavaquear no delicioso ambiente.
“É esta a família que vimos na piscina?” perguntou Romano.
E inesquecivelmente era. A senhora parecia mais esplêndida do que nunca num vestido floral estilo mini – saia e o cabelo curto estava agora liberto do seu tufo dispondo – se livremente em anéis e levando logo a comentar quão magnífica se apresentava. Romano permanecia silencioso olhando na sua direcção dando a entender que não concordava comigo embora não fosse capaz de compreender porquê e continuei com a conversa que entabulávamos.
Numa fracção de segundo pensei que Romano não prestasse a mínima atenção ao que eu estava a dizer como que hipnotizado pela mulher agora de pé junto do bar com a família. Como podia ter a audácia de afirmar que não a achava atraente quando não podia desviar os olhos dela? Pensei. E se alguma vez me apercebia de alguém bem parecido, homem ou mulher, mencionava – o e esperava a mesma abertura em igualdade de direitos, com confiança e discrição pois de outro modo isso significava sentimento de culpa. Era a primeira vez na vida que alguém tinha o descaramento de me fazer isto e logo que se deu conta da minha observação disse:
“Estou a olhar porque na verdade tenho pena dela, isto é, com um marido daqueles.” Regressei à conversa mas estando mais atenta do que nunca. Sentia – se atraído por esta mulher e eis porque negou que era bonita, sentia – se culpado.
Mal sabia ele que eu tinha um problema que lhe diria se tivesse admitido, mas assim, as coisas podiam vir a ficar piores. Tinha demasiado respeito próprio para me incomodar por tão pouco; outra mulher a olhar com avidez para meu marido enquanto eu aparecia como a coitadinha a seu lado. Se, por outro lado, a sua intenção era provocar – me ciúmes ou mesmo tornar – me insegura, não fazia, de facto, a mínima ideia de que cada possibilidade demarcava o começo do fim! Era isso mesmo! Não ia ser vista de mãozinha dada com alguém assim, desta maneira. Sempre que um casal passava por mim de mãos dadas e, às escondidas o homem me comia com os olhos, instantaneamente tinha pena da pobre mulher a seu lado, portanto a última coisa que me iria acontecer era ser alvo da compaixão dos outros!
Como por acaso levantei – me e sugeri para irmos embora para o quarto. Romano levantou – se instantaneamente e enfrentando as cabeças de todos os humanos do sexo masculino segui o meu curso rapidamente tentando colocar o seu braço à minha volta mas continuando a andar friamente para a frente. Quando passei pelo bar olhei para os olhos da mulher do mesmo modo que ele tentou olhar para os meus na piscina, sorriu e continuei a andar ao mesmo tempo que Romano persistia em tentar embirrar comigo. Uma coisa era certa, ninguém, mas mesmo ninguém ia fazer de mim idiota.
Quando entrámos no quarto, inocentemente perguntou – me qual era afinal o problema mas eu era por demasiado orgulhosa para confessar que um dia ele iria sentir o mesmo. Mas não deixaria que esse pormenor estragasse fosse o que fosse; ia queimar essa energia em algo de construtivo e começar a despi – lo com um sorriso de vingança. Sabia que o meu corpo ia ser o substituto da mulher mas não me importo porque não era para Romano que estava a despir – me mas para o homem autoritário cuja atitude me excitara.
A minha imaginação começou a dar conta de mim mais rapidamente do que nunca. Romano encontrava – se agora à porta do quarto a fazer amor com a doce mulher enquanto eu me sentava de olhos vendados nesta alcova frente ao marido dela permitindo – lhe usar o meu corpo para seu acabado prazer precisamente como estas vibrações me estavam a excitar na piscina.
Começou por me pingar lentamente gotas de cera em cima dos mamilos obrigando – me a pedir – lhe para parar mas de cada vez que tentava torcia me a teta até ficar demasiado sensível na intenção pura e simples de repetir o processo e de excruciar a minha dor. De cada vez eu lhe suplicava para parar quando a cera deslizava em cima do meu corpo a misturar – se com o óleo que o cobria, em risco de me sufocar a respiração com a sua espessa língua molhada como prelúdio de me excitar o clítoris com a ponta do dedo. Depois de ficar satisfeito, puxava – me o cabelo para baixo na sua direcção guiando o pénis para dentro da minha boca. Primeiro lentamente, depois a um ritmo mais veloz controlava os gemidos do seu prazer forçando a minha cabeça para trás e para a frente. Pôs – me de costas, de pé, contra o espaldar de uma cadeira enquanto obrigava as minhas pernas a afastarem – se para me chupar apaixonadamente e lamber cada gota de suco que havia criado dentro de mim. Quando já não suportava mais, parou, pôs – se em cima de mim e introduziu o falo na minha vagina obrigando a carne a martelar nas suas pernas com pressão soberana. A sensação animal de que estava a apoderar – se do meu ser era incrementada com o pensamento de ser devorada e usada por este rigoroso carácter conservador. Cada som da carne magnificava o sentimento de gozo que me estava a queimar por dentro.
Repentinamente deixei de ouvir o vaivém da carne ou sequer sentir a venda enclausurando – me do mundo exterior. Abri os olhos e olhei para encontrar Romano por baixo de mim.

Na semana seguinte estávamos de volta para a nossa rotina diária e decidimos visitar uma feira no centro de Lisboa nessa tarde extraordinariamente quente. Debaixo de um sol abrasador descobrimos todos as pequenas tendas que vendiam praticamente tudo desde vestuário alternativo até produtos biológicos. Depois de não faltar nada para investigar sugeri uma visita a um pequeno bar espanhol numa das ruas da área que se divisava em baixo porque a minha recente visita a Espanha tinha indubitavelmente acendido em mim o desejo da Tortilha. Romano achou uma ideia esplêndida e por isso metemo – nos ao caminho descendo a longa ilha dividia por todas aquelas pequenas tendas.
Quando nos aproximávamos do fim apercebi – me de uma jovem alta a trabalhar numa das tendas iguais. Romano olhou para ela do canto do olho ao ponto de inventar qualquer coisa para podermos parar afim de conseguir uma vista melhor. Uma vez mais a ideia de que aquela gente podia estar a tomar nota do seu comportamento enfureceu – me. O facto de não partilharmos os nossos pensamentos não constituía problema nenhum. Ele sabia como eu era desde o princípio da nossa relação quando por acaso mencionou que a sua ex namorada era muito insegura acerca de outras mulheres. Mas neste momento pude avaliar os dois lados da história; a sua ex deve ter sido tão insegura exactamente devido ao seu comportamento.
Na tarde seguinte voltámos à animada feira para comprar a delicada blusinha que me prendera a atenção na tarde anterior. Na nossa ida descemos a mesma estrada da véspera mas chegados a um cruzamento tomámos uma direcção que eu alvitrara então e Romano recusara seguir argumentando ser mais longe por ali. Quando estávamos a chegar a essa mesma saída vi Romano a olhar para duas ordinárias que se dirigiam a pé para o cruzamento evitado no dia anterior para se desviar então abruptamente sendo por isso atirada contra a janela. Não podia acreditar. Descobria que o meu marido olhava para tudo o que se movia não obstante a sua aparência física e rapidamente inquiri do motivo porque tomou aquela direcção só para o ouvir contradizer – se da razão que o levara a evitá – la na tarde anterior.
Ao entrar na feira as batatas fritas imediatamente me transportaram às memórias da infância e quando chegámos não me contive sem mencionar o facto. Era isso. Não pude esperar mais e avisei Romano de que estava com fome. Mas por alguma razão insistiu em seguirmos na direcção oposta fazendo – me subitamente lembrar da rapariga do incidente na tenda do fim.
“Tens aqui um bom lugar para comeres. Sei que adoras saladas, portanto vais gostar.” Não havia sinal de rapariga, por isso perguntei – lhe porque me levava lá dado ter especificado batatas fritas em mais de dez ocasiões mas acabou por se desculpar dizendo que pensava que eu queria apenas alguma coisa para comer. Assim, apesar das suas tentativas em alhear – se da situação sugeri – lhe que comesse ali e compraria as minhas batatas depois. Vi a rapariga aparecer por detrás do balcão e dirigir – se para ele.
“Vá lá Romano, escolhe o que queres comer” disse enquanto a rapariga e eu sorríamos uma para a outra.
“Desculpem, mas não vendemos comida. Estamos a promover os azeites.”
Romano não pôde ficar mais atrapalhado. Isto vinha pura e simplesmente confirmar que só prestou atenção à rapariga e tinha inventado a desculpa da salada com o único intuito de lá voltar. Era tudo tão claro como o cristal; Madrid, o incidente do carro e agora esta confirmação a provar que aquilo não era só paranóia.
Fiquei aborrecida com o que presenciara no curto espaço de uma semana mas não lhe ia dar a satisfação de explicar. Depois de trabalhar com tantos homens e de os ter como amigos fez de mim mais que sabedora de que olhar era normal e não que tivesse problema com isso mas tinha problema com a maneira como ele o fez, em segredo, descobrindo que o seu tipo não era para mim.
Quando finalmente chegámos a casa, comecei a trocar mensagens com um amigo, João. Necessitava companhia para essa noite mas não a de Romano. Queria só escapar à negatividade que introduzira no meu espírito e estar com gente positiva e não com alguém que me fizesse sentir desta maneira pela primeira vez na minha vida. Para minha surpresa Romano não me pregou nenhum sermão quando lhe disse que me ia encontrar com João dado que devia ser provavelmente conveniente para ele nessa noite.

Não sei se esse encontro com João me fez bem ou não. Uma vez mais, usando – o como um ombro para chorar estava a chegar ao ponto em que até ele mesmo poderia reconhecer que havia alguma coisa de seriamente errado. Depois, pela primeira vez admitiu que dificilmente me podia reconhecer dado estar a transformar – me numa pessoa diferente.
“Antes irradiavas confiança não obstante todos os problemas com que te debatias. Eras tão querida e viva e tinhas uma postura magnífica. Agora até parece precisamente o contrário.
Era a primeira vez que alguém fora brutalmente honesto mas penso que outros também teriam a mesma opinião se passasse algum tempo com eles. Mas isso não aconteceu e esta era a última coisa que desejava ouvir. Talvez desejasse apenas confirmação de que estava tudo na minha cabeça. Mas atingir semelhante grau em tudo estava a pôr carga demais em cima de mim e a afectar a minha personalidade. Era talvez o primeiro raio doloroso de luz a convencer – me de que todo este relacionamento me estava a deixar terrivelmente doente. Perguntei a João se podia ficar com eles naquela noite pois não podia sequer pensar que havia de ir para casa e encontrar a pessoa responsável por isto. Assim, sem pensar mais enviei uma mensagem a Romano avisando – o de que não estava em condições de conduzir e devia por esse motivo ficar em casa de João.
Respondeu imediatamente; primeiro polidamente perguntando qual era o problema e logo a seguir pediu – me simpaticamente par ir para casa. Quando não resultou tornou – se agressivo “Sua puta. Vens imediatamente para casa antes que eu vá à tua procura”.
Desliguei o telefone ante o embaraçoso e, ao mesmo tempo, insultuoso tratamento recusando – me assim a dar mais satisfações para então ser bombardeada com estúpidas e maldosas mensagens que me faziam sentir habitualmente tão insegura acerca de mim mesma. Então cedi.
Finalmente dizia na última mensagem que estava nas proximidades da casa de João deixando – me aterrada na medida em que não sabia onde vivia mas depois, a última coisa que eu queria era causar a João e à família qualquer embaraço. Agradeci e fui – me embora.
Quando me dirigia para o cimo da rua um calafrio percorreu – me a espinha ao ver Romano à distância fazendo – me pensar que o meu carro estava a ser vigiado com escutas ou que tinha qualquer contacto no telefone celular da companhia dando – lhe azo a seguir – me. Subitamente telefonou a perguntar se já me dirigia para casa e quando lhe indaguei porque é que andava à minha procura a sua resposta foi que já conhecia o João de sobra.

“Tudo isto porque estou loucamente apaixonado por ti. Isto é o que faz o amor.”
Chegámos a casa com um pequeno intervalo de alguns minutos e quando entrava começou a expressar o quanto desprezava agora João, que queria que eu nunca mais o visse. “Mas qual era afinal a merda para hoje? ”, pensei dado que sabia que ele gostava de João. Mas tinha de haver alguma coisa na medida em que João testemunhara as chamadas telefónicas e ficara do meu lado.
“Não me importo que te encontres com os teus amigos desde o momento que saiba com quem estás. Mas agora tenho um problema com João. Fui verificar o teu antigo diário negro de marcações de clientes e descobri que tinha sido teu freguês. Eis a razão por que já não gosto do homem.”.
Isto não me parecia justo. Nunca escondi segredos de Romano. Se não mencionei o facto devia ter sido por nunca haver oportunidade e é tão certo como haver céu e inferno que não iria negá – lo. Mas uma vez mais tinha de tentar compreender o seu ponto de vista muito embora me recordasse da história de Simão e mesmo que Romano tivesse escolhido esquecer que a mulher dele há quatro meses, era uma prostituta.

