A.
1. DIANA 1 - ENGLISH TRANSLATION - http://diana1ediana2originaisetraducao.blogspot.com/2009/05/diana_03.html
2. DIANA 1 – ORIGINAL ENGLISH - http://diana1ediana2originaisetraducao.blogspot.com/2009/05/diana.html
B.
1. DIANA 2 - ENGLISH TRANSLATION - http://diana1ediana2originaisetraducao.blogspot.com/2009/05/diana-b-1-diana-2-english-translation.html
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domingo, 3 de maio de 2009
DIANA - A.1. DIANA 1 - ENGLISH TRANSLATION
TRADUZIDO DO INGLÊS
DIANA 1
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CARLA DE ALMEIDA
300 CLIENTES HABITUAIS –
15 MESES COMO PROSTITUTA
TRADUZIDO DO INGLÊS POR JOSÉ PATRÍCIO
spielenschach@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
…
Estávamos no princípio de Fevereiro de 2003. Tinha acabado de completar trinta anos e a minha situação financeira deteriorava – se cada vez mais ao ponto de perder tudo o que tinha.
Estava a chegar ao sexto ano de estadia no país. Tinha vindo para cá com o objectivo de abrir o meu próprio negócio pouco tempo após me te graduado com o Mestrado em leis em Londres. Possuía ainda a empresa de Importação e Exportação que continuava a ser a minha principal fonte de recursos.
Na origem do meu colapso esteve um período muito negativo da minha vida que começou em 2001. Envolvi – me num acidente de automóvel que me pôs em coma durante três meses, do que resultou ficar endividada.
Pertencia aquele género de pessoa frente à qual se deduzia que tinha tudo, independência, atitude e sucesso. Não poucas mulheres desejavam trocar comigo ou possuir, pelo menos, um pouco da minha confiança. O meu sucesso era precisamente uma parte dos seus sonhos e o meu novo Mercedes prateado Clk que costumava conduzir desenrolava a ilusão, mesmo numa falsa sociedade como esta. Por outro lado, os homens, sentiam – se irresistivelmente atraídos por mim. Era como se pudesse arrastá – los misteriosamente, do mesmo modo que um magnete atrai o metal.
Antes dos meus problemas terem começado, a sociedade em que vivia, parecia preocupar – se mais com o meu negócio do que eu, na realidade, me preocupava. Para eles eu tinha tudo e, sem margem para dúvidas, havia – o obtido ilegalmente. A possibilidade de ter sido uma mulher de negócios cheia de sucesso, não se deve ao facto de possuir um carácter indomável. Nesta sociedade, pelo menos, isso não era normal.
Devido ao meu génio determinado e independente e à persistência em continuar o meu êxito à minha custa, pensava em levar avante um plano rapidamente. Tudo me havia atravessado o espírito, suicídio, tráfico de droga, e até mesmo prostituição. O suicídio era a maneira mais simples. Traficante de droga era demasiado arriscado. Portanto só restava a prostituição. Se era isso que me ia resolver o problema, então seja! Mas não era assim tão fácil, na medida em que falar é simples e pensar ainda mais, mas poderia uma pessoa como eu abalançar-se a uma coisa dessas?
Ao discutir o problema com um velho amigo chamado Simão, trouxe à discussão aquilo que me tinha passado pela cabeça, a extensão dos meus planos para resolver o meu dilema. Este homem de olhos verdes, alto e elegante, replicou-me que se de facto me conhecia tão bem como pensava, devia seguir em frente sem me importar com o que ele dissesse, oferecendo-se, para meu primeiro cliente.
Disse-lhe que sim a brincar e perguntei – lhe quando. Simão apressou – se a responder que a próxima noite lhe parecia bem e, antes de me permitir pensar mais, tinha concordado!
CAPÍTULO 1
Tal como havíamos combinado, Simão veio na noite seguinte e, dado que o meu apartamento não lhe era estranho, portou-se como se fora seu, passeando-se livremente pelos compartimentos, descrevendo cada pormenor de cada obra de arte tal como se fosse apenas uma mera nova visita. O único detalhe que colocava esta visita aparte das outras era o forte cheiro a loção pós barbear Armani que deixava atrás de si na medida em que se deslocava suavemente pelo brilhante soalho de mármore e o olhar – se, a cada oportunidade, num dos muitos espelhos altos.
Simão saíra mais cedo do que o costume do escritório de contabilidade pedindo a um dos seus empregados para atender a clientela. Este homem de trinta e cinco anos, tinha, pelos meus cálculos, passada uma hora a arranjar-se para o evento. Habitualmente não se barbeava tão bem e, pela primeira vez de que me lembrava, vestia, com bom gosto, uma camisa passada a ferro.
Estendeu-me uma garrafa de vinho tinto e eu dirigi-me à cozinha buscar um saca –rolhas e copos.
Simão conhecia muitos dos meus segredos. Ao longo dos anos tinha partilhado as minhas confidências com ele mas decidira abrir uma excepção para esta. Era a primeira vez que me encontrava na eminência de praticar sexo com um amigo e estava incrivelmente nervosa. Mas tinha um papel a desempenhar semelhantemente aqueles que misturam trabalho e prazer. Era agora uma prostituta e tinha de portar – me como tal não obstante o facto de Simão ser um velho amigo! Tentava conter – me com dificuldade e não podia dar – me ao luxo de abortar esta oportunidade ou perder um amigo
Tinha passado todo o malvado dia tremendo ante toda aquela experiência. Como me iria portar? O que faria? Nunca antes havia tirado as minhas cuecas à espera de ser penetrada. Tudo isto era novo para mim.
Sem nenhuma margem de erro, pude aperceber-me que Simão também estava nervoso. Desassossegado e com risinhos despropositados portava-se de maneira totalmente diferente do seu carácter. Apercebi – me que estava infeliz a princípio, embora engolisse o medo a cada golada de vinho que passava da boca ao pomo-de-adão. Desde o nosso primeiro encontro que aguardava este dia. Ia, finalmente, concretizar os seus sonhos.
Ao fim de um pedaço havíamos esvaziado a garrafa de vinho devido ao que começava a sentir-me mais descontraída e menos preocupada do que me tinha sentido durante todo o dia. Já não havia mais desculpas para adiar procedimentos e desejar que tudo estivesse acabado; estava pronta como nunca estivera para ouvir música e acabar a tortura que me ia roendo o estômago como se fora ácido a dissolver-me as células da pele.
Aclarando a garganta, ganhei coragem, respirei fundo mais uma vez, levantei – me do sofá e perguntei-lhe de que estava à espera.
A viagem da sala de estar até ao quarto de dormir pareceu-me ser a mais curta de sempre e, na esperança de que o resto fosse também curto, só ansiava por que tudo estivesse terminado.
Enquanto esperava que me despisse, sentado no banco de ginástica, uma vez mais me dei conta daquilo que estava a fazer e concentrando-me interiormente fiz a mim própria perguntas sem conto. O que irá pensar do meu corpo? Sossegou-me o facto de me ter visto já de topless na praia. O que ainda não vira era o que estava escondido nas minhas calcinhas. Bem, pensei, se já viu uma já as viu todas! Depois veio a questão final, o que iria pensar do meu desempenho? O quê, se eu não era tão boa como devia ser? Tentando encontrar uma maneira de me consolar, fiz uma rápida retrospectiva da minha experiência de um ano com uma mulher, Paula.
Eu e a Paula conhecêramo-nos há cinco anos durante um Verão escaldante. Durante um curto espaço de tempo tornara – se membro do nosso grupo de Verão e, de certo modo, Paula mirava-me e admirava-me. Era atleta Nacional e a sua compleição provava que trabalhava no duro; A ausência de gordura era o resultado da sua transformação num corpo tonificado, escultural e musculado que, de certo modo, não condizia com a sua linda cara.
Durante aquele longo estio, invulgarmente abrasador, toda a gente ia para minha casa finalizar a reunião. Salvo raras excepções, todos os membros do nosso grupo tinham boa posição social e de trabalho. Um ou dois eram directores de companhias Internacionais, outros tinham prósperos negócios e os restantes tinham um bom status profissional. O que nos reuniu foi a identidade partilhada de nos encontrarmos num país estrangeiro, isto é, todos com excepção da Paula.
Não obstante o largo leque de variação de responsabilidades do grupo, tínhamos, de certo modo, começado a fumar ocasionalmente haxixe e o meu lugar era no ponto de encontro habitual. Nos fins-de-semana era habitual as pessoas irem-se embora ao nascer do sol, no caso de não terem adormecido pelo efeito.
Nessa noite toda a gente saiu cedo para a cidade. Já demasiado pedrada, decidi ficar em casa e, por qualquer razão, quando pensava ser o seu inglês recordado com dificuldade, Paula decidiu não ir sem mim e lá ficámos deitadas no sofá a ouvir o Enigma CD.
A certa altura pedi-lhe para me massajar o pé. De posse do facto de que era habitual os meus amigos fazerem – me esse serviço, começou a massajá – los só com o intuito de colocar a cabeça nas minhas pernas durante um bocadinho.
Devido à influência da droga o nosso estado era de sonolência e comecei a envolver-me devagarinho e mais concentrada na música espiritual que nos envolvia. Ardia como habitualmente, incenso de sândalo no ambiente e a luz da vela reflectia as paredes do quarto. Na verdade, neste, tudo era o mesmo à excepção do sentimento.
À medida que me continuava a massajar os pés, senti as suas mãos moverem-se cada vez mais devagar e tornarem-se gradualmente mais firmes como se fossem conduzidas pelo ritmo da música. Som, toque, e cheiro, eram os únicos sentidos que dominavam. Os meus olhos encontravam-se fechados e o meu espírito vazio. Tudo o que podia sentir, era uma irresistível sensação de adrenalina, uma adrenalina proibida que me estava a tomar posse do corpo.
Sem ter a certeza de que isto me estava a acontecer, abri os olhos. As minhas pestanas estavam extremamente pesadas mas obriguei-as a aguentar o peso à medida que a energia que me rodeava me dava a noção de que algo de indescritível estava a acontecer. Baixei os olhos para Paula. As suas mãos já não me massajavam os pés mas, em vez disso, subiam devagarinho pela minha perna. Ambas nos olhámos, mas sem dizer nada.
No silêncio, o cheiro a incenso tornou-se mais forte enquanto a música subia de tom e, no entanto, mais suave e vagarosa. Parecia que me encontrava numa zona de tempo diferente, sem saber calcular as coisas, mas simplesmente deixar andar. A olhar-me continuamente nos olhos, Paula continuava a deslizar as mãos ascendentemente pelo meu corpo, parando apenas quando atingido o destino escolhido, os meus seios. Acariciou – os com as mãos durante uns momentos, enquanto olhava para mim afim de ler a sensação nos meus olhos. Movendo a cabeça na sua direcção, colocou o meu mamilo na boca lambendo-o ao mesmo tempo que o chupava gentilmente. A sensação era demasiado forte para me permitir entrar nas implicações proibidas. Quanto mais pensava nelas maior se tornava a luxúria. A empolgante excitação do meu primeiro encontro sexual, amplificava-se em potentes doses, três vezes mais do que alguma vez antes acontecera. Continuava virgem, não obstante esta estranha experiência. Paula levantou os olhos de novo para mim. Permaneci quieta, inexpressiva. Colocando o seu corpo por cima do meu, deslizou para cima de molde a encontrar os meus lábios e começou a beijá – los. A sensação foi mais enérgica do que nunca. Queria explodir de êxtase. A inusitada sensação da ausência de pelos faciais, adicionou uma inexprimível sensação eléctrica ao cenário proibido, conducente a um autêntico relacionamento.
Regressei do meu devaneio. Simão estava de pé na minha frente e apercebeu-se que estava mais descontraída. Recordando esta pequena fracção de experiência, convenci-me a mim própria de que tinha mais traquejo do que a maioria! Sabia como funcionava o corpo de uma mulher. Aprendera como cada parte trabalha e reage. Tinha reunido mais informação e entendimento acerca desta matéria naquele ano do que a maior parte dos homens haviam de possuir numa vida inteira.
O que tinha de fazer agora, era silenciar as minhas cogitações e entrar no papel da minha personagem com Simão que nessa altura estava a pensar de maneira diferente na medida em que eu olhava fixamente a parede.
“Olá, menina de grandes olhos verdes! Já regressou ou sou ainda forçado a interpretar os seus misteriosos pensamentos? Neste preciso momento, há dez minutos que tenta hipnotizar aquela parede”, disse.
Rapidamente desfiz o meu inalterável olhar e dirigi-me para a cama respondendo “desculpa, estava apenas a pensar num encontro que organizei para amanhã e a tentar preparar-me psicologicamente para ele.”
Agora jazíamos na cama a ouvir as atrozes anedotas do Simão que tentava desesperadamente aliviar a atmosfera. Mas a última coisa que eu queria ouvir era “Anedotas de Loiras”.
Não pareciam apropriadas na altura, mas ria nervosamente, mesmo assim. O nosso estado nervoso afectava-nos em tudo excepto no que estávamos lá para fazer. Na medida em que os nossos ataques de riso foram esmorecendo, Simão permitiu – se beijar – me o pescoço. Obriguei – me a colaborar e coloquei – me em posição. Os instintos naturais de Simão começaram a ganhar controle sobre o seu ser social. A respiração tornara-se-lhe mais forte com a sua incontrolável pressa de me devorar. Uma vez mais os meus devaneios foram para a minha ex-amiga recordando como costumávamos tocar-nos, como deslizávamos uma por cima da outra, e fazíamos com que os nossos corpos transpirassem de paixão durante aqueles momentos excitantes. Como conduzíamos e dirigíamos as nossas mãos para as zonas sensitivas.
Peguei nas de Simão e conduzi-as através do meu corpo tal como fazia com Paula. Por qualquer razão desconhecida, tentei tocar-lhe do mesmo modo que fazia com ela. Cada passo que dava era em ligação com Paula, e não com qualquer outra das minhas numerosas experiências passadas. Cada referência que fazia era em relação a ela, ao diferente, ao inaceitável, ao proibido. Quando voltei, apercebi-me que Simão abandonara o seu prazer pela falsa ilusão de que a qualidade do sexo residia na capacidade de resistência de um homem. Concentrava-se apenas na quantidade de tempo em que podia actuar. Para ele isso era exactamente aquilo que era, um desempenho. Mostrava – se desesperadamente a querer demonstrar alguma coisa, a mostrar – me que era suficientemente bom, a impressionar – me, quando, na prática eu tinha sido o único actor. Porventura porque eu não fingia ruídos, ou mostrava algum sinal de me vir?
Ambos suávamos, o que provava trabalho duro, mas senti que ele não podia aguentar-se por muito mais tempo e, para meu grande alívio, tinha razão. “Não aguento. Estou-me a vir” disse antes de deixar escapar um enorme grito.
O serviço estava terminado. Depois da saída de Simão, continuei na cama pensando quão fácil tinha sido. Tudo o que dominava o meu espírito era o signo do Euro. Sabia agora que era capaz de fazer isto de novo mas também estava convencida de que o tinha feito com alguém em quem confiava e não com um estranho. De qualquer modo, estava determinada a fazê – lo de novo se a liquidação da minha dívida acumulada dependesse disso.
Passei horas sem conto a pensar como poderia conseguir mais trabalho, se devia revelar aos outros amigos de Simão o meu segredo. Se me recusasse a falar, como poderia arranjar trabalho? Repentinamente alguém surgiu no meu espírito, Marco. Tinha – o conhecido há quase dois anos. O nosso encontro deu-se quando me conduziu ao teatro uma noite.
Era um moço simpático embora tivéssemos partilhado ambos uma experiência má. Marco apaixonara-se por mim. A verdade era que ele ultrapassara o limite e a certa altura estava perigosamente obcecado. Enviara cartas de amor que não tinham fim, poemas, mensagens e flores, só com o pretexto de me falar. Durante quatro meses, à noite, estacionou junto dos edifícios contíguos ao meu apartamento e controlou qualquer movimento que eu tenha feito. Nalguns casos enviou – me mensagens ameaçando – me quando me via acompanhada por algum amigo do sexo masculino.
Seja como for, este homem vulgar, alto, de pele cor de azeitona, de cabelo castanho, espesso, de carreiro ao meio e óculos, não me atraía e a sua maneira de vestir conservadora, mesmo aos trinta e três anos, ainda me despertava menos.
Estava longe de ser o ideal de pessoa mas era uma opção mais segura em comparação com todos os outros na medida em que não conhecia os meus amigos. Na verdade, não tinha muitos amigos no país o que significava que ninguém ouviria falar disso.
Não tinha nada a perder, só a ganhar, portanto decide-me a telefonar a Marco e convidá-lo para jantar, naquela mesma noite. Concordou, mas ainda estava insegura. Como lhe daria a notícia? Pensei que seria melhor sair com ele. Sabia da minha situação, por isso, tinha de entender.
Bem, compreendeu, ou melhor, foi melhor do que o prazer de compreender. Foi a sua oportunidade de realizar aquilo que desejara fazer há muito, muito tempo!
Primeiro, ao dar – lhe a notícia, ficou perturbado e relutante, mas tinha a certeza que me queria saltar para cima. Fazendo-me sentir isso estava a proceder de modo a ajudar-me e perguntou se podia aceitar um cheque pois não viera preparado.
Depois de concordar dirigi – me para a cozinha, enchi dois copos com Old Ballentines e pedi-lhe par ir para o quarto. Acordei no dia seguinte com um cheque e um enorme tormento!
Mastigando o maior número possível de torradas afim de absorver meia garrafa de whisky que eu e o Marco tínhamos bebido conjuntamente, olhava fixamente pela janela da cozinha magicando no que se seguiria. Conhecia muitos homens que haviam de rejubilar com a oportunidade de dormir comigo mas não tinha a certeza se guardariam segredo.
De qualquer maneira, precisava de falar com algum deles que fosse capaz de manter tudo confidencial e emprestar – me um ombro em cima do qual pudesse chorar. Howard era o homem ideal; os seus quarenta e cinco anos tinham-lhe fornecido muita experiência e sabedoria. Tinha um carácter calmo, de indiano decente e tinha uma aura confortável que de algum modo não condizia com a expressão dura que ostentava a sua rechonchuda face cor de canela.
Era o meu mais antigo e querido amigo no país e respeitávamos-nos de tal modo mutuamente, que não era pensável mencionar sequer a possibilidade deste tipo de serviço entre nós. Telefonei ao Howard fazendo-lhe sentir que era uma questão de vida ou de morte, convencendo – o a encontrar – se comigo nessa mesma tarde.
Cheguei ao café e, como de costume, veio atrasado. Era engenheiro de computadores e decerto modo encontrei dificuldades para o arrancar ao teclado. Sentei – me e, olhando através da janela pensava comigo como diabo iria dizer – lhe aquilo. Devo ter ficado hipnotizada com o ar pouco oxigenado, porquanto Howard batera na janela uns momentos antes.
Entrou, cumprimentou-me e sentou-se. Sabia que algo de sério se estava a passar, dada a ausência da minha jovialidade normal, e perguntou se estava tudo bem mas não pude abrir-me e falei de algo diverso mas nada acerca do que interessava
Dirigiu – se para o balcão e colocou-se na bicha. A cada momento, invadia-me uma premência incrível de me deitar a correr e de lhe contar. Mas logo que regressava metamorfoseou-se-me a coragem em mera covardia.
Howard sentou-se e começou a falar automaticamente na situação financeira dos seus amigos e o que isso o preocupava. Sem hesitar, tirei partido da “situação” dos amigos e abri – me com ele.
De algum modo se pôs a arrefecer o café entre a boca e o queixo, e pediu – me para repetir aquilo que ele pensava ter ouvido.
Antes que pudesse dizer alguma coisa expliquei – lhe o que acontecera. Sentado e atónito continuou a ouvir sabendo perfeitamente que se eu tinha tomado uma tal decisão não havia hipótese de ma tirar da cabeça.
Depois de me escutar, era agora a minha vez de lhe prestar atenção. Disse-me então que há pouco tinha visto alguma coisa a propósito de raparigas que trabalhavam e, dando-me a informação de bandeja, fiquei a saber que, se queria trabalhara a partir de casa, tinha de anunciar no jornal local. E isto amedrontava-me! O facto de ter de meter estranhos no meu domicílio era, de facto, terrível, mas se tinha de ser patroa de mim própria, era esta a maneira como as coisas tinham de ser.
Logo que acrescentou “de acordo com o documentário” cheguei à conclusão que a maioria auferia uma média de 7.500 por mês. E são as que trabalham em bordéis de classe inferior.
Estava mais determinada do que nunca a ultrapassar o medo. Parecia que me sentia com a energia suficiente para anunciar sem me importar com as consequências.
No meu regresso, entrei no quiosque dos jornais e perguntei ao homem atrás do balcão se me podia dizer qual era o jornal local mais popular.
Ao chegar ao carro, sentei – me e folheei nervosamente todo o periódico para ver se podia encontrar alguma coisa que se parecesse com o que procurava. Após um pedaço, cheguei à conclusão de que tinha passado por elas várias vezes na medida em que não estava à espera de encontrar tantas páginas. Estes anúncios de raparigas ocupavam pelo menos seis.
À medida que analisava a secção, comecei a ficar desiludida com o que encontrara. Meu Deus! Murmurei ao ler os baixos, vulgares e desesperados anúncios. Como é que estas mulheres podiam ser tão indecentes? Não podia acreditar no que estava a ler. Peguei numa caneta e tentei redigir um anúncio da minha autoria.
Ao chegar a casa, peguei no telefone e fiz das tripas coração para encontrar a força necessária para enfrentar o jornal. Por fim, à trigésima tentativa, respirei fundo e encontrei a coragem suficiente para falar com a, ameaçadora, e de voz bem audível, senhora do outro lado.
Esta interlocutora começou por ser grosseira, conseguindo agravar – me a ferida. Sabia que tinha sotaque, mas era perfeitamente compreensível! Tentava pôr um anúncio sem qualquer indicação da respectiva secção. Na verdade, foi algo que nunca me ocorrera até ao momento de precisar. Era como se a mulher quisesse aumentar-me o embaraço e complicar as coisas. E como se isso não bastasse, dava um toque de sarcasmo a tudo que dizia e perguntava:
“Oh! finalmente parece – me que já sei onde quer anunciar. Penso que será nos classificados “, disse rindo escarninho.
Mas deve ter deixado de expressar o que sentia, logo que li o anúncio. Era simples e sincero.
“Está bem. É na secção de classificados, respondi sem me ter apercebido quando analisei os outros anúncios que secção era, na verdade.
“O que é que gostava de escrever?” perguntou.
“Oh! Pós graduada. 27 anos.
Trabalha só, a partir de casa.
Discreto e privado.
Tel. …”
É isso? Tem a certeza?
“Tenho”, disse delicadamente dando – lhe os elementos de identificação.
Era um texto sincero. Sem floreados, sem exageros. Bem, tive que mentir acerca da idade pois que no meu caso havia ultrapassado o prazo de consumo.
CAPÍTULO 2
Há seis meses que Rozen partira para a Grécia. Regressava no dia seguinte e não fazia a mínima ideia de como lhe iria dar as notícias.
Rozen era o meu companheiro de quarto. Há três meses decidira alugar um aposento do meu apartamento para ajudar a suportar os custos básicos.
Era um judeu ainda jovem, que partira do Egipto à procura do seu sonho, fazer dinheiro e depressa. Estava no país há um ano quando passou a viver comigo.
Aparentava ter menos dez anos do que os seus trinta e três já feitos. Tinha acentuadas marcas de acne e recusava – se a deixar escapar uma dura, cinzelada expressão fisionómica. O seu cabelo comprido era habitualmente atado num vigoroso e lubrificado rabo-de-cavalo que lhe conferia, a par do seu casaco de cabedal, um ar de mafioso terrível.
Rozen dedicava todo o seu tempo ao sonho que o trouxera, trabalhando no duro na sua profissão, obtendo excelentes lucros. Tinha poucos conhecimentos no país; tornei – me assim na sua melhor amiga, nos curtos três meses em que nos conhecemos.
Durante as nossa primeiras e escassas semanas cheias de excelente camaradagem, o nosso instinto natural apoderou-se de nós conduzindo ao começo de um relacionamento efémero de apenas cerca de um mês. Sabendo-me sem recursos, e que a minha vida estava totalmente em ruínas, depressa me dei conta de que não podia ser de outra maneira e para consternação de Rozen acabei com essa óptima convivência.
No entanto, Rozen continuava inflamado pela falsa ilusão de que me encontrava apaixonada por ele. E, pacientemente, esperava por melhores dias, que lhe fornecessem os ingredientes necessários para recomeçar uma verdadeira história de amor.
Ouvi-o meter a chave na porta e, rapidamente, avancei na sua direcção. Abriu, ostentando um maravilhoso sorriso. Extraordinariamente feliz por me ver, deixou cair os múltiplo sacos que trazia afim de abraçar – me, dizendo no seu sotaqueado e incorrecto inglês:
“Olá, Diana. Senti tanto a tua falta! Como tens passado?”
Fiquei prisioneira do seu vigoroso amplexo durante alguns minutos. Estava mais feliz do que quando partira para as suas almejadas férias. Ao ajudá-lo a levar a bagagem fui-lhe dizendo que precisava falar-lhe, e pedi-lhe para se sentar.
A sua expressão esmoreceu quando lhe falei da minha decisão. Não podia acreditar no que estava a ouvir.
“É verdade. Já tive dois amigos clientes antes de tu vires. Pus hoje um anúncio no jornal. Deve sair amanhã. Peço muita desculpa. Não é justo fazer-te uma coisa destas, eu sei. Mas, por favor, tenta compreender que estou entre a espada e a parede. Para além disso, quero que saibas que compreendo no caso de te quereres ir embora. Na verdade tenho estado a pensar nisso e a única coisa justa a fazer é que eu saia, se assim o desejares. A opção pertence-te”.
Rozen ergueu-se, pegou nos sacos e foi para o quarto desfazê – los. A conversa deixara-o vazio e mudo. Sentindo – me infeliz, fui atrás dele e fiquei à porta do quarto a observá – lo a separar a roupa numa pilha e os presentes que me havia comprado, noutra.
Após um curto lapso de tempo sentou-se na cama e colocou a cabeça em cima de uma das mãos. Cheguei – me a ele e, de certo modo, senti a necessidade de colocar o meu braço no seu ombro e confortá – lo.
Rozen não podia acreditar que eu tivesse chegado a este ponto e a esta decisão, embora pudesse compreender perfeitamente o meu desespero. Quando lhe disse o tempo que tencionava trabalhar, respondeu:
“Dizes cinco meses, Diana. É esse o teu plano? Todas fazem planos; seis meses, um ano, mas nunca ficam por aí. Hás-de ver. Acabas por ficar viciada.
Sugeriu, a seguir, que ambos continuássemos a viver no apartamento dizendo que era mais “seguro” para mim porquanto nunca lhe passaria pela cabeça abandonar-me, não obstante a minha decisão.
Do que não tinha a certeza era se a sua deliberação tinha sido uma consequência do nosso relacionamento anterior ou ao medo de voltar a ficar só. Uma coisa era certa. Estava aliviada.
Este género de coisas não constituía novidade para ele. Já me tinha falado antes no seu envolvimento num bordel, quando regressara ao Egipto. Até certo ponto estava convencida que tinha vindo por causa disso: fechar um capítulo desagradável que desgostara e embaraçara a família. Agora encontrava – se livre para lhe provar que podia realizar o seu sonho de um modo diferente, trabalhando arduamente, num emprego diferente, mesmo que isso significasse ter de abandonar o seu país.
Antes de deixar o quarto, explicou-me alguns pontos que achou que eu devia saber: a conveniência de um nome “artístico”, como actuar profissionalmente, como respeitar as tabelas de preços, e, acima de tudo, nunca me envolver com clientes, quer a um nível amigável ou emocional.
Nunca na vida pude compreender porque havia de mudar o nome e, em breve, cheguei à conclusão de que, embora todas as prostitutas o fizessem, para mim era uma ideia desprovida de senso já que só haveria de compreender quando estivesse, de facto, metida na profissão.
CAPÍTULO 3
Naquela manhã, às sete e meia acordei com o Napoleão a ladrar e os primeiros feixes de luz do sol que se coavam através das persianas.
Após dar voltas e reviravoltas de sem conto na cama, cheguei à conclusão de que era escusado, não conseguia voltar a pregar olho, já que pensava constantemente na possibilidade de receber alguma resposta ao meu anúncio.
Para ali estava repetindo constantemente para mim mesma, sempre as mesmas malditas questões: “Será que alguém vai responder? Como vou reagir? Quanto vou cobrar?”
Torturava-me ao ponto de me sentir doente encontrando, assim, uma desculpa para não trabalhar nesse dia, se acaso perdesse a coragem de o fazer.
Deviam ser praticamente oito horas quando o Rozen bateu à porta do o meu quarto. Fingi que estava a dormir e não respondi. Os meus nervos não me iam permitir encará-lo e o meu desejo era que se fosse embora.
Passados alguns minutos ouvi a porta da rua fechar – se. Para meu alívio saíra para o trabalho. Repentinamente dei um salto ao ouvir um toque alto e pouco familiar. Era o meu recentemente comprado telefone de trabalho que tocava às dez para as nove! Ponderando se havia de responder ou não, peguei nele rapidamente antes de qualquer oportunidade de mudar de ideias.
“Olá, querida, estou a telefonar por causa do anúncio no jornal de hoje. Podes – me fornecer algumas informações, se faz favor? Perguntou uma voz envelhecida antes que tivesse oportunidade de dizer “está?”.
“Está? Mas naturalmente. O que deseja saber?”
O homem deu uma gargalhada perante a minha inocência.
“Portanto, és um rapariga de vinte e sete anos, certo? Qual é o teu aspecto? Altura, constituição, cabelo”
Hesitei. Fiquei agora a compreender que alguém vinha ter comigo para fazer sexo sem saber sequer a minha aparência mas, no entanto, tinha de confiar em qualquer figura imaginária, acabada, das minhas feições. Concebia que os homens faziam sexo com as mulheres por serem atraídos por elas e, nesse ponto, cheguei à conclusão que nós, fêmeas, nos encontrávamos iludidas. Um engano acerca do qual estava prestes a saber a verdade.
A voz perguntou se estava, pois que a linha mergulhou no silêncio.
“Estou sim, desculpe. Sou medianamente alta, elegante, cabelos compridos e olhos verdes.”
“Quais as tuas medidas?
“Um metro e sessenta e cinco”.
“Sim, está bem, mas as medidas?
“Faz favor de me desculpar. Não estou familiarizada com as medidas europeias. Posso dar – lhe as inglesas? Meu Deus, não estou a pensar nisso.
“Não estás a pensar em quê, querida? És nova nisto, não és? És, portanto inglesa.”
Ao aperceber – se que era o meu primeiro dia, o homem parou imediatamente de fazer perguntas, fez uma reserva para a hora seguinte e que estaria na minha rua voltando a telefonar para saber pormenores.
O meu temível primeiro telefonema havia terminado. E parecia ter arranjado um cliente, dado que estava programado para dali a uma hora.
Era, de sem qualquer margem para dúvidas a hora mais longa e, ao mesmo tempo, também a mais curta, do trigésimo ano da história da minha vida.
Movendo – me constantemente para trás e para diante, não permiti que a mais pequena peça de mobiliário, CD ou escultura, não fosse observada para ver se tinha pó, que uma única partícula de ar deixasse de estar impregnada e refrescada pelo cheiro a alfazema, ou que alguma migalha de sujidade ou pelo de cão pudessem ser encontrados por debaixo das molduras. Tudo foi inspeccionado e reinspeccionado. Já não havia mais desculpas a não ser pensar em toda aquela provação que ia seguir – se e nas consequências que daí poderiam advir para a sociedade, para a minha família, para o meu status. Era como cantar uma canção cujas palavras haviam sido esquecidas mas que, de algum modo, se continuava a entoar a melodia.
Não parava de fazer constantemente as mesmas perguntas a mim mesma, a tal ponto que, subconscientemente, vociferava as resposta.
A indomável, embora inteligente pessoa que me considerava até ali, metamorfoseara – se numa criatura de normas e valores sociais.
Recordando os rumores à volta da alta sociedade que constituía actualmente a minha vizinhança, quando aqui cheguei pela primeira vez, instantaneamente fiz o inventário. Tudo lhe provocava comentários, a minha original maneira de vestir, a minha personalidade o meu porte, o meu carro caríssimo e, acima de tudo, a minha independência. Pus os olhos no meu cão inquieto e disse “Bem, fui acusada de ser uma prostituta de alta sociedade, devido ao meu direito à independência. Mas que raio de problema é o meu? Quem diz que não estão outra vez enganados? Deram –se ao trabalho de verificar se era verdade?
Faltam quinze minutos. “Que tipo de homem é que vou encontrar à minha porta? Pela minha Nossa Senhora, como irei reagir? Que raio de diabo vou fazer com ele, Napoleão? Simplesmente não podia alhear – me do problema e, a certa altura, quase que ia desmaiar. Cada vez mais o cão se metia nas minhas frustrações, ajudando a aumentar a tensão que enchia o ar. Prestes a ir – me abaixo, respirei profundamente e procurei as respostas para o meu próximo episódio de inquirições temíveis.
O cão estava para ali postado tal como se fora um psicanalista a atender os pacientes, simplesmente à espera que me saísse com as respostas. Repentinamente, o meu telefone de se viço tocou de novo.
“Será ele? Com seiscentos mil diabos do Inferno, Napoleão, como me vou haver com o que se segue?”
O homem encontrava-se ao fundo da rua em que me instalei. Iniciei – o nos pormenores e fiquei ali, de pé, junto da janela da cozinha, olhando pensativamente para o vazio.
A campainha tocou. Ganhei controle e, depois de prender o Napoleão na cozinha, lá me arrastei até à entrada. A campainha tocou segunda vez. Hesitei antes de abri uma nesga da porta. Ante a minha estupefacção, vislumbrei um homem velho, de cabelos brancos e desenhando um largo sorriso. Fiquei completamente inerte, muda como se o gato me tivesse comido a língua. Controlando – me, forcei um sorriso, moldei a cara do homem em signo do Euro e pedi-lhe para entrar.
”Por favor, sente – se e esteja à sua vontade. Sou a Diana e o Sr.…?”
“Carlos, eu sou o Carlos. Que surpresa agradável. Não estava à espera de encontrar alguém assim!
“Estava decerto a ser sarcástico?! Mal dormira, o meu cabelo estava pior do que o costume e nem sequer estava vestida para lhe agradar!
Passados que foram alguns minutos, descontraí – me com o personagem, provavelmente devido à sua compreensiva imagem de avozinho e à sua voraz curiosidade que não me deixava espaço para pensar sobre o que o homem estava para ali a fazer. De certa maneira senti uma premente urgência em me justificar e explica porque raio de diabos havia chegado a uma tal degradação. Um grito de ajuda? Talvez se não me virem como uma libertina? Ou convencê-los de que não tenho escolha e que fui bem sucedida nos no passado? Que tal se isso for uma maneira de me fazer respeitar e ser levada a sério? Fossem quais fossem as razões, constituíram as ferramentas indispensáveis destinadas ao “ritual de quebrar o gelo com o meu novo cliente”.
Carlos apresentava-se extraordinariamente amigável. Apercebeu-se que eu estava demasiado nervosa para o convidar para o quarto. Sabedora disso, matava o tempo que ele não comentava, já que se sentia privilegiado por ter alguém que lhe prestava atenção durante tanto tempo.
Passada uma hora, quase que me tinha contado quase toda a história da sua vida; histórias sem fim que, para este engenheiro reformado, soavam como aventuras, mas que pareciam tornar as coisas pouco encorajadoras.
O tempo voava. Já era a quinta vez que o meu telefone tocava. Não pude adiar, pois que de outro modo passava todo o santo dia na conversa com esse indivíduo o que implicava perda de trabalho. Respirei fundo, ganhei controle, pensei em dias melhores, e pedi-lhe para me seguir ara o meu quarto
Quando caminhava pelo corredor senti-me a desfalecer e disse-lhe que tinha escorregado de maneira a disfarçar o facto de quase ter desmaiado à porta do quarto; quanto a ele, seguia silencioso quando, enfim chegámos. O pobre do homem não pôde encontrar motivo para sorrir quando descobriu que o quarto era um ginásio e que a cama estava colocada directamente no chão. Acho que o motivo para sorrir se encontrava em mim, após me sentir tão intimidada durante toda a àquela hora. Não havia colchão. Apenas um edredão.
Passei a dormir ali a partir da altura em que Rozen foi para lá e tinha – me habituado a dormir no chão devido a problemas da coluna e de dinheiro. Repentinamente compreendi que um colchão era desnecessário e, a sorrir para ele, desculpei-me por não ter pensado nisso mais cedo.
Ainda chocado, Carlos atirou – se ao trabalho e começou a despir – se em silêncio enquanto eu, sentada no edredão, olhava impressionada. Nunca em toda a minha vida vira um homem desta idade postado nu na minha frente e não fazia ideia da expectativa. Fiquei insensível, para ali à espera, sem fazer a mínima ideia do que fazer ou reagir mas desejando separar matéria e espírito e largar ali o meu corpo para o recolher depois. Mas não era capaz. Não podia e tinha de enfrentar a música fosse qual fosse a área a tocar. Só desejei que tudo estivesse passado.
Curvando o debilitado e amarrecado corpo, perguntou-me se não ia despir-me. Colocou-me um dos seus braços à volta do pescoço na tentativa de me acalmar, que não precisava de estar nervosa e que tudo ia correr pelo melhor. Ergui-me e dirigi–me para o banco de ginástica para me despir. Carlos tecia-me elogios à medida que as peças de vestuário se iam desprendendo da minha pele.
Sentindo-me como uma virgem, voltei-me e deitei-me nervosamente a seu lado. Era a quarta vez que sentia que estava prestes a perder a virgindade. A primeira foi com o meu primeiro namorado, a segunda com Paula e a terceira com Simão, a minha cobaias, e a quarta com este homem que estava prestes a ser o meu primeiro cliente oficial.
Sem saber o que fazer, indaguei se acaso gostava de uma massagem e logo me perguntei porque fizera uma sugestão tão estúpida, dado que cheguei à conclusão de que não fazia a mínima ideia de como dar uma. Para meu desconcerto, respondeu-me que sim, que adoraria que lhe desse uma massagem. Censurando-me, dirigi-me ao quarto de banho à procura de óleo. Regressei com um frasco de creme amaciador e encontrei-o de rabo para o ar. Derramei o frio creme na sua pele rugosa enquanto pensava que raio de diabos iria fazer a seguir. Repentinamente soltou um grito.
“Chega. É creme suficiente!”
Ao olhar para baixo cheguei à conclusão de que havia derramado metade do conteúdo do frasco e, então, pedi desculpa ao mesmo tempo que procurava uma toalha para limpá-lo antes de começar, suavemente a massajá-lo. Subitamente lembrei-me dos preservativos e entrei em pânico dada a minha ignorância em usá-los. Para além disso não fazia a mínima ideia como dizer-lhe e, assim, convenci-me a mim própria a não o fazer.
Carlos não estava a gostar da massagem e voltou – se. De olhar cada vez mais fixo, senti a frieza da sua mão na minha vagina e deixei – me ficar muito quietinha. Não havia experiências do passado nem mesmo ex namoradas podiam vir salvar – me o dia; para ali estava desprovida de sentidos tal como se não existisse.
Pouco a pouco e perguntando de vez em quando “Querida, estás a gostar?”, tentava fazer – me vir massajando – me a o clítoris e metendo – me alternadamente o dedo indicador na vagina. Gostava de fazer isso mas não conseguia nada de mim. Repentinamente pensei em fingir. “E se ele dá conta?”, pensei. Mas naquele preciso momento veio – me à ideia que eu mesma industriava os meus amigos a estudarem a parceira e verificar se estava a fingir ou não. Inicialmente a maioria deles jurava a pés juntos que as suas namoradas nunca fingiam mas sem conseguirem provar como. Pois bem. Toca de fingir. Mas de novo hesitei. Merda! Não posso porque este homem é mais do que sabido porque é velho e conhece todos os truques.
A partir daí não me pude dar o luxo de fingir, pelo menos nessa altura. Tinha de me pôr a praticar a mudar de estratégia. Reunindo a coragem necessária, voltei – me e comecei a beijar o peito grisalho de Carlos antes de começa a roça-me por cima dele. Olhando para a camisa de Vénus ao lado, no edredão, estendi o braço para a agarrá-la mas fui interrompida. “Que estás a fazer minha querida? Todas as outras raparigas me chupam sem camisa. Nuca nenhuma usou tal coisa para me fazer um broche; está bem, não vou vir – me, insistia. Nesse preciso momento senti – me abandonada, nervosa e assustada mas, sobretudo, mais intimidada do que nunca. Não tinha alternativa senão convencer – me a mim própria de que ele sabia melhor o que devia ser feito por ser um homem educado e, acima de tudo, com mais experiência neste círculo embora não fosse ingénua ao ponto de deixar de ver que estava a tirar partido das minha inexperiência.
Pegando – lhe no pénis meio erecto cerrei com força os olhos para me alhear da realidade e comecei a sugá-lo. Debalde. O diabo do coiso fugia-me das mãos forçando-me a abrir os olhos e enfrentar a verdade amarga ao mesmo tempo que tentava ignorá-la. Mas porque é que isto me está a acontecer? Perguntava para mim própria perdendo cada vez mais a auto confiança e tornando-me cada vez mais insegura. A minha última gota de auto estima evaporava-se pela experiência de cada segundo num esforço continuado de o manter erecto. Não tinha escolha senão deixá-lo de novo tomar o controle.
Começou por beijar-me nos lábios. Num desesperado apelo para ver-me livre dele polidamente articule que as prostitutas não faziam isso. Uma vez mais Carlos asseverou que todas as que visitava o faziam, deixando-me numa posição incómoda em que tinha de sentir a sua fina serpentina como uma língua dentro da minha boca.
Para espanto meu, Carlos estava determinado a penetrar-me de pénis erecto ou não. Colocando-me de gatas, começou a balançar o seu frágil corpo em mim e com todo o peso nas minhas costas. A minha vagina, mais que dorida, adormeceu alheando – se de toda a actividade a que este homem a violentava balançando – se para trás e para a frente sem que eu pudesse sentir se me estava a penetrar ou não. Já não podia sentir a fricção entre o meu ânus e a minha vagina. Finalmente Carlos soltou um grito e, para meu enorme alívio, percebi de algum modo que se tinha vindo.
Enrolei rapidamente uma toalha à volta do meu corpo e conduzi o à porta, ao mesmo tempo que lhe pedia o dinheiro antes de abri-la. Por alguma razão não podia actuar da maneira que Rozen me ensinara, pedir antecipadamente o dinheiro.
Fora este o meu primeiro cliente saído dos meus anúncios, este sexagenário a provar-me que era necessário estômago e paciência para continuar o jogo.
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O tempo que eu havia estipulado foi-se pelo cano abaixo. Embora o acto propriamente, fosse bastante rápido, a conversa ultrapassou uma hora e tentei convencer-me que não iria ser sempre asssim.
Pelo que pude tirar de Carlos, era um cliente regular de bordéis e visitada a maioria deles bem como as prostitutas da área. Era como se isto fosse o seu escape, o seu hobby, permitindo-lhe preencher todos aqueles longos espaços vazios que os infindáveis dias lhe proporcionavam.
Este velho senhor era eficaz na caça à secção classificada. Era o seu fan favorito a descobrir o maior número em escassos segundos. Entre milhares conseguiu divisar o meu primeiro anúncio e ganhou , de facto, a corrida. Deixou – me a pensar se gostava de visitar as raparigas mais porque eram novidade ou porque podia tirar partido tal como fizera comigo. Tinha eu tido sorte ou azar?
Rozen chegou a casa desejoso de saber como fora o meu primeiro dia de aventuras. Assim que comecei a contar-lhe a minha experiência, começou a ficar pior que estragado. Para além da recepção do dinheiro tinha alienado a maioria das regras que me tinha aconselhado seguir; não pedira o dinheiro antecipadamente, não respeitei o tempo estipulado, não alterei o meu nome, não usei preservativo durante o sexo bucal e beijei o cliente. Tudo o que fizera era exactamente o oposto do que devia ter feito.
A experiência do dia deixara – me exausta. Recebi centenas de chamadas mas não conseguia trabalhar de tarde pois havia surgido um problema com a minha tarefa. Desde que tivera o acidente e a série de acontecimentos daí derivados como não ter um supervisor que controlasse os meus negócios na minha ausência contratei um director. Naquele mesmo dia voltou para casa doente.
Eram agora dez horas da noite. Recebi uma chamada do que parecia ser de um jovem. Antes de responder ao telefonema pergunte a Rozen se se importava que eu trabalhasse enquanto ele estava em casa. Disse que não e então deixei o homem marcar para as onze horas.
De algum modo me sentia mais confiante. Talvez devido ao facto de Rozen se encontrar em casa? Talvez porque o jovem prestes a chegar parecia nervoso e inexperiente ao telefone?
A campainha da porta soou. Rapidamente Rozen desapareceu no seu quarto. Abri a porta a um homem de cabelo espetado com aproximadamente dezanove anos, com um grande sorriso.
À medida que caminhávamos para o quarto iluminado a velas e ele, de mãos atrás das costas, pedi-lhe para se sentar no edredão desculpando – me por ainda não ter comprado um colchão e comecei a quebrar o gelo contando-lhe a razão porque chegara ao ponto em que me encontrava e perguntando-lhe o que fazia na vida.
Russell era segurança numa das lojas do centro comercial. Não parecia ser uma das pessoas mais brilhantes e falava com sotaque vulgar. A sua presença desprendia um odor a bolas de naftalina. Estava extremamente nervoso e manteve-se calado até que lhe fiz uma pergunta.
Principiei a despir-me e, vendo-o ali estático, admirado e temeroso sugeri que fizesse o mesmo antes de nos deitarmos ao lado um do outro em cima do edredão.
Russell não parava de tremer e parecia ser completamente inexperiente. Era como se fosse a sua primeira vez. Comecei por lhe beijar o peito para o descontrair antes de lhe colocar o preservativo. Não tinha o pénis erecto e coloquei – lhe o preventivo mesmo asssim e pude começar a chupar-lho. Ao contrário de Carlos não argumentou mas sentindo – se intimidado enquanto eu me curvava e libava.
Por mais que me esforçasse e por mais força que fizesse não dava qualquer resultado. O seu corpo tremia nervosamente e não conseguia relaxar. O cheiro a naftalina tinha – se espalhado sufocando o odor corporal. Russel não possuía iniciativa e deixava-se estar para ali. Já estava farta de chupar aquele pénis molengão mas de algum modo achei que tinha de continuar até acabar o tempo a que tinha direito.
Repentinamente uma aragem passou pela abertura da janela do quarto trazendo consigo o cheiro mais desagradável que me penetrou na pituitária tornando - me o mais possível desconfortável.
Parei de lhe chupar o membro e disse – lhe que precisava de um intervalo já que a minha boca se estava a tornar insensível. Já que continuava sem se mexer, peguei no meu telemóvel e vi as horas. A sua meia hora estava prestes a chegar ao fim. Pensei em Rozen sabendo bem que me iria fazer um sermão ao permitir a um cliente mais tempo do que o estipulado.
Olhei para ele e dei-lhe a entender o que se passava. Insistia para que lhe desse mais uma chance. E dei. Desta vez, sabendo que tinha de apressar-se, tomou a iniciativa de se pôr em mim e, enquanto desesperadamente tentava penetrar-me com aquele pénis molengão, o desagradável cheiro a merda voltou com mais intensidade. Quanto mais se movia mais intenso o cheiro se tornava.
“Desculpa, Russel mas temos de parar por aqui. Não é nada saudável estares a tentar penetrar-me com um pénis que não consegues endireitar. Ademais, não te dás conta do sofrimento que me estás a causar. Não vai resultar. Tenho muita pena. Tenho um outro cliente a chegar dentro de momentos. Temos de fazer isso numa outra vez, certo?”
Russell não conseguia perceber que era em vão tentar persuadir-me a continuar e parou. Enrolei-me numa toalha enquanto ele se vestia, recebi o dinheiro e conduzi-o à porta. O forte cheiro que enchia o quarto ainda lá estava. Acendi a luz para ver se alguém tinha entrado com os pés sujos de merda de cão, mas nada. E o cheiro era mais activo do que nunca. Quando me curvei para limpar o edredão e o cheiro aumentou, repentinamente vi o que era. Russel havia deixado uma marca na minha coberta branca. Tivera tanto medo que se cagara. Enjoada, rapei a porcaria com a ponta dos dedos e fui colocá-la na varanda num grande saco, de molde a que Rozen não conseguisse encontrá-la. Por mais banhos e chuveiros que tomasse não conseguia ver-me livre daquele cheiro. Sentia-me contaminada e podia ainda cheirar o odor a toda a minha volta.
Provara-se que o meu primeiro dia fora de extremos. Havia recebido dois clientes; um velho por demais familiarizado com locais de prostitutas e que tentara tirar partido da minha inexperiência e um jovem inexperiente que, ao contrário do outro que fora a calma em pessoa havia ficado tão amedrontado que deixou a marca do medo no meu quarto.
Uma coisa era certa; por um lado aprendera a não deixar os homens tirar partido da minha situação. Por outro, fiquei a saber que devia sempre tentar persuadir futuros clientes a usar o quarto de banho antes de principiarmos. Mas o mais importante foi chegar à conclusão que homens que visitam prostitutas não podem ser classificados por idade ou classe mas, de preferência, pelo seu todo, pelo menos era o que estava prestes a descobrir!
CAPÍTULO 4
No decurso de algumas semanas choveram chamadas e visitas de todos os tipos de homens, de todas as condições sociais mas, a maioria, pertencente à classe média. Os que estavam familiarizados com a secção dos classificados, andavam sempre muito curiosos por saber das surpresas que algum anúncio novo tivesse para revelar.
Tornara – me numa notável recepcionista que constituía agora uma parte importante do meu ofício. Fosse quem fosse que procurasse pelo anúncio, as mesmas questões eram inquiridas inacreditavelmente pela mesma ordem. Tudo se processava como se os machos inquiridores tivessem frequentado as mesmas classes na mesma escola.
“Está lá? Estou a telefonar por causa do anúncio no jornal. Pode dar – me algumas informações, se faz favor?”.
Durante os primeiros tempos provou ser deveras intimidante, na medida em que eu deixava aos homens o controle do diálogo. Passados alguns dias respondia rápida e confidencialmente papagueando a, assim chamada, minha escrita, antes de serem proferidas as perguntas sacramentais:
“Olá! Tenho 27 anos, 1 metro e 65 de altura, sou elegante, uso cabelos longos castanhos, de busto agradável e medianamente desenvolvido e tenho olhos verdes, não tenho amigos comigo. Trabalho sozinha a partir de casa. Discrição absoluta.” Por vezes: “Não, não é completo. Não faço coito anal, na verdade não faço.” Outras vezes era assim: “Peço desculpa; não tenho qualquer graduação em massagens mas se quiser pode dar – me uma, acrescentava afim de dar um toque de humor.
Rozen tinha – me sido enviado para ser a minha força durante aquelas escassas semanas. Sem ele, não poderia ter recebido os clientes da última noite, enquanto se escondia secretamente no seu quarto.
Sempre que Rozen regressava do trabalho, contava – lhe os acontecimentos do dia. Seriam necessárias horas sem fim para transcrever todas as minhas análises e observações. No entanto, dava – me conta de omitir certos detalhes tais como de usar ainda o meu nome original em lugar de o substituir por “Natacha” e de não ter a coragem necessária para pedir aos clientes pagamento antecipado, e ainda de não os tratar friamente, tal como deve fazer uma verdadeira profissional.
Um dos principais tópicos de conversa era transmitir ao Rozen toda a informação que tinha recebido dos meus clientes no que dizia respeito a outras raparigas que exploravam a área. Inesperadamente, numa manhã de Sábado chuvoso, tirei partido da conversa para perguntar a Rozen se alguma vez tinha ido a uma prostituta. Rindo ruidosamente, disse – me que havia visitado muitas. Chocado pela pergunta, rapidamente rumou a discussão para a sua vida sexual passada. Por qualquer razão, Rozen tinha uma premência enorme em impressionar – me pensando que podia fazê – lo vangloriando – se das inúmeras mulheres com quem praticara sexo. Para um homem tão novo, estava decerto a exagerar, pensei, enquanto ele olhava para o tecto para computar os seus troféus, calculando números antes de, eventualmente chegar a cerca de cento e cinquenta. De nenhum modo o podia censurar pelo seu empenhado assunto de cogitação. Afinal de contas era originário de uma sociedade onde o domínio do homem parecia prevalecer. Todavia não achei surpreendente o seu comportamento no assunto e, assim, não perdi tempo argumentando contra, e, de preferência, orientei as minhas energias para algo diverso.
“Rozen, eras capaz de fazer algo por mim? Eras capaz de ir a uma prostituta?” perguntei.
Rebentou a rir. Era o seu modo de lidar comigo nos momentos de stress.
“ Diana, tu és louca! Porque é que eu havia de querer ir visitar uma prostituta? Já visitei muitas. Tu és mazinha!
Inicialmente relutante, com um pouco de persuasão consegui convencê – lo, com a condição de o acompanhar.
Passada que fora uma hora estávamos os dois na estação de serviço a comprar o jornal local. À medida que procurava na página de classificados, fazia um círculo em todos os anúncios das raparigas locais e dei o telefone a Rozen para fazer as chamadas. O plano era só visitar aquelas que concordassem em aceitar – nos a ambos.
Rozen ria escarninho quando desligou o telefone. O primeiro anúncio que contactara aceitou as nossas condições. Pusemos – nos os caminhos e dentro de cinco minutos chegávamos ao local do anúncio que estava colocado num canto vazio do jornal.
Entretanto, o meu telefone de serviço tocou. Atendi e, para meu desconsolo, era Russell, a perguntar se podia fazer uma marcação para a mesma hora, naquela noite. Quase morri! Uma baforada de cheiro a merda passou por mim de novo. Pedi desculpa e disse que estava completa por alguns dias pensando, entretanto, descobrir uma estratégia qualquer.
Quando desliguei, Rozen inquiriu acerca do que se passava. Achou estranho o facto de declinar um cliente. Rapidamente me desculpei argumentando que o dito era pouco limpo e que se recusara a tomar um banho de chuveiro na sua primeira visita.
O bairro, de classe média, estava tão sossegado que se podia ouvir o silêncio. Apeámos – nos e fomos à procura do número da porta do edifício. Antes de tocarmos a campainha do rés – do – chão, Rozen virou – se para mim e começou a dizer que seria melhor isto e aquilo e que não tinha alternativa senão juntar – me a ele.
Sorri e pressionei a campainha da porta de entrada. Uma dama elegante que aparentava estar no início dos quarenta, abriu-nos a porta. Trajando de preto, a condizer com o seu cabelo escuro com um forte, embora suave, sotaque brasileiro, mandou – nos entrar. Olhando a toda a volta para ver se alguém nos observava, seguimos as instruções da senhora e entrámos enquanto segurava a porta.
Conduziu – nos pela espaçosa sala de entrada, acabada em madeira clara de carvalho, dando para a sala de estar que consistia em dois grande sofás de couro e um bar a um canto, tudo assente em cima de um soalho de mármore. Duas esculturas decoravam o compartimento despido, preenchido com um fundo de música de jazz e o doce cheiro a lírios frescos colocados em cima do bar.
“Sentem – se, por favor, que vou chamar as raparigas”, Disse.
Eu e o Rozen sentámos – nos muito juntinhos no sofá de três peças como se se tivesse metamorfoseado num único assento e esperámos, sustendo a respiração, para ver as raparigas.
De repente, duas moças muito jovens apareceram, seguidas pela senhora. Fiquei estupefacta ao aperceber – me que não tinham mais de dezoito anos se é que os tinham. Nenhuma delas articulou uma única palavra, enquanto estavam para ali extraordinariamente intimidadas pela nossa presença. Parece que nem sabiam onde colocar os seus olhares fixos e inexpressivos. Pareciam humilhadas e cheias de medo na perspectiva de serem escolhidas enquanto enfrentavam, ao mesmo tempo, a possibilidade de serem rejeitadas, como se tivessem sido lançadas em competição; uma competição da carne, baseada no seu olhar, na atracção sexual ou em tudo o mais que leva um homem a escolher uma mulher.
Para cortar o silêncio, duma atmosfera tensa, a mulher olhou para nós, aclarou a garganta, e perguntou qual delas íamos escolher.
Olhei para Rozen que encolheu pura e simplesmente os ombros sem proferir uma única palavra. Olhei uma segunda vez para as infelizes jovens seminuas postadas na nossa frente, balançando as pernas como se tivessem vontade de ir ao WC. Ambas se encontravam meio vestidas, exibindo – se em trajos menores, uma de branco, a outra de preto. Uma com longos caracóis escuros, a outros castanhos-claros.
“A de cabelos pretos, se faz favor”, disse, “Penso que é essa.”
“A Cindi? Disse a mulher, “Muito bem, sigam – nos por favor”
Pousando o braço na vencedora, a mulher conduziu – nos ao lado oposto por um corredor de cor creme, difusamente iluminado, abriu a porta do quarto e pediu – nos para esperarmos alguns minutos antes de fechar a porta atrás de si. Logo que esta se fechou Rozen voltou – se rapidamente e perguntou por que é que escolhera a Cindi. De maneira nenhuma se encontrava feliz com a escolha. Abri a porta para ir encontrar Cindi na sala de entrada a receber instruções da patroa. Chamei esta de parte e informei – a de que mudara de ideias ao ler a expressão reprovadora de Rozen. Estava, de certo modo, satisfeita, na medida em que ambas as moças haviam sido escolhidas.
Enquanto esperávamos olhei à minha volta e observei o quarto limpo e asseado. Consistia numa cama muito larga, uma mesa-de-cabeceira, um toucador, e um enorme guarda – fato de uma só peça feito de madeira clara de carvalho. O soalho castanho dava mostras de ter sido brilhantemente polido enchendo o ar com um acentuado cheiro a cera. Quando menos esperávamos, a outra rapariga, tímida, de cabelos compridos claros, entrou, cabisbaixa. Olhando rapidamente para cima, esboçou um sorriso forçado antes de regressar à mesma posição. Não nos atrevemos a perguntar o nome. Parecia tão aterrorizada e estar ali contra sua vontade, como se tivesse sido vítima de contrabando ilegal de carne branca.
Começou a despir – se em silêncio. Rozen, seguiu – lhe imediatamente o exemplo. Permaneci sossegadamente na cadeira à beira da cama aprontando – me para o espectáculo.
Deitado, Rozen pegou na mão da rapariga nua e levou – a a sentar – se em cima dele. A jovem não se atrevia a olhar na minha direcção. Rozen olhou para mim, virou a cabeça pala o outro lado chamando – me para me juntar a eles. Fiquei abalada. Não estava ali para brincar e, acima de tudo, achava que o sexo não tinha graça nenhuma sem sentimentos. E que Deus ajudasse esta rapariga por eu juntar insultos à sua miséria!
Passado um curto espaço de tempo, vira tudo aquilo que tinha curiosidade de ver. Era sempre a mesma coisa. A jovem não alterava a sua posição, mas movia – se continuamente para baixo e para cima em contraste com a inactividade de Rozen ao mesmo tempo que, de quando em vez, puxava nervosamente o cabelo solto da cara para o fazer deslizar para trás e para baixo afim de esconder o seu embaraço. A única coisa que mudara naquele compartimento foi o cheiro. O ar enchera – se de um forte odor de fluido vaginal que se misturava com a substância do preservativo. Ocasionalmente, acariciava Rozen na cabeça mas não conseguia, no entanto, transmitir mais nada a não ser a sua humilhação. Sem palavras, a sua energia espelhava claramente a vergonha que experimentava do seu corpo inexperiente e jovem.
Haviam – se escoados vinte minutos e Rozen não mostrava sinais de clímax, nas ondas enérgicas que circulavam na decoração floral do aposento. Era como se se tivesse metido na pele da rapariga e compartilhasse da mesma ansiedade. Ei – lo desfrutando de uma linda jovem, mas isso não lhe estava a acontecer. Talvez estivéssemos em sintonia, pensei de mim para comigo à medida que me erguia e me dirigia para a cama. Coloquei a minha cabeça entre Rozen e a da rapariga, numa desesperada tentativa para suavizar e terminar com a situação. Com a parte posterior da minha cabeça na sua frente tentei esconder – lhe as expressões cheias de ansiedade, libertá – la da sensação de que estava a ser observada, no mínimo, para que se sentisse mais confortável.
Passados que foram alguns minutos, Rozen atingiu o clímax. Graças a Deus pela pobre rapariga, pois que assim tudo estava terminado! Pensei, com um suspiro de alívio.
CAPÍTULO 5
Seis meses se haviam escoado a partir do momento em que comecei, cinco depois da partida de Rozen e quatro depois de ter cortado com ele. Estava mais que provado que cada vez se tornava mais difícil viver na companhia dos ciúmes de Rozen, que estava absolutamente saindo do controle sempre que se mencionava qualquer cliente, especialmente daqueles que se tornavam regulares.
Quando nos encontrávamos, naquele Sábado, na sala de estar, ouvi o meu telefone tocar. Era um cliente a avisar para lhe fazer uma segunda marcação para ao noite de Sábado seguinte. Rozen permaneceu sossegado até eu desligar e continuou a ver o filme. Não sendo capaz de suster a raiva por mais tempo, desligou o aparelho e, de uma forma indirecta, acusou–me de ser demasiado simpática para os clientes. Sem retrucar, dei–lhe as boas noites, chamei o Napoleão, desliguei o telefone de serviço e fui – me deitar mas não consegui pregar um olho, até de madrugada, naquela atmosfera sufocante que o ciúme do Rozen havia desenvolvido.
Logo que me sentei na berma do meu colchão, principiei a fazer um esboço grosseiro de uma visita típica de cliente.
A rotina inicial era sempre a mesma. Nunca variava, na medida em que os fregueses atingiam o clímax quando tinham oportunidade de experimentar algo de novo.
Não tinha qualquer importância saber se era a primeira ou a quinta vez que essa pessoa me visitava. Sabiam perfeitamente, de algum modo, o que estava inicialmente programado, mas continuavam a proceder mecanicamente, fazendo mecanicamente sempre a mesma coisa.
O único aspecto que diferenciava a primeira visita de um cliente das restantes era aquilo a que chamava o ritual da quebra do gelo. Havia em mim uma certa necessidade de justificar o motivo de ter ido parar a um género de trabalho como aquele que lhe patenteava.
Tirando isso, era mais ou menos sempre o mesmo. Eventualmente, perguntava a um cliente para se dirigir ao quarto de banho antes de o questionar se o queria usar ou se, de preferência, queria o chuveiro.
O passo seguinte costumava ser o desnudar dos dois actuantes e deitar – mo – nos no colchão. Erecto o pénis, colocava – lhe a camisa de Vénus antes de o começar a chupar e, nalguns casos, como uma maneia de tornar a coisa difícil, precisamente como serviço extra, podia coloca – la, mesmo ainda mole.
A partir daí, perguntava sempre ao cliente, se queria ficar por cima ou por baixo. Isto é o que os distingue. Muitos preferiam ficar por baixo para fazer a experiência durar mais, enquanto outros não conseguiam esperar para penetrar.
Em poucos minutos tudo estava consumado. Na maioria dos casos o sexo oral prolongava a experiência.