CAPÍTULO 17

Eram dez horas da manhã quando descíamos as escadas do gigantesco jumbo e aí estavam os nossos rostos a ser bafejados pelo calor tropical para nos lembrarmos que tínhamos chegado a um novo mundo. Era o Rio de Janeiro, a cidade que desesperadamente havia almejado pisar desde que tivera o acidente.
Ainda não eram passadas duas horas e já nos encontrávamos no luxuoso hotel mas demasiado excitada para admirá – lo, pedindo de imediato um táxi para nos conduzir ao consultório do cirurgião.
Deixei o médico mais feliz do que quando entrei, na medida em que o velho senhor que praticava há não menos de cinquenta anos a sua profissão, me inspirou uma confiança tal que os meus instintos automaticamente me segredaram que tinha caído em boas mãos. A cirurgia teria lugar na manhã seguinte e como tinha sido avisada de que não estaria em condições de deixar a cama durante uns dias, insisti que jantássemos na cidade.
O calor, a iluminação nocturna, conduziram – nos a uma larga avenida movimentada, trepidante de risos e coloridamente decorada por brilhante luzes. Cada passo consumado era como a entrada num mundo diferente na medida em que a música, pulsando com a ambiência, variava dramaticamente começando no samba e terminando no jazz. Subitamente dei – me conta das empregadas de mesa, cobertas com pouco mais do que os seus biquinis, a sugerir – nos para jantar. E, assim, encaminhámo – nos através das alucinogénicas preguiceiras acabando por ficar por debaixo de uma enorme palmeira num sofá, a um a canto, inundado por incandescente luz alaranjada.
Mal havia passado um segundo fomos abordados por uma simpática empregada usando um biquini cor-de-rosa e um extremamente leve casaquinho branco. Enquanto nos cumprimentava inclinou – se para a frente para colocar o cinzeiro em cima da mesa forçando – me a mover para o lado para evitar que os seus enormes seios roçassem a minha cara. Romano ficou desassossegado não sabendo onde colocar os olhos, apenas para ser salvo pelo telefone. Pedi à empregada para esperar alguns minutos antes de encomendarmos.
Era o melhor amigo de Romano a telefonar de Itália pedindo para se preparar para o casamento que era dali a dois meses. Romano havia primeiro sugerido para eu o acompanhar mas como estava à espera de confirmação para uma entrevista a essa hora, mais ou menos, não sabia bem o que havia de fazer quando cheguei à conclusão que era o mês em que ele tinha decidido ir sozinho.
A amável empregada regressou para receber ordens deixando Romano a contar – me as suas infindáveis histórias, pós formatura, à volta do mundo. Embora já me tivesse narrado a maioria delas, estando no Rio de Janeiro, veio a talhe de foice um longo desfilar de memórias.
Enquanto ele falava estava a admirar ao mesmo tempo todas aquelas lindas mulheres que passavam.
“Deves ter tido aqui uma grande festa. Estas moças são realmente bonitas.
“São sim senhor. Devo ter – me posto em pelo menos cinquenta. Atiram – se a nós se formos estrangeiros. São tão fáceis de engatar! Na verdade temos de saber ver – nos livres delas”. Disse com uma risadinha.
Nem podia acreditar no que estava a ouvir mas tentei manter a calma e, discretamente, engoli o nó que tinha na garganta. O ano das suas viagens foi um daqueles quatro em que se encontrava com a sua ex namorada e de cada vez que fora mencionada numa conversa jurara a pés juntos que lhe havia sido sempre fiel durante todo o tempo de relacionamento. Mais, lembro – me perfeitamente de que, durante o seu tempo de cliente, lhe perguntei a brincar como tinha conseguido ficar sem mulher durante um ano no período das suas viagens.
”Bem, a palma da minha mão com as suas cinco filhas”, foi a resposta.
Estava pasmada, aqui estava uma prova a acrescentar de que não se podia confiar neste homem e cada vez descobria mais que as coisas não iam ajustadas na minha cabeça. Naturalmente que me estava nas tintas que ele fosse ou não fiel à sua ex, mas a circunstância de que por alguma razão tentava realçar o facto de que tinha feito quando não tinha era suficiente para ver nas minhas costas.”Mas que raio de merda foste engendrar; não reparas que as mentiras têm as pernas curtas?” Pensei enquanto continuava a olhar para o meu prato, forçando um sorriso à medida que ele continuava a tagarelar.
Mas não ia permitir que isto me estragasse a disposição e concentrei – me no motivo que me trouxera ali e deixei o resto para quando estivesse recuperada da operação.
O dia da cirurgia chegou e, apesar dos riscos, estava excitadíssima para andar com tudo para a frente; dei entrada na sala de operações e quando acordei estava tudo terminado precisando de alguns dias para recuperar antes de voar de volta para casa.
A viagem de avião de regresso do Rio não deixou espaço para conclusões divertidas, pondo – me a imaginar o que iria fazer com as continuadas surpresas. Embora tentasse pôr as culpas de tudo à mossa da minha cara, assunto já resolvido, sabia e agora mais do que consciente, de que tinha usado essa circunstância como desculpa para a desonestidade de Romano. Prometendo a mim própria que as coisas passariam a ser diferentes a partir de então, decidi que não mais dedicaria todo o meu tempo a alguém em que não podia confiar. Ia agora deixar – me de análises porque não valia a pena, tal como também não me iria sentir magoada fosse com o que fosse. Portando viveria a minha vida e iria pensar como iria limpar a porcaria e ficar de novo sozinha.
Tinha agora tomado uma decisão; a minha vida não iria mais desenrolar – se à volta de alguém que eu amasse, na medida em que esse amor podia causar – me um grande desgosto. Iria portanto fazer desenrolar os acontecimentos à margem do amor que passaria a ser a minha rota e de modo nenhum viver a minha vida à volta dessa pessoa. E, assim, quando Carla sugeriu que começássemos a escrever um livro sobre a nossa experiência com o Dr. Sousa Martins, rapidamente concordei e comecei a encontrar – me com ela depois das seis, precisamente quando Romano chegava a casa do trabalho.
No nosso segundo encontro não foi capaz de conter a cólera e insistia que seria para mim um problema continuando com ele e, para além disso, significava que tinha um caso. Mas tudo isto, caído em ouvidos surdos, era precisamente a sua maneira de tentar fazer – me provar que estava errado. Depois, se o problema dele era estar longe de mim, porque é que pareceu tão feliz quando foi para o casamento? E qual era o direito que lhe assistia, após ter – me afastado do seu negócio, querer envolver – se no meu? Mais uma vez não havia reciprocidade. Dali para o futuro o meu trabalho seria privado e os dias em que lhe contava tudo, para tudo ser deturpado até ao inconcebível e lançado na minha cara segundo as suas malévolas intenções, faziam já parte do passado. Bem, isto de unilateralidade não iria com certeza resultar, já para não falar na desonestidade.
Cada vez mais eu regressava a casa disposta a meter na ordem todo aquele previsível processo de gritos e abusos tais como o costume de obrigar – me a ficar calada a ouvir os seus disparates sem qualquer hipótese de expressar a minha liberdade de pessoa humana.
Cada vez se tornava mais desconfiado, tudo para ele era motivo de suspeição ou pretendia ser e, por isso sentia – me no direito de provar que estava errado. O meu telefone e computador eram os seus alvos principais e nessa mesma tarde mais do que nunca. Para além disso, deixei a janela do meu Windows aberta com a conversa que entabulara com um amigo de além – mar. Na interlocução discuti o que tinha descoberto no Rio entre outras coisas mas, acima de tudo, que ia abandonar esta situação desgraçada e ir – me embora após a sua partida para o casamento em Itália. Romano não mencionou o que lera mas eu sabia que o tinha feito na medida em que a janela do MSN estava numa escala larga diferente da pequena em que eu a havia deixado. Mas como a viagem era demasiado importante negou tê – lo feito.
Finalmente, uma noite, aliviei a pressão que tinha dentro de mim ao mencionar a conversa em relação à sua ex. Como de resto era fácil de prever, foi rápido a defender – se dizendo que durante um ano em que andara a viajar tinham feito um intervalo no seu relacionamento. Como gostaria de acreditar! Mas estava precisamente a contradizer – se. E a sua história da ”palma da mão e suas filhas?” Mas nem sequer mencionei isso. Em desespero de situação sugeriu que ligasse para a sua ex e lhe perguntasse. Não esperando que o feitiço se virasse contra o feiticeiro, enviei – lhe uma mensagem a perguntar se se lembrava de um “intervalo” na sua relação com Romano.
“Olá. Em resposta à sua questão posso asseverar que não, que nunca fiz qualquer intervalo no meu relacionamento com ele.”
Romano, sem saber o que dizer, insistiu então em afirmar que se não cortaram durante aquele período é porque não viajou nesse ano. Para qualquer outra pessoa esta resposta poderia parecer idónea mas, para mim, era apenas desperdício de palavras já que era mais do que usual a sua ex passar meses com a família que vivia no estrangeiro. Era pura e simples desculpa sem pés nem cabeça.
Aproximava – se o casamento e o inferno em que vivia tornava – se mais insuportável e, por isso, tomei a decisão de, logo que chegasse a casa, lhe dar a notícia de que me ia embora. De algum modo a minha atitude não me doeu tanto como das vezes anteriores pois já estava farta o suficiente dum relacionamento doente e agora convencida de que ele tinha tentado mudar o melhor de mim; o eu original e a pessoa por quem se tinha apaixonado, se realmente era verdade.
Quando regressou do trabalho, pedi – lhe para se sentar afim de lhe transmitir a notícia. Assim que ouviu dizer que o ia deixar vociferou:
“Sua grande puta. Vais voltar ao teu trabalhinho, não é? É por isso que te vais embora! Não é? Não é verdade, Diana?”
Quanto mais eu argumentava mais zangado ficava agarrando – me a cara com os dedos enquanto eu estava ali caladinha. Por fim não aguentei mais e gritei – lhe para parar o que caiu e saco roto. Queria apenas que estivesse ali sentada, sossegadinha e humilhada até que não pudesse aguentar mais. Subitamente voltei a ameaçá – lo:
“Romano, pára com isso. Se continuas vou começar a partir as tuas coisas tal como tu partes as minhas. Acalma – te, por favor.”
Mas continuava e, desesperada, peguei no cinzeiro de ferro que estava em cima da mesinha do café em frente e, quando estava prestes a arremessá – lo, de encontro ao ecran do seu computador, empurrou – o contra mim até me obrigar a cair em cima do sofá. Tentei levantar – me mas, a minha pulsação, quadruplicando, fez – me entrar em pânico e tive a sensação de que ia desmaiar. Mas não obstante o estado que patenteava, continuou a insistir. Corri para o meu saco e para o meu computador mas agarrou – me e atirou – me para fora da porta, sabedor de que não podia partir para lado nenhum, pelo menos sem o meu saco. Bati à porta, mas não respondeu. Era dono e senhor e precisava das minhas chaves. Num acesso de fúria olhei para a porta de madeira e, sem pensar mais, bati no painel superior obrigando – o a correr para ver o que se passava. Enquanto não recuperou do espanto corri a buscar o saco mas não encontrei maneira de agarrar o computador sem ser detida e tive de o deixar.
Enquanto conduzia de pulsação acelerada, aflorava – me a noção de que tinha de encontrar uma maneira de recuperar o meu computador antes que Romano fizesse alguma coisa estúpida por vingança. Uma coisa era certa; se voltasse atrás nunca conseguiria escapar, se mandasse um amigo seria ainda pior. Só havia uma opção, a polícia; asssim, dirigi – me à esquadra local.
Quando cheguei fui abordada pelos mesmos homens que nos atenderam naquela situação com o louco do Miguel. Embora embaraçoso foi uma sorte dos diabos pois doutro modo teria de apresentar queixa para ser acompanhada, e essa era decididamente a última coisa que eu queria fazer.
Quando chegámos a casa pus – me atrás dos dois agentes quando bateram à porta. Romano abriu, olhou para ao polícias e depois para mim e como um louco, começou a gritar com quanta força tinha pensando que eu fizera uma queixa oficial. Os agentes mandaram – me entrar a buscar o meu computador enquanto tentavam convencê – lo que não fizera nenhuma queixa oficial mas não queria ouvir e quando me dirigia para o carro continuava a gritar:
Essa tipa é uma grandessíssima puta, é o que ela é, uma tagarela e refinadíssima puta. É só marcar a hora. Vá, façam a vossa oferta e que ela está à vossa disposição! …
Completamente incrível, aquele palhaço, a alertar – me mais ainda, se possível, para o facto de que não era de confiança apesar de ter pedido desculpa e afirmar que o incidente à mesa de jantar com Simon não se repetiria. Entorpecida, vazia, liguei a ignição e dirigi – me para casa da minha mãe pensando voltar e levar as roupas quando Romano estivesse ausente no trabalho.

O nosso homem empregou o mesmo procedimento de sempre. Mensagens, telefonemas e todo o resto. Às tantas surpreende – me com a sua presença quando os meus pais estavam ausentes a fazer compras. De lágrimas nos olhos, pede – me para voltar. Tratei de mudar de assunto para me assegurar de que tudo iria ser diferente mas estava a ser difícil conter os sentimentos enterrados dentro de mim.
Cerca das dez da manhã depois dos meus pais chegarem levantou – se da cadeira em que estava sentado e polidamente disse que ia para casa.
No dia seguinte, novamente os seus textos mensagens que do ritmo hora a hora anterior se reduziram até agora a dois; um de Romano a perguntar como estava e o outro meu a responder que me encontrava bem. Depois, perguntou o que estava a fazer e, como de costume, contei – lhe a verdade mas, de novo e ao mesmo tempo, pensei que ser honesta era a pior coisa que podia ter feito provocando – lhe uma cáustica e imediata resposta:
“Estás com esse bastardo outra vez, o pior dos bastardos que te apareceu nessa tua vida. Esse teu cliente, claro!
Desliguei imediatamente ante os seus berros que até logrou olhares de pasmo das pessoas que ali se encontravam a jantar. Era sempre a mesma desculpa com Simon, o mesmo repetido cenário em que a mesma faceta se lhe revelava como um disco que se grava e é impossível de alterar. Se não lhe tivesse dito com quem estava continuaria a insistir que era o Simon como previsto. O que não era conjecturável era que telefonasse à minha mãe que por seu turno me ligou:
“Diana, onde é que tu estás e o que estás a fazer?”
“Eu disse – te, mamã, que vinha jantar com Simon. Porquê, qual é o problema?”
“É isso. Esse homem é a razão das vossas desavenças. A culpa é inteiramente dele.”
Envergonhada e confusa com a sua atitude desliguei o telemóvel. Sabia com quem estava a jantar já que por cortesia mencionei o facto antes de sair pois ela conhecia Simon havia anos. Mas precisava de uma desculpa para se justificar ou, de preferência, para justificar Romano. Ele tinha – lhe infestado a cabeça de histórias imaginárias para angariar o seu apoio. Foi precisamente nessa altura que pensei que não poderia haver mais decepcionantes mentiras ou surpresas do que esta mas o pensamento de envolver a minha família voltando – a contra mim deu – me voltas ao estômago.
Desculpei – me, despedi – me de Simon e sem me preocupar onde iria ficar, regressei a casa da minha mãe buscar as minhas pertenças. Uma coisa era certa, ninguém me iria falar ou tratar como ela fez, deixando – me com o sentimento de ter sido completamente traída.
Quando cheguei toquei a campainha e, sem dizer palavra passei por ela em direcção ao quarto e acabei de arrumar a mala ainda só meia desfeita para me dirigir para o carro. Então começou a barafustar para o meu pai mas, profundamente magoada, ignorei – a e desci rua abaixo.
Não fazia a mínima ideia para onde me dirigia mas o que era certo era que nunca me tinha sentido tão sozinha e abandonada na minha vida. Aqui estava eu a viver de uma mala de viagem, sem dinheiro, apenas cartões de crédito para comer e nenhum sítio para onde ir. Como iria dar volta a isto?
Na medida em que deslizava estrada abaixo divisei o hotel Íbis e tomei a saída mais próxima permitido – me acesso ao parque de estacionamento. Era esta uma escolha fácil para uma noite mas estava confrontada com a necessidade de arranjar algo a longo termo e comecei a desenrolar a lista de contactos do meu telemóvel. Parei em João.
Como de costume encontrava – se longe com as amigas, mas, como sempre, não me deixou ficar mal dizendo que alguém se encontraria comigo no seu apartamento afim de me dar as chaves no máximo de uma hora. E lá fui eu direitinha à Amadora.

Estar em casa de João era um grande inconveniente para mim para trabalhar pois que tinha de viajar até Carcavelos todos os dias e a gasolina e as contas astronómicas provavam que ficava praticamente tão caro como uma renda. Mas não podia arrendar nem nos meses mais próximos pois que tinha de pagar as dívidas da operação e o dinheiro que fazia do meu negócio de import era suficiente para começar a pagar a Pedro.
Quando conduzia afim de ir buscar o correio à casa de Alex, Romano telefonou a insistir para nos encontrarmos ao pé do Restaurante que eu frequentava. Quando cheguei, estacionei o carro por perto e entrei para o dele como me havia sido pedido.
“O que estás a fazer, Diana, porque me fazes isto? Anda para casa.”
Perante a minha contínua recusa o seu tom de voz mudou abruptamente e começou a gritar exigindo que me pusesse a andar do seu carro. E assim fiz, apenas para ser chamada de regresso o que ignorei e entrei para a minha viatura.
Entre o barulho citadino olhava distraidamente para os clientes que almoçavam no restaurante e, prestes a ligar a ignição e alhear – me da embaraçosa situação vejo repentinamente Romano a instalar – se no assento do passageiro, a gritar como um doido e a bater com o punho no painel de instrumentos. Subitamente dá um soco no espelho retrovisor obrigando – o pela inércia criada a bater violentamente no pára – brisas que acabou por partir. Irada e quase louca, apanhei o espelho que ficou debaixo dos meus pés, saí do carro frente à audiência que se gerara ante o espectáculo à borla e atirei – o violentamente contra o carro dele mas, infelizmente, ressaltou sem consequências.
Alarmado com a minha reacção, entrou para o carro e pôs – se a andar mas quando entrei no meu cheirou – me a chamusco. Tinha negligenciado a ponta de um cigarro acesa no interior do veículo e o fumo que se originara vinha de debaixo do assento do passageiro que, por azar, estava encravado forçando – me a correr ao restaurante pedir um copo de água para o apagar.
A fúria daquele estúpido animal custou – me nada mais do que um pára – brisas, um espelho retrovisor, trabalhos de instalação eléctrica avariados pela água e grande aperto; e ele, como de costume, a rir – se sem qualquer desarranjo.

CAPÍTULO 18

Duas semanas se haviam escoado desde que me mudara para casa de João e Romano continuava com a mesma estratégia; primeiro lindas e doces mensagens de amor depois ásperas, maldosas e cruéis após todo o resto ter falhado.
Um certo dia em que me apanhou particularmente em baixo e dizendo a coisa certa no momento certo, convenceu – me a ir jantar com ele.
Ao jantar ninguém iria imaginar que era aquele o homem responsável por um comportamento como o dele ainda há bem pouco tempo e palavra puxa palavra e um copo de vinho leva a outro e eis que antes de me dar pela conta acabei por me encontrar a ir para casa com ele.
Mal passáramos a ombreira da porta conduziu – me para o sofá iluminado pelo doce odor de milhentas velas que ardiam no chão como que prevendo o meu regresso. O morno e acolhedor quarto cheirava divinamente e a música de fundo criava o ambiente ideal para fazer amor.
Como um hóspede, levantei – me polidamente junto do sofá esperando ser convidada a sentar – me. Subitamente aproximou – se de mim, colocou – me suavemente as mãos na cara principiando a beijar – me apaixonadamente; primeiro na boca, depois na face para depois, suave, lentamente como se fora um sonho, com mordidelas pequeninas ir passando pelo pescoço, mas não o deixei continuar o seu percurso. Naqueles escassos segundos, a minha impaciência chegou ao rubro e o que eu desejava era tê – lo dentro de mim intensa, prodigiosa e perdidamente, sentindo – me como se de novo fosse a sua pertença; os meus mamilos já formigavam com as vibrações enquanto me desapertava a camisa e de tal ordem era a fogueira que me estava a consumir por dentro que me agarrei a ele, atirei – o para cima do sofá despojando rápida, violentamente o corpo de toda a roupa antes de me lançar em cima dele. Transbordante de desejo, comecei por lamber – lhe o peito, depois o pescoço e a cara antes de lhe pegar gulosamente no pénis e o introduzir na minha vagina.
Enquanto pressionava a minha pélvis para o sentir bem cá no íntimo do meu ser, olhava – o bem dentro dos olhos para lhe observar o prazer acumulado num orgasmo tremendamente apaixonado. Depois, o pensamento de todas as sensações inibidas pela ausência e que amontoara no estômago transformavam – se rápida, simultaneamente num intenso e relaxante clímax.
Apenas no dia seguinte a realidade me bateu estrondosamente à porta obrigando – me a despertar de tão bonito sonho e constatar a doce – amarga realidade do regresso ao ponto de partida; cabeça, versus positivo, coração, versus negativo. Dirigi – me para a varanda do cimo das escadas e comecei a enviar mensagens para os meus amigos enquanto Romano se entretinha a ver o que o distraía no DVD ao fundo das escadas. Passado um bocado aproximou – se da porta e fez outro comentário fazendo – me ressentir do facto de estar de volta.
Três horas depois voltou e, como de costume, começou a vomitar o seu estúpido vocabulário em fúria. Eu mantive-me silenciosa levando – o a agarrar nas cadeiras do jardim e atirá – las de zangado. Embora surpresa e amedrontada, mantive – me firme. O meu telefone tocou. Quando estava prestes a responder Romano tirou – mo violentamente da mão e arremessou – o através da varanda chutando – o depois quando eu estava prestes a apanhá – lo. Vermelho que nem um pimento e espumando de raiva, apontou o indicador para a porta e ordenou – me para sair antes de me voltar as costas e descer as escadas. Ainda apavorada esperei até o ouvir chegar ao fim antes de correr para o quarto de dormir a arrumar as malas.
Continuou a gritar do fundo das escadas até que por fim, não mais se podendo conter, correu ao quarto forçando a porta que eu tentava manter fechada. Tinha a expressão transtornada, diferente do usual, o verde – azeitona angélico apresentando uma acentuada vermelhidão de cólera e espuma acumulada nos cantos da boca. Continuava a chamar – me toda a espécie de nomes e a desejar – me o pior que alguém podia desejar, em seu demoníaco praguejar. Enquanto a sua ira crescia arremessou – me a mala contra a parede dando origem a que o conteúdo se espalhasse pelo quarto enquanto ao mesmo tempo exigia que emalasse tudo e me fosse embora. Mas de cada vez que eu tentava apanhar as minhas coisas fazia o mesmo serviço outra vez, fazendo – me temer o que ele seria capaz de fazer a seguir.
Por fim consegui escapar e trancar – me no quarto de banho. Seguiu – me e começou a pontapear a porta. Estava petrificada mas abri – a para imediatamente ser impelida contra a parede e mantida ali a empurrar – me e a pressionar – me a cara com a mão aberta. Um irreprimível sentimento de ódio se apoderou do meu ser forçando – me a avisá – lo que ia picá – lo se não se acalmasse. Voltou as costas e começou o caminho de regresso mas, repentinamente, parou e retrocedeu apontando os dedos em cima da minha cara de novo e depois deitou abaixo metade da roupa que tinha pendurada no guarda – fato.
Quando o ouvi escada abaixo corri para a varanda para apanhar o meu telefone e marquei o número da minha mãe pela primeira vez após o incidente do jantar. Ouviu – me falar e correu escada acima a insultar os meus pais e encurralou – me a caminho do hall deixando – me petrificada a vê – lo olhar para as molduras que guarneciam as paredes e a derrubá – las uma por uma, violentamente, para o chão.
Subitamente ouviu – se alguém bater à porta. Romano estava possesso demais para sequer se aperceber. Então, para meu alívio, ouvi a voz do meu pai a pedir – nos para abrir. Acalmou – se e correu para a porta.
O meu pai permanecia silencioso enquanto olhava à sua volta. Romano cumprimentou – o como se nada tivesse acontecido esquecendo naturalmente que tinha acusado a minha família de mentir a meu favor alguns minutos atrás. O meu pai continuou sem dizer palavra e seguiu – me através do hall, cuidadosamente, à volta do vidro esmagado e dirigindo – se para o quarto para ir buscar a minha mala. Quando saíamos porta fora Napoleão conseguiu escapar. Mandámo – lo para dentro já que não tinha onde instalá – lo. Conhecedor do facto, Romano fechou a porta. “E leva também a merda do teu cão. É problema teu”, gritou.
Fiquei em pânico mas o meu pai insistiu que o cão viesse connosco que não havia problema.
Romano manteve a sua conduta habitual; enviou mensagens e fez chamadas. Mas desta vez sentia – me mais determinada do que nunca a haver – me sozinha e sempre que sentia a falta dele lembrava – me da confusão em que estava metida, na pessoa em que me tinha tornado, e a desconfiança e as fúrias geraram em mim a coragem suficiente para enfrentar os duros tempos que se avizinhavam.
Não fazia qualquer espécie de ideia de como iria pagar as novas dívidas e a prostituição voltou a entrar o meu espírito mas a minha história corria já todo o país forçando – me asssim a eliminar praticamente esta possibilidade.
Passei a maior parte do tempo com Carla pesquisando e juntando as nossas descobertas acerca do Dr. Sousa Martins. Neste domingo especial, decidimos ir trabalhar no moinho de Sintra na medida em que o tempo estava formidável e, como combinado, encontrámo – nos em a casa da mãe e daí dirigimo – nos para o carro dela e, ao olhar causalmente, apercebi – me que éramos seguidas por Romano à distância.
No regresso para casa da minha mãe recordou – me que tínhamos ambas esquecido os nossos computadores portáteis escondidos por baixo do assento do condutor, do carro dela, mas como era tarde e não tencionava trabalhar mais, decidi não lhe telefonar para a não incomodar já que a mãe vivia num seguro, sossegado arrabalde.
Na manhã seguinte Carla telefonou – me em pânico. Os computadores haviam sido roubados! Tinha ficado aquela noite em casa da mãe e acordou para descobrir um corte no plástico da janela traseira do carro. O mais estranho de tudo era que, embora houvesse documentos e dinheiro lá dentro, ficaram tal como deixados. Depois, os computadores estavam escondidos debaixo do assento. A juntar a toda esta confusão, o carro tinha permanentemente uma luz de falso alarme a piscar e só os nossos amigos mais chegados, incluindo Romano, sabiam, senão quem mais se iria arriscar a arrombar um carro com alarme no quarteirão tão sossegado como o da mãe dela? Em resumo, fosse quem fosse o autor do roubo desejava causar o menor número de prejuízos possível, assim, em lugar de abrir a capota do carro e causar mais despesas, cortou cuidadosamente o plástico substituível da janela!
Coincidentemente, Romano telefonou nessa mesma manhã dizendo que conseguira colocar o meu pára – brisas que me partira alguns meses atrás! Que coincidência, pensei e recusei a sua ajuda. Mas havia algo de mais estranho não obstante o facto do meu comportamento ser normal, ele insistia que havia algo de errado como se estivesse à espera que lhe desse as más notícias.
No dia seguinte fui a casa dele enquanto se encontrava no trabalho buscar os discos. Quando cheguei aproveitei a oportunidade para ir remexer o seu saco do computador portátil. Tinha rompido o meu alguns meses atrás e não usava o seu portátil já que o disco rígido havia sido partido há cerca de um ano mas, para surpresa minha, o saco havia desaparecido.
Nesse mesmo dia os meus pais compraram – me um computador e quando ele telefonou decidi contar – lhe o que se passava com o meu portátil. Fazendo – se admirado ofereceu – se para me trazer cópias de segurança. Quando lhe perguntei como as arranjara respondeu que eram do tempo em que o meu velho portátil tivera um vírus e que salvara a minha informação no computador dele. Mas lembrava – me muito bem de lhe ter pedido para apagar os meus dados do computador dele após o meu sistema haver sido reposto e ele ter respondido que o havia feito. Depois, quando trouxe as cópias de segurança, pareceram muito mais actualizadas do que do tempo do vírus!
Toda esta experiência era demasiada para ser coincidência. Em primeiro lugar, o facto de me chamar no primeiro dia para substituir a janela do meu carro e pesquisar a informação. Segundo, o desaparecimento do meu saco do computador. Terceiro, ele comprara o computador para substituir o meu antigo que havia partido e na altura do incidente da polícia havia – me dito que não o iria levar porque era dele. Era vingança? Quarto, tendo de gastar dinheiro num computador novo significava estar mais tempo em casa da minha mãe. E, finalmente, o programa de administração da minha companhia estava no computador! Se era dele, podia ser que me estivesse a dizer que resolvia o problema no respeitante aquela dupla factura que fizera de maneira estranha?
No dia seguinte Romano partia para Itália e pediu – me para tomar conta do seu novo cão na sua ausência. Concordei, dizendo que era uma boa altura para arrumar as minhas coisas e aproveitando a oportunidade perguntei se as podia lá deixar até encontrar para onde ir.
Cheguei a casa dele pouco depois do avião ter levantado voo e fui direita ao computador dele para ver o meu mail. Quando o abri, constatei que estava a ser monitorizado o que achei estranho especialmente após o meu portátil ter sido roubado. Depois tive a ideia de o pesquisar a ver se tinha mais alguma da minha informação e, por isso, chamei imediatamente um programador para me informar da maneira mais segura para o fazer sem que ele soubesse. Fiquei pasmada quando descobri os meus mais recentes arquivos e, para cúmulo, já estava a esquadrinhar os meus sites da web no respeitante à prostituição. Surpreendida, enviei – lhe uma mensagem a informá – lo que tinha encontrado aquele site embora não mencionasse mais nada. A partir daqui as coisas começaram a ficar feias e muitas mensagens mais insignificantes que eram trocadas por ambas as partes. Pela primeira vez dava na mesma medida em que recebia e, levada pelo respeito que lhe tinha, apaguei – as definitivamente.
Carla e Alex chegaram entretanto para ajudar a empacotar as restantes caixas. As suas mensagens continuavam ao ponto de ameaçar que se havia de dirigir a um primo meu de onze anos de idade e dizer a todos os seus parentes que aquele livro era a meu respeito! Ao ver a minha expressão perguntaram o que é que se passava e quando lhes mostrei a mensagem insistiram de que tudo devia ser retirado de casa antes do seu regresso. Mas ia chegar dali a dois dias e estávamos num fim – de – semana. Não havia maneira de arranjar onde armazenar e uma companhia de mudanças num tão curto espaço de tempo! Mas Carla insistia que não havia desculpa na medida em que podia guardá – las no seu quarto de arrumações e Alex chamou alguns amigos com um furgão.
No dia seguinte, a maioria das coisas tinha sido mudada deixando – me a mim, na luta contra o tempo, a tarefa de reunir biscatos e bocados precisamente antes da sua chegada na segunda – feira da parte da tarde.