O meu passo final costumava ser estar para ali deitada um bocado com o cliente a vasculhar – lhe a vida e a procura conhecê – lo um pouco melhor antes de dar a entender que tinha de tomar um banho porque um outro cliente estava a achegar. Chegada esta altura, pedia – lhe para me pagar antes de, como de costume, o conduzir até à porta da rua, embrulhada numa toalha.
De papo para o ar, começo a analisar, cogitando, porque é que num tão curto espaço de tempo ganhara tantos clientes regulares. Deveras admirada, fiquei fascinada ao descobrir possíveis razões para aquela reincidência de visitas pois que, no passado, sempre estivera dominada pela ilusão de que os homens iam às prostitutas para aumentar os seus egos e o número de troféus.
Porque é que estes homens voltavam, não fazia, de certa maneira, sentido para mim. Não é que me lamentasse! Na grande maioria dos casos, era exactamente do que necessitava; o maior número de clientes possível. Clientes igualados a Euros; cheques pagos em Euros! Contudo o mistério levou – me a dissecar o problema.
Primeiro especulei a ver se havia alguma coisa de especial em mim, mas não consegui chegar a respostas convincentes. De maneira diversa de muitas mulheres ou, neste caso, da grande maioria das prostitutas, não daria um cêntimo pela minha aparência. Manutenção, tal como ir ao cabeleireiro, institutos de beleza, e passar horas de sem conto encantada à volta das lojas de moda e boutiques, eram coisas que considerava perdas de tempo, evitava – as por si mesmas, com dinheiro no bolso ou não. Rejeitara este modo de vida, banindo – o, já que falso e eu, por todos os diabos do inferno, não podia aceitar uma coisa dessas porque era prostitua.
No pólo oposto da escala profissional, colocava as mulheres que lavavam e escovavam o cabelo duas vezes por semana, que trabalhavam, por norma, dois meses por ano nunca iam a manicuras ou pedicuras nem seguiam regimes de dieta, que sacrificavam o prazer das compras por calças de ganga. Era como eu me sentia confortável, de jeans e batom para os lábios. A minha divisa era: “Amar – me ou tolerar – me”, mas nunca transviar – me de molde a impressionar falsamente”.
Permanecendo fiel à minha personalidade, cogitava frequentemente na maneira como me devia apresentar, se tinha de adaptar – me a viver na pele desta “coisa humana” convencendo – me a mim própria de que podia ter um enorme sucesso com os clientes. Mas recusava – me a fazer isso porque era violar o meu ser. Assim, permanecia fiel a mim própria não querendo envolver – me demasiado, no caso de me achar, dessa maneira, confortável, quando o que realmente desejava era ver – lhe um fim.
No entanto, nunca ninguém me viu vestida formalmente. Nunca me viram fazer nenhuma espécie de esforço, senão, o que é que isso poderia ser? O meu lado selvagem? Ou seria porventura um ma mão cheia de senso de humor? Ou a minha família imbuída de forte personalidade? ou, finalmente, seria a minha meiga, embora, simultaneamente rebelde atitude? Talvez que ainda seja simplesmente inteligência misturada com ingenuidade, fortalecendo o retrato mítico que eu ostentava?
Havia uma coisa que era clara; era diferente das louras que conhecia no país e numa sociedade onde as pessoas que as consideram inteligentes se têm de comportar de uma maneira superior; uma sociedade preconceituosa, cujos sacrifícios, a individualidade e sermos “nós próprios” em nome de comportamentos e aparências convencionais. Talvez eu fosse uma lufada de ar fresco comparada com as outras?
As possíveis respostas seriam infindáveis embora não me pareça que possa materializar alguma delas. Todavia, tudo isso me conduz à minha própria conclusão teórica que era a minha natureza versátil que era capaz de adaptar a qualquer homem, fosse qual fosse o seu status social, raça, aparência, simpatia, inteligência, estupidez ou, meramente, o seu ego imbuído de ignorância. Era minha a habilidade de me colocar ao seu nível, actuando apenas o necessário, mas sendo, de preferência, o meu verdadeiro “eu”. Mais complicado ainda era ter capacidade para os tratar igualmente e com compreensão bem como não desdenhar as suas necessidades. Muito simplesmente podia tornar qualquer homem confortável com a minha presença, de tal modo que, para muitos, ultrapassava o grau de se sentirem bem – vindos.
No passado, muitos homens me apelidaram de “dotada”, arrepiando caminho, não obstante as circunstâncias encontradas. No entanto, só agora reconheço que não era um dom, trata – se, sim, de honestidade pessoal, e o isentar – me da falsidade social em prol da verdade da auto – existência.
Para mim foi compensador chegar a esta conclusão, aliada a outro facto de igual importância. Trabalhava a partir de casa e tinha uma única pessoa a influenciar o “volte sempre” do cliente, que era eu própria
Os bordéis estão, normalmente, ligados ao sub mundo onde as mulheres trabalham para um “patrão”, por regra um chulo. Tais personagens controlam estes estabelecimentos com extrema vigilância e cujas normas consistem em a mulher partilhar o pagamento dos clientes com os seus patrões em troca de um lugar para trabalhar e de protecção.
Pintando o meu próprio retrato, induzido de conversas sem fim com clientes, considero os bordéis mais baratos apartamentos superlotados, na maior parte dos casos (embora tenha tido sorte em ter visitado um higienicamente limpo com Rozen). Tais lugares consistiam numa mistura de mulheres de tosca aparência, emigrantes, usualmente do Brasil e do Leste Europeu, muitos dos quais estão preparados para fazer seja o que for por uma gorjeta extra mesmo que isso possa significar sexo de sem protecção.
Os bordéis de Primeira classe ou de Luxo, por outro lado, são mais seguros, porquanto, a maioria estão camuflados de salões de massagem e, assim, legais. As raparigas não são necessariamente mais bem parecidas do que as dos bordéis baratos, mas as facilidades tais como jacuzzi, suites privadas, piscinas e decoração geral, são de um padrão mais elevado e principalmente a segurança na entrada desses estabelecimentos.
Assim, acrescento uma outra razão válida às minhas análises; os homens talvez se sintam mais confortáveis, voltando para mim na medida em que eu lhes ofereço um ambiente de trabalho descontraído e limpo para além de ser totalmente discreto e não envolvendo qualquer espécie de intermediário.
Como meio extra de análise a apoiar a minha teoria inicial, a minha atenção voltava – se então para os clientes de comportamento sexual “regular” na cama, permitindo-me classificá-los nas seguintes categorias:
A) Os “Carentes”
Homens que romperam recentemente um relacionamento anterior e que precisam de afecto.
Estes homens reagem imediatamente a qualquer tipo de atenção e muitos deles desenvolvem um procedimento obsessivo.
O seu comportamento sexual varia, embora ocorra muita carícia e muito contacto.
Este tipo de freguês volta frequentemente, na medida em que sente que recebe a atenção que pretende, embora, ao sentir mudança de atitude da minha parte, ou mera rejeição, deixe de vir depois de a obsessão desaparecer.
B) Os “Infelizes”
Homens que não amam as companheiras e são infelizes mas que, de algum modo, se sentem prisioneiros dentro do relacionamento. Por regra, não é apenas um aspecto do seu relacionação que está estereotipado, mas sim o “todo.”
Estes homens reagem, por via de regra, imediatamente a qualquer tipo de afecto e podem usualmente apaixonar-se com facilidade já que precisam de preencher o espaço vazio.
O seu desempenho sexual transmite uma forte energia, melhor descrita pela expressão, fazer amor.
Se se lhes chamar a atenção para este vigor, vão, assim, relacionar o que falta nas suas vidas pessoais e tentar repô-lo.
C) Os “Solitários”
Homens solteiros e que se sentem solitários, principalmente porque são tímidos no mundo exterior ou porque não encontraram uma companheira para se relacionar.
Estes homens, geralmente, reagem ao sentir – se confortáveis e abrem-se quando são compreendidos, sendo capazes de se relacionar e sendo aceites por aquilo que são.
O seu comportamento sexual varia com o grau de envolvimento que conseguem. Após um curto período, isso conduz ao tipo dos que fazem amor.
Este tipo de cliente volta frequentemente na medida em que sente que aí existe uma parte de si que não encontra no mundo exterior e, assim, em muitos casos, acaba por se apaixonar só para acabar com a visita, aceitando que não existe reciprocidade.
C) Os “Convencidos”
Homens que acham necessário realizar-se. Criaram um falso ego, preenchido pela ilusão de que satisfazem as mulheres com certo número de factores irregulares. Procuram impressionar.
Estes indivíduos reagem a mulheres que pactuam com o seu desempenho e não dão sinais de serem impressionados, preenchendo, assim, a necessidade de conquista.
A sua peculiaridade sexual é a mesma em todos os casos, sendo esta a única razão para a sua classificação. Sentem a necessidade de impressionar com determinados factores tais como vigor, velocidade e tamanho do pénis. São desprovidos da experiência dos de fazer amor e do conhecimento do corpo de uma mulher devido ao seu comportamento.
Este tipo de cliente só ocasionalmente retorna porque altera com outras prostitutas, só voltando às mesmas na desesperada procura ao desenvolvimento do seu ego até sentir que controla a cena sexual.
D) Os “Casos perdidos”
Homens sem auto – respeito e mesmo pouco respeitadores das mulheres. É comum encontrar este tipo de homem entre o grupo etário dos quarenta aos cinquenta e cinco.
Estes sujeitos reagem habitualmente à aceitação da sua ignorância, ao mesmo tempo que são tratados como alguém superior.
O seu sexo é pobre e sujo e em muitos casos são portadores de linguagem vulgar. Desconhecedores das necessidades sexuais da mulher estão inquestionavelmente convencidos de que têm razão, resultando daí uma total falta de respeito.
Este tipo de cliente volta ocasionalmente, alternando frequentemente com a visita a outras prostituas. Regressa até ao momento em que o seu comportamento já não é aceite, o que, aliás, acontece no primeiro par de visitas.
CAPÍTULO 6
Fora um dia de trabalho em cheio, dois novos clientes e três regulares, um dos quais Simão e eram apenas três da tarde.
Simão acabava de fazer a sua terceira visita. Era um “Convencido” típico. Após a sua segunda visita compreendi o que fazia este homem mexer – se. Era vigor, desempenho e uma necessidade de impressionar. Carimbar, carimbar, carimbar, algumas posições atrevidas e, depois, após uns vinte minutos, o previsível.
Fora o meu último cliente. Fazendo – me companhia antes da minha marcação seguinte, ficou para conversar e para um café. Sabia que algo estava errado já que não via em mim a pessoa alegre habitual. Eventualmente, abria – me para ele e dizia – lhe que viver com Rozen estava – se a tornar um problema intolerável.
“Estou a ver. Está apaixonado por ti, não é? Bem, isso ia acontecer mais tarde ou mais cedo. Desencadeias, normalmente, este efeito nos homens”, disse, acabando com uma risada.
“Não, Simão, não tem graça. Isso só aconteceu no mês em que veio para cá. Acabou – se. Na verdade, algumas semanas depois, parou. O problema reside no facto de ainda gostar de mim. Está – se a tornar gradualmente mais difícil viver com ele. Sinceramente, penso que não poderá durar muito mais”.
Confirmou o que eu já sabia, arranjar coragem para falar com Rozen, na medida em que a minha saúde mental estava a ficar dependente disso.
O telefone tocou. Era o meu próximo cliente, avisando – me que se encontrava na minha rua. Foi obrigado a sair no meio da conversa, mas estava mais certa do que jamais estivera que necessitava de falar com Rozen e fazer alguma coisa em prol da incómoda situação.
Ouviu – se a campainha. Quase caí! Era Fred outra vez. Disfarçara a voz ao fazer a marcação e pretendia ser um cliente novo.
Fred era um homem elegante, bem parecido, com vinte e cinco anos, que trabalhava como comissário de bordo nas transportadoras aéreos. Era o meu primeiro cliente do grupo dos narcóticos. Era este o seu sexto ano limpo, mas de algum modo ainda mostrava sinais de outro género de dependência.
Era a décima visita de Fred em dez dias, dos quais cinco estivéramos a trabalhar a bordo. Esta foi a sua décima visita em nove dias. O primeiro dia visitou -me duas vezes!
“Fred, que diabo estás tu aqui a fazer outra vez? Tinha – te dito que isto assim não era saudável”.
Ainda na sala de entrada, levantou – se, cabisbaixo, de mãos nos bolsos.
“Eu sei, eu sei. Tens toda a razão mas é a última vez. Juro!”
“Mas a última vez devia ter sido a outra, Fred. Concordámos, estás lembrado? De qualquer modo só pretendias ser um novo cliente. Jesus, vocês homens, tomam – me por parva”
O meu telefone tocou. Olhando para ele, disse ao cliente do outro lado que estava a perguntar se estava livre e, para consternação de Fred, disse que aceitava a marcação para as quatro e meia. Eram nessa altura quatro e vinte. Quando desliguei olhou – me com uma expressão aborrecida.
“Fred, estás a fazer – me sentir pior que merda. Sabes bem que faço isto por ti. Para além disso, já esqueceste a minha crítica situação financeira? Podia usar – te e tu sabes isso! Podia tirar vantagem da tua situação e extorquir – te dinheiro mas só que não posso. Não posso fazer uma coisa dessas.
Levantei – lhe o queixo e olhei – o nos olhos.
“Não preciso de explicar – me outra vez, Fred, ou será que preciso? Já te disse antes e volto a dizer – te agora, que podemos continuar amigos. Podes mesmo aparecer para um café quando precisares de conversar. Só não podes estar a desperdiçar o teu dinheiro nesta merda”.
Fred olhou – me nos olhos e retendo as lágrimas pediu desculpa e abraçou – me com força antes de se dirigir para a porta. Olhou para trás e disse:
“Obrigado. És uma grande amiga. Admiro – te.”
Fred tinha recentemente saído de uma relação que se desenrolara na periferia. Embora ele e a namorada passassem pouco tempo juntos, durara dois anos e a separação afectou – o fortemente.
Devido ao seu comportamento compulsivo passado, relacionado com a droga, acredito que a sua obsessão em visitar – me estava ligada a um desequilíbrio fisiológico e, de modo nenhum, independentemente da minha situação, poderia tirar partido deste homem. Para além disso, ele estava a transmitir cada vez mais energia na medida em que gritava por amor na cama. Aquilo que seria recebido de braços abertos por algumas prostitutas, era para mim comportamento abusivo em relação à desgraça de alguém, fosse ela mental ou financeira.
Naquela noite Rozen chegou a casa por volta das oito horas. O telefone não cessava de tocar durante todo o dia e só por volta das oito e meia arranjei maneira de falar com ele. Quando ia começar, o telefone tocou de novo. Era uma marcação para a meia – noite. Como Rozen ia ficar em casa, aceitei.
“Finalmente, estás livre do telefone, Diana. Ultimamente parece passares a vida nele,” disse, com olhar contrariado antes de se dirigir para a cozinha.”
Lá se vai a oportunidade, pensei.
Morta de cansaço, a campainha da porta tocou. Para meu horror abri – a a um rosto que me era familiar. Num momento, um clarão iluminou um pedaço do meu passado. Merda, este é o rapaz do clube nocturno, recordei. Sentindo – me deveras embaraçada, escondi – me atrás da porta sem ser capaz de avaliar se o homem que lá se encontrava com a sua cabeça inclinada, estava ou não mais embaraçado do que eu.
“Desculpe, eu não o conheço? Sim, na verdade conheço! Oh meu Deus não posso acreditar que esteja aqui. Estou tão embaraçada! Há pouco tempo que estou a fazer isto e nunca tinha experimentado antes. Desculpe, nem sequer posso mandá – lo entrar. Estou demasiado chocada”.
O homem de aparência indiano, alto, permanecia de pé, sem proferir uma palavra, do outro lado. A sua cabeça continuava inclinada e um olhar de infinita tristeza estampava – se – lhe na cara. De algum modo senti uma inegável vontade de lhe perguntar porque razão eu teria de explicar tudo.
“Meu Deus, sinto – me tão mal, a comportar – me assim. Sou um idiota chapado!”
Pode vir se quiser mas será uma perda de tempo Eu só…
Sem proferir uma palavra, entrou pela pequena abertura, comigo do outro lado encostada à porta, visivelmente contrariada. Pedi – lhe para ir para o quarto, acrescentando que esta era a única secção privada do apartamento, na medida em que o partilhava com um inquilino.
Mandei – o entrar no meu recém comprado colchão enquanto pensava na maneira de explicar tudo isto. De algum modo acreditava que necessitava de justificar – me mais do que nunca, na medida em que estava lá sentado com os braços colocados à volta das pernas, e eu palmilhava o quarto de um lado para outro, falando – lhe acerca da minha história.
Quando consegui acalmar – me, sentei – me a seu lado na cama onde permaneci a conversar com este sossegado, tímido rapaz, de vinte e oito anos, até altas horas da madrugada.
Para duas pessoas quase estranhas como nós éramos, decerto que achámos muito para conversar acerca disso; a vida nocturna, o seu grupo de amigos, o seu trabalho e o seu recente divórcio e dos seus cinco anos de relacionamento.
Por um lado, Célio já se sentia mais confortável e portanto, aproveitei a oportunidade para lhe perguntar porque carga de água ia às prostitutas. Foi rápido a responder, que não tinha paciência para andar por ali em clubes nocturnos a conversar com mulheres para, no fim da noite, descobrir que tudo fora pura perda de tempo.
O tempo ia passando, por isso dei a entender a Célio, que me parecia com esperança que eu mudasse de opinião, de que era tempo de ir descansar. Sentindo – se muito mais descontraído, um agora muito mais confidente Célio, perguntou – me se não iria reconsiderar.
Não tenho bem a certeza se era o respeito que Célio havia demonstrado, ou simplesmente a minha desesperada situação, mas aceitei. Fizera sexo com o homem que encontrara por acaso, para durar, num bar local, no passado, e cujos amigos tentaram, aliás sem sucesso, aproximá – lo de mim. Ficou impresso na minha memória, não somente pela cor da sua pele, mas também porque, foi o único do seu grupo de amigos que não fez um movimento. Mas Célio fez um movimento esta noite. Célio foi o primeiro cliente que, na verdadeira acepção da palavra, fez amor comigo.
CAPÍTULO 7
Na manhã seguinte deparei com Rozen na cozinha. Sem proferir uma palavra, a sua expressão facial denunciava – o ao passar e ao roçar – se por mim. Ao decidir que não era o momento apropriado para conversar, mordi a língua e esperei que regressasse naquela noite.
Antes do meio – dia, Célio havia – me enviado já três mensagens escritas. A primeira a perguntar – me como estava. A segunda dizendo que apreciava muito estar comigo; A terceira, finalmente, arranjando a coragem necessária para dizer o que já tentara a princípio; que sentia a minha falta. Polidamente, respondi – lhe às duas primeiras, como tinha gostado dele e de algum modo como sentia o facto de ele sair de casa numa altura difícil, já que precisava o máximo de apoio possível.
Rozen chegou a casa um pouco mais descontraído do que quando saíra. Passei todo o dia a treinar um discurso.
“Bem vês, Diana, não pára. É admirável! Não se detém nem por minuto sequer. Simplesmente não pára, Diana”.
Esse comentário era precisamente tudo o que precisava ouvir e, sem que Rozen pudesse articular outra palavra, despejei e todo o discurso que tinha estado a praticar fora – se por água abaixo. Tudo o que o meu peito guardara durante todo aquele tempo, foi – se. As coisas tinham chegado a um ponto tal, devido ao seu ciúme, que eu não tardaria a dar – lhe um ultimato para se ir embora e, se não ia ele, ia eu. Era ele quem tinha de se ir embora. Não haveria mais oportunidades dado que caíam em orelhas moucas. Dei – lhe um mês para encontrar alternativa de alojamento e fui – me embora para o meu quarto.
Dali a uma hora, Rozen bateu à porta do meu quarto. Sentindo – me mais calma, dei – lhe permissão para entrar. Não podia acreditar no que estava a ouvir quando disse que precisava do dinheiro que me havia emprestado. Sabedora que era de propósito, justamente para me magoar, disse, “está bem”, e pedi – lhe para me deixar.
Saíra com o rabo entre as pernas. Sabia exactamente o que tentara fazer. O que ele conseguiu foi diminuir a consideração que ainda tinha por ele. Sabia que não tinha dinheiro para lhe pagar nesta altura. Sabia perfeitamente que tudo era esforço demasiado, que não podia mesmo permitir – me a comprar comida. Em resumo, colocou – me numa posição incómoda, usando um certo tipo de chantagem, o suborno. Saiu – lhe o tiro pela culatra quando lhe disse que lhe havia de arranjar o dinheiro, a par da ideia de o voltar a respeitar.
Nessa mesma noite, recebi uma chamada de alguém que parecia ser jovem demais. Disseram – me que era o décimo oitavo aniversário de um amigo e que gostava de fazer uma marcação para ele. Pensando que estava na brincadeira, tal como muitos outros tinham feito antes, aceitei a reserva afim de evitar que voltassem a ligar.
Às dez e meia, telefonaram de novo dizendo que já tinham chegado ao ponto de encontro. Como não havia dúvidas que agora estavam a falar a sério, dei – lhe os restantes pormenores e esperei que o seu amigo tocasse a campainha.
Passados cinco minutos, tocou. Abri a porta e deparei com uma aparência demasiado jovem, cabelo desmazelado, olhos azuis, e com bastante humor, pedi-lhe o Bilhete de Identidade. Tinha, de facto dezoito anos.
Levei o tímido rapaz para dentro do quarto com pouca conversa. Como pensara que a reserva inicial tinha sido uma partida, aceitara uma outra marcação de um cliente regular que estava para chegar dentro dos próximos vinte minutos.
Despi – me rapidamente pedindo ao jovem para fazer o mesmo. Encontrava – se extraordinariamente nervoso, talvez melhor, extremamente excitado. Levantou o olhar para o ar como se nunca tivesse visto o corpo de uma mulher nua em carne e osso.
Quando procurei o preservativo para colocar no seu dificilmente erecto pénis, o rapaz fechou os olhos com força e veio – se.
Antes de poder digerir o prazer começou a pedir desculpa, que lhe desse outra oportunidade, na medida em que era Virgem. Sentindo – me terrível, retruquei – lhe que não podia porque tinha alguém que estava a chegar; só não tinha tempo.
Vestiu – se com as lágrimas nos olhos, e foi – se embora tal como tinha vindo, virgem.
Na tarde seguinte abri a porta a um homem alto que aparentava estar no dealbar dos quarenta. O brincalhão de olhos verdes, cujo carácter inspira confiança, desculpou – se e dirigiu – se para a sala de entrada antes de eu lhe pedir.
“Como estás? Chamo – me Tom e tu…?
“Eu sou a Diana. Prazer em conhecer – te Tom. Segue – me, por favor, “ pedi – lhe na medida em que o conduzia para a sala de estar e coloquei uma cadeira à mesa, convidando – o para se sentar.
“Diana és muito bonita. És tu que conduzes um Mercedes CLK prateado? Estou certo de que já te vi por aí. Naturalmente que podia estar errado.”
Antes de ter tempo para responder, Tom pediu – me para me sentar no seu colo, e começou a acaricia – me os seios.
“Diana, estás há muito tempo nesta vida? Podia ter alguém como tu para minha secretária”.
Comecei a contar a minha história a Tom e, antes de lhe poder perguntar qual era a profissão dele, foi célere a dizer que era juiz no Supremo Tribunal. Pela minha vida que não era capaz de entender como alguém como ele tinha inteligência para desempenhar tal cargo e pedi – lhe para o provar. Anuiu. Mostrou – me a identificação.
Tom insistiu para que continuasse no seu colo enquanto continuava a tratar – me como uma jovem, uma criança estúpida, ou melhor, como se fora a boneca Barby. Sentindo – me desconfortável e vendo que o tempo se escoava, pedi ao tom para irmos para o quanto.
“Desculpa, Diana, mas já não tenho tempo. Tenho de estar no Tribunal dentro de uma hora. Importavas – te de jantar comigo esta noite?”
Desculpei – me, e insisti que isso era contra a minha política, conviver com os clientes. Tom levantou – se de semblante confuso, saiu, disse que voltaria a tentar a sua sorte para o futuro, e saiu. Não podia acreditar! Este assim chamado Juiz entrou em minha casa, tocou o meu corpo, e tratou-me simplesmente como uma peça de carne para seu entretenimento, saindo sem pagar, pela razão pura e simples de que não me penetrara.
Não pude tirar isso da minha cabeça durante toda a tarde. Será que este homem arranjou uma desculpa para se ir embora porque não me achou suficientemente atraente, ou esperava, porventura, tratamento especial devido ao facto de ser juiz?
Na manhã seguinte, Carlos marcou uma visita. Era agora um regular efectivo. Classificava os meus clientes de regulares na sua terceira visita. De acordo com o meu triste diário em anotar recordes, ia na sua sétima vez!
Já não era aquela rapariga ingénua que encontrara no meu primeiro dia de trabalho. Tinha ganho melhor intuição, conhecimento e, decerto, muito mais experiência. Sabia agora porque é que o seu pénis se não endireitava. Era vulgar com homens a rondar os setenta, qualquer espécie de disfunção psicológica, penso, mas não era esse o problema; longe disso. A principal preocupação, era para mim, o tempo que as suas visitas me tomavam Eu sabia que uma das razões porque havia ganho clientes era devida à minha sociabilidade, mas depois, muitos deles, queriam tratamento especial, sendo isto perdas de tempo. Não esperavam decerto ter um segundo clímax, se isto significasse dinheiro extra. O que esperavam era tempo de conversa, quando tudo girava na sua órbita.
Cada vez mais me convencia que não era talhada para isto. As profissionais taxariam por cada segundo ou não permitiriam nada disso. Eu não. Não cobrava, nem por sonhos. Fora culpa minha, tinha, apesar de tudo, condescendido. Passava tempo a escutar aqueles que necessitavam ser ouvidos, falando para aqueles que precisavam de ouvir, confortando os que precisavam de ser confortados, tudo pelo preço de uma cópula. Isso acontecia quando tinha tempo extra, quando podia, e quando queria fazê – lo, mas não era algo que pudesse ser solicitado ou esperado. Era como tirar partido do meu bom feitio.
Nas suas últimas visitas, tentei, subtilmente, dar a entender a situação a Carlos. Continuou a ignorá – la e, não obstante sentir – me mal com isso, não tinha escolha senão falar sem rebuço e fazer – lhe compreender que havia um tempo limite que tinha de ser respeitado devido à minha situação e à minha avantajada lista. A intuição disse – me que, provavelmente, ia perder um cliente, mas não me importou. Se não podiam respeitar a minha situação, porque cargas de água havia eu de os tolerar? Mas lá para o fim do dia, não haviam de me esquecer. Prestei – lhes atenção, fi – los sentirem – se confortáveis independentemente do seu carácter, raça ou classe social. fi – los sentirem – se iguais, não importando a qualidade do sexo que lhes oferecia.
Disse a Carlos naquela manhã. Não lhe disse como tinha planeado quando me senti incomodada, mas disse – lho de uma maneira mais subtil. Disse – lhe que, dali para diante, não podia continuar a fazer o que tinha feito com ele, explicando que perdia telefonemas de informação da parte da manhã que não podia dar – me ao luxo de perder
CAPÍTULO 8
Nos dias seguintes a minha intuição provou que tinha razão, Carlos tinha ficado ofendido com a conversa e, ao contrário dos outros dias, desde a sua primeira visita, não me enviou uma única mensagem como era seu costume.
Fazia agora três semanas e meia desde a altura em que dei a notícia ao Rozen. O tempo voara. Por alguma razão desconhecida o Rozen ainda não tinha encontrado onde alojar – se.
De manhã tinha – me decidido enfrentá – lo mas, quando abri a porta do quarto, estava vazio. Tinha ido embora mais cedo do que era seu costume, como se se apercebesse do meu estado de tensão na noite anterior. Ainda não tinha conseguido arranjar o dinheiro que lhe devia. Sabia que não precisava dele, que tinha tentado colocar – me numa situação embaraçosa mas era, de facto, o seu dinheiro e tinha de arranjar um acordo qualquer com ele. Sabedora de que tinha dito tudo aquilo por despeito, e que agora tinha acalmado, estava pronta para o enfrentar, arranjar um método adequado de pagamento.
Precisamente quando ia sentar – me e delinear um plano, o meu telefone tocou. Era um cliente que tinha ligado alguns dias atrás, feito uma marcação e que não apareceu, deixando – me muito aborrecida devido à perda de trabalho. Desculpando – se de diversas maneiras, concedi – lhe o benefício da dúvida e autorizei – o marcar de novo.
Abri a porta de entrada com um sorriso que logo se desvaneceu quando vi quem era que ali estava. Era um homem que frequentara o mesmo clube nocturno que eu e Célio!
Era a segunda vez que isso me acontecia, num curto lapso de tempo, a primeira tinha sido com Célio, mas desta vez, em lugar de estar habituada à situação, não senhor, foi pior do que nunca. E para piorar ainda mais as coisas, este extraordinariamente belo espécimen era o homem mais maravilhoso que já alguma vira em carne e osso.
De pé do lado de fora da minha porta, enchia o corredor com uma sensação de frescura. O feitio do fato e o seu espesso cabelo acinzentado davam – lhe uma aparência que parecia ter surgido de uma revista de moda. Fiquei atordoada, abismada, e deveras embaraçada, encostando – me à porta, como para salvar a vida. Simplesmente preguei os olhos nos seus impecáveis e brilhantes sapatos, para evitar olhá – lo de frente.
Não pareceu surpreendido em encontrar – me ali mas, senti – me humilhada como nunca estivera antes. Era como se me sentisse como aquela jovem actuando entre mim e Rozen. O sentimento era tão forte que não pude falar ou reagir, mas fiquei para ali confusa, hipnotizada pelos seus sapatos.
Repentinamente quebrou o encanto, e pediu – me para o deixar entrar. Abrindo a porta mais um pouco, pedi desculpa enquanto continuava ali num estado de dejavu, antes de, finalmente, dizer ao homem que não o podia aceitar como cliente. Ignorando a minha instância, deu a perceber perfeitamente que não ia a lado nenhum.
E era já suficientemente óbvio que o homem era insistente. Pedi – lhe para se ir embora. Fui forçada a fechar – lhe a porta na cara.
“Não faça uma coisa dessas, por favor”, disse, sei que faz isso agora, portanto não há nada de que possa envergonhar – se. Por favor, deixe – me entrar.”
Repentinamente, apareceu o meu vizinho do lado, forçando – me a deixá – lo entrar antes que pudesse reparar nalguma coisa.
André apresentou – se e dirigiu – se para a sala de estar onde andou continuamente à volta, tentando convencer – me que devia decidir – me a atendê – lo. Quanto mais eu resistia, mais ansioso ele se tornava e tentava fazer – me mudar de ideias dizendo – me que sempre me admirara como mulher; a minha atitude, a minha sensualidade.
“De algum modo, sempre me prendeu a minha atenção. Fez com que toda a mulher que se encontrasse na minha presença a desprezasse e odiasse, tornou – as invejosas. “
Não lhe respondi mas sabia exactamente do que estava a falar. Nas vezes que os nossos caminhos se cruzaram, estávamos sempre acompanhados. A namorada ficou enfurecida quando nos sorrimos mutuamente e, numa determinada ocasião, tendo mesmo abandonado, enraivecida, o clube nocturno, quando André me defendeu.
“Sabe, todos os homens que conheço a desejam. Fui sempre muito atraído por si, “ disse.
Continuei silenciosa sentada na berma da mesa, a ouvir e a analisar. De certo modo não tomava o que me estava a dizer como razão para me convencer. Já tinha sentido tudo isso no passado. Sabia que tinha vivido algo por mim. O meu desejo por ele erguia – se para além do sonho, já que o sentimento havia gerado reciprocidade.
“Tem alguma coisa para beber? Alguma coisa forte. Uísque, talvez?”perguntou.
Naquele momento pensei que André tinha conseguido disfarçar os seus nervos à custa dos meus.
Dirigi – me para a cozinha à procura da bebida, aproveitando a oportunidade para inspirar o mais possível de ar fresco que pudesse, na medida em que o ar da sala de estar estava a ficar abafado. Pensando, tolamente, como iria sair de tal situação, encontrei – me a preparar dois copos grandes. Estava desesperada, esperando que me subisse depressa à cabeça, e me descontraísse um pouco. Antes de deixar a cozinha, cheirei o conteúdo do copo, fechei os olhos e engoli um grande trago. O hausto foi tal que fiquei aflita com a força do gás, mas não me importei, só queria ganhar coragem. Passei o braço pela boca para a limpar do uísque que se havia derramado para os lados, peguei no outro copo e regressei à sala de estar onde ele se encontrava de pé.
Nalguns minutos, o potente conteúdo do copo transformou a atmosfera e, de algum modo, acabámos no quarto. Continuámos a falar sentados na cama., encontrando várias coisas que partilhávamos em comum. Tal como eu, André era Aquário e acreditava na influência dos planetas. Urano também não estava a ser bom para ele. Era corrector da bolsa que, como a maioria, sentia a influência do terrível e devastador acontecimento do 11 de Setembro.
André ia ser pai, pela primeira vez, daqui a quatro meses. Não parecia feliz com o seu relacionamento, e, embora descrevesse a namorada como sendo uma mulher muito bonita, não sentia nada por ela, mas sentia – se obrigado a permanecer a seu lado, porque engravidara. Tinha apenas acabado de conversar quando senti um olhar penetrante num dos lados do meu rosto.
Tocou – me a face durante alguns segundos o que originou uma corrente eléctrica através de todo o meu ser. O meu sorriso feneceu! A energia era demasiado forte para dar azo a expressões, pensamentos ou palavras.
“Anda cá. Sei que sentes o mesmo que eu. Já me disseste porque estavas a fazer isto, e compreendo perfeitamente a tua situação. Precisas dinheiro, não precisas?” sibilou.
Repetiu várias vezes, cada uma com mais desejo, mais apetite do que a anterior. Sentia – se como se precisasse de mim, necessitasse de me sentir, não me foder, mas fazer amor comigo!
Ao virar a cara para o lado, puxou – a para si e beijou – me nos lábios. Isso era proibido. Queria deixar – me ir, mas não podia. Era trabalho. Não podia beijar um cliente. Voltei – me.
“Não imaginas o quanto isto é difícil para mim. Não posso acreditar que vou levar isto avante.”
Ao dizer isso, uma forte corrente encheu o quarto, como se André estivesse quase a atingir o clímax, ao ouvir as minhas palavras. Antes que tivesse tempo para digerir o que acabava de dizer, abri – lhe o fecho das calças e puxei – lhas gentilmente para baixo, ao mesmo tempo que os seus olhos se fixavam o meus slipes, à medida que se destacavam do rabo e tombavam no chão. Movi – me na sua direcção e sentei – me nas suas pernas. Sem despregar os meus olhos dos seus, colei – me a ele, levando – o a sentar – se e despi tudo o que restava. Comecei a desapertar – lhe a camisa, afim de encontrar um perfeito e definido corpo. Colocou os lábios à volta dos meus mamilos, enquanto eu introduzia o seu pénis na minha vagina. Abraçando – me fortemente contra o peito, sem nos mexermos, sem balouçarmos, apenas dois vulcões prestes a entrar e erupção, sem de facto, compreendermos o que fazíamos, mas sentindo todas as sensações que estes últimos anos haviam acumulado. Já não podia conter a energia que partilhávamos por mais tempo. Veio – se enquanto lhe observava cada momento de paixão a escapar – se da sua face.
André foi – se embora meia hora antes de Rozen chegar a casa. Já não podia pensar no plano de pagamento. O meu espírito continuava influenciado pelo choque inicial e toda a cena que acabara de experimentar. Era tudo confuso. Nada parecia fazer sentido. Tinha – me transmitido algo de muito forte e eu tinha – me permitido corresponder – lhe.
Enquanto pensava, chegou uma mensagem. Quando estava a abri – la, chegou outra. A primeira era de André. Só se tinha ido embora há dez minutos:
“És muito especial. Gosto muito de ti”.
E logo abri a segunda. Era de Célio:
“Não posso parar de pensar em ti,” disse.
Rozen entrava, quando estava quase a responder. Pus imediatamente a ideia de lado, decidindo que a minha conversa com Rozen era mais prioritária. Perguntei – lhe se tinha encontrado onde ficar, só para ficar horrorizada quando o homem respondeu, com semblante triste, que não, que não tinha. Só nessa altura cheguei à conclusão que não me tinha levado a sério. Pensou que não iria avante com isso, que eu havia de mudar de ideias. Ao sentir – se ameaçado, começou logo a falar no seu dinheiro, dizendo que lhe fazia muita falta. Olhei para a sua cara zangada e repliquei
“Rozen, sabes a minha situação e sabes que te devolverei o dinheiro. Ouve, não to posso dar todo agora, sabes isso. É impossível. Tenho trabalhado demais; quinhentos por mês durante três meses”.
Discordou. Agira exactamente como planeara; um meliante! Começou para ali a argumentar, a argumentar, dando desculpas estúpidas de que precisava dinheiro, quando, na verdade, tinha mais que o suficiente.
E como se isso ainda não chegasse, começou a inventar quantidades ridículas acerca da divisão das contas. Decidi não descer ao seu nível, já que isso era o que ele queria que fizesse. Afirmei que pagaria e calou – se. Mais uma vez ouviu o que não queria. Sabia que não poderia desenvencilhar – me sozinha para lhe pagar e esperava que reagisse mal.
De repente, retomou a mesma conversa como se estivesse a bater um recorde que durou para cima de uma hora.
“Portanto, Diana, quando é que vais pagar – me? Diz lá, como vais arranjar o dinheiro para me pagar? Quando é que isso é, vá, diz lá?” argumentou.
Ainda não tinha acabado de repetir isto pela décima vez quando os meus nervos não puderam suportar aquilo por mais tempo. Peguei no copo de café que estava ao pé de mim, em cima da mesa, e arremessei – o na sua direcção passando – lhe a alguns milímetros da cara, antes de me dirigir, vociferando, para o meu quanto. Ficou paralisado sem articular palavra.
Passada meia hora, Rozen bateu à porta do meu quarta a pedir desculpa e a dizer que aceitava o plano de pagamento. Sabia ter – me provocado a um limite tal que não me poderia conter por mais tempo.
Rozen tinha – se dado conta de ter levado as coisas longe demais. Estava consciente do seu comportamento e compreendia que, mesmo que quisesse, as coisas só poderiam piorar dali para a frente. O que acontecera meia hora antes, acabou com o pequeno resíduo de respeito que tinha conseguido preservar nos meses anteriores.
Naquela mesma noite, recebi um cliente às zero horas. Super carregado com fatos e caixas, o homem que parecia muito cansado, pediu desculpa, dizendo que tinha acabado de regressar de uma reunião em Bruxelas e seguiu – me para o quarto.
Eduardo, como disse que se chamava, era um Político muito conceituado. Passámos uma boa meia hora a discutir política e, como a nossa conversa estava a chegar ao fim, Eduardo perguntou – me se eu era a filha do Marcos. Nem pude acreditar. O homem reconhecera – me desde o princípio e depois, conhecia o meu pai! Comecei a ficar nervosa e sugeri que Eduardo fosse para casa descansar, na medida em que parecia estar extremamente cansado. Deu – se conta que eu ficara repentinamente desassossegada e assegurou – me que não diria uma palavra ao meu pai. Para acabar de me convencer disse – me que também tinha outro tanto a perder, tal como o seu casamento.
Eduardo insistiu em pagar o meu tempo, pegou na bagagem, fez uma marcação para a semana seguinte e foi – se embora.
CAPÍTULO 9
Passara uma semana depois de Rozen se ter ido embora. Não obstante aquela lamentável altercação, na verdade, éramos capazes de continuar amigos. Era de algum modo estranho viver, de novo, no apartamento sozinha, sentia a falta daquele estado de tensão, daqueles curtos meses.
Célio viera visitar – me pela sua terceira vez na semana passada. Apesar de saber que a minha resposta seria um não, convidava – me todos os dias para sair. Como agora era a única usuária do apartamento, paguei – lhe o convite, convidando – o por minha vez, bem como ao amigo, para jantar. Antes de chegarem, Célio pediu – me para não falar do meu trabalho durante a refeição, já que o outro não fazia a menor ideia acerca disso. Achei bizarro que não o tivesse posto a par, mas em breve percebi porquê.
O jantar correu bem e, como era habitual, diverti – me imenso. Célio estava sobre brasas devido à minha abertura. Temia a cada momento que eu dissesse alguma coisa para fazer o seu amigo suspeitar. Pelo que pude avaliar este estava convencido que eu e Célio éramos um par de namorados, resultando daí alguns momentos embaraçosos, principalmente quando tentava tocar – me ou beijar – me.
No dia seguinte, acordei com o telefone. “Merda”, gritei, quando me dei conta do tempo. Eram já dez da manhã. Antes mesmo de poder pensar nalguma coisa, tive de ir passear o cão. Peguei nas chaves do carro, chamei Napoleão, e fomos dar uma volta, até às falésias onde o podia passear à vontade.
Este pedaço de costa era o posto de trabalho de muitas prostitutas que se postavam por ali na berma da estrada esperando os clientes e levando – os para as dunas da praia ou para detrás dos arbustos dispersos. Enquanto permanecia ali sentada, dentro do carro, a observar Napoleão à caça das abelhas, e tudo o mais que pudesse encontrar nos arbustos, apercebi – me de uma sombra a aproximar – se do automóvel. Era um homem, um dos meus regulares, o Luís.
“Olá, Diana. Estou a ver que andas a passear o monstro. Estás livre dentro de uma hora?”
“Olá Luís. Desculpa. Estou totalmente comprometida esta tarde. Disse – lhe.
Desculpando – me, chamei o cão, e regressei a casa.
Não estava comprometida. Na verdade até nem tinha marcações. Só que não era capaz de voltar a estar com aquele homem. Do mesmo modo que Carlos, Luís fora um dos meus primeiros clientes, e como o Carlos tirara partido da minha inexperiência, na medida em que tinha sido a minha primeira semana. Aceitei a sua segunda marcação, algumas semanas mais tarde, altura em que fui extremamente áspera para ele, preferindo perdê – lo como cliente do que aturar – lhe o seu revoltante comportamento.
Luís era um ex militante de aparência ordinária, e a sua linguagem normal ultrapassava as suas más maneiras. Tinha um pouco de peso a mais, embora tivesse uma grande barriga. A respiração e espesso cabelo castanho-escuro de corte arredondado, haviam sempre de persistir acompanhando uma estranha mistura de cheiro a alho e bebidas alcoólicas.
Na segunda visita, pedi – lhe delicadamente para parar de me apalpar enquanto me despia. As minhas calças de ganga estavam algures entre os joelhos e o tornozelo e estava mesmo a ver que ia cair. Ignorando – me, continuou até que fui forçada a atirar – me para cima da cama, antes que tentasse alguma posição atrevida que, de nenhum modo, iria beneficiar um tão pouco conveniente homem de cinquenta e tal anos.
Quando me estendia no leito, à procura de um preservativo, Luís começou a queixar – se.
“Já? Tão cedo? Da última vez chupaste – me sem preservativo. Vá lá, amor, suga lá”, implorava.
“Ouve, Luís, da última vez só estava a trabalhar há dois dias. Felizmente, agora sou um pouco mais sabida. Talvez tenha um pouco mais de experiência. Repliquei – lhe sarcasticamente.
Luís ficou aturdido. Decerto não estava à espera que reagisse daquela maneira. Pelo menos tinha conseguido mantê – lo sossegado por um pedaço! Pensava que era ainda a ingénua menina que estava apenas a trabalhar há poucos dias. Mal sabia que já o tinha caracterizado n’ “os casos perdidos”. Esses que sabiam tudo acerca de cada prostituta da área.
Naquele dia encontrava – me com uma enorme enxaqueca. Só de pensar que alguma coisa me havia de tocar a cabeça, era razão suficiente para se me gerar uma enorme dor. Luís colocou acidentalmente os braços em cima do meu cabelo quando se ia a pôr em cima de mim. Adverti – o da minha dor de cabeça e pediu desculpa. Também sabia que não beijava os clientes e, assim, usou a sua desculpa como um pretexto para o fazer, atirando – me para cima do rosto o seu revoltante hálito. Depois de lhe dizer duas vezes para estar quieto e, finalmente gritando – lhe, concentrou – se à procura da minha vagina, abrindo – a com os dedos, para tentar e conseguir beijar – me outra vez. Luís estava agora a usá – la sem ter proferido uma palavra, e continuou a esfregar – me a vagina a tal ponto que, a cada vez mais a pele seca estava a arder e doía – me. Não fazia a mínima ideia do que era um clítoris ou onde é que isso ficava para o efeito.
“Que tal o meu sexo? É bom?”, não se cansava de perguntar.
A princípio disse que sim porque ia simular um orgasmo. Depois, pensei de mim para comigo, merda, mesmo que eu simule um, é capaz de, provavelmente, continuar. É tão ignorante que naturalmente pensa que as mulheres se podem vir duas vezes em dois minutos! É mais que certo que este tipo nunca fez uma mulher vir – se, pelo menos com esta espécie de desempenho e desconhecimento!
Enquanto me concentrava em o enganar, a sua atenção foi desviada para o pénis e começou a penetrar – me na posição de missionário, uma vez mais colocando a sua tosca mão no meu cabelo e o seu hálito, com cheiro a peixe, na minha cara, ao mesmo tempo que dizia,
“Gostas, amor, É bom?” Gostas de estar comigo? Querida, diz que gostas do meu leitinho.”
Já não podia mais conter – me e comecei a gritar – lhe com ódio. Era demais! Estava – me a sentir usada, revoltada e, acima de tudo, desrespeitada. Automaticamente disse – lhe que o seu tempo estava a chegar ao fim, que me encontrava atrasada. Estes tipos de indivíduos têm uma habilidade inata pala tratar as mulheres como gado.
Fazia – se tarde. Ainda não estava na cama há dez minutos quando começou a penetrar – me, mas não podia aguentar nem mais um minuto. Continuei abraçada a ele um pouco mais, mas sem proferir uma palavra, precisamente para evitar que falasse e poluísse o ar com a sua respiração. Foi uma experiência que não quero repetir e, a partir daquele momento, jurei não permitir que este tipo de homens se repetisse. Preferiria perder o trabalho e dizer que estava ocupava, embora, nalguns casos, achasse que esses homens eram bem-educados.
Quando fez a sua segunda marcação, Luís tinha medo de ser rejeitado e não disse quem era ou que já se havia encontrado comigo. De maneira geral falava com ritmo através do telefone e ia ao cúmulo de perguntar as direcções. É, naturalmente, o que fazem alguns clientes deste género.
Escassos dias depois de o ter visto nas falésias, voltou a marcar. Sabia perfeitamente que lhe tinha dito que estava ocupada para evitar atendê – lo. Assim, esperou alguns dias e utilizou todo o processo do telefone outra vez e apareceu a bater – me à porta. Quando a abri, conduzi – o ao quanto e perguntei – lhe, tal como fazia com todos os meus clientes, se queria tomar banho de chuveiro ou se preferia utilizar o quarto de banho. Como de costume, declinou o convite. Desculpei – me e dirigi – me para o banheiro, só regressando quando arranjara uma desculpa válida para evitar atendê – lo.
“Peço imensa desculpa, Luís, receio ter más notícias. Acaba de me surgir o período. Não posso trabalhar, desculpa”.
Sem imaginar que eu estava a arranjar uma desculpa, tentou convencer – me de que, com período ou de sem período, não havia problema. Repliquei – lhe que era contra a minha religião, que não o faria. Engoliu e foi – se embora.
Revoltante é a palavra mais adequada com que posso designar estes clientes que são insolentes, opressivos, toscos, ignorantes, e pouco respeitadores. Não são poucas as vezes que penso nas mulheres destes indivíduos, sentindo – me triste por elas cujos maridos andam usualmente entre os quarenta e os cinquenta e cinco. Nunca devem ter experimentado o prazer com eles. Assim, mau sexo com um velho macho, condena – os a visitar diferentes lugares, frequentemente, de acordo com as suas possibilidades financeiras, sendo assim os bordéis locais de segunda classe, que eu considero “lixo”, no sentido literal da palavra.
Alguns dias passados, André fez outra marcação. Desta vez, a transmissão de energia era mesmo maior do que da última vez. A sua ternura havia triplicado em elação a mim. Correu tudo muito bem, desfrutámos da companhia um do outro mas ambos sabíamos que era perigoso continuarmos a encontrar – nos. Não discutimos esse ponto mas podíamos senti – lo
Nessa visita deixou o livro de cheques no carro. Era dos poucos clientes a quem tinha dado permissão de pagar por este método. A noite estava muito fria e húmida. Sugeriu uma transferência para a minha canta. Concordei e dei – lhe os pormenores.
Como combinado, Eduardo, um amigo de meu pai, veio visitar – me. Tal como da primeira vez, passámos uma boa parte do tempo a conversar sobre Política. Por alguma razão senti repulsa ante a ideia de dormir com ele. Não tirava da cabeça que era como dormir com o meu próprio pai.
Geralmente reunia a coragem suficiente para ir com ele só para descobrir que este homem estava obcecado em que lhe chupassem os testículos. Para ele, isto era o despoletar do acto sexual.
Esta semana, do mesmo modo que as outras, foi trabalhosa e, como é natural, estava a contar com o depósito de André. Para meu desespero, não havia depositado o dinheiro no dia seguinte.
Após o terceiro dia, ainda não havia sinais de depósito. Não tinha alternativa senão enviar – lhe uma mensagem a explicar o meu desespero.
Respondeu a pedir desculpa, que estivera muito ocupado. Fez o depósito nesse mesmo dia, mas as suas chamadas estavam para acabar dentro de alguns meses. Contactou – me ainda mais uma vez quando subi os preços. Disse – lhe que a parada havia subido, embora omitindo que os meus clientes regulares continuavam a pagar o mesmo. Suponho que disse isto para não me voltar a visitar. Ambos sabíamos o que podia resultar do episódio. Penso que ambos tínhamos desejado que alguma coisa nos iria salvar de uma situação difícil. Devemos tê – lo desejado muito. Eu desejei!
Naquela mesma noite, Tom ligou. A partir daquela visita, em que deixou um sentimento de desgosto, enviara – me uma colecção completa de mensagens, pedindo – me par almoçar com ele, ou jantar. Não lhe respondi a nenhuma mensagem; se queria ver – me teria de fazer uma marcação e vir ao meu apartamento.
Sem esquecer a sua visita, pela primeira vez, fiz perceber bem a Tom que não era a boneca Barby e que, se queria os meus serviços, teria de marcar encontro como toda a gente. Tom respondeu que me ia ligar na semana seguinte e arranjar tempo e dia que se adaptasse à sua agenda.
Pelo que deduzi, Tom estava à espera de tratamento PMI (pessoa muito importante) tal como o seu título exigia.
CAPÍTULO 10
Passados alguns meses de trabalho, ficava agradavelmente surpreendida ao receber chamadas de homens que me haviam sido referidos pelos seus amigos, como sendo colegas. Muitos recusavam – se a revelar quem me recomendara, enquanto outros até gostavam de se abrir completamente.
Um grande amigo meu trabalhava no ginásio local a tempo parcial como recepcionista e, durante as minhas horas livres, pagava – lhe frequentemente as visitas, no intuito de me libertar do apartamento por algum tempo.
O ginásio era próximo de um café e eu e Darre tínhamos por hábito ir lá nos nossos intervalos livres. Ali, sentados no terraço a beber café, comecei a contar ao Darre a preocupação que me começava a invadir devido ao comportamento de Célio. Após três visitas oficiais e alguns meses de envio de mensagens sem conto, o jogo começava agora começava a sair de controle, na medida em que, na noite anterior escreveu uma dizendo “amo – te”. Sinto a tua falta. Não posso estar longe de ti.” Tinha de pensar nalguma coisa e depressa, pois que nunca o tinha encorajado ou impressionado de algum modo.
Darre não podia dar – me conselhos. Estava a enfrentar uma situação semelhante e sentava – se ali de olhos abertos a olhar fixamente as pessoas que se encontravam à volta a beber os seus cafés matinais, enquanto eu começava a arquitectar, na parte que me competia, o meu próprio plano, no que respeitava a Célio.
Isto, assim, não podia continuar. Precisava de tentar explicar – lhe que não podia ter esses sentimentos mas, dado o seu estado de espírito, resultante do seu recente divórcio, tinha de ter cuidado para o não magoar mais. Estava carente e não queria melindrá – lo. Pegando no meu telefone, escrevi:
“A minha situação actual não me permite ter um relacionamento. Sou uma prostituta e continuarei a sê – lo nos futuros meses. Dá – me tempo para terminar.”
Eu sabia muito bem que o tempo é um bálsamo e durante o tempo de espera, iria eventualmente esquecer – se daqueles sentimentos que pensava que tinha.
Para me alhear do problema disse:
“Vês ali aquele rapaz? Chama – se Filipe e é jogador da Equipa Nacional de Hóquei.”
Não me teria preocupado se fosse o presidente dos Estados Unidos, mas respeitei, na medida em que regressávamos ao ginásio.
Darre pediu – me para deitar um olho na recepção, enquanto ia num instante ao quarto de banho. Neste lapso de tempo, o alto jogador de hóquei entrou muito timidamente, marcou o ponto no cartão – horário que continha toda a informação necessária no que dizia respeito a um membro do ginásio.
“Pode dizer – me quanto tenho de pagar para me tornar sócio?” perguntou polidamente.
“Desculpe, na verdade não trabalho aqui, mas o recepcionista demora pouco. Se não se importa de esperar um bocadinho, disse – lhe.”
Respondeu – me que não era necessário. O homem, estranhamente, tentou escapar – se rapidamente quando Darre apareceu, disse a Darre olá, mesmo quando ia já a sair. Darre perguntou o que é que queria, disse – lhe, e ele sorriu.
“Pois bem, doçura. Este homem é já membro. Na verdade, a mulher é que é e ele está agregado.
Darre continuou a explicar que Filipe, de vinte e quatro anos, era casado com uma mulher nove anos mais velha, que era uma figura dos media devido ao seu título Real. Pegando numa revista de debaixo do balcão, Darre apontou para a página central que abrira para me mostrar Filipe e a esposa. O engraçado disto tudo é que, nessa altura, ele devia estar, com toda a certeza, com outra pessoa. Este tipo “carente” não pode, usualmente, estar só por muito tempo.
Quando cheguei ao meu prédio, tive uma surpresa agradável, o meu amigo João acabara de chegar de Itália, onde passara uma grande parte dos sete meses a servir de enfermeiro à mãe que se encontrava doente. Quando lhe abri a porta não pude conter as lágrimas de felicidade. Tinha sentido a falta de João, tanto mais que, estando desempregado, podia passar mais do seu tempo no meu apartamento, enquanto a esposa trabalhava. Pela minha vida que não conseguia compreender como é que um homem tão inteligente como ele podia estar desempregado, mas, em realidade, não perdi tempo a analisar o problema.
Enquanto esteve em Itália nunca deixámos de estar em contacto. Já sabia da minha nova profissão e, embora fosse contra a ideia, prestava – me sempre carinhosa atenção.
João andava próximo dos quarenta. Era baixo e tinha, pelo menos, trinta quilos a mais. O seu cabelo preto, espesso e bigode de coronel a condizer, criava um ar autoritário à sua volta. Mas João era um dos mais amáveis, das mais amorosas pessoas que eu tivera o privilégio de encontrar, embora fosse um ex drogado de heroína confesso. Tinha – lhe roubado sete anos da sua vida e era agora o seu décimo terceiro ano limpo.
Quando nos sentávamos para saber as notícias, fomos interrompidos por uma chamada da porta. Era o meu novo cliente. Não me apercebera das horas. João foi – se imediatamente embora, antes que o homem tivesse tempo de chegar ao meu piso.
Estava para ser o meu décimo cliente do dia e eram só seis da tarde provando, de longe, ser o meu melhor dia.
O cliente chegou, um homem alto, de rosto agradavelmente limpo que oscilava pelos vinte e três anos. Parecia – me familiar mas, pela minha vida, não era capaz, sinceramente, de me lembrar onde o tinha visto. Quando passou pela porta e estava prestes a perguntar – lhe, lembrei – me que era o Filipe. Quase morri! Concentrando – me pensei; cá vamos nós com mais uma situação embaraçosa! A fingir que o não reconhecia, pedi – lhe para ir para o quarto. De facto, Darre não lhe tinha chamado a atenção para o facto; não teria feito a mínima ideia, já que nunca vejo televisão.
Filipe, que parecia extremamente embaraçado e era extraordinariamente tímido, portou – se como um rapazinho a quem a mamã estivesse a ralhar. Deve ter adivinhado que Darre me havia dito que ele já era um membro do ginásio. Para lhe evitar mais embaraços, não falei nisso, como se nunca o tivesse visto. Continuou a olhar confuso, a pensar se já o conhecera de algum lado.
Para partir o gelo, perguntei – lhe onde é que arranjara o meu número, só para me dizer que tinha sido do anúncio. Evitando perguntar – lhe mais coisas, acerca do jornal e pormenores sobre o anúncio, tinha decidido poupá – lo ao ridículo. No fim de contas, deve ter percebido que estava a mentir ao dizer que não o conhecia, ou melhor, a não ser que fosse, de todo, um idiota. De resto, fora uma coincidência um membro do ginásio estar a pedir detalhes para se inscrever.
Toda a cena fora ultra rápida. Estava a proceder mal, nunca gostei de espiolhar manifestamente a vida dos clientes. De resto, tinha pouco tempo e tinha de respeitar as regras. Não se queixou. Tenho praticamente a certeza que as outras raparigas que havia visitado eram também rigorosas com o tempo. De toda a informação que consegui recolher, cheguei à conclusão que eu era a única que fazia sexo oral. Não obstante passar apenas alguns minutos na cama, levava muito mais a falar com esses homens, dando – lhes um certo apoio.
Não me parece que Filipe estivesse a proceder do modo mais inteligente. O que eu quero dizer, é que um homem casado com alguém que possui um título de realeza, não deveria visitar uma prostituta que trabalha e vive na mesma área. Mais, sabia que eu era amiga do recepcionista do ginásio que, assim, conhecia a mulher e tinha toda a sua identificação. Era, de facto, inacreditável. Ali estava eu, uma prostituta, devido à minha situação financeira, e, assim, em desespero poderia ter destruído o casamento deste senhor, bem como toda a sua reputação, se eu assim muito bem o desejasse. Podia avisá – lo das minhas intenções e fazer – lhe um ultimato. Podia ter destruído a sua vida!
Mas não era caso único. Havia pelo menos uns outros oito em quem podia pensar. Para além disso, clientes famosos eram, também, vizinhos. Para além de vizinhos com casamentos comuns, havia vários famosos com esposas famosas. Uma dessas PMI (pessoas muito importantes), um moço que vivia no fundo da minha rua, Daniel.
Daniel era alto com cabelo escuro encaracolado, com os olhos verdes mais bonitos que jamais vira e era extraordinariamente atraente. A primeira vez que me visitou, tinha ficado aterrorizado e por alguma razão não podia imaginar porque é que ele era muito extrovertido. Algo se encontrava desajustado.
Quando se foi embora, sentia – se muito mais confortável e revelou – me o quanto estava excitado porque ia de férias no dia seguinte.
Como tinha achado divertido ver alguns clientes meus na revista, no ginásio, quando fui lá fora comprar cigarros comprei a edição seguinte da revista no quiosque local. Para minha surpresa, ao abrir a revista para encontrar Daniel, na quarta página, deparei com ele e a sua famosa esposa, apanhados durante as férias! Pelas informações que consegui, Daniel era realmente um homem famoso e a mulher ainda mais. Fora por isso que ele ficara aterrorizado! Tinha a certeza de que o conhecia e achou estranho que tenha dito que não. Além do mais, ele e a mulher viviam na minha rua!
Alguns dias mais tarde, Daniel chegou à porta do meu edifício sem avisar. Um regular tinha feito uma reserva para a hora seguinte e, aparte isso, estava furiosa porque um cliente batera à minha porta sem marcar encontro antecipadamente, o que era a violação da minha regra número um.
Não sei se Daniel estava à espera que lhe desse uma atenção especial devido à sua imagem ou espantosa figura, mas quando atendi o telefone da porta não continuou tão divertido pois fingi não o reconhecer.
“Olá, Diana, sou eu. Senti tanto a tua falta. Regressei. Podes abrir e deixar – me entrar, se fazes favor”? pediu.
“Oh, és tu, Daniel. Desculpa. Estou muito ocupada. A propósito, não respondo a chamadas da porta sem um a marcação. Espero que compreendas que não posso permitir – me uma coisa dessas. Seria demasiado complicado se toda a gente decidisse fazer o mesmo. Liga – me e faz uma marcação. Desculpa, tenho de ir tomar banho. Adeus”. E desliguei o intercomunicador.
Daniel ficou sem fala. A minha intuição disse – me que não voltaria e o tempo deu – me razão. Não estou certa se se sentiu insultado pela minha recusa em abrir – lhe a porta ou se procedeu intuitivamente devido aos perigos que envolviam a visita a uma prostituta que morava e trabalhava na mesma rua. Talvez pensasse que o havia reconhecido como figura pública e estivesse à espera de tratamento especial?
Até este dia não fazia a mínima ideia de como é que estas figuras públicas podiam arriscar a reputação e os casamentos ao visitarem meretrizes. Uma coisa é visitar uma mulher que não trabalha nem vive na mesma vizinhança, outra é ir a uma prostituta que foi parar à mesma área residencial, à mesma rua. Mais ainda, ir ter relações com uma rapariga que tinha informações em primeira-mão das suas esposas, mesmo antes de se tornarem clientes, e virem na mesma, ignorando esse facto. Tiveram sorte a mais por terem batido à minha porta. Tinha uma consciência e acreditava que “quem semeia ventos colhe tempestades”. Qualquer outra teria tirado partido da situação.
CAPÍTULO 11
Como estavam errados! Como estavam errados quando os Beatles cantavam “O dinheiro não pode amar a meu lado.” Todos os dias punha os pés fora de casa e via a falsa realidade ao redor, pensava como, na maioria das vezes estavam enganados. Durante a curta estadia no país, todo o tipo de homem de todo tipo de meio, e todo o tipo de profissão se havia aproximado de mim. Alguns pensavam que poderiam ter um pouco de sorte por causa da conta bancária. Outros estavam convencidos de que a sua imagem de figura pública ou estatuto político lhes era suficiente, enquanto cabeças ocas de belos rapazes tinham a certeza de que residia na sua aparência. Todos eles fruíam de um circunstância comum; estavam sob a ilusão social de que a saúde material ou as imagens vulgares prevaleciam, mas era muito cedo para descobrir que eu era excepção à regra, rejeitando a ilusão e, assim, rejeitava – os também. Naturalmente que não teria lançado mão da prostituição, se tivesse aceite estes falsos valores. Mal sabiam eles quão diferentes eram os meus. Tinha os pés assentes no mundo real. O mundo natural era feito de sentimentos onde a principal regra era de que as coisas materiais nada significavam sem a alma. Decidi vender o meu corpo mas, a minha alma, não.
Para minha surpresa recebi uma mensagem de Carlos. Passara – se alguns meses atrás! Não tinha mais ouvido uma palavra a seu respeito desde aquela manhã em que fui bem explícita dizendo que não o podia tratar de modo especial.