CAPÍTULO 19

Romano permaneceu sossegado durante os primeiros dias após a sua chegada e a maior preocupação de momento para mim era arranjar um apartamento barato para o mês seguinte para lamentar o passo que tinha dado. Por outro lado, e ao mesmo tempo, os recentes acontecimentos estavam ainda mais que vivos na minha memória fazendo o desgosto prevalecer acima do sentimento de sentir a falta dele.
Dei comigo a passar cada vez mais tempo com os meus velhos amigos. Todos eles comentavam o quão insegura me tinha tornando, evidenciando o facto de que me havia transformado numa egoísta. E era verdade. Durante o tempo passado com Romano o meu valor individual volatilizou – se, desapareceu e passaria a estar sempre à procura de cumprimentos, a gritar silenciosamente por atenção, a atenção de que sentia falta de Romano.
Não foi há muito tempo que Romano começou com o seu previsível comportamento, mas sentia – me demasiado magoada para lhe ligar importância, fosse de que maneira fosse. Quando as suas velhas tácticas falharam passou a bater à porta da minha mãe, insistindo numa reunião de família. Esta reunião de família ocorreu pelo menos quatro vezes no espaço de uma semana e pela segunda vez fiquei a saber o programa de cor. Chegava com um monte de papéis e explicava aos meus pais a quantidade de dinheiro que me deu apenas para tentar averiguar o que é que eu tinha feito com ele. A soma incluía Molly e todas as transacções que havíamos negociado. Mas, convenientemente, não mencionava as despesas inerentes tais como o IRS ou o imposto sobre o valor acrescentado que eu ainda devia. Mas, tudo somado, nem sequer a factura que encomendara com o meu consentimento e era legalmente da minha responsabilidade na medida em que eu era a dona da companhia. A despeito de dizer que já a havia liquidado, e como a minha confiança nele não era mais que nula, teoricamente eu ainda devia.
Toda a situação se estava a tornar cada vez mais perigosa na medida em que, não só colocava números incorrectos em cima da mesa e discutia a minha vida pessoal com terceiros, pais ou não, mas começava a insinuar acerca da minha profissão passada patenteando – me que não me ia deixar alternativa e, assim, quer isso fosse difícil para mim ou não ia contar aos meus pais a verdade em toda a sua extensão.
Mas o ponto em que a maldade de Romano colocou as coisas não deixava muito para a adivinhar ou confirmar, portanto a tarefa não era tão custosa como à primeira vista poderia parecer. Assim, na vez seguinte em que, na sua maldadezinha veio para a tal reunião de família trazendo no programa do dia o meu passado e com Simon incluído, eu disse:
“Tudo bem, sim senhor, mas Simon nunca foi meu namorado durante quatro meses. Simon não estava à minha espera no quarto ao lado. Ou será que estava?”
O nosso homem quase que espalhava a morte na sua fúria pois nunca esperaria ouvir tais declarações da minha boca. Era tudo tão diferente de quando me podia encurralar contra uma parede! Mas agora as coisas haviam mudado e não lhe servia de muito a sua habitual estupidez
Aproximava – se a segunda semana desde que chegara a casa dos meus pais. Eu e Simão tínhamos combinado ir a uma feira nas proximidades do Porto e, por isso, decidimos partir na sexta – feira à noite e passar lá o fim – de – semana.
A feira era em tudo parecida com aquela que eu e Romano havíamos visitado diferenciando – se apenas numas leituras de hora a hora sobre medicina alternativa e que a transformava num interessante evento diário.
Pelas onze horas de sábado terminávamos a nossa visita e decidimos dar um saltinho ao pequeno bar da aldeia. Logo que encomendámos vimos, passados uns escasso minutos, o empregando do bar aproximar – se e estender – nos um pequeno balde com o Champanhe mais caro que havia na casa.
“Aqui tem, minha Senhora, da parte do seu marido”
O meu sorriso caiu ao chão quando nós os dois olhámos à nossa volta e vimos Romano sentado a um canto distante do bar, trajando de preto, na figura perfeita e estereotipada da personagem do mafioso. Ali estava eu com toda a minha vida de pernas para o ar e ali estava o “guarda-costas” a seguir – me à distância, a exibir – se e a comprar o mais caro champanhe. Peguei na garrafa, fui colocá – la em cima da mesa dele e, depois de lhe dizer para não se meter na minha vida, voltei para junto de Simon. Mas Simon achou engraçado começar a beber o copo que o empregado do bar lhe tinha enchido, e dirigiu – se para a mesa Romano para fazer um brinde. Respirei profundamente, emborquei o meu whisky em duas goladas e fui atrás dele.
Passada meia hora estávamos todos bêbados com tanto álcool por causa dos nervos e, a certa altura, Romano sugeriu que fôssemos a um clube. Concordei mas Simão, que estava a ficar farto das observações sarcásticas de Romano, decidiu ir procurar um quarto para passar a noite.
Quando finalmente saímos para fora do clube já me encontrava mais que intoxicada com misturas letais e a única coisa que irresistivelmente me apetecia era festa. E foi exactamente o que fizemos.
Toda a gente iria pensar que éramos uns rolinhos apaixonados e casados de fresco. De vez em quando as pessoas punham – se a mirar – nos de boca aberta sempre que acompanhava Romano ao WC dos homens. Mas da última vez um deles, um negro alto e vestido à ultima moda disse algo de insultuoso o que me levou a aproximar dele e pedir – lhe para repetir a graça. E fê – lo, repetiu tudo direitinho ao mesmo tempo que me agarrava o rabo furioso. Reagi logo com um par de socos e, num abrir e fechar de olhos vejo aproximar – se de mim um brutamontes de um porteiro, espadaúdo que, antes de perguntar fosse o que fosse, me imobilizou fazendo uma chave com os braços à volta do meu pescoço e, suspensa do chão, lá fui eu arrastada até ao cimo das escadas. Aqui, a minha fúria permitiu – me começar aos murros no energúmeno que pagou em moeda forte catapultando – me, com um pontapé no estômago, para a outra extremidade da parede. Levantei – me rapidamente e corri de novo para ele apenas para ser empurrada para trás pela multidão que esperava a sua deixa.
Repentinamente, enquanto os mirones me puxavam para a retaguarda, ouvi Romano a barafustar e a ser levado na mesma posição por um igualmente possante porteiro. Logo que foi libertado reagiu da mesma maneira que eu mas a multidão deteve – o e levou – nos para o fim da rua e, à luz de um candeeiro dei uma olhadela ao pescoço de Romano, tão vermelho como uma beterraba, enquanto lutava para recuperar o alento. Mas embora fôssemos obrigados a sair como animais, estava demasiado preocupada com a dor no meu estômago e puxei a minha camisola para cima. Os olhos de Romano escancararam – se quando viram a grande mancha púrpura da marca de um pé na parte de cima do meu ventre e imediatamente começou a insistir para me levar ao hospital e depois à esquadra.
Na manhã seguinte, quando acordei, encontrava – me ao lado de Romano numa residencial com uma descomunal dor de cabeça. A polícia não nos permitira apresentar queixa o que motivou o ressentimento de Romano que no caminho de casa não falou de outra coisa que não fosse em processá – los, não apenas os porteiros mas também a esquadra de polícia local.
Mas o facto era que, embora nos encontrássemos perto do Porto, estivéramos numa aldeia pequena no meio de nenhures onde cada um defendia o vizinho mesmo que isso significasse ir contra a lei.
O mais indescritível sentimento a deplorar surgiu quando nos aproximávamos de Lisboa. Embora Romano estivesse calmo, estava agora mais que sabedora de como aquelas palavras simpáticas e cumprimentos podiam amanhã ser transformados na mais destrutiva ajuda contra a integridade do meu eu.
Romano acreditava que tudo regressara ao normal após aquela noite mas, para mim, era o simples retorno ao presente; normal sim, o que significava sozinha e a lutar pela vida.
Quando chegou à conclusão que a sua actuação não fora aquele grande argumento que pensara, apareceu à porta dos meus pais uma vez mais para causar os distúrbios e escândalos do costume. Desta vez a sua grande habilidade foi trazer num saco de plástico um monte de pratos que eu lhe havia deixado e, quando chegou a casa dos meus pais arremessou – os de encontro à porta juntamente com uma arma carregada do tempo dos meus dias de trabalho que havia deixado lá em casa.
Furioso, para me obrigar a falar com ele, em numerosas ocasiões chegava à rua da minha mãe e começava a vociferar coisas acerca do meu passado. Em breve os vizinhos da minha mãe começaram a ficar preocupados com o seu comportamento o que significava que haviam presenciado e ouvido tudo acerca da minha vida. Mas o embaraço não se quedou por ali. Uma ocasião seguiu – me até a um bar muito movimentado. Passados uns minutos começámos a discutir de uma maneira tal que lhe virei as costas e dirigi – me para a mesa onde estava com os meus amigos. Foi atrás de mim e sentou – se ao lado de Simon para a seguir o insultar frente a todo o grupo. Os insultos subiam progressivamente de tom até que conseguiu reunir o bar inteiro à nossa volta para, em silêncio, o ver continuar a vociferar e ouvi – lo dizer que me tinha dado tanto dinheiro para acabar na prostituição e, acima de tudo, que a minha vida lha devia a ele. Já nem sabia onde me meter e, dado um tal assunto ser por demasiado embaraçoso, envergonhava também os meus amigos por estarem ali comigo e o próprio povo se sentia constrangido a ouvir aquela parvoíce toda a respeito da minha vida particular, pretexto já por demais usado e senti pena de toda aquela gente por se sentir embaraçada por minha causa.
Era praticamente meia-noite e continuava a seguir – me o que me deu subitamente a ideia de passar pelo edifício do pai, estacionar o carro naquele bairro residencial de classe superior dirigindo – me para a enorme recepção onde fiquei à espera sentada. Romano hesitou, conduziu em círculos antes de reunir a coragem necessária para estacionar e entrar. Como eram diferentes as coisas agora! Começou a falar numa doce e diplomática voz afim de não perturbar o recepcionista que se encontrava no canto oposto. Isto enfureceu – me após todo aquele embaraço a que ele me levou e à minha família. Quando percebi que voltava à mesma conversa de sempre, levantei – me e fui – me embora. Quando entrava no meu carro, reparei que havia estacionado em frente do carro da madrasta, um formidável descapotável completamente novo e tudo o que fizera em casa da minha mãe começou a tomar forma no meu espírito e sem pensar nem mais um segundo descarreguei a minha raiva no carro da mulher arranhando – o ao passar e dando cabo da pintura. Depois telefonei ao pai para dizer que era responsável pelos estragos feitos e ponto por ponto a razão porque o tinha feito antes de lhe pedir para me apresentar a conta. O pai compreendeu as minhas acções e estando agora sabedor de que eu era capaz de pagar na mesma moeda disse – me para esquecer a reparação de que ele tomaria a responsabilidade.
Na semana seguinte consegui encontrar um apartamento pequeno e barato e decidi – me a ficar com ele e poucos dias depois tinha as minhas pertenças transferidas de casa de Carla. Romano seguiu – me durante a mudança e andou a rondar o edifício até se fazer de noite. Então voltei a telefonar ao pai. Pediu – me para me encontrar com Romano insistindo que as hostilidades tinham que parar e concordei, com a condição de ser a última vez.
No dia seguinte Romano chegou ao meu apartamento uma hora antes do combinado, sentou – se e começou a ler uma carta que havia escrito previamente. Desliguei em paga das vezes que ele também ignorara as minhas preocupações ao ponto de as interpretar como meras ameaças. Resultado, fui – me embora quando ele menos o esperava. Porque que é que havia de agora prestar atenção ao que ele estava para ali a ler, principalmente após todas aquela humilhação e desonestidade que recentemente me havia feito passar?
Fomos interrompidos por uma chamada do senhorio. Tinha acabado de tentar receber o cheque que eu lhe passara mas o banco não pagava. Comecei a ficar nervosa na medida em que me soava aos meus dias de prostituição. Quando desliguei Romano perguntou se havia algum problema. Recusei informá – lo e insisti para que se não se preocupasse. Mas antes de se resignar a deixar – me em paz pôs – se à minha disposição para o caso de precisar alguma coisa. Era só telefonar – lhe. Tudo bem, pensei. Se não fosse por lhe ter dado ouvidos e aos seus negócios não estaria nesta situação e ante o pior cenário possível e encontrar – me – ia ainda a trabalhar e a pagar as minhas dívidas se é que não estariam já saldadas.
Romano arrefeceu por um tempo mas, quando eu menos o esperava, tudo começou de novo. Contratei um advogado para tratar do divórcio mas como tínhamos estado casados por um tão curto espaço de tempo as coisas eram mais complicadas muito embora possíveis. E o “quanto me deu”, no modo como ele pôs as coisas, levou – me a ficar curiosa em descobrir se a factura por saldar que ele tinha dito que ficava a seu cuidado e se de facto não ficou poderia um dia ver assombrar – me no futuro, portanto combinei com o meu advogado escrever – lhe uma carta contendo toda a informação que ele me havia dado, segundo as suas palavras eliminar a minha companhia da responsabilidade de tal factura. Uma carta posterior foi escrita afirmando que ele havia concordado em pagar o IVA em prestações mensais, também, como me havia feito crer.
Para não variar, Romano ficou furioso com as cartas e recusou assiná – las, provando que havia muitas mais coisas escondidas do que eu pensava no que dizia respeito à factura o que estava perfeitamente correcto ter – me preocupado com o facto. Tudo somado, eis – me frente a uma dívida de 35,000 euros pendurada à volta do meu pescoço, mais taxas, embora quisesse levar – me a pensar o contrário.
Mas esta recusa em assinar, pelo menos a primeira carta, foi uma maneira excelente para contribuir para a minha cura e recuperação mental. Fez – me ver que, de facto, tinha as minhas razões para duvidar dele, a minha intuição estava absolutamente correcta acerca de tudo e, para além disso, era uma pessoa de quem era absolutamente necessário desconfiar – se. Embora concluindo de que tinha toda a razão no que dizia respeito às ofensas resultantes do nosso relacionamento fiquei, no entanto, cheia de enorme força de vontade para de novo passar a acreditar em mim e deixar toda essa insegurança que ele criara acerca do meu carácter ou, pelo menos, tinha começado a fazê – lo.
E lá vinha, insistente, a recordação de como me havia alienado a personalidade até aos ossos. Cada grama da minha carne e carácter era mutilada a um ponto tal que, se um homem dissesse alguma coisa de simpático a meu respeito, estava, na minha imaginação doente, a mentir ou, simplesmente, a tentar levar-me para a cama. E se o facto não era esse, então era minha a culpa por o levar a pensar que mais não era necessário do que “um burro e um bom para de tetas”. Outras vezes, se não era por causa dos meus atributos físicos, era devido à minha personalidade; invariavelmente pura contradição e, ao longo do percurso, cada parte de mim era atirada ao chão com as suas palavras; a minha alma, o meu corpo e todo o meu ser, ao ponto de que já não sabia o que estava a acontecer e continuava girando para uma auto – destrutiva depressão. Cheguei a um ponto que até tinha medo de ser amiga do meu eu já que podia ser interpretado como maneira de levar os homens. Todos os meus princípios e valores que eram a base da minha existência; honestidade, fé e individualismo eram lançados para fora de mim fazendo – me ir contra eles para conseguir dar na mesma medida em que recebia. Apercebendo – me de que havia algo que não estava certo e não sendo capaz de compreender o quê, tornava – se agora evidente. Estava a tornar – me numa concha sem personalidade.
Cada vez mais me interrogava porque me casara e havia agora uma luz a iluminar –me a resposta até aqui obscura.; era a minha crescente insegurança acerca de tudo o que me rodeava e, acima de tudo, falta de valor pessoal. Mas chegava agora a altura para a mulher que todos costumavam chamar de forte, confiante e lutadora, a mulher que era contra aqueles casamentos ocos, apenas de conveniência, ressuscitar para a realidade mais forte do que nunca vencendo os desafios psicológicos que muitas contrapartidas haviam de tentar fazer.
Como Romano sabia que não lhe ia pedir para assinar a carta, arranjou logo um pretexto para ficar desconfiado e recomeçar as suas sessões de textos – mensagens a acusar – me de dormir com todos os meus amigos e insistindo que eram só meus amigos para me levarem para a cama não obstante o facto de que muitos deles haviam sido meus correspondentes desde a chegada ao país. Lembro – me perfeitamente dos dias em que o encontrei e disse:
”Dinheiro não é poder… Dinheiro é poder, sim, mas apenas temporariamente. O poder real, o verdadeiro poder vem de dentro. Esse é que é o verdadeiro poder.”Bom, era vergonhoso não ter acreditado em mim e ter – me desafiado. Razão? No fim de contas não era o amor que o enlouquecia, era simplesmente o facto de querer ter provado que estava errado. Estava a recuperar o meu normal, tal como me havia encontrado e foi esta a maneira de o deixar. Tal como tentara fazê – lo compreender, bem como a toda a gente de que “o dinheiro não pode comprar tudo”. Desafiou – me e durante o processo tentou destruir o meu poder interior mas fui eu a vencedora já que o poder cá de dentro ia ficar mais forte com a próxima derrota.

CAPÍTULO 20

Não obstante ter – se negado a assinar as letras legais, Romano continuava a fazer os pagamentos de IRS mensais até Dezembro mas o seu preocupante comportamento persistia.
Com a aproximação do Natal, tirei partido do espírito da quadra, e pela primeira vez em anos visitei os clubes locais nos fins-de-semana. A perícia de Romano em seguir – me os passos contribuía para o meu desprazer como se de uma praga se tratasse, a um cantinho do clube lá estava o galã ávido de controlar todo e qualquer dos meus movimentos.
A maior parte das vezes ignorava – o mas havia outras em que o nível do álcool atingia o máximo, de modo que os meus sentimentos reprimidos davam um salto para a superfície dando como resultado irmos para casa juntos como os melhores dos amigos. Mas logo que se apercebia que as coisas nunca mais iriam ser como ele desejava, um outro argumento havia de partir da sua imaginação fértil, da sua estratégia exímia que lhe fazia ganhar força e poder.
Quando chegou a véspera de Natal, não nos falávamos há uma semana. Ao meio da tarde telefonou – me e pediu para abrir a porta pois queria deixar os seus presentes de Natal. Achei bizarro mas, no entanto, abri para o deixar entrar e, cumprida a missão, foi – se embora, passando pelo meio dos presentes que praticamente semeara pelo chão, com cara de caso.
Não podendo conter – se mais do que meia dúzia de dias, eis que escreve uma mensagem que dizia o seguinte: “Nem dá para acreditar. Nem um mísero cartão de Boas Festas. ”
“Muito bem. Mas não é assim tão mau como o que me fizeste sentir no dia do meu aniversário. Nem um simples cartão de parabéns”, respondi.
Ficou furioso ao ponto de começar a aldrabar e a insistir que era mentira mas, infelizmente, lembrava – me nitidamente dessa noite.
Estávamos agora a 23 de Dezembro e, previsivelmente, lá estava Romano na área VIP com a sua garrafa de whisky a vigiar – me como um falcão. Quando já não podia conter – se mais, aproximou – se e fez uma cena que chamou a atenção dos homens da segurança que imediatamente o avisaram para se pôr a andar e já não era essa a primeira vez. Quando cheguei a casa encontrei – o sentado no seu automóvel frente ao meu edifício com a música mais alta do que a do clube. Felizmente que estava a vomitar e não se apercebeu da minha chegada permitindo – me ir para a cama a ouvir a sua música até que por fim se foi embora pelas cinco da manhã.
No dia seguinte de manhãzinha ligou – me, mostrando – se inquieto e avisou – me para não me fiar nas pessoas, na medida em que são simpáticas pela frente embora odiando – me. Sinceramente não sabia de que diabo estava o homem a arengar nos seus disparates mas em breve descobri que se estava a referir ao homem da segurança, Ricardo.
Acontecia que Ricardo era o melhor amigo de Oley e que me tinha ajudado no dia do tiroteio naquela história fugaz do meu bordel. Havia – o apresentado a Romano no passado e comentado acerca da sua bela aparência. Mas o fim da linha para ele era não poder aceitar que alguém que lhe tivesse apresentado ter aparecido em minha defesa, portanto tentava veementemente tornar – me paranóica e voltar – me contra ele pois teimava em fazer – me acreditar que me estava a defender contra Ricardo em lugar de admitir que era precisamente o contrário do que me queria, maldosamente, penso, fazer crer. Mas aquela ingénua que eu era, fazia já parte da História e podia ver através da sua malévola táctica que tentava fazer – me perder a auto – confiança e jogar – me contra os que me apoiavam. De certo modo acabei por começar a acreditar que, devido ao facto de que continuadamente me dizia que os homens só falavam para mim por uma razão, deve ter acreditado que Ricardo me defendia imbuído das mesmas intenções e, o facto de eu ter dito que tinha uma boa aparência acabara por provar em sua imaginação doente que constituía enorme ameaça.
Quando lhe perguntei se era a único fundamento do telefonema, acabou por contornar a questão, que a razão da chamada era para me avisar que me ia arranjar o meu sistema estéreo que, facto deveras engraçado, tinha deixado de funcionar havia já uns meses! Mas nada já me surpreendia e concordei que viesse.
Quando chegou, pediu – me as chaves para levar o carro e resolver o problema mas em lugar disso acabou por trazer um rádio novo e começou a instalá – lo o que comportou algumas horas e quando me apercebi, eram quase nove horas da noite dando como resultado acabar por passar a véspera de Ano Novo com ele.
Isto era para marcar o ponto de partida do relacionamento e como Romano alugara recentemente um apartamento novo com grandes varandas sugeriu que levasse Napoleão que ainda se encontrava com a minha mãe para a sua casa afim de fazer companhia ao cão dele. Concordei e lá fomos nós. Quando chegámos demos com uma cara familiar no corredor. Era um homem alto e belo que rondava pelos trinta anos que frequentava um dos bares locais onde também eu ia, há cinco anos, mas ainda não tinha dito nada a Romano e, educadamente dissemos boa noite.
O seu novo apartamento era deslumbrante e de algum modo podia interrogar – me porque é que se mudara mais cedo se ainda tínhamos um mês de renda paga na outra casa? Respondeu que estava excitado e que não podia esperar fazendo – me pensar como é que alguém que estando a pagar em caixa o IVA até Dezembro gasta por sua alta recreação cerca de 3 000 euros para arrendar dois lugares simultaneamente naquele mês? Mais, dado todos os nossos problemas e pagar prestações ao banco, podia ao menos arrendá – lo para, no mínimo, cobrir os custos fazendo, assim, qualquer um pensar que dinheiro não era problema. Mas para onde é que fora o seu dinheiro no passado, quero dizer, quando ainda era meu cliente e em que se encontrava numa situação difícil e despendia comigo uma média de mil euros por mês sem contar com outras que eventualmente visitava? Portanto, o que eram 500 euros para pagar o IVA? Tinha sido levada a acreditar que as coisas estavam difíceis mas, como de costume, não sabia nada acerca do negócio do meu marido, simplesmente sabia do meu o que me dava conhecimento cabal de que se haviam escoado dois anos e aí estava eu a braços com todas estas novas dívidas. Fez – me então pensar que para cobrir todos estes custos estava a ganhar extremamente bem, contudo tinha tido sempre o problema de pagar menos de metade destes custos no passado. Assim para onde ia o dinheiro?
Quando exprimi o meu desagrado porque havia recusado assinar a primeira carta que dizia respeito à factura, disfarçou o caso dizendo que a carta estava mal escrita e podia incriminá – lo. Não compreendi, de facto, a razão a despeito do facto de ser o que a carta de Romano queria que eu fosse conduzida a acreditar.
Cheguei imediatamente à conclusão que nunca poderia ser feliz ou, de facto, ser eu própria com este homem que tanto me fizera sofrer, que tentara mudar – me a personalidade e ainda se lamentava dizendo que eu não era a pesssoa por quem se apaixonara. Embora o meu coração o desejasse, a minha cabeça lutava contra a tortura posterior, portanto procurei evitar o relacionamento e continuar a acamaradar com os meus amigos onde me encontrava. Isto fê – lo ficar furioso na medida em que pensava que tinha o direito de poder entrar e sair nos meus aposentos à medida dos seus desejos, não obstante ter a sua vida privada na sua própria casa e escritório.
Nessa mesma noite Romano apareceu extremamente feliz. Tinha acabado de receber notícias de que o negócio se fundira com uma gigantesca multinacional o que significava que estava a algumas semanas de se tornar multimilionário. Fomos interrompidos por uma chamada do meu senhorio a avisar que tinha uma vaga num apartamento maior mas decidi – me a continuar com o mesmo até me endireitar. Mas, como estava a achar a atitude dominante de Romano inaceitável e queria descobrir exactamente o que lhe estava a passar pela cabeça, simulei ter ficado contente, agradeci ao senhorio dizendo que lhe telefonaria pela manhã.
Imediatamente Romano me perguntou quais eram as boas notícias como se não tivesse assistido à conversa e acrescentou:
“Mas isso é fantástico! É um excelente negócio. Acho bem que sim que fiques com ele. Ajudo – te a fazer a mudança”
Era exactamente isto que queria ouvir para confirmar que tinha razão. A única diferença era na interpretação: não eram “macaquinhos na cabeça”. O tempo provaria que em nenhum dos casos eram macaquinhos no sótão mas apenas a crua realidade. Romano estava verdadeiramente feliz com o acordo e achava que tinha o direito de ter a sua própria privacidade, esquecia – se de que aos outros lhes assistia o mesmo direito e, devido a esse pseudo – esquecimento tentava imiscuir – se nos meus assuntos privados, portanto onde não era chamado.
Inevitavelmente que um argumento chamava outro. Não tive a força, a energia ou a paciência para suportar mais das suas prepotências e disse:
“Estou na minha casa, sai”.
Romano andava à procura de Napoleão alguns dias após que nos zangámos e como decidira ignorar a sua táctica maléfica de virar a situação a seu favor, passou a usar Napoleão como meio de me fazer reagir.
“Tens uma hora para deixares o que estás a fazer e ir buscar o filho da puta do teu cão”.
A princípio pensei que estava a brincar mas como os minutos passavam e as ameaças continuavam cheguei à conclusão de que estava a falar a sério e imediatamente chamei o meu pai para me acompanhar na medida em que sabia que se fosse sozinha nunca seria capaz de deixar a torturante situação. O meu pai estava em Lisboa mas tendo presenciado alguns acessos de cólera de Romano partiu imediatamente.
Quinze minutos para ir e as ameaças começaram a incrementar. Cinco minutos para ir e o meu pai ficava ainda com dez minutos de viagem por fazer.
“Imagina só o que vai acontecer ao teu bebé se não chegares a tempo, Diana”, escreveu. Subitamente aparece o meu pai no lugar que previamente havíamos combinando. O telefone tocou e pedi a meu pai para responder.
“Tem menos de um minuto para chegar aqui. Eu avisei – a.”
O meu pai continuou calmo e informou – o que nos encontrávamos perto enquanto eu carregava no acelerador.
Ele tinha dito que quando chegássemos ao bosque eu permanecesse sossegada no carro enquanto o meu pai iria buscar o animal. Desavergonhadamente e com voz de mafioso aproximou – se da minha janela e começou a lançar variados objectos à minha cara mas estava demasiado nervosa para prestar atenção e logo que o meu pai e Napoleão entraram no carro carreguei no acelerador e arranquei.
A contínua perda de controlo de Romano conduziu – o a adoptar o mesmo comportamento de novo mas desta vez o meu apartamento era o seu principal objectivo. Não só passou várias vezes de automóvel, como chegou sem ser convidado à porta a gritar e a forçar a entrada.
A princípio deixava – o entrar para evitar perturbar a vizinhança com as suas cenas mas quando lhe não ligava ficava doido tocando a campainha do apartamento continuamente por 5 ou dez minutos de cada vez. Algumas vezes apercebi – me que se ia embora para o carro e que a campainha continuava a tocar para só depois notar uma moeda encravada para o efeito. Acabei por perceber como é que conseguia entrar no edifício, pois ao ouvir um clique na fechadura lembrei – me que me pedira as chaves para me arranjar o estéreo. Teria sido essa história uma ardil inteligente para conseguir as minhas chaves? Imediatamente mudei a fechadura.
As suas ameaças continuaram até ao incrível e quando passou no carro e constatou que não estava sozinha, começou como um louco a bater à porta e a pôr – me na mesma situação embaraçosa. Quando esta sua habilidade deixou de dar resultado passou a meter – se debaixo da varanda a gritar e a conseguir acordar toda a vizinhança.
“Sua puta. És um monte de merda que estás para aí, minha asquerosa puta imunda”.
Quando conseguia seguir – me nos fins – de – semana, tinha o hábito de me telefonar primeiro de manhã e, se me apanhava com uma voz ensonada, imediatamente ia verificar se tinha trazido alguém comigo para depois me acusar de que passava a vida em clubes nocturnos, embora, em realidade, fosse uma noite por semana, se tanto.
Nessa noite apercebeu – se do carro de Simon no exterior e enviou – me a seguinte mensagem:
“Acabei por chamar a polícia e disse – lhe que estavas a ser raptada”
Entrei em pânico pois tudo era possível e, fatal como a chuva, aí estava a bater à minha porta cinco minutos depois.
“Abra, por favor, é a polícia”.
Abri e como o corredor era escuro, logo que as minhas pupilas se ajustaram à semi – obscuridade acabei por concluir que era, de facto, Romano! Tentei fechar a porta mas era tarde de mais porque ele já estava dentro gritando a plenos pulmões até aparecer a espuma que lhe era familiar nos cantos da boca. E ignorando o meu pedido para levar o óleo de massagens que me havia comprado no Natal acrescentou:
“Sua puta. Quem é que te tem andado a massajar com o meu óleo?”
E dirigiu – se ao quarto de banho para derramar na sanita todo seu conteúdo.
A verdade é que eu tinha ciática bastante agravada e precisava de massagens a toda a hora mas esse óleo era indetectável e também não era da sua conta.
Voltou e colocou – se junto de mim ao pé da cama e repentinamente o seu comportamento passou de um extremo ao outro como se tivesse mudado de carácter. Começou a rir e a brincar histericamente para a seguir puxar a coberta que eu tinha debaixo de mim e lançá – la em cima da minha cabeça enquanto eu estava a fumar. Em pânico tentei encontrar o cigarro que me havia arrancado dos dedos, para descobrir que não só me havia queimado um bocado da colcha mas também o colchão! Subitamente todos estes prejudiciais e desagradáveis desencantos seus começavam a rugir – me na cabeça; telefones e computador partido, molduras de quadros esmagados, sacos arrancados dos meus ombros, esquentador partido, o meu carro e muito mais. Tudo relampejou no meu espírito e, de tal modo, que a bomba enorme que se gerara cá dentro explodiu. Nunca havia sentido este demónio dentro de mim e, então, dei um salto, peguei no queimador de incenso que ele também me havia dado pelo natal e arremecei – lho antes de me lançar a ele e dando – lhe palmadas na cabeça até os óculos lhe caírem ao chão.
“Sai. Sai da merda da minha casa e já! Chega!” gritei enquanto o diabo permanecia de cócoras junto à porta a rir nervosamente.
“Tem calma. Estás – te a portar como uma mulher má. O que se passa contigo? Vou – me embora, está bem?”
A verdade era que tinha explodido porque não podia mais. Tinha sempre tido a paciência de uma santa mas agora forçara – me a isto. Deve ter pensado que continuava na mesma passividade a aguentar a sua tortura sem esperar uma tal reacção. Todas as pessoas que haviam testemunhado os seus acessos me haviam aconselhado a fazer uma queixa oficial à polícia mas não lhe queria fazer mal na profissão. Agora, no entanto ia ter o que precisava. Irra! Era demais! Despi o pijama e dirigi – me à esquadra local e fiz uma queixa a respeito das mensagens, dos prejuízos, do embaraço público, do assédio, da perseguição, sem mencionar que forçara a entrada do meu apartamento fazendo – se passar por um agente da polícia. Já iam bem longe os dias em que eu o tinha avisado para parar.
Logo que deixei a esquadra enviei uma mensagem ao pai dele pedindo – lhe desculpa e a informá – lo das razões que me haviam forçado ao que fiz. A partir daí Romano acalmou – se e deixou de bater à minha porta. Mas, infelizmente, acabei por deixar de sair aos fins – de – semana para evitar arranjar sarilhos.
Na semana seguinte encontrei – me com o meu contabilista para tentar arranjar um meio de fechar a companhia a despeito do débito do IVA estar por pagar. Quando me apresentou um impresso com o débito ao Estado, quase que caí ao chão! O lucro não era de modo algum o que Romano me tinha levado a acreditar; não era de 1%, era para cima de 18%! Isto significava que o que tinha vindo a pagar nem sequer dava para o lucro! Em pânico pus – me a cogitar quando é que eu acabaria de pagar isto tudo de modo a deixar para trás todas as más memórias, as mentiras, as decepções! Depois, estávamos quase em Fevereiro e ainda sem nenhum pagamento recebido para Dezembro! Deixei a secção de contabilidade sentindo – me doente e imediatamente enviei uma mensagem a Romano acusando – o de ser um mentiroso e de me vigarizar, Mas provou – se que este telefonema fora um erro na medida em que lhe fornecera um pretexto para vir logo à minha procura.
Encontrou – me quando estava a entrar para o meu carro junto ao ginásio mas depressa liguei a ignição e arranquei. Duas horas depois andava ainda no meu encalço e decidi saber se gostava de sentir o que eu senti e conduzi na direcção do seu escritório.
Quando entrava na sossegada estrada do escritório, de toda aquela gente a única pesssoa a conduzir em sentido contrário era Jo. Estava muito ocupada à procura do carro de Romano para se aperceber que estava colado ao meu pára – choques traseiro. Repentinamente baixou a janela e disse “Olá, amor. Como estás?” Mas que coisa estranha! Já não era “filho”, era amor. Mais uma vez me lembrei de como Romano me tentara convencer de que não se falavam. Se ao menos eu tivesse acreditado nele afim de ser tomada por idiota!
Por mais que quisesse deitar o passado para trás das costas e seguir em direcção ao futuro, não podia; tudo estava ainda muito vívido na minha consciência para me assombrar e atormentar. Senti – me amarga, irada por alguma vez ter aceitado a ajuda de Romano. Devia ter visto os signos na altura. Ele tinha olhado apenas para uma solução para ajudar quando viu que eu não podia exercer o tipo de profissão que tinha entre mãos com um relacionamento e, devido às minhas responsabilidades, este devia ser sacrificado. Como seria se não tivesse atingido esse estádio? Teria ele, de facto, sido feliz com a relação com uma prostituta como namorada até que algo de melhor lhe aparecesse pelo caminho? Pensando bem, não era a primeira vez que se apaixonava por uma prostituta. Quanto mais pensava mais a minha indisposição aumentava. Já estava farta de lhe ouvir dizer a toda a gente que me havia salvo a vida, que me havia retirado do esterco retirando – me da prostituição. Não, não é verdade, estaria presentemente liberta de dívidas se tivesse seguido os meus instintos. A realidade era que, o homem que tinha desposado, aquele que desbaratava dinheiro ao deus dará, o homem que disse que tinha medo de me comprometer, o homem prestes a ser milionário, era, na realidade, o homem que acabara de me fazer decidir voltar para donde ele dizia que me havia tirado.
Fiquei deitada na cama durante horas pensando em tudo. A despeito do facto de que Romano tentou convencer – me de que era ainda a sua esposa, não era. Nunca tinha sido tal coisa. Houvera duas mulheres, embora eu fosse aquela que ele fodia. Nunca nos levara a sério, e era por isso que estava sempre com medo de me entregar totalmente. Subitamente lembrei – me do último mês em que estivéramos juntos e em que ele dissera “Oh, podes acreditar – me. Tão depressa o meu pai recupere a saúde, vai mandar foder a Jo”. Mas eu sabia que não se estava a referir ao pai. Estava a referir – se a nós, era exactamente assim que a sua mente trabalhava. Eram só aparências quando chegava o final do dia e substituindo os velhos modelos pelos actuais. Era solução temporária. Todos os meus macaquinhos na cabeça eram exactamente porque os meus instintos me diziam isso mesmo. Ao mesmo tempo a sua insegurança tentava destruir todo e qualquer pedacinho de confiança conduzindo – me para a triste e depressiva pessoa em que me tornei.
Tentei imaginar como iria meter ombros ao trabalho. Já não tinha os meus telefones, nem o meu livro preto com o número dos meus ex – clientes e por aí fora, não podia arriscar colocar outro anúncio a partir do momento em que “300 clientes habituais” deram volta ao país.
Simultaneamente comecei a fazer um plano futuro. Se tinha sido capaz de arranjar investidores para a companhia de Romano, então podia utilizá – los de novo com um lucro mais baixo para um período mais longo e arranjar dinheiro para comprar um pedaço de terra para depois vender. Mas tudo isto levaria tempo e, entretanto, teria de regressar ao que não devia ter deixado antes de ter acabado de pagar as minhas dívidas.
Comecei a fazer cálculos e a ver quais eram os números dos meus ex clientes que tinha no meu telefone privado. Cheguei à conclusão de que, se trabalhasse durante quatro meses, com quatro clientes regulares, haveria uma tremenda redução na quantidade de débitos se cada um deles me visitasse quatro vezes nesse período. Depois, se eles quisessem ficar comigo, tinham de compreender toda a situação e aceitar que devido à exclusividade devia subir os meus preços para 200 euros.
Tinha chegado a uma decisão. E era isto que iria fazer.