De alguma maneira estava contente por ter notícias dele já que isso era como deitar água para debaixo da ponte. Por outro lado estava desiludida com o modo como Carlos falara para mim, tal como o fez no passado, e logo mudei o meu tom de voz antes de lhe dar oportunidade de fazer outra marcação.
No meio de uma tarde deste Verão ensolarado, quente, uma marcação tinha sido confirmada para as quatro horas da tarde. O meu novo cliente foi pontual. Abri a porta a um homem que parecia rondar os cinquenta anos. De fino cabelo prateado, penteado para trás, tinha os olhos azuis mais penetrantes que eu já alguma vez vira. Dominariam o cenário de uma pintura perfeita. De pele bronzeada, usava um casaco tipo desporto azul -marinho, tradicional, com calças compridas beges.
Quando o mandei entrar e me apresentei, o amorável homem, pegou na minha mão direita, dobrou a cabeça lentamente e beijou – ma e, depois, apresentou – se.
António seguiu – me até ao sofá deixando um suave aroma de elegante loção pós – barbear atrás de si. Sentou – se, tendo o cuidado de não amarrotar o fato, no lado direito, apoiando o braço na cadeira, ao mesmo tempo que firmava a cara na mão. Pegando num grande charuto cubano pediu – me licença para fumar antes de o acender.
Por qualquer razão, estava a sentir – me muito intimidada e incomodada pela sua presença. Tudo o que concernia a esse homem, o vestuário, a atitude, o seu odor e, acima de tudo, o seu ar de superioridade, era demais para que, mesmo os mais resistentes pudessem lidar com isso. Se era isto que queria ostentar tinha, de facto, utilizados os ingredientes apropriados.
António não viera para fazer sexo. Tinha vindo para conversar. Parecia ser um homem só. Sentia isto na sua voz. Na amargura das suas palavras. Verdadeiramente em toda a sua presença; parecia ser o seu próprio maior inimigo e com a ideia que transmitia até mesmo os mais fortes se sentiriam amedrontados.
Era pouco conversador e ficava muito feliz por tirar o máximo de prazer do seu charuto que dominava o ambiente. Tal como era meu costume, comecei por explicar o “ritual”, de como chegara a uma tal situação e, ao mesmo tempo, perguntava – lhe que diabo estava fazendo ali, a visitar lugares como este. Nunca respondeu à pergunta mas, antes, disse que tinha rompido há pouco a relação e de como a mulher o estava a incomodar e a sua persistência em recuperá – lo. Depois de se calar, do mesmo modo como era usual com os outros clientes, comecei a perguntar – lhe pelo trabalho. Inaugurou a longa história da sua vida activa, dizendo como se tinha tornado o herdeiro de uma empresa familiar tradicional enorme, que envolvia a produção e vendas de cristal há várias gerações.
A atmosfera aligeirou – se a despeito de estar a ser conspurcada pelo fumo do tabaco, e falava mais livremente. No meio da história da sua vida profissional, mencionou os anos como alcoólico e como tinha sido vítima de um penetrante ataque. Tinha sido vítima de um ataque amargo. Vinte anos haviam passado desde que apanhou a esposa a dormir com outro sujeito no quarto do casal. Após tê – la deixado, esta começou a suborná – lo emocionalmente e continuou com a chantagem por tanto tempo que acabou por cair em orelhas moucas até ao dia em que se suicidou. Não sabia como reagir ou como confortar o homem sentado na minha frente com a aflição estampada nos olhos. Fiz o melhor que pude e não mais toquei no assunto nem fiz perguntas que lhe pudessem aumentar a aflição. Preferi solicitar – lhe descrições sobre a sua experiência como alcoólico e elogiei – o, depois, devido à habilidade em deixar tudo para trás.
Como o tempo estava a passar convidei António para o quarto. Olhou para mim e disse,
“Minha querida Diana, não queria pôr as coisas nestes termos, o seu tempo é dinheiro. Pagar – lhe – ei, descontraia – se.”
Comecei a sentir – me insegura pensado que este sujeito não tinha gostado de mim. Talvez não estivesse vestida do modo que ele esperava? Talvez estivesse à procura do estereótipo perfeito de uma prostituta de classe alta?
Conversámos durante mais um bocado antes de lhe dar a entender que me estava a roubar muito tempo. Levantou – se rapidamente, colocou a mão na parte mais inferior das minhas costas e deu – me cerca de três vezes mais dinheiro do que era obrigado a fazer. Fiz – lhe compreender que tinha cometido um erro, pois já me sentia culpada porque me estava a pagar apenas por conversar.
”Não, o seu tempo ainda valia mais”, insistiu enquanto se dirigia vagarosamente para a porta da frente.
De novo, antes de partir, levantou a minha mão direita, beijou – a e foi – se embora.
Para minha surpresa continuou a manter regularmente contacto comigo. Costumava marcar para conversar e sentia – me cada vez mais incomodada quando lhe aceitava o dinheiro, tentando desesperadamente dizer – lhe que não cobrava por falar. Mas António continuava a insistir, ameaçando até não voltar. Sempre que aparecia trazia – me um presente. A minha colecção de porcelanas estava a aumentar.
Um dia insistiu extremamente para que o acompanhasse a jantar. Ficou muito ofendido quando lhe disse que não fazia isso com clientes e melindrado com o facto de me referir a ele como tal e sentindo – me deveras culpada aceitei o convite.
Durante o jantar, António começou a contar – me a história do seu envolvimento com uma prostituta brasileira que tinha trabalhado num dos bares nocturnos de grande classe da cidade.
António fazia a reserva todas as semanas, de Quinta-feira à noite até Domingo. Na verdade acreditava que esta menina gostava dele. Que passava estes dias com ele por amor não obstante o facto de lhe estar a pagar. Para não ferir os seus sentimentos não tentei tirar – lhe as teias de aranha da cabeça. A assim chamada relação subsistiu, até ao dia em que a dita rapariga juntara o seu dinheiro e voou de regresso para o Brasil. Durou dois anos. De repente, comecei a ver o quadro claramente. António estava a pensar que poderia fazer o mesmo comigo sem saber que eu era diferente, que tinha valores indestrutíveis.
No regresso do restaurante, continuámos a conversar no Rolls Royce. O carro era tão grande que as nossas palavras pareciam ecoar no silêncio, devolvendo o cheiro a charutos e loção para de pós barbear. Não era capaz de me alhear da sensação que me pesava no estômago. Parecia querer criar o mesmo enleio surrealista que havia engendrado com a brasileira. Inesperadamente olhou para mim e perguntou:
“De quanto é que precisa para pagar as suas dívidas? A quanto monta o total?”
Hesitei mas respondi honestamente. Ainda era uma vasta quantia que rondava os milhares de euros. António estacionou o carro no lugar conveniente mais próximo, olhou para mim, pegou – me na mão e disse:
“Deixe – me oferecer – lhe essa quantia. Permita – me aliviá – la dessa dívida, querida.
António, está louco? Esta luta é minha, de mais ninguém.
“Insisto. Deixe – me pagar integralmente as suas dívidas.”
Continuei a resistir. Nunca sonharia na vida uma tal coisa. António queria comprar – me, pensando que pagando as minhas dívidas pudesse comprar – me a alma. Não compreendeu. Não conseguia ver que não o amava. Mas esta era a sociedade a que ele estava habituado. Uma oportunidade pela qual muitas raparigas seriam capazes de matar para a conseguir. Venderiam fosse o que fosse, para obter lucros materiais, incluindo a própria alma e a felicidade, em troca de um parceiro infeliz, um papel de fantasia, onde as recompensas financeiras são trocadas por dependência e controle. Raparigas que estariam dispostas, não só a vender o corpo, mas também a própria alma, bem como a própria existência.
As semanas que se seguiram foram preenchidas com chamadas, mensagens e visitas do persistente António, determinado a levar – me a aceitar a sua oferta. Durante todo este tempo, nunca tive sexo com ele. Parecia estar à espera que desistisse antes de começarmos, esperando que fosse sua para lhe dar, assim, prazer.
Lentamente, começou a perceber que não iria mudar de ideias e aceitar o papel que queria conferir – me. Pela primeira vez enfrentava um desafio que não sabia que existia e começou a ficar irritado e sarcástico, especialmente quando mencionava outros clientes. Principiava cada vez mais a penetrar que era uma batalha perdida e, nessa mesma noite encontrou uma desculpa para acabar com este embaraço, com este orgulho.
Encontrava – me com João a beber uns copos de vinho e sentia – me alegre. A mulher estava a trabalhar até tarde e, assim, fazia – me companhia. António telefonou. Pouco satisfeito com o meu risinho, desligou logo. Na manhã seguinte liguei – lhe a pedir desculpa de sem saber bem porquê.
“Minha querida Diana, nunca imaginei que uma jovem como a menina pudesse ter chegado a tal estado. Estou desiludido, deveras desiludido”, disse com uma voz profunda e firme.
Fiquei sem palavras perante a exageradamente débil desculpa. Não estava embriagada. Não fora grosseira, estava apenas a desfrutar a noite com um amigo. Lembrei – me em cada segundo daquela conversa sendo, tudo o que ele conseguiu aperceber em mim, apenas as minhas boas maneiras.
O que António queria era ter a última palavra e acabar com tudo como se a ideia tivesse partido dele. Não podia aceitar a derrota. Se ao menos se apercebesse que já o deixei ganhar por me recusar a esfolá – lo bem esfolado e não sendo desonesta. Fui a primeira a fazer – lhe ver que o ”dinheiro não lhe podia comprar o amor”, que o poder não é o dinheiro. O poder era ser forte para nós mesmos.
Aconteceram – me muitos casos parecidos embora não envolvendo as enormes quantias de dinheiro de António. No entanto, implicaram dinheiro e subornos. Até certo ponto, mesmo drogas. Muitos homens viram e sentiram o meu desespero. Apaixonaram – se por esta rapariga que encontraram e ficaram com ideias. Tiveram pensamentos como os de me ter, de me possuir. Sabiam que não aceitaria dinheiro sem contrapartida e, assim ofereciam – se para mo emprestar. No entanto, quando se aperceberam que a minha atitude para com eles não mudaria, começaram a subornar – me. Utilizavam a minha aflição e a minha dor para ganhar a contenda. Teriam preferido ver – me sofrer se não atingissem os objectivos. Não tiveram êxito e apareci como vencedora, embora pagando um preço elevado. Emergi com a minha consciência clara e eles com a sua manchada. Na maioria dos casos, continuam a pagar pelos seus actos. Persistem em me contactar para que no dia em que singrar na miséria possam ter outra oportunidade. Nunca terão. Aprendi a lição de perder tudo e esse dia não voltará.
CAPÍTULO 12
Passavam agora cinco meses desde que atendi o meu primeiro cliente e, de algum modo sentia-me mais confortável falando acerca disso com alguns amigos. Eram esses amigos em quem podia confiar para me fazerem companhia, sentindo – me livre para responder ao meu telefone de trabalho, quando estavam por ali.
Oley era um deles. Era um verdadeiro mafioso que a sua aparência testemunhava com clareza. Tinha um corpo musculado, olhos azuis, pele branca cabelo à Yul Bryner. O seu corpo encontrava – se coberto de tatuagens, esboços de experiências da vida e pontos de vista rebeldes. Oley andava envolvido em projectos ilegais a nível Internacional.
Após um encontro no ginásio local, há muito tempo, onde ele e a esposa estavam inscritos, eu e o Oley mantínhamos um contacto regular e permanecemos bons amigos, nos seis anos que se seguiram. Era recentemente livre após se ter divorciado da mulher no ano anterior. A esposa tinha um carácter forte e que inspira confiança. Não tivera opção, porquanto, muitas outras mulheres bonitas andavam sempre à volta do Oley. Por alguma razão, contudo, era demasiado paranóica, com a nossa relação, a tal ponto, que arruinou o seu casamento.
Oley aparentava ter muito tempo livre, e com o tempo, atrevi – me a falar – lhe do trabalho. Estava curiosa acerca do que esta figura de homem fazia na vida ou, pelo menos, o que dizia que fazia. A minha intuição levou – me a começar a analisar mais de perto até que um dia o enfrentei. Gostava do Oley, nunca permiti que classe ou emprego ou fosse o que fosse fizessem interferir no meu juízo. A avaliação que eu fazia de alguém era em relação a mim só a mim. Oley admitia que uma das suas muitas linhas de trabalho era um “salão de massagens”, por outras palavras, um bordel legal.
Oley só regressara ao país havia alguns meses. Tinha estado por fora num dos seus milhares de aventuras e, sabendo que era para negócios ilícitos, não queria, realmente, descobrir mais nada. Não queria o fardo de saber e, sendo muito inteligente, compreendeu porquê. O que percebia era que sentia a falta dele, já que cinco meses atrás o seu conselho poderia ter feito um mundo de diferença.
A liberdade de Oley era devida à sua esperteza. O seu traquejo e negócios eram cuidadosamente planeados e pensados, referindo – se constantemente aos seus advogados e implicações legais de tudo como se fora um jogo de xadrez.
Com o passar dos anos, tínhamos ganho tanto respeito um pelo outro, que, apesar desta imagem de conjunto e modo de vida, lhe tinha permitido morar comigo na altura do seu rompimento com a esposa.
Oley passou para um café e para avisar que, não sabia bem quando, mas que estava a planear deixar o país por mais alguns meses. O bordel veio à baila durante a conversa. Tinha – o fechado em consequência do divórcio. Enquanto Oley explicava quão lucrativo era tal negócio, comecei, repentinamente, a ter ideias.
Quando se foi embora, corri imediatamente a visitar outro amigo, Paulo. Paulo não era estranho às prostitutas e tinha arranjado muitos contactos nos bairros nocturnos que frequentava com os seus clientes. Paulo chamava – lhe “Destino Final”. Era sempre um ponto de encontro de agradável divertimento. Era mais que sabido que, na verdade, era um negócio muito lucrativo.
No meu exaltamento, sugeri que abríssemos algo idêntico; um bordel.
“Faz – me teu sócio” disse com um sorriso. “De certeza que queres incluir – me.”
Estava surpreendida. Era como se já tivesse planeado abrir um, como se já tivesse desenvolvido um projecto. Parecia saber toda a informação necessária e foi rápido a agarrar a bola, sem a mínima hesitação, só ideias de negócio.
Contente por ter um sócio, não perdi tempo a chamar o meu advogado para organizar uma reunião, naquela mesma tarde, no meu apartamento. Foram discutidos todos os subterfúgios e implicações legais. Estávamos prontos a arrancar. Abrira – se a luz verde.
Naquela mesma tarde, o meu vizinho João, passou por ali. Enquanto estava a fazer café na cozinha comecei a contar – lhe os acontecimentos daquela tarde.
“Eu e o Paulo vamos abrir um bordel”, disse.
O sorriso de João diminuiu gradualmente até se transformar em tristeza, na medida em que lutava desesperadamente para esconder as suas expressões, sorria com a boca fechada, como para evitar mostrar os dentes amarelos estragados devido à sua passada dependência.
Sentindo pena dele, na medida em que estava preso e dependendo da mulher para a subsistência e despesas. Naturalmente que me senti inclinada a perguntar – lhe se queria ser também sócio. Por alguma razão não esperava que aceitasse em ser incluído.
“Estás a falar a sério? Claro que adoraria”, disse com uma lágrima de felicidade enchendo – lhe os seus grandes olhos castanhos intumescidos.
“Tens a certeza, João? Sabes que és casado, certo? Compreendes tudo?”
Pela primeira vez João sorriu com uma boca aberta, como se não pudesse conter as emoções. Eram demasiado fortes para controlar as suas expressões. Estava excitado.
O resto da tarde foi passada a fazer planos em cima de planos. João estava de sobremaneira excitado para se preocupar com as implicações. Este projecto lucrativo era suficiente para sacudir quaisquer aflições ou quaisquer riscos. Não tinha dúvidas! O que contava era que eu estava envolvida, fazendo – o sentir – se seguro. De alguma estranha maneira estava feliz por ter o seu envolvimento na medida em que me via a mim própria contribuir para a sua emancipação. Talvez isto lhe desse um arranque, independência financeira? As justificações eram feitas e aceites. Era uma boa causa.
Eu e João não tínhamos outros tópicos de conversa durante os dias que se seguiram. Éramos como crianças no Natal à espera do dia de abrir as nossas caixinhas de surpresas. Era impossível parar a sua jovialidade, a sua excitação, e, acima de tudo, a sua demanda por aventura como meio de escapar à sua aborrecida vida. Tirámos partido da nossa boa disposição e dirigimos rapidamente todas as nossas energias para encontrar um lugar apropriado para abrir o novo bordel depois de termos decidido a sua situação. Seria num ambiente da classe trabalhadora, com um elevado índice de concentração populacional, e, o mais importante, de fácil acesso. O país entrou numa crise económica difícil e eram as classes médias que mais o sentiam. Não tínhamos alternativa senão eliminá – la.
Não podíamos acreditar! O primeiro lugar que vimos era perfeito. O apartamento era na vizinhança de um bairro social da classe trabalhadora. Todo o local tinha um aspecto falido com mobília muito velha e pobre. As paredes, com aparência de plástico, estavam adornadas com quadros fora de moda; o tipo que encontramos nas colecções dos nossos bisavós. Mesmo a TV tinha uma daquelas antenas que se encontram a cinco pés da sua grande caixa – ecrã. Contudo, tinha duas camas e dois sofás rasgados, o que era o mais importante. Como um bónus, salientava – se um aparador feito de madeira vinil castanho – escuro. O conjunto do local cheirava a bolas de naftalina bafientas mas devia servir. Não havia problema já que não estávamos a planear abrir um clube para pessoas muito importantes. Eu e o João olhámos um para o outro e abanámos a cabeça com um sorriso.
“Ficamos com este”, disse para o agente imobiliário.
Paulo não ajudava nada e já me encontrava desassossegada com a sua ausência. Estava tão preocupado com as suas companhias que tinha tido pouco tempo ou nenhum para contribuir para o nosso projecto. No meio da minha excitação, disse a João que não seríamos só os dois. Como de costume, o que eu dizia não era comentado. Chamei o Paulo, expressei – lhe o meu desagrado, e para meu alívio, compreendeu perfeitamente. Eu e o João ficámos a ser os únicos sócios.
João decidiu que o contrato de arrendamento ficaria só em seu nome e eu seria a sua fiadora. Chegámos a esta conclusão porque, ao contrário de mim, não tinha recibos salariais. Como a lei de arrendamento local considera o fiador como garantia real exigindo – lhe recibos salariais, diferentemente do actual possuidor do imóvel, provava ser assim o melhor arranjo.
Na manhã em que assinámos o contracto, eu e o João pegámos nas chaves e fomos ao apartamento, tão excitados que nenhum de nós pensara que era a nossa primeira casa.
João sentou – se no nosso novo sofá castanho e remendado tomando nota de uma lista de compras enquanto eu lia as páginas classificadas. Desta vez estava focando só os anúncios mais explícitos. Foi então que desviei a minha atenção para as páginas de recrutamento afim de ver quais eram os anúncios mais apropriados, com o devido cuidado das implicações legais.
Demorámos pouco tempo a realizar o trabalho. As listas estavam prontas, e redigidos ambos os anúncios; um para recrutamento, outro para anunciar as raparigas. A seguir fomos embora para casa.
Excitado com o nosso novo projecto, João começou a fazer planos para o futuro. Arranjar os dentes encontrava – se no topo das suas prioridades. Tinha – os escondidos por baixo do seu bigode de coronel há anos. Perder peso vinha em segundo lugar.
João tinha muito peso a mais e precisava realmente de fazer algo com isso. Depois surgiu uma bomba! Pediu – me para telefonar ao Oley a perguntar onde poderia comprar anfetaminas.
“Fazem – me tanto bem! É apenas por algumas semanas. Precisamente o tempo necessário para perder todos estes quilos extra” disse.
Embora estivesse convencida que era muito pouco provável que conseguisse perder vinte quilos extra em tão pouco tempo, João estava determinado a comprar estas pílulas. Tentei dissuadi – lo mas sabia que se não telefonasse ao Oley, ele arranjaria outra maneira. A pensar que era o melhor que sabia e que assim o poderia ajudar a controlá – lo, concordei e liguei a Oley.
“Está bem. Está bem. Vou passar por aí em trinta minutos”, disse, tentando cortar rapidamente a conversa não fosse uma gravação.
Quando Oley chegou, João quase praticamente se escondeu atrás de mim na sua presença. Dei – lhe um toque de cotovelo para falar com Oley. Numa voz calma, expôs rapidamente o assunto. E justificou – se só para ouvir o outro dizer
“Não, não, João. As anfetaminas são fortes demais para o teu coração. Sentir – te – às melhor com coca. Tem o mesmo efeito desejado e não é tão severa para o teu coração”, explicou Oley convincentemente a um intimidado mas igualmente excitado João.
“ Está bem. Se tiveres por aí uma grama…” disse João polidamente com os olhos muito abertos.
Oley estendeu – lhe o pequeno saco de plástico” e convenceu João que ia adorar a qualidade. Quando saíamos, João examinou a caixa que lhe deram como se fora uma criança recompensada com uns rebuçados por bom comportamento.
No auge da excitação, correu para a cozinha, regressando à sala de estar com um prato limpo, uma faca e um sorriso de gato do Cheirem. Com saliva a gotejar – lhe da boca, olhou para mim e perguntou se lhe podia ir buscar um cartão de crédito.
Quando estava prestes a esvaziar alguns dos conteúdos do saco de plástico para o prato, apercebeu – se que este estava húmido. Sem hesitar, levantou – se da cadeira, dirigiu – se para o meu porta CDs e voltou com um disco na mão. Como um verdadeiro profissional, colocou a cocaína no CD, cortou – a um pouco, depois dividiu – a igualmente em duas longas linhas com o cartão de crédito que lhe tinha dado. Antes de pegar no CD e dar – mo, João limpou a cocaína pegada ao lado do cartão de crédito e colocou – o no lugar.
Sentia – me fraca ou talvez simplesmente curiosa. Peguei no CD, coloquei – o em cima da mesa, agarrei uma nota que João tinha estado a enrolar, e levei – a à narina; ouvi as restantes instruções de João e depois aspirei. “Ai que bom”, exclamei. Dava a sensação de ervilhas entradas pela narina aberta do meu nariz até ao cimo. O meu septo ficou anestesiado. Quanto à minha garganta, ficou com resíduos de um gosto esquisito. Quando olhei para João, os meus olhos estavam mareados de lágrimas devido ao impacto que o meu nariz havia recebido. A sorrir prazenteiro, perguntou-me se era bom. Antes de ter hipótese de responder, senti uma sensação no meu peito. Passados que foram uns minutos, só me apetecia passear. Andei à volta do quarto até ficar com vertigens e então gritei violentamente:
“Vamos embora daqui”.
O efeito desapareceu passada meia hora, embora continuasse excitada para quase todo o resto do dia. Ainda estou a pensar se a minha snifadela era a meu favor ou contra.
A primeira coisa que fiz no dia seguinte foi telefonar para o jornal. Ana, a senhora, estava muito amigável e perguntou para quantos dias queria o anúncio. A rir, respondi – lhe que este era um anúncio diferente, e li;
Amistosa,
Extremamente voluptuosa,
Exótica 27 anos…
Tel.…
No decurso da mesma conversa dei – lhe instruções para o anúncio de recrutamento. Estava tudo pronto. Tínhamos comprado um telefone, postos os anúncios, agora tudo o que tínhamos que fazer era esperar que aparecessem algumas raparigas e começar a trabalhar.
CAPÍTULO 13
Na manhã seguinte muito cedo, um barulho pouco familiar acordou – me. Era o telefone do bordel. O anúncio de recrutamento saíra no mesmo dia, todavia ainda não possuíamos uma força de trabalho. Ansiosa, decidi responder e dar alguma informação relevante.
Pela tardinha, eu e João levámos a cabo exactamente o mesmo ritual, exactamente no mesmo lugar com exactamente as mesmas consequências. Era como um déjà vu.
Das dezenas de chamadas daquele dia, só respondi a três. Decidindo que ainda não era altura para promoção, respondi também à chamada seguinte e dei comigo a conversar ao ponto de dizer ao potencial cliente que embora o bordel ainda não estivesse aberto, aceitá – lo – ia no meu apartamento.
Chegou dali a uma hora. Quase nas nuvens abri a porta a um homem medianamente alto, de cabelo preto e uma mistura de uma tímida e contudo séria expressão.
Sentado na cama, Romano ouviu o meu ritual, tal como a maioria dos clientes ouvia. Desta vez, a única diferença foi explicar que o anúncio a que respondeu não era meu mas do bordel.
“Nunca usaria esse anúncio para mim. O meu é completamente diferente; pós graduada…”
Chegado àquele ponto, Romano chegou à conclusão que tinha falado para mim no passado, para o meu anúncio pessoal. Ao perguntar – lhe porque não viera, respondeu que, dada a descrição, pensava que eu tinha peso a mais. Durante esse primeiro contacto, havia –lhe dito a verdade, que pesava 57 quilos. Pensou que era demasiado para uma mulher e, para além disso, se uma prostituta dizia que tinha 57, na realidade pesava provavelmente mais de sessenta!
Inquirindo acerca do facto de inicialmente ter mentido acerca do peso, achou surpreendente descobrir que não mentira, que tinha, de facto, 57 quilos, mas mentira ao responder ao telefone do bordel dizendo que pesava 50 quilos. Não conseguia acreditar! Embora os tivesse, eu era esguia na medida em que o peso do meu corpo era formado de músculo. Ninguém me dava um grama a mais do que 50!
Alguma vez encontraria Romano se não tivesse colocado aquele anúncio para a nova casa? Será que o teria encontrado se não tivesse respondido ainda ensonada? Em primeiro lugar, era pouco provável que colocasse um anúncio como este com outro objectivo que não fora o bordel. Em segundo lugar, não estava a dizer que pesava 50 quilos para dar uma imagem perfeita das novas raparigas. Se tivesse dito a verdade, como sempre fazia, nunca o teria encontrado.
Mais tarde, naquela mesma noite, bateram à porta. Com um sorriso maior que o mundo, era João. Passou por mim a abanar as mãos, direitinho ao trabalho de preparar outra snifada. Nunca o tinha visto tão feliz.
Naquela tarde tinha encontros marcados, não me parecendo que surgisse algum trabalho, já que as chamadas telefónicas eram raras pois era feriado e a maioria dos homens não podia escapar – se das esposas.
João ofereceu – me outra dose e “com um raio de diabos”, inalei – a e em breve achei-me a dançar pelo quarto fora até que arquitectei um plano. Quando me apercebi das dificuldades olhei para João e disse:
“Toca a andar. Vamos confirmar a nossa competição João. Vamos embora daqui!
Naquele momento, João estava eufórico e faria fosse o que fosse, portanto aí vamos nós.
A viagem de carro parecia muito mais curta que o habitual, na medida em que não era capaz de conter o riso enquanto ouvia João telefonava para os anúncios que havíamos assinalado.
“Está lá? É sim. Estou a falar acerca do anúncio. Pode dar – me algumas informações se faz favor?”, perguntou à rapariga que se encontrava do outro lado do fio. ”
Não pude deixar de pensar “sim senhor, este indivíduo tem prática!” levando o pobre João a desligar embaraçado pois que eu continuava a rir. Nos poucos momentos em que consegui controlar – me, apontou todos os detalhes com ar circunspecto e, ao mesmo tempo, ensinava – me o caminho.
Chegámos em pouco tempo, sem dizer palavra, e estávamos a tentar descobrir onde nos encontrávamos.
“Não, Diana, não pode ser verdade”, disse admirado.
Dos poucos números da área, um tinha de ser na mesma rua! Olhámos um para o outro e dissemos ao mesmo tempo “Merda” e desatámos a rir.
Fechando a ignição, olhei para João e perguntei – lhe do que é que estava à espera. Chocado, mirou – me como se tivesse deixado cair o pequeno maço de plástico que tinha na mão. Olhou esgazeado para a frente durante um pedaço até que surgiu a ideia de irmos fazer uma visita às raparigas.
Chegámos ao escuro prédio de quatro andares cujo rés – do – chão era ocupado por mercearias, talhos, estação de correios e um cabeleireiro. Estava tudo muito movimentado, ouvindo – se as vozes sonoras das mães e das crianças não obstante ser já bastante tarde.
João tocou à campainha e logo responderam. Segui – o. Chegámos ao segundo andar do deteriorado edifício cujos corredores estavam pintados de um cinzento brilhante. Não fazia a mínima ideia do que estava à espera, já que as raparigas que estava prestes a encontrar competiam comigo! Limpei o nariz, esperei por João para sorver o que restava da primeira snifada e toquei à campainha do apartamento.
Abriu uma moça brasileira que libertou um forte odor a óleo do apartamento. Não consigo recordar quem ficou mais surpreendido; se eu, por me deparar com esta pobre aparência, ou ela a pensar que diabo eu estava a fazer ali, ou João, calado, concordando com a minha ideia. Esta fulana é realmente assim tão bera ou a cocaína afectou – me a vista? Pensava ao olhar para ela e, automaticamente, comecei a rir a bandeiras despregadas e cada vez mais na medida em que tentava conter – me. Rapidamente, pus – me a pensar em acontecimentos passados muito menos divertidos afim de me acalmar.
Esta anoréctica, de pele cor de azeitona e cabelo preto, estava extremamente nervosa na minha presença. Sem sorrisos desnecessários, perguntei – lhe se podíamos entrar afim de evitar a curiosidade dos vizinhos. Concordou mas deixou a porta aberta como sinal de visita curta. Imediatamente se lhe juntaram mais duas raparigas que parecia estarem tão confusas como ela e decerto tão feias como ela. Tive de quebrar imediatamente o gelo e perguntei,
“Têm Lésbicas?” evitando olhá – las a todo o custo afim de controlar os meus futuros acessos de riso.
“Talvez que a minha amiga, que está ali dentro, atenda mulheres” replicou uma delas, olhando para a porta de um quarto.
Repentinamente a porta do quarto abriu – se. Outra rapariga, vestida informalmente de cinzento, e cabelo atado, saiu. Era a única das quatro que não era uma carga de ossos. Olharam todas umas para as outras e fiz – lhe a pergunta.
“Não, não, não atendo Lésbicas, respondeu com doçura e educadamente a pensar o que diabo se estará a passar e porque é que a interrogaram em primeiro lugar.”
Tentando receber mais informações, tanto quanto possível, enquanto me esforçava por manter uma fisionomia séria, mudei de assunto. As raparigas estavam cada vez mais confusas com a minha presença quando comecei a descobrir alguma coisa a respeito do negócio. Sendo cuidadosa para não deixar perceber aquilo que queria saber e, naturalmente, também sem me denunciar, procurei convencê – las que pertencia ao departamento de emigração. No fim de contas, para ali estavam estas raparigas brasileiras que decerto residiam no país ilegalmente.
Ao mesmo tempo que falava, os meus olhos perscrutavam a toda a volta. O apartamento era todo igual, semelhante ao que nós tínhamos arrendado. A sala de estar era pequena e mobilada com um sofá de três pés já com buracos devido ao uso e rasgões. Havia dispersas por ali algumas cadeiras de madeira e de cozinha. Algumas travesseiras enchidas a lã à volta do quarto e uma unidade de prateleiras junto da janela com um aparelho de CDs colocado na última para evitar uma queda de grande altura. O conjunto do local era preenchido com vibrações negativas e desconfortáreis que pareciam prontas a desequilibrar a pilha de discos usados que podiam ver – se colocados no suporte através da porta da cozinha. Todavia, agradeci às raparigas, olhei para João e disse, “Vamos embora”.
Quando nos íamos embora, João, que estava mais branco do que a cal, perguntou:
“Como é que tu conseguiste meter medo aquelas raparigas que, tão intimidadas, ainda conseguiram responder –te?
“Bem, não era essa a minha intenção. Mas decerto não era eu que ia dar parte de fraca, principalmente com uma enorme dose preparada por mim”, disse com um sorriso.
Quando saíamos, à medida que o edifício ecoava, vimos os rostos das raparigas que ocupavam toda a janela, observando a direcção que tomávamos. Finalmente recuperando alguma cor, João começou – se a rir do que acabava de se passar. Quando entrámos para o carro, as cortinas fecharam – se, mas sentíamos que ainda nos estavam a espiar. Para lhes dar a saber que as podia estar a ver, liguei a ignição, pisei simultaneamente acelerador e embraiagem, provocando um desvio, ao mesmo tempo que olhava para a janela rindo – me e acelerando.
No caminho de regresso Fred ligou a ameaçar – me que ia visitar uma outra prostituta se eu não permitisse que lhe fizesse uma marcação. Com medo que tirasse partido disso e visitasse outras mulheres, aceitei. No fim de contas já haviam passado alguns meses depois do episódio inicial.
Para minha completa surpresa ele estava com melhor estado de espírito. Quando se ia embora avisei – o para não se habituar mas para, por favor, me contactar quando tivesse necessidade de visitar uma rapariga. Assim não iria parar à porta de alguém que lhe permitisse visitar em qualquer dia ou mesmo duas vezes por dia.
Finalmente, no dia seguinte, começaram a aparecer chamadas de raparigas a perguntar acerca do anúncio. Depois de observar os nossos competidores vizinhos, não estava tão interessada na aparência das novas raparigas e, assim, dei às cerca de dez inquiridoras o endereço, pedindo para estarem no apartamento na manhã seguinte, sabendo, de antemão, que só um punhado delas viriam. Tudo havia sido organizado. Estávamos agora prontos para o negócio.
CAPÍTULO 14
Era o dia da Grande abertura. João bateu à minha porta às 8 horas e trinta da manhã, uma hora e meia mais cedo do que o que tínhamos planeado.
Realmente nem dormira. Aquelas finas letras brancas mantiveram – me acordada até de madrugada. João inalara alguma cocaína. Os seus olhos, muito abertos, olhavam para mim cheios de surpresa quando abri a porta. Entrando rapidamente, continuou a olhar para trás para a porta do lado oposto do corredor. Muito agitado, palmilhava a minha sala de espera de um lado para o outro. Não podia estar sossegado, só para parar, finalmente, quando entrou na cozinha para tirar duas chávenas do aparador afim de fazer café.
“João, será que me vais dizer o que se passa? Perguntei.”
Começou a falar rapidamente como se quisesse compensar todos aqueles minutos de silêncio.
“Ouviste aquilo? Ouviste a algazarra esta manhã? Ouviste todo aquele barulho que ela estava a fazer? Deixei – a. Encontrou a lista do bordel. Sabe tudo.”
Olhei para ele confusa, como se não entendesse o que estava a tentar dizer – me. Em qualquer circunstância normal seria uma questão de vida ou de morte. Não faço a mínima ideia do que dizer excepto “Oh meu Deus”. Pela primeira vez numa situação de nervos desatei a rir! Não podia acreditar. “Mas porque é que isto está a acontecer?”, pensei de mim para comigo. Tentando dominar a situação, sorvemos outra dose antes de nos dirigirmos para o bordel.
Pelo caminho, João continuou sem dar sinais de remorsos mas, para o convencer a, mesmo assim, ver o lado bom das coisas, fiz – lhe ver que, pelo menos tinha onde ficar temporariamente, no bordel. Podia ser pior. A gravidade da situação desenhava – se – me ao ponto de ver que já se não tratava do dinheiro para as pequenas despesas, mas da subsistência.
Chegada ao bordel decidi que atenderia a primeira marcação já feita e as seguintes até que chegassem as raparigas, isto no caso de aparecerem. Abrindo a porta a um homem muito magro que aparentava andar próximo dos quarenta, mandei – o entrar.
O homem, pálido na aparência, de pé na minha frente e que parecia estar engripado ou coisa assim, drogava – se portanto, o que se devia à sua atitude nervosa e crítica e dava a impressão de ser o mais prometedor dos dois. Continuava calado fazendo – me sentir o mais desconfortavelmente possível. Repentinamente saiu do seu estado hipnótico.
“És muito bonita… Não estava à espera de encontrar uma coisa assim”, disse.
Subitamente, fomos interrompidos por um barulho nas traseiras e olhou nervosamente através do corredor.
Expliquei – lhe que era João na sala de estar, desejando não o ter feito dado que piorou as coisas! Recuou alguns passos, disse que não se sentia bem e foi – se embora.
Tinha uma estranha sensação acerca deste homem, “Nuno” como se chamava a si próprio. Fez – me pensar se não havia utilizado o barulho como um pretexto para se ir embora. Talvez estivesse a ser delicado e não gostasse de mim. Podia eventualmente acontecer, pensei a falar alto.
Embora tarde, as raparigas começaram a aparecer. Fiquei contente e por isso não mencionei a sua má pontualidade. Uma delas, Jessica, desenhava um pequeno sorriso e usava uma peruca. O espesso cabelo castanho claro caía – lhe até à cintura. Exprimia – se no seu vocabulário de rua com sotaque vulgar, toda ela vestida como prostituta. Usava sapatos de salto alto e um impermeável comprido de poliéster a cobrir – lhe o fato de trabalho. Jessica era mãe de uma criança ainda pequena. Durante o dia trabalhava como prostituta, e à noite dançava como stripper. Jessica tirou o casaco para revelar um soutien vermelho apertado que lhe comprimia de tal maneira os seios que quase rebentavam. Por baixo usava um par de calcinhas de cetim vermelhas. A cobrir – lhe a roupa interior qualquer cliente poderia ver uma capa branca que tinha uma peça encarnada de pele presa por trás. Embora demasiado exagerado para o meu gosto, o trajo de Jessica beneficiava – lhe o corpo vigoroso e escultural que podia admirar – se enquanto passeava pela casa.
Pouco depois chegava outra mulher, Maria. Usava cabelos compridos encaracolados, e era desprezível, na aparência, lembrando – me, de certo modo, as prostitutas de rua da estrada da costa. Era demasiado gorda e a aparência não era de trinta anos que declarava ter, mas de cerca de quarenta que provavelmente tinha. Maria discutia a sua história no emprego mas evitava a todo o custo focar a sua vida privada. Quando me disse que era o seu décimo ano nesta vida, logo me admirei como tinha sobrevivido tanto tempo com aquela aparência. Mas para minha surpresa era ela que ia receber o primeiro cliente da casa já que um dos seus leais telefonara – lhe naquela manhã para fazer uma reserva.
Passado um certo tempo, à tarde, surgiu – nos a terceira profissional, Cindi, uma brasileira ainda nova de altura mediana e bem constituída. Cindi tinha vinte e dois anos e longos cabelos castanhos e no seu simples mas elegante vestuário, aparentava ser a mais normal das três. Não tinha lá grande porte mas disfarçara com sucesso a gordura à volta da cintura. Nunca ficava mais de quinze dias em cada bordel, escolhendo de preferência a alternativa de vários dos numerosos espalhados pelo país. Acabara de chegar do Norte numa viagem de três horas. Decidira vir – se embora logo dois dias depois em consequência da falta de clientes. Coloquei – lhe a possibilidade de considerar permanecer uns tempos. Se fosse efectiva sempre podia conseguir alguns regulares mas de algum modo não podia compreender a validade do que eu estava a dizer.
Com todas as raparigas sentadas na sala de estar, e procurando conhecerem – se umas às outras, eu e o João demos uma fugida a um dos quartos para prepararmos outra snifada.
“Aquela Jessica tinha um bom traseiro”, exclamou.
Enquanto João estava ali sentado a babar – se, vi as horas e pensei que o melhor era ir para casa e preocupar – me com os meus próprios clientes. Tomei a dose e fui à sala de estar a dizer adeus às raparigas, só para ser interrompida pela Jessica que se estava a sentir em casa toda estatelada num dos sofás. Olhou para mim e perguntou se já sabia que antes o apartamento tinha sido um bordel. Estava “queimado” como ela dizia. Em tantos lugares, numa área tão vasta, havíamos de arrendar uma ex casa de passe que, para esse efeito estava etiquetada de “queimada”, o que significa destruída em gíria. Fantástico, pensava de mim para comigo, mas estava com pressa, olhei para as raparigas e despedi – me.
À medida que deixava o apartamento, a minha paranóia apoderou – se do melhor de mim após a conversa de Jessica, ou era eu que estava convencida disso. Fosse paranóia ou fosse a cocaína, o que é certo é que, ao ir – me embora para o carro, tinha os olhos de toda a gente postos em mim; ou é que seria apenas imaginação?
Após o meu regresso naquela noite, felizmente o João informou – me que embora alguns clientes se tivessem recusado a ficar, globalmente o número era bom. Isto era de esperar, na medida que os homens gostam de espiolhar e, principalmente as novidades.
Por agora, estava sozinha com João. Todas as raparigas tinham ido para casa com cinquenta por cento dos proventos, o que dividido igualmente dava trezentos euros por cinco horas de trabalho. Como recebera outra marcação, olhámo – nos reciprocamente, depois ambos fixando o pequeno saco de plástico, que estava em cima da mesa, avançámos na sua direcção. João sentou – se e começou a preparar outra dose.
“Vá lá João”, disse “despacha – te, não tenho o tempo todo do mundo”. João olhou para mim com um sorriso no rosto e respondeu:
“Calma! Um dos prazeres de inalar esta coisa é, na verdade, a sua preparação!”
Graças a Deus. Finalmente acabou. Peguei numa grande snifada sorvendo num instante a dose completa precisamente no momento em que tocava a campainha da porta. Era o meu cliente. Avisei João para ser cuidadoso pois que o freguês devia pensar que estava sozinha.
Abri a porta para deparar com Nuno! Nada havia mudado desde o nosso último encontro. Parecia tão estranho como de costume! E continuava a pensar que este fulano tinha tentado uma maneira airosa de se pôr a andar na primeira visita.
Ao conduzir Nuno para o quarto as suas perguntas começaram a chover e tão céleres que se sucediam umas às outras. Estava electrizada e rapidamente regurgitava as respostas. Parecia nervoso com a minha super confiante atitude. Disse que se lembrava de mim dum clube nocturno na cidade onde trabalhara alguns anos.
“Fantástico. Lembras – te de mim! Portanto agora deves estar desejoso de foder – me?” Respondi sarcasticamente e sem cerimónia.
Na verdade não estava com disposição para ouvir histórias, simplesmente queria despachar – me. De resto, é assim que as prostitutas normais que trabalham em bordéis fazem e ia tirar total partido disso. Muita conversa e pouco trabalho, pensei! Continuamente a tentar colocar a ênfase no sexo. No fim de contas era para isso que ele ali se encontrava. Ou não era? Dando os passos necessários, inclinei – me na cadeira que se encontrava na frente da cama. Nuno sentou – se no lado da cama e pôs – se a olhar para o meu rabo e de maneira a atrair toda a minha atenção, movimentando – se arreliadoramente de um lado apara o outro. Não estava a reagir mas apenas continuava fixando a bunda como se não houvera outro objecto no quarto. Dirigi – me para ele e coloquei – lhes as mãos nos meus seios. Não deu resultado. Não conseguiu erecção. Experimentámos diferentes posições mas sem efeito. Colocando – me à sua frente, comecei a brincar com o meu clítoris. Raios! Nada. Fosse o que fosse, fi – lo em vão. O rapaz não conseguia uma. Desfazia – se desmesuradamente em desculpas, uma das quais era que nunca pagara para ter sexo, a outra, não podia fazer nada com uma camisa de Vénus.
Desistimos finalmente e, como continuava a murmurar, caí imediatamente na introspecção. Os efeitos da coca mostravam – se. Queria – o ver pelas costas afim de poder preparar outra dose. Havia algo de errado mas não conseguia discernir o quê. Então surgiu repentinamente a resposta. “mas porque é que há – de trabalhar uma rapariga como tu?” dissera ele.
Olhara imediatamente para a minha reacção na medida em que continuava a perscrutar – me sabendo perfeitamente que eu era uma das sócias do bordel.
A pouco e pouca admitira que tinha casas suas. Não é bom jogador, pensei, na medida em que lhe permitir sentir – se no controle da conversa quando me ia a avisar da Máfia.
“Há um indivíduo, o Oley. É doido. Far – te – à desaparecer ou, no mínimo, obrigar – te – à a ter cuidado”, admoestou sem ter a mínima ideia da minha amizade com Oley.
“Oley é tão ruim que nem podes imaginar”, continuou.
Chegados a este ponto eu estava já enjoada da conversa e principalmente das suas atitudes e perguntei a Nuno se havia mais alguma coisa de que devia avisar – me antes de me ir embora para casa.
Quando saiu tirei as minhas conclusões, tinha vindo inicialmente para verificar a competição na sua área. Está certo. Mas agora, porque é que voltou uma segunda vez, principalmente para ser sujeito a humilhação?
Tal cromo esperava, Nuno telefonou – me outra vez no dia seguinte. Talvez quiseste apenas dar uma olhadela à situação, pensei para mim. A minha curiosidade era, no entanto, demasiada. Queria investigar e, por causa disso, aceitei nalgumas ocasiões o seu convite para um café. Todas as vezes que o fiz era sempre a mesma interrogação secreta tornando – se progressivamente mais agressivo com a minha mais que aparente atitude sarcástica. Desta vez arranjou coragem para dizer:
“Sabes que, as raparigas do bordel de um camarada receberam uma visita na última semana?”
“Está ainda aberto ou o assim chamado Oley fechou – o?”, perguntei com um sorriso.
“Mas que raio de merda queres dizer com isso, se ainda se encontra aberto?
Eis o estado do Nuno neste momento, furioso com as minhas respostas. Mas eu sabia que não havia nenhum ponto mais já que as raparigas tinham – me visto pela janela, portanto admiti que era à procura de lésbicas e dizendo quanto isso era mau na medida em que podiam prover às suas necessidades.
Nuno saltou da cadeira como um tufão, olhou para mim e disse – me para ter tento na língua com um tom de voz, extremamente zangado.
Parecia que queria que pedisse, mesmo mendigasse protecção. A minha resistência enfureceu – o desmesuradamente. A sua incapacidade de controlar a situação pô – lo fora de si o que deu como resultado um comportamento agressivo cada vez maior.
Nessa mesma tarde, à minha chegada ao bordel, tinha uma chamada.
“Sei quem tu és e vou meter – te uma bala na cabeça, minha puta de primeira classe, ouviu – se uma voz masculina a vociferar.
A última snifada de coca estava ainda a martelar – me a cabeça.
“Tu és?” e desatei a rir.
“ Queres ver. Desce cá para a porra do teu carro e vê, cabra”.
A voz estava a explodir de raiva devido à minha atitude, e desligou.
Sorri para João e para as raparigas que tinham ouvido parte da gritaria do homem na medida em que ecoava na sala de estar. Pareceram aflitas, chocadas e mudas. Uma delas ria histericamente com os nervos. As outras permaneciam quietas e caladas.
“Não se aflijam, era apenas uma ameaça. Isto é uma casa de prostitutas, lembram – se? É normal”, disse dirigindo – me para a porta.
Desci para o meu caro sem me aperceber do que iria encontrar na verdade ou o perigo que enfrentava por causa disso. Olhando à volta e para a cidade, tão longe quanto consegui abarcar, situada a grande distância, murmurei “sei que andais algures por perto. Aparece, malandro.”
De repente o meu telefone tocou outra vez
“Eu posso ver – te. És muito bonita, não és, cabra?” e desligou.
Pareça embora incrível, continuei imperturbável. A cocaína tinha – me sedado e não me permitia ver a seriedade da situação que estava enfrentando.
Depois desta história João encontrava – se apreensivo com o facto de estar só no apartamento. Não era o mais corajoso dos homens mas mais uma vez foi uma decisão inteligente. Nem mesmo a coca podia disfarçar o seu medo. Para aliviar a sua angústia, disse – lhe que podia ficar em minha casa até descobrirmos o fundo da questão.
As chamadas continuaram durante alguns dias, até que cheguei ao ponto de varrê – las como ameaças covardes, e, como planeado, dediquei mais tempo a atender os meus próprios clientes no meu domicílio. Nessa mesma tarde estava em casa a atender um regular, o Dr. Jaime quando recebi uma chamada de João. Achei urgente responder – lhe já que o meu sentido apurado dizia – me que havia algo de errado. Respondi e tinha razão!
“Diana, tens de vir imediatamente. Deram um tiro na porta!” Disse João com uma voz aterrorizada.
“Mas que raio de merda é essa? Estás a brincar?”, exclamei.
“Não, não estou a brincar, Diana. Atiraram à porta”, insistia enquanto o seu medo atravessava a linha telefónica.
O meu cliente estava sentado na cama a ouvir toda a conversa.
“Por favor, é uma urgência. Tenho de sair. Aqui tem o seu dinheiro. Faremos isto noutra altura”.
O Dr. Jaime não teve tempo de fazer perguntas. Já estava vestida e pronta à porta para me ir embora.
Ao mesmo tempo que conduzia telefonei ao Oley para conselho. Passados alguns minutos ligou – me. Estava para apanhar um sujeito, Bruno, no caminho, para me acompanhar a casa.
Quando chegámos encontrámos um buraco de bala na porta da frente e uma pintura manchando um bocado a toda a volta. João encontrava – se a um canto da sala de estar. Não se movia. Os resíduos da coca explodiam de cada poro do seu corpo. O suor corria – lhe abundantemente do rosto. Parecia que a camisa tinha passado a meio do programa da máquina de lavar para o secador. Nem mesmo os efeitos da coca contra atacavam o seu medo. Por alguma razão tentei acalma – lo só para perguntar a mim própria porque estava inerte.
“João, porque raio de cargas de água não chamaste a polícia? Perguntei.
João não disse nada.
Ergueu os olhos para mim com um estranho esgazear e após alguns momentos disse que já ali tinham estado, uma vez que os vizinhos os tinham chamado, ajuntando que se encontrava muito perturbado.
João pediu – me para me sentar e começou a explicar como tinha ficado envolvido numa empresa fraudulenta que incluiu alguns colegas de trabalho e empregados da estação de serviço. Entre eles idearam um plano simples que consistia em sacar dinheiro à companhia com cartões de crédito de consumo de gasolina. Foram todos apanhados e punidos. João não comparecera no tribunal e por isso fora emitido mandato de prisão.
Começava tudo a encaixar – se e a inverter a imagem. João tinha uma razão para estar desempregado e não era a mulher que estava a tentar torná – lo dependente. Era um cenário completamente diferente daquele que vimos. A despeito do que tinha dito a respeito da esposa, ela trabalhava doze horas por dia seguidas para governar os dois.
Naquela noite João ficou mais uma vez no meu apartamento. Por volta das 12:30 recebi uma chamada do meu próprio anúncio pessoal. Por via de regra, desde que Rozen se fora embora recebia clientes novos aquelas horas e especialmente um casual, mas como estava lá o João recebi. Tomei outra dose para me manter em forma e peguei numa arma que tinha comprado antes para auto protecção. Se havia uma altura em que eu precisava mais dela, era agora. Coloquei – a no bolso de trás e dirigi – me para a porta.
Abri a porta a dois indivíduos de aspecto amigável. Ambos rondavam o fim da casa dos vinte e pareciam muito educados. Um deles olhou de relance para a arma mas não fez comentários. “Estranho”, pensei de mim para comigo enquanto me dirigia para o quarto. Eram extremamente conversadores e confidentes mas de algum modo não estavam à vontade embora não fosse a sua primeira visita, o que, aliás, acontecia com muitos.
Algo prendeu a minha atenção. Embora fossem muito amigáveis estavam mais interessados em conversar do que outra coisa. Um deles parecia fascinado com o retrato do cão que eu tinha tatuado nas costas e acabou por me dizer que era sócio num negócio de limpeza de casotas para cães. Perguntou – me onde e estava o meu cão, só para me mostrar a cicatriz na perna enquanto eu replicava que estava na cozinha. Parecia – me ser uma maneira de me dizer que não estava amedrontado.
Comecei a falar para o outro rapaz afim de o incluir na conversa. Por qualquer estranha razão, perguntei se eram um casal. Antes que pudessem responder senti – me autorizada a contar – lhes a minha passada relação com uma mulher. Deste modo sentir – se – iam mais à vontade admitindo a situação. Um respondeu que não só para ser interrompido pelo outro a dizer que sim.
Fiz sexo com os dois individualmente. À medida que praticava o sexo, o outro mostrava – se nervoso e procurava claramente abstrair – se. Não me parecia serem um casal. O seu comportamento era por demasiado estranho. Um de cada vez? Não estão a tirar partido da situação, a três ou coisa assim? Não estava a dizer – me a verdade, pensei.
Quando se foram embora, fui ter com João à sala de estar. Estava extremamente inquieto e nervoso e aparentava estar a escrever mensagens no seu telefone, que presumo eram para a esposa. Estava de tal maneira a balouçar os pés onde se encontrava sentado que quase senti uma brisa. Disse – lhe que pensava que os indivíduos eram polícias disfarçados. João disse – me que tinha olhado pela janelas enquanto estávamos todos no quarto de banho e visto uma terceira pessoa na carrinha Mercedes de onde saíram. Alguma coisa não fazia sentido e não era capaz de me concentrar nisso! Seria por causa do tiroteio? Deixei ali o João e fui – me deitar.
João foi para o bordel na manhã seguinte. Passada uma hora ligou – me a dizer que a polícia tinha batido à porta outra vez. Tentando explicar – lhe que isso era um procedimento normal, era tarde demais. Tinha – se esgueirado pela janela do rés – do – chão.
Antes de poder dizer mais alguma coisa, João pediu desculpa e desligou. A casa ficou abandonada.
Até hoje, penso que envolveu a mulher nesse dia. Quando entrei na sala de estar depois de que acreditara que eram polícias disfarçados de clientes, João escrevia numerosas mensagens. Nunca escrevera mensagens a não ser para mim. Depois, tinha um carácter muito fraco e após os anteriores acontecimentos do dia, deve ter querido arranjar uma desculpa para sair do negócio, lamentando ter – se envolvido. Foi o que fez fechando assim um capítulo do nosso relacionamento.
CAPÍTULO 15
João abandonou o bordel, abrindo – se, assim, um novo capítulo com um novo tipo de problemas para resolver. Estava a começar a admirar – me como é que tudo isso me acontecia só a mim, qual a razão porque era envolvida nos problemas e complicações dos outros quando tinha os meus que me sobravam.
Tudo se representou na minha cabeça em retrospectiva. Como podia alguém que anda a evitar a polícia sugerir alguma vez um contrato de arrendamento destinado a ser para um bordel, em seu nome? Alguém que foge pela janela porque tem a polícia à porta! Que estranho! Como é bizarro! Pensava e voltava a pensar. Por alguma razão achei-me a analisar, tentando convencer – me a mim própria que nunca tinha feito nada de mal; é claro que tinha uma casa de passe mas não forçava nenhuma mulher a trabalhar. Assim, o que é que se estava a passar? Por que era eu a pagar por isto? Estava a minha teoria correcta que quem semeia ventos colhe tempestades?
No caminho para o bordel chamei Jessica para perguntar se podia encontrar – se lá comigo naquela tarde.
Devo de certeza ter passado mais de meia horas a olhar para aquelas paredes mórbidas à espera de Jessica. Quando chegou contou – me a história do dia anterior. Também saltara pela janela quando dispararam, embora naquela ocasião João não o tivesse feito.
Liguei a Oley para lhe dizer o que tinha acontecido e a pedir ajuda, eventualmente convencê – lo a organizar um encontro com os possuidores de negócios similares. Tinha de fazer alguma coisa na medida em que era uma figura influente.
Naquela mesma noite permaneci na casa com Jessica. Um cliente meu, António, ligou afim de fazer uma reserva. Repliquei – lhe que se me queria ver tinha de vir ao bordel já que não tinha processo de me ir embora durante as próximas horas. António ficou surpreendido quando ouviu falar do bordel e muito excitado pediu o endereço enquanto perguntava “Quantas raparigas estão lá? Como são? São sensuais? E quanto a Medidas? O que fazem?”
A sua curiosidade não tinha limites. Depois rebentou a pergunta. Disse – me que tinha mais dois amigos.”
“Vamos fazer uma orgia. Vamos”, pedira
Pedi – lhe para esperar um bocado enquanto ia perguntar a Jessica. Ficou relutante a princípio mas quando lhe falei na quantidade de dinheiro envolvida rapidamente assentiu com a cabeça.
Dirigi – me para o quarto de banho a preparar uma snifada, e uma que fosse bem grande para o efeito antes que chegasse. Comecei a pensar na conversa e como as maneiras de António me chocaram quando telefonou. Traduzia em cada polegada o homem de quarenta anos, responsável. Era aquilo a que habitualmente chamamos um santo, na aparência. Era campeão nacional de salto em espectáculos, para além de ser o treinador.
Quem havia de dizer que este homem que à vista desarmada respirava respeito por todos os poros ia pedir uma coisa destas? Mas não estava a brincar. Chegavam quando acabava de tomar banho.
Jessica era um espelho de profissional, tal como de costume. Tinha a certeza que a moça iria ser uma sensação com os homens. Foi para a porta e desviou o cabelo rapidamente à volta da cara, ao mesmo tempo que a abria e, então, os homens começaram a entrar. Um por um olharam – me de cima abaixo e começaram a segredar. De pé, um pouco afastada, comecei a ganhar contacto ocular com os homens que se encontravam do outro lado do corredor. António dirigiu – se para mim para me cumprimentar. Os amigos seguiram atrás dele. Virou – se para o lado e apresentou – me o segundo homem, Pedro. Antes de Pedro me cumprimentar com um beijo, na face, olhou – me bem nos olhos durante uns segundos, virei – me e examinou – me dos pés à cabeça por várias vezes, acabando por me apalpar os seios. Chegado ali, retomou contacto visual e comentou que lhe agradava sobremaneira o que estava a ver. Sorri e olhei para a minha retaguarda para saudar o último homem, Rogério. Rogério era mais reservado, não tão extrospectivo e extremamente tímido. Acima de tudo, parecia pouco à vontade a lidar com a situação em que os outros o meteram.
Tudo se passou tão rapidamente como se o mundo se acabasse dali por dez minutos. Nada de paleios com as raparigas. Só trabalho. Jessica veio colocar – se a meu lado. Olhei para ela e disse “Toca a andar”, enquanto nos deslocávamos para o quarto principal com os homens na peugada.
Começaram na brincadeira e a apalpar – nos. Desatámos a rir.
“Calma”, disse. “Não vai destruir – me o material?!
Comecei a despir – me e, ao mesmo tempo, António levantava Jessica no ar. Pedro e Rogério não despegavam os olhos de mim com a pulsação acelerada; tal dois cachorros aguardando avidamente que lhe lançassem um biscoito. Já tinham examinado o mostruário do que a Jessica tinha para vender pois que quando foi abrir a porta ia praticamente com tudo ao léu. Agora queriam ver – me a mim. Logo que desvendei a minha greta garbo, Pedro começou logo a lamber – me perna. Rogério continuou a guardar silêncio sem saber o que fazer. Jessica tinha – se colocado por cima do António, movimentando – se ritmada e lentamente pala cima e para baixo. O António que se encontrava agora ali na minha frente, era um António totalmente diferente do outro que era meu cliente. Tornara – se vulgar e gritava para Jessica como se a mulher estivesse uns graus abaixo de cão.
Pedro chegara à minha vulva. Lambia como o gato quando lhe colocam a jeito uma tigela cheia de apetecível leite e ouvindo – se sensivelmente idêntico ruído. Sentei – me na cadeira para me sentir mais confortável e, lentamente, dispus – me de modo a que Pedro enfronhasse completamente a cabeça entre as minhas pernas e, enquanto metia na minha boca a glande de Pedro, soavam – me aos ouvidos os altos gritos de António, em Inglês, mas que Jessica não conseguia compreender.
“Esta rapariga é trampa. Vamos trocar”.
Fizemos ouvidos de mercador. Pedro ergueu – se e ia sentar – se em cima de mim quando Jessica e António finalizavam. Comecei a tocar os peitos de Jessica. António ficou excitado. Pedro não! Queria – me a mim e só a mim. Pegou – me na mão e corremos para a sala de estar a rir às gargalhadas e Pedro fechou a porta atrás de nós.
Os outros começaram a bater mas nós bloqueámos ligando a música. Aparte a música, os únicos ruídos que podiam se ouviam eram os das nossas respirações. Tudo o que podíamos sentir era a ternura que envolvia, mutua e unissonamente, as mãos de ambos. Pedro rejeitara a orgia para me tratar como uma verdadeira mulher. Continuava a acariciar – me, a falar – me dizendo “És tão bonita”, ao meu ouvido. Erguia – me no ar passando – me, a roçar, as minhas pernas pelo seu peito. Devagarinho, foi – me encostando à parede e, gentilmente, e contra ela, começou a meter – me o pénis vela vagina dentro. Depois, transportou – me para o sofá e poisou – me para ficar em cima de mim. E todo este show ao ritmo lento da música e seus movimentos. Repentinamente tive uma sensação, como se não pudesse conter – se por mais tempo, que ia vir – se. E veio – se. Os nossos corpos tinham vibrado em uníssono.
Alguns momentos após tomou consciência e lá nos surgiram as vozes no outro lado da porta trancada enquanto estávamos ali olhando – nos mútua e reciprocamente nos olhos. Pedro tinha não só entrado dentro do meu corpo mas tinha também tocado a minha alma.
Chegado o momento, abrimos a porta aos outros. O envolvimento tinha sido difícil para o pobre do Rogério. Estava pouco à vontade. Tinha feito alguns movimentos e, todavia, havia sido deixado nos obscuros bastidores. António não estava feliz. Não gostava da Jessica por alguma razão, embora atingisse o clímax pensei que o corpo de Jessica fizesse parte dos sonhos de muitos homens mas, aparentemente, não. António recusava – se a pagar a parte que lhe competia. Pedro tomou – me de lado e, enquanto discutiam o resto, pagou a parte de António do seu bolso, dizendo que não se podia permitir que António passasse depois a moer – lhe o juízo.
Decorridos alguns minutos, António o que queria era ver – se livre daquele inferno. Sabia que por ali tinha havido alguma espécie de entendimento entre mim e o Pedro. Tanto Pedro como Rogério eram dois grandes industriais que viviam lá para o Norte, a uma grande distância, e era raro virem à cidade. Era como se António não quisesse que Pedro trocasse quaisquer impressões. Todos dissemos adeus uns aos outros, todos excepto António e Jessica. Depois, foram – se embora.
No caminho para casa, naquela noite, não parava de pensar em Pedro. Pensar em como um homem que tivera a oportunidade de gozar tinha rejeitado. Nunca sequer tocara em Jessica. Não disse nem uma palavra do seu desempenho sexual. Enquanto continuava a pensar e a analisar, António chamou. Estava num WC num bar. Perguntou – me se podia aparecer e encontrar – se comigo num lugar qualquer. Perguntei – lhe se se encontrava só ou ainda acompanhado. A resposta foi que ainda estava com os amigos, mas que queria deixá – los no bar. Num ponto qualquer da conversa notei que tivera ciúmes do que se havia passado entre mim e Pedro. Devido à sua alienação, ligou – me sem resultado. Pedro tinha querido estar comigo e António tinha ciúmes e eis a razão porque os queria para ali deixar. Podia ver o que se passava e quão desagradável era tudo isto. “Não, António, desculpa. Estou cansada e preciso dormir”, disse – lhe.