CAPÍTULO 21

Orlando era o único e primeiro ex cliente que contactara até agora e para minha satisfação fez uma marcação. Ao contrário do passado recente em que recusava a sua presença aceitei a proposta para a noite pois que poderia significar que podia fazer mais ou menos o mesmo que havia calculado para o mês, abandonando três meses depois em lugar dos quatro originais.
Quando cheguei, passei umas quatro boas horas a explicar as voltas que a minha vida tinha dado desde que deixara a prostituição e, pela primeira vez, em lugar de ser eu o pilar positivo para os clientes, era tempo de ser agora a minha vez e de eles me pagarem na mesma moeda.
Eram precisamente onze horas quando saímos para o negócio e, embora eu já não fosse tímida, estava extremamente fria na medida em que a amarga realidade me forçou a chegar à conclusão de que se tivesse seguido os meus iniciais instintos não estaria a exercê – la agora.
No curto espaço de alguns minutos tudo estava consumado e durante algumas horas permaneci ali fazendo um esforço para me manter acordava até que ele adormeceu.
No dia seguinte comecei enviar e – mails para os meus investidores passados a informá – los do meu projecto. Dois aceitaram imediatamente e os restantes ainda não reponderam.
Todavia, quatrocentos euros garantidos foram feitos num investimentos de doze meses de base ao lucro de 10 por cento.
Não tinha ainda informado mais nenhum dos meus ex clientes do meu regresso ao trabalho na medida em que Orlando tinha marcado duas horas para a terça – feira seguinte, o que significava que o meu objectivo mensal tinha sido atingido.
Romano começou a perseguir – me de novo com mensagens uma das quais mencionava que tinha sido forçado a fazer um depósito na conta do meu banco para o pagamento do IVA dos meses anteriores porque eu não o fizera e, ao mesmo tempo, chamava – me pobre e mal agradecida. A verdade era que eu não tinha contado com estes pagamentos, preferiria não os ter aceitado em lugar de ter coisas lançadas à cara já para não mencionar que nada foi pago em Dezembro! Assim, respondi – lhe que não era da sua responsabilidade, apenas para lhe ouvir dizer que tinha dado a sua palavra. Repliquei – lhe que devia ter assinado a declaração já que a sua palavra não me servia para nada.
Passadas algumas horas recebi outra mensagem que dizia apenas isto “Quanto?”
Enquanto estivemos juntos, isto significava “Qual é a intensidade do teu amor em relação a mim?” Mas agora, com um sentimento de amargura, respondi – lhe “200” e para meu espanto ele perguntou quanto é que lhe levava pela noite. Respondi – lhe que 600 euros mas que tinha de largar pelas sete da manhã. Concordou e chegou passados alguns minutos.
Ao contrário do passado não meti conversa mas, em lugar disso, fiquei na cama a ouvir – lo falar acerca da excelência com que o seu negócio prosperava. Por fim perguntei – lhe se não íamos começar e tirei um preservativo do lado da cama. Estava pasmado e articulou:
“Diana, por favor não me digas que estás de novo a trabalhar. É verdade?”
Mudei de conversa até que trouxe à baila o pagamento do IVA mas disse – lhe que não lhe dizia respeito e, para além disso, para parar com o juro acumulado ia mesmo pagar mais naquele mês. Foi quando inquiriu porque diabo lhe tinha dado aquela resposta de que não era da sua conta. E a conversa ficou por ali. Tudo o que conseguiu foi que eu movesse o rabo de encontro ao seu pénis e todo o resto se volatilizou pela janela fora quando começou a penetrar me por detrás, a abrir – me as nádegas e brutalmente a deslizar a sua virilidade para dentro da minha vagina. Agarrando – me as bochechas para apoio penetrou – me tão profundamente que o encorajei a mudar de posição já que a dor era insuportável. Sentou – se, eu sentei – me em cima dele e comecei a mover – me lentamente mas não era isto o que ele queria, queria era molestar – me, magoar – me e como me sentei em cima dele, arrastou – me em largos movimentos circulares dizendo:
“Vou de tal modo alargar – te o buraco que mais nenhum homem te vai querer.”
Isto ter – me ia feito sentir húmida com alguém que eu sentisse profundamente, mas desta vez a sensação era totalmente diferente. Era a nossa primeira vez juntos após meses e estava precisamente a usar o meu corpo sem sensação mas só para seu prazer pessoal sem se preocupar com o resto.
Durante toda esta desconfortável situação lembrei – me de um ex meu que depois se tornou cliente. Para minha admiração, quando toda a sensação se dissipara e enterrara surpreendeu – me na sua hora de visita por desejar ser dominado, queria ser o escravo e que eu fizesse de Mestre. Como poderia eu conhecer esta sua faceta senão nestas circunstâncias? Foi exactamente o que senti ali e depois com Romano. Usualmente atingiria o clímax em menos de cinco minutos mas desta vez só queria fazer durar o acto deteriorando – o ao ponto de parecer querer ali ficar para sempre.
Após aquela posição colocou – me em mais três. Cada uma delas se tornou mais exigente do que a anterior, e, fosse qual fosse a posição, faria sempre a mesma coisa; penetrar – me com dureza e em profundidade e continuamente tentar alagar – me a vagina ao mesmo tempo que repetia sempre as mesmas palavras. Finalmente atingi um estádio em que já não aguentava mais na medida em que toda aquela experiência me estava a deixar doente. A maneira como estava a usar – me era revoltante. Uma coisa é fazer tudo com alguém que se ama mas é outra totalmente diferente quando acreditamos que ainda existe algum sentimento só para descobrir que a outra pessoa não tem nenhum, a despeito de andar sempre a seguir – nos.
Voltei – me de lado ficando com o rabo em frente dele à espera que me penetrasse e logo que o fez comecei a mover – me loucamente, dando – lhe melhor do que ele me havia dado a mim com um grande sentimento de vingança e embora estivesse a gozar comigo veio – se em escassos segundos.
Senti – me infeliz com toda aquela experiência. Ter sexo com um cliente típico era uma coisa mas outra coisa era ser tratada como uma peça de gado por alguém por quem ainda sentia alguma coisa. Era como se fosse o seu brinquedo sexual. Desculpei – me e pedi-lhe para se ir embora.
Passados alguns minutos enviei – lhe uma mensagem a pedir – lhe para deixar 200 euros na caixa do correio afim de destruir o cheque de 600, mas ele disse – me para ficar com ele acrescentando que esperava que não voltasse àquela vida. Achei tudo tão irónico que respondi que não se preocupasse com isso mas antes da sessão de sexo e acabei por morder a língua.
Na terça-feira fez outra marcação alguns minuto depois de Orlando ter saído. Uma vez mais chegou como se nada se tivesse passado a falar do seu negócio crescente e a tentar escrutinar a minha vida. Evitei todas as perguntas e descemos para começar.
Quando acabámos perguntou se podia repetir. Concordei mas, como uma verdadeira profissional, disse que queria a mesma importância de dinheiro adiantado. Pagou e consumámos o acto.
Na terça – feira seguinte recebi a confirmação de um investidor, possuindo a quantia de cinquenta e cinco mil. Mas precisava pelo menos mais trinta mil para comprar um pequeno pedaço de terra à volta da área. Mas eram boas notícias e, por isso, convidei toda a gente para jantar num recém – aberto restaurante.
Foi como se Romano pudesse cheirar que estava acompanhada e pelas nove horas da noite enviou – me uma mensagem a perguntar se estava disponível ao que respondi que só por volta das dez e meia. Como um indivíduo teimoso, atirou com os brinquedos e disse – me para esquecer, apenas para mandar outra pelas 19.30 dizendo que estava à espera. Como se fora muda respondi – lhe que era desconhecedora de que a marcação se mantinha e agora estava ocupada. Então perguntou quando ao que repliquei que daqui a uma hora. Mas às onze e meia avisei – o de que estava dez minutos atrasada e, furioso, disse – me para esquecer já que eu o tinha chateado o suficiente e se queria trabalhar tinha de me encontrar com ele em sua casa. Ignorei – o e fui para casa.
No dia seguinte enviou – me outra mensagem a perguntar se estava disponível ao que respondi perguntando – lhe para que horas. Respondeu que não era boa a receber marcações com antecedência pelo que sugeri que encontrasse alguém que fosse. Algumas horas mais tarde apareceu a perguntar se podia marcar para a noite. Propus – lhe o mesmo preço da última vez argumentando que por tal soma tinha direito a quantas sessões de sexo desejasse. Tornei, no entanto, claro que eram no máximo três. Amuou. No sábado da parte da tarde telefonou a perguntar se podia vir, que tinha algo para me dar. Acedi mas só na hora seguinte pois que estava com Simon a organizar um programa para o meu computador.
Cinco minutos antes da hora acabar pedi a Simon para se ir embora. Ele e Romano cruzaram – se na rua levando – o este facto a ficar de mau humor quando se abeirou da minha porta. Entrou sem dizer palavra, atirou com 1000 euros para o que ia a fazer e para cobrir o IVA dos meses anteriores e explodiu para depois me bombardear com aborrecidas mensagens dizendo que eu era uma puta imunda e que regressei à prostituição porque só um pénis não era suficiente para me satisfazer. Mas soube destrinçar o trigo do joio. Agora que chegara à conclusão de que não era tudo como ele queria no respeitante a reservas e regras. O seu procedimento mudara. Quando regressou ao normal fez marcações. Estava agora a criticar porque estava a perder as suas chances de chegar e ter sexo quando muito bem lhe apetecesse fosse por que preço fosse? Quero dizer, não parecia problema quando, na verdade, era.
Alguns dias mais tarde enviou uma mensagem a solicitar uma marcação para as quatro horas. Aceitei. Quando ia preparar a cama ele disse:
“Não, Diana, não estou aqui para te foder. Aqui tens mais dinheiro para o IVA” e bateu
com a porta com tanta força que os vizinhos correram à janela para ver o que se passava.
Romano tentava agora encarnar o papel dos bons como nos “filmes” mas não deixei que isso me afectasse na medida em que, quando abri a caixa de correio, esta me deu boas notícias; mais dez mil para investir; total 65 mil.
A semana foi sossegada. Romano deve ter estado com certeza a gastar o seu dinheiro no sempre crescente número de prostitutas da área pois era agora sabedora de que, embora senhor do dinheiro, estava permanentemente falido o que significava que sempre tinha ido a elas. Mas sentia – me aliviada devido à ausência de perguntas.
Na segunda – feira fui chamada ao departamento de investigações para prestar declarações acerca da queixa que fiz contra Romano mas só fizera semelhante coisa para pôr um ponto final no seu ridículo comportamento e retirei as acusações para lhe não causar complicações profissionais.
Alguns dias mais tarde fui bombardeada com ameaças. Romano foi informado pelo departamento de investigação criminal que devia testificar e, assim, retaliando, ameaçou – me que ia fazer queixa criminal contra mim. Ignorei a ridícula declaração mas informei – o de que havia retirado a queixa. Mas havia semanas que ele já sabia pois que informara o pai que, coincidentemente, pôs ponto final às investidas de Romano ao meu apartamento. Mas o seu orgulho era demasiado grande para o admitir e agora usava o que ele chamava de sua “nova” descoberta como solução. Devido à minha total ignorância, recebi uns dias depois uma mensagem que dizia que tivera de matar o cão. Preocupada perguntei o que acontecera e respondeu que não podia obter uma licença para um animal perigoso pois tinha um recorde criminal. Fiquei admirada mas não tinha nada a ver com a minha queixa pois que, mesmo que não tivesse retirado as acusações eram precisos meses de espera antes que o caso desse entrada em tribunal. Depois, não era necessário ter sido estudante de direito como eu para saber que as pessoas eram inocentes até ser dada prova do contrário! Mas continuava a acusar – me de negligência.
De qualquer modo tive pena do pobre cão. Podia, pelo menos, ter encontrado um novo lar! Se era, de facto, verdade que tinha o sido mandado matar deve ter sido devido ao seu passado criminoso de que era conhecedora mas a mais provável verosimilhança era a de que o cão se deve ter voltado contra o dono.
Uma vez mais continuei a ignorar as suas contínuas mensagens apenas para receber um e – mail cinco dias mais tarde. E dizia que eu era a pessoa que ele mais amara no mundo. E pedia – me para não arrastar mais o divórcio porque o estava a fazer sofrer demasiado. Mas bem sabia que agora o divórcio estava fora do meu alcance e que estávamos à espera da chamada do tribunal.
Terça – feira mais ameaças foram enviadas e depois, de um momento para o outro, indagou se podia vir. Foi então que lhe perguntei porque é que havia dito que tinha o pagamento do IVA. Mas só o pensamento de o ter à minha frente me deu vontade de vomitar e mais uma vez o alertei de que isso não era da sua responsabilidade.
“Tudo bem. Então marca – me para uma hora”, respondeu.
“Só depois de morta me poderias voltar a tocar”, respondi. Isto despoletou o processo com dupla força mas já não tinha nem energia nem paciência para o aturar.
E agora, tal como das outras vezes, podia vir de carrinho. Se desejava realmente pagar a prestação mensal do IVA devia ter feito um depósito na conta do meu banco tal como em outras ocasiões. O que ele na realidade queria era que eu não aceitasse o dinheiro de mão beijada mas que trabalhasse para o ganhar e, quando o fiz, até parecia que eram infindáveis os fornecimentos de dinheiro.
Passadas que foram duas semanas, o meu grande total de fundos havia ascendido a 75 mil euros mas, mesmo assim, as coisas não estavam promissoras. Estava – se a provar difícil encontrar um investimento abaixo de noventa mil e concordei com o agente imobiliário em me arranjar então algo naquele total dado que me alertou para o facto de haver uma propriedade colocada no mercado pelo construtor naquele mesmo dia.
Quando cheguei ao nosso local de encontro, quase que caí morta. O agente imobiliário era o homem com quem eu e Romano nos cruzáramos no corredor no edifício do vizinho dele! Mas havia pouco tempo para conversa, estávamos já atrasados para o encontro com o construtor. Os pedaços de terra estavam situados próximo da praia com enormes campos abertos a circundá – lo. Quando inquiri acerca do futuro da área envolvente o construtor disse que ainda não havia sido emitida nenhuma licença mas havia o projecto de uma fábrica a aguardar aprovação da Câmara Municipal local. Não era isto que eu realmente desejava ouvir mas, de qualquer maneira, os meus planos para comprar tinham por objectivo vender dentro do espaço de um ano e, para além disso, foi o pedaço de terreno mais barato que consegui encontrar para 300 metros quadrados. Disse ao homem que ia pensar e dirigi – me para casa.
Estava determinada a comprar o mais pequeno terreno junto de outro que vendera antes naquela manhã. O acordo era para pagar 30 por cento no acto da entrega, mais 30% três meses depois quando os trabalhos da água estivessem terminados e o remanescente por altura da transferência do contracto. Tudo isto, na prática, significava que só devia começar a pagar aos meus investidores anuais a partir do momento em que eles transferissem dinheiro e, para além disso, o juro só começaria a contar em 30 por cento. Mas havia um obstáculo; faltavam 50 mil mais as comparticipações legais! Podia arriscar e esperar encontrar mais investidores ao tempo da assinatura do contracto. Mas se as coisas davam para o torto? Era um jogo, mas liguei ao agente imobiliário a perguntar se pensava que o construtor poderia baixar 5 mil. Replicou que isso era bastante improvável até porque eram novos no mercado e havia bem pouca coisa disponível para tais valores. Depois, cinco mil era demasiado nestas circunstâncias.
Quase sem dar pela conta encontrei – me a falar com Andrew acerca do pedaço que tínhamos visto os dois.
Quando Romano perguntou como é que conhecia o vizinho ri – me e disse – lhe para esquecer. Antes de desligar sugeriu que fizesse uma visita ao construtor uma vez que nada tinha a perder na medida em que só havia um lote vendido por quarenta e cinco a despeito da sua aparição no mercado ser recente.
Dirigi – me no dia seguinte ao escritório do construtor, sentei – me frente à sua secretária a explicar quanto eu desejava aquele pedaço de terreno mas não tinha dinheiro que chegasse. Para além disso, estava desiludida com o projecto da fábrica. Imediatamente ganhou confiança, encheu o peito como se fora um pombo orgulhoso e eu a fazer de ingénua a deixá – lo pavonear – se a parecer superior enquanto tentava desesperadamente desviar o olhar dos meus seios.
Após longa conversa que uma mulher como eu devia ter na companhia do namorado, finalmente ouviu dizer aquilo que queria ouvir, ou seja, que estava à espera do divórcio e, a partir daí, tudo mudou espectacularmente até que finalmente chegámos aos cinco centos de redução.
Imediatamente telefonei a Andrew e lhe disse que tinha comprado o terreno por oitenta e cinco mil. Ficámos assim aptos a fazer um proveitoso contracto.