Deste momento em diante cortei a ligação com António. Sabia que perdera um regular. Não tinha bem a certeza mas a minha intuição, apurada como de costume, dizia – me que sim. Talvez fosse porque António gostava de mim secretamente e ficara melindrado com o meu envolvimento com Pedro Talvez que tivesse dito a Pedro que tinha perdido o meu número e, assim não podíamos entrar em contacto. Todavia, para dar realismo ao facto, tinha de deixar de ligar – me. No fim de contas, este mundo até era pequeno. Acontecimentos mais miraculosos haviam tido lugar. Nunca soube se o Pedro e eu iríamos um dia dar de caras um com o outro.
Depois de falar com Oley, as ameaças diminuíram durante algum tempo apenas para recomeçarem alguns dias depois. Telefonei a Oley zangada. Disse que ia avisá – los e organizar um encontro para, finalmente, pôr cobro a tão estúpido jogo. Havia, no entanto um problema. Oley não ia estar por ali durante os próximos dias, antes de partir para uma longa viagem.
“Não dá”, respondi. Esquece. “Resolverei eu própria o meu problema com a Máfia
Repentinamente, Nuno veio – me à cabeça. Não podia deixar de pensar que tinha um papel relevante neste pequeno quadro. Inventei uma estratégia e chamei – o. Combinei encontrar – me com ele naquela mesma tarde. Escolheu ele o local. Não poderia ser de outro modo.
Queria estar no controle, deixá – lo – ia sentir – se desses modo.
Encontrou – se comigo nessa mesma noite num café ao lado do bordel dele. Uma vez mais agiu de um modo paranóico. Não queria luta, estragaria os meus planos e portanto permiti – lhe estar no comando. Acima de tudo, tinha de fazê – lo acreditar que naquela situação ele é que mandava. Comecei por lhe perguntar se estava interessado em fazer negócio.
“Negócio contigo? Desatou a rir.
“E porque não? Tens mais experiência do que eu”.
Nuno não era fácil de competir nem nenhum ingénuo no assunto. Queria descobrir as razões para a minha mudança de atitude em relação a ele. Parecia – me muito desconfiado e suspeitoso. Quem é que se compromete e repentinamente muda de atitude? É difícil de engolir. Já que nas sociedades tem de haver um certo grau de confiança. Como é que isto poderia ser, especialmente com a nossa história?
Estavas envolvido nas ameaças, não estavas, disse sem me poder controlar.
O que tu és é uma cabra maldosa, disse, abanando a cabeça com uma expressão terrível.
Mas sabia que tinha razão. Oleou tinha confirmado o seu envolvimento naquele dia. . Oleou também me dissera que Nuno ficara apaixonado por mim logo na primeira noite em que me viu no clube nocturno mas refutava sempre qualquer acusação. Negava que tinha falado secretamente com Oleou. Estava a mentir. Começámos a argumenta devido ao choque mas eu tinha de manter a calma e encontrar maneira de o fazer voltar aos seus modos de mandão.
“Não me vais convencer de maneira diferente Nuno mas porque é que não perdoamos e esquecemos? Águas passadas não moem moinho. O que é que tu pensas?” perguntei com uma voz significativa.
“Penso que tu és doida, é o que eu penso. Penso que és doida varrida. E sorriu.
“Está certo. Mas quero pôr um fim a esta ridícula rivalidade. Tu sabes bem, estou certa que actuaste deste modo porque realmente não me conheces”, disse, franzindo o sobrolho.
O que estava para vir a seguir era algo que nunca fizera na minha vida. Nunca tinha dormido fosse com quem fosse por interesse e se foi por interesse era para receber recompensa financeira.
Convidei Nuno para minha casa. Ele estava descontraído. Falámos, rimos, e depois dormimos os dois. Metamorfoseou – se numa pessoa completamente diferente naquela cama. Transmitia sentimentos intensos, tentando fazer amo. Pela primeira vez estava a dormir com alguém por interesse só para ter aqueles que ameaçavam prejudicar – me fora do meu controle. E era exactamente o que estava a fazer com esta figura da Máfia que lá bem no fundo tinha princípios de humanidade básicos. Precisava amor e afecto.”
No dia seguinte Nuno era uma pessoa totalmente diferente. Tinha mergulhado na sua alma desmontado a sua fachada. Ficou a saber, graças à conversa da noite anterior que eu estava com falta de raparigas devido ao tiroteio e oferece – se para ir colocar anúncios no jornal afim de encontrar raparigas. A missa vai comprida. Para Nuno era o desabar de alguma coisa. O começa do que ele tinha começado pôr querer ganhar através do autoritarismo e do domínio. Estava a principiar a conhecer – me e a amar o que estava descobrindo. Por outro laco, na parte que me toca, estava em vias de apagar a desistência de Nuno no meu espírito depois das notícias que apareceriam no dia seguinte.
Logo de manhãzinha recebi um telefonema do agente do estado. O homem disse – me que o proprietário do imóvel tinha telefonado para o informar das más notícias. Haviam regressado de férias para encontrarem as suas casas vandalismos com grafita. Grafita vermelha, “Casa de passe no rés – do – chão”. A grafita tivera lugar antes do meu encontro com Nuno mas era ainda a ponta do icebergue para mim.
E pronto. Chega de toda esta Merda, pensei de mim para comigo. Chamei rapidamente a mulher de João que tinha andado a tenta contactar – me por causa de remover o nome do marido do contrato. Avisei – a de que ia acabar com isto tudo alijando de mim todas as responsabilidades tala como pedia. Assim ela tinha de tomar conta de tudo e rematar os molhos. Entretanto João escapulira – se para França enquanto a esposa limpava esta confusão legal. Nunca mais falámos.
A aventura do bordel chegara ao fim cerca de cinco semanas após ter começado. Terminei o meu envolvimento apenas quando senti que tinha vencido. Quanto a mim, consegui vencê – lo. Não aceitei ameaças por mais desagradáveis que fossem. Saí vencedora embora acabasse com o negócio. O perdedor era o rapaz, o Nuno. Logo quando começara a conhecer – me perdeu – me com um telefonema abrupto. Quis fazer – lhe ver quão baixo era ter envolvido os senhorios. Era degradante e chocante evolver terceiras pessoas. Nunca mais quis voltar a vê – lo. Nuno começou a arengar “Não, por favor. Não faças isso. Não acabes com isto agora”. O enorme marau era feito de vidro. E repeti “Sai – me da minha vista. Nunca mais quero voltar a falar contigo”.
CAPÍTULO 16
Estava para ver o Nuno pela última vez. Era um encontro fugaz. Apenas algumas palavras. Ele queria “mais uma vez ser herói” aparecendo sempre que surgia uma situação crítica.
Fechar o bordel tinha as suas consequências. Só o facto de ter de voltar lá afim de esvaziar tudo, era uma missão! Assim, nessa mesma manhã, pouco depois, decidira fechá – lo. Arranjei, portanto, a coragem necessária e fui para lá. Tinham passado poucos dias desde que o abandonara mas de algum modo pareceram-me anos. O local cheirava mal. O lixo tinha sido colocado na sala de espera e uma salada de maionese de ovo fermentara e estava a tornar tudo insuportável. Começando pela sala de estar, um por um, andei a espiolhar tudo para não deixar para trás nada de importante. Quando entrei na cozinha vi uma pilha de pratos que tinham sido deixados ao lado da pia. Estas peças engorduradas tinham uma espessa camada de bolor, colado, resultante de uma travessa de chili com carne. Tirei um grande saco de plástico de uma das gavetas e, um por um, com a ponta dos dedos, coloquei os pratos e tudo o mais que por ali havia dentro dele. Depois fui investigar os quartos. Ao lado da cama achei os restos dos coitos de Jessica abandonados. Não tinha destruído nenhuns dos preservativos que usara e, até agora tinha arranjado uma colecção impressionante metida num copo de água vazio. Nem dava para acreditar. Ela poderia ter ganho dinheiro extra se tivesse vendido isto ao banco de esperma. De qualquer maneira, a demanda desta casa inanimada chegou ao fim. Fechei a porta furada de bala atrás de mim para não voltar.
Quando me fui embora, não olhei à minha volta. Havia vizinhos à soleira da porta a falar e a segredar em voz baixa, procurando dar – me a entender que era a meu respeito mas não lhes dei satisfações nem lhes prestei atenção, simplesmente desci a escada e saí. Estava aliviada por ver aquilo pelas costas. Parecia como que saído da Bronx. O edifício era extremamente escuro e deprimente; as paredes estavam cobertas de graffiti e o barulho das crianças a gritar ecoava pelos corredores. Quando, finalmente, entrei no meu carro, respirei de alívio e dei uma olhada. Apercebi – me de oito vizinhos em seis janelas diferentes a olhar par baixo para o carro. Acima de tudo, não podiam perder o momento. A menina que se ia embora trouxera – lhes montes de excitação às suas vidas, dera – lhes com prodigalidade assunto para bisbilhotar. Olhando o ecran, liguei o aparelho, afim de receber uma retrospectiva da experiência que o edifício havia fornecido. Respirei fundo, dei graças a Deus por ter acabado, olhei para a audiência e sorri. Foi a última vez que fixei os olhos no edifício. As cortinas haviam – se fechado.
Ainda na redondeza mas já com três quilómetros de estrada, recebi um telefonema importante. Era uma vez mais o banco a avisar – me da minha infindável miséria. Um cheque de grande quantidade de dinheiro tinha sido depositado na minha conta. Achei – me a travar uma batalha perdida com o banqueiro do outro lado. Estava difícil convencê – lo a pagar o cheque. Antes de me aperceber, um policial seguia atrás de mim. “Oh, merda! Gritei”, “Desculpe?”, perguntou o banqueiro.
“Peço muita desculpa. Posso voltar a ligar – lhe? perguntei. E desliguei.”
Era a última coisa de que eu precisava. E estava tramada. “ Multa – me, multa – me, pensava à medida que seguia o policial até a um sítio seguro para estacionar. Multa – me, mas não. Que o meu cheque não me seja devolvido”. Pensava tentando enviar ao banqueiro uma mensagem telepática.
O policial desceu do seu ridículo veículo parecido com uma vespa em que estava montado. Na verdade, aquilo era mais uma bicicleta movida a bateria; ou melhor, um arremedo de vespa. Tive que analisar o lado cómico da questão. Precisava força para ganhar coragem e actuar positivamente em relação ao agente da autoridade que se dirigia agora em direcção à janela do carro.
Apertei imediatamente o botão para baixar a janela. Tive uma encrenca com essa maldita janela. Às vezes abria, embora tivesse um problema eléctrico e fosse muito temperamental; outras não. Outras ainda parecia que estava a brincar e abria tão devagarinho que mal se notava. Desta vez resolveu proceder desta última forma com o policial a observar – me através do vidro. Sorri. Estava a ficar agitado e aborrecido e, abanando a cabeça, cruzou os braços e bateu com os pés afim de o demonstrar. Continuei a olhar para ele e, com um sorriso encolhi os ombros. O agente é que não estava a achar isto engraçado.
“Com licença. Vou sair.” O agente recuou e eu saí. Era um dia extremamente quente e eu usava algo apertado, calças de ganga e sapatos de salto alto.
“Sabe por que a mandei parar?”, perguntou examinando – me da cabeça aos pés.
“Estava ao telefone.”
“Só ao telefone? Esqueceu – se que era obrigatório usar cinto de segurança?”
“Sim, Sr. agente. Quero dizer estava a sentir – me um pouco doente.”
“Ah, você quer dizer um pouco doente da sua conversa telefónica.”
“De facto sim.”
O polícia não achou esta resposta nada interessante e foi ficando cada vez mais frustrado com a minha atitude. Levantou o chapéu e começou a coçar a cabeça e a pensar no que deveria fazer a seguir que foi nem mais nem menos do que pedir – me os documentos.
“Ainda não reparou que não me mostrou o certificado da inspecção?”
“Não, e porque é que hei – de precisar de um? Acrescentei inocentemente à sua fúria.
“Há quanto tempo é que pediu a sua última licença? Parece que não tem nenhuma. Mostre – me os seus documentos.”
“Desculpe, Sr. guarda, mas não os tenho comigo.”
“Apercebe – se ao menos da gravidade da transgressão que está a cometer? Por acaso tem alguma coisa, um nome, enfim?”
Antes mesmo de encontrar outra desculpa estúpida, o telefone de serviço tocou. “Merda”, pensei de mim para comigo.
“Responda, se é isso que quer” disse o agente à medida que se retirava para a sua vespa para passar a multa ou, neste caso, as multas”.
Subitamente tive uma ideia. “Hum” Peguei no telefone dirigi – me para a vespa:
“Olá, posso ajudá – lo? Sou a Diana”, disse com uma voz sensual. Sim. Está a telefonar por causa do anúncio? Sim, é comigo. Não, é normal. Eu não faço anal. Oh, desculpe. Estou completamente cheia hoje. Pode voltar a ligar amanhã?” O policial parou imediatamente o que estava a fazer. O chapéu dele pareceu crescer um par de polegadas na cabeça. Fingiu ter caído em orelhas moucas durante alguns segundos, mas acabou por não ser capaz de se controlar.
“Assim, Diana, o que faz você na vida?”
“Tenho uma loja, Sr. guarda.”
“ Tem uma loja?”
“Sim Sr. guarda. Respondi com um largo sorriso.”
“Que tipo de loja?”
“Oh, não é exactamente uma loja.”
Afinaram – se – lhe os ouvidos pensando que eu ia dizer – lhe precisamente o que ele queria ouvir.
“Assim, o que é então?”
“É um restaurante”, Sr. guarda.”
O agente da polícia pôs – me em “cheque” e desviou os olhos de novo para a multa. Inesperadamente não pôde conter – se por mais tempo. Tinha – lhe dado “cheque – mate”.
“É tudo o que faz, Diana?”, perguntou finalmente.
“Não, Sr. guarda, não é só isso. Faço paralelamente outras coisas”.
“Ah faz?”
“Faço , sim senhor”. Tenho um certo número de amigos do sexo masculino que se encontram comigo em casa. Conhece alguns, dado que vejo alguns amigos seus. Devia um dia ir visitar – me. Faço – lhe um desconto, está prometido!”
O policial não sabia o que fazer e dizer sobre o convite e ter – se – ia escondido debaixo da vespa na primeira oportunidade. Quanto mais envergonhado ficava no silêncio que se gerou, tanto mais era o combate que travava para evitar olhar para os meus seios. Era como se fossem magnetes que lhe atraíam os olhos para si.
Durante o intervalo em que estive a pensar, entre todas as pessoas que existem no mundo, quem é que me havia de aparecer pela frente? Nuno, precisamente! Aparecera ali para me embaraçar. Poderia ver que estava em dificuldade e que parecia continuar. ”Precisamente o que ele queria”, pensei para mim mesma quando me voltei.
Nuno perguntou se estava tudo bem, se precisava de ajuda. Mantendo o carácter sarcástico usual que eu tinha sempre com ele voltei para trás e disse – lhe para se preocupar com a vida dele. Pôs – se a andar.
Olhando o guarda pensava, como se atrevera aquela peste a gorar – me os planos outra vez? Até parecia que adorava a negatividade. O agente continuou a olhar para baixo para a multa e disse:
“Está bem. Vou passar – lhe uma multa pela transgressão do portátil. Isso não posso evitar já que o meu colega também a viu a falar. Agora, como é que quer resolver o resto? É um molho de transgressões.”
“É consigo, Sr. guarda. Como pensa que será a melhor maneira de resolver isto? Disse com um sorriso.”
“Penso que devíamos marcar um encontro”.
“ Onde? Em minha casa?”
“ Não. Decerto que não! Dê – me o seu número e eu telefonarei amanhã.”
Parou por um momento como que a pensar nas implicações de tudo aquilo e então disse:
“Está bem. Chamá – la – ei amanhã. Conheço um centro de inspecções e levo – a lá. E conduza com cuidado.”
Entrei para o meu carro e arranquei só para notar quanto ia a meio do caminho que não tinha colocado o cinto de segurança. Que raio? Pensa que ele está no seu elemento e pode apanhar – te. Cogitei sozinha.
No caminho de regresso recebi uma chamada de Tim. Não dava para acreditar! A última vez que telefonara tinha – o avisado para não voltar a contactar – me. Topei Tim a seguir – me pela cidade algumas vezes e o assunto estava – me a sair fora de controle.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que me aconteceu foi acordar com o telefonema do agente da polícia,
“Olá, Diana. Podemos encontrar – nos às quatro, portanto, podemos levar o seu carro para inspecção. Eu estarei na estação de serviço na mesma bicicleta, como ontem; conhece o local, um pouco por cima do sítio onde estava estacionada.
“Peço desculpa, Sr. guarda. Esqueci – me dizer – lhe que tenho um encontro esta tarde”.
Ficou calado por um momento como se visse a sua autoridade violada.
“Está bem. Amanhã. No mesmo lugar e sem desculpas”!
No dia seguinte fui para a estação de serviço um pouco acima do local onde estivéramos. O agente já se encontrava lá.
“Olá, Diana! Siga – me. Vou só assinar e devolver a bicicleta. Siga – me e espere do lado de fora da esquadra de polícia. Depois veja o carro em que vou entrar e continue a seguir – me.
Segui – o tal como pedira, esperei alguns minutos antes de ir atrás do carro branco em que entrara. Fui atrás dele durante o que pareceram milhas e milhas e depois, após curvas e mais turvas que começavam a causar – me enjoo, chegámos ao que parecia ser uma garagem de manutenção mecânica. Fiquei aliviada e realmente não estava com medo na medida em que já avaliara a situação.
O polícia saíu do carro uma vez mais e dirigiu – se para a janela do meu veículo. Tinha – se desembaraçado do uniforme e vestido à paisana na esquadra, o que lhe dava um ar mais tangível na aparência. Desta vez como a janela funcionou sem problemas, levou – o a comentar, como se eu tivesse estado a brincar com ele no dia anterior:
“Então conseguiu fixar a janela?”
“Na verdade, não! Tem espírito próprio. O Sr. sabe. Tem os seus dias.”
“Como eu sorri, o agente sorriu também.”
“Muito bem. Agora vou deixá – la aqui para inspeccionar o veículo. Vou cortar o cabelo. Encontrar – nos – emos dentro de quarenta e cinco minutos para um café. Na mesma estação de serviço, está bem?
“Encantada. Vemos – nos então lá”.
Dava – me a impressão que o bairro todo tinha decidido levar os carros à inspecção naquele dia. Meti a cabeça pela janela do escritório para descobrir que estava cheio de pessoas de semblante triste à espera dos seus automóveis. Os mais inteligentes, tais como eu, estavam à espera que deixassem entrar os carros. Na verdade não era local em que eu desejasse estar naquele dia e no reverso do meu espírito estava a sombra dos numerosos clientes que deixava escaparem – se enquanto permanecia ali.
Passados que foram alguns minutos, chegando à conclusão de que a bicha não se movia, pensei para os meus botões “desenrasca – te”. Na verdade, não posso estar a ser prejudicada com tudo isto. E lá vou eu.
É engraçado que só a meio do caminho, na estrada, me lembrei do encontro com o agente da polícia e tomei a saída mais próxima para voltar para trás.
Cheguei à estação de serviço seis minutos antes da hora para encontrar o polícia já à minha espera e sentindo – se mais confiante do que nunca, com o seu corte de cabelo. Em abono da verdade, penso que nunca me teria apercebido dele se não mo tivesse lembrado.
“Olá, Diana, siga – me por favor”, pediu.
Por que havia de perguntar? Parecia ser a sua linha favorita.
Devo ter contado de certeza pelo menos cem cafés diferentes no caminho e não podia pela minha vida compreender porque é que nenhum deles lhe agradava. “Onde diabo me leva este sujeito?”comecei eu a pensar quando tudo isso começou realmente a confundir – me
Neste momento estava a seguir descendo um trecho vazio que parecia surgir de nenhures. O descampado conduzia a uma abertura de uma pequena área arborizada que se elevava do enevoado da cidade exibida em toda a sua extensão, lá em baixo. Não havia vivalma. Estava deserto, apenas os nossos carros e as árvores eram visíveis.
O polícia saíu do carro, eu saí do meu e dirigi – me na sua direcção. Quando cheguei ao pé dele estava encostado de braços cruzados à capota do seu automóvel.
“Que lindo local, Sr. guarda. Vem aqui frequentemente?”
“Por vezes” replicou numa voz enrouquecida, olhando para o panorama lá em baixo.
“Há mais alguma coisa a fazer aqui?”
“Tudo depende daquilo que gosta de fazer, suponho”.
Após um bocado compreendi onde me tinha conduzido. Se não me engano estávamos nas mesmas paragens onde as prostituas de rua levam os seus clientes. Tinha de ser inteligente e rápida.”
Comecei discretamente a remexer na sua vida pessoal, apenas para descobrir que era casado. Repentinamente apareceu um carro à distância e um plano apareceu imediatamente na minha cabeça.
“Oh meu Deus! Não me diga que estão a seguir – me mesmo aqui”
“Quem é que anda a segui – la? Porquê?”
“Oh nada, esqueça.”
“Vá, lá, diga lá quem é”
“Nada! Honestamente…apenas uma paranóia”
“Diga, de qualquer modo”.
O polícia colocou – me o braço à volta do ombro e depois moveu – o para baixo para o peito. Dentro de alguns minutos estava a apertar – me firmemente contra si usando o meu aparente desconforto como desculpa para iniciar o primeiro movimento. Já tinha visto isso antes; homens a tirar partido daquilo que era ou daquilo que eles acreditavam ser momentos vulneráreis. Embarcavam neles; tentavam usá – los em seu em seu proveito.
Antes de reunir coragem para me tocar nos seios, ela perguntou – me mais uma vez.
“Vá lá querida, não tenhas medo. Podes dizer – me. Ninguém te pode fazer mal aqui”.
“Tens razão. Nunca farão. Não compreendo porque é que ainda estou preocupada?”
“Mas preocupada com quê?” disse ao mesmo tempo que me apertava o seio esquerdo e colocava a sua face na parte de trás do meu pescoço.
“São os malvados rapazes da Polícia secreta. Têm esta ideia de seguir – me. Passou – me pela cabeça que podiam ser eles. Mas não são, não te preocupes. Tenho uma imaginação muito exaltada, bem sabes, é por vezes o que tenho de melhor.”
“O quê? Estás a falar a sério?”
“Terrivelmente…”
O seu tom de voz mudou abruptamente com a sua atitude de James Dean. Inesperadamente tirou a sua face do meu pescoço e a mão do meu seio.
“Já são horas? Merda, não pensava que já fosse tão tarde”.
O meu anjo da Guarda viera salvar – me no último minuto. Arranjei maneira de evitar o mesmo episódio que se havia passado com Nuno. Arranjei ensejo de obviar fazer sexo por um interesse que não pertence à natureza profissional. Tinha evitado ser a rapariga de liceu que nunca fora; a escolar que não larga de vista o seu Professor Pessoal de educação, roçando – se por ele acidentalmente afim de conseguir boas notas. Eu preferia conseguir aquilo que queria sem utilizar o meu corpo mas sim usando a cabeça. O meu corpo, esse, era para pagar cheques, só para isso, excepto naquela terrível experiência chamada Nuno.
As últimas pontas envolvendo o bordel tinham sido atadas. O que parecia não parar de prosseguir era o meu vício pela cocaína.”
CAPÍTULO 17
O episódio do bordel chegou ao fim em meados do Verão. O que tinha de continuar era o meu vício da cocaína.
A minha vida começou a girar à volta destes saquinhos de plástico. Quanto mais a miúdo eu comprava estas gramazinhas, mais pequenas me passavam a parecer. Duravam cada vez menos. Começaram a chegar com mais plástico para compensar a falta de peso. Estou certa de que se tenho estado sóbria o suficiente para pesá – los teria descoberto que pesavam menos de metade.
Em poucas semanas cheguei à conclusão que tinha de cortar. A minha rotina do dia a dia começou a contentar – se com um simples grama por dia e só um grama por dia, pensei para comigo. A minha claustrofobia estando enclausurada, expandia – se em terrível medo de ser constrangida, não apenas fisicamente mas também espiritualmente e esta sensação de dependência estava – me a violar o espírito. Um espírito que podia não ser só ser financeira, sexual ou emocionalmente limitado. Tinha de encontrar a chave da solução e, pelo menos temporariamente, convencer – me a mim própria que a tinha encontrado. Decidi que o consumo seria reduzido a três vezes por semana.
Foi exactamente aquilo que fiz. Os meus dias limpos encheram – se de ansiedade e de mau senso de humor. Era a ansiedade de estar desejando uma outra grama tal como nos dias de consumo. Era perfeitamente intolerável. Esta sensação ascendente irritava – me. Afectava – me o corpo e a alma, todo o meu ser. Em certa medida não tinha a certeza se a minha irritação provinha de eu a desejar ou se de estar a “combatê – la”. O resultado estava a revelar – se péssimo tanto para mim como para o meu bolso. No fim de contas tornei – me prostituta não para levar uma vida de luxo mas sim para pagar as minhas dívidas. O que agora aparentava é que tinha sido para pagar as contas da droga.
Afinal arranjei maneira de reduzir para uma vez por semana, o que foi um pouco difícil mas sabia que era necessária mais acção e força de vontade. Na altura em que atingia esta bitola estava – me a sentir mais molestada com a situação. Uma sensação de aprisionamento prevalecia.
Que coisa seria esta que se estava a apoderar de mim? Perguntava – me continuamente. Só o pensamento que antecipava aquela minha sensação desagradável no dia seguinte era suficiente para me criar o desejo de atirar comigo do cimo de um penhasco. O pensamento de ter de alijar as minhas próprias responsabilidades até que me sentisse ligeiramente melhor, era de sobremaneira temível. Conhecedora disto antes da situação de ressaca, dava – me a sensação de que devia dormir primeiro e enfrentar os fantasmas do passado que viriam de novo para me assombrar.
Num curto espaço de tempo, alguns clientes e amigos descobriram – me a dependência. Um ou outro tirava partido da situação e tentava pagar – me os serviços com algumas gramas. Um deles, Fernando, fez isso uma vez mas depois recusou – se a continuar.
Fernando era um dos meus regulares. Estudava em Londres mas ia frequentemente visitar os pais de avião. Tinha vinte e cinco anos. Era alto e magro, e cabelo preto encaracolado. O estilo de Fernando era único para um homem da sua idade. Em vez de desempenhar o papel de um rico homem de negócios e irmão de uma mulher casada dentro da família Real, não o fez. Tinha a intrigante aparência de um hippie moderno.
Da primeira vez que o Fernando veio ver – me apaixonou – se logo por mim. Como muitos outros antes dele, disse – me que nunca fora a uma prostituta. Estava mais interessado em conquistar – me como uma verdadeira mulher e, de preferência, queria ver – me como mulher do que como prostituta. Fernando tinha cortado recentemente com um relacionamento de muito anos. Era como se se sentisse inseguro devido a esse divórcio, e que necessitaste que alguém o convencesse que ainda tinha os melhores anos da sua vida pela frente. Acima de tudo estava “carente” de atenção e afecto.
Lembro – me de ter uma conversa com ele, sugerindo que devia consumir menos cocaína. Ficou aborrecido e disse que não havia problema. Sempre de pé atrás, tentava, e punha isso bem claro, que era um caso pontual. Fazia – o apenas por graça e o seu consumo era irrisório.
Para mim a sua história era diferente. As suas palavras espelhavam – se em mim própria. Vi a maneira como eu também tentava convencer as pessoas de que não tinha problema. Naturalmente. Era coisa de uma semana e, acima de tudo, um controle perfeito.
Fernando permanecia – me no espírito sempre que pensava na cocaína ou em consumi – la. Dava – me ainda uma sensação de maior negatividade só a perspectiva de pensar nele. Fora talvez porque lhe vi os efeitos. Um belo jovem proveniente de um distinto meio social, uma educação de primeira classe e com o mundo a seus pés, com tudo o que um ser humano precisa para ser feliz. Todavia, o que conseguia transmitir era só melancolia. Uma tristeza que não era apenas devida à sua recente separação, mas sim devida às malditas mazelas que o fino pó branco deixa para a retaguarda.
O meu espírito deteriorava – se. Havia uma guerra de sem tréguas no meu corpo e na minha alma. O negativo versus positivo. Os meus clientes começaram a aperceber – se da luta que se travava dentro de mim. Não era uma situação que se desejasse e que não desejaria ao meu maior inimigo. Um momento decisivo tinha de surgir rapidamente e só eu podia desempenhar esse papel e mais ninguém. Tinha de ser forte uma vez mais.
Então, uma noite, chegou o momento decisivo. Romano tinha – me telefonado para fazer uma marcação que eu aceitei. Não era a primeira vez que me tinha visto na coca. Tinha – o, de facto, convencido em várias ocasiões para dar um salto a um bairro das proximidades afim de comprar alguma comigo quando não a podia obtê – la de Oley ou de qualquer outro fornecedor meu conhecido. Nesta noite em particular queria tirar o máximo partido. No final de contas esta era a noite que eu tinha reservado para snifada. Pedi – lhe para me acompanhar ao bairro. Concordou. Acredito piamente que sabia que, se ele não fosse comigo, me aventurava sozinha.
Chegámos ao bairro. Como era costume, pedi a romano par arrumar o carro pelo menos a meio quilómetro de distância na estrada para, assim, não o envolver em nenhum perigo. Não que previsse qualquer espécie de perigo, mas porque o que eu sentia era desespero. Não senti medo na primeira vez que lá pus os pés devido à minha “grande excitação” mas era, de facto, perigoso e muito!
O bairro inteiro albergava residentes pretos que simplesmente sobreviviam do crime já que tinham muito poucas opções diferentes. A sociedade não lhes dera a escolher. As casas eram constituídas de pedaços de madeira que haviam crescido ao longo das décadas. Muito poucas eram feitas de cimento mas de preferência eram afeiçoadas por pregos enferrujados encontrados no lixo, tudo num trabalho complicado semelhante ao das aves quando constroem o ninho; placas e tábuas de madeira ficavam berrantemente a chamar a atenção devido ao enfeite das roupas nas cordas que, para o efeito, se prendiam cravadas nas assim denominadas prateleiras. As cordas da roupa tornavam – se invisíveis bem como as portas que não podiam ser vistas. O que se aparecia era uma escuridão através delas como se a luz nunca iluminasse estas casas deprimidas.
Estas barracas tristonhas que apenas eram apenas coloridas pela roupa pendente a secar, forneciam cenários às gerações mais velhas que permaneciam sentadas em cadeiras contra as paredes das casas. Era como se até eles tivessem medo de se mover no meio da confusão. Não tinham mais opções. Para um lugar assim tão pequeno, com tais ruelas, era densamente povoado; era aí que os residentes pareciam viver, naquelas ruazitas que eram, de facto, as suas ruas.
Adolescentes corriam por ali, fazendo caretas, lutando, gritando e fugindo de todo aquele que quisesse andar atrás deles. Muitos andavam já a aprender as manhas do negócio com os irmãos. Homens e mulheres andavam à volta dos drogados nas ruas que cheiravam a bairros degradados. A cada momento tudo ficava paralisado como com um disparo de arma de fogo e um grito; uma onda eléctrica de adrenalina a iluminar o escuro. Mas os drogados ignoravam tudo isso como se fosse algo de normal e rotineiro, como se fossem personagens de Oliver Twist pedindo dinheiro de preferência a comida. O dinheiro pagava a droga e as drogas matavam – lhes a fome. Este era o seu modo de vida. Expunham – se como fornecedores nas ruas precisamente para conseguirem uma comissão por se deslocarem ao interior do bairro a buscar as drogas enquanto as restantes pessoas que lá viviam pareciam encontrar – se na última moda.
Último grito da moda hip – hop. Todos tinham os modelos mais recentes de telefones celulares, usavam fatos com feitios de rua. O seu status parecia depender disso.
Sempre que me aproximava deste enorme bairro com cheiro a restos de comida, os perigos com que me confrontava pareciam uma insignificância comparados com a recompensa que iria receber. Contudo, em duas ocasiões tive muita sorte em ter regressado sem o meu prémio mas com vida. Na primeira ocasião teve lugar naquele bairro. Noutra acontecera noutro bairro parecido. Mas a minha dependência da cocaína não me deixava dar conta do perigo.
Um dia, ao chegar a esse bairro peculiar arrumei o carro fora da entrada que dividia o mundo do bairro de lata. No curto espaço de alguns segundos, o meu veículo ficou rodeado por não menos de quinze indivíduos de cor que deviam oscilar entre os dezasseis e os trinta anos de idade. Abri a janela do assento do passageiro e disse – lhes o que queria. Não me tinha apercebido que havia uma brecha na janelas do meu lado e acomodei – me inclinada do lado do passageiro afim de falar com os homens que competiam no negócio. Repentinamente um dos rapazes mais novos tirou – me o meu celular das mãos através da abertura na minha própria janela. Entrei em pânico! O meu telefone era a minha vida. Continha todos os meus contactos.
“Recuperem – me o móvel. Recuperem o móvel”, gritava.
Os rapazes para quem estava a falar disseram – me que era tarde demais; não havia esperança no inferno de recuperar tal coisa. Sem ele eu não era nada. O meu instinto natural era continuar a gritar até que não tivessem opção salvo recuperar – mo. Gritei aos indivíduos que estavam a tentar negociar a venda e disse:
“Oiçam, irmãos. Sem celular não há negócio”.
“Apanhem o telefone à rapariga, pedia ele a um outro rapaz.” Isso mesmo, recupera – me o telefone. Pago – te, só que tens de ir buscar essa merda.”.
“Tarde demais. O rapaz fugiu com ele”, respondeu um deles.” Continuei a gritar sem hesitação.
“Não vos vou dar nem a merda de um cêntimo se fugiu. Tira – lhe o telefone e acabou – se. Sem telefone não há negócio”!
Ouvi uma palavra de esperança. Um deles estava a dizer ao outro para correr atrás dele. Gritei imediatamente:
“Queres ganhar 65 euros?” Era tudo quanto tinha comigo.
“Já o tenho”, disse o rapaz que gostou de ouvir a palavra recompensa. O telefone regressara à minha posse.
A outra quase fuga aconteceu num bairro das proximidades que era semelhante ao outro, apenas com uma densidade populacional mais baixa.
Estava na companhia de João. Não pudemos obter droga do nosso fornecedor e, por isso, persuadi o João para nos conduzir ali. Quando chegámos pedi – lhe para esperar no carro no local onde havia um pequeno vale.
Este bairro encontrava – se num escala muito menor na medida em que a administração local tinha entre mãos o processo de realojamento dos residentes. Só me pude aperceber de três indivíduos de cor na casa dos trinta quando cheguei ao sopé da colina. Quando lhes prendi a atenção, imediatamente deixaram de jogar às cartas e olharam uns para os outros, um de cada vez, lentamente. Estava cheia de medo. Começava – me a dar voltas o estômago quando um deles se levantou lentamente do seu assento sorrindo para os outros com um sorriso sarcástico forçado. Não gostava de ter medo. Dava para aumentá – lo; e assim foi. A sua aparência fez – me pele de galinha. Tentei criar uma atitude sem medo, engoli a minha saliva e olhei para o homem que estava de pé e disse:
“Peço desculpa por interromper – lhes o jogo. “Sabem onde posso arejar coca?”
Disse que sim e pediu – me para ir atrás dele. Fui, enquanto os outros continuavam a jogar às cartas permanecendo, ao mesmo atempo, conhecedores da situação; à medida que me conduzia por uma rua estreita, pensei que algo devia estar mal. Os indivíduos que estava à mesa tinham abanado a cabeça quando falei em cocaína, e subitamente pensei “onde é que diabo este indivíduo me leva?”
“Quer cocaína, não quer? Então siga – me”, acrescentou enquanto, ao mesmo tempo, ia à minha frente. Continuou a descer uma ruelazita lá do bairro da lata que não tinha mais que um metro de largura. Comecei a sentir claustrofobia no exíguo espaço e no meio de todo esse cenário. Detive – me alguns metros atrás dele quando estava prestes a entrar por uma abertura de um tugúrio.
“Porque é que queres que entre para aí contigo? Espero aqui”, disse.
“Queres dinheiro pela coca, não queres”, disse a sorrir.
“Oh não! Peço desculpa. Percebeste mal. Quero comprar. Não preciso dinheiro, obrigado”. Acrescentei enquanto ia olhando a minha retaguarda para ver se algum dos outros havia decidido vir.
Graças a Deus que não. Olhei outra vez para o rapaz e arranjei coragem para dizer em voz alta:
“Não entendo qual é a tua ideia, mas deixa – me dizer –te uma coisa. Vim para comprar coca. Nada mais! Mas, com mil e seiscentos diabos do inferno. Será que por acaso tenho ares de prostituta?”
Continuou a tentar convencer – me a entrar.
“Agradeço – te muito, mas estou a ouvi – los a chamar – me lá em cima. Tenho de ir porque de outro modo vêem eles buscar – me. Encantada por ter estado contigo! Adeus e obrigado”.
Fora quase uma fuga de uma cena de rapto. Estava a tremer e rapidamente fui ter com João sem sequer olhar para trás por causa do medo que sentia.
Eu e Romano voltámos a casa. Deviam ser onze da noite. O regresso do bairro da lata tinha parecido uma infinidade de tempo devido à ansiedade de abrir a gramazinha de coca. A minha prioridade fundamental era passar através da porta para alcançar o meu CD e o meu cartão de crédito. Romano estava sentado a um canto da mesa a ver – me tratar do ritual mais uma vez.
Não posso realmente lembrar – me de muitas coisas daquilo que dissemos naquela noite. Estava muito mais interessada em ganhar contacto com a cocaína. O que recordo com nitidez é que tínhamos de falar baixinho e que o CD já não ultrapassava o número três da escala de volume. Era uma paranóia que tinha evoluído e estava a piorar decididamente sempre que eu consumia uma dose. Cada pequenino som ecoava – me pelo cérebro como se ecoasse através do todo o edifício de cinco andares e viesse esbarrar cá em baixo dentro de mim.
Esta suposta energia estava patenteando o seu reverso e a aniquilar as minhas reservas de energia. Comecei a interrogar – me de quando em vez. Como podia isto ser possível? Era porque eu possuía mais energia do que ninguém que conhecia e por isso se estava anulando a si mesma, ou melhor, a inverter os efeitos? Fosse qual fosse a razão era normal e estava a sair – me do controle.
Os pensamentos negativos estavam a ter um efeito drástico em mim. Queria estar só. Não podia esperar que Romano se fosse embora. Na verdade desejava cada vez mais vê – lo pelas costas mas não conseguia dizer – lho. Tinha – me acompanhado ao bairro. Estava – lhe a tomar o seu tempo estupidamente em vez de lhe permitir fazer aquilo que inicialmente tinha vindo fazer.
Sem desperdiçar mais tempo, escapei ao problema e sugeri a Romano para começar.
O tempo que levámos a ir da sala de estar até ao quarto de banho parecia não ter fim. Era uma sensação tal que dava a impressão que tudo se estava a processar em câmara lenta. Era como se tivesse sido apanhada numa nuvem negativa que tivesse suspendido a marcha do tempo. Acabámos por conseguir nas não posso lembrar – me do sexo com Romano. Fora como se estivesse lá apenas com o corpo e a minha alma vagueasse por algum sítio distante. Estava perdida e continuei perdida até “ele”
ter finalizado.
Romano continuou estirado na cama como habitualmente. Nem uma palavra. O local estava em silêncio e naquela altura tinha encontrado a minha alma. Era a primeira vez que corpo e alma estavam reunidos desde o momento em que tinha posto os pés naquele quarto. Agora o meu desejo era que tivessem continuado separados na medida em que o que vai seguir – se é indescritível.
É possível descrever um tempo de pesadelos? É possível começar a explicar as emoções negativas acumuladas de toda a nossa vida apainelada na minha frente simultaneamente? Quero dizer, todos os sentimentos negativos resplandecendo diante de nós numa opressiva sensação? Era algo de indescritível aquilo que estava a experimentar. A emoção era tão grande que não podia respirar. Estava a sufocar. Senti – me doente porque o meu estômago começou a andar à volta como se fora um tornado a varrer os oceanos. Naquele momento podia bem ter morto alguém sem sentir qualquer espécie de remorso, pena ou dor. Era a sensação de se ser possuído e de não ter um padre à mão para nos salvar com um exorcismo. Era o ultimato. Era o inferno. Senti – me completamente espontânea, descontrolada. As minhas acções saíam – me fora de mão.
Romano sabia que havia algo de errado. Era impossível que se não apercebesse e que perguntasse o que é que estava mal. Foi precisamente nessa altura que lhe pedi para se ir embora.
“Tens mesmo a certeza? Não me parece boa ideia”, disse.
“Com certeza. Não tenho qualquer espécie de dúvida. Vai – te embora por favor”. Quanto mais ele dizia que parecia que eu não estava bem mais ansiosa me tornava e estava com uma enorme vontade de vomitar. Gritei – lhe uma última vez. Hesitou mas, finalmente, compreendeu que não tinha alternativa, tinha que se pôr a andar.
O alívio que senti após a partida de Romano era indescritível. Estava agora só para combater os demónios que tinha cá dentro da minha cabeça. Comecei a palmilhar a minha sala de estar para trás e para diante como uma louca, na ponta dos pés afim de não fazer barulho. A queda de um alfinete podia a obrigar – me a dar um salto. Regressei ao meu quanto no escuro e atirei – me para cima da cama. O meu espírito continuava sem repouso e combatia contra o meu corpo inerte. Não tinha energia física de reserva. Estava para ali deitada olhando para a vela que tinha posto a arder no chão. Consegui escapar durante um breve segundo aos pensamentos negativos. Desesperadamente tentei agarrar algo de positivo e, afim de desanuviar, concentrei – me na vela e continuei a fixá – la até poder acreditar ser a luz da esperança.
A vela era a minha salvação. Estava para ali a queimar toda a negatividade à minha volta. Parecia que fazia perguntas e dava as respostas ao mesmo tempo, utilizando o meu espírito para servir de canal de comunicação. Era o meu subconsciente reconduzido à vida tal como se eu tivesse sido violada e abandonada. Permiti – me ser consumida lentamente pela chama. Continuei a olhá – la até que desapareceu ofuscada pela luz do sol nascente. A verdade havia brilhado diante de mim naquela noite e deu – me forças para combater o meu inimigo número um: a cocaína!
Uma poderosa sensação de negatividade governava o meu corpo e o meu espírito quando acordei após um sono de algumas horas. Tudo o que havia sido mostrado e ensinado tinha de ser posto em prática. A história de horror da noite antecedente era o último numa longa cadeia de avisos. Não haveria mais oportunidades. Como iria ser? Como iria executar isso? Não sabia mas teria de descobrir.
Tinha de tirar o dia, porquanto as consequências eram muito difíceis de suportar. Já não podia aguentar o apartamento. O todo da experiência remanescia ainda à volta dos quartos. Tinha de me despegar disso. Apanhei as chaves do carro sem saber qual seria o meu destino. Acabei por ir parar a um santuário a centenas de quilómetros de distância. É interessante, não acredito em Religião mas acredito em energias. Peguei na oportunidade de arrumar o carro do lado de fora do Santuário. Milhões de energias acumuladas num local são melhores do que uma só, acabava de convencer – me.
Quando cheguei fiz um grande giro em torno da igreja a observar os fiéis a cumprir os seus deveres religiosos. Sorri, porquanto não acredito na igreja mas acredito na existência de um Deus, uma luz positiva que fornece energias positivas. Mas no entanto, respeitava essa pessoas, acima de tudo por derramarem as sua crenças no Santuário e encherem – no até às bordas como se fora dinamite.
Dinamite explosivo que um crente podia utilizar como ferramenta. Não menos do que uma ferramenta miraculosa.
Após um longo passeio não pude resistir a entrar dentro da igreja. Sentei – me lá, olhei para a imagem que estava na minha frente a tentar abarcar – me o espírito. Sem analisar a validade do nada, apenas vazio que eu fixava postada ali na frente. Finalmente consegui pensar na minha situação e concentrar – me na retrospectiva das noites anteriores que começaram a passar – me pelo espírito como se fora um filme projectado na parede. A cocaína tem de parar. Está a destruir – me, conclui de mim para comigo em surdina antes de me levantar e ir embora.
Enquanto ia para o carro prometi a mim mesma que os meus fantasmas haviam agora de abandonar – me. Decidi que sairia comprar cocaína até à Passagem de Ano, que eram, escassamente, três meses. Mas felizmente não voltei a tocar no material. Algumas horas de prazer pagas com uma ressaca infernal.
No meu regresso a casa recebi uma marcação de um homem com uma voz calma e hesitante. Aceitei a marcação para as oito horas, naquela noite, permitindo – me um tempo extra do caso de ser apanhada pelo trânsito.
Ao abrir a porta deparei com um homem calvo, ligeiramente mais alto do que eu parecendo muito confuso e amedrontado. Dei – lhe as boas vindas e mandei – o entrar a sorrir e recebi um “olá” com um sorriso forçado que fez os seus óculos inclinarem – se ligeiramente para o lado. Pedro estava extremamente tenso e nem no mínimo confortável com a visita. Era o mais nervoso de todos os meus clientes. As mãos tremia – lhe desesperadamente tal como se fora um rapaz que estivesse a ser castigado. Quanta mais tentava controlar – se, mais desajeitado se tornava, e, a certa altura, tropeçou nos seus próprios pés quando se dirigia para a porta. Era desagradável estar a testemunhar um tal comportamento mas mais desagradável era saber que eu me sentia incomodada a observá – lo.
Acabei por pedir a Pedro para ir para o quarto tendo nesse entrementes criado alguma espécie de conversa afim de quebrar o gelo na esperança de que esta pobre alma acabasse por se descontrair. Na altura eu sabia que esse particular “partir de gelo com conversa” era no sentido puro e simples de o acalmar sem lhe dar a entender que me apercebera do miserável estado de nervos com que se debatia.
Pedro era divorciado, era doutor graduado em Física e trabalhava em electrónica.
Pedro continuou desconfiado e inseguro até se ir embora naquela noite. O balanço do sexo também não era famoso já que os seus nervos conseguiam superar – lhe o desejo sexual.
O que também não ajudou lá grande coisa foi que, quando se ia embora, viu o meu cão através da janela da cozinha e este começou a ladrar já que embirrara com o homem.
“Não se apoquente. É o Napoleão, o meu cão. É como se fora minha filha”, disse para lhe evitar um aumento de stress.
“Mas, mas, qual a espécie do seu cão?”
Perguntou com um outro sorriso confuso.
Em realidade não sabia como dizer – lhe sem que tivesse um ataque de coração.
“Ah, Napoleão, é um gato grande…É uma Rottweiler, Pedro, mas muito meiga. Dizem muito mal deles nos média mas não é verdade. ”
Pedro continuou impassível mas, corajosamente, aguentou a tempestade. Para quebrar o silêncio e afugentar o medo que sentia, disse:
“Ah Tenho um par de Dobermanes”, sorriu e saiu.
CAPÍTULO 18
O episódio do bordel chegou ao fim em meados do Verão. O que tinha de continuar era o meu vício da cocaína.
A minha vida começou a girar à volta destes saquinhos de plástico. Quanto mais a miúdo eu comprava estas gramazinhas, mais pequenas me passavam a parecer. Duravam cada vez menos. Começaram a chegar com mais plástico para compensar a falta de peso. Estou certa de que se tenho estado sóbria o suficiente para pesá – los teria descoberto que pesavam menos de metade.
Em poucas semanas cheguei à conclusão que tinha de cortar. A minha rotina do dia a dia começou a contentar – se com um simples grama por dia e só um grama por dia, pensei para comigo. A minha claustrofobia estando enclausurada, expandia – se em terrível medo de ser constrangida, não apenas fisicamente mas também espiritualmente e esta sensação de dependência estava – me a violar o espírito. Um espírito que podia não ser só ser financeira, sexual ou emocionalmente limitado. Tinha de encontrar a chave da solução e, pelo menos temporariamente, convencer – me a mim própria que a tinha encontrado. Decidi que o consumo seria reduzido a três vezes por semana.
Foi exactamente aquilo que fiz. Os meus dias limpos encheram – se de ansiedade e de mau senso de humor. Era a ansiedade de estar desejando uma outra grama tal como nos dias de consumo. Era perfeitamente intolerável. Esta sensação ascendente irritava – me. Afectava – me o corpo e a alma, todo o meu ser. Em certa medida não tinha a certeza se a minha irritação provinha de eu a desejar ou se de estar a “combatê – la”. O resultado estava a revelar – se péssimo tanto para mim como para o meu bolso. No fim de contas tornei – me prostituta não para levar uma vida de luxo mas sim para pagar as minhas dívidas. O que agora aparentava é que tinha sido para pagar as contas da droga.
Afinal arranjei maneira de reduzir para uma vez por semana, o que foi um pouco difícil mas sabia que era necessária mais acção e força de vontade. Na altura em que atingia esta bitola estava – me a sentir mais molestada com a situação. Uma sensação de aprisionamento prevalecia.
Que coisa seria esta que se estava a apoderar de mim? Perguntava – me continuamente. Só o pensamento que antecipava aquela minha sensação desagradável no dia seguinte era suficiente para me criar o desejo de atirar comigo do cimo de um penhasco. O pensamento de ter de alijar as minhas próprias responsabilidades até que me sentisse ligeiramente melhor, era de sobremaneira temível. Conhecedora disto antes da situação de ressaca, dava – me a sensação de que devia dormir primeiro e enfrentar os fantasmas do passado que viriam de novo para me assombrar.
Num curto espaço de tempo, alguns clientes e amigos descobriram – me a dependência. Um ou outro tirava partido da situação e tentava pagar – me os serviços com algumas gramas. Um deles, Fernando, fez isso uma vez mas depois recusou – se a continuar.
Fernando era um dos meus regulares. Estudava em Londres mas ia frequentemente visitar os pais de avião. Tinha vinte e cinco anos. Era alto e magro, e cabelo preto encaracolado. O estilo de Fernando era único para um homem da sua idade. Em vez de desempenhar o papel de um rico homem de negócios e irmão de uma mulher casada dentro da família Real, não o fez. Tinha a intrigante aparência de um hippie moderno.
Da primeira vez que o Fernando veio ver – me apaixonou – se logo por mim. Como muitos outros antes dele, disse – me que nunca fora a uma prostituta. Estava mais interessado em conquistar – me como uma verdadeira mulher e, de preferência, queria ver – me como mulher do que como prostituta. Fernando tinha cortado recentemente com um relacionamento de muito anos. Era como se se sentisse inseguro devido a esse divórcio, e que necessitaste que alguém o convencesse que ainda tinha os melhores anos da sua vida pela frente. Acima de tudo estava “carente” de atenção e afecto.
Lembro – me de ter uma conversa com ele, sugerindo que devia consumir menos cocaína. Ficou aborrecido e disse que não havia problema. Sempre de pé atrás, tentava, e punha isso bem claro, que era um caso pontual. Fazia – o apenas por graça e o seu consumo era irrisório.
Para mim a sua história era diferente. As suas palavras espelhavam – se em mim própria. Vi a maneira como eu também tentava convencer as pessoas de que não tinha problema. Naturalmente. Era coisa de uma semana e, acima de tudo, um controle perfeito.
Fernando permanecia – me no espírito sempre que pensava na cocaína ou em consumi – la. Dava – me ainda uma sensação de maior negatividade só a perspectiva de pensar nele. Fora talvez porque lhe vi os efeitos. Um belo jovem proveniente de um distinto meio social, uma educação de primeira classe e com o mundo a seus pés, com tudo o que um ser humano precisa para ser feliz. Todavia, o que conseguia transmitir era só melancolia. Uma tristeza que não era apenas devida à sua recente separação, mas sim devida às malditas mazelas que o fino pó branco deixa para a retaguarda.
O meu espírito deteriorava – se. Havia uma guerra de sem tréguas no meu corpo e na minha alma. O negativo versus positivo. Os meus clientes começaram a aperceber – se da luta que se travava dentro de mim. Não era uma situação que se desejasse e que não desejaria ao meu maior inimigo. Um momento decisivo tinha de surgir rapidamente e só eu podia desempenhar esse papel e mais ninguém. Tinha de ser forte uma vez mais.
Então, uma noite, chegou o momento decisivo. Romano tinha – me telefonado para fazer uma marcação que eu aceitei. Não era a primeira vez que me tinha visto na coca. Tinha – o, de facto, convencido em várias ocasiões para dar um salto a um bairro das proximidades afim de comprar alguma comigo quando não a podia obtê – la de Oley ou de qualquer outro fornecedor meu conhecido. Nesta noite em particular queria tirar o máximo partido. No final de contas esta era a noite que eu tinha reservado para snifada. Pedi – lhe para me acompanhar ao bairro. Concordou. Acredito piamente que sabia que, se ele não fosse comigo, me aventurava sozinha.
Chegámos ao bairro. Como era costume, pedi a romano par arrumar o carro pelo menos a meio quilómetro de distância na estrada para, assim, não o envolver em nenhum perigo. Não que previsse qualquer espécie de perigo, mas porque o que eu sentia era desespero. Não senti medo na primeira vez que lá pus os pés devido à minha “grande excitação” mas era, de facto, perigoso e muito!
O bairro inteiro albergava residentes pretos que simplesmente sobreviviam do crime já que tinham muito poucas opções diferentes. A sociedade não lhes dera a escolher. As casas eram constituídas de pedaços de madeira que haviam crescido ao longo das décadas. Muito poucas eram feitas de cimento mas de preferência eram afeiçoadas por pregos enferrujados encontrados no lixo, tudo num trabalho complicado semelhante ao das aves quando constroem o ninho; placas e tábuas de madeira ficavam berrantemente a chamar a atenção devido ao enfeite das roupas nas cordas que, para o efeito, se prendiam cravadas nas assim denominadas prateleiras. As cordas da roupa tornavam – se invisíveis bem como as portas que não podiam ser vistas. O que se aparecia era uma escuridão através delas como se a luz nunca iluminasse estas casas deprimidas.
Estas barracas tristonhas que apenas eram apenas coloridas pela roupa pendente a secar, forneciam cenários às gerações mais velhas que permaneciam sentadas em cadeiras contra as paredes das casas. Era como se até eles tivessem medo de se mover no meio da confusão. Não tinham mais opções. Para um lugar assim tão pequeno, com tais ruelas, era densamente povoado; era aí que os residentes pareciam viver, naquelas ruazitas que eram, de facto, as suas ruas.
Adolescentes corriam por ali, fazendo caretas, lutando, gritando e fugindo de todo aquele que quisesse andar atrás deles. Muitos andavam já a aprender as manhas do negócio com os irmãos. Homens e mulheres andavam à volta dos drogados nas ruas que cheiravam a bairros degradados. A cada momento tudo ficava paralisado como com um disparo de arma de fogo e um grito; uma onda eléctrica de adrenalina a iluminar o escuro. Mas os drogados ignoravam tudo isso como se fosse algo de normal e rotineiro, como se fossem personagens de Oliver Twist pedindo dinheiro de preferência a comida. O dinheiro pagava a droga e as drogas matavam – lhes a fome. Este era o seu modo de vida. Expunham – se como fornecedores nas ruas precisamente para conseguirem uma comissão por se deslocarem ao interior do bairro a buscar as drogas enquanto as restantes pessoas que lá viviam pareciam encontrar – se na última moda.
Último grito da moda hip – hop. Todos tinham os modelos mais recentes de telefones celulares, usavam fatos com feitios de rua. O seu status parecia depender disso.
Sempre que me aproximava deste enorme bairro com cheiro a restos de comida, os perigos com que me confrontava pareciam uma insignificância comparados com a recompensa que iria receber. Contudo, em duas ocasiões tive muita sorte em ter regressado sem o meu prémio mas com vida. Na primeira ocasião teve lugar naquele bairro. Noutra acontecera noutro bairro parecido. Mas a minha dependência da cocaína não me deixava dar conta do perigo.
Um dia, ao chegar a esse bairro peculiar arrumei o carro fora da entrada que dividia o mundo do bairro de lata. No curto espaço de alguns segundos, o meu veículo ficou rodeado por não menos de quinze indivíduos de cor que deviam oscilar entre os dezasseis e os trinta anos de idade. Abri a janela do assento do passageiro e disse – lhes o que queria. Não me tinha apercebido que havia uma brecha na janelas do meu lado e acomodei – me inclinada do lado do passageiro afim de falar com os homens que competiam no negócio. Repentinamente um dos rapazes mais novos tirou – me o meu celular das mãos através da abertura na minha própria janela. Entrei em pânico! O meu telefone era a minha vida. Continha todos os meus contactos.
“Recuperem – me o móvel. Recuperem o móvel”, gritava.
Os rapazes para quem estava a falar disseram – me que era tarde demais; não havia esperança no inferno de recuperar tal coisa. Sem ele eu não era nada. O meu instinto natural era continuar a gritar até que não tivessem opção salvo recuperar – mo. Gritei aos indivíduos que estavam a tentar negociar a venda e disse:
“Oiçam, irmãos. Sem celular não há negócio”.
“Apanhem o telefone à rapariga, pedia ele a um outro rapaz.” Isso mesmo, recupera – me o telefone. Pago – te, só que tens de ir buscar essa merda.”.
“Tarde demais. O rapaz fugiu com ele”, respondeu um deles.” Continuei a gritar sem hesitação.
“Não vos vou dar nem a merda de um cêntimo se fugiu. Tira – lhe o telefone e acabou – se. Sem telefone não há negócio”!
Ouvi uma palavra de esperança. Um deles estava a dizer ao outro para correr atrás dele. Gritei imediatamente:
“Queres ganhar 65 euros?” Era tudo quanto tinha comigo.
“Já o tenho”, disse o rapaz que gostou de ouvir a palavra recompensa. O telefone regressara à minha posse.
A outra quase fuga aconteceu num bairro das proximidades que era semelhante ao outro, apenas com uma densidade populacional mais baixa.
Estava na companhia de João. Não pudemos obter droga do nosso fornecedor e, por isso, persuadi o João para nos conduzir ali. Quando chegámos pedi – lhe para esperar no carro no local onde havia um pequeno vale.
Este bairro encontrava – se num escala muito menor na medida em que a administração local tinha entre mãos o processo de realojamento dos residentes. Só me pude aperceber de três indivíduos de cor na casa dos trinta quando cheguei ao sopé da colina. Quando lhes prendi a atenção, imediatamente deixaram de jogar às cartas e olharam uns para os outros, um de cada vez, lentamente. Estava cheia de medo. Começava – me a dar voltas o estômago quando um deles se levantou lentamente do seu assento sorrindo para os outros com um sorriso sarcástico forçado. Não gostava de ter medo. Dava para aumentá – lo; e assim foi. A sua aparência fez – me pele de galinha. Tentei criar uma atitude sem medo, engoli a minha saliva e olhei para o homem que estava de pé e disse:
“Peço desculpa por interromper – lhes o jogo. “Sabem onde posso arejar coca?”
Disse que sim e pediu – me para ir atrás dele. Fui, enquanto os outros continuavam a jogar às cartas permanecendo, ao mesmo atempo, conhecedores da situação; à medida que me conduzia por uma rua estreita, pensei que algo devia estar mal. Os indivíduos que estava à mesa tinham abanado a cabeça quando falei em cocaína, e subitamente pensei “onde é que diabo este indivíduo me leva?”
“Quer cocaína, não quer? Então siga – me”, acrescentou enquanto, ao mesmo tempo, ia à minha frente. Continuou a descer uma ruelazita lá do bairro da lata que não tinha mais que um metro de lagura. Comecei a sentir claustrofobia no exíguo espaço e no meio de todo esse cenário. Detive – me alguns metros atrás dele quando estava prestes a entrar por uma abertura de um tugúrio.
“Porque é que queres que entre para aí contigo? Espero aqui”, disse.
“Queres dinheiro pela coca, não queres”, disse a sorrir.
“Oh não! Peço desculpa. Percebeste mal. Quero comprar. Não preciso dinheiro, obrigado”. Acrescentei enquanto ia olhando a minha retaguarda para ver se algum dos outros havia decidido vir.
Graças a Deus que não. Olhei outra vez para o rapaz e arranjei coragem para dizer em voz alta:
“Não entendo qual é a tua ideia, mas deixa – me dizer –te uma coisa. Vim para comprar coca. Nada mais! Mas, com mil e seiscentos diabos do inferno. Será que por acaso tenho ares de prostituta?”
Continuou a tentar convencer – me a entrar.
“Agradeço – te muito, mas estou a ouvi – los a chamar – me lá em cima. Tenho de ir porque de outro modo vêem eles buscar – me. Encantada por ter estado contigo! Adeus e obrigado”.
Fora quase uma fuga de uma cena de rapto. Estava a tremer e rapidamente fui ter com João sem sequer olhar para trás por causa do medo que sentia.
Eu e Romano voltámos a casa. Deviam ser onze da noite. O regresso do bairro da lata tinha parecido uma infinidade de tempo devido à ansiedade de abrir a gramazinha de coca. A minha prioridade fundamental era passar através da porta para alcançar o meu CD e o meu cartão de crédito. Romano estava sentado a um canto da mesa a ver – me tratar do ritual mais uma vez.
Não posso realmente lembrar – me de muitas coisas daquilo que dissemos naquela noite. Estava muito mais interessada em ganhar contacto com a cocaína. O que recordo com nitidez é que tínhamos de falar baixinho e que o CD já não ultrapassava o número três da escala de volume. Era uma paranóia que tinha evoluído e estava a piorar decididamente sempre que eu consumia uma dose. Cada pequenino som ecoava – me pelo cérebro como se ecoasse através do todo o edifício de cinco andares e viesse esbarrar cá em baixo dentro de mim.
Esta suposta energia estava patenteando o seu reverso e a aniquilar as minhas reservas de energia. Comecei a interrogar – me de quando em vez. Como podia isto ser possível? Era porque eu possuía mais energia do que ninguém que conhecia e por isso se estava anulando a si mesma, ou melhor, a inverter os efeitos? Fosse qual fosse a razão era normal e estava a sair – me do controle.
Os pensamentos negativos estavam a ter um efeito drástico em mim. Queria estar só. Não podia esperar que Romano se fosse embora. Na verdade desejava cada vez mais vê – lo pelas costas mas não conseguia dizer – lho. Tinha – me acompanhado ao bairro. Estava – lhe a tomar o seu tempo estupidamente em vez de lhe permitir fazer aquilo que inicialmente tinha vindo fazer.
Sem desperdiçar mais tempo, escapei ao problema e sugeri a Romano para começar.
O tempo que levámos a ir da sala de estar até ao quarto de banho parecia não ter fim. Era uma sensação tal que dava a impressão que tudo se estava a processar em câmara lenta. Era como se tivesse sido apanhada numa nuvem negativa que tivesse suspendido a marcha do tempo. Acabámos por conseguir nas não posso lembrar – me do sexo com Romano. Fora como se estivesse lá apenas com o corpo e a minha alma vagueasse por algum sítio distante. Estava perdida e continuei perdida até “ele”
ter finalizado.
Romano continuou estirado na cama como habitualmente. Nem uma palavra. O local estava em silêncio e naquela altura tinha encontrado a minha alma. Era a primeira vez que corpo e alma estavam reunidos desde o momento em que tinha posto os pés naquele quarto. Agora o meu desejo era que tivessem continuado separados na medida em que o que vai seguir – se é indescritível.