CAPÍTULO 22

Eu e Andrew tornámo – nos amigos nos dias que se seguiram ao contracto que assinámos juntos e por qualquer razão indescritível encontrei – me a gastar a maior parte do meu tempo disponível com ele. Era um prazer. Extremamente inteligente, possuía um grande senso de humor inglês mas, acima de tudo, era capaz de me alegrar com a postura positiva e prazenteira da sua personalidade extrovertida.
Residia no país havia cerca de dez anos, já que após umas férias passadas no Algarve ficou persuadido a abandonar o seu lar londrino por Portugal.
Quando me deu a saber que se aproximava dos quarenta, pela minha vida que nem consegui acreditar. O seu cabelo espesso e castanho, constituição atlética e grandes olhos azuis a condizer com o seu carácter juvenil impediam que os traços dos seus cinco anos passados lhe aparecessem na face. Rapidamente aprendi muito acerca de venda de propriedades com Andrew. Era um dos sócios da grande cadeia nacional de agentes imobiliários. A primeira coisa para que me chamou a atenção foi para colocar a terra à venda imediatamente, não obstante o contracto final não estar ainda assinado. Se tivesse a sorte de encontrar um comprador, poderia fazer logo outro contracto dando a minha parte. Isto provava ser benéfico em vários sentidos na medida em que podia evitar despesas legais e financeiras, significando que não haveria imposto adicional do mesmo modo que não se tornava necessário utilizar mais os fundos dos investidores. Assim aconselhei – o a ir para a frente e colocar a terra no mercado.
Agora tínhamos de fixar o preço. A maior parte dos lotes estava ainda disponível e, de acordo com Andrew a um preço acessível. Mas eu tinha uma vantagem; em primeiro lugar o construtor não fazia descontos como fizera comigo e, em segundo lugar, como o meu lote era o mais pequeno, era também o mais barato significando portanto o menos dispendioso, cerca de 20 mil euros, mais as deduções, ficava em vinte e cinco. Portanto concordámos que a terra podia ser posta no mercado por vinte e continuaria a ser o lote mais pequeno.
Em poucos dias foi finalmente marcada a data do meu divórcio. Parecia uma espera infindável. Por alguma razão inexplicável achei – me no direito de chamar Andrew e dar – lhe a notícia. Não lhe tinha ainda falado do meu passado ou mesmo mencionado que o seu vizinho era o meu marido mas chegou a altura de o fazer.
Logo que pegou no telefone disse:
“Meu Deus Diana, tu deves ser vidente. Ia mesmo agora ligar – te para te dar as boas novas”!
Andrew informou – me que o comprador do lote do canto, a seguir ao meu que fora, de facto, o primeiro a ser vendido, havia regressado de um fim – de – semana no qual decidiu comprar o terreno pegado ao dele para tentar obter aprovação de construir uma grande vivenda. É claro que Andrew lhes disse que o único lote disponível a pegar com o deles era o meu e como a mulher tinha agora uma ideia fixa de um pedaço maior, não lhe sobrou alternativa que não fosse comprar a minha terra. Nem podia acreditar! Vinte mil euros realizados em menos de uma semana.
Pedira apenas os trinta por cento do pagamento inicial que era de vinte e cinco mil euros significando que o negócio no seu todo estava – me a custar dois milhares e meio de euros, e aos investidores, e ainda ganhava um ano para negociar! Dezassete mil e quinhentos euros limpos menos os encargos que Andrew chamara a si!
Não podia acreditar na minha sorte e naquela noite quando Andrew veio, como não podia deixar de ser, o único móbil da conversa foi debater o que faríamos a seguir antes de acabar por lhe falar do meu passado e do meu cliente regular Orlando. Depois de tudo em pratos limpos mencionei Romano. Mas antes de poder continuar, Andrew exclamou ”Oh! Mas que sorte a dele!”
Quando insinuei sobre algo que soubesse sobre ele fiquei sem saber o que dizer quando me contou que Romano tinha sempre mulheres a chegar ao seu apartamento a altas horas da noite acabando por levá – las para a cama no meio de tremenda algazarra e que depois iam embora passada uma hora ou duas. Tinha quase a certeza de que andava a esbanjar o dinheiro com prostitutas mas, a pagar ao domicílio tão frequentemente?! As mais económicas nunca lhe ficariam por menos de 200 euros à hora.
Como estava para ali abismada, Andrew perguntou porque que é que parecia tão preocupada e comecei então a explicar quem era, de facto, Romano e a confusão que conseguiu engendrar. Antes de poder continuar e dizer que as mulheres deviam ser empregadas disse:
“Sei como te deves sentir. Aqui estás tu com toda essa dívida e ele a malbaratar o dinheiro com prostitutas com a mesma frequência com que eu visito o toilete”.
Mas tudo isto era o que eu queria saber. Era o último traço de evidência que eu queria acrescentar afim de provar que nada mas absolutamente nada era invenção minha em tudo o que dizia respeito a Romano. A minha intuição era em absoluto fidedigna.
Compreendia agora Andrew porque recusara os seus numerosos convites para visitar o seu apartamento que ficava imediatamente debaixo do de Romano. A última coisa que eu precisava era que Romano tivesse as suas ideias bizarras e decidisse recomeçar com todo o seu torturante processo com mais paixão ainda.
No dia seguinte Orlando telefonou a marcar para a noite daquele fim – de – semana.
“Desculpa, Orlando mas já não preciso de trabalhar. Estou fora deste negócio de uma vez por todas.”
“São óptimas notícias, Diana mas não tão boas para mim. Mas estou feliz por ti. A propósito, disseste que acabaste por abandonar há dois anos mas voltaste. Portanto nunca se sabe.
“Desta vez é diferente. Consegui por mim. Confiei na minha personalidade e, por isso, não vou enganar – me a mim própria. Podes acreditar. Estou fora mas podemos tomar o nosso cafezinho de vez em quando. É só apetecer – te”
Continuei a aperceber – me que Romano andava a rondar – me o apartamento e sempre que o via ansiava que a data do divórcio se aproximasse no tempo. O que eu havia descoberto agora foram as últimas consequências do milhar com que comecei. Fico doente só de pensar nisso. Andrew telefonou às quatro da tarde a convidar – me de novo para jantar em sua casa. Quando lhe disse “Bem sabes porque é que não posso” sugeriu que chegasse antes da hora em que Romano habitualmente saía do trabalho e havíamos de encontrar uma maneira de sair. Concordei. A amável atitude de Andrew fez – me começar a pensar. Havia qualquer coisa nele que me atraía embora a última coisa que me passasse pela cabeça era ter outro relacionamento., especialmente com o meu divórcio a correr dali a uma semana. Mas alheei – me do assunto para estar pronta antes que Andrew chegasse pois havíamos combinado às cinco.
À medida que nos aproximávamos do seu edifício, comecei a olhar à volta para ver de onde é que saíam os sons de um possante ladrar. Era, vejam só o cão que Romano dissera haver abatido! Mais uma das suas tácticas doentes para me levar à certa!
Antes de me apear do carro olhei a toda a volta para ver se avistava o dele. Subitamente apercebi – me do de Jo! Inconcebível! Mas que estava ali o carro dela a fazer? Admirada com tanta informação para digerir, lá fomos escada acima.
Andrew abriu a porta para um apartamento idêntico ao de Romano e quando entrámos na sala de espera lá estava posta uma grande mesa de sala de jantar para um refeição romântica a dois:
“Vim para casa organizá – lo antes de te ir buscar, mas o jantar deve ser servido às oito, disse com um risinho.
Antes de ter oportunidade para dizer alguma coisa ouvimos Romano chegar ao cimo das escadas. Tivéramos sorte. Normalmente chegava a casa às seis e eram agora cinco e meia.
Andrew pediu – me para o seguir para a cozinha enquanto preparava algum vinho e copos. Não deixara de sorrir desde que me fora buscar. Subitamente perguntou.”
“Então, Diana, já decidiste se vais reinvestir noutro lote de terreno?”
Antes de ter oportunidade de responder informou – me de que tinha acabado de receber notícias fantásticas do seu melhor amigo que trabalhava no departamento de planeamento da Câmara Municipal local. Ainda não era do conhecimento público mas o terreno circundante não ia ser usado para uma fábrica mas para um projecto que envolvia um campo de golfe que tinha acabado de ser aprovado significando que os lotes que estavam por vender constituíam oiro. Mas quando comecei a ficar triste por ter vendido o meu lote e ter perdido uma tal oportunidade, Andrew apressou – se a argumentar que a ideia agora era comprar mais antes de o construtor descobrir durante os próximos dias. Excitados, sentámos - nos e começámos a fazer contas. Andrew sugeriu que os lotes maiores eram os investimentos mais rentáveis e que ele e os seus sócios estavam a investir em quatro de cerca de cento e cinquenta mil euros cada. Se eu fizesse o mesmo, dos trinta por cento iniciais resultariam oito mil o que significava que podia fazer um pagamento com o dinheiro a receber do primeiro lote vendido.
Andrew perguntou quanto mais podia obter dos investidores. Respondi – lhe que tinha conseguido setenta e cinco. Com o que eu ganhei perfazia noventa e cinco. Quando sugeriu para investir em dois lotes respondi:
“Mas enlouqueceste? O que vai acontecer se não conseguir vender a tempo e então for obrigada a pagar os próximos trinta por cento de instalação? Não posso fazer isso. Não posso arriscar.”
Mas Andrew tentou convencer – me de que, na pior das hipóteses, teria o meu dinheiro de volta. Por mais que combatesse a ideia, os meus instintos segredavam – me que devia comprar. Muito embora conhecesse Andrew havia pouco tempo, sabia que estava a ser honesto.
Subitamente os meus ouvidos aperceberam – se do desagradável tom suave de voz de Jo e o calcar dos saltos dos seus sapatos em cima do chão por cima de nós na cozinha de Romano. Andrew ainda tentou desviar – me a atenção mas eu estendi o braço para a garrafa de vinho, deitei mais um copo, respirei profundamente e engoli metade do conteúdo do copo.
Quando seguíamos pelo corredor na direcção da sala de estar, os passos pareciam seguir – nos. Subitamente pararam e foram substituídos pelo quem parecia ser uma peça de mobília a arrastar. Para meu desconforto comecei a ouvir uns gemidos na minha cabeça. À medida que os gemidos aumentavam o chiar intensificava – se até que ouvimos:
“Oh, oh querido” vezes sem conto até que o barulho da mobília a arrastar parou.
“Não, Andrew, há engano com certeza. Não é a madrasta de Romano que está lá em cima. Deve, coincidentemente, estar a visitar alguém na área.
Andrew olhou para mim e encolheu os ombros enquanto eu palmilhava o soalho da sala de estar para trás e para diante com o copo de vinho na mão. Jesus, uma coisa é Romano tentar convencer – me de que não dormiria com ninguém até nos divorciarmos e outra coisa totalmente diferente é dormir com Jo. Não, não pode ser a Jo, tentei convencer – me a mim mesma e pus – me à janela olhando fixamente o carro dela. A mulher parou e olhou à sua volta. Para meu horror era ela!
Era tudo o que precisava saber parra me estragar o entusiasmo da noite e pedi a Andrew para encontrar uma maneira para me ajudar a sair sem ser notada pois precisava de estar sozinha. Tudo, mas absolutamente tudo fazia sentido agora. Era esta a peça que me faltava no meu puzzle para provar que a minha intuição estava cem por cento certa mas nunca em minha vida pensava que algo semelhante pudesse acontecer.
Andrew telefonou. Às oito e meia da manhã.
“Olá Diana. Toca a levantar que são horas de esquecer o passado e de nos pormos ao trabalho. Vai ter comigo ao lote às três horas.”
E assim fiz. Sem pensar com muita nitidez lá fui eu com mais dois contractos para dois grandes pedaços de terra, cada um deles custando cento e cinquenta euros com um investimento inicial de novecentos euros pelos dois.
Andrew veio ter comigo outra vez nessa noite e tentou convencer – me de que não iria ficar decepcionada uma vez que havia as notícias do desenvolvimento do campo de golfe o que ia aumentar tremendamente o preço do terreno. Estava à espera que fosse dado a conhecer antes do pagamento dos próximos trinta por cento ou, de outra maneira, havia de ficar pior que estragado.
Mas a verdade é que me encontrava ainda abalada por causa dos acontecimentos do dia anterior e não fazia ideia de como havia de reagir ao ver Romano no dia seguinte na audição para o divórcio. Se não conseguia ficar com ele no mesmo edifício, muito menos na mesma sala.
A pensar no diabo e o diabo a telefonar com o seu número não identificado. Antes de ter oportunidade de desligar suplicou – me para não o fazer pois que era extremamente importante. Aparecera no departamento de investigação para interrogatório e, embora eu tivesse retirado a queixa, o magistrado insistia em continuar. Mas em lugar de falar com calma começou repentinamente a fazer ameaças e chantageando, ao mesmo tempo que tentava torcer a situação.
“Assim, o que é que lhes vais dizer, Diana, como é que me vais livrar desta salsada que me criaste?”
Após a terceira edição do seu grito disse – lhe que agora o problema era dele e desliguei.
Logo a seguir Andrew recebeu também uma chamada. Era o construtor a informá – lo de que todos os lotes ainda não vendidos subiam em trinta e cinco por cento pois recebera notícias do desenvolvimento do campo de golfe. Isto era fantástico e suficiente para libertar o meu espírito do stress dos dois dias anteriores. Parecia que as coisas se estavam outra vez a compor.
No dia seguinte acordei possuída de uma tremenda ansiedade. Dormira mal devido a toda aquela minha história com Romano, o bom e o mau a voltarem a obcecar – me como se fora um filme projectado na parede em frente de mim. Mas toda a verdade era que a minha vida à parte mostrou – me o outro lado do seu carácter e a sua brincadeira com Jo deixou espaço para sentimentos de culpa e queria obter o papel assinado com um mínimo de espalhafato possível.
”Apesar de todos as más sensações, o dia provou ser imensamente emocional, triste e esgotante especialmente ao ver Romano tentar desesperadamente fazer – me mudar de ideias no último momento, enquanto as lágrimas lhe rolavam pela cara abaixo.
Andrew convidou – me para jantar mas sugeri que comêssemos em minha casa porque não estava em condições de sair. Depois do jantar dirigi – me para o sofá para me deitar e Andrew tentou encontrar um espaçozinho onde se pudesse sentar. Subitamente, todos os sentimentos acumulados; o amor, o ódio, a vingança, a ansiedade, tudo junto entrou a inundar o meu ser levando – me a explodir em choro não obstante tentar arduamente reprimir as lágrimas. Andrew mudou o copo para a outra mão e começou a martelar – me a cabeça com argumentos tentando convencer – me que o futuro era mais promissor.
Mas não eram estas as palavras que eu estava a precisar de ouvir e acabaram por me aumentar as emoções. Sentei – me, olhei para ele e comecei a abraçá – lo como uma criança umas vezes atrás das outras ficando ali imóvel nos seus braços até que à vibração das minhas lágrimas se seguiu um sono profundo, repousador. Na manhã seguinte acordei com os olhos inchados e viscosos e completamente vestida. Confusa, olhei à volta e descobri Andrew a dormir no sofá.
“Bom dia. Espero que não te importes que tenha ficado. Não queria deixar – te sozinha na noite passada”.
Antes de puder dizer mais nada, levantei – me e fui sentar – me a seu lado e comecei a abraçá – lo de novo. Havia qualquer coisa nele que me acalmava, me fazia sentir segura não obstante o meu sentimento de vazio. Levantou – me cuidadosamente o queixo para verificar se estava a chorar e naquele momento olhei – lhe para os olhos e ele para dentro dos meus. Em silêncio, permanecemos calados lendo as nossas almas através das suas janelas até que os nossos lábios se tocaram e começámos a beijar – nos.