É possível descrever um tempo de pesadelos? É possível começar a explicar as emoções negativas acumuladas de toda a nossa vida apainelada na minha frente simultaneamente? Quero dizer, todos os sentimentos negativos resplandecendo diante de nós numa opressiva sensação? Era algo de indescritível aquilo que estava a experimentar. A emoção era tão grande que não podia respirar. Estava a sufocar. Senti – me doente porque o meu estômago começou a andar à volta como se fora um tornado a varrer os oceanos. Naquele momento podia bem ter morto alguém sem sentir qualquer espécie de remorso, pena ou dor. Era a sensação de se ser possuído e de não ter um padre à mão para nos salvar com um exorcismo. Era o ultimato. Era o inferno. Senti – me completamente espontânea, descontrolada. As minhas acções saíam – me fora de mão.
Romano sabia que havia algo de errado. Era impossível que se não apercebesse e que perguntasse o que é que estava mal. Foi precisamente nessa altura que lhe pedi para se ir embora.
“Tens mesmo a certeza? Não me parece boa ideia”, disse.
“Com certeza. Não tenho qualquer espécie de dúvida. Vai – te embora por favor”. Quanto mais ele dizia que parecia que eu não estava bem mais ansiosa me tornava e estava com uma enorme vontade de vomitar. Gritei – lhe uma última vez. Hesitou mas, finalmente, compreendeu que não tinha alternativa, tinha que se pôr a andar.
O alívio que senti após a partida de Romano era indescritível. Estava agora só para combater os demónios que tinha cá dentro da minha cabeça. Comecei a palmilhar a minha sala de estar para trás e para diante como uma louca, na ponta dos pés afim de não fazer barulho. A queda de um alfinete podia a obrigar – me a dar um salto. Regressei ao meu quanto no escuro e atirei – me para cima da cama. O meu espírito continuava sem repouso e combatia contra o meu corpo inerte. Não tinha energia física de reserva. Estava para ali deitada olhando para a vela que tinha posto a arder no chão. Consegui escapar durante um breve segundo aos pensamentos negativos. Desesperadamente tentei agarrar algo de positivo e, afim de desanuviar, concentrei – me na vela e continuei a fixá – la até poder acreditar ser a luz da esperança.
A vela era a minha salvação. Estava para ali a queimar toda a negatividade à minha volta. Parecia que fazia perguntas e dava as respostas ao mesmo tempo, utilizando o meu espírito para servir de canal de comunicação. Era o meu subconsciente reconduzido à vida tal como se eu tivesse sido violada e abandonada. Permiti – me ser consumida lentamente pela chama. Continuei a olhá – la até que desapareceu ofuscada pela luz do sol nascente. A verdade havia brilhado diante de mim naquela noite e deu – me forças para combater o meu inimigo número um: a cocaína!
Uma poderosa sensação de negatividade governava o meu corpo e o meu espírito quando acordei após um sono de algumas horas. Tudo o que havia sido mostrado e ensinado tinha de ser posto em prática. A história de horror da noite antecedente era o último numa longa cadeia de avisos. Não haveria mais oportunidades. Como iria ser? Como iria executar isso? Não sabia mas teria de descobrir.
Tinha de tirar o dia, porquanto as consequências eram muito difíceis de suportar. Já não podia aguentar o apartamento. O todo da experiência remanescia ainda à volta dos quartos. Tinha de me despegar disso. Apanhei as chaves do carro sem saber qual seria o meu destino. Acabei por ir parar a um santuário a centenas de quilómetros de distância. É interessante, não acredito em Religião mas acredito em energias. Peguei na oportunidade de arrumar o carro do lado de fora do Santuário. Milhões de energias acumuladas num local são melhores do que uma só, acabava de convencer – me.
Quando cheguei fiz um grande giro em torno da igreja a observar os fiéis a cumprir os seus deveres religiosos. Sorri, porquanto não acredito na igreja mas acredito na existência de um Deus, uma luz positiva que fornece energias positivas. Mas no entanto, respeitava essa pessoas, acima de tudo por derramarem as sua crenças no Santuário e encherem – no até às bordas como se fora dinamite.
Dinamite explosivo que um crente podia utilizar como ferramenta. Não menos do que uma ferramenta miraculosa.
Após um longo passeio não pude resistir a entrar dentro da igreja. Sentei – me lá, olhei para a imagem que estava na minha frente a tentar abarcar – me o espírito. Sem analisar a validade do nada, apenas vazio que eu fixava postada ali na frente. Finalmente consegui pensar na minha situação e concentrar – me na retrospectiva das noites anteriores que começaram a passar – me pelo espírito como se fora um filme projectado na parede. A cocaína tem de parar. Está a destruir – me, conclui de mim para comigo em surdina antes de me levantar e ir embora.
Enquanto ia para o carro prometi a mim mesma que os meus fantasmas haviam agora de abandonar – me. Decidi que sairia comprar cocaína até à Passagem de Ano, que eram, escassamente, três meses. Mas felizmente não voltei a tocar no material. Algumas horas de prazer pagas com uma ressaca infernal.
No meu regresso a casa recebi uma marcação de um homem com uma voz calma e hesitante. Aceitei a marcação para as oito horas, naquela noite, permitindo – me um tempo extra do caso de ser apanhada pelo trânsito.
Ao abrir a porta deparei com um homem calvo, ligeiramente mais alto do que eu parecendo muito confuso e amedrontado. Dei – lhe as boas vindas e mandei – o entrar a sorrir e recebi um “olá” com um sorriso forçado que fez os seus óculos inclinarem – se ligeiramente para o lado. Pedro estava extremamente tenso e nem no mínimo confortável com a visita. Era o mais nervoso de todos os meus clientes. As mãos tremia – lhe desesperadamente tal como se fora um rapaz que estivesse a ser castigado. Quanta mais tentava controlar – se, mais desajeitado se tornava, e, a certa altura, tropeçou nos seus próprios pés quando se dirigia para a porta. Era desagradável estar a testemunhar um tal comportamento mas mais desagradável era saber que eu me sentia incomodada a observá – lo.
Acabei por pedir a Pedro para ir para o quarto tendo nesse entrementes criado alguma espécie de conversa afim de quebrar o gelo na esperança de que esta pobre alma acabasse por se descontrair. Na altura eu sabia que esse particular “partir de gelo com conversa” era no sentido puro e simples de o acalmar sem lhe dar a entender que me apercebera do miserável estado de nervos com que se debatia.
Pedro era divorciado, era doutor graduado em Física e trabalhava em electrónica.
Pedro continuou desconfiado e inseguro até se ir embora naquela noite. O balanço do sexo também não era famoso já que os seus nervos conseguiam superar – lhe o desejo sexual.
O que também não ajudou lá grande coisa foi que, quando se ia embora, viu o meu cão através da janela da cozinha e este começou a ladrar já que embirrara com o homem.
“Não se apoquente. É o Napoleão, o meu cão. É como se fora minha filha”, disse para lhe evitar um aumento de stress.
“Mas, mas, qual a espécie do seu cão?”
Perguntou com um outro sorriso confuso.
Em realidade não sabia como dizer – lhe sem que tivesse um ataque de coração.
“Ah, Napoleão, é um gato grande…É uma Rottweiler, Pedro, mas muito meiga. Dizem muito mal deles nos média mas não é verdade. ”
Pedro continuou impassível mas, corajosamente, aguentou a tempestade. Para quebrar o silêncio e afugentar o medo que sentia, disse:
“Ah Tenho um par de Dobermanes”, sorriu e saiu.
Tudo me levava a pensar que não voltaria a vê – lo.
CAPÍTULO 19
Pedro regressou uma semana mais tarde. Dá para imaginar como diabo o seu coração iria lidar com outra situação como esta. Surpreendentemente, desta vez não estava tão nervoso, embora ainda muito tímido e reservado.
No entanto, na segunda vez ficou igualmente tão nervoso na cama como da primeira, tentando atingir o clímax tal como se fora um debutante. A certa altura estava a transpirar abundantemente e não parava de pedir desculpa, porquanto, as gotas de suor que lhe gotejavam da testa entravam - me directamente para os olhos e gritava excitado. Em algumas ocasiões só me apetecia gritar mas não podia.
Tinha compromissos para essa noite e o tempo não parava. Naquele ritmo ia ficar atrasada. Tive de arranjar uma maneira polida de lhe dizer que não tinha tempo. Parou imediatamente, pediu desculpa mais de mil vezes, foi ao quarto de banho, vestiu - se rapidamente e logo a seguir foi - se embora.
Do mesmo modo que muitos dos regulares, começou ocasionalmente a ligar para saber se estava tudo bem e eu entusiasmava - o como a qualquer outro cliente, com vigor e vibrações positivas. Talvez fosse essa a razão porque começou a visitar - me cada vez mais frequentemente. Mas nesse dia estava longe da minha melhor forma e não conseguia disfarçar.
Numa das suas visitas seguintes pude, durante um escasso segundo, conter a amargura e a miséria acumuladas. Senti – me confusa, só, e pensamentos suicidas cruzaram – se no meu espírito. Pedro sabia que alguma coisa estava errada e começou discretamente a experimentar - me. Pus - me na defensiva a princípio, mas depois comecei a exprimir - me em enigmas para me explicar, tendo o devido cuidado para não dizer demais. Mas porque é que ninguém me queria ajudar? Por vezes abria - me para este inteligente, sabedor, doce e carinhoso Pedro que estava a tornar - se o meu maior amigo e a minha maior força através de todo o episódio.
Pedro fazia - me sentir tão confortável que em pouco tempo sabia tudo a meu respeito. Tinha – o autorizado a entrar na parte proibida da minha alma e consequentemente, dei comigo a consultá – lo automaticamente para me aconselhar. Ele era o ombro em cima do qual eu chorava. Era aquele que via as coisas que outros não podiam saber que existiam por detrás da minha bem construída fachada.
Pedro era bem conhecedor que eu não aceitaria esmolas, que a única coisa que admitia eram empréstimos e trabalho. Assim, foi o que fez. Deu - me trabalho. Marcava para ele durante algumas noites por semana. Assim, podia aceitar - lhe o dinheiro. Não havia sexo nessa altura e como sabia que não gostava de aceitar remuneração por tempo de conversa, meteu inteligentemente dentro da minha cabeça que me estava, assim, a fazer perder trabalho. Deste modo podia aceitar.
Comecei a avaliar a situação quando comecei a ser bombardeada com ramos de flores ao domicílio e uma infindável colecção de poemas escritos. A certa altura as suas mensagens chegaram a um ritmo de dez por dia:
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era teu, esse olhar que os inspirou?
(06.08.03
Que embriagante filtro me deste a beber?
Até de mim me esqueço,
E de ti não me posso esquecer.
(06.08.03.)
Cada vez mais frequentemente dei por mim a tomar a iniciativa de convidar Pedro para uma conversa, que era o meu modo de fazer com que ele se sentisse confortável sem que tivesse de pensar que tinha de me pagar o tempo. Nestas ocasiões o Pedro costumava chegar à soleira da porta com um saco cheio de compras:
“Oh, até pensei que estavas com fome”.
Sabia que eu andava sem comer na medida em que o meu apetite tinha desaparecido com o peso dos meus problemas.
Pedro costumava então estar na conversa e esperar que me deixasse dormir, antes de ele se ir embora. Depois encontrava notas suas espalhadas por todo o meu apartamento na manhã seguinte.
Obrigado!
Entre nós existe um mar,
Um imenso mar que nos quer separar
Mas é no desejo imenso de amar
Que, à força, vou entrar para esse mar atravessar.
(20.08.03)
Progressivamente estava – me a sentir cada vez mais desconfortável com o que estava a acontecer. Começara a acreditar que Pedro me estava a ajudar por alguma razão, que se tinha apaixonado por mim. Chegada a este ponto considerei que tinha de actuar com presteza de modo a não lhe ferir a susceptibilidade ou enganá - lo de algum modo e fazê - lo sofrer. Costumava, assim, passar horas a falar com ele, acerca de como os homens frequentemente tentavam ajudar – me com a esperança de me conquistar, apenas para aumentar a minha miséria quando chegavam à conclusão que eu não queria ficar com eles. O meu propósito era fazê - lo pensar que não devia estar a ajudar - me com essas intenções. Tornei bem claro que eu não podia e não pretenderia estar fosse com quem fosse, só porque isso era financeiramente conveniente.
Fez que não entendeu. Estava ainda com esperança e continuou; desta vez, no entanto, mudando de estratégia, começou a referir - se a mim como a um amigo muito querido.
Minha querida Diana,
És uma pessoa tão maravilhosa. A tua força, a tua colossal beleza interior! E tens razão; és a mais cristalina das águas.
Quando vim para ti nunca podia imaginar que iria encontrar alguém como tu. E os meus sentimentos estão muito confusos. Por um lado sinto que sou um homem de sorte porque no teu dia a dia podes ter a ventura de encontrar uma pessoa igual a ti dentro de um milhão ou mesmo nunca encontrar nenhuma, mas, por outro lado, penso que nos encontrámos na altura errada, no local errado. Admiro - te, respeito - te por causa do teu sonho pois lutas contra o mundo para o tornar sincero. Gostaria de imaginar como estes tempos estão a ser difíceis para ti, mas não posso. Só alguém que estivesse metido dentro disso o poderia saber. Não desistas. Nunca desistas. Pessoas maravilhosas como tu não deviam ter de passar por estas coisas, mas mesmo pessoas maravilhosas como tu, hão-de fazer coisas de que não se sentirão orgulhosas. Admiro – te realmente, respeito - te, e estou cem por cento seguro de que hás - de ter sucesso. És uma lutadora e uma vencedora.
Não me agradeças, estou a fazer muito pouco por uma pessoa tão grande como tu. E por favor, deixa - me continuar. Se precisares de uma mão, pega na minha. Se precisares de um sorriso, eu sorrirei para ti. Se precisares de uma palavra, eu falo para ti. Se precisares de ouvir, emprestar - te - ei os meus ouvidos. . Se precisares de um abraço, dar - te ei os meus braços, Se precisares de um ombro, dar - te - ei o meu. Se precisares de um beijo dar - te - ei os meus lábios..
Prometo – te que usarei a tua ajuda sempre que precisar de ti. Adoro estar contigo.
E por favor, não me esqueças quando acabares por tornar o teu sonho verdadeiro. Hei - de estar lá para ver a felicidade na tua face, para ver a luz irradiar dos teus olhos maravilhosos e para te dar um grande, grande abraço e um beijo.
Mudaste a minha vida para melhor. Com todo o meu amor, para uma mulher maravilhosa. Sinto, realmente a tua falta.
30.08.03
Pedro tinha – me realmente providenciado um ombro para chorar. A certa altura emprestou-me uma grande quantidade de dinheiro que ainda estou a pagar - lhe aos poucos. Sempre respeitou a minha pessoa e a minha luta. Era este o factor mais importante da nossa amizade. Confiava nele.
Pedro passou a contactar - me cada vez menos quando descobriu que começara a namorar um velho amigo algumas semanas mais tarde. Para Pedro, isso quis dizer muito. Provou que eu era capaz de me relacionar embora me tivesse recusado a relacionar - me com ele. Ainda me contacta ocasionalmente, e o sentimento que eu guardei no meu coração por ele, nunca há – de morrer. No entanto, ninguém me tira da cabeça, que estava envolvido com os Serviços Secretos. Logo suspeitei disto na sua primeira visita. Porque é que me veio visitar, em primeiro lugar, quando se encontrava tão nervoso? Porque é que a sua primeira visita coincide com o que eu pensava ser a primeira visita da polícia secreta? Porque é que nunca saía de ao pé de mim até que eu adormecesse, e uma vez, pensando que estava a dormir no meu quarto andou por ali por uns bons dez minutos?
Para além disso, durante um ou vários jantares, Pedro ficou um pouco tocado com alguns copos de vinho, porque ele raramente bebia; quando mencionei o facto de que estava a receber visitas da polícia secreta, falou – me do seu “passado” envolvimento com a polícia de investigação e com o FBI.
Fosse lá quem fosse, a verdade é que me tratava com respeito, e, devido a isso, ficar – lhe – ei eternamente agradecida, fosse qual fosse a natureza das suas visitas.
CAPÍTULO 20
Desde a minha primeira visita daquilo a que eu pensava ser a polícia secreta, um novo capítulo começou a desenvolver – se. Passadas que foram algumas semanas após a primeira visita de que suspeitei, a bola de neve começou a crescer.
Certa tarde recebi um telefonema.
“Olá, dois colegas meus que a visitaram na semana passada disseram – me que era uma rapariga muito meiga. É possível que eu e um amigo meu a visitemos?”
Por qualquer razão desconhecida, aceitei. Atendera aqueles dois amigos ao mesmo tempo, só porque não estava sozinha em casa. João encontrava – se comigo nessa altura portanto, era uma situação completamente diferente. Mas, de qualquer modo, embora tivesse fortes suspeitas de que os dois outros clientes pertenciam à polícia secreta, tinham sido simpáticos e, bom! Seja como for, homens que vão às prostitutas não têm classe. Sejam eles da Polícia, Ministros, ou mesmo da Realeza. Todos eles partilham de uma premente necessidade comum, especialmente aqueles desprovidos de alguma coisa lá em casa.
Os dois homens chegaram. Um era extremamente bem parecido, o protótipo do “vizinho do lado”; era mediano de altura, muscularmente bem constituído e educado, possuía cabelo louro encaracolado, e olhos grandes e bonitos. O outro era muitíssimo alto, de cabelo aveludado preto acastanhado, penteado para o lado. O Tim, de olhos azuis, irradiava confiança por todos os poros. O outro, o Filipe, era completamente o oposto e o seu acanhamento fá – lo – ia saltar ao barulho produzido pela queda de um alfinete.
No espaço de tempo que mediou até à sua chegada, reavaliei os perigos de me encontrar sozinha com dois homens, independentemente do facto de ter estado com os seus dois amigos simultaneamente. Olhando para eles no corredor disse:
“Desculpem. Não posso, de facto, consentir que entrem os dois ao mesmo tempo.”
“Vá lá”, disse o que se chamava Tim, “Podes confiar em nós”.
“Tenho muita pena mas não me sinto bem com ambos os senhores aqui ao mesmo tempo. Só me apetece trabalhar com vocês individualmente”, expliquei.
Olharam um para o outro, concordaram mas continuaram pregados no mesmo sítio. Só pouco depois é que cheguei à conclusão que não tinham percebido completamente.
“Peço muita desculpa por voltar a insistir mas o que eu quis dizer – lhes foi que um dos senhores tem de esperar noutro lado. Isto é, fora do apartamento. Está bem, disse.
Voltaram a olhar – se. Desta vez Filipe ficou nervoso com a ideia e tentou convencer – me a deixá – los continuar a ambos.
Tim expressou ao amigo um aceno tranquilizante de assentimento”.
“Está bem,”, concordou. “Vamos a isso. Filipe, eu vou primeiro, certo?”
Um relampejar de alívio apareceu então rosto de Filipe que fazia a sua retirada afim de esperar no carro.
Tim era, em cada centímetro, o protótipo do playboy. Logo que me despi, e exactamente como os seus dois amigos foi rápido a apontar – me a tatuagem e a perguntar o que significava. Ao querer saber qual era a razão de tal curiosidade disse – me que os outros que me haviam visitado eram seus sócios no negócio de casotas para cães. Parecia fazer realmente sentido mas de algum modo não soava a algo real, no entanto procurei não analisar enquanto estive na cama com ele.
Tim era extremamente meigo e possuía a imagem estereotipada do homem sensual no mais alto grau que isso pode atingir. No entanto, o comportamento sexual desmentia tal imagem masculina. Apercebi – me de um escorpião tatuado na parte debaixo da perna de Tim e perguntei – lhe qual era o significado. Disse então que a namorada era Escorpião.
Tirei partido do tópico da conversa e disse – lhe que, então, devia significar bastante para ele. Quanto admitiu que era verdade perguntei – lhe porque diabo andava metido com prostitutas se, de facto, estava a ser sincero. Olhou para o lado, sorriu como se estivesse à procura de uma resposta válida.
“Ouve cá. Pareceu – me os meus amigos estarem de tal maneira encantados com a tua pessoa, que eu tinha, pela certa, de vir verificar com os meus próprios olhos aquilo que estava a perder. Talvez fosse só curiosidade…”, replicou com um sorriso de alívio.
Era uma justificação muito débil mas recusei – me a discuti – la afim de evitar futuros embaraços.
Passámos um bom pedaço a rir e a brincar, o que me deu espaço ara penetrar na pessoa real, por baixo da fachada. A dado momento olhei – o nos olhos e trouxe à baila o assim chamado negócio das “casotas para cães”. Foi célere a mudar de assunto desviando a atenção para o meu corpo.
”Uau, não tens celulite!” Disse, ao mesmo tempo que me acariciava uma das nádegas, fazendo movimentos circulares.
Inesperadamente tocou o telefone dele. Desculpou – se e respondeu. Era o Filipe a perguntar se estava tudo bem e a pedir – lhe que se apressasse.
O toque salvara – o e ele sabia – o. Em lugar de fazer todas as perguntas que planeara, desviou a conversação para um ponto em que podia ver que eu estava a ser esperta. O meu tom sarcástico de voz, que de vez em quando ostentava, fez – lhe ver isso mesmo.
Tim estava agora com vontade de atar os molhos antes que o tempo acabasse. Era sumamente afectivo e carinhoso na cama, o tipo que preferia sentir uma mulher e transmitir – lhe os seus sentimentos do que chegar ali e “toca a despachar.”
Quando finalmente acabámos a impetuosa sessão, Tim convidou – me para almoçar no dia seguinte. Tinha por norma não sociabilizar com clientes fora do apartamento; quer fosse para almoço, férias, ou mesmo chamadas pagas no exterior. Em casa, era onde me sentia segura e, assim, declinei o convite.
Filipe começava a iniciar a subida. Tim insistia até que acabei por aceitar só para conseguir que se fosse embora. Quando lhe perguntei onde, balbuciou:
“Ma…Eu depois digo” replicou arrependendo – se das suas sílabas iniciais.
“Ma…”, pensei para comigo sem me importar o que é que sugeria de início.
Filipe bateu à porta. Tim respondeu e acenou para o amigo, que parecia bastante pálido, e saíu.
Conduzi Filipe para o quarto. Não estava a achar nada disto interessante e examinava cada polegada da parede do corredor que conduzia ao quarto de dormir. Ria – me e brincava, mas Filipe não era capaz de se descontrair ou fingir que se descontraía. Era como se o obrigassem a estar ali, forçado a fazer algo que, na verdade, não queria fazer. Filipe tinha pouco para dizer. Estava demasiado aterrado com toda aquela experiência.
Tirei a toalha que me estava a tapar o corpo. Filipe ficou paralisado. Regressou da sua abstracção, mas parecia estupidamente medroso enquanto eu estava na cama à espera.
Acabou por arranjar coragem de se despir e juntou – se a mim na cama. Quando estendia o braço para agarrar uma camisa de Vénus do chão, Filipe encheu – se de medo e pôs – se a dizer que era hábito seu prevenir – se por conta própria e foi ao bolso de trás das suas calças tirar uma. Quando acabei por lhe ver o pénis, compreendi então a razão da sua preocupação: Eram um dos maiores objectos que eu jamais vira.
Filipe permaneceu frio na cama, mumificado! Para meu e espanto, o pénis tinha ficado erecto a partir do momento em que se despira, levando – me, assim, a acreditar que andava no Vigara, devido aos nervos.
Não perdeu tempo. Só lhe interessava acabar com isto quanto antes e apanhar – se lá fora. Pôs – se em mim e começou logo a penetrar – me sem fazer qualquer diversidade de movimentos. Estava ainda muito indisposto e isso estava a começar a afectar – me; ficava cada vez mais seca com toda aquela maçada mas continuei sem dizer uma palavra. De repente, quando eu menos o esperava, atingiu o clímax e, em menos de um segundo, tirou o pénis da minha vagina.
“Oh, não. Oh meu Deus. O preservativo rompeu – se.”
Pensei que estava a brincar, mas não. Tinha entrado em pânico e começou a passear de um lado para o outro do quarto descontrolado enquanto eu estava para ali na cama com a toalha de banho enrolada à minha volta! Tentei desesperadamente acalmá – lo dizendo – lhe que estava limpa. O pobre homem deve ter pensado “claro, claro, isso é o que todas dizem”, mas era verdade. Se havia alguém que temia uma coisa destas, esse alguém era eu!
Tinha, no entanto, acontecido que o meu período chegara naquele dia. Em tais ocasiões, usava uma esponja medicinal contraceptiva para evitar que o sangue remanescesse. Falei – lhe na esponja, tentando desesperadamente convencer este homem aterrorizado de que estava limpa. “Não seria prevenção mas…”
Filipe pegou no celular e chamou Tim continuando ao mesmo tempo a passear de um lado para o outro. Passados uns momentos, Tim chegou. No meio da confusão dei – lhes autorização para estarem juntos no apartamento enquanto ia ao quarto de banho. Quando voltei estavam os dois de pé no corredor. Olhei para Tim e tentei convencê – lo que não havia perigo. Tim desatou a rir para o amigo antes de os avisar que tinha de me ir embora e saia para fora do edifício na sua companhia.
Os dois homens dirigiram – se para uma carrinha Mercedes prateada. Uma das janelas tinha um protector solar infantil. Entrei no meu carro e respondi a uma extensa chamada antes de abrir a ignição para inverter a marcha. Não podia acreditar! Tim e Filipe estavam ainda na conversa no carro de Filipe. Passei por eles e quis saber se o amigo de Tim se encontrava bem.
“Não. Realmente não está bem. Quer ir consultar um médico nosso amigo.”
Naquele instante apercebi – me que não adiantava tentar continuar persuadi – los. Até me encontrava aliviada por Filipe estar tão aflito o que era sinal evidente de que estava limpo.
Durante o trajecto pensei em toda aquela situação dissecando a visita até ao mais ínfimo detalhe e concluindo que tinha de esperar pela data do almoço com Tim até me preocupar de novo em analisar os acontecimentos.
À hora do almoço combinado Tim foi – me buscar a casa. Tinha um carro similar ao de Filipe; a mesma cor e modelo também. Tinha mesmo um cão desenhado no painel separador dos bancos traseiros, apenas o do carro de Filipe era um Whinny the Pooh enquanto o de Tim era um Dálmata. Logo que pus os pés dentro do carro Tim perguntou se tinha preferência por algum restaurante. Quando recomendei um em particular, observou:
“Oh, não! Desculpa! Só agora me lembrei que tenho a mesa reservada no Marina! Porque é que não vamos para o Marina?!”
Repentinamente lembrei – me que ele tinha querido sugerir o Marina quando inicialmente me convidou para almoçar. O “Ma…”, mas guardei a observação para mim.
Fomos conduzidos à nossa mesa que estava reservada logo que chegámos e, dentro de poucos segundos, uma trupe de empregados de mesa surgiu a estender – nos o menu. Pareceu – me que a cara de Tim lhes era familiar pois que lhes deram as boas vindas com uma certa rotina. Sentei – me em frente aos barcos na mesa do terraço, no lugar que Tim havia escolhido.
Apesar de não ter evidências suficientes, continuei a suspeitar de que estes cavalheiros pertenciam à polícia secreta. A única maneira em que os ia descobrir era através de uma conversa normal. Não tinha nada a esconder, portanto continuei a explicar a Tim porque é que a minha situação financeira actual atingiu o estádio em que se encontrava.
Tim estava ali atento a tudo o que dizia sem se atrever a mudar o rumo da conversa já que era inapto para responder às perguntas que lhe iria apresentar depois. Sabia que eu não era nada estúpida. Tinha – o observado bastante desde o dia anterior, na medida em que foi de encontro a alguns momentos difíceis.
Um homem gordo e careca, embora vestido normalmente, que parecia ter qualquer ligação ao restaurante, interrompeu – nos, a Tim e a mim. Tim levantou – se e deu – lhe um aperto de mão com muito poucas palavras de conversa. O homem olhou para mim, a seguir para Tim e disse, “Bom apetite para o jantar”, antes de se dirigir para o interior do restaurante. Tim perguntou se conhecia o homem que era dono do restaurante. Respondi sarcasticamente se eu tinha aparência de quem sabia.
Enquanto continuávamos na conversa pelo almoço dentro, não pude deixar de notar o interesse de Tim no que se passava à sua volta. A certa altura, olhei para a retaguarda sistematicamente mas a mesa de trás bloqueava – me a vista. De súbito, o mesmo homem passou por nós de novo e dirigiu – se para um dispendioso Porsche último modelo, estacionado no outro lado da estrada. Nem podia acreditar! O Marina dava a sensação de ser uma cidade fantasma nos seus melhores tempos e não podia imaginar como é que um homem daqueles podia ser bom para o negócio, especialmente para comprar um último modelo de carro como aquele.
Quando terminámos o prato principal, Tim perguntou – me se queria sobremesa. Declinei e preferi café uma vez que o tempo se escoava.
Tim pediu dois cafés, e, simultaneamente, a conta. Meti automaticamente a mão no bolso para tirar o dinheiro. Tim insistiu em pagar e tirou a carteira, exibindo um brilhante cartão de crédito Gold que colocou na travessa da conta com uma gorjeta.
A travessa foi imediatamente levantada pelo empregado e trazida de volta antes de podermos terminar os cafés.
Na viagem de regresso perguntei a Tim por Filipe.
“Isso é uma longa história. Basicamente fomos consultar o médico nosso amigo que pôs Filipe numa espécie de programa. Não sei lá muito bem que programa é esse mas o que entendo é que o pobre Filipe vai passar um mau bocado. Pobre rapaz que está mais doente do que um porco e foi informado que a doença continua por umas semanas dentro. Qualquer coisa como purificação ou coisa assim, penso”.
Não fiz mais perguntas acerca do tratamento e não tinha intenção de sair da minha rotina para analisar a sua existência. O meu interesse principal era fazer a minha jogada como devia ser e investigar secretamente aqueles que acreditava andarem – me a investigar.
Eu e o Tim trocámos mensagens escritas durante algumas semanas. Na sexta-feira seguinte recebi uma chamada dos dois homens que ele me referira. O mais estranho do seu telefonema era que não me queriam visitar a mim mas sim que eu fosse beber com eles. Recusei abertamente e desculpei – me antes de desligar para voltar a ser chamada alguns minutos depois.
“Vocês homens, julgam que eu sou estúpida? Ou melhor, será que crêem isso realmente? A conclusão a que eu chego é que pensam que sou ingenuamente crédula para ir na vossa conversa enquanto insistem em telefonar – me para ir convosco a um clube porque sou uma rapariga muito bonita, quando aquilo que eu de facto concluo é que, dado não me conhecerem de parte nenhuma, é que não têm mais que fazer.” E ri sarcasticamente.
O rapaz hesitou durante um pedaço. Apanhei – o com a guarda aberta e, por certo, não estava esperando a investida.
Passadas umas horas voltaram a insistir, desta vez utilizando uma estratégia diferente.
“Está bem, Diana. Ganhaste. Não tens que te deslocar a lado nenhum, vamos nós aí, se não te importas.”
Esperando vir a saber mais alguma coisa, concordei.
Eram passados apenas alguns minutos quando chegaram e lhes abri a porta, não podendo acreditar no que via dado os palhaços que confrontava. Um era preto, vestia um espesso casaco de basebol vermelho e usava um par de óculos de lentes vermelhas. Este personagem parecia – me estar no meio da década dos vinte. O outro era branco, sensivelmente da mesma idade mas muito mais magro, vestia – se como um trintão em elegante trajo de passeio. Estavam à porta como dois idiotas acabados! O panorama conjunto era tão exageradamente ridículo que tinha de me controlar para não desatar a rir perante aquelas duas figuras.
Encaminhei – os para a sala de estar e convidei – os a sentarem – se no sofá. Quanto a mim, decidi sentar – me em cima da enorme mesa da sala de jantar que se encontrava em frente de um grande espelho. “Vejamos onde é que isto os vai levar”, pensei para comigo que não iriam intimidar – me, antes eu é que os iria amedrontar.
A visita não iria ser tão sucinta como eu imaginara e, assim, levantei as pernas da cadeira e cruzei – as. O cabelo cobri a – me metade da cara. Olhei para o lado e fixei – os a um de cada vê: um por um, directamente nos olhos. Sabia o poder do contacto ocular e usei – o. Estava – me a sentir um pouco frustrada por ter permitido a este par de arlequins que viessem aqui tomar – me por uma estúpida tonta e decidi que o jogo ia começar e manobraria de maneira a que saíssem com o rabo entre as pernas.
O “super – mosca” homem branco olhou para mim do sofá. Fosse o que fosse que viesse a lume dessa boca era por certo algo pior do que lixo, pensei para comigo. Estava convencido ser o mais esperto dos dois e não fazia a menor ideia quão patético se representava e se fazia ouvir. Abriu a boca para disparar a maior quantidade de estúpida esperteza saloia que jamais ouvira. Era de tal modo caricato que passados alguns momentos começou a entrar – me por um ouvido e a sair – me pelo outro. Olhei – o de novo bem de frente, olhos nos olhos, e forcei um grande sorriso de mofa na minha face sem que fizesse esforço para erguer os lados da minha boca. Olhava a minha vítima e perscrutava – lhe a alma com os meus olhos, enquanto ele continuava a falar para surdos. A minha concentração nos olhos dele prosseguia e dizia – lhe telepaticamente para se calar, ao mesmo tempo advertindo – o que tinha postada na sua frente a adversária à altura. Inesperadamente começou a baixar o tom de voz cada vez mais até que a última palavra enviada pelo cérebro para a boca ficou, silenciosa, sem sair. Não sabia o que fazer quando o colega o salvou, mais uma vez, ao tentar persuadir – me a sair com eles.
O branco estava desesperadamente a tentar recuperar o fôlego e perguntou – me se gostava do colar de contas que tinha à volta do pescoço.
“Comprei – o em África. É um objecto
propício”, disse.
Olhei fugazmente para o objecto, ganhei de novo o contacto ocular com ele e disse – lhe que se devia livrar daquilo, pois parece que era de mau, terrível agouro, que dava às pessoas um ar patético!
Mal tinha pronunciado esta última frase quando a sua voz começou a descer de tom outra vez e a sua expressão perdeu vigor.
Antes de os avisar que o seu tempo tinha terminado, olhei para o preto que ainda estava a insistir para que me juntasse a eles e disse:
“Sinceramente, não tenho tempo para andar com vocês, rapazes. Sugiro que procuremos algumas pessoas interessantes e compremos umas drogas, que tal?”
As orelhas do moço pareceram subir. Não era o que ele estava à espera de ouvir, era o que ele queria fazer, para ver se combinava com a cena de bastidores.
Pouco tempo decorrido, argumentando que se estava a fazer tarde para a minha marcação, consegui persuadi – los a irem – se embora. O branco não se atreveu mais a olhar – me nos olhos. Ao fechar a porta, passei ao modo de análise. “Pertencem ao departamento da droga”, disse para mim mesma.
Romano fez uma marcação para as dez da noite de Sábado. Quando chegou, passei uma grande e parte do nosso tempo a explicar – lhe as linhas gerais mais salientes que eram, segundo eu pensava, nem mais nem menos, da polícia secreta.
Romano era argumentativo. Não tomava o “eu penso” por resposta e, para além disso, não fazia a mínima ideia de como eu chegara a tais conclusões, sugerindo de maneira indirecta que podia muito bem acontecer que isso fosse paranóia.
No auge da nossa conversa, recebi uma mensagem de Tim. Trocámos mensagens por algum tempo, até que acabou por dizer que estava num estádio lá para o Norte. Tinha falado da viagem durante o almoço e, de novo, convidava – me para ir ter com ele.
Deve decerto ter – me tomado por tola. Estávamos, no mínimo, separados por trezentos quilómetros de distância embora soubesse pelas nossas conversas anteriores que eu era suficientemente tarada para me pôr a caminho e cobrir o percurso.
Como se fora um relâmpago, toda a experiência da noite da véspera se me representou na minha cabeça. O que eu quero dizer é que os seus, assim chamados amigos, me tomavam por idiota. Por isso decidi – me brincar também com Tim. Disse – lhe que ia partir imediatamente e que ia ter com ele.
Romano olhou para mim com uma expressão confusa sem perceber se estava a brincar ou não. Perguntei – lhe se me ia ajudar ou não a fazer o jogo. Concordou e a brincadeira começou.
Tim não imaginava que a estrada que conduzia ao Norte me fosse familiar. Conhecia – a como as palmas das minhas mãos. A longa cadeia de mensagens começou.
Primeiro escrevi uma mensagem a dizer que levava outro carro, já que não tinha a certeza se estava, de facto, onde dizia estar, depois, não podia arriscar – me à possibilidade de que um dos seus colegas passasse por ali de automóvel e visse o meu carro lá fora chegando, assim, à conclusão de que aquilo era um logro.
Depois comecei a enviar o resto das mensagens de quinze em quinze minutos! Eu e o Romano calculávamos os quilómetros e o tempo e, por experiência própria, imaginávamos o troço da estrada em que possivelmente nos encontrávamos, transmitindo os sinais e as estações de serviço que tinha vindo a memorizar após tão numerosas viagens.
Um dos parentes de Romano possuía um carro muito caro, com um sistema de computador raro, que muitas pessoas não fazia sequer ideia que existia, não importando não saber como de facto trabalhava, já que Romano estava familiarizado com ele e, portanto, usei os seus conhecimentos e mandei a Tim mais mensagens a explicar a leitura do sistema GPS que o informava sobre a viagem. Eu e o Romano estávamos de tal modo envolvidos, como se estivéssemos a fazer um filme.
Por fim, calculámos que eu devia estar a chegar ao meu destino e avisei Tim descrevendo locais e lojas por onde eu imaginariamente passava antes de chegar à primeira ponte. Tim respondeu indicando um ponto de encontro e repliquei que lá estaria em cerca de dez minutos.
Passado que fora este lapso de tempo, Tim telefonou a perguntar onde estava já que não conseguia ver – me. Desatei a rir e disse – lhe que estava em casa.
“Oh meu Deus, nem dá para acreditar. Por que diabo sou tão ingénuo?” e desligou.
Voltei a telefonar – lhe e pedi desculpa. Estava furioso mas aceitou. Depois comecei a pensar se o último riso seria de mim por pedir desculpa ou se porque talvez não estivesse onde disse que se encontrava com o rádio ou em lado nenhum.
Uma coisa era evidente para mim. Isto era polícia secreta e eu não fazia ideia daquilo que queriam. Podia muito bem ser por várias razões.
A minha primeira suspeita incidiu sobre Oley na medida em que viveu comigo durante seis semanas na altura em que rompera com a mulher. No entanto, o tempo provou que tal possibilidade era remota, dado Oley ter desaparecido alguns meses depois, só que eles não estavam a par. A minha associação com o bordel podia também ser uma razão. Tinha confrontado a Máfia e tomado cuidado com isso e especialmente na parte que me tocava já que era mulher e menos credível. Provavelmente pensavam que alguém estaria por trás de mim e andassem a tentar descobrir quem era?
Outra possibilidade era a de procurarem utilizar – se dos meus contactos e natureza extrovertida como uma ferramenta para conseguir entrar em certos círculos, fossem eles pobres ou ricos. Podia entrar em conversa fosse com quem fosse e tinha o dom de fazer com que as pessoas se abrissem para mim.
Finalmente, o episódio do bordel, coincidia com a altura em que Romano se tornara meu cliente, o que, por seu lado coincidia com a data em que começou a visitar – me. Alguns dos parentes de Romano tinham acesso a documentos secretos governamentais.
Fosse qual fosse a natureza da razão, os meses seguintes conduziram a mais visitas, a mais análises e o enigma encolhia – se para metade das possibilidades citadas acima.
Oley telefonou a convidar – me para um café. Estava na cidade por um dia antes de se ir embora por alguns meses. Disse – lhe que sim e estive com ele na hora exacta para o informar de tudo o que se passava. Oley não fez perguntas, sabedor de que antes de eu afirmar fosse o que fosse, estava lá, pronta para justificar a minha resposta. Perguntei – lhe se sabia de alguma coisa do que se passava no seio da Marina, especialmente em conexão com o dono de um certo restaurante. Olhou para mim abismado como se eu tivesse completado com êxito um enxame de graduação com distinção.
“Sei. O indivíduo esteve envolvido num enorme negócio de tráfico de droga, o ano passado”.
Naquele momento tudo encaixara. Não havia hipótese de paranóia. Tinha razão. Eram polícias de investigação e, no encalço da Marina, trilhavam o caminho certo. Em particular, adoravam a loja de gelados que era na porta ao lado de um restaurante muito particular na medida em que recebera inúmeros convites pua me encontrar lá com eles.
Mais tarde, Pedro, que eu acreditava ter ligações com os serviços secretos, pôs – me ao corrente de que uma rusga visando a droga tivera lugar na Marina. Mas havia qualquer coisa mais que permanecia desconhecido e até esse dia não consegui encontrar evidências suficientes para provar a minha teoria.
Continuava a receber clientes assim. Era tão previsível! Era como se eu estivesse vocacionada para os cheirar a uma milha de distância. Todos eles diziam o mesmo género de coisas ou agiam da mesma maneira. A maioria estava mais interessada em falar do que em fazer sexo. Acima de tudo estavam mais interessados em convidar – me para o exterior e em tornarem – se amigos. Eram todo um desastre no que respeita a manterem o disfarce embora se esforçassem tremendamente até ao fim para me fazer ver exactamente o contrário. Tratavam – me tal como se eu fora uma mulher ingénua e indefesa. Ou será que era essa a maneira de abordarem as mulheres? Mas toda esta alhada estava a começar a sair – me de controle. Uma coisa era estar com disposição para jogar o seu jogo, outra era estar tão envolvida nos meus próprios problemas e frustrações para tolerar isso. A certa altura surgiu um feliz acaso.
Telefonei ao Pedro a pedir ajuda. Sabia das minhas visitas e esperava poder lançar alguma luz sobre tudo isto.
“Farei o melhor possível. Vou telefonar a um amigo que é um dos homens mais influentes no Departamento da Polícia Secreta.
Pedro respondeu – me num espaço de tempo que mediou entre os cinco e os dez minutos a confirmar as visitas e ajuntando que o meu telefone estava também gravado. A intriga tomava corpo! Mais, no seu contacto com o Departamento descobrira também que não havia qualquer processo aberto e nada assinado para dar autorização a que fosse investigada.
“Está tudo bem, Diana. Portanto, agora acho que chega. Tinha sido feita uma queixa ao Departamento de Investigação, assegurou – me.”
As visitas acabaram durante uns tempos, apenas para começarem outras em poucos meses. Quando andava a suspeitar deles olhava pela janela quando se iam embora. Nove em dez vezes entravam para uma carrinha Mercedes ou BMW. Fazia tudo parte da imagem secreta do seu cartão Gold dirigido para o “Crime do colar” mas haviam mudado de estratégia e tentado tapar os buracos que haviam feito no passado.
Um homem ligou numa determinada manhã e reconheci – o como sendo um amigo de um cliente antigo. Procurou uma manobra diferente para ver se o aceitava. Em vez de dizer que fora um amigo que o recomendara declarou ter visto o anúncio no jornal. Ao perguntar – lhe qual a edição respondera:
“Foi no jornal desta manhã, naturalmente. Comprei – o na estação de serviço.”
Ri e pedi desculpa, ao constatar que naquele dia não trabalhara. A verdade era que há cinco dias que não saía um anúncio meu no jornal porque tinha estado doente. De qualquer modo não queria meter – me no jogo e desmarcará – lo. Livrei – o de embaraços. Para quê perder tempo? Corrigiria provavelmente dizendo que não tinha sido hoje que comprara o jornal mas na semana anterior.
Outra estratégia que usavam era mudar totalmente a aparência e pensar que podiam fazer de mim parva, mas não era a aparência deles que me enganava. Nesse dia dirigi – me à cidade para pagar a minha multa do carro sendo mandada parar por aquele polícia que eu vira sentado nuns degraus a meio da rua, quando ia descê – la. Quando entrei para o carro ele apareceu – me à janela:
“Olá, Diana. Lembras – te de mim? Tivemos um encontro próximo da tua casa”.
Sabia perfeitamente o que o indivíduo queria, portanto repliquei – lhe que me lembrava vagamente. Naquele momento não há dúvida que se sentiu sortudo e perguntou – me a se queria ir beber um copo com ele qualquer dia.
“Com certeza. Porque não? Tem o meu número. Ligue – me,” respondi ao mesmo tempo que testava a sua reacção.
Nunca tinha visto este homem, mas simplesmente não o quis contrariar. Depois, como podia ter alguma vez encontrado alguém na minha área onde só andava de automóvel e nunca falava com os transeuntes?
Finalmente, quando lhe disse que tinha o meu número ele não negou, o que significava que o recebera de um amigo.
Pelo seu comportamento, esse amigo era da Polícia Secreta. Além do mais, porque é que havia alguém de andar a espiar – me, tentando seguir – me directamente a casa.
Até este dia não fazia a mínima ideie do exacto interesse da polícia Secreta na minha pessoa. Enigmas aparecerem – me no meu trajecto. Excluíam – se algumas possibilidades.
Mesmo a convincente chamada de Pedro conduziu – me a acreditar que poderia ter sido uma desculpa para dizer:
“Está bem, tu sabes que procurávamos qualquer coisa mas se dissermos agora que não, é porque não andávamos e tu acreditas em nós, e podemos ser mais cautelosos para o futuro”.
Mas uma coisa é clara, todos desertaram durante um curto período após ter falado para Pedro, só para voltarem depois com um disfarce diferente. Olhando para o lado positivo disto tudo, arranjei maneira de lhes modificar o comportamento e, pelo menos “arranquei – lhes a máscara.”
CAPÍTULO 21
Tinham agora decorrido dez meses desde que começara e já excedia em cinco meses o primitivo tempo planeado. Romano, que ligara nesse dia por causa do anúncio do bordel, acabara por visitar o meu apartamento e permaneceu um fiel regular durante oito meses.
Romano, ao contrário de mim, não tinha, tido tanta sorte como eu em arranjar um grande número de amigos. Era mais reservado, e, assim dedicava o seu tempo apenas ao negócio, trabalhando no duro, para colocar os seus produtos na liderança do mercado.
A quantia que eu cobrava tinha um tempo limite de meia hora sabendo – se muito bem que nunca passaria esse tempo todo na cama com um cliente, mas tinha de haver um tempo obrigatório.
Falando com sinceridade, o tempo requerido depois de me despir, era na generalidade inferior a cinco minutos, dependendo, naturalmente, do dedicado a diversão. Em casos raros, em que um freguês não atingia o clímax ao fim de cinco ou dez minutes, usava uma certa técnica secreta, uma determinada posição em que, rapidamente o atingia sem, no entanto, parecer que estava a apressá – lo porque, acontecesse o que acontecesse, não podia sentir – se pressionado.
Nunca dei uma segunda hipótese a não ser, é claro, no caso de pagarem para isso. O que me diferenciava das outras congéneres era o meu cuidado com os clientes. Embora não fosse obrigada a fazê – lo, e a maioria das profissionais não o fariam, encontrava – me insensivelmente a conversar naturalmente com eles, a compensá – los assim pela sua máxima prodigalidade. Para além disso, dava especial atenção aos meus regulares, especialmente aqueles que eu achava mais carentes.
Após a sua segunda visita, Romano passou a ser um dos poucos clientes que reservada uma hora por inteiro. Embora, na verdade, passássemos pouco tempo a fazer sexo, conversávamos horas a fio, muito para além da sua hora de retribuição e não raras vezes dava comigo a convidá – lo para jantar e conversar, na medida em que achava que precisava de companhia.
Ao longo da nossa história cheguei, afinal, a imaginar algo que não estava certo. Passava todo o seu tempo ocupado com o negócio, o que era perfeitamente compreensível, para alguém para quem a vida é o trabalho, mas havia qualquer coisa que não conseguia compreender. Isto começou a ser mais perceptível quando pus o Romano a par duma espécie de namoro com um velho amigo. O relacionamento durou algumas semanas e, desde o princípio, nunca levei isso a sério, na medida em que não podia sentir – me confortável com um homem que não acatasse a minha linha de trabalho. Estava condenado à partida.
A atitude cooperante de Romano com o seu comportamento começou a mudar determinantemente a partir do momento em que lhe disse que me envolvera com Harry, e, chegado ao ponto de não mais poder conter – se disse:
“Como é isso humanamente possível que um homem se conforme com o facto da sua namorada andar neste género de vida? Devias tomar atenção e ver que ele te quer ver fora disto”.
Fiquei baralhada com a observação, na medida em que antes tinha resmungado qualquer coisa que significava exactamente o oposto. Além disso, sabia que Harry estava desempregado. Mesmo que o pobre homem quisesse, não conseguiria.
Era o começo do fim, e daí para a frente as coisas começaram a mudar. Certa noite, decidi ir a uma boîte, pela primeira vez desde há anos, limitando a visita de Romano à hora que tinha marcado. Amuou e disse que estava a ser pressionado. A partir daquele momento modifiquei a minha atitude em relação a ele. Chegou à conclusão que tinha feito asneira e na visita a seguir deu – me de gorjearia o equivalente a quatro horas.
O que depois estragou os meus pensamentos e atitudes em relação a Romano foi algo que permaneceu como uma arma apontada devido a ter-se apaixonado por mim. As minhas tentativas para encontrar uma alternativa de trabalho, estavam absolutamente fora de questão e nesse dia mencionei – lhe um certo projecto na medida em que se tinha outrora posto à disposição para me dar apoio com os seus conhecimentos. Sinceramente, penso que Romano estava convencido que a ideia era completamente outra, que eu nunca me abalançaria a tal coisa.
Como o trabalho dele consistia no aprovisionamento de uma grande cadeia de armazéns, era – me indispensável para abrir algumas portas. Miguel concordou em dar uma ajudava a lançar uma selecção especial de cartões de cumprimentos dirigidos ao mercado, arranjando os contactos necessários.
Foi aqui que a minha consideração por ele baixou. Pela primeira vez, Romano “sentiu-se no controle”, algo que antes não era capaz de sentir comigo, independentemente do seu status financeiro. Começou progressivamente a ignorar as minhas mensagens. Sabia quão importante era este projecto para mim e provavelmente, chegou à conclusão que poderia ser um êxito. Fiquei danada.
Não obstante este facto, continuei a aceitá – lo como meu cliente. Durante uma conversa ouvi – o dizer a certa altura, “Mesmo se conseguires, não percas os teus clientes por agora!”
Era enigmático. Tudo o que dizia parecia contraditório em relação às suas observações passadas, contradição essa ligada a certo período, na medida em que num determinado passo diligenciava acalentar a possibilidade de eu abandonar a profissão. Comecei a juntar o puzzle chegando à conclusão de que após ter presenciado o meu relacionamento recente, andava de certo modo a tentar castigar – me ou, simplesmente, desejava que continuasse nesta vida. Nesse caso tinha de o fazer até pagar as minhas dívidas. Isto quer dizer naturalmente que levaria muito mais tempo a saldá – las. Tentar o Jackpot era, na realidade, temível. Para além do mais, seria intimidante para um homem que considera o poder como sendo a base dos investimentos financeiros. Felizmente para mim e infelizmente para ele, não considero o poder derivado da riqueza. Tentei em muitas ocasiões dizer – lhe que o dinheiro não podia garantir a felicidade.
Sentindo – me cada vez mais frustrada com o decurso dos acontecimentos, comecei a dizer para mi mesma que era preciso ganhar coragem. Não mereces uma coisa destas! Tens sido sempre a primeira a ajudar toda a gente! Mas a frase que se destacava na minha mente era “Quem semeia ventos, colhe tempestades”. Sentindo – me zangada com respeito a Romano e muito emocionada, convenci – me que um dia havia de pagar a sua conta.
“O tempo de lhe – de mostrar chegará! Um dia há – de olhar para trás e respeitar – me por ter sido sua amiga, pela compreensão ante a sua melancolia, e tornando – o bem-vindo a despeito da amargura que crescera dentro de mim. Mais importante ainda, um dia fará uma retrospectiva e há – de meditar e interrogar – se porque é que fez o que fez, na medida em que eu podia ter sido uma cabra autêntica e, ter querido controlá – lo e sugar – lhe a maior quantidade de dinheiro que fosse possível”.
Mau grado toda esta animosidade, Romano não deixava de visitar – me e aprendi a engolir o meu ressentimento.
Certa manhã acordei com o mais bizarro dos sentimentos. Não podia nem pela minha vida deixar de pensar em Romano. Nunca acontecera antes e sentia – me peculiarmente estranha. E continuou até à sua visita seguinte.
Eu e Romano encontrávamos – nos deitados na cama, ele com um copo de whisky e eu com um cigarro. Como era seu costume, Romano falava dos êxitos do negócio enquanto os olhos de ambos fixavam a vela que iluminava o quarto. Não ouvia nem uma palavra daquilo que estava a dizer. As suas palavras eram bloqueadas pelos meus pensamentos:
“Diacho, porque é que hás – de estar a tentar sempre impressionar – me? Porque é que exageras sempre que falas de dinheiro para impressionar? Meu Deus, fazes alguma ideia de que as pessoas podem gostar de ti, sem ser em resultado daquilo que um dia serás capaz de comprar? Não vês que se não falares da maneira como o fazes, estaria loucamente apaixonada por ti?” Pensei.
Regressei do meu aturdimento e ele continuava ainda a falar de dinheiro. Fiquei triste porque as más recordações eram mais fortes do que o que começava o sentir por ele. No final de contas, como podia apaixonar – me por alguém que quer estar no controle? Queria – lhe falar acerca do que tinha sentido no passado e o que começava a sentir. Assim poderia talvez defender – se, talvez convencer – me de que o passada era uma má interpretação da minha parte. Contudo não podia. O passado ainda dominava o presente.
O meu espírito voltou rapidamente ao trabalho e, como de costume Romano tomou a chefia. Deitado na minha frente começou a acaricia – me o rabo com as duas mãos. As frustrações dos meus recentes pensamentos amplificara – me os sentimentos, provocando – me formigueiros, desejando que me preenchesse um indescritível vazio que ocupava todo o meu estômago. Na medida em que olhava para a vela apercebi – me do desejo intenso que sentia por dentro. Transmitindo a explosão interior, Romano começou morder – me as nádegas como nunca havia feito antes; meigamente chupando e beijando – as antes de se aventurar na descida à procura do meu clítoris. Virei – me para lhe dar mais acesso. Queria senti – lo bem dentro de mim de maneira a aniquilar – me a fome, a concupiscência. Com a boca, foi deslizando desde o meu clítoris até à abertura da vagina, já que estava muito húmida. Abri os olhos para ver a nossa sombra na parede com o reflexo da luz da vela. Estava pronta para explodir. A sensação era tão maravilhosa, tinha um poder tão grande que eu queria fazer parar o tempo e viver assim…sempre. Como um eco perfeito, Romano transmitia – me cada bit de desejo que lhe oferecia, agarrando com um intensidade crescente os escaldantes sentimentos que partilhávamos. Depois, levantou – se, olhou profundamente a minha alma e beijou – me a face enquanto o seu pénis penetrava na minha vagina. Não se moveu, pois que era uma bomba prestes a explodir. Todo aquele poder se apossou do meu ser e me forçou a fechar os olhos uma vez mais. Não me podia aguentar por muito mais tempo. Inesperadamente senti Romano a acelerar a respiração conduzindo – me a libertar toda a energia acumulada e pronta para detonar quando estivéssemos juntos.
Virei – me e comecei a olhar para a vela outra vez, embaraçada com o que tinha sentido, embaraçada por não ter conseguido controlá – lo. O quarto estava de tal modo silencioso que quase podia ouvir o tremeluzir da vela. Eu e Romano estávamos demasiado tímidos para nos olharmos. Sentíamos – nos intimidados pela experiência. Passado um pedaço atravessou – me com o seu olhar como se o tivesse fixo na vela.
“O que se passa?”, disse num tom de voz quase inaudível.
Sabia exactamente o que se passava porque experimentara o mesmo, mas estava a ser educado e tentava cortar silêncio. Voltando mais uma vez ao passado, repliquei:
“Deus meu! Que intensidade!”, numa voz quase confundida com o silêncio que continuava a imperar.
Assim permaneceu Romano, sem falar, forçando – me a acrescentar alguma coisa para quebrar o gelo.
“Oh! acontece cada vez mais depressa…denoto – o.” E não continuou.
“O que é que tu sentes?”
Levei o meu tempo a responder e finalmente disse:
“Sinto cada vez mais que estás a fazer amor comigo”.
Evitando o “estamos a todo o custo.”
Não tardaria a acontecer que eu dissesse que tinha começado a pensar que o todo da situação se estava a tornar perigosa. Tinha – me passado pela cabeça alvitra – lhe que devia espaçar as visitas. Mas o que estava para acontecer no dia a seguir ia pôr fim à nossa história.
Quando Romano me visitava nas noites dos últimos dias, não era raro estar a dormir quando ele se ia embora, e deixava o dinheiro em cima da quebra – luz.
No dia seguinte fiquei admirada por verificar que o dinheiro que me deixara não correspondia ao seu valor habitual. De modo nenhum podia mandar – lhe uma mensagem a perguntar se se enganara e isso estava, naquela noite, a dar comigo em doida. Lembrei – me de todas aquelas vezes em que me deixava sempre boas gorjetas e senti uma vontade incontrolável de lhe enviar uma mensagem. Mas logo a seguir pensei ”calma, certo? deixou – te gorjetas ocasionalmente, mas e as vezes que havia reservado uma hora e passava várias a fio, sem sonhar sequer em cobrar – lhe por isso, … E então aquele tempo em que ele…”
Naquele momento peguei no meu celular e escrevi:
“Olá, tudo bem? Penso que te enganaste com o dinheiro na noite passada”.
Respondeu prontamente:
“Sim! Pensei que te tivesse deixado… Isso não estava certo? Se houve engano não tenhas medo de me dizer e assim posso rectifica – lo – ei.”
Havia equívoco, sim senhor, mas como podia eu expressá – lo? Se sempre guardara para mim todo o seu aborrecido comportamento passado, como diabo iria explicar – lho? Tinha a mesma sensação tal como se parecesse que estava tensa ou coisa similar e que não era eu que estava ali. Era ao nosso passado que a obsessão procurava lembrar – me da inevitabilidade da sua presença. Era a propósito de ser boa e leal para ele não obstante o que acontecera. Era acerca de ser recompensada desta maneira. Talvez fosse também a tentativa de se escapar daquele sentimento profundo que sentira juntamente com ele na noite anterior afim de evitar o imprevisível?
Comecei a bombardeá – lo com várias mensagens acerca de quão estúpida tinha sido com os meus clientes. Todos os meus sentimentos de raiva eram interpretados numa sequência de mensagens que eram lógicas para mim mas indecifráveis para ele. O ódio transportado por tais mensagens devia estar a extravasar nele. Os insultos à sua atitude devem ter sido lidos e interpretados com uma marca de pergunta psicologicamente alienada. Mas não, não teve hipótese quando lhe expliquei sem rebuço na última mensagem, que era isso.
Um dia depois, Romano pediu – me os dados da minha conta bancária para transferir dinheiro que lhe havia pedido para efectuar. Respondia – lhe continuamente que o a transferência devia somente ter lugar como tinha sido combinado, no fim do mês, replicando – me:
“Ao invés das pessoas que dizem coisas e que não mantêm a palavra dada, eu mantenho. Portanto, se disse no fim do mês será no fim do mês.”
Continuou a insistir até que aceitei enviando – lhe os meus dados bancários. Romano transferiu o dinheiro que tinha em mente, apenas com a diferença de ser Sábado à noite o que acarretou uma mensagem do seguinte teor:
“Recebi a transferência. Bem hajas. Um dia avaliarás porque reagi como o fiz. Não era por causa do dinheiro.”
De certo modo tentei compreender o seu ponto de vista. Romano sempre havia marcado uma hora e nessa hora só costumávamos fazer sexo uma vez. Nas poucas ocasiões que fizemos duas vezes, pagava – me extra. Os outros clientes eram onerados por meia hora e tinham uma oportunidade, mas possuíam a opção de marcar uma hora e ter, assim, uma segunda oportunidade. Naquela noite tínhamos feito sexo uma vez antes daquela cena tão intensa. Todavia esperava que deixasse mais dinheiro pois fora o que me ensinara a esperar no passado.
Duas semanas se haviam escoado desde ou nosso mútuo contacto. Quando lhe escrevi a última mensagem, não me passava pela cabeça que havia de começar a escrever este livro dentro de alguns dias. E agora, ao escreve estas palavras, sei que Romano há – de algum dia ser conhecedor por que é que reagi como de facto reagi. Será talvez um sucesso, e será graças a ele que possivelmente consiga realizar milhões. A seu tempo se verá.
CAPÍTULO 22
A minha lista de “clientes regulares ” estava a ser criada. Em, pouco menos de um ano chegava a praticamente aos trezentos. De cada vez que atendia um cliente fazia uma nota com todas as observações e outras informações que me dava então azo a baptizar um cliente como “regular” na sua terceira visita.
Estávamos no princípio do ano e enfrentava a minha depressão pós Natal. Tinha banido Romano de me visitar após a ruptura e isso também não ajudava. Afinal, quanto a ele, dá a impressão de que não fazia a mínima ideia da razão de ter reagido daquela maneira. Enquanto pensava, recebi uma chamada no meu telefone de trabalho. Era uma mulher! Achei isso muito estranho e estava céptica. Disse que procurara na secção classificada do jornal e que o meu anúncio lhe chamara a atenção.
Comentei que não podia ajudar, já que trabalhava só e não era empregada.
“Chamo – me Marilyn, compreendo. Mas estou em apuros. Sou educada e com responsabilidades. Desempreguei – me no ano passado e já não aguento mais. Não tenho alternativa”.
Não me deu espaço para colocar qualquer palavra à margem e, antes que me apercebesse, tinha – me convencido a encontra – me com ela na manhã seguinte.
Ligou quando eu andava a patinar ao longo da avenida do mar, com a minha filha. Tinha – lhe dito para se encontrar lá comigo afim de evitar dar – lhe o meu endereço e mal tinham passado dez minutos, chegou.
Estava muito ocupada com a minha filha para me aperceber que a senhora estava ao pé de mim. Quando me prendeu a atenção, sorriu e desculpou – se por me incomodar, apresentando – se.
Marilyn perguntou – me se a minha filha vivia comigo. Respondi – lhe que morava com os meus pais antes de a avisar que tinha limite de tempo para conversar dado que passava pouco com ela desde que me tornara prostituta. Marilyn pediu, uma vez mais desculpa antes de me expor a sua situação.
“Estou deveras desesperada. Perdi tudo o que tinha! Auferia um salário bastante elevado durante os passados 20 anos. Agora não tenho nada. Não tenho escolha. Preciso trabalhar. Farei seja o que for”.
Pela primeira vez olhei para ela. Deparei com uma mulher triste, cheia de amargura com cerca de quarenta e cinco anos. As cicatrizes da vida eram visíveis na sua expressão. Era de constituição pouco volumosa, baixa e muito educada. A sua voz era pouco mais que audível e, no seu desespero, fazia – a soar como um grito de pedido de ajuda. Achei – a genuína. Olhei – a nos olhos pela primeira vez. Nunca o fazia com ninguém que não fosse para verificar a sua sinceridade.
Respondi – lhe que deveria ir ao meu apartamento no dia seguinte. Dei – lhe o endereço e aconselhei – a ser positiva e a despedir – se.
Logo de manhã cedo, no outro dia, Marilyn ligou e chegou à minha porta em poucos minutos. Entrou, sentou – se à minha mesa e começou a desenvolver os poucos detalhes que tinha tocado no dia anterior.
Tal como eu, Marilyn tomara uma decisão errada no que dizia respeito à sua carreira. Decidira que era tempo de começar a ganhar como independente aos dezoito anos no seu posto de trabalho. Não resultou. As consequências tinham sido devastadoras. Inopinadamente, esta mulher divorciada, que ganhava quatro vezes o salário mínimo nacional durante todos aqueles anos, encontrou – se num beco sem saída com pesadas consequências financeiras. Trabalhadora independente não resultou e daí a má situação económica provou revelar – se fatal.
Senti verdadeira compaixão por Marilyn; Estive lá e continuava a estar embora tivesse já aceitado a ideia. Era – me mais que familiar tal situação. Sabia quão difícil e verdadeiro era após a análise das suas respostas e concordei em deixá – la usar o meu apartamento para trabalhar. Compreendi que não podia utilizar o dela porque os filhos viviam lá. Assim, autorizei a Marilyn a utilizar a minha casa para trabalhar na condição de, a despeito do número de clientes, me pagar uma renda diária fixa.
Ajudei – a a colocar um anúncio e providenciei – lhe os conselhos necessários que precisasse.
Esta mulher que estava a ajudar, estava confusa, economicamente embaraçada e pessoalmente desmoralizada. O seu recente envolvimento amoroso chegara ao fim mas estava ainda muito vivo na sua memória. O efeito era violento e invadira – lhe todas as áreas da vida e por vezes preocupava – se mais com o relacionamento acabado do que em enfrentar as suas responsabilidades financeiras.
Fiquei desarmada com ela. Não tinha mesmo dinheiro suficiente para comprar leite para a mãe doente ou comprar cigarros. Tinha de agir rapidamente e decidi – me a contactar dois dos meus clientes regulares, André e Pedro. Falei – lhes de Marilyn pedi – lhes para irem a ela em vez de mim na sua próxima visita. Ambos concordaram e, para minha surpresa, fizeram imediatamente as marcações.
André era engenheiro e ia nos seus cinquenta, possuía cabelo grisalho e usava óculos. De carácter sério, era pouco conversador. Ao contrário de outros regulares meus não vinha ali para falar do tempo ou algo mais para esse efeito. Fazia tudo mecanicamente. Conhecia a sua própria rotina e respeitava – a com fidelidade.
André era um homem forte. As nossas experiências conjuntas eram invariavelmente as mesmas. Costumava chegar pela manhã, dar – me um beijo de boas vindas, depois dirigia – se directamente para quarto, acendia um cigarro enquanto eu me despia e, a seguir, deitava – se na cama a fumar, sem cuecas, sem esquecer um único pormenor.
Quando acabava de me despir, o cigarro balouçava – lhe ainda entre os dedos, de mão estendida para a parede como para me permitir a inaugurar a acção. Começava por lhe sugar o pénis e dentro de alguns segundos os seus gemidos começavam, ante os quais a ponta do cigarro era violentamente amachucada.
Pedia depois para me estender a seu lado, com o rabo virado para ele, Era tudo tão previsível! Costumava depois sussurrar “gostas? Gostas, huuum?” Quanto maior era a arremetida mais audível o seu cântico se tornava. A sua voz, quando chegava a este ponto tornava – se dominadora. Era este o meu sinal. Era o sinal de que tudo estava prestes a terminar. Eu habituara – me também, então, a gemer ao seu ritmo afim de acelerar o processo, movendo o meu rabo ao mesmo tempo e cada vez mais. André dava depois um grande suspiro de alívio, embora na realidade nunca ejectasse líquido. A sua recente operação inibia – o. A missão estava cumprida e nalguns minutos estava vestido, deixava o dinheiro em cima do meu banco de ginástica, despedia – se e ia – se embora.
Pedro, o outro cliente que contactara para Marilyn, era um cavalheiro realmente encantador, usava o cabelo, brilhante e prateado, penteado para trás; devia rondar a casa dos setenta. Exprimia – se num inglês puro e com sotaque aristocrático. O seu nível desta língua era notável. Trabalhara no estrangeiro durante muitos anos da sua já longa vida e durante os nossos muitos encontros, era seu hábito tratar – me por “Senhora Cardiff.” O aspecto rechonchudo de Pedro era sempre bem disfarçado num fato e terminava com um par de brilhantes sapatos pretos. A camisa era sempre abotoada no pescoço com uma gravata cuidadosamente colocada.
Referia – me a ele como o “velho” Pedro para o diferençar dos muitos que tinha. Nunca tirava as cuecas. Penso que a idade não o autorizava a ter uma erecção. O seu objectivo era dar – me prazer a mim e só a mim. Era também seu hábito fazer – se sempre acompanhar de um a bisnaga de gel lubrificante e se esquecia dela no carro, umas vezes por outras, tinha de pôr tudo em suspenso enquanto a ia buscar.
Nunca lhe vi o pénis. Seria naturalmente difícil com as suas cuecas que não largava. Tirava a camisa e a gravata e sentava – se na beira da cama à espera que me despisse enquanto me lisonjeava com bonitos comentários.
Gentil e lentamente, começava a sugar – me os peitos logo que acabava de me deitar a seu lado, enchendo então o outrora silencioso aposento com o som do seu chupar. Enquanto o fazia, pegava no gel e colocava um pouco no seu dedo. Depois, movia lentamente a mão para baixo e colocava o pedacinho no meu clítoris antes de espalhar o frio creme a toda a volta, para cima e para baixo, desde o clítoris até à minha abertura vaginal. Os momentos eram tão delicados e vagarosos que me estimulavam juntamente com o gel cuja sensação era já de si suficiente!
Nalgumas ocasiões atingia o clímax juntamente com Pedro. Era como se fosse uma obrigação, como se não pudesse enganá – lo. Conhecia muito bem o corpo feminino e certamente não ia acabar a não ser que soubesse que me tinha vindo. Possuía um objectivo… dar – me prazer. Era como provar a si mesmo que ainda tinha potencial. Que ainda era um homem. Que ainda podia fazê – lo.
Recordo – me de estar com Pedro naquela cama só em corpo enquanto o meu espírito vagueava e se enchia de cenários eróticos de maneira a poder conferir – me o seu desejo e o clímax. No fim de contas era esse o objectivo de Pedro.
Marilyn recebeu o seu primeiro freguês naquela tarde. Era o André. Estava muito nervosa e precisamente antes da campainha da porta soar acabava de lhe descrever a rigorosa rotina de André.
A campainha soou. Chegava. Marilyn ficou paralisada na sala de estar durante uns breves segundos, perguntando o que diabo iria fazer com ele.
“Vamos, Marilyn. Fazes o que sempre costumas fazer”, acrescentei.
Não teve tempo de me dar resposta. André já se encontrava na porta da frente do apartamento. Ela abriu – lha, saudou – o e André portou – se como habitualmente, foi directo para o quarto de dormir. Marilyn olhava para mim, sentada na sala de estar, mordia os lábios, arranhava a cara e lá foi a juntar – se a André.
Os minutos começaram a desfilar e um silêncio total preenchia o aposento. Tudo se passava no vazio. Meia hora se escoou e ainda não havia sinais de vida. Estava a achar o caso estranho já que a rotina de André nunca ocupara mais de doze minutos do meu tempo; três para se despir, três para fumar o seu cigarro, três para me voltar de lado e atingir o clímax e três para se vestir e ir – se embora. Mas que diabo se estava a passar? Pensei e sossegando – me ao mesmo tempo já que André era simpática e inofensivo.
Tinha passado precisamente uma hora quando Marilyn abriu a porta da alcova. André dirigiu – se para o quarto de banho enquanto ela esperava para o acompanhar à porta. Depois foi para a sala de estar com um sorriso estampado no rosto.
Estava desmesuradamente satisfeita e quando lhe perguntei porque é que tinha os olhos marejados de lágrimas replicou:
“Diana, vim – me. Acreditas? Só agora vejo quão grosso é o meu namorado na cama. O alma do diabo trata – me pior do que um animal e só se interessa por ele. Este é que é um homem, Diana. Um homem na verdadeira acepção da palavra! Gentil, um verdadeiro cavalheiro! Tratou – me com afecto”.
Enquanto falava, comecei a pensar bastante confusa como é que o tal namorado devia ser, naturalmente sem nenhum préstimo, e quão carecida tinha Marilyn permanecido todo este tempo. No final de contas, se a sua experiência com André era algo de excitante…
Sentimo – nos aliviadas, tudo ia muito bem e antes de Marilyn se aprontar para ir embora para casa, puxou pelo dinheiro da renda e colocou – mo em cima das mesa da sala de jantar. Peguei nele e coloquei – lho nas mãos. Recusei – me a recebê – lo e disse – lhe que o primeiro dia era de graça. Continuava teimosa mas consegui convencê – la a usá – lo para comprar leite à mãe.
No dia seguinte era a vez do velho Pedro visitar Marilyn. Agora Marilyn estava mais descontraída e poupou – me aos pormenores.
O seu anúncio saíra no jornal naquela mesma manhã e quando ela e Pedro acabaram começou a atender as chamadas depois de lhe ter dado algumas breves instruções de como se comportar. Para seu horror, uma das primeiras que recebeu era do namorado! Ficou pior do que estragada e desligou antes que ele se apercebesse quem era.
Passou o resto do dia a amaldiçoá – lo, mesmo sabendo do seu comportamento habitual. Não era nenhuma novidade. Isabel começou então a contar como é que um dia se apaixonara por uma stripper do Leste Europeu. Deixou – a só para retomar o relacionamento anterior quando a outra regressou ao seu país. Fiquei a saber que era um relacionamento anormal que tinha entre mãos mas também naquele momento senti que Marilyn estava a fazer aquilo não só por dinheiro mas decerto também para provar que era capaz de o fazer. Para ela era a confirmação de que possuía ainda a mesma das outras mulheres.
A idade dela constava nos anúncios e ambas estávamos surpreendidas com a quantidade de chamadas de jovens que recebia. Achei isso bizarro, mas era verdade. No entanto, Marilyn tinha um problema; perdia clientes devido ao seu comportamento ao telefone. Em lugar de ser breve na conversa, pelo contrário passava mais de quinze minutos a tagarelar com os potenciais clientes.
Um jovem que costumava telefonar – lhe todos os dias e, perante a minha incredibilidade, quando eventualmente a convidou para um copo, ela aceitou. Depois de desligar, comecei a repreendê – la.
Eu e Marilyn chegamos a um acordo, que me pagaria uma renda mas não poderia fazê – lo se mal recebia clientes. Tinha – a autorizado os primeiros dias para a ajudar e começou a tirar partido da situação.
Embora passasse a maior parte do seu tempo a lamentar – se da situação financeira, os problemas de relacionamento tomaram conta dela. Alguns dias nem chegava a ligar o telefone e naqueles que o fazia era como se andasse à procura de homens para conversar em vez de o fazer para trabalhar. Comecei a sentir – me usada e cada vez mais zangada na medida em que perdi muitas marcações devido aos clientes de que estava à espera à mesma hora.
Passadas algumas semanas, cobrei ânimo para falar com ela. Não tinha alternativa, andava a fazer de mim parva e a bomba dentro de mim estava prestes a explodir. Disse – lhe exactamente o que sentia e que preferia pôr um ponto final nisso. De resto, passara para ela alguns dos meus clientes e não estava a receber nada em troca. Em vez disso, estava a perder dinheiro e a minha situação era pior do que a dela.
Marilyn respeitava tudo quanto lhe dissesse. Sabia que tinha toda a razão. Conseguimos maneira de continuarmos boas amigas e apoiávamo – nos mutuamente nas nossas longas conversas quando estava à espera de clientes.
Partilhámos muitos segredos e discussões e compreendíamo – nos e respeitávamo – nos reciprocamente. Éramos cúmplices. Chegámos a reunir – nos com as nossas famílias guardando o nosso segredo a chave e cadeado. Ganhei uma boa amiga, uma amiga que alguns meses depois recebeu uma oferta de professora no Sul que lhe ia conferir a estabilidade financeira de outrora. Mas a minha luta continuava.
CAPÍTULO 23
O período natalício tinha deixado a situação económica de toda a gente pior do que nunca e os dias começaram a passar muito lentamente. Os telefonemas eram mais raros e a certa altura fui forçada a sair e comprar o jornal para ver se o meu anúncio tinha sido colocado. Tinha de mudar de estratégia. Só devido aos meus regulares continuava a ter trabalho.
Marilyn tinha passado por ali uma tarde para me fazer companhia e comecei a contar – lhe o que se passara com Romano e como e porque o tinha banido algumas semanas atrás. Expliquei – lhe como me sentia mal por não ter compreendido porque reagi da maneira como o fiz.
Este pensamento já me obcecava pois que detestava deixar correr as coisas ambiguamente ou sem explicações. Todavia fiquei surpreendida com os sentimentos de culpa e por alguns momentos comecei a lembrar – me o que Romano frequentemente me sugeria que devia fazer: subir o preço.
Disse a Marilyn que ia tentar com a classe média mais rica. E assim fiz. Coloquei um anúncio num jornal diferente que subia o preço para evitar chamadas desnecessárias.
Para ser agradável, os meus regulares, por outro lado continuavam com os preços habituais. Dali para diante alguns novos visitantes seriam debitados pela nova tarifa. Triplicara os meus preços e naquele mesmo dia saí a comprar um telefone diferente afim de receber chamadas dos potenciais clientes “caros.”
No dia seguinte tentei fazer um esforço em relação a esta nova categoria de clientes pensando que não poderia abrir a porta sem melhorar a maquilhagem. Depois, os telefonemas iriam começar. Ao responder ao telefone, a primeira coisa que ia perguntar era se a pessoa estava inteirada da nova tabela citada no anúncio. Era assim a minha maneira de poupar tempo ao telefone. É, na verdade, interessante que nas escassas ocasiões em que não fiz esta pergunta ao interlocutor, e quando no fim perguntavam o custo da parada, achavam muito caro.
A despeito da diferença de custos, o processo global era o rotineiro menos o facto de os clientes não serem restritos a trinta minutos (embora costumasse passar mais tempo a falar com os meus regulares) mas passavam a usufruir de uma hora. Sexo era igual para todos. Quer fosse ministro, doutor ou meramente desempregado, o sexo não diferia embora achasse que a maioria destes sujeitos eram mais indecentes, mais vaidosos do que os outros. Alguns deles utilizavam linguagem vulgar, especialmente aqueles que usufruíam de posições superiores.
Os mais jovens estavam por via de regra envolvidos em medicina. Raramente viam as esposas devido ao seu longo horário de trabalho e a maior parte deles dava a impressão de que eram casados com mulheres que partilhavam carreiras similares bem como o status social. Um dos homens no início da década dos trinta que viria a ser um regular, disse – me que aguentava o casamento por causa dos congressos:
“É bom chegar a estes encontros acompanhado de uma mulher pertencente à mesma actividade.”
Não dava para acreditar ou, na verdade, era eu que não podia. Isto é, só porque tinham meia dúzia de congressos por ano, suportavam um casamento sem significado algum que não lhes dava felicidade nem satisfação o que implicava para muitos encontrarem -se a visitar prostitutas.
Nos intervalos entre clientes, continuava a convidar Marilyn para me manter entretida embora metade do tempo costumasse distrair – se com cartas de taró. A certa altura encontrava – me deveras preocupada na medida em que consultava as cartas por dá cá aquela palha e tomava as respostas como verdade irrefutável conduzindo por vezes a situações negativas extremas. Parecia que as cartas haviam assumido o controle da sua vida e passaram a dominar -lhe cada movimento ou acção.
A outra metade do tempo passávamo – la a rir e a brincar a respeito das minhas experiências com os clientes. Mas um deles não era motivo para risota. O modo como banira Romano cada vez me preocupava mais. Marilyn costumava lançar as cartas para consulta e depois insistia que eu apenas me sentia culpada porque o que acontecera fora nem mais nem menos por me sentir atraída por ele. Isto constituía novidade para mim.
À medida que os dias iam passando continuava a insistir que eu tinha sentimentos em relação a romano. Discordava por via de regra e insistia que era devido ao que ficara em aberto.
Certo dia quando voltou à sua teima veio – me à ideia aquela noite em que Romano fez amor comigo. Concentrei – me uns momentos a recordar e revivi na carne os sentimentos que me havia transmitido. Marilyn continuava a falar enquanto eu mergulhava nas minhas reminiscências. Saí da minha quimera e principiei a ouvi – la na medida em que continuava a falar. Naquele momento visualizei a validade daquilo que dizia. Podia, de facto, ser verdade aquilo que ela estava para ali a arengar? Considerei em voz alta.
Cada vez que pensava em Romano lembrava os momentos em que ele estava a falar para mim e em breve dei comigo a pensar nele cada vez com mais frequência. Era como se estivesse a pensar em mim e não o pudesse sacudir da cabeça. Era com se me atraísse por qualquer espécie de telepatia e se estivesse tornando desagradavelmente incontrolável. Contudo, o sentimento de culpa prevaleceu. Tinha de fazer alguma coisa. No mínimo desanuviar o ambiente e torná – lo conhecedor das minhas acções passadas, dar – lhe satisfações afim de explicar a minha atitude prévia. Assim, havia de me sentir melhor e mais leve. A minha rectidão de carácter não precisaria de continuar a carregar o fardo.
Algumas semanas se passaram desde a discussão com Romano e não podia esperar mais tempo. Ganhei coragem e decidi enviar – lhe uma mensagem escrita. Quando ia executar o plano lembrei – me que já não tinha o número, tinha – o apagado cheia de raiva.
Procurei no arquivo de mensagens a ver se o podia recuperar numa das suas mensagens passadas. Lembrei – me dos quatro primeiro números do seu telefone e encontrei uma mensagem que os mostrou. Rapidamente coloquei uma adenda na e enviei – a.
Alguns minutos depois recebi uma chamada do mesmo número. Não era ele! Era o número de qualquer outra pessoa. Avisei – os do engano e desliguei. “Talvez fosse isso mesmo que eu desejava que acontecesse. Talvez não quisesse contactar mais o Romano”, pensei de mim para mim.
Precisamente quando julgava toda a esperança perdida, lembrei – me de vasculhar no meu telefone antigo. Tinha sido forçada a mudar de telefone devido à sua irrealidade de datas arquivadas. Era estranho, sempre que desligava costumava recuperar o antigo data do passado. Peguei no telefone e liguei – o. Bolas! Também ali havia apagado o número de Romano. Procurei na memória das mensagens, nas chamadas falhadas, nas marcadas, e nas recebidas mas nada. Inopinadamente o telefone pregou uma das suas velhas partidas e desligou. Para meu assombro, ao voltar a liga – lo, o data havia sido reposto. Lá estava o número do Romano! Durante horas pensei que não queria dizer que fosse mas, afinal de contas, até era!
Durante muito tempo estive a pensar até que acabei por encontrar a mensagem certa para lhe enviar. Estava ainda apreensiva na medida em o processo global de recuperação tinha sido bizarro! Rabisquei algumas linhas a dizer que esperava que tudo estivesse bem com ele. Para minha surpresa recebi resposta dentro de alguns minutos.
Estava receosa de abrir o texto, já que me sentia insegura em relação ao modo como iria reagir. Por tudo quanto sabia podia ter dito que me lixasse e não me dar hipótese alguma de explicação pelas minhas acções passadas. Quando finalmente abri foi deveras consolador aquilo que li,
“Estou bem, obrigado. Encantado por ter notícias tuas!”
Sentia como se ele tivesse estado em cada momento esperando para ver quando é que finalmente chegaria uma mensagem. Estava feliz, na medida em que a resposta tinha diminuído a minha tensão. Fiquei aliviada ao pensar que, se um dia o calhasse a encontrar teria a oportunidade de me explicar em lugar de apanhar só o reverso da medalha.
Na noite seguinte Romano escreveu – me uma mensagem a perguntar se estava ocupada. Era a maneira de saber se podia reservar. Infelizmente, nessa noite estava ocupada.
No dia seguinte, escreveu uma similar. Não tinha compromisso e respondi convidando – o.
Era uma situação complicada. A princípio, nem eu nem Romano falámos sobre o passado. Actuámos como se nada tivesse acontecido embora uma sensação estranha enchesse o aposento. Numa tentativa de quebrar o gelo disse – lhe que estava a escrever um novo livro. Peguei no meu computador portátil que se encontrava num dos lados da cama e mostrei – lhe extractos do texto que já escrevera, especialmente a parte que lhe dizia respeito que continha o nosso envolvimento e as razões da minha reacção.
Estava demasiado embaraçada para lhe mostrar o resto da informação, principalmente as cenas detalhadas envolvendo outros clientes. Romano estava sem palavras ao ler aquilo que eu escrevera. Olhou para mim sem saber exactamente o que dizer. Colocou a cabeça e disse:
“Não percebeste nada. Apanhaste tudo mal na parte que me diz respeito.”
A Segunda-feira seguinte foi um excelente dia de trabalho. Todos os meus clientes eram do meu novo anúncio e recebi também algumas boas gorjetas. O meu último cliente daquela noite foi Juan. Este moço possuía vários negócios, muitos deles envolvendo turismo e, a sua cultura geral era muito elevado. Era um homem de aparência débil e baixo. Fiquei surpreendida quando me disse que tinha sessenta e cinco anos. Não parecia ter nem mais um dia do que cinquenta.
A princípio Juan não se sentia à vontade. Talvez esperasse encontrar uma secretária de sapatos de salto alto em vez de uma franganota de olhar selvagem? Passado pouco tempo, no entanto, após a minha breve apresentação sentiu – se mais confortável, mais descontraído.
Logo que nos despimos, deitámo – nos na cama lado a lado. Ficou encantado com a minha aparência e estava constantemente a elogiar – me enquanto me acariciava à volta dos mamilos com movimentos suaves. Definitivamente sentia - se mais confortavelmente instalado agora e arranjou a coragem necessária para conduzir a minha mão ao peito dele enquanto fechava os olhos. Conduziu os meus dedos para os seus mamilos e pediu – me para pressionar. Pressionei – os com gentileza enquanto lhe beijava suavemente o peito de maneira a não o magoar.
Começou a gemer num elevado tom de voz, solicitando – me que pressionasse um pouco mais até que começou a pedir – me cada vez mais que pressionasse cada vez com mais força. Quanto mais pressionava, mais ele pedia que apertasse mais. Obedeci e continuei a fazer – lhe a vontade até ao ponto em que já não conseguia compreender como é que aguentava a dor. A certa altura apertei com quanta força tinha e todo aquele corpo franzino ficou chocado ao mesmo tempo que gritava e atingia o clímax.
Juan permaneceu de olhos fechados por algum tempo. Fiquei aliviada por ter chegado ao fim. Quando, finalmente, os seus olhos se abriram, estavam cheios de profunda satisfação e a sua expressão era de alegria. Acendendo o seu cigarro, regressou ao homem que tinha passado pela porta da rua. Eram cerca de dez e dez da noite quando saiu.
Passados alguns minutos sobre a partida de Juan, Romano contactou – me para ver se podia reservar. Achei estranho que tivesse ligado precisamente quando Juan se estava a ir embora. Era como se estivesse lá fora a espreitar. Achei isto muito estranho e ainda mais esquisito na medida em que nunca apareceu à Segunda – feira. Disse – lhe que podia vir.
A energia entre mim e Romano veio de novo à superfície naquela noite. Ele era o mesmo e, contudo, muito diferente. Continuou por algumas horas e discutimos diversos assuntos como de costume. Um dos tópicos de conversa foram os quatro dias de viagem de negócios que ele ia empreender no dia seguinte.
Quando estava para se ir embora, meteu a mão no bolso para retirar o dinheiro de pagamento. Disse – lhe para parar:
“Não quero o teu dinheiro. Tive um dia excelente. A sério, fica com ele”, disse. Olhou – me receoso com uma expressão extremamente confusa e, após alguns momentos, perguntou se estava louca pois que não havia dúvidas que ia pagar. Deixou o dinheiro e despediu – se.
Estava determinada a devolver o dinheiro a Romano e no dia seguinte envie – lhe uma mensagem pedindo – lhe o número dos sapatos. Totalmente surpreso perguntou – me qual a razão. Não respondi mas fui sair
e comprei – lhe um par de patins e estojo com o dinheiro que ele deixara na noite anterior. Pensei que seria uma grande ideia para Romano juntar – se a nós a patinar nos fins-de-semana.
Romano regressou da sua viagem de negócios na Quinta-feira seguinte. Na Sexta ligou – me a fazer uma reserva. Já tinha planos mas sugeri – lhe para se juntar a nós na patinagem na tarde seguinte. Utilizando a desculpa mais óbvia, respondeu que não podia, dado não ter patins. A minha resposta não se fez esperar dizendo – lhe que não era desculpa válida porque eu lhe havia comprado um par com o dinheiro deixado na sua última visita. Ficou se m saber o que dizer.
Romano estava nervoso com a aventura mas compareceu no nosso local de patinagem habitual à hora combinada. Ambos nos sentimos um pouco estranhos. Romano era extremamente tímido e eu não me encontrava no meu habitual à vontade perante os meus amigos.
Em poucas horas decidi arrumar os patins e ir – me embora de modo a que pudesse voltar aos meus telefones. Romano decidiu ir na mesma altura. Despedimo – nos e, em seguida, tomámos cada um o seu caminho.
Naquela mesma noite Romano ligou a perguntar se estava livre. Naquele momento não estava mas arranjou – se um buraco para a sua marcação para dali a bocado.
Quando Romano chegou, portámo – nos como autênticos estranhos sem sabermos de facto o que fazer. E onde nos metermos.
Dirigi – me logo para o quarto seguida de Romano. Estava tão nervosa que até me esqueci de lhe oferecer um whisky como fazia habitualmente e, assim, ele perguntou se podia ir servir – se a ele mesmo.
Romano regressou com o pouco habitual tríplice. Estava demasiado contrafeito e roçava – se a mim. Deitámo – nos ambos em cima da cama completamente vestidos, conversámos durante um bocado como era nossa rotina. Toda a conversa girou à volta da tarde de patinagem. Nem eu nem Romano conseguimos trazer ao âmbito da conversa mais coisa nenhuma na medida em que tanto eu como ele nos sentíamos intimidados em relação aquela situação.
Passadas algumas horas estava tudo na mesma. Pela primeira vez Romano não chegou ao ponto de perguntar “Vamos a isso?” como habitualmente fazia. E temia esse momento que nunca chegou a aparecer.
A certo altura começámos a rir – nos histericamente ao lembrar – mo – nos de como ele foi de encontro a um carro quando andava a patinar. Quando as risadas desapareceram, os nosso olhos encontraram – se e permaneceram focados até que o nosso riso esmoreceu totalmente. Pus os olhos em Romano que olhava fixamente para a vela que habitualmente tinha colocado à nossa frente no chão. O meu estômago estava pejado de uma sensação indescritível prestes a explodir. Era uma espécie de mistura de adrenalina, precisamente o que havia sentido com o meu ex namorado. Quanto mais sentia que me não era permitido beijá – lo, tanto mais sentia uma grande urgência em perpetua – lo. Romano permanecia no seu silêncio enquanto prosseguia a minha batalha interior. O paladar imaginário da sua saliva provocava-me aquela sensação incontrolável que, cada vez mais húmida, me levava a ansiar pelo caminho em que queria atingir o clímax. Passado um longo segundo, não resisti, voltei – me para Romano e comecei a beijá – lo. Ambos cedemos à tentação e ficámos ali até altas horas.
Algo tinha acontecido. Ambos o sabíamos. Quando Romano se foi embora não fez qualquer tentativa de deixar dinheiro. Sabíamos os dois que algo tinha começado.
CAPÍTULO 24
O nosso primeiro beijo marcou o começo de um novo relacionamento. Nunca quis considerar Romano como cliente ou mesmo lembrar – me que tinha sido um para esse género. Anteriormente nunca saltara para a cama com namorados na minha segunda ou terceira vez e embora tenha dormido com Romano centenas de vezes recusei – me a fazer sexo com ele durante a primeira semana do nosso relacionamento. É que não estava na minha natureza e era algo que, apesar da minha profissão, tinha permanecido intacto.
O meu último cliente desse dia já se tinha ido embora e Romano veio para o pé de mim, tal como havia feito nos sete dias anteriores.
Enquanto estávamos estendidos na cama a ouvir música de jaz, a olhar para a vela, lembrei – me da noite em que Romano fizera amor comigo. Ao idealizar a cena ao rubro, o meu desejo começou a arder por dentro.
Romano beijou – me e, então, foi impossível conter – me por mais tempo. Não pude aguentar a luxúria, o desejo, a paixão que me queimavam interiormente. A paixão estava a encher a minha vagina com o anseio de ser penetrada e dominada e cada vez me senti mais como uma virgem, mas desta vez era diferente. Pensava – me virgem com Romano. Era a nossa primeira vez desde que nos namorávamos.
Lado a lado no leito, lentamente, começo a desapertar-lhe as calças. O suor começou logo a mostrar – se ante a perspectiva do que estava prestes a desenrolar – se. A mão de Romano tomou o seu lugar na minha vulva humedecida instantaneamente. Desviei – lha, já que a sensação era demasiada e estava quase a vir – me. Precisava primeiro de o sentir dentro de mim mas igualmente precisava tempo. Havia algo que faltava. Era ele dentro do meu corpo.
Romano sabia que era chegada a altura de se pôr em mim. Logo que entrou não pude mais conter – me. Olhei – o nos olhos e atingi o clímax. Mais uns escassos segundos e ele veio – se também. Os sentimentos eram na verdade demasiado poderosos.
Seguiram – se as primeiras semanas de uma camaradagem maravilhosa. Recusámos – nos a admitir fosse o que fosses afim de não deteriorar a nossa ilusão da realidade e tentámos, tanto quanto nos foi possível, ser um casal normal. Procurámos esquecer a minha profissão e concentrámo – nos no nosso desfrute mútuo e em fazer coisas que os casais fazem quando estão apaixonados.
Algumas semanas depois eram os nossos dias de aniversário e celebrámos ambos com uma viagem para o Sul. Férias fantásticas na realidade mas, o pensamento de gozar à custa de perdas de trabalho criaram – me sentimentos de culpa. A minha posição interdizia -me de gozar tais momentos. No final de contas era preciso trabalhar para o dinheiro aparecer.
Regressada a casa, senti – me angustiada e comecei a conjecturar o que é que de facto me aborrecia. Durante as nossas férias recebera várias chamadas no meu telefone privado de clientes regulares e só o pensamento de perder todo aquele trabalho pôs – me a cabeça a andar à roda. De todas as vezes que respondi a uma chamada, o Romano sentiu a minha mudança de humor.
Inúmeras ocasiões me surgiram em que propôs uma contribuição mensal para me ajudar, mas rapidamente chegou à conclusão que eram apenas estúpidas sugestões logo que compreendeu com evidência que eu não aceitaria e, para além disso, contrariava – me só o facto de me sugerir tal coisa. Pensava agora, depois de ter sido um cliente durante nove meses e de prestar atenção às minhas infindáveis histórias, que devia conhecer – me melhor e, por conseguinte, compreender descabidas tais propostas.
Com o tempo comecei a achar aquele retrato que idealizara de Romano feito de material e cores erradas e que a minha avaliação não era de modo nenhum exacta. Embora no passado Romano tivesse discutido jogos financeiros e de poder, o que é certo é que também lutava para resolver problemas. Aquilo por que lutava não era a posição em que no presente se encontrava, mas por aquela posição de que me falou, de muito mais valor. Na realidade enfrentava dívidas sem fim que tinha ao Estado por ter comprado uma companhia na banca rota alguns anos atrás. Por detrás desta confiante fachada encontrava – se um homem cheio de problemas que escolhera sofrer em silêncio.
A crise económica estava a deteriorar – se a um ponto tal que todos nós estávamos a pensar que só podia piorar. Os clientes eram raros e embora aparecessem regulares, faziam – no menos periodicamente. Quando o faziam, todos tinham as mesmas histórias tristes para contar. Os que trabalhavam por conta própria queixavam – se do deplorável estado da economia e os compradores é que suportavam as facturas dos clientes.
A depressão era cada vez pior e chegava a todos. Fui ficando cada vez mais frustrada e senti – me ainda mais prisioneira na medida em que não via luz no fundo do túnel. A escuridão não desmerecia.
Havia um ano que começara a trabalhar e o meu plano inicial tinha sido por um período de cinco meses. Se este ritmo se mantivesse teria de trabalhar mais oito extra perfazendo o total de quase dois anos, ou um ano e meio mais do que traçara na minha primeira estratégia. Em realidade precisava escapar e largar esta profissão. Afectava – me já a vida toda mas, e principalmente o meu relacionamento.
Durante este período de depressão, passei o meu tempo sozinha a olhar fixamente o céu da janela do meu quarto a contar e a baptizar a variedade e a forma das nuvens que passavam na sua caminhada. O meu tempo livre era de tal modo que nem mesmo Marilyn podia preencher os espaços vazios que a falta de trabalho providenciava.
As chamadas dos clientes eram bastante poucas e nos intervalos de espera ocupava o tempo a pensar, a analisar e a acumular pensamentos negativos. A maior parte deles era dedicada ao meu relacionamento e especialmente a pensar como é que Romano se atrevia a estar comigo e a amar – me. Como podia aceitar o facto de ter dormido com todos aqueles homens? Como poderia ele aceitar algo que eu nunca aceitaria do meu namorado? Seria na realidade possível que alguém me pudesse amar sinceramente sendo eu uma prostituta? Estes pensamentos tinham – se habituado a ocupar – me o espírito.
Um dia em que as minhas “dores de cabeça”, como eu lhe chamava, eram mais acentuadas, foram notadas por Romano quando se encontrava no meu apartamento e eu atendia os meus clientes. Isto confundiu – me mais do que posso explicar. Fez – me sentir usada por ele, como se, fossem quais fossem os meus problemas, isso não o incomodasse nem lhe fizesse diferença alguma. Cada avaliação que fazia respondia – me com uma conclusão negativa. Tinha de conversar com ele acerca disso. Não sabia exactamente como mas tinha de fazê – lo. Não podia conter esta bomba por mais tempo. Estava prestes a explodir. Tinha de me abrir rapidamente.
Romano percebeu o que eu queria dizer quando afinal resolvi abrir – me. Explicou – me então que desejava passar comigo os seus tempos livres já que tinha premonições que auguravam que algo poderia acontecer – me, que o perigo rondava a minha porta. Compreendeu, no entanto, o meu ponto de vista e dali para o futuro aparecia pouco enquanto eu atendia clientes.
Numa noite de Sábado, Romano encontrava – se sentado na bacia do banheiro como era seu costume enquanto eu tomava banho. Era a minha rotina no fim do atendimento de cada cliente. Era como um ritual de purificação.
Fomos interrompidos por uma chamada. Foi o meu telefone fixo que tocou. Estendeu – mo e atendi. Uma voz cava de sotaque africano soou do outro lado. Embora bastante ousado, o homem gaguejava e dava erros simultaneamente. Como é que um homem que aparentava nem sequer ter concluído metade do liceu se atrevia a responder ao meu anúncio tão dispendioso? Perguntei – me.
Sou anti – racista de todo mas havia algo que estava errado. Contudo concordei em aceitá – lo e dei – lhe uma hora e um local de encontro pedindo – lhe para me ligar uma hora mais tarde de modo a poder guiá – lo para ao apartamento do meu edifício.
Romano olhou para mim quando desliguei e perguntou – me o que é que não batia certo. Não pude explicar mas havia alguma coisa de estranho com este indivíduo sem saber bem o quê. Romano sugeriu – me que evitasse recebê – lo, mas não podia permitir – me perder trabalho.
Perguntei ao Romano se poderia aguardar na sala de espera enquanto o atendia. Estava incomodado com a ideia desde a nossa última conversa não se abstendo de dizer que depois virar – me - ia provavelmente contra ele.
Após insistir acabou por concordar, perguntou a hora da chegada do homem e sem demora foi à procura de um DVD para se entreter no quarto de hóspedes.
Enquanto me vestia, o telefone soou. Era o mesmo indivíduo. Agora estava mesmo mais aflita já que tinha pedido para demorar trinta minutos mas não dez minutos depois! O homem estava já no local de encontro. Desculpei – me e pedi – lhe para telefonar dentro de trinta minutos.
Passados vinte telefonou outra vez mas Romano não tinha ainda chegado. Disse – lhe então a minha morada mas não lhe dei o número da porta e então telefonei ao Romano rapidamente afim de o avisar de que o homem estava a chegar. Romano já se encontrava no elevador quando telefonei e entrou rapidamente, pegou no Napoleão e levou – o com ele para a sala de estar. O homem ligou poucos minutos depois da chegada de Romano. Eu indiquei – lhe o caminho para o meu edifício e, em seguida, para o meu andar. Abri a porta a um homem negro, alto, com pelos menos vinte anos de idade, tranquilo, tímido e de físico débil.
Disse educadamente “olá” e pedi – lhe para entrar. Seguiu – me através do corredor até ao quarto e começou a dizer – me que não estava à espera de encontrar alguém como eu em vez de uma mulher gorda feia. Olhei para ele, sorri, pedindo – lhe para pagar antecipadamente na medida em que tivera um acidente com um rapaz que fugira sem me pagar enquanto eu estava a tomar banho.
Estivemos para ali deitados muito tempo e a conversar. Perguntei – lhe o que fazia na vida tal como perguntava a toda a gente como tópico de conversa. Nessa altura notei que tinha uma cicatriz no pé esquerdo. Deixei – o continuar antes de lhe perguntar como tinha arranjado a cicatriz.
“Sou jogador de futebol. Chamo – me Ben. Jogo num dos melhores clubes do país…os vermelhos.” Bem, de facto jogo na equipe B.
Acreditei. Em primeiro lugar não percebia absolutamente nada de futebol, depois este moço parecia desmiolado e da minha experiência anterior com jogadores de futebol, eram todos iguais. Continuou por ali fora e às tantas começou a descrever a história da cicatriz.”Vês esta cicatriz? Bem, quase que dei cabo da minha vida. Tinha um pé ferido. A equipe de futebol arranjou – me o melhor médico da Europa Conseguimos salvá – lo e conseguimos salvar a minha carreira. Foi o que se chama um final feliz.”
Não sabia o que dizer. No fim de contas era uma história triste que acabara bem.
Comecei a roçar – me no corpo franzino de Ben. O seu corpo era vigoroso mas de uma amplitude menor do que aquela que eu esperava ver num jogador de futebol. O tempo passava. Tudo aquilo em que podia pensar era no Romano ali ao lado. Era tempo de acabar com o assunto.
Pus – me em cima de Ben e continuei a roçar – me. Coloquei – me na ponta do seu pénis, ergui – me nas pernas e comecei a mover – me para baixo e para cima. Era esta uma a posição que os punha normalmente malucos. Era a minha melhor opção para acabar com aquilo que já não era sem tempo. Não resultou. Testámos todas as posições. Havia algo que estava errado. Começava a sentir – me dorida porque o preservativo já estava seco e estava a tornar – se intolerável. Tudo o que Ben perguntava era se podia passar cá a noite. Macacos me mordam se eu passava assim uma noite inteira. De resto, Romano estava ali ao lado. Não havia mesmo hipótese.
Achei estranho o seu comportamento mas tentava convencer – me de que, sendo futebolista, tinha vigor natural. Olhei para ele e encontrei rapidamente uma desculpa para sair durante alguns segundos afim de me dirigir ao quarto de hóspedes perguntar ao Romano se se importava que passasse mais ma hora com Ben.
“Mas com certeza, não há problema. Ainda faltam quarenta minutos para acabar o filme”, disse.
Voltei para Ben que não fez qualquer comentário acerca do que tinha ficado no quarto. Não se mexera. Nu, em cima da cama de pernas estendidas e cruzadas, de olhar fixo para diante, tal como o tinha deixado.
Quando me juntei a ele começou a falar de prostitutas e de escândalos passados envolvendo jogadores famosos e prostitutas que, há alguns anos atrás, marcavam os encontros por telefone.
“Tinha sido um escândalo enorme. Primeiro bateram nas raparigas e, depois, violaram – nas. Eram realmente maus rapazes. Não queres acreditar?”
Regressámos ao trabalho e uma outra hora se passou com as mesmas actividades tal como de início. Ben não conseguira ainda o clímax. Voltei – me de lado exausta, e disse que tinha de parar pois que marcara encontro com um amigo às treze horas.
“Vá lá. passa a noite comigo. Concorda lá.”
Por várias vezes tentou convencer – me a concordar em ficar mas eu, pelo contrário, insistia em terminar e sentei – me na berma da cama de cabeça baixa.
Ben dirigiu – se para as suas roupas que se encontravam na parte anterior do banco de ginástica. Mal eu o tinha pensado e já me fechava a porta na cara. Antes que pudesse olhar para cima senti qualquer coisa na minha cabeça e ouvi:
“Não te mexas. Não te mexas ou rebento – te com o estupor da cabeça! Estás a ouvir, minha cabra?”
“O quê, o que é que estás tu para aí a fazer? Deixa – te de merdas.”
Mas não estava a brincar. Estava paralisada, confusa e insensível. Não tinha a mínima ideia de como reagir. No ano passado havia – me confrontado com tanta coisa que já nada me surpreendia. Corpo e alma tinham ficado imunes, violados!
O meu primeiro reflexo fora levantar – me e sair porta fora.
“Onde é que pensas que vais minha cabra?” Disse calmamente e comprimiu – me contra a parede paralisando – me os sentidos por momentos.
Repentinamente cheguei à conclusão de que precisava de uma estratégia. Não era só eu que me estava em perigo mas era também o Romano e ele não fazia a mínima ideia da situação em que eu me encontrava. Estava tudo tão sossegado. Tudo se estava a passar no meio de um doloroso e negro silêncio. Mas precisava de encontrar um modo discreto de avisar Romano; era a minha primeira prioridade e necessitava de uma solução imediata. Tinha de lhe dar a entender o que se estava a passar antes que fosse demasiado tarde para ambos. Rezava para que pudesse arquitectar algum ardil, alguma coisa.
Não podia permitir que Ben se apercebesse que havia mais alguém no apartamento. Podia baralhá – lo e então haveria poucas probabilidades de salvação. Como diabo iria resolver o problema? Os meus breves momentos de lucidez permitiam – me recordar a minha claustrofobia. Veio – me ao pensamento que estava ali fechada num quarto e comecei a sentir a minha respiração, o meu oxigénio violado numa ampola sufocante. Comecei a bater em Ben e a gritar apavorada:
“Abre essa janela! Abre a merda da janela” enquanto me dirigia para ela. Empurrou – me para trás, para o local inicial e avisou – me de que atiraria.
“Por favor acaba com isto. Estou a ficar assustada. Acaba com esta porcaria já!”, disse em voz alta de modo que Romano pudesse ouvir e perceber que algo se passava e viesse preparado.
Fora a primeira vez que determinada estratégia se pusera em prática. Uma desculpa para falar alto sem que Ben pensasse que eu estava a avisar alguém do que se estava a passar.
Romano ouviu nitidamente. Já tinha ouvido alguns barulhos que lhe haviam chamada a atenção e estava alerta. Repentinamente ouvi a voz de Romano:
“Está tudo bem por aí?” Disse alto e bom som.
“Não! Não e está tudo bem”, disse ao mesmo tempo que me lembrava que Ben não percebia uma palavra de Inglês.
Antes que eu e Ben nos apercebêssemos, Romano empurrou a porta. Ben estava encostado à parte direita da porta detrás da parede. Romano não fazia a mínima ideia do que estava prestes a ver.
Quando cruzo a porta viu – me nua a olhar fixamente para Ben. Ben não se encontrava ainda sob o seu ângulo de visibilidade. Eu estava em pânico. Não fazia a mínima ideia se a arma estava carregada ou qual seria a reacção de Romano. Romano deu um passo em frente e olhou para a direita. Ficou paralisado por momentos com aquilo que via, Ben ali de pé com uma arma apontada para ele. Antes que tivesse tempo para pensar, Romano gritou:
“Mas o que é isso? Que diabo pensas que estás a fazer? Que raio de estupidez estás a fazer à minha namorada?”
Romano dirigiu – se para Ben e agarrou – lhe na arma. Ben surpreso e sem reacção permaneceu calmo e silencioso enquanto o outro verificava se estava carregada. Eu não me fiz esperar e corri para o quarto de hóspedes para soltar o cão que correu para o quarto e foi direito a Ben. Parei – a precisamente a tempo.
Imediatamente me lembrei da minha arma e corri para fora do quarto mais uma vez. O meu cão postou – se ao lado de Romano e permaneceu lá até que entrei de novo com a minha 0.22. Dei a arma a Romano e deixei – o a argumentar com Ben enquanto chamava um dos meus clientes, Pedro para me ajudar. Se alguém sabia o que fazer e rapidamente, esse alguém era ele. Se chamasse a polícia teria muita sorte se lá aparecesse dentro de uma hora.
Para meu alívio Pedro respondeu. Eram cerca de uma e trinta da manhã. Expliquei o que se havia passado e ele disse para ter calma. Estava a chegar socorro.
Romano continuava a argumentar com Ben. Entretanto remexia em todos os bolsos de Ben à procura de dinheiro para queimar tempo para completar as minhas duas horas combinadas. Depois perguntou – me se podia deixá – lo ir embora. Disse – lhe que não.
Fechei o corredor à chave de modo a que Ben não pudesse tentar escapulir – se e mandei Napoleão ficar por perto. Eu e Romano estávamos ainda convencidos de que era um jogador de futebol e de algum modo comecei a falar para ele acerca de advogados.
“Seu bandido de merda. Não sabes com quem te estás a meter. Vou buscar o meu spray para te obrigar a sair. Vais lamentar o ocorrido, principalmente quando o meu advogado saltar em cima de ti.”
A polícia chegou à minha porta dentro de minutos e eu abri – a para me deparar com quatro agentes armados. Alguns outros aguardavam lá fora. Levaram – me para a sala de estar para ouvir a minha história antes de conduzirem Ben para o meu quarto afim de ser interrogado. Para minha surpresa Ben admitiu tudo mas insistia que tinha feito aquilo por razões relacionadas com “feitiçaria”. A polícia levou – o.
No dia seguinte eu e Romano éramos chamados a prestar declarações na esquadra de polícia local. Tive sorte de que a lei vigente não considerasse prostituição ilegal. Também não era legal para uma coisa dessas e talvez fosse essa a razão porque Ben pensava que podia escapar sem castigo.
Contudo, eu estava na fronteira e não havia infringido a lei. Após fazermos o nosso depoimento, o oficial de polícia informou – nos de que tínhamos tido muita sorte. O assim chamado “Ben” estava a cumprir uma longa sentença de prisão por assalto à mão armada e violação. Tinha sido posto em liberdade por bom comportamento no dia anterior à visita que me fizera. Na noite precedente tinha surpreendido um outro casal de arma na mão, roubados os seus haveres, bem como o automóvel.
“Tive muita sorte em Romano estar comigo naquela noite porque se lá não estivesse nem faço a mínima ideia de qual o rumo que as coisas teriam levado.”
CAPÍTULO 25
O episódio do “assalto” fez – me chegar à conclusão de que tinha de largar rapidamente aquela profissão. Romano pediu – me para lhe dar um par de chaves suplentes por razões de segurança. O plano consistia em lhe enviar uma mensagem escrita sempre que fosse aceitar um novo cliente. Um período de vinte minutos seria estipulado para os clientes que pagassem menos e uma hora para os que pagassem mais. Se não respondesse às suas chamadas telefónicas após aquele período, devia ter por certo que eu estava com problemas e, portanto, actuava.
O trabalho estava – se a tornar cada vez mais escasso. Toda a gente se queixava e eu estava a senti – lo muito mais do que nunca. A certa altura comecei a ficar paranóica e pensei que os meus regulares tinham fugido para outras raparigas. Não era o caso. Contactei todos os que conhecia e que estavam relacionados com casas de passe ou com mulheres a trabalhar individualmente. A situação era igualmente deprimente para toda a gente.
Tinha ainda cheques para pagar diariamente no banco e lutava para continuar a fazê – lo. O meu orçamento não se realizou como planeado. Havia cheques pré – datados para liquidar a minha dívida sob a ilusão de que seria capaz de fazê – lo. A minha lista não era de modo nenhum o objectivo.
Romano também se debatia com uma situação semelhante. Às vezes fazia o impossível para arranjar dinheiro para me ajudar. Contudo, guardava os problemas dele para si pois não queria carregar – me com mais nada e, por sua vez, sofria em silêncio.
Quanto a mim, ia sempre alargando os períodos de contemplação das nuvens a partir da janela do meu quarto, alimentando e forjando pensamentos negativos. As minhas dores de cabeça eram activas e doíam. As minhas análises estavam no máximo. Cada pedacinho de informação, cada momento que Romano correspondia ou falhava, encontrava – se sob a mira do meu microscópio. O microscópio encontrava – se agora mais focado do que nunca e nem sequer uma bactéria na sua lâmina poderia deixar de ser examinada, podia deixar de ser varrida. Se tivesse vendido a minha aparelhagem a tempo poderia ter feito uma pequena fortuna.
Até agora nunca fora a casa de Romano e nem sequer lhe conhecia o cheiro. Nunca me havia convidado e todo o nosso tempo era passado em minha. Vivia na área e a ideia de não ser bem vinda em casa dele frustrava – me. Podia compreender a razão porque não era convidada mas não a podia aceitar. Tinha receio que alguém do seu prédio me reconhecesse, que alguém soubesse da minha profissão. Era um homem de negócios e consequentemente tinha muito a perder se mexericasse a seu respeito. Além disso estava – me a comer viva e o facto de ser sincero acerca das suas razões adicionava sal às minhas feridas. Tudo o que desejava ouvir era a verdade. Não importava que fosse dolorosa, era a verdade o lugar de um conjunto de desculpas sem fim. Porque me estaria tomando por estúpida?
Os pais eram outro grande tópico de investigação e não escapavam à poderosa lente de que o microscópio era constituído. Nunca me tinha encontrado com eles embora desde o princípio tivesse insistido em visitar os meus. Romano deu – me pura e simplesmente uma infindável colecção de desculpas contendo as razões porque não devia conhecê – los. “Não vale a pena”, costumava dizer, “São irrelevantes para mim”. Deve ter pensado que eu era burra, já que sabia da relevância do Pai no que lhe dizia respeito e a sua ocupação no dia a dia.
Mais uma vez Romano era temeroso. Sabia que nada poderia acontecer e alguém poderia descobrir o que eu fazia. Não queria de modo nenhum encontrar – se numa posição em que tivesse de escolher entre mim e eles. Mais uma vez me senti extremamente magoada e aborrecida. Porque é que este homem não me podia dizer a verdade? Porque me estava ele tomando por idiota?
Nos intervalos dos meus períodos de “transe” respondia mesmo a um número menor de chamadas e nunca perdia uma oportunidade de atender clientes regulares.
Numa sexta – feira à tarde um dos telefonemas prendeu – me a atenção. A minha cabeça ainda se encontrava a trabalhar de vez em quando no incidente que envolveu a arma. Precisava de continuar a confiar na minha intuição que me levava a sentir que qualquer coisa não batia certo com o cliente que estava para aparecer à minha porta pela primeira vez.
Telefonei ao Romano e disse – lho. Mas aconteceu que naquela tarde se tinha ausentado para um encontro de negócios e se encontrava já a uns duzentos quilómetros de distância. Comecei a explicar que um cliente com entoação londrina me tinha ligado. Romano sugeriu que não atendesse o cliente mas a minha situação financeira não permitia tal escolha.
Romano tomou todas as precauções e recordou – me que tinha um determinado período para estar com este cliente e que não podia violar o tempo estipulado. Se não respondesse ao telefonema ele havia de arranjar uma maneira de modo a que alguém batesse à minha porta. Senti – me mais segura. Ganhei coragem e o novo cliente chegou.
Era um homem que possuía um olhar muito intenso com um metro e sessenta e três de altura com cabelo e pele bem tratados. Vestia de preto e usava uma comprida camisa branca caindo – lhe asseadamente por sobre as calças. Tudo da melhor qualidade e corte e contudo acentuadamente simples. Tinha poucos anéis nas mãos mas os que tinha eram de valiosa platina e, a completar o quadro, usava uma longa corrente de platina. O seu estilo não dava para o incluir em nenhuma das minhas categorias. Era o que se chama sui generis.
“Olá querida. Eu sou o Cristóvão. Bom, não estava à espera de encontrar alguém como tu aqui, amor” disse no seu sotaque londrino.
Enquanto falava dava também uma volta pela sala de estar. As fotografias pendentes na parede chamaram – lhe também a atenção.
“Uau, estás magnífica, não estás Querida?” Disse ao mesmo tempo que olhava para mim com uma expressão convencida.
Sentámo – nos na minha sala de estar. Senti – me estranhamente bem com este personagem e perguntei – lhe se queria tomar alguma coisa ao mesmo tempo que me dirigia para a cozinha.
Voltei com a bebida e sentei – me no sofá que se encontrava do lado oposto e estivemos ali a conversar pelo período de pelo menos meia hora antes de nos dirigirmos para o quarto.
Quando chegámos finalmente ao quarto demorei pouco tempo a despir – me na medida em que o tempo estava agora a escassear.
“És de facto formidável, não és amor? Olha para o teu corpo! Mas então o que faz uma jovem como tu por estas paragens?” Perguntou.
Os meus nervos não deixaram que expusesse todo o “ritual” da explicação usual com um novo cliente antes mesmo de lhe dar oportunidade de passar a soleira da porta! Mas tinha-me entusiasmado com este personagem que se encontrava na minha frente. Talvez fosse porque me estava a contar as suas milhentas aventuras fascinantes que havia experimentado através do mundo nas suas viagens.
Cristóvão mandou – me ficar de pé na sua frente durante um pedaço com as costas voltadas para a janela. Nessa altura as persianas estavam semi – cerradas permitido aos quentes raios de sol passar através delas. Parecia em êxtase a olhar para mim. Deu – se conta de que eu me tinha apercebido e quebrou o silêncio perguntando se podia fumar um cigarro de marijuana.
Começou a queimar a haxixe e a enrolar o tabaco. Durante uns breves momentos o silêncio foi novamente total enquanto se concentrava em enrolar a sua obra de arte. Na parte que me toca eu mergulhava já na introspecção da minha alma que sentira a falta destes doces mas também amargos efeitos destas pequenas escapadelas a que damos o nome de drogas.
Regressei em silêncio para encontrar Cristóvão na última etapa do seu projecto. O cigarro estava pronto e quando ia a acendê – lo olhou para mim e perguntou – me se alguma vez fumara haxixe. Respondi – lhe que houve um tempo em que costumava fazê – lo mas que agora preferia não voltar mais a esse vício. Para ali ficou com um enorme olhar de contentamento à medida que inalava as suas primeiras fumaças.
Comecei a explicar que fumara em algumas ocasiões omitindo o facto de que na verdade tinha fumado em períodos alternados durante um bom par de anos.
Durante um breve período quedei – me a focar os meus pensamentos, a analisar o negrume em que fizera a viagem de ida e volta ao inferno da coca. A noite em que cheguei à conclusão de que, fosse qual fosse a droga inalada, pesada ou leve tinha sempre grande quantidade de efeitos colaterais, alguns imediatos, outros a longo termo. Lembrei – me de regressar às minhas poucas experiências do início com a haxixe e não deixei de visualizar aquela primeira e infeliz paranóia que se seguiu logo a seguir. Basicamente compreendi todo o mundo da droga e estava suficientemente apta a ver que não tanto o agora mas é sim o dia de amanhã que temos de enfrentar com cuidado.
Cristóvão deteve – se alguns momentos a apreciar as suas primeiras e profundas fumaças que inalava. Estava agora muito mais descontraído e uma expressão de prazer inundava – lhe a face.
Colei – me mais a ele e começou a tocar – me o rabo vagarosamente perguntando se gostava, enquanto o fazia.
“É, de facto, uma vergonha ter de ir a uma reunião daqui a pouco. O que eu adorava era abrir essas pernas em cima daquela mesa da sala de jantar. Querida. Isto é, abri – las em toda a acepção da palavra”, disse.
Enquanto dizia isto, Cristóvão abriu – me as pernas quando eu estava com o meu rabo voltado para cima. Então colocou um dedo entre as minhas nádegas a que as minhas pernas abertas permitiram livre acesso. Os seus dedos começaram a dirigir – se para as minhas costas deixando uma marca electrizante no percurso traçado, calcorreando o caminho na direcção do meu pescoço. Mal o atingira, voltou – me encostando – me ao seu peito como para me abrigar, possuindo todo o poder e domínio num movimento carinhoso.
“Tudo bem, querida? Não consigo tirar partido suficiente de ti, Querida.”, Inquiriu ao mesmo tempo que me voltava de costas e me abria as pernas muito devagarinho antes de colocar o seu bem tonificado corpo em cima de mim e penetrar na minha vagina. Cada passo que efectuava era lento, muito lento, mesmo numa deliberada tentativa de devorar cada segundo e cada movimento.
Cristóvão encontrava – se ali para sentir amor e prazer. Não estava definitivamente ali para “despejar” e depois de derramar os seus sentimentos com os seus movimentos acabasse por atingir o clímax naquela posição.
Eu tinha agora a experiência para analisar os homens e as suas necessidades. Criara as minhas próprias categorias de classificar homens e determinar as suas razões para visitar estes lugares. Conhecia o motivo porque Cristóvão visitava mulheres como eu. Cristóvão carecia de alguma coisa e era simplesmente amor e afecto. Precisava de sentir a ternura de outro corpo, de alguém que o acarinhasse e pudesse retribuir – lhe aquilo que ele dava. Necessitava sentir a meiguice tanto como o oxigénio que respirava. Queria ter a certeza de que a minha análise estava certa e comecei por isso a mergulhar discretamente na sua alma.
Antes de ter oportunidade de o interrogar, desculpou – se por ter atingido o clímax tão rapidamente assegurando – me que essa ocorrência era rara. Confortei – o dizendo – lhe que era tolice, que não fora assim tão depressa. De facto, era a verdade. Estava dentro da média.
“Cristóvão, está tudo bem? Pareces em baixo. Parece que tens alguma coisa em mente. A propósito, porque diabo é que alguém como tu se encontra a visitar lugares como este?”, perguntei como por acaso.
“Não sei, Querida. Talvez porque as coisas não vão lá muito bem entre mim e a minha mulher.”
Para o fazer sentir – se mais à vontade falei – lhe de Romano e quão mal me sentia em ter – me permitido um envolvimento numa altura destas da minha vida. A situação não permitia tal arrojo e estava a ser cada vez mais frustrante.
Cristóvão acabou por se abrir tal como eu havia planeado e falou – me do seu antigo amor pela esposa e como actualmente o tinha atraiçoado; não com outro homem mas com outra coisa qualquer de que se sentia muito incomodado para falar nisso. Deve de ter sido de facto mau na medida em que Cristóvão já não tinha a certeza se ainda a amava.
Quando lhe perguntei porque é que continuava com ela, disse que realmente não sabia, mas que a principal razão eram as crianças.
A conversa não era nenhuma surpresa. Já tinha ouvido tudo isso antes e estava mais que familiarizada com a situação; as pessoas preferiam estar presas a vínculos infelizes pala conveniência do todo. Alguns eram demasiado fracos para se escaparem e perdiam – se em desculpas; Cristóvão era um deles, mas era humano e precisava desesperadamente de afecto.
Olhou para o relógio e apercebeu – se de que atrasado estava, vestiu – se rapidamente e foi – se embora.
Passadas algumas horas chegou Romano. Antes que pudéssemos pôr a discutir os acontecimentos do dia, o meu telefone tocou de novo. Era Cristóvão a perguntar se podia fazer nova marcação. Romano foi-se outra vez embora e aprontei – me para receber Cristóvão.
Cristóvão tinha várias casas espalhadas pela Europa. Uma delas encontrava – se a cinco minutos de automóvel do meu apartamento. Era esta casa que a esposa utilizava como residência principal. Encontrava – se lá quando me telefonou e dali a um pedaço estava de regresso à soleira da minha porta.
Cristóvão estava muito mais à vontade e descontraído desta vez e andava pelo meu apartamento como se fosse o seu. Talvez alguns copos que bebeu ao jantar o tivessem descontraído?
Desta vez nem chegámos a ir para o quanto. Cristóvão disse logo o que queria sem papas na língua. Queria continuar o que tinha estado a descrever naquela mesma tarde e sem proferir uma única palavra empurrou – me suavemente para a frente na direcção da mesa.
Estava de jeans e sapatos de salto alto e uma camisola sem mangas muito justinha a definir – me o peito. Um espelho enorme estava dependurado mesmo atrás apanhando três quartos do aposento à luz da vela. Enquanto me inclinava para a mesa, Cristóvão podia apreciar cada movimento meu no espelho à frente dele.
Abriu o fecho das calças, primeiro as dele e depois as minhas sem alterar no mínimo as nossas posições e antes que eu me tivesse apercebido, senti um pénis forte a entrar – me pela vagina dentro obrigando a mover – me ligeiramente pala a frente afim de tentar sentir menos pressão. Cristóvão deu conta de que me tinha mexido um milímetro e puxou – me para trás. Queria – me fazer conhecedora que era ele que estava no comando, que dominava a situação, que era nem mais nem menos o propósito do seu prazer, e só, absolutamente sem mais nada a acrescentar!
Ainda com o pénis dentro de mim, parou por um segundo e gentilmente abriu – me as pernas, continuando a separá – las até que estivessem tão abertas de modo que lhe sentisse o pénis ainda com mais força, marcando ainda maior presença. Não dei pela conta, mas Cristóvão tinha acabado de atingir o clímax muito rapidamente mas continuava a actuar até que o pénis deixou de fica erecto. O álcool estava a tomar conta dele.
Em escassos segundos Cristóvão perguntou numa voz ensonada, pedrada e extremamente vagarosa se tinha uma bebida.
Quando voltei da cozinha com a sua bebida encontrei Cristóvão a olhar para as minhas fotografias outra vez. Estas fotografias tinham sido tiradas alguns anos antes e pertenciam a duas colecções tiradas por dois fotógrafos diferentes. Ambos os fotógrafos me tinham parado na rua e perguntado se me deixava fotografar. Um queria fotografias para a sua carteira o outro para uma competição organizada por uma revista internacional. Cristóvão ficou fascinado com elas e sugeriu que eu devia fazer trabalhos como modelo.
Fiquei silenciosa por um pedaço e esqueci a voz de Cristóvão para me concentrar na minha alma. A verdade é que, naturalmente, nunca pensara em fazer qualquer trabalho como modelo antes e havia declinado propostas feitas por esses fotógrafos. Agora, no entanto, tinha de fazer alguma coisa dado estar tão desesperada. As experiências dos poucos anos passados tinham talhado o seu curso através de qualquer material concreto. Esse alguma coisa era uma pequena parte de mim, vibrações e todos os seis sentidos incluídos mas não havia dúvida de que os tempos eram difíceis.
A situação económica enfrentada actualmente pelo país tornava – os mais difíceis ainda. A minha prioridade era deixar este episódio para trás e libertar – me rapidamente do inferno afim de aliviar corpo e alma e restabelecê – los totalmente antes que fosse demasiado tarde. Não podia partilhá – los por muito mais tempo. Não podia carregar com o peso de todas essas almas que me visitavam transportando algum tipo de problema, deixando para trás a sua negatividade grudar – se à minha personalidade. Eu já estava marcada e o dinheiro que nessa altura fazia não justificava o sacrifício.
Os violentos efeitos do conjunto estava a levar a melhor sobre o meu relacionamento o que era para mim mais do que evidente. O tempo que tinha que pensar e desenvolver mais “dores de cabeça” era sem dúvida contagiosamente doentio.