CAPÍTULO 23

Não obstante tentar convencer – me a mim própria de que não estava pronta para uma relação estável, eis que inopinadamente, me encontro de mãos dadas a caminho de uma após o meu apaixonado beijo com Andrew. Bom, mas as coisas eram diferentes. Desta vez o meu espírito estava calmo e ameno, mais confiante do que nunca e, acima de tudo e o mais importante, era que Andrew me fazia sentir realizada o que, como é óbvio, era precisamente o contrário da minha história e triste experiência com Romano.
E passou – se um mês. Andrew telefonou excitadamente a pedir – me para arrumar a mala pois íamos passar um fim-de-semana ao Algarve.
Chegados ao nosso destino, conduziu – nos, com uma evidente boa disposição que eu não pude deixar de notar um pouco exagerada, para um restaurante lindo e completamente iluminado a velas onde antecipadamente havia feito as convenientes e respectivas reservas.
“Tenho notícias fantásticas, Diana; vendi um dos meus lotes”, disse depois de me ter posto em suspense por uns momentos.
“Mas isso é fantástico, Andrew. Tudo me parece positivo; e quanto a mim, estou a ver que, espreitando por esse prisma, também vou fazer bom negócio”, repliquei – lhe com os olhos a brilhar de contentamento.
“Bem, Diana, também vendi um dos teus!” Disse com um enorme sorriso de satisfação.
Oh meu Deus, nem podia acreditar, cinquenta e dois mil e quinhentos euros de lucro menos a percentagem dos investidores. A euforia invadiu – me quando me apercebi do sentimento de liberdade que despoletou irresistivelmente ao dar – me conta de que as minhas dívidas se haviam eclipsado e, para além disso, ficava ainda com dinheiro para investir. Mas, cuidado! Tudo isto, com certeza mas… se conseguisse vender o meu último lote a tempo e horas.
Como foram maravilhosos os nossos dois dias no Algarve! Porém, como o que é bom acaba depressa, eis – me afadigada a carregar o carro para a nossa viagem de regresso.
Quando chegámos a casa, Andrew sugeriu que ficássemos no apartamento dele. Como me viu um bocado preocupada porque era uma segunda – feira e Romano podia estar em casa, alvitrou que passássemos por lá e déssemos uma olhada para ver se o seu carro se encontrava por ali estacionado.
A nossa maré era de sorte; dele nem sinais e, por isso, toca a descarregar e dar entrada no imóvel de Andrew. Quando nos aproximávamos do elevador, a porta das escadas que têm origem nas garagens da cave abriu – se e, instintivamente ambos olhámos para trás. E, de entre todas as pessoas do mundo, quem havia de ser? Já o adivinharam, Romano! Quando, tal como dois disparos simultâneos, os nossos olhos se encontraram como se cada um deles pressentisse o outro, o espanto saltou para fora da sua face mas tudo continuou silencioso e continuámos aguardando o elevador. Após um pequeno lapso que nos pareceu uma eternidade, chegou Romano, passou por nós e entrou primeiro. Seguimos atrás dele e estendendo os braços afim de pressionar os botões que nos transportariam aos nossos andares mas… Romano interpôs – se no meio a impedir o acesso de Andrew aos interruptores. “Tudo se torna agora claro, Diana. É por demais evidente que tinhas um caso. Eis a razão por que te divorciaste. Mas será que tens a certeza que este homem tem colhões para ti?” Disse a rir – se sarcasticamente.
Andrew tentou ripostar imediatamente mas eu puxei – lhe suavemente a mão como sinal para lhe não ligar importância pois que não valia a pena. Subitamente alguém chamou o elevador que começou a subir. Quando as portas se abriram no segundo andar fiz um gesto a Andrew para sair e tomar pela escadas mas Romano segui – o.
“Deixe – me ao menos avisá – o do estado em que ela me pôs. Ainda está a tempo de se salvar e ver – se livre dela.”, disse para Andrew.
Mas não ligámos importância nenhuma, continuámos em silêncio até chegarmos por fim à porta de casa. Logo que esta se abriu, entrámos e fechámo – la na cara de Romano enquanto continuava a sua prelecção.
Este episódio chegou para me estragar a noite. Muito embora Andrew pudesse ver agora o que sofri desde a minha separação de Romano, não deixava de ser embaraçoso mas, acima de tudo, frustrante. Quem é que ele pensava que era? Não tinha nenhum orgulho, nenhum respeito próprio?
No dia seguinte Andrew telefonou a dizer que devia chegar um bocado atrasado para o almoço na medida em que tinha de ir a casa buscar alguns documentos. Quando acabou por chegar ao restaurante disse – me que estava a ser encurralado pelo comportamento de Romano que esperava no carro pela sua chegada.
“Ele reúne dois personagens distintos, Diana! Primeiro começou por insultar – me tornando – me responsável pelo colapso do seu casamento. Depois, quando reagi e lhe mostrei que não temia ameaças, mudou drasticamente de atitude apresentando – se como se fosse o meu melhor amigo a tentar salvar – me de alguma coisa. ”.
Romano tentava convencer Andrew a interromper a nossa relação acusando – me de ser uma devoradora de dinheiro. Mas na verdade eu deixara – o com mais dívidas do que quando comecei a viver com ele. E, ao contrário das suas intenções, fez com que Andrew me respeitasse ainda mais pela maneira como lidei com o seu mau comportamento nos meses seguintes à nossa separação. Depois, tal como eu, tinha agora matéria para considerar e ver algo da realidade. Porque é que Romano tentava ainda interferir com a minha vida se eu era, como ele dizia, o monte de merda que procurava demonstrar que eu fosse? A verdade era que me tinha perdido e, tal como uma criança mimada, não pode aceitar a derrota, ia até ao ponto de tentar ter – me de volta pura e simplesmente para satisfazer o seu ego. Era necessariamente um doente visivelmente com todos os sintomas de ”comportamento obsessivo e compulsivo”: A tentativa de me controlar, a perseguição cerrada a que me submetia, o despedaçar da minha personalidade, o esforço para me convencer que todos à minha volta estavam embebidos de cinismo sendo, de facto meus inimigos, o tentar demonstrar aos outros que eu não tinha préstimo nenhum, a tentativa de me tornar dependente dele agindo cinicamente de modo a criar – me mais dívidas.
Dois meses se passaram e provava – se ser cada vez mais difícil para Andrew viver no mesmo edifício de Romano e especialmente para mim visitá – lo. Como eu estava agora em posição de procurar outro apartamento, Andrew propôs – me procurarmos um em conjunto.
A excitação de partir de novo com alguém, não tenho dúvidas absolutamente nenhumas de que era a almejada lufada de ar fresco que já desesperava poder voltar a respirar. E lá fomos nós a perseguir o nosso sonho de apartamento que condignamente fosse o nosso ninho, com varandas suficientemente grandes para fazer também o agora nosso Napoleão feliz e, acima de tudo e principalmente, um bem longe da cupidez dos olhos de Romano e da sua interferência.
No curto espaço de alguns dias tínhamos já vários apartamentos em vista, a maioria indicados pelo agente imobiliário de Andrew. O seu entusiasmo pendia totalmente para uma casinha confortável, luxuosa, no topo de um grande edifício na Ericeira, e incentivava – me a mim para vê – la primeiro.
Logo que ultrapassei a soleira da porta, experimentei aquela vibração única que sentira ao ver a primeira casa com Romano e em que me instalara e fora, para minha desilusão, obrigada a abandonar logo de seguida. Sentia – me como se toda ou quase toda a energia solar se concentrasse nos cento e cinquenta metros quadrados de apartamento adjacente à costa.
A sala de estar de 21 metros era metade enquadrada de grandes janelas que não tinham mais nada, depois da área de praia envolvente, senão a colossal, imensa, infindável massa de água do Oceano Atlântico. A enorme porta de vidro do tecto dava lugar a um terraço igualmente amplo. Cada polegada dos dois quartos do apartamento estava cheia até ao até ao fim de vibrações carregadas de electricidade.
E pronto. Era este sonho almejado que me iria de certeza fazer feliz.
Mudámo – nos no final do mês, marcando a fronteira de uma nova vida para mim. Pela primeira vez desde que deixara a prostituição estava desejosa e pronta a construir um futuro livre daquela negatividade em que estivera em tempos mergulhada. Agora não havia dúvidas nem perguntas a fazer e, principalmente, nada de intuição negativa. Tudo readquirira aquele sentimento acolhedor de entusiasmo, ambição, pujança e aprazimento, com alguém em que de facto confiava.
Não se escoava um dia sem que eu e o Andrew investíssemos num sólido e estável futuro. E pela primeira vez desde que decidira abandonar Romano, de novo confiava todas as partes do meu ser a um companheiro que, por sua vez, me correspondia plenamente com o seu carinho, o seu amor, com respeito, com honestidade.
Contudo, uma das minhas maiores preocupações nesta altura era o meu segundo lote. Ainda não fora vendido não obstante o facto de ser vinte por cento dos outros que estavam por vender. Isto significava que tinha de estar preparada para pagar a segunda prestação de trinta por cento. Podia cobri – la com o dinheiro que fiz dos outros lotes mas para quê se ainda não podia vendê – lo antes do final do pagamento? Mas auto convenci – me de que as coisas correriam de acordo com o planeado e deixei de pensar no assunto.
Logo que o terreno foi vendido, eu e o Andrew planeámos investir numa velha mansão, mudar – nos para lá para poupar renda e renová – la antes de a colocar no praça. E, assim, os meus tempos livres começarem a evoluir e a ser dedicados a pesquisar condições de mercado e preparar o nosso projecto futuro.

Algumas semanas se passaram e chegou a altura de efectuar a segunda parte do pagamento. Sentindo – se um pouco em baixo, Andrew sugeriu que jantássemos num simpático restaurante italiano perto da do mar.
A noite estava deliciosamente morna e, por isso, decidimos levar a pequena mesa para o terraço onde divisávamos em pleno o maravilhoso pôr – do – sol que estava desbotando no horizonte alaranjado. Após o prato principal Andrew pediu uma garrafa de Champanhe. Quando lhe perguntei a razão, já que não me encontrava com disposição para celebrar, sorriu sem dizer palavra.
O empregado chegou com a garrafa e perguntou a Andrew se gostava de ser ele mesmo a abri – la. Andrew hesitou, olhou para a praia em frente, disse que não e solicitou a conta pedindo para meter os dois copos de Champanhe também. Quando saíamos em direcção às dunas, as nossas vozes soavam ecoando pelas cavas e sinuosas paredes de areia. Andrew fez a rolha estoirar e derramou o champanhe nos dois copos antes de me estender um. Quando me preparava para tomar um golo entrou em pânico, tapou o meu que colocou em cima da areia, remexeu no bolso e retirou uma pequena caixa que me deu para abrir. Excitada, abri – a rapidamente para descobrir um anel de ouro com uma safira resplandecente. Ao ficar sem poder articular palavra voltou a dar – me o copo e pediu – me em casamento.
Fiquei admirada pois que a última coisa que desejava fazer era precipitar – me noutro himeneu. Enquanto permaneci abstraída toda a minha história se fez sentir passando na minha mente e naqueles curtos momentos concluí que a minha vida com Romano nunca tinha sido como com Andrew. Tudo o que consegui receber de Romano foi miséria moral e embora tentasse convencer – me continuamente que o problema era eu a despeito de deslizar para a auto – destruição. Por outro lado Andrew nunca me despertara para semelhantes e horríveis sensações. Era agora o meu melhor amigo, a pessoa em que mais confiava, a minha força e acima de tudo a sua personalidade, o seu humor e aspecto optimista faziam – me imanar energia positiva.
Quero. Pois claro que quero casar contigo. Mas não me pressiones, pedi.
Então, radiante, sempre com um sorriso no rosto, tirou o anel da caixinha e enfiou – mo no anelar. Estávamos agora oficialmente comprometidos.

Três meses depois vendi o último pedaço de terra. Não só passei uma esponja sobre as minhas dívidas e paguei aos investidores como fiquei ainda com dinheiro suficiente para expandir o meu negócio de importação e exportação e pagar a minha parte da casa a Andrew ou seja metade. E comprei novamente.
Na véspera da mudança., apanhei a última caixa de cartão no corredor, e dirigi – me ao quarto de banho para empacotar as últimas coisas. Quando lancei mão do pacote de tampões apercebi – me de que o meu período estava atrasado. Rapidamente avisei Andrew que então sugeriu que fôssemos ao farmacêutico comprar um teste de gravidez.
Apenas chegámos de regresso a casa corri para o quarto de banho e segui as instruções. O resultado veio num instante. Estava grávida, tinha sido positivo. Íamos ser papás.

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