Fazia exactamente uma semana em que estivera pensando em soluções alternativas para fazer dinheiro, à janela do meu quarto. Considerava – me uma pessoa inteligente e tinha dado a ganhar muito dinheiro com as minhas ideias que distribuía aos meus amigos mas por outro lado sentia – me extraordinariamente estúpida por não ter sido capaz de eu própria ter posto algumas em prática.
Repentinamente o porno leve veio – e à ideia dado que me podia lembrar das reacções dos meus clientes quando viam as fotografias. Podia ser uma resposta ao meu auto questionar. Sabia que as coisas não eram assim tão simples mas havia algo a ajudar, não era? No mesmo instante, dado a mulher impulsiva que me caracteriza, peguei no telefone e liguei a um dos fotógrafos. A escolha entre os dois era fácil na medida em que um estava automaticamente eliminado por me ter chantageado no passado ao recusar-lhe qualquer espécie de relacionamento.
O fotógrafo estava de férias mas ficou encantado com a minha proposta sugerindo que fizéssemos uma sessão de fotografias quando regressasse três semanas mais tarde.
Naquele momento voltei ao Cristóvão e por qualquer razão estranha achei urgente contar – lhe o meu plano. Disse – lhe que os tempos corriam difíceis e que eram necessárias alternativas. Disse – lhe que iria tentar qualquer coisa e que contactara um fotógrafo para produzir um foto filme em semi – nu.
Cristóvão começou a fazer montes de perguntas no respeitante ao fotógrafo, principalmente acerca do seu nível de profissionalismo. Continuou:
“Desiste, amor! Eu trabalho com o que há de melhor no país. Posso arranjar uma equipe completa de profissionais para ti. Só depende de mim.”
Cristóvão era um dos melhores profissionais na sua área a nível mundial e tinha ganho reconhecimento como cabeleireiro profissional a trabalhar com um grupo top de celebridades. Deu a volta ao mundo a prepará – los para sessões de fotografia e filmes. Sabia exactamente o que era necessário e não perdeu tempo a telefonar ao seu amigo, o fotógrafo que ele considerava ser o melhor do país.
Eu e Cristóvão encontrávamo-nos absorvidos na conversa quando o telefone tocou. Era Romano. O meu tempo estipulado estava a chegar ao fim e expliquei a Cristóvão qual era o motivo.
“Tudo bem, querida, não precisas de explicar nada. A propósito, era esse o teu namorado que encontrei no elevador quando subia? Parecia – me ser um homem às direitas. Admiro – o por estar a teu lado. Chama – o para cima Querida”, sugeriu.
Não queria colocar Romano defronte a uma tal situação mas liguei – lhe e disse – lhe o que Cristóvão aventara. Como era de esperar, Romano hesitou e sentiu – se muito incomodado com tal convite perguntando – me se eu era maluca.
Levou alguns momentos mas finalmente consegui convencer Romano dizendo – lhe que precisava dele a meu lado e, assim, acabou por concordar.
Quando abri a porta a Romano deitou – me um olhar expressivamente rude que me partiu a alma. De modo nenhum se sentia à vontade com o embaraço da situação. Tentei permanecer positiva e absorver toda a energia negativa que ele estava a libertar.
Entrou na sala de estar. Cristóvão levantou – se e dirigiu – se a Romano para se apresentar.
“Não se preocupe” disse Cristóvão. “Eu sei por que é que ela está a fazer isto. Já me pôs a par da situação. Compreendo e, na verdade, respeito – vos muito a ambos.”
Fui buscar uma bebida a Romano afim de acalmá – lo e comecei a explicar – lhe toda a conversa na medida em que a sua opinião era tudo para mim.
Romano estava já ambientado e ia agora no seu segundo whisky. A atmosfera estava mais quente e o frio glacial já não dava azo a sentir – se em doses extremas.
“Oh meu Deus. Vejam que horas já são! De certeza que a minha mulher vai matar – me. Vá lá, rapazes, venham até à minha casa”, acrescentou.
Eu e Romano não dissemos uma palavra mas as nossas expressões traduziram tudo. Olhámos um para o outro, receosos e admirados, como para nos tranquilizar pensando que Cristóvão estava a brincar. Mas não pudemos porque Cristóvão repetiu o convite.
Acabámos por ir para casa de Cristóvão. Não tínhamos, de facto, a certeza se aquilo era ditado pelo álcool ou não mas o que é certo é que nos encontrámos em frente da sua porta.
Por um feliz acaso, quando chegámos a mulher e os dois filhos já estavam deitados. Dois dos seus primos encontravam – se sentados nos seus luxuosos sofás a ver filmes na sala de estar semi obscurecida e que era reflectido pelo luar que iluminava a piscina.
De vezes em quanto fazia algum comentário indirecto no que dizia respeito à minha profissão o que deixavam tanto Romano como Cristóvão paralisados e de corações acelerados. Todos estavam sobre brasas até que fui eu a sugerir que fôssemos até a um clube local.
Cristóvão não se juntou a nós mas aposto a minha vida em como ficou aliviado por ter acabado a situação. Por respeito para com Romano Cristóvão nuca mais voltou como cliente embora nos reuníssemos todos ocasionalmente. Cumpriu também a promessa de me apresentar ao fotógrafo e as datas para a sessão foram marcadas. Pedi alguns meses de prazo para pôr o meu corpo em melhor forma. Aqueles meses que se aproximavam far – me – iam mudar, mais uma vez, de direcção. No fim de contas acabei por não voltar a chamar o fotógrafo. No entanto, a partir deste dia ele telefona de vez em quando e pergunta se estou interessada em posar para isto ou aquilo. Nunca lhe dei uma resposta concreta. Pode ser que deixe isso em aberto para outro dia chuvoso.
CAPÍTULO 26
Durante as horas que referi como “espaços vazios”, se não me encontrava à janela de olhar fixo para o interior, para a minha alma, passava horas no meu computador portátil. Após cinco anos readquiri contacto com alguns dos meus melhores amigos da universidade, um dos quais era como uma irmã que se perdeu há muito tempo. Tínhamos muito em comum e através dos ecrãs começámos a escrever infindáveis e – mails.
Nos intervalos dos e – mails costumava calcorrear a net para o quê, nem sei. Numa tarde comecei a procurar medicinas alternativas por qualquer razão desconhecida. Talvez estivesse passando por um período hipocondríaco ou coisa parecida. Pois bem, mais longo que a menopausa, foi suficientemente bom para mim. A acupunctura chamou – me a atenção e comecei a investigar mais. Tinha um problema com a circulação do sangue e isso parecia – me uma excelente opção.
Durante os dias que se seguiram, os únicos tópicos de conversação que tinha com os meus clientes era acupunctura. Acupunctura isto, acupunctura aquilo. Estava à espera de resposta em que tinha referências respeitantes a um bom Médico.
Pois bem, um cliente meu, Francisco tinha sido tratado por ele com excelentes resultados. Disse – me que tinha ido ao mais conhecido médico de acupunctura Chinês no país. Certo, pensei. É àquele que me vou dirigir. Liguei – lhe para a clínica. Maldição, pensei quando me disseram que estava completamente marcado para os próximos três meses! Pedi à senhora para me informar de qualquer desistência e bem depressa ela o fez. Faltei uma tarde ao trabalho e viajei para norte para ver pessoalmente este homem sem ter a mínima ideia do porquê de não ir a nenhuma das muitas clínicas da área.
Cheguei lá numa tarde miserável. Chovia a cântaros e o vento soprava de rajada. Aguentei a tempestade desde o carro até à clínica mas quando cheguei à recepção verifiquei que não era um lugar dos mais encantadores. A recepcionista guardou silêncio quando entrei. Era um pinto a verter água e as minhas calças de ganga estavam cobertas de lama devido a um carro que passara. Sorri para toda a gente e rapidamente tomei lugar sentada à espera da minha vez.
Fui chamada quarenta e cinco minutos depois. Cumprimentei o Médico e sentei – me tal como me fora indicado e instruí – o acerca do meu problema. O médico sentou – se a olhar – me a boca, como se estivesse a tentar ler – me nos lábios, o que me levou a dizer:
“Desculpe, Doutor. O meu sotaque não é lá muito bom, eu sei.”
Mas até era. O que eu estava era a tentar dizer – lhe polidamente que não precisava ler – me os lábios. Não obstante continuou a fazê – lo.
O Doutor levantou – se da cadeira e andou uma meia-lua à volta da secretária. Deteve – se de pé à minha frente e começou a apalpar – me o pulso. Fez algumas perguntas e passados alguns segundos comecei a contar – lhe os meus traumas passados como se ele fosse um psicólogo. Depois pediu – me para me instalar na marquesa afim de me examinar o estômago.
Voltou à secretária e principiou a dizer – me que tinha um desequilíbrio nos rins. Receitou um tratamento e perguntou – me onde vivia antes de me informar de uma clínica mais próxima da minha casa.
Pegou depois num cartão e esteve a olhar para ele durante um bocado. A seguir começou a anotar rapidamente qualquer coisa e estendeu – mo depois.
“Diana, verá que pus aí o meu número de telefone do celular e o e – mail. Sempre que tenha problemas, contacte – me pessoalmente.”
Agradeci – lhe e saí.
Só quando voltei para o meu carro é que me ocorreu: porque diabo este médico me teria dado os seus números de telefone? Pensei. De qualquer maneira depressa comecei a pensar em melhores soluções e deixei – me de análises.
No dia seguinte dei – me conta de que o Doutor se havia esquecido de me dar uma informação vital, forçando – me assim a contactá – lo. Enviei – lhe um e – mail pedindo – lhe para clarificar a situação e passados alguns minutos recebi um telefonema dele.
“Olá Diana. Desculpe. Deve diluir as cinquenta gotas em água duas vezes por dia.”
“Olá Doutor. Muito obrigada. Por favor desculpe – me. Por vezes sou a pessoa mais tola que há.”
Era minha vez de actuar como estúpida sendo ao mesmo tempo maldosa. O médico sabia que eu não era maluca.
Informou – me então que ia abrir uma clínica na minha área no dia seguinte e perguntou – me se queria tomar um café com ele. Concordei e combinámos o local e o ponto de encontro.
Tudo começava a fazer sentido. Quero dizer que era conveniente ter omitido informação vital.
Na tarde seguinte, às duas horas voltou a telefonar – me como combinado. Dei – lhe os pormenores da minha direcção e meteu – os no computador do carro.
Em cinco minutos apresentou – se à minha porta numa “máquina” que fez paralisar os mirones da vizinhança. Vivia num área da classe média mais favorecida e não era habitual verem – se porsches nos estacionamentos das habitações mas este automóvel era um Mercedes de dois lugares feito de uma liga especial, última série. Só havia dois no país e este era um deles.
Desci as escadas para ir ao seu encontro e entrei para o carro quando me solicitou para o fazer. Pediu – me para o orientar para um café próximo do mar e, assim, sugeri – lhe o Marina na medida em que normalmente não era barulhento. Concordou e lá fomos em cruzeiro.
Chegámos ao Marina de descapotável. Toda a gente parou por uns momentos para admirar o carro. Todos os olhos estavam postos em nós. O Doutor deu uma volta afim de encontrar um lugar sossegado num dos pontos mortos. Apeámos – nos e fiquei de pé frente à amurada. Tudo o que podíamos ver daquele ângulo era o mar.
“Gosto disto. É um dos meus maiores prazeres. É mágico. Tem montes de energia”, disse ele.
Começámos a desenvolver energias. Depressa o café ficou esquecido e substituído por profunda conversa espiritual. Parecia compreeendermo – nos mutuamente. Ambos apreendíamos os nossos pontos de vista acerca de energias e de como o mundo é feito, o Yin e Yang. Tínhamos ambos trabalhado teorias, as nossas próprias teorias que pareciam geminar.
“Porque é que se esqueceu de me dar os pormenores da receita?” Perguntei.
“Não me esqueci. E você é muito inteligente. Conhece a razão.”
Olhei para ele como se não fizesse a mínima ideia do que estava a falar.
“Um dia há – de usar isso e utilize – o bem. Vai ser muito bem sucedida nos próximos anos”, acrescentou.
Fiquei calada durante um instante e a olhar o mar tranquilo. Se ao menos este sujeito soubesse a minha profissão. Se pelo menos adivinhasse. Pensei para mim. O Doutor interrompeu o momento para expressar o seu pensamento:
“Há qualquer coisa à volta da sua pessoa. Algo tão raro e simultaneamente tão forte. Quando se sentou em frente da minha secretária, cada palavra que proferiu… É realmente muito difícil encontrar pessoas com uma energia como a sua. O modo como fala, numa palavra, todo o conjunto. É raro. Nunca na minha vida fui confrontado com este tipo de hipnotismo.”
Comecei a lembrar – me de como o médico me olhava para a boca durante a consulta mas nada disse; mudei de assunto de conversa e mergulhei em directo na sua vida privada.
Era casado. Ia já no sexto enlace. Disse que estava a apaixonar – se constantemente. Chegados a este ponto rumei a conversa para o meu namorado, Romano, afim de evitar que começasse a ter ideias.
O tempo escasseava. Tinha um cliente às quatro e, por isso, pedi desculpa justificando que tinha um encontro às quatro horas e não tinha alternativa senão regressar.
Levou – me a casa e deixou – me no mesmo lugar em que me agarrara!
Durante os dias mais próximos o Doutor passou a telefonar – me sob o mínimo pretexto e falámos horas esquecidas. Muitos dos tópicos eram sobre confissões do seu passado que o perturbavam. A certa altura fiquei com receio por me estar a contar tanta coisa. Assuntos do seu foro pessoal vedados à própria mulher e aos mais íntimos amigos. Era deveras assustador para mim. Era como se fosse sua cúmplice.
Durante uma conversa acabou por dizer o quão desmesuradamente gostava de mim, o quanto desejava viver comigo. Romano foi também trazido à conversa. Lembrei – lhe outra vez o meu amor por Romano. A certa altura começou a fazer que não entendia. Eu disse-lhe sem mais reservas “Sou prostituta”. Não cheguei a analisar o seu pedido mas concordei em arranjar um dia e tempo.
Duas horas depois voltou a ligar.
“Olá Diana, sou eu outra vez. Podemos encontrar – nos hoje? Tenho algum tempo disponível antes da minha entrevista para a TV. É possível que vá antes agora do que na quinta – feira?”
“Mas com certeza que sim. Não tenho marcação nenhuma para essa hora.”
Mais uma vez o Doutor foi pontual. A sua atitude havia mudado e já não era a sua mais meiga atitude de falar. Depois de tudo o que fez já não precisava de jogar às escondidas. Estava excitado. Era como se fosse a primeira vez que ia tocar e examinar o corpo de uma mulher bem como brincar com ele.
Tinha pouco tempo. Tinha de estar no centro da cidade dentro de uma hora e o tráfico era sempre horrível. Quis que fôssemos directos para a cama. Assim, despimo – nos rapidamente.
Tinha um corpo esguio, demasiado para o meu gosto e muito bem musculado devido às artes marciais que praticava. Passados alguns segundos depois de se ter deitado na cama, o Doutor pôs – se em mim e olhou – me fixamente nos olhos enquanto me penetrava a vagina. Era como se estivesse tentando conectar – se com a minha alma. Talvez tivesse conseguido porque passados segundos após a penetração atingiu logo o clímax.
Parecia um pouco embaraçado. Era como se já não estivesse com uma mulher há cerca de um mês. Desculpou – se e pôs a culpa à sua falta de tempo. Aquela era original, pensei enquanto ele se continuava a vestir.
Poucos minutos haviam passado e deixara já a minha casa. Voltou a telefonar – me quando se dirigia para Baixa para me dizer que gostara muito de estar comigo pedindo de novo desculpa pela pressa e carregando as culpas na sua agenda.
Apesar de tudo, o doutor passou a telefonar – me cada vez menos. Talvez tivesse arranjado o que desejava? Ou talvez tivesse ficado demasiado embaraçado com o cenário? Uma coisa era certa, embora falando muito bem da esposa, não parecia ter uma vida sexual muito activa!
CAPÍTULO 27
Na semana seguinte recebi uma chamada de Londres. Era a Molly. Há meses que receava uma chamada dela. Era a última coisa que eu precisava. Só de pensar neste telefonema me dava vontade de vomitar. As coisas não corriam financeiramente como planeado, como todo o resto que se relacionasse. De modo nenhum os objectivos estavam a ser atingidos. Tudo era uma sombra mais negra do que anteriormente se imaginara.
Molly tinha – me emprestado uma grande quantidade de dinheiro. Pusera nas minhas mãos as poupanças da sua vida. E não era a primeira vez já que seis anos antes fizera exactamente o mesmo. O que me preocupava agora era o segundo empréstimo que me fez há dois anos. Já tinha sido alargado para muito mais do que o combinado, um ano. Dado ter compreendido a situação nunca me pressionou.
Todas as vezes que falara com ela ao telefone fiz – me forte na voz tentando fingir – me o mais optimista possível. Em várias ocasiões era essa, de facto, a verdade. Os clientes visitavam – me cada vez mais e as coisas corriam – me bem. Mas os planos foram desfeitos pela situação que o país atravessava.
Sabia exactamente porque é que a Molly estava a telefonar naquela tarde. Havíamos combinado ela vir visitar – me e ao mesmo tempo receber o dinheiro. Eu tinha razão. A viagem de que me tinha estado a falar para os próximos cinco meses estava próxima. Em realidade muito próxima mesmo. Na segunda – feira seguinte estaria aqui tal como me informou. “Ótimo”, repliquei – lhe fazendo uma voz corajosa.
Romano chegou a casa naquela noite e contei – lhe as notícias. Estava ainda muito aquém da quantia por saldar. Precisava rapidamente de uma estratégia. Não havia maneira, fizesse eu embora o impossível, de deixar esta mulher de mãos a abanar.
Antes de Romano chegar eu planeava já pedir a dois amigos para me emprestarem o dinheiro. Não estava, no entanto, optimista. Quem é que se sentiria seguro em emprestar dinheiro a alguém que se encontra numa situação como a minha? Antes de poder continuar a pensar, já estava a discutir este assunto com Romano. Manteve – se calado a ouvir. Não contava com a sua ajuda. Ele não podia. Não era de nenhum modo uma opção para mim.
Levei os meus problemas para a cama naquela noite e comecei a pensar positivo. Ia inquirir os dois amigos em que inicialmente pensara. Nunca me tinham deixado mal, porque haviam de fazê – lo agora? Auto convenci – me e fui dormir.
Na manhã seguinte Romano acordou, falou muito pouco e dirigiu – se para o trabalho. Passadas que eram algumas horas ligou – me a explicar que foi falar com o gerente do seu banco e conseguiu alargar o limite do cartão de crédito para muito próximo do valor da dívida. “Não é o total mas não falta muito”, disse.
“O quê? Fizeste isso por mim? Não o devias ter feito. Conheço a tua situação. Não podes”.
Romano tinha saído da sua rotina até ao impossível por mim, mais uma vez, e até hoje ainda lhe devo esse valor que se aproxima do salário mínimo médio anual.
Na véspera da chegada de Molly eu e Romano estávamos deitados na cama à luz da vela tal como fazíamos sempre ao princípio da noite. A vela esvai colocada num castiçal que por sua vez se encontrava em cima de um mini – frigorífico ao lado da minha cama. O frigorífico tinha espaço suficiente para guardar algumas mini garrafas ou latas de bebidas. Não era o lugar habitual para pôr a vela mas sim deixada a arder no soalho.
Adormeci, já que Romano era muito responsável. Era de admirar embora eu sentisse a urgência de lhe lembrar a vela. Infelizmente não lhe lembrei.
Estava profundamente adormecida quando Romano interrompeu.
“Levanta – te. Levanta – te imediatamente”, gritava.
Era o frigorífico. Era constituído por fibras de vidro e a vela tinha gotejado em cima dele tendo pegado fogo! As chamas estavam a ficar fora de controlo e quadruplicava a cada segundo que passava.
Enquanto Romano pensava e combatia as chamas, corri para o banheiro à procura de uma toalha molhada. Foi então que pensei na gravidade da actual situação. Os corredores estavam cheios de fumo espesso e pesado e as paredes já estavam a ficar sujas de fuligem. O ar continha um peso sufocante na medida em que se estava apoderando da reserva de oxigénio. Peguei na toalha molhada e regressei ao quarto.
“Aqui. Põe – na por cima do frigorífico. Rapidamente, vá põe – na por cima.”
Ainda não era suficiente pois que as chamas haviam quadruplicado. Durante aqueles momentos sabia que iria perder tudo o que tinha mas as nossas vidas eram mais importantes.
“Vamos embora daqui, romano. Que se lixe. Toca a andar.”
Corri para fora do quarto em direcção à porta da frente. Pensei que Romano se encontrava atrás de mim mas não estava. Não tinha escolha. Não o ia deixar ali. Não senhor! Voltei a correr para trás, dirigindo – me para o quarto afim de o ir buscar.
Com muito esforço Romano conseguira atirar com o frigorífico para a varanda. Apenas ficaram dentro do quarto pequenas ilhas de chamas no chão alimentadas por pedaços de material líquido e cera.
Romano continuava ainda na varanda a combater as chamas que se agarravam ao frigorífico mas depressa as apagámos com mais toalhas molhadas.
Romano ficou severamente queimado nos pés durante a ocorrência. Embrulhámo-los em panos de cozinha molhados e azeite na medida em que se recusou a ir ao hospital naquela noite.
Ambos agradecemos à nossa estrela da sorte que Romano tenha acordado naquela altura. Ambos agradecemos à nossa estrela da sorte que o frigorífico que se encontrava ao lado do nosso candeeiro da mesa-de-cabeceira não lhe tivesse pegado
fogo. Tinha um chapéu de papel com cerca de um metro e vinte, uma típica lâmpada chinesa. Nessa altura não haveria qualquer esperança. Seria um inferno. Teríamos sido queimados vivos com a cama em labaredas!
Por fim, tanto eu como o Romano, acalmámo – nos e tentámos dormir alguma coisa na bruma do quarto cheio de fumo.
Na manhã seguinte acordámos para ver a extensão do prejuízo que o episódio havia criado. Um canto inteiro do meu quarto tinha sido todo queimado. O chão tinha as suas próprias cicatrizes. Todo o apartamento se encontrava repleto de fuligem, que se pegava às paredes e ao nosso corpo. Nem queríamos acreditar na sorte que tivéramos e tentávamos ver o lado cómico da coisa. Começámos a comentar a vinda dos vizinhos para ver o que estava a acontecer já quando o fogo estava extinto. Nem sequer um se lembrou de trazer uma das muitas mangueiras de incêndio colocadas no corredor do edifício.
A dor apoquentava Romano. Desatámos as ligaduras do pé. A pele tinha explodido em borbulhas do tamanho de morangos maduros. Não havia alternativa a não ser ir ao hospital. Eu tinha de ficar pois tinha de andar trezentos quilómetros, afim de ir buscar a Molly ao aeroporto.
Faltavam três horas para a partida e passei – as a esfregar o chão do quarto. Esfregando e raspando afim de eliminar a obra de arte que tinha sido desenhada pelo fogo.
O quarto danificado era um dos mais importantes do apartamento. Era nesse quarto que trabalhava o santuário que me pagava os cheques. O outro quarto não era apropriando por causa dos muitos ecos que emanava. As camas eram barulhenta e uma exposição total à vizinhança.
Mesmo quando estava a partir para o aeroporto recebi uma chamada de Romano. Estava ligado e tinham – lhe dito que tinha tido muita sorte. Estava pronto para deixar o hospital.
“Vou passar o resto da tarde a descansar e portanto vou contigo” disse por fim.
Foram as melhores notícias do dia.
Ambos estávamos exaustos mas Romano insistiu em conduzir. Sabia que não me encontrava em forma para ser eu a conduzir. Sempre que movia o pé nos pedais eu sentia, com intensidade, a sua dor. Estava desarmada e não sabia o que dizer para o confortar.
O tópico de conversação durante a viagem foi acerca da sorte que tivemos. Mal nos apercebemos que estávamos a chegar ao aeroporto. Molly estava também à espera. Tinha aterrado havia quinze minutos.
Logo que me viu apercebeu – se que havia algo que não corria absolutamente nada bem. Tinha a cara ainda suja de fuligem. Comecei a explicar a história. Molly acabou por acrescentar que havia tido uma premonição na noite anterior de que alguma coisa iria correr mal. Calei – me durante um pedaço e comecei a consultar a minha alma. Tudo fazia sentido. Molly havia talvez fiado com medo de descobrir quando chegasse que partiria de mãos a abanar e o seu desespero para pagar ao advogado, uma enorme quantia legal, que atingira o cúmulo e lhe estava a dar conta dos nervos. A sua ansiedade podia ter contribuído para esta triste história mas permaneci silenciosa e não mencionei o meu raciocínio. No fim de contas como ia eu provar a minha análise? A maioria nem iria sequer compreender o meu raciocínio.
O estado de espírito de Molly durante o regresso era decerto estranho. Talvez fossem os nervos que lhe conferiam aquele sarcástico tom de voz. Mas Molly era como uma segunda mãe para mim e eu não mencionei nada do que pensava.
Molly continuou a fazer perguntas a Romano. Era a primeira vez que se viam. Romano estava extenuado mas respondia. Mudei de assunto por um breve intervalo e comecei a explicar a proposta que tinha recebido do fotógrafo. Molly não se encontrava bem disposta. Cada resposta era negativa e eu vi escaparem – se – me as minhas réstias de optimismo precisamente naquele troço de estrada. Não era o que eu queria ouvir naquele dia.
O encontro não tinha boas perspectivas para mim. Meses a fio, tinha consumido a minha paciência num perfeito inferno. Naquele momento até parecia que Molly estava a contribuir para isso. Não era suficientemente forte para resistir à prova. Encontrava – me tão fraca que estava a sugar toda aquela indesejável negatividade o que para alguém na minha posição era como tomar um remédio mortal.
Molly não era estranha ao que eu tinha estado a fazer. Foi ela uma das primeiras pessoas em quem confiei. Tinha – me visitado no ano anterior e observado como as coisas se passavam.
Sempre que tinha uma marcação ia dar um passeio para me evitar embaraços, embora fossem tempos diferentes. Rapidamente se deu conta de que os seus passeios eram em número muito menor e desta vez chegou depressa à conclusão de que o problema não residia em mim.
Durante o lapso de tempo que durou a sua visita, pus diversos anúncios no jornal para testar ainda melhor a situação no exterior e os resultados mostraram – se dramáticos. Não havia aumento de chamadas. Era um sinal dos tempos e não tinha agora alternativa senão fazer malabarismos com os meus preços. Tinha triplicado a parada para cento e cinquenta euros mas mantive o preço inicial para os clientes regulares. No entanto, agora tinha de aceitar o que vinha dependendo do anúncio a que se reportavam e se eram ou não novos clientes.
Nos primeiros dias da sua visita, ia já no sexto, Molly não teve coragem de discutir os seus reembolsos. Pressenti que estava receosa de o fazer temendo que a deixasse a ver navios e que não lhe arranjasse sequer um cêntimo. Com a ajuda de Romano e o pouco que eu tinha poupado a quantia quase que era totalizada. Mas tinha ainda de arranjar o que faltava para dar a conta certa.
Num dia ou coisa assim consegui reunir quanto pude. Estava quase mas não quase o suficiente. No entanto, comparada com muitas pessoas, fora uma façanha fazer aquele dinheiro aparecer. Era o desespero de muitas situações que tinham passado por mim durante os horríveis meses anteriores, a luta, a determinação, e o impossível.
Reuni – me com a Molly nessa manhã afim de discutir a situação. Senti na minha frente os seus nervos e os seus medos tornarem o ar pesado à nossa volta
Antes que empalidecesse ainda mais disse – lhe que não havia conseguido arranjar – lhe o dinheiro. Por alguma razão me tinha expressado mal. Em lugar de dizer “todo” eu disse “o”. Caiu – lhe o coração aos pés e o seu rosto, branco como a cal, assim permaneceu até eu rapidamente emendar sem lhe dar tempo para pensar uma resposta ou gritar ou pior ainda ter um ataque cardíaco: “Peço muita desculpa mas faltam – me dois mil e quinhentos euros.”Deu um enorme suspiro de alívio. Não era nada comparado com o que estava por saldar. Sorriu e disso:
“Está bem querida. Por breves instantes pensei…Está bem, paga – me depois quando puderes” acrescentou enquanto readquiria alguns sinais de vida.
Disse – lhe que se fizesse diferença sairia e havia de encontrá – lo. No fim de contas penso que ainda podia contar com aqueles dois amigos, embora evitasse fazê – lo. De facto não queria.
Alguns dias antes de Molly estar para se ir embora recebi uma chamada inquirindo acerca do meu anúncio barato. O homem fez uma marcação e, por isso, Romano e Molly foram dar um passeio de automóvel afim de não criarem embaraços.
O cliente chegou. Abri a porta a um homem super – pesado que enchia o corredor com o intenso cheiro de odor corporal. Tinha o cabelo loiro e muito oleado e usava – o em rabo-de-cavalo com atilho na base. A pele brilhava – lhe de transpiração. Tudo o que havia na personagem que tinha diante de mim estava longe de ser higiénico.
Não me alarguei em conversas e pedi – lhe para me seguir para o quarto. Resmungou o nome, que eu percebi ser Jorge. O que eu queria era tudo acabado e de modo nenhum estava interessada em o ganhar como regular. Ademais tinha as minhas dúvidas se este homem não era responsável por um certo número de chamadas mal intencionadas que havia recebido. Não o apertei com perguntas, não valia a pena mas a sua voz não me enganou.
Dormir com Jorge era uma das cenas mais repelentes que alguma vez experimentara. Durante o coito babava – se como um cão à espera do osso e, como se isso não bastasse, levou todo o tempo em que decorreu o acto a insultar – me gritando:
“Cabra! Sua grande cabra do inferno.”
A camisa de Vénus estava a ficar seca e a magoar – me enquanto ele não mostrava sinais de atingir o clímax.
O tempo passava. Romano havia de telefonar em breve. Disse a Jorge que tínhamos que terminar.
“Ainda não. Dá – me mais um minuto para eu me vir”, pediu.
Como não dava sinais de se vir, voltei a recordar – lhe o tempo mas começava agora a ficar zangado, pois que sabia que não estava a ser sincera. A atmosfera estava a ficar tensa e terrivelmente abafadiça. A minha ansiedade atingiu – lhe o estômago e o seu tom de voz mudou abruptamente:
“Eu disse mais um minuto! Está bem?” gritei.
Ele não podia disfarçar. Estava muito zangado e continuava a escumar e a babar – se mais do que nunca. Era revoltante e pela primeira vez eu estava com medo. Havia alguma coisa de errado com este homem pervertido. Peguei na minha toalha, corri para fora do quarto, agarrei no telefone e fingi fazer um telefonema.
“Está bem, dá – me dois minutos que ele está – se a ir embora”, gritei.
Não queria ligar ao Romano para o não apoquentar.
Quando voltei para o quarto para dizer a Jorge que se não estivesse fora durante os próximos minutos alguém estaria à porta a inquirir o que se está a passar. Jorge estava já meio vestido. O tom da sua voz voltou ao normal e não pareceu mais possesso. Pegou na camisa e dirigiu – se para a porta da frente com apenas dois dos seus botões abotoados.
Pensando na sorte que tivera em escapar à situação voltei para o quarto para me vestir. Estava demasiado enervada para ser capaz de ainda tomar um banho. Repentinamente lembrei – me do dinheiro que tinha deixado no meu sapato ao lado da cama. Fui buscá – lo e acabei por perceber que ele o apanhara enquanto estive ao telefone. Viu onde o pus e levou – o.
Foi aí que me apercebi que devia ser um dos velhos truques de Jorge. Provavelmente não podia dar – se ao luxo de visitar prostitutas principalmente com todas aquelas chamadas que indecentemente havia feito antes sem que fizesse uma única marcação.
Parece que as coisas lhe correram como planeara. Por outro lado, na parte que me toca fiquei aliviada com a sua partida.
Quando o Romano e a Molly regressaram sentia – me mais calma e decidi – me a dar uma rápida limpeza ao quarto afim de me certificar de que não teria posto o dinheiro em qualquer lado naquela confusão toda. Mas encontrei uma pulseira de ouro que pertencia a um cliente novo que me visitara nessa mesma tarde.
No dia seguinte, o senhor que a deixara telefonou e perguntou se podia dar uma saltada a buscar a pulseira. Eu disse:
“Oh meu Deus! Não vai decerto acreditar o que me aconteceu na noite passada… Fui roubada”
A voz do outro lado do telefone estava em silêncio. Ele deve ter pensado que eu estava a utilizar uma ridícula e fraca desculpa para lhe dizer que já não tinha a pulseira. Mas imediatamente o confortei dizendo – lhe que tinha tido muita sorte por Jorge não a ter descoberto quando se encontrava mesmo à beirinha da cama.
Se a tivesse visto e levado podia ter parecido coincidência e de tal modo improvável que eu teria sido culpada de roubar aquela valioso objecto que, de acordo com o dono, tinha mais valor sentimental do que material.
Estávamos na véspera da partida de Molly. Não recebi qualquer texto de mensagem de Romano durante toda a manhã. Havia algo que decerto estava errado! Enviava sempre uma dúzia à hora do almoço. Finalmente chamou.
“O maldito banco! Ainda não alargaram o meu limite de crédito. Estão a dizer que o processo vai ainda arrastar – se por alguns dias.”
Nem podia crer no que estava a ouvir. O meu espírito estava possesso de milhentos pensamentos negativos.
“Porque não me avisou mais cedo? Oh meu Deus. Não acredito que isto esteja a acontecer”, gritei.
Era demasiado tarde para fazer arranjos alternativos. Estava tramada e incapaz de digerir a situação.
Romano sentiu – se sem saber o que fazer e disse – me que me telefonaria dentro de dez minutos. Sabia que me tinha deixado muito em baixo e era demasiado tarde para tentar arranjar o dinheiro em qualquer outro lado. Tinha confiado nele e adquirido a certeza de que era assunto encerrado.
Romano voltou a telefonar como prometera. Tinha conversado pessoalmente com o gerente do banco e ameaçado suspender todo e qualquer negócio bem como conta pessoal com o banco, acrescentando que era um erro inaceitável.
O gerente acabara por concordar que isso era, de facto, completamente fora do normal e conseguiu uma alternativa; conceder – lhe o dinheiro até ao limite estipulado da sua conta. Era outra conta secreta.
No dia seguinte levámos Molly ao aeroporto. Desta vez a viagem foi diferente. Todos íamos calmos e descontraídos. A semana acabou alegremente. Era mais uma tarefa cumprida.
CAPÍTULO 28
Molly partira com mais uma preocupação. Muito embora eu tenha sido forçada a pedir mais dinheiro para lhe pagar, tinha de o fazer. Devia menos dinheiro do que inicialmente mas os meus problemas ainda continuavam. Durante os primeiros dias após a sua partida a sua ausência provocou vários espaços vazios e só as nuvens que visualizava da minha janela podiam preencher essas lacunas.
Nesse dia, um ex “caso” meu, Ricardo a quem tinha confessado o meu trabalho, surpreendeu – me por querer fazer uma marcação. Mendigos não podem escolher, pensei e, embora relutante não hesitei em aceitar.
Ricardo era alto e charmoso mas acima de tudo muito oco. De facto, nunca tinha visto ninguém tão fútil como ele. A vaidade governava a sua vida em tal medida que parecia ser doença psicológica. Se pentear o cabelo em cada cinco minutos e olhar – se no espelho de dois em dois minutos não chegasse, trazia consigo pasta dentífrica e escova de dentes com que limpava estes religiosamente na hora. Uma camisa e uma gravata suplentes costumavam andar pendentes no seu automóvel precisamente para obviar um caso como um toque de mosquito. Ricardo nunca dispensava as suas lentes verdes de contacto afim de disfarçar os olhos castanhos. Eu era uma das poucas pessoas a partilhar este segredo. Era vaidoso em toda a acepção da palavra. Era como se essa palavra tivesse sido inventada de propósito para ele.
Ricardo voltou a telefonar antes da hora combinada e perguntou se estava livre para tomarmos juntos um café. Aceitei e ainda vinte minutos não eram passados, estava a pôr – me ao corrente das últimas notícias na loja de café local. Tinha muito para dizer, naturalmente. Desde a gravidez da esposa até ao seu esplendoroso porche novinho em folha que parecia olhar para nós sorrindo através da janela.
Há anos que Ricardo vivia obcecado com a minha pessoa. Intrigava – o a minha personalidade ao ponto de imitar as minhas expressões, rir e falar. Era como se este homem tivesse uma personalidade completamente vazia e a quisesse desesperadamente encher escolhendo, para isso, a minha. Era um erro absolutamente crasso, pelo menos para mim. Podia ver através dele, embora pense ser uma opinião subjectiva.
Pura e simplesmente, era um carácter previsível. Repetia mentiras frequentemente de tal modo que acabava por pensá – las verdadeiras e era tudo uma consequência da sua indispensabilidade de impressionar os outros.
Olhando outra vez para o reluzente carro azul que nos deslumbrava da estrada disse ao Ricardo que as coisas deviam estar na maior para ele. Com uma risadinha infantil disse que tinha comprado finalmente o carro dos seus sonhos, corrigindo imediatamente o que dissera quando me viu a olhar para ele com aspecto enigmático.
Ricardo sentiu imediatamente necessidade de se corrigir pois sabia muito bem que o que se encontrava lá fora era o carro que eu estava em vias de adquirir antes de as coisas voltarem a piorar.
Convidara – me para um café para me esfregar as minhas feridas com sal, só que isso não aconteceu, especialmente devido ao que ia seguir – se. E era uma prova a acrescentar à sua falta de personalidade, a sua total ausência de carácter e desespero de ser como eu, diferente.
Foi comprar um carro precisamente com as mesmas características, cor, motor interior e volante que eu tinha na ideia. O conjunto do imaginário tornava o carro diferente, único.
Passado algum tempo sentiu que era necessário dizer – me que tinha comprado o carro com o dinheiro da venda da casa da avó. Quando disse “sinto muito”, pensando que a senhora tinha falecido, emendou imediatamente, que havia recentemente decidido ir viver com ele e a sua família.
Não precisou de dizer mais nada. O que se via lá fora era a casa da avó. Em nome da vaidade ou no meu nome, este homem tinha finalmente arranjado maneira de subornar a avó para lhe oferecer a herança enquanto viva!
Estava a ficar tonta com tal estupidez de conversa e o meu espírito partiu em deambulações cíclicas, para trás e para diante sobre os meus problemas e sua previsibilidade. Sugeri que regressámos e lá partimos.
Mal tínhamos posto os pés no apartamento Ricardo tirou o chapéu e disse que tinha uma questão melindrosa a colocar – me.
Precisamente quando começava a pensar em regressar e sair pela porta fora, disse:
“Quero que me trates como se fora um escravo. Posso ser teu escravo? Posso? Farei tudo o que me mandares, patroa.”
Olhei para ele de cara crispada para me convencer de que estava a brincar. Mas não estava! Estava mortalmente sério. As suas expressões haviam – se transformado. Vulnerabilidade e inocência apoderaram – se do seu rosto tal como um rapazinho a ser repreendido pelo seu mestre – escola. Fiquei sem palavras. Não sabia o que dizer ou que fazer. Nunca me tinha aparecido uma situação idêntica e enquanto a ia digerindo pedi – lhe para ir para o quarto.
Não sabia quem estava mais admirado se era ele ou eu, a patroa ou o escravo. Não podia acreditar no que estava em vias de fazer. Senti – me de novo no meu primeiro dia só que agora um ano mais tarde com dolorosas recordações e cada vez mais distantes.
“Estou a trabalhar. Isto é trabalho”, convenci – me a mim mesma à medida que abria o meu guarda-vestidos ao mesmo tempo que experimentava um novo e delirante conjunto de emoções. Estou a trabalhar e sou actor. Resmunguei de mim para mim num sussurro.
“Disseste alguma coisa, patroa?” perguntou Ricardo gentilmente.
O meu novo papel surgiu – me instantaneamente no meu espírito:
“Não, não falei. E quem te deu o estuporado direito de falares em minha casa? Põe – te aí de pé em cima da cama e puxa já as calças para baixo até aos tornozelos. Já!”
“Está bem, patroa. Desculpa lá, patroa. Com certeza patroa”.
A experiência para Ricardo era religiosamente séria. Nem por sombras uma brincadeira. Era como se fosse a sua profissão.
Voltei – me e pus – me a vasculhar o guarda – fato pondo toadas as minhas roupas num monte no chão até que finalmente consegui encontrar alguns brinquedos que havia escondido por debaixo das minhas fiadas de fatos, autenticamente empacotadas, tropeçando por entre uma colecção extraordinariamente sexy de lingerie branca e agarrando nela, pensei, se a havia de vestir ou não. Repentinamente acordo do deslumbramento. Visto algo sexy e … mas estarei perdendo o juízo? Nunca saíra da minha rotina para impressionar os meus clientes. Será que seria esta a altura de começar? Balbuciei intimamente. Sou naturalmente sexy segundo a opinião da clientela e não pela decoração que possa adornar o meu corpo e, assim, despi a colecção …
O que acabei por tirar do guarda – vestidos foi nem mais nem menos do que um par de punhos de camisa e um fio de contas de prata. Com uma das mãos a segurar as contas e com a outra a libertar o cabelo do rolo, voltei para Ricardo que não se atrevera a mover no meio do silêncio e permanecia na em cima da cama com as calças puxadas até aos tornozelos.
“Quanto é que me desejas?” Disse enquanto encostava o peito à cara de Ricardo.
“Muito, patroa. Tanto que até faz doer”, replicou levantando a mão para sentir.
Bati – lhe com ela na cara e repliquei:
“Quem manda? quem é aqui a patroa?” Bradei.
Patroa, perdoa – me por favor. Por favor deixe – me tocar – lhe. Por amor de Deus deixe – me chupá – la. Suplicou.
Não era uma estranha para o seu corpo e sabia bem como reagia. Queria fazê – lo sofrer tal como pedira e coloquei – lhe o meu mamilo na boca até ter a certeza que era suficiente para aguentar até ao momento em que sentia que estava dependente de o pôr a sugar. Sabia bem que adorava chupar – me os mamilos. Sabia do prazer que desfrutava já que outrora havia sido a sua paixão. De repente tirei – lhos e ordenei – lhe que se levantasse.
“Está bem, patroa”, respondeu humildemente.
Fui sentar – me no banco de ginástica e antes de poder voltar – me senti um leve soprar na minha retaguarda. Era Ricardo.
“Mas que fazes tu aqui?
“Por favor, mestra, perdoa – me, mestra”.
Caiu postado de joelhos e começou a lamber – me violentamente os pés pala obter perdão. Agarrei – o pelos cabelos e conduzi – lhe a cabeça na direcção dos meus mamilos e perguntei – lhe se os desejava, se precisava deles.
“Quero, patroa! Dêmos por favor. Quero sim. Não quero outra coisa. Farei tudo o que quiser, patroa”, gaguejou e voltou – se continuando a gaguejar.
Peguei – lhe na cabeça à distância dos braços para o arreliar, algemei – o atrás e sentei – me em cima das suas pernas.
Os fios de contas encontravam – se ainda na minha mão e olhava – os fixamente a pensar o que é que eu iria fazer com aquilo. Um por um acabaram por desaparecer na minha vagina até o sexo ser também engolido e restando apenas o fio pendente da minha vulva. Ricardo proferiu um ligeiro grunhido de êxtase psicológico. Puxei as contas devagarinho e a um ritmo consonante com o seu grunhir que gradualmente se silenciada afim de ser retomado de novo.
Pendurei o fio na minha cabeça provocado gentilmente um estalar na minha boca como se de uvas se tratasse.
Quando o terceiro entrou, puxei – o outra vez para fora no mesmo ritmado movimento Os grunhidos de sensualidade de Ricardo enchiam o apartamento e quando lhe perguntei se estava a entrar em pânico, ele respondeu:
“Estou sim, patroa. Por favor deixe – me chupar as contas. Por favor”, gritou em desespero.
Libertei – lhe os pulsos das algemas permitindo – lhe que se levantasse do banco para o algemar atrás das costas e arremessei – o para cima da cama. O fio de contas estava ainda na minha mão. Ricardo não podia ver nada!
“O que estás a fazer, patroa?”
Precisamente quando estava a perguntar, comecei a empurrar uma pequena conta de prata pelo seu ânus acima. Resfolegou ruidosamente.
“Sossegadinho, escravo. Quem é que te mandou fazer barulho?” gritei enquanto continuava a meter as contas até que a última se evaporou.
Voltei – o na cama, olhei – o nos olhos e perguntei de novo quem é que mandava antes de me sentar em cima do rosto e permitir – lhe que me lambesse a vagina ao mesmo tempo que continuava algemado.
Passados uns segundos ergui – me um pouco e esperei que pedisse para descer mas não regressei à mesma posição.
Era tempo de acabar com aquilo e, portanto, acomodei – me no seu corpo e, de costas para ele, sentei – me em cima do pénis movimentando – me para cima e para baixo num ritmo lento mas firme.
Quando me apercebi que Ricardo estava prestes a atingir o clímax peguei no fio de contas e puxei – o para fora num gesto penetrante. Ricardo começou a gritar em pânico e êxtase e continuou em transe durante alguns minutos. O orgasmo prolongara – se com uma curiosa mistura de pânico e prazer.
Logo que o Ricardo se foi embora, passei horas a analisar – lhe o comportamento e tentando compreender, de facto, o que fazia este homem saltar de prazer. Já o tinha colocado sob o meu microscópio no passado e, portanto, conhecia – o de sobejo ou era assim que eu pensava.
Puxei cá para fora toda a informação armazenada na minha mente acerca desta personagem e comparei com a sua recente fantasia; a insistência em ser comandado; o mendigar; a necessidade de domínio. Qual a razão?
Concluí que a sua necessidade de ser comandado era um espelho da sua natural premência de agradar e ser, assim, incondicionalmente aceite.
A necessidade de Ricardo ser dominado era, sem qualquer dúvida, devida ao facto de que, na verdade, nenhuma mulher seria capaz de fazer isto. Tinha todas as mulheres a seus pés, caso o desejasse, e não as queria todas a atirar – se a ele, isto é, todas com uma única excepção e era essa a razão de ter estado todos estes anos obcecado por mim. Tinha sido a mulher ímpar que nunca receberia ordens dele, que nunca me ajoelharia na sua frente, que nunca me punha para ali com merdas. Concretamente, tinha de lutar por mim como nunca lutara na sua vida fosse por aquilo que fosse.
A sua paixão por mim chegou ao ponto de me pedir em casamento, prometendo deixar tudo ante um gesto meu, totalmente às minhas ordens. Para além disso, ele tinha de se comportar como eu, e desejava ser como eu porque era mais forte do que ele, porque era mais forte do que qualquer mulher com quem se havia cruzado. Talvez estivesse a ficar farto do jogo e, regressando ao homem, desejava, assim, copiar as minhas expressões e comportamento de mulher?
Fosse qual fosse a razão, Ricardo expressava o seu verdadeiro eu e o seu sincero desejo nas representações daquele quarto. As suas frustrações haviam aflorado o seu carácter. Tinha sido a privilegiada em ver os seus verdadeiros sentimentos já que tudo tinha ficado claro para mim. Perdeu a batalha. Talvez escondesse ainda alguma réstia de esperança que não ganhava em vir à superfície, já que não valia a pena; eu estaria sempre lá, indiferente, no controle.
CAPÍTULO 29
Naquela tarde a minha energia fora completamente absorvida naquele joguinho com Ricardo no reino da fantasia. Pedro Filipe, um dos meus regulares ligou para fazer uma marcação. Eu fiquei contente. Mal eu sabia quão diferente ia ser esta visita das anteriores.
Pedro Filipe tinha sido um dos regulares durante cerca de seis meses. Não vinha frequentemente mas sempre que o fazia sentia uma grande urgência de justificar porque é que não tinha aparecido recentemente. As desculpas eram sempre as mesmas. A esposa andava sempre vigilante, levava as crianças para a escola e depois ia buscá – las.
Telefonava – me frequentemente entre as visitas para dizer isto como se tivéssemos uma espécie de relacionamento. Nunca prestei demasiada atenção na medida em que isso não era raro no círculo dos meus clientes.
Pedro Filipe era excessivamente alto, media pelo menos 1, 95 m. Era muito belo e o seu cabelo curto, espesso e grisalho fazia – o parecer – se com George Clooney. O seu todo era extremamente atraente, o sonho de qualquer mulher. Mas Pedro Filipe tinha um carácter introvertido admiravelmente inseguro e sempre demasiadamente na defensiva.
A primeira visita do Pedro Filipe ficou viva na minha memória. Por qualquer razão tornava-se hesitante, mesmo medroso quando era para tirar as calças. Pela minha vida que não conseguia compreender porque é que um homem tão bonito que orçava pelos quarenta anos se sentia tímido a fazer uma coisa dessas.
Quando por fim acabou, o próximo obstáculo iria provar – se ainda mais difícil. Não queria tirar as cuecas. Continuavam coladas à sua virilidade até que por fim tive de lhe dizer que o tempo estava a passar.
Quando Pedro Filipe finalmente arranjou coragem para descer as suas desesperadamente agarradas cuecas, percebi logo a razão de toda esta ansiedade. O pénis do Pedro Filipe era pequenino. Nunca tinha visto nada mais pequeno. Falando sinceramente, o seu membro viril não ultrapassava os seis centímetros. Estava admirada mas tentei desesperadamente não o mostrar para evitar que ficasse atormentado.
Da minha experiência pessoal, quanto mais alto era o homem, maior o seu membro viril. No entanto, Pedro Filipe era decerto a pior excepção à regra. O pénis era tão pequeno que quando depois acabámos por ter relações sexuais era extremamente difícil encontrar uma posição que permitisse a penetração.
As frustrações e o azedume acumulados de Pedro Filipe foram aliviados pela primeira vez nesta visita. Estava – se a comportar estranhamente e muito longe de ser o homem descontraído que tinha aprendido a ser nas suas visitas anteriores.
Gostava de Pedro Filipe e queria ajudar na medida em que sabia intimamente que ele queria ouvir – me perguntar se necessitava de ajuda ou pelo menos, um ombro para chorar. Toda a atmosfera estava preenchida por um grito mudo, o grito do silêncio de Pedro a pedir para ser ouvido.
Naquela tarde não tinham acabado as marcações e as chamadas. Romano telefonara a avisar – me que chegaria mais tarde do que o costume e por isso decidi criar um ambiente acolhedor para ajudar Pedro Filipe a sentir – se confortável afim de se libertar fosse do que fosse que tinha de extirpar da sua alma.
Perguntei – lhe se queria um café e dirigi – me para a cozinha. Seguiu – me e encostou – se ao meu frigorífico enquanto preparava o super – filtrado café que enchia a cozinha com o seu cheiro divinamente forte e quente.
“Então, Pedro, o que é que se passa contigo? Vá lá, então um homem tão bonito como tu com tudo a seu favor?” disse para lhe incutir confiança sobre aquilo que eu receava iria contar – me. O meu receio não era infundado.
“Um homem que tem tudo. É isso que pensas? Está bem, não tenho pénis, ou será que tenho?” respondeu.
Tentei encontrar as palavras adequadas para lutar contra a sua inferioridade já que estava tomado de emoção. O seu malogro podia ser sentido a ressaltar de cada peça de mobília que havia naquela sala de estar e a ricochetear para mim. Senti a sua dor e a sua tristeza e achei – me desarmada ante o seu desespero. Mas sabia que estava errado acerca de alguma coisa. Sabia que estava sob a mesma falsa ilusão que se encontrava subjacente em muitos. Estava convencido como tantos outros de que o orgulho do homem e o prazer da mulher estavam dependentes do tamanho de um órgão de um homem.
“Estás completamente enganado, Pedro. Estás muito mal informado. Só uma mulher é que pode responder a essa pergunta e eu sou uma e posso dizer – te que estás mal documentado.”
Pedro Filipe olhava para o chão enquanto eu continuava.
“Pedro, eu posso orientar – te através de toda a minha experiência passada e penso que sabes que tenho mais do que a maior parte das mulheres. Estão enganadas! Alguns homens estão cônscios de que é só a penetração que agrada a uma mulher e eles estão também enganados. Alguns como tu acreditam que é o tamanho que faz a diferença, quero dizer, quanto maior melhor. Não podem estar mais enganados. O problema reside em que as mulheres também possuem um corpo que precisa de ser explorado e muitos homens não fazem sequer a mínima ideia de como reage ou funciona uma mulher. O tamanho do pénis é irrelevante na maioria dos casos. O que é importante é o modo como o corpo de uma mulher é captado e muitos homens nem mesmo se dão ao trabalho de considerar isto como relevante.”
Pedro Filipe continuava ali sentado a ouvir sem interromper a conversa. Decidi contar – lhe algo acerca de um ex-namorado, o Rui.
Sentia – me na lua de tão apaixonada pelo Rui mas aquele relacionamento foi efémero devido a uma transferência de serviço repentina. Rui tal como Pedro era um homem muito atraente. Era invulgarmente popular com as mulheres e era, ao mesmo tempo, o assunto de todas as conversas na cidade.
O pénis do Rui era a coisa mais diminuta que eu já alguma vez vira num homem. Mas amava – o e de todas as vezes que fazíamos amor podia sentir as sensações, não através da penetração mas também através de toda a sua experiência. Rui sabia como tocar – me. Ele sabia como despertar cada célula adormecida do meu corpo e enchê – la de êxtase, como despertar sensações que muitos desejariam poder conhecer embora nunca o consigam. E porquê? Por estarem mais preocupados com o tamanho e comparação com os dos outros e não atingem ou então são demasiado egoístas para tentarem fazê – lo, a noção de como o corpo de uma mulher funciona e reage.
Rui era também complexado com o tamanho do pénis. Na nossa primeira noite, estava excessivamente tímido o que o impediu de ter uma erecção.
Nessa altura eu não compreendia o porquê e senti – me pior do que ele mas era simplesmente o seu embaraço que havia causado a impotência. Só quando se começou a aperceber de que o tamanho do seu membro viril não significava coisa nenhuma para mim é que finalmente se descontraiu.
Pedro Filipe continuava portanto sentado como antes cheio de atenção a ouvir o que lhe dizia. Havia uma outra história que não contei e que queria apresentar – lhe. Desta vez era algo de trágico mas achei que devia saber.
Um dos meus clientes passados, um famoso economista chamado Paulo tinha sido aconselhado a ligar – me pelo seu médico. Paulo tinha cinquenta e cinco anos. Tinha – se divorciado havia alguns anos e residia numa vivenda, na praia.
Paulo fizera uma operação ao pénis devido a um cancro, alguns anos antes da sua primeira visita ao meu apartamento. Por mais que tentasse não conseguia uma erecção depois da operação; o seu membro simplesmente ficava flácido e sem vitalidade.
Em abono da verdade eu não podia ver qualquer sinal de esperança para Paulo mas ele continuava sob a falsa ilusão criada pelo seu médico de que precisava de exercitar o músculo, que era meramente falta de prática. Estou ciente de que era a maneira do médico escapar ao sentimento de culpa de uma operação mal conduzida.
Lá bem no fundo, penso que Paulo tinha a mesma opinião e a verdade deprimia – o. Era uma das mais tristes e trágica situação que experimentei com um cliente. As únicas palavras de filosofia que podia oferecer a Paulo era dizer – lhe que era ainda afortunado. Pertencemos a uma geração onde tudo é possível e implantes podem ser inseridos como opção extrema. Todo o resto se resume a saber como o corpo da mulher na verdade funciona.
Pedro Filipe continuava sem articular palavra quando acabei de lhe falar das minhas experiências. Agarrei a oportunidade para derivar por alguns momentos e retomar onde lhe tinha estado a falar e questionar sobre um certo comportamento masculino.
Na maioria dos casos eram mesmo os homens com grandes pénis que mais provavelmente eram mais promíscuos. Talvez pensassem estar a fazer uma grande coisa e continuassem a tentar e a impressionar o maior número possível de mulheres? Talvez fosse porque nunca conseguiram, de facto, impressionar nenhuma que não experimentam fazer amor em lugar do oposto, “foder?”
A linha basilar para mim é que, um grande pénis é sinónimo de ilusão de egos, que em contrapartida despojam o macho de desfrutar as sensações de que continuam à procura. Para atingir esta sensação, são necessárias uma total compatibilidade, compreensão, química, inteligência, entrega e sensibilidade. Talvez que estes homens sejam pura e simplesmente desprovidos destes atributos e continuem as suas vidas à procura de alguma coisa que ainda não experimentaram. Afinal, há alguns homens que não sentem a necessidade de pesquisar mais além. Têm tudo o que precisam enrolado num… talvez saibam como fazê – lo funcionar instantaneamente e não só.
Quando finalmente voltei para o lado de Pedro Filipe em corpo e alma, a luz do quarto ganhou um brilho muito mais intenso. Pedro desenhava um sorriso na sua face e estava apto a deixar a minha porta com um estado de espírito totalmente diferente. Quanto a mim estava mental e fisicamente exausta. Tinha sido um dia muito longo.
CAPÍTULO 30
Enquanto me encontrava à janela do meu quarto naquela desesperante tarde soalheira, Francisco ligou para me salvar o dia. Nem uma única pergunta havia sido proferida naquela jornada levando – me a ir comprar o jornal diário para ter a certeza de que o meu anúncio tinha saído. Mas com certeza que sim! As pessoas estavam a ser afectadas pela situação económica mais do que nunca e, portanto, esta chamada de um regular foi recebida de braços abertos.
Francisco era um homem formidável a rondar os trinta anos. Sofria de uma disfunção renal o que o forçava a fazer sessões de diálise semanais. Francisco era um elo de uma longa cadeia de clientes de um grupo de drogados que me havia sido recomendado. Embora limpo há seis anos, continuava a frequentar o grupo devido à sua grande dependência da droga que tinha durado dez anos. A sua condição degradante era o resultado da experiência passada.
Durante uma visita de Francisco, e por qualquer razão falou acerca do grupo, descobrindo que a cadeia de visitas começara com um certo cliente, Alfredo, o comissário de bordo. Tal como foi mencionado antes, bani este das minhas visitas porque o seu comportamento se estava a tornar obsessivo. Se o tivesse permitido ele faria uma marcação diária, mesmo duas. Apesar de tudo, eu e o Alfredo continuámos em contacto porque compreendera exactamente a razão das medidas que eu tomara. Durante uma chamada de Alfredo mencionei o nome de Francisco levando aquele a alertar – me para a situação: Francisco era seropositivo.
Eu e Francisco nunca havíamos tido relações sexuais. A sua situação física proibia – lho. E era semi – paralítico do lado esquerdo. Embora pudesse arrastar a perna não podia mover o braço. Depois de falar com Alfredo fiquei sem ter a certeza se Francisco evitava a penetração devido a isto ou simplesmente para não me pôr em contacto com o vírus.
Francisco chegou. Conversámos na cama durante um pedaço como era o nosso costume antes de se decidir a enrolar – se em mim do meu lado e penetrar – me por detrás. Estava receosa mas não consegui dizer – lhe o que Alfredo me tinha confidenciado. Não sabia o que fazer salvo senão dar isso como caso arrumado pedindo a Deus que tudo estivesse bem, e sem problemas. Na verdade, Francisco era um dos homens mais abençoados que conheci. Tinha um pénis muito desenvolvido e, acima de tudo muito amplo de tal modo que quando mo metia pela retaguarda e o sentia deslizar pela vagina dentro, o meu coração parecia que parava de bater ao mesmo tempo que crispava a face, dificilmente movendo o corpo. Convencia – me que estava tudo bem. Tinha colocado a esponja contraceptiva no interior da vulva (comecei por usá – la durante os meus períodos mas, devido à minha preocupação crescente, senti – me de algum modo mais acautelada ao fazê – lo regularmente).
Francisco, deitado de lado, penetrava – me apenas com a ponta do pénis, sentindo o meu corpo a movimentar – se terna, suavemente mas permaneci paralisada, inerte, sem me atrever a um movimento sequer, sem saber o que fazer.
Quanto mais tentava sossegar – me e convencer que tudo estava bem, de que Francisco era sincero, que nunca seria capaz de me colocar em perigo, maior era o meu pânico. Francisco era psicólogo. Outrora tentara ajudar – me com os meus problemas. Sabe bem que tenho o suficiente no prato da minha balança, não é verdade? Pergunto a mim própria à procura de mais certezas.
Para meu alívio, Francisco atingiu o clímax. Aqueles dois minutos tinham sido duas horas para mim.
“Desculpa, Diana”.
“Oh não te preocupes”, disse pensando que se estava a desculpar pelo curto desempenho.
“Sempre me acontece isto. O maldito preservativo voltou a romper – se”
.
“O quê, rompeu – se? Oh meu Deus! Diz – me que estás limpo. Diz – me que não tens SIDA! Não tiveste, não? Estavas a fazer isso com a ponta do pénis porque a tens.”
“Acalma – te, Diana. Não sou seropositivo. Fiz isso com a ponta do pénis exactamente porque as malditas camisas de Vénus estão sempre a romper – se quando tenho relação sexuais com alguém.”
Francisco podia avaliar a minha miséria e ver o medo a derramar – se por todos os poros do meu corpo. Estava desesperada para lhe contar o que Alfredo me tinha confidenciado mas por mais que tentasse fazê – lo não conseguia. Desejava que Alfredo se tivesse enganado, que tivesse sido um estúpido quiproquó, mistura de identidades, qualquer coisa no género! …
Mas tudo se apresentava ante mim como se estivesse a malhar em ferro frio. Porque é que Francisco evitara sempre a penetração?
Não pude evitá – lo por mais tempo e, sem qualquer hesitação, emocionadamente perguntei:
“Houve quem me dissesse que tens SIDA, Francisco, é por isso que estou com medo, que estou tão aterrorizada. Não posso acreditar…”
“Mas que grande estupidez. Quem diabo te enfiou essa patranha? Mas tu és louca? És pateta? Toma atenção, mas primeiro acalma – te. Sabes que todas as semanas vou à hemodiálise, não sabes? Pois bem, todos os meses faço um teste e vou trazer – te os relatórios, está bem assim?”
“Oh, mas que bom! Trás - mos! Não te esqueças por favor”
Disse numa voz alterada.
As semanas seguintes provaram ser o inferno. Passei a maior parte do tempo livre a passear de um lado para o outro no apartamento como um prisioneiro na sua cela. Não podia aguentar mais e tinha necessidade de encontrar um ombro para chorar. Queria acreditar em Francisco mas Alfredo também me parecia fazer sentido; Francisco era muito franzino e doente.
Não podia suportar aquilo dentro de mim depois de passada a primeira semana. Confessei a Romano o incidente que, em contrapartida tentou acalmar – me assegurando – me que tudo haveria de correr bem. Não haveria de ter a doença; tinha de fazer um teste e decidi telefonar a um cliente meu que era médico para me fazer o teste.
Estivemos um bocado na conversa e confessei – lhe que não era a primeira vez que isto tinha acontecido. Era uma ocorrência rara mas acontecera algumas vezes. Perguntei – lhe quais eram os sintomas e todas as informações que conhecia a respeito do vírus.
Uma das suas respostas foi que na fase inicial podia haver um período de febre prolongada com a duração de cerca de um mês. Senhor! Era a última coisa que precisava de ouvir. Podia lembrar – me que tivera um longo período de febre que acreditei na altura estava relacionada a dor muscular e problemas ciáticos.
Caiu – me o coração aos pés. Estava a tirar conclusões precipitadas Seria ciática, dores musculares ou os primeiros sintomas da SIDA? Ia dar em maluca ou iria tirar conclusões fora de tempo?
Pouco mais de duas semanas eram passadas e estava pronta para o teste sanguíneo. Telefonei para um laboratório privado para fazer uma marcação só para ficar a saber que apenas me podiam marcar para o dia seguinte.
Cheguei à clínica cedo e esperei petrificada na sala de estar! Não gosto nada da sensação de que algo me esteja a assustar. Estava com medo de ter medo e, assim, tinha medo de estar lá.
Chamaram pelo meu nome e fui atrás de uma senhora para um compartimento que cheirava acentuadamente aos químicos. Sentei – me numa cadeira que me indicou. Perguntou-me o que é que eu fazia ali. Não podia acreditar que me estava a fazer uma pergunta dessas mas respondi – lhe com delicadeza, que o meu namorado rompera a camisa de Vénus durante o coito.
“Sinceramente? É então esse o tipo de contraceptivo que usa com o seu namorado?” inquiriu.
“De facto não é. Não nos relacionámos durante muito tempo… Um mês, pouco mais ou menos”, respondi para evitar mais perguntas.
Precisamente quando me ia embora olhei para a senhora e perguntei – lhe quanto tempo demoravam os resultados. Respondeu que habitualmente era uma semana. Não dava para acreditar! Olhei – a nos olhos tentando que ela descodificasse a mensagem que estava a tentar transmitir – lhe sem palavras. Num abrir e fechar de olhos percebeu exactamente o que eu estava a tentar dizer: é assim que este país funciona! Olho por olho, dente por dente. No que me diz respeito “se não poderes vencê – los, alia – te a eles”.
Mais tarde, naquele domingo, encontrava – me distraída da penosa espera quando o meu cão foi levado de emergência para o teatro de operações. Havia desenvolvido uma infecção uterina que começava a espalhar-se através do sangue. O veterinário não deu garantia se sobreviveria ao anestésico. O seu estado estava – se a deteriorar minuto a minutou e a operação não era uma opção.
Fiquei com ela naquela noite. Eu era uma ruína emocional ao pensar que iria perder a minha companhia de seis anos. De manhã cedo, quando estávamos para deixar o veterinário o telefone tocou. Era a senhora do laboratório a avisar – me que os resultados estavam prontos para recolha. Perguntei – lhe se mos podia dizer pelo telefone. Ficou em silêncio e o meu coração parou de bater.
“Oh meu Deus…Isso quer dizer que não estão bem…?” perguntei.
“Está tudo bem, Diana, prometo. Apareça e leve – as quando puder”.
“Quase pulei ao telefone para a beijar. Estava tão aliviada! Tinha tido sorte, uma vez que frequente e permanentemente continuava numa profissão de alto risco. Era sem dúvida outro aviso de que tinha de tomar nota. Nunca mais perguntei a Francisco pelos resultados.
CAPÍTULO 31
Toda a história da saga da “SIDA” me deixou esgotada e juntou – se à minha infindável lista de quebra – cabeças. O ponto mais alto de tudo isto era colocar o meu já débil relacionamento sob severa pressão. Pensando bem, tudo o que se encontrava sob extrema pressão, principalmente a minha sanidade.
Todos os dias me confrontava com o mesmo maldito problema. Não havia um único dia que não andasse por ali a examinar as paredes do apartamento; o colchão da cama, as nuvens através da janela e, principalmente, Romano.
Não se punha o sol num único dia sem que tivesse efectuado uma completa investigação das informações da minha conta bancária e de quanto necessitava para atingir o zero e começar de novo. Vendera o meu corpo para conservar a minha alma mas até isso me estava a escapar. Sem este quesito intacto tudo deixaria de ter significado e não sabia como continuar.
Algo havia de dar de si. Alguma coisa tinha de desaparecer da minha vida rapidamente. Não podia mais controlar sentimentos e trabalho entre estas paredes. Tinham dado de si durante muito tempo mas agora podia vê – las na minha pele. Mais alguns meses entre elas e ficaria mortalmente sufocada.
Não passava um único dia que eu e Romano não discutíssemos. Havia alturas em que não conseguia olhá – lo nos olhos. Havia certas ocasiões em que perdia totalmente o respeito por ele e não o podia levar a sério. Simplesmente, não havia condições na minha vida para um relacionamento. Tinha – me convencido a mim própria exactamente desde o princípio mas de algum modo cometi o enorme erro de cair nele.
Estava a afundar – me e a levar Romano comigo. Era um sentimento inexplicavelmente difícil e um dos mais difíceis alguma vez experimentados por mim enquanto prostituta. Enfrentando os dois problemas simultaneamente era demasiado complicado, era destrutivo. Mas o pior de tudo é que originava “dores de cabeça” que tocavam a insanidade. Este autêntico inferno que eu criava tinha de desaparecer antes eu própria desaparecesse. Era demasiado poderoso e tornando – me cada vez mais fraca, dissolvia a minha tolerância.
Uma das maiores dores de cabeça era deixar o local que tinha e encontrar outro de modo a separar casa e trabalho. Precisava de encontrar paz de espírito mas o meu apartamento era demasiado pequeno para permitir uma coisa dessas. Alem dos dias em que discutíamos e cada um tomava rumos diferentes, Romano tinha praticamente vivido comigo através do nosso relacionamento.
Depois de um desmoralizante argumento no mês anterior, Romano insistia que passássemos algumas noites por perto da sua residência Mas nessa altura não me apetecia a mim. Se eu nunca a tivesse mencionado o seu apartamento nunca me teria convidado para lá. Levou meses de penosas análises antes que eu pudesse, de facto, dar – lho a perceber. Não queria permanecer por mais tempo num lugar onde inicialmente não tinha sido bem vinda. Tinha o meu orgulho e os meus valores e ninguém iria tirar – mos.
Como Romano continuava praticamente a viver em minha casa sugeri que considerássemos a possibilidade de procurar uma casa para arrendar, uma casa nossa. O meu apartamento teria de, como é óbvio, ser usado só para fins laborais e o novo como um lar onde pudesse esquecer o trabalho. Sempre que tocava no assunto, Romano costumava dizer que nós já tínhamos duas casas e não precisávamos de outra.
Em silêncio, ia ficando cada vez mais aborrecida. Será porque ele não se importa? É melhor permanecer na minha casa, é mais barato…não compensa… portanto este relacionamento é uma brincadeira de certeza. Pensava.
Todo o drama em relação a Romano e apartamento se tornou um dos factores mais importantes que estava a determinar o findar do relacionamento e iria torneá – lo sozinha. Para mais, como é que este homem podia ter um relacionamento com uma prostituta? Era uma coisa, na realidade, incompreensível.
Estes dois factores produziram a bola de dinamite na minha mente que estava prestes a explodir deixando para trás outro capítulo. Automaticamente devastava os meus sentimentos em relação a ele sabendo pela experiência passada de que seria uma questão de tempo antes dos sentimentos se tornarem irrelevantes de maneira que, quanto mais o amava, mais depressa deixava tudo para trás. Tinha acontecido no passado.
Desesperadamente tentei libertar – me de Romano sem qualquer sucesso. O meu amor por ele tinha estagnado a um ponto de recuo. Quanto mais eu tentava escapar mais aprisionada me sentia. Por sua vez ele não se ia embora.
Estava a sufocar. Era de certo modo muito opressivo; a experiência de um ano, cada simples segundo dessa experiência de um ano era uma enorme acumulação de gases letais que se pegavam às paredes prontos a explodir e a matar a minha alma.
Fazia quatro meses que eu e Romano nos encontrávamos juntos. Sabia como compreender e interpretar o que me estava a acontecer, partilhava a minha dor, a minha angústia e o meu sofrimento, mas estava demasiado ocupada a analisar o estado confuso dos negócios para apreciar tudo isso e, assim, permitia com essa trapalhada despojar os meus sentidos, de experimentar o seu amor e apoio. Negatividade na sua mais pura e inalterada forma era tudo o que eu sentia. Romano tinha estado sempre lá. Tinha visto o amargo e triste mundo do meu silêncio de sobrevivência e ficou cada vez mais consciente de que alguma coisa tinha dar de si.
Embora considerasse que fossem esperanças positivas, eu e Romano falámos de tempos melhores. O período que eu inicialmente planeara trabalhar era de cinco meses. Encontrava – me no décimo quarto e, pelo menos, uns outros sete meses eram necessários. Mas ambos sabíamos que não podia aguentar a situação até lá. Podia safar – me sozinha mas não com um relacionamento.
Em várias ocasiões sugeri a Romano que nos separássemos por uns tempos até eu acabar. Era a minha maneira de o convencer a deixar – me ir embora e permitir – me respirar na medida em que as outras tentativas se haviam gorado. Mas ainda desta vez Romano não havia de concordar na medida em que tinha a sensação que o plano era irrealista por causa da deterioração continuada da economia que tornava tudo frouxo. No ritmo em que seguia podia demorar uma eternidade.
As coisas pareciam regredir em vez de andarem para a frente. Romano sentia – se cada vez mais desarmado na medida em que sabia que nos íamos perder um ao outro. Também sentia o desagradável fim do relacionamento e continuava a lutar para reduzir o débito da sua empresa. Era confrontado com enormes pagamentos ao governo; as suas paredes estavam também a ceder; sofria em silêncio para não me carregar ainda mais.
Os únicos pensamentos positivos que partilhávamos ao tempo eram a nossa fome de atingir grandes sonhos para o futuro, os sonhos que estavam sepultados debaixo de uma espessa camada de imundície. A despeito da nossa situação ambos sentíamos que estávamos destinados a fazê – lo em grande.
Romano veio para casa após mais um dia de troca de mensagens negativas e pediu – me para me sentar na cama. Sentei – me apenas para o ouvir dizer que encontrara uma solução.
“Uma solução? Mas que solução?” Perguntei confusa.
“Uma solução para acabar com esta merda! Uma solução para pôr fim a este capítulo.”
Movimentei os olhos, como se fosse fácil falar e sonhar. Tínhamos passado horas sem fim fazendo isso antes. Entre nós tínhamo – nos proposto mais de um milhão de dólares de ideias mas não tivemos a possibilidade ou a sorte de vê – las realizadas. Por deferência deixei – o falar e rabiscar números nas costas de um velho envelope.
”Tudo o que tens a fazer é encontrar investidores. É tão simples como isso.”
Não podia acreditar no que ouvia e perguntei:
“Como é que uma banca rota como eu, que tem dificuldades para comprar um jornal vai arranjar investidores? Quem seria suficientemente rico para comprar tal ideia?”
Mas Romano ignorou o meu comentário e passou algumas horas em volta do assunto. Cada detalhe era planeado com diagramas. O plano consistia em arranjar dinheiro para comprar os seus produtos às manufactureiras. Tinhas vários destes mediadores que utilizava afim de ter um nonagésimo dia de crédito limite. A ideia era de que nós fôssemos um destes mediadores. Era uma excelente ideia e, acima de tudo, grandemente lucrativa.
Após algumas semanas de pensar e de examinar, perguntando e avaliando, aceitei a ideia. Primeiro fiquei apreensiva porque me parecia ser uma espécie de controlo. Não tinha pensado que isso podia também beneficiar Romano. Pensei que era a sua maneira de tentar ajudar e em várias ocasiões rejeitei a ideia.
Uma vez que deixasse de ser prostituta nunca mais quereria voltar para trás, preferindo alijar a oferta e recusei a proposta até que Romano me fez ver de que ele em realidade precisava de todo o crédito que pudesse obter e se isso significava eu ganhar uma percentagem tal como todos os outros mediadores, isso era formidável. Agora, como é que ia arranjar o capital inicial?
Concluindo que os benefícios eram bilaterais, aceitei. Surgia agora o maior problema, os investidores. Como é que alguém sem crédito como eu se podia aproximar fosse de quem fosse para obter empréstimos? Para ganhar investidores tenho de ser confiante, certo? Senão como posso vender a ideia? Pensei de mim para comigo.
Após alguns dias a considerar decidi que antes de tentar fazer isso tinha de tentar pedir dinheiro emprestado por razões diferentes permitindo – me ter um projecto para mostrar aos investidores.
Eu e Romano entregámo – nos ao trabalho e tentámos arranjar o máximo dinheiro possível afim de realizarmos a primeira aquisição. Tentei a minha sorte e perguntei a uma das pessoas a quem tinha restituído dinheiro se podia, mais uma vez, emprestar – me uma quantia significativa. Ante a minha admiração, concordou. Depois falei com algumas outras a quem ainda devia largas somas pedindo – lhes para deferir os pagamentos. Fiquei deliciada quando consentiram. De parceria com Romano que levou o cartão de crédito ao limite, permititir – nos – ia preparar para o primeiro negócio a realizar dali a um mês.
Eu e Romano passámos os dias seguintes a fazer planos e a determinar prazos para fazer dinheiro de investimentos para os dois meses extra afim de garantir um fluxo de aquisições mensais. A ideia era, assim, tornar – me mais confiante e realizar uma aproximação ao negócio. Contudo, por agora, continuava a trabalhar por mais quatro semanas; por outras palavras, até que o primeiro negócio estivesse em marcha.
Algumas semanas mais tarde recebi um cliente novo, um homem que rondava os seus trinta anos. Sabendo que tudo estava a chegar ao fim, era mais que suficiente para me diminuir a pouca paciência que tinha sobrado. Sem lhe perguntar sequer o nome pedi – lhe para ir para o quarto.
O homem não levou o meu procedimento a peito já que era normal para as raparigas da minha profissão comportarem – se de modo idêntico. Era tímido e permanecia calado, a não ser que lhe perguntassem alguma coisa. Tinha um pedido a fazer; tinha visto a minha colecção de CDs maior do que o normal que se poderia ver a uma milha da minha sala de estar.
“Reparei na sua colecção de CDs quando passei. Tem, por acaso, Joe Cocker?” perguntou, ficando surpreendido quando lhe disse que sim. Fui à sala de estar buscá – lo.
Voltei ao quarto aproximando – me do reprodutor de CDs e programei a canção que pedira: “podes deixar ficar o chapéu.”
Quando me estava a ajoelhar ele aproximou – se por detrás e colocou gentilmente a mão num dos lados da minha cara enquanto eu continuava a mirar o reprodutor de CDs.
“Sabes uma coisa? Tenho uma confissão a fazer – te”, disse em voz baixa e rouca que até parecia o Bruce Willis, “Sou viciado em sexo. Adoro mulheres. Nunca me farto. Tenho o vício. É a minha doença”, continuou enquanto eu carregava no play.
A voz de Joe Cocker começou a dominar o outrora silencioso quarto. O homem levantou – me detrás e, ao ritmo da música, conduziu – me para o banco de ginástica, colocou a cabeça no meu pescoço e começou a respirar profundamente ao mesmo tempo que, levantando – me os braços e levando as minhas mãos a agarrar o poste do banco de ginástica por cima da minha cabeça.
Começou por me apalpar os seios cobertos por um soutien justo. Ao som da música, foi conduzindo as mãos para baixo até ao meu derrame, colocando – as depois debaixo do meu top seguindo com elas depois até ao peito para atingir os meus mamilos. Pressionava – os gentilmente como se estivesse a tentar provocar – me ao ritmo da música.
Depois andou à minha volta até se colocar face a face. Ajoelhou – se, abriu – me o fecho das calças tendo antes agarrado firmemente as minhas nádegas. Abrindo – me as pernas colocou a cara próxima da minha vagina e cheirou – a tentando arreliar – me na mediada em que olhava para os meus olhos antes de começar a lambê – la.
Repentinamente desapareceu o contacto ocular enquanto a chupava cada vez com mais força antes de desapertar o fecho das calças. Dirigiu – se a seguir para a minha cara de modo que pude cheirar – lhe os lábios. Olhei – lhe para o pénis. Estava dolorosamente erecto a explodir com a contracção de energia com que estava pronto a explodir.
Voltando a colocara – se de pé atrás de mim, passou – me as mãos pelos seios para recapturar os meus braços que permaneciam ainda agarrados ao espaldar. Inclinou – me para o banco e começou a penetrar – me por detrás enquanto se ancorava nos meus ombros. O ritmo da música controlava – lhe os movimentos respiratórios enquanto penetrava cada vez mais fundo obrigando – me a dar pela sua presença, a dar – me conta do seu domínio, da sua força e poder. Quanto mais penetrava, mais pesado surgia o seu canto.
A canção chegou ao fim. Uma outra mais sexy, mais poderosa substituiu a anterior. Tirou o pénis para fora e voltou – me de modo a encará – lo de frente. Colocando um pé nas minhas calças que pendiam dos meus tornozelos, deixou – as para trás enquanto reentrava na minha vagina. O seu corpo começou a balançar – se para trás e para a frente num progressivo bater e um doce começar de um borbotão de cada poro do seu corpo. Estava completamente possuído, obcecado em penetrar e deixar a sua marca no meu corpo. Depois atirou – me para cima da cama e continuou os seus loucos movimentos, já em cima de mim. Por um momento abrandou para ganhar contacto ocular e atingir o clímax.
As coisas haviam mudado dramaticamente. Senti – o mais do que nunca. Já não me encontrava mais envolvida na realização, na totalidade do acto não era mais o actor naquele quarto. Sabendo que ia escapar – me fugi ainda antes de o pano estar prestes a cair. Estava livre!
Mal este cliente saíra, logo entrou outro. Este estava em vias de marcar o fim prematuro e o terminar de uma era. Tratei – o do mesmo modo que o anterior. Não quis saber o nome, em realidade não me interessou. Suspeitei que seria outro dos meus companheiros da polícia secreta na medida em que estava mais interessado em saber do meu negócio mas não levei tempo a analisar e a fazer o jogo.
Enquanto nos encontrávamos estendidos na cama, o meu espírito moveu – se ao sabor das circunstâncias. Comecei a pensar na história do décimo quinto mês. Tinha atingido mais de trezentos regulares muitos dos quais me visitavam algumas vezes por mês enquanto que uma mão cheia deles vinha todas as semanas. Alguns apaixonaram – se por mim. Outros tentaram comprar – me, havendo também os que me pretenderam subornar – me porque a minha afectividade não era igual.
Contudo, em lugar de me sentir segura de mim mesma, sentia – me cada vez mais hesitante, não acerca da minha pessoa mas porque tinha aprendido a verdade acerca do mundo real. Tinha visto coisas, muitas das quais nem sonhara ou mesmo imaginara possíveis. Era cúmplice destes homens que via andando por aí com as esposas e as namoradas. Observei a desonestidade e a verdade atrás daqueles que permaneciam num relacionamento infeliz, aqueles que são traídos em nome da infelicidade. Não me sentia intimidada ou insegura naquele nível mas porque vi o mundo real e triste da traição, da mentira, da desonestidade e da tristeza. Sentira a dor de muitos homens, compreendi – lhes as esposas também. Sentira as angústias de muitas consortes e compreendi os seus maridos. Na verdade não era um vista de um lado apenas, era a uma vista dos dois. Na maioria dos casos havia sempre razões.
Toda esta experiência me transformou para a vida. Embora enfrentasse sérios riscos, e tivesse escapado de perigosas situações, tinha sido psicologicamente afectada. Não mais vi o mundo sob um prisma da mulher mas aprendi a vê – lo através dos olhos dos homens.
O cliente rebentou – me a bolha enquanto me encontrava a fitar o tecto.
“Sentes – te bem? Pareces tão distante.”
“Desculpa. Realmente estou. Não consigo continuar com isto. Estou a perder paciência. Na verdade já não tenho mais paciência.”
Repentinamente olhou para mim muito admirado como se pudesse sentir o que eu sentia. Olhou – me fixamente nos olhos durante alguns momentos antes de me responder que percebia perfeitamente.
Deixámos as coisas por ali.
Apesar de tudo larguei o ofício três semanas antes da data planeada. Sabendo que o fim estava tão próximo, não foi o suficiente. Não podia mais continuar. Tinha saudado o primeiro cliente com uma “desculpa” e vi sair o meu último também com uma “desculpa”. Mas tinha começado com a minha alma e acabado quase perdendo – a.
Quando Romano chegou a casa naquele fim de tarde cumprimentei – o à porta e comecei a abraçá – lo antes de lhe dar as notícias. Não podia acreditar na minha decisão, mas sabia que tinha de estar desesperada para abandonar, uma vês que faltavam três semanas.
Agarrou – me a mão, conduziu – me para o automóvel e fomos comprar umas garrafas de Champanhe. Durante quatro horas ficámos a olhar o mar do cimo dos rochedos junto dos quais estávamos estacionados.
“Vamos encontrar um lugar e vamos os dois?” perguntou.
“O quê? Estás por certo a brincar. No fim de contas, estás a pensar que vou realmente contigo.”
“Estava à espera de verificar se falavas a sério, se ias de facto largar. Não queria ir viver contigo enquanto trabalhasses. Não compreendes que quero coabitar contigo e não partilhar – te?
Comecemos a olhar o dia de amanhã!”
LIVRARIA SATURNO – BRASIL
DIANA 1
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CARLA DE ALMEIDA
300 CLIENTES HABITUAIS –
15 MESES COMO PROSTITUTA
TRADUZIDO DO INGLÊS POR JOSÉ PATRÍCIO
spielenschach@hotmail.com
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INTRODUÇÃO
…
Estávamos no princípio de Fevereiro de 2003. Tinha acabado de completar trinta anos e a minha situação financeira deteriorava – se cada vez mais ao ponto de perder tudo o que tinha.
Estava a chegar ao sexto ano de estadia no país. Tinha vindo para cá com o objectivo de abrir o meu próprio negócio pouco tempo após me te graduado com o Mestrado em leis em Londres. Possuía ainda a empresa de Importação e Exportação que continuava a ser a minha principal fonte de recursos.
Na origem do meu colapso esteve um período muito negativo da minha vida que começou em 2001. Envolvi – me num acidente de automóvel que me pôs em coma durante três meses, do que resultou ficar endividada.
Pertencia aquele género de pessoa frente à qual se deduzia que tinha tudo, independência, atitude e sucesso. Não poucas mulheres desejavam trocar comigo ou possuir, pelo menos, um pouco da minha confiança. O meu sucesso era precisamente uma parte dos seus sonhos e o meu novo Mercedes prateado Clk que costumava conduzir desenrolava a ilusão, mesmo numa falsa sociedade como esta. Por outro lado, os homens, sentiam – se irresistivelmente atraídos por mim. Era como se pudesse arrastá – los misteriosamente, do mesmo modo que um magnete atrai o metal.
Antes dos meus problemas terem começado, a sociedade em que vivia, parecia preocupar – se mais com o meu negócio do que eu, na realidade, me preocupava. Para eles eu tinha tudo e, sem margem para dúvidas, havia – o obtido ilegalmente. A possibilidade de ter sido uma mulher de negócios cheia de sucesso, não se deve ao facto de possuir um carácter indomável. Nesta sociedade, pelo menos, isso não era normal.
Devido ao meu génio determinado e independente e à persistência em continuar o meu êxito à minha custa, pensava em levar avante um plano rapidamente. Tudo me havia atravessado o espírito, suicídio, tráfico de droga, e até mesmo prostituição. O suicídio era a maneira mais simples. Traficante de droga era demasiado arriscado. Portanto só restava a prostituição. Se era isso que me ia resolver o problema, então seja! Mas não era assim tão fácil, na medida em que falar é simples e pensar ainda mais, mas poderia uma pessoa como eu abalançar-se a uma coisa dessas?
Ao discutir o problema com um velho amigo chamado Simão, trouxe à discussão aquilo que me tinha passado pela cabeça, a extensão dos meus planos para resolver o meu dilema. Este homem de olhos verdes, alto e elegante, replicou-me que se de facto me conhecia tão bem como pensava, devia seguir em frente sem me importar com o que ele dissesse, oferecendo-se, para meu primeiro cliente.
Disse-lhe que sim a brincar e perguntei – lhe quando. Simão apressou – se a responder que a próxima noite lhe parecia bem e, antes de me permitir pensar mais, tinha concordado!
CAPÍTULO 1
Tal como havíamos combinado, Simão veio na noite seguinte e, dado que o meu apartamento não lhe era estranho, portou-se como se fora seu, passeando-se livremente pelos compartimentos, descrevendo cada pormenor de cada obra de arte tal como se fosse apenas uma mera nova visita. O único detalhe que colocava esta visita aparte das outras era o forte cheiro a loção pós barbear Armani que deixava atrás de si na medida em que se deslocava suavemente pelo brilhante soalho de mármore e o olhar – se, a cada oportunidade, num dos muitos espelhos altos.
Simão saíra mais cedo do que o costume do escritório de contabilidade pedindo a um dos seus empregados para atender a clientela. Este homem de trinta e cinco anos, tinha, pelos meus cálculos, passada uma hora a arranjar-se para o evento. Habitualmente não se barbeava tão bem e, pela primeira vez de que me lembrava, vestia, com bom gosto, uma camisa passada a ferro.
Estendeu-me uma garrafa de vinho tinto e eu dirigi-me à cozinha buscar um saca –rolhas e copos.
Simão conhecia muitos dos meus segredos. Ao longo dos anos tinha partilhado as minhas confidências com ele mas decidira abrir uma excepção para esta. Era a primeira vez que me encontrava na eminência de praticar sexo com um amigo e estava incrivelmente nervosa. Mas tinha um papel a desempenhar semelhantemente aqueles que misturam trabalho e prazer. Era agora uma prostituta e tinha de portar – me como tal não obstante o facto de Simão ser um velho amigo! Tentava conter – me com dificuldade e não podia dar – me ao luxo de abortar esta oportunidade ou perder um amigo
Tinha passado todo o malvado dia tremendo ante toda aquela experiência. Como me iria portar? O que faria? Nunca antes havia tirado as minhas cuecas à espera de ser penetrada. Tudo isto era novo para mim.
Sem nenhuma margem de erro, pude aperceber-me que Simão também estava nervoso. Desassossegado e com risinhos despropositados portava-se de maneira totalmente diferente do seu carácter. Apercebi – me que estava infeliz a princípio, embora engolisse o medo a cada golada de vinho que passava da boca ao pomo-de-adão. Desde o nosso primeiro encontro que aguardava este dia. Ia, finalmente, concretizar os seus sonhos.
Ao fim de um pedaço havíamos esvaziado a garrafa de vinho devido ao que começava a sentir-me mais descontraída e menos preocupada do que me tinha sentido durante todo o dia. Já não havia mais desculpas para adiar procedimentos e desejar que tudo estivesse acabado; estava pronta como nunca estivera para ouvir música e acabar a tortura que me ia roendo o estômago como se fora ácido a dissolver-me as células da pele.
Aclarando a garganta, ganhei coragem, respirei fundo mais uma vez, levantei – me do sofá e perguntei-lhe de que estava à espera.
A viagem da sala de estar até ao quarto de dormir pareceu-me ser a mais curta de sempre e, na esperança de que o resto fosse também curto, só ansiava por que tudo estivesse terminado.
Enquanto esperava que me despisse, sentado no banco de ginástica, uma vez mais me dei conta daquilo que estava a fazer e concentrando-me interiormente fiz a mim própria perguntas sem conto. O que irá pensar do meu corpo? Sossegou-me o facto de me ter visto já de topless na praia. O que ainda não vira era o que estava escondido nas minhas calcinhas. Bem, pensei, se já viu uma já as viu todas! Depois veio a questão final, o que iria pensar do meu desempenho? O quê, se eu não era tão boa como devia ser? Tentando encontrar uma maneira de me consolar, fiz uma rápida retrospectiva da minha experiência de um ano com uma mulher, Paula.
Eu e a Paula conhecêramo-nos há cinco anos durante um Verão escaldante. Durante um curto espaço de tempo tornara – se membro do nosso grupo de Verão e, de certo modo, Paula mirava-me e admirava-me. Era atleta Nacional e a sua compleição provava que trabalhava no duro; A ausência de gordura era o resultado da sua transformação num corpo tonificado, escultural e musculado que, de certo modo, não condizia com a sua linda cara.
Durante aquele longo estio, invulgarmente abrasador, toda a gente ia para minha casa finalizar a reunião. Salvo raras excepções, todos os membros do nosso grupo tinham boa posição social e de trabalho. Um ou dois eram directores de companhias Internacionais, outros tinham prósperos negócios e os restantes tinham um bom status profissional. O que nos reuniu foi a identidade partilhada de nos encontrarmos num país estrangeiro, isto é, todos com excepção da Paula.
Não obstante o largo leque de variação de responsabilidades do grupo, tínhamos, de certo modo, começado a fumar ocasionalmente haxixe e o meu lugar era no ponto de encontro habitual. Nos fins-de-semana era habitual as pessoas irem-se embora ao nascer do sol, no caso de não terem adormecido pelo efeito.
Nessa noite toda a gente saiu cedo para a cidade. Já demasiado pedrada, decidi ficar em casa e, por qualquer razão, quando pensava ser o seu inglês recordado com dificuldade, Paula decidiu não ir sem mim e lá ficámos deitadas no sofá a ouvir o Enigma CD.
A certa altura pedi-lhe para me massajar o pé. De posse do facto de que era habitual os meus amigos fazerem – me esse serviço, começou a massajá – los só com o intuito de colocar a cabeça nas minhas pernas durante um bocadinho.
Devido à influência da droga o nosso estado era de sonolência e comecei a envolver-me devagarinho e mais concentrada na música espiritual que nos envolvia. Ardia como habitualmente, incenso de sândalo no ambiente e a luz da vela reflectia as paredes do quarto. Na verdade, neste, tudo era o mesmo à excepção do sentimento.
À medida que me continuava a massajar os pés, senti as suas mãos moverem-se cada vez mais devagar e tornarem-se gradualmente mais firmes como se fossem conduzidas pelo ritmo da música. Som, toque, e cheiro, eram os únicos sentidos que dominavam. Os meus olhos encontravam-se fechados e o meu espírito vazio. Tudo o que podia sentir, era uma irresistível sensação de adrenalina, uma adrenalina proibida que me estava a tomar posse do corpo.
Sem ter a certeza de que isto me estava a acontecer, abri os olhos. As minhas pestanas estavam extremamente pesadas mas obriguei-as a aguentar o peso à medida que a energia que me rodeava me dava a noção de que algo de indescritível estava a acontecer. Baixei os olhos para Paula. As suas mãos já não me massajavam os pés mas, em vez disso, subiam devagarinho pela minha perna. Ambas nos olhámos, mas sem dizer nada.
No silêncio, o cheiro a incenso tornou-se mais forte enquanto a música subia de tom e, no entanto, mais suave e vagarosa. Parecia que me encontrava numa zona de tempo diferente, sem saber calcular as coisas, mas simplesmente deixar andar. A olhar-me continuamente nos olhos, Paula continuava a deslizar as mãos ascendentemente pelo meu corpo, parando apenas quando atingido o destino escolhido, os meus seios. Acariciou – os com as mãos durante uns momentos, enquanto olhava para mim afim de ler a sensação nos meus olhos. Movendo a cabeça na sua direcção, colocou o meu mamilo na boca lambendo-o ao mesmo tempo que o chupava gentilmente. A sensação era demasiado forte para me permitir entrar nas implicações proibidas. Quanto mais pensava nelas maior se tornava a luxúria. A empolgante excitação do meu primeiro encontro sexual, amplificava-se em potentes doses, três vezes mais do que alguma vez antes acontecera. Continuava virgem, não obstante esta estranha experiência. Paula levantou os olhos de novo para mim. Permaneci quieta, inexpressiva. Colocando o seu corpo por cima do meu, deslizou para cima de molde a encontrar os meus lábios e começou a beijá – los. A sensação foi mais enérgica do que nunca. Queria explodir de êxtase. A inusitada sensação da ausência de pelos faciais, adicionou uma inexprimível sensação eléctrica ao cenário proibido, conducente a um autêntico relacionamento.
Regressei do meu devaneio. Simão estava de pé na minha frente e apercebeu-se que estava mais descontraída. Recordando esta pequena fracção de experiência, convenci-me a mim própria de que tinha mais traquejo do que a maioria! Sabia como funcionava o corpo de uma mulher. Aprendera como cada parte trabalha e reage. Tinha reunido mais informação e entendimento acerca desta matéria naquele ano do que a maior parte dos homens haviam de possuir numa vida inteira.
O que tinha de fazer agora, era silenciar as minhas cogitações e entrar no papel da minha personagem com Simão que nessa altura estava a pensar de maneira diferente na medida em que eu olhava fixamente a parede.
“Olá, menina de grandes olhos verdes! Já regressou ou sou ainda forçado a interpretar os seus misteriosos pensamentos? Neste preciso momento, há dez minutos que tenta hipnotizar aquela parede”, disse.
Rapidamente desfiz o meu inalterável olhar e dirigi-me para a cama respondendo “desculpa, estava apenas a pensar num encontro que organizei para amanhã e a tentar preparar-me psicologicamente para ele.”
Agora jazíamos na cama a ouvir as atrozes anedotas do Simão que tentava desesperadamente aliviar a atmosfera. Mas a última coisa que eu queria ouvir era “Anedotas de Loiras”.
Não pareciam apropriadas na altura, mas ria nervosamente, mesmo assim. O nosso estado nervoso afectava-nos em tudo excepto no que estávamos lá para fazer. Na medida em que os nossos ataques de riso foram esmorecendo, Simão permitiu – se beijar – me o pescoço. Obriguei – me a colaborar e coloquei – me em posição. Os instintos naturais de Simão começaram a ganhar controle sobre o seu ser social. A respiração tornara-se-lhe mais forte com a sua incontrolável pressa de me devorar. Uma vez mais os meus devaneios foram para a minha ex-amiga recordando como costumávamos tocar-nos, como deslizávamos uma por cima da outra, e fazíamos com que os nossos corpos transpirassem de paixão durante aqueles momentos excitantes. Como conduzíamos e dirigíamos as nossas mãos para as zonas sensitivas.
Peguei nas de Simão e conduzi-as através do meu corpo tal como fazia com Paula. Por qualquer razão desconhecida, tentei tocar-lhe do mesmo modo que fazia com ela. Cada passo que dava era em ligação com Paula, e não com qualquer outra das minhas numerosas experiências passadas. Cada referência que fazia era em relação a ela, ao diferente, ao inaceitável, ao proibido. Quando voltei, apercebi-me que Simão abandonara o seu prazer pela falsa ilusão de que a qualidade do sexo residia na capacidade de resistência de um homem. Concentrava-se apenas na quantidade de tempo em que podia actuar. Para ele isso era exactamente aquilo que era, um desempenho. Mostrava – se desesperadamente a querer demonstrar alguma coisa, a mostrar – me que era suficientemente bom, a impressionar – me, quando, na prática eu tinha sido o único actor. Porventura porque eu não fingia ruídos, ou mostrava algum sinal de me vir?
Ambos suávamos, o que provava trabalho duro, mas senti que ele não podia aguentar-se por muito mais tempo e, para meu grande alívio, tinha razão. “Não aguento. Estou-me a vir” disse antes de deixar escapar um enorme grito.
O serviço estava terminado. Depois da saída de Simão, continuei na cama pensando quão fácil tinha sido. Tudo o que dominava o meu espírito era o signo do Euro. Sabia agora que era capaz de fazer isto de novo mas também estava convencida de que o tinha feito com alguém em quem confiava e não com um estranho. De qualquer modo, estava determinada a fazê – lo de novo se a liquidação da minha dívida acumulada dependesse disso.
Passei horas sem conto a pensar como poderia conseguir mais trabalho, se devia revelar aos outros amigos de Simão o meu segredo. Se me recusasse a falar, como poderia arranjar trabalho? Repentinamente alguém surgiu no meu espírito, Marco. Tinha – o conhecido há quase dois anos. O nosso encontro deu-se quando me conduziu ao teatro uma noite.
Era um moço simpático embora tivéssemos partilhado ambos uma experiência má. Marco apaixonara-se por mim. A verdade era que ele ultrapassara o limite e a certa altura estava perigosamente obcecado. Enviara cartas de amor que não tinham fim, poemas, mensagens e flores, só com o pretexto de me falar. Durante quatro meses, à noite, estacionou junto dos edifícios contíguos ao meu apartamento e controlou qualquer movimento que eu tenha feito. Nalguns casos enviou – me mensagens ameaçando – me quando me via acompanhada por algum amigo do sexo masculino.
Seja como for, este homem vulgar, alto, de pele cor de azeitona, de cabelo castanho, espesso, de carreiro ao meio e óculos, não me atraía e a sua maneira de vestir conservadora, mesmo aos trinta e três anos, ainda me despertava menos.
Estava longe de ser o ideal de pessoa mas era uma opção mais segura em comparação com todos os outros na medida em que não conhecia os meus amigos. Na verdade, não tinha muitos amigos no país o que significava que ninguém ouviria falar disso.
Não tinha nada a perder, só a ganhar, portanto decide-me a telefonar a Marco e convidá-lo para jantar, naquela mesma noite. Concordou, mas ainda estava insegura. Como lhe daria a notícia? Pensei que seria melhor sair com ele. Sabia da minha situação, por isso, tinha de entender.
Bem, compreendeu, ou melhor, foi melhor do que o prazer de compreender. Foi a sua oportunidade de realizar aquilo que desejara fazer há muito, muito tempo!
Primeiro, ao dar – lhe a notícia, ficou perturbado e relutante, mas tinha a certeza que me queria saltar para cima. Fazendo-me sentir isso estava a proceder de modo a ajudar-me e perguntou se podia aceitar um cheque pois não viera preparado.
Depois de concordar dirigi – me para a cozinha, enchi dois copos com Old Ballentines e pedi-lhe par ir para o quarto. Acordei no dia seguinte com um cheque e um enorme tormento!
Mastigando o maior número possível de torradas afim de absorver meia garrafa de whisky que eu e o Marco tínhamos bebido conjuntamente, olhava fixamente pela janela da cozinha magicando no que se seguiria. Conhecia muitos homens que haviam de rejubilar com a oportunidade de dormir comigo mas não tinha a certeza se guardariam segredo.
De qualquer maneira, precisava de falar com algum deles que fosse capaz de manter tudo confidencial e emprestar – me um ombro em cima do qual pudesse chorar. Howard era o homem ideal; os seus quarenta e cinco anos tinham-lhe fornecido muita experiência e sabedoria. Tinha um carácter calmo, de indiano decente e tinha uma aura confortável que de algum modo não condizia com a expressão dura que ostentava a sua rechonchuda face cor de canela.
Era o meu mais antigo e querido amigo no país e respeitávamos-nos de tal modo mutuamente, que não era pensável mencionar sequer a possibilidade deste tipo de serviço entre nós. Telefonei ao Howard fazendo-lhe sentir que era uma questão de vida ou de morte, convencendo – o a encontrar – se comigo nessa mesma tarde.
Cheguei ao café e, como de costume, veio atrasado. Era engenheiro de computadores e decerto modo encontrei dificuldades para o arrancar ao teclado. Sentei – me e, olhando através da janela pensava comigo como diabo iria dizer – lhe aquilo. Devo ter ficado hipnotizada com o ar pouco oxigenado, porquanto Howard batera na janela uns momentos antes.
Entrou, cumprimentou-me e sentou-se. Sabia que algo de sério se estava a passar, dada a ausência da minha jovialidade normal, e perguntou se estava tudo bem mas não pude abrir-me e falei de algo diverso mas nada acerca do que interessava
Dirigiu – se para o balcão e colocou-se na bicha. A cada momento, invadia-me uma premência incrível de me deitar a correr e de lhe contar. Mas logo que regressava metamorfoseou-se-me a coragem em mera covardia.
Howard sentou-se e começou a falar automaticamente na situação financeira dos seus amigos e o que isso o preocupava. Sem hesitar, tirei partido da “situação” dos amigos e abri – me com ele.
De algum modo se pôs a arrefecer o café entre a boca e o queixo, e pediu – me para repetir aquilo que ele pensava ter ouvido.
Antes que pudesse dizer alguma coisa expliquei – lhe o que acontecera. Sentado e atónito continuou a ouvir sabendo perfeitamente que se eu tinha tomado uma tal decisão não havia hipótese de ma tirar da cabeça.
Depois de me escutar, era agora a minha vez de lhe prestar atenção. Disse-me então que há pouco tinha visto alguma coisa a propósito de raparigas que trabalhavam e, dando-me a informação de bandeja, fiquei a saber que, se queria trabalhara a partir de casa, tinha de anunciar no jornal local. E isto amedrontava-me! O facto de ter de meter estranhos no meu domicílio era, de facto, terrível, mas se tinha de ser patroa de mim própria, era esta a maneira como as coisas tinham de ser.
Logo que acrescentou “de acordo com o documentário” cheguei à conclusão que a maioria auferia uma média de 7.500 por mês. E são as que trabalham em bordéis de classe inferior.
Estava mais determinada do que nunca a ultrapassar o medo. Parecia que me sentia com a energia suficiente para anunciar sem me importar com as consequências.
No meu regresso, entrei no quiosque dos jornais e perguntei ao homem atrás do balcão se me podia dizer qual era o jornal local mais popular.
Ao chegar ao carro, sentei – me e folheei nervosamente todo o periódico para ver se podia encontrar alguma coisa que se parecesse com o que procurava. Após um pedaço, cheguei à conclusão de que tinha passado por elas várias vezes na medida em que não estava à espera de encontrar tantas páginas. Estes anúncios de raparigas ocupavam pelo menos seis.
À medida que analisava a secção, comecei a ficar desiludida com o que encontrara. Meu Deus! Murmurei ao ler os baixos, vulgares e desesperados anúncios. Como é que estas mulheres podiam ser tão indecentes? Não podia acreditar no que estava a ler. Peguei numa caneta e tentei redigir um anúncio da minha autoria.
Ao chegar a casa, peguei no telefone e fiz das tripas coração para encontrar a força necessária para enfrentar o jornal. Por fim, à trigésima tentativa, respirei fundo e encontrei a coragem suficiente para falar com a, ameaçadora, e de voz bem audível, senhora do outro lado.
Esta interlocutora começou por ser grosseira, conseguindo agravar – me a ferida. Sabia que tinha sotaque, mas era perfeitamente compreensível! Tentava pôr um anúncio sem qualquer indicação da respectiva secção. Na verdade, foi algo que nunca me ocorrera até ao momento de precisar. Era como se a mulher quisesse aumentar-me o embaraço e complicar as coisas. E como se isso não bastasse, dava um toque de sarcasmo a tudo que dizia e perguntava:
“Oh! finalmente parece – me que já sei onde quer anunciar. Penso que será nos classificados “, disse rindo escarninho.
Mas deve ter deixado de expressar o que sentia, logo que li o anúncio. Era simples e sincero.
“Está bem. É na secção de classificados, respondi sem me ter apercebido quando analisei os outros anúncios que secção era, na verdade.
“O que é que gostava de escrever?” perguntou.
“Oh! Pós graduada. 27 anos.
Trabalha só, a partir de casa.
Discreto e privado.
Tel. …”
É isso? Tem a certeza?
“Tenho”, disse delicadamente dando – lhe os elementos de identificação.
Era um texto sincero. Sem floreados, sem exageros. Bem, tive que mentir acerca da idade pois que no meu caso havia ultrapassado o prazo de consumo.
CAPÍTULO 2
Há seis meses que Rozen partira para a Grécia. Regressava no dia seguinte e não fazia a mínima ideia de como lhe iria dar as notícias.
Rozen era o meu companheiro de quarto. Há três meses decidira alugar um aposento do meu apartamento para ajudar a suportar os custos básicos.
Era um judeu ainda jovem, que partira do Egipto à procura do seu sonho, fazer dinheiro e depressa. Estava no país há um ano quando passou a viver comigo.
Aparentava ter menos dez anos do que os seus trinta e três já feitos. Tinha acentuadas marcas de acne e recusava – se a deixar escapar uma dura, cinzelada expressão fisionómica. O seu cabelo comprido era habitualmente atado num vigoroso e lubrificado rabo-de-cavalo que lhe conferia, a par do seu casaco de cabedal, um ar de mafioso terrível.
Rozen dedicava todo o seu tempo ao sonho que o trouxera, trabalhando no duro na sua profissão, obtendo excelentes lucros. Tinha poucos conhecimentos no país; tornei – me assim na sua melhor amiga, nos curtos três meses em que nos conhecemos.
Durante as nossa primeiras e escassas semanas cheias de excelente camaradagem, o nosso instinto natural apoderou-se de nós conduzindo ao começo de um relacionamento efémero de apenas cerca de um mês. Sabendo-me sem recursos, e que a minha vida estava totalmente em ruínas, depressa me dei conta de que não podia ser de outra maneira e para consternação de Rozen acabei com essa óptima convivência.
No entanto, Rozen continuava inflamado pela falsa ilusão de que me encontrava apaixonada por ele. E, pacientemente, esperava por melhores dias, que lhe fornecessem os ingredientes necessários para recomeçar uma verdadeira história de amor.
Ouvi-o meter a chave na porta e, rapidamente, avancei na sua direcção. Abriu, ostentando um maravilhoso sorriso. Extraordinariamente feliz por me ver, deixou cair os múltiplo sacos que trazia afim de abraçar – me, dizendo no seu sotaqueado e incorrecto inglês:
“Olá, Diana. Senti tanto a tua falta! Como tens passado?”
Fiquei prisioneira do seu vigoroso amplexo durante alguns minutos. Estava mais feliz do que quando partira para as suas almejadas férias. Ao ajudá-lo a levar a bagagem fui-lhe dizendo que precisava falar-lhe, e pedi-lhe para se sentar.
A sua expressão esmoreceu quando lhe falei da minha decisão. Não podia acreditar no que estava a ouvir.
“É verdade. Já tive dois amigos clientes antes de tu vires. Pus hoje um anúncio no jornal. Deve sair amanhã. Peço muita desculpa. Não é justo fazer-te uma coisa destas, eu sei. Mas, por favor, tenta compreender que estou entre a espada e a parede. Para além disso, quero que saibas que compreendo no caso de te quereres ir embora. Na verdade tenho estado a pensar nisso e a única coisa justa a fazer é que eu saia, se assim o desejares. A opção pertence-te”.
Rozen ergueu-se, pegou nos sacos e foi para o quarto desfazê – los. A conversa deixara-o vazio e mudo. Sentindo – me infeliz, fui atrás dele e fiquei à porta do quarto a observá – lo a separar a roupa numa pilha e os presentes que me havia comprado, noutra.
Após um curto lapso de tempo sentou-se na cama e colocou a cabeça em cima de uma das mãos. Cheguei – me a ele e, de certo modo, senti a necessidade de colocar o meu braço no seu ombro e confortá – lo.
Rozen não podia acreditar que eu tivesse chegado a este ponto e a esta decisão, embora pudesse compreender perfeitamente o meu desespero. Quando lhe disse o tempo que tencionava trabalhar, respondeu:
“Dizes cinco meses, Diana. É esse o teu plano? Todas fazem planos; seis meses, um ano, mas nunca ficam por aí. Hás-de ver. Acabas por ficar viciada.
Sugeriu, a seguir, que ambos continuássemos a viver no apartamento dizendo que era mais “seguro” para mim porquanto nunca lhe passaria pela cabeça abandonar-me, não obstante a minha decisão.
Do que não tinha a certeza era se a sua deliberação tinha sido uma consequência do nosso relacionamento anterior ou ao medo de voltar a ficar só. Uma coisa era certa. Estava aliviada.
Este género de coisas não constituía novidade para ele. Já me tinha falado antes no seu envolvimento num bordel, quando regressara ao Egipto. Até certo ponto estava convencida que tinha vindo por causa disso: fechar um capítulo desagradável que desgostara e embaraçara a família. Agora encontrava – se livre para lhe provar que podia realizar o seu sonho de um modo diferente, trabalhando arduamente, num emprego diferente, mesmo que isso significasse ter de abandonar o seu país.
Antes de deixar o quarto, explicou-me alguns pontos que achou que eu devia saber: a conveniência de um nome “artístico”, como actuar profissionalmente, como respeitar as tabelas de preços, e, acima de tudo, nunca me envolver com clientes, quer a um nível amigável ou emocional.
Nunca na vida pude compreender porque havia de mudar o nome e, em breve, cheguei à conclusão de que, embora todas as prostitutas o fizessem, para mim era uma ideia desprovida de senso já que só haveria de compreender quando estivesse, de facto, metida na profissão.
CAPÍTULO 3
Naquela manhã, às sete e meia acordei com o Napoleão a ladrar e os primeiros feixes de luz do sol que se coavam através das persianas.
Após dar voltas e reviravoltas de sem conto na cama, cheguei à conclusão de que era escusado, não conseguia voltar a pregar olho, já que pensava constantemente na possibilidade de receber alguma resposta ao meu anúncio.
Para ali estava repetindo constantemente para mim mesma, sempre as mesmas malditas questões: “Será que alguém vai responder? Como vou reagir? Quanto vou cobrar?”
Torturava-me ao ponto de me sentir doente encontrando, assim, uma desculpa para não trabalhar nesse dia, se acaso perdesse a coragem de o fazer.
Deviam ser praticamente oito horas quando o Rozen bateu à porta do o meu quarto. Fingi que estava a dormir e não respondi. Os meus nervos não me iam permitir encará-lo e o meu desejo era que se fosse embora.
Passados alguns minutos ouvi a porta da rua fechar – se. Para meu alívio saíra para o trabalho. Repentinamente dei um salto ao ouvir um toque alto e pouco familiar. Era o meu recentemente comprado telefone de trabalho que tocava às dez para as nove! Ponderando se havia de responder ou não, peguei nele rapidamente antes de qualquer oportunidade de mudar de ideias.
“Olá, querida, estou a telefonar por causa do anúncio no jornal de hoje. Podes – me fornecer algumas informações, se faz favor? Perguntou uma voz envelhecida antes que tivesse oportunidade de dizer “está?”.
“Está? Mas naturalmente. O que deseja saber?”
O homem deu uma gargalhada perante a minha inocência.
“Portanto, és um rapariga de vinte e sete anos, certo? Qual é o teu aspecto? Altura, constituição, cabelo”
Hesitei. Fiquei agora a compreender que alguém vinha ter comigo para fazer sexo sem saber sequer a minha aparência mas, no entanto, tinha de confiar em qualquer figura imaginária, acabada, das minhas feições. Concebia que os homens faziam sexo com as mulheres por serem atraídos por elas e, nesse ponto, cheguei à conclusão que nós, fêmeas, nos encontrávamos iludidas. Um engano acerca do qual estava prestes a saber a verdade.
A voz perguntou se estava, pois que a linha mergulhou no silêncio.
“Estou sim, desculpe. Sou medianamente alta, elegante, cabelos compridos e olhos verdes.”
“Quais as tuas medidas?
“Um metro e sessenta e cinco”.
“Sim, está bem, mas as medidas?
“Faz favor de me desculpar. Não estou familiarizada com as medidas europeias. Posso dar – lhe as inglesas? Meu Deus, não estou a pensar nisso.
“Não estás a pensar em quê, querida? És nova nisto, não és? És, portanto inglesa.”
Ao aperceber – se que era o meu primeiro dia, o homem parou imediatamente de fazer perguntas, fez uma reserva para a hora seguinte e que estaria na minha rua voltando a telefonar para saber pormenores.
O meu temível primeiro telefonema havia terminado. E parecia ter arranjado um cliente, dado que estava programado para dali a uma hora.
Era, de sem qualquer margem para dúvidas a hora mais longa e, ao mesmo tempo, também a mais curta, do trigésimo ano da história da minha vida.
Movendo – me constantemente para trás e para diante, não permiti que a mais pequena peça de mobiliário, CD ou escultura, não fosse observada para ver se tinha pó, que uma única partícula de ar deixasse de estar impregnada e refrescada pelo cheiro a alfazema, ou que alguma migalha de sujidade ou pelo de cão pudessem ser encontrados por debaixo das molduras. Tudo foi inspeccionado e reinspeccionado. Já não havia mais desculpas a não ser pensar em toda aquela provação que ia seguir – se e nas consequências que daí poderiam advir para a sociedade, para a minha família, para o meu status. Era como cantar uma canção cujas palavras haviam sido esquecidas mas que, de algum modo, se continuava a entoar a melodia.
Não parava de fazer constantemente as mesmas perguntas a mim mesma, a tal ponto que, subconscientemente, vociferava as resposta.
A indomável, embora inteligente pessoa que me considerava até ali, metamorfoseara – se numa criatura de normas e valores sociais.
Recordando os rumores à volta da alta sociedade que constituía actualmente a minha vizinhança, quando aqui cheguei pela primeira vez, instantaneamente fiz o inventário. Tudo lhe provocava comentários, a minha original maneira de vestir, a minha personalidade o meu porte, o meu carro caríssimo e, acima de tudo, a minha independência. Pus os olhos no meu cão inquieto e disse “Bem, fui acusada de ser uma prostituta de alta sociedade, devido ao meu direito à independência. Mas que raio de problema é o meu? Quem diz que não estão outra vez enganados? Deram –se ao trabalho de verificar se era verdade?
Faltam quinze minutos. “Que tipo de homem é que vou encontrar à minha porta? Pela minha Nossa Senhora, como irei reagir? Que raio de diabo vou fazer com ele, Napoleão? Simplesmente não podia alhear – me do problema e, a certa altura, quase que ia desmaiar. Cada vez mais o cão se metia nas minhas frustrações, ajudando a aumentar a tensão que enchia o ar. Prestes a ir – me abaixo, respirei profundamente e procurei as respostas para o meu próximo episódio de inquirições temíveis.
O cão estava para ali postado tal como se fora um psicanalista a atender os pacientes, simplesmente à espera que me saísse com as respostas. Repentinamente, o meu telefone de se viço tocou de novo.
“Será ele? Com seiscentos mil diabos do Inferno, Napoleão, como me vou haver com o que se segue?”
O homem encontrava-se ao fundo da rua em que me instalei. Iniciei – o nos pormenores e fiquei ali, de pé, junto da janela da cozinha, olhando pensativamente para o vazio.
A campainha tocou. Ganhei controle e, depois de prender o Napoleão na cozinha, lá me arrastei até à entrada. A campainha tocou segunda vez. Hesitei antes de abri uma nesga da porta. Ante a minha estupefacção, vislumbrei um homem velho, de cabelos brancos e desenhando um largo sorriso. Fiquei completamente inerte, muda como se o gato me tivesse comido a língua. Controlando – me, forcei um sorriso, moldei a cara do homem em signo do Euro e pedi-lhe para entrar.
”Por favor, sente – se e esteja à sua vontade. Sou a Diana e o Sr.…?”
“Carlos, eu sou o Carlos. Que surpresa agradável. Não estava à espera de encontrar alguém assim!
“Estava decerto a ser sarcástico?! Mal dormira, o meu cabelo estava pior do que o costume e nem sequer estava vestida para lhe agradar!
Passados que foram alguns minutos, descontraí – me com o personagem, provavelmente devido à sua compreensiva imagem de avozinho e à sua voraz curiosidade que não me deixava espaço para pensar sobre o que o homem estava para ali a fazer. De certa maneira senti uma premente urgência em me justificar e explica porque raio de diabos havia chegado a uma tal degradação. Um grito de ajuda? Talvez se não me virem como uma libertina? Ou convencê-los de que não tenho escolha e que fui bem sucedida nos no passado? Que tal se isso for uma maneira de me fazer respeitar e ser levada a sério? Fossem quais fossem as razões, constituíram as ferramentas indispensáveis destinadas ao “ritual de quebrar o gelo com o meu novo cliente”.
Carlos apresentava-se extraordinariamente amigável. Apercebeu-se que eu estava demasiado nervosa para o convidar para o quarto. Sabedora disso, matava o tempo que ele não comentava, já que se sentia privilegiado por ter alguém que lhe prestava atenção durante tanto tempo.
Passada uma hora, quase que me tinha contado quase toda a história da sua vida; histórias sem fim que, para este engenheiro reformado, soavam como aventuras, mas que pareciam tornar as coisas pouco encorajadoras.
O tempo voava. Já era a quinta vez que o meu telefone tocava. Não pude adiar, pois que de outro modo passava todo o santo dia na conversa com esse indivíduo o que implicava perda de trabalho. Respirei fundo, ganhei controle, pensei em dias melhores, e pedi-lhe para me seguir ara o meu quarto
Quando caminhava pelo corredor senti-me a desfalecer e disse-lhe que tinha escorregado de maneira a disfarçar o facto de quase ter desmaiado à porta do quarto; quanto a ele, seguia silencioso quando, enfim chegámos. O pobre do homem não pôde encontrar motivo para sorrir quando descobriu que o quarto era um ginásio e que a cama estava colocada directamente no chão. Acho que o motivo para sorrir se encontrava em mim, após me sentir tão intimidada durante toda a àquela hora. Não havia colchão. Apenas um edredão.
Passei a dormir ali a partir da altura em que Rozen foi para lá e tinha – me habituado a dormir no chão devido a problemas da coluna e de dinheiro. Repentinamente compreendi que um colchão era desnecessário e, a sorrir para ele, desculpei-me por não ter pensado nisso mais cedo.
Ainda chocado, Carlos atirou – se ao trabalho e começou a despir – se em silêncio enquanto eu, sentada no edredão, olhava impressionada. Nunca em toda a minha vida vira um homem desta idade postado nu na minha frente e não fazia ideia da expectativa. Fiquei insensível, para ali à espera, sem fazer a mínima ideia do que fazer ou reagir mas desejando separar matéria e espírito e largar ali o meu corpo para o recolher depois. Mas não era capaz. Não podia e tinha de enfrentar a música fosse qual fosse a área a tocar. Só desejei que tudo estivesse passado.
Curvando o debilitado e amarrecado corpo, perguntou-me se não ia despir-me. Colocou-me um dos seus braços à volta do pescoço na tentativa de me acalmar, que não precisava de estar nervosa e que tudo ia correr pelo melhor. Ergui-me e dirigi–me para o banco de ginástica para me despir. Carlos tecia-me elogios à medida que as peças de vestuário se iam desprendendo da minha pele.
Sentindo-me como uma virgem, voltei-me e deitei-me nervosamente a seu lado. Era a quarta vez que sentia que estava prestes a perder a virgindade. A primeira foi com o meu primeiro namorado, a segunda com Paula e a terceira com Simão, a minha cobaias, e a quarta com este homem que estava prestes a ser o meu primeiro cliente oficial.
Sem saber o que fazer, indaguei se acaso gostava de uma massagem e logo me perguntei porque fizera uma sugestão tão estúpida, dado que cheguei à conclusão de que não fazia a mínima ideia de como dar uma. Para meu desconcerto, respondeu-me que sim, que adoraria que lhe desse uma massagem. Censurando-me, dirigi-me ao quarto de banho à procura de óleo. Regressei com um frasco de creme amaciador e encontrei-o de rabo para o ar. Derramei o frio creme na sua pele rugosa enquanto pensava que raio de diabos iria fazer a seguir. Repentinamente soltou um grito.
“Chega. É creme suficiente!”
Ao olhar para baixo cheguei à conclusão de que havia derramado metade do conteúdo do frasco e, então, pedi desculpa ao mesmo tempo que procurava uma toalha para limpá-lo antes de começar, suavemente a massajá-lo. Subitamente lembrei-me dos preservativos e entrei em pânico dada a minha ignorância em usá-los. Para além disso não fazia a mínima ideia como dizer-lhe e, assim, convenci-me a mim própria a não o fazer.
Carlos não estava a gostar da massagem e voltou – se. De olhar cada vez mais fixo, senti a frieza da sua mão na minha vagina e deixei – me ficar muito quietinha. Não havia experiências do passado nem mesmo ex namoradas podiam vir salvar – me o dia; para ali estava desprovida de sentidos tal como se não existisse.
Pouco a pouco e perguntando de vez em quando “Querida, estás a gostar?”, tentava fazer – me vir massajando – me a o clítoris e metendo – me alternadamente o dedo indicador na vagina. Gostava de fazer isso mas não conseguia nada de mim. Repentinamente pensei em fingir. “E se ele dá conta?”, pensei. Mas naquele preciso momento veio – me à ideia que eu mesma industriava os meus amigos a estudarem a parceira e verificar se estava a fingir ou não. Inicialmente a maioria deles jurava a pés juntos que as suas namoradas nunca fingiam mas sem conseguirem provar como. Pois bem. Toca de fingir. Mas de novo hesitei. Merda! Não posso porque este homem é mais do que sabido porque é velho e conhece todos os truques.
A partir daí não me pude dar o luxo de fingir, pelo menos nessa altura. Tinha de me pôr a praticar a mudar de estratégia. Reunindo a coragem necessária, voltei – me e comecei a beijar o peito grisalho de Carlos antes de começa a roça-me por cima dele. Olhando para a camisa de Vénus ao lado, no edredão, estendi o braço para a agarrá-la mas fui interrompida. “Que estás a fazer minha querida? Todas as outras raparigas me chupam sem camisa. Nuca nenhuma usou tal coisa para me fazer um broche; está bem, não vou vir – me, insistia. Nesse preciso momento senti – me abandonada, nervosa e assustada mas, sobretudo, mais intimidada do que nunca. Não tinha alternativa senão convencer – me a mim própria de que ele sabia melhor o que devia ser feito por ser um homem educado e, acima de tudo, com mais experiência neste círculo embora não fosse ingénua ao ponto de deixar de ver que estava a tirar partido das minha inexperiência.
Pegando – lhe no pénis meio erecto cerrei com força os olhos para me alhear da realidade e comecei a sugá-lo. Debalde. O diabo do coiso fugia-me das mãos forçando-me a abrir os olhos e enfrentar a verdade amarga ao mesmo tempo que tentava ignorá-la. Mas porque é que isto me está a acontecer? Perguntava para mim própria perdendo cada vez mais a auto confiança e tornando-me cada vez mais insegura. A minha última gota de auto estima evaporava-se pela experiência de cada segundo num esforço continuado de o manter erecto. Não tinha escolha senão deixá-lo de novo tomar o controle.
Começou por beijar-me nos lábios. Num desesperado apelo para ver-me livre dele polidamente articule que as prostitutas não faziam isso. Uma vez mais Carlos asseverou que todas as que visitava o faziam, deixando-me numa posição incómoda em que tinha de sentir a sua fina serpentina como uma língua dentro da minha boca.
Para espanto meu, Carlos estava determinado a penetrar-me de pénis erecto ou não. Colocando-me de gatas, começou a balançar o seu frágil corpo em mim e com todo o peso nas minhas costas. A minha vagina, mais que dorida, adormeceu alheando – se de toda a actividade a que este homem a violentava balançando – se para trás e para a frente sem que eu pudesse sentir se me estava a penetrar ou não. Já não podia sentir a fricção entre o meu ânus e a minha vagina. Finalmente Carlos soltou um grito e, para meu enorme alívio, percebi de algum modo que se tinha vindo.
Enrolei rapidamente uma toalha à volta do meu corpo e conduzi o à porta, ao mesmo tempo que lhe pedia o dinheiro antes de abri-la. Por alguma razão não podia actuar da maneira que Rozen me ensinara, pedir antecipadamente o dinheiro.
Fora este o meu primeiro cliente saído dos meus anúncios, este sexagenário a provar-me que era necessário estômago e paciência para continuar o jogo.
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O tempo que eu havia estipulado foi-se pelo cano abaixo. Embora o acto propriamente, fosse bastante rápido, a conversa ultrapassou uma hora e tentei convencer-me que não iria ser sempre asssim.
Pelo que pude tirar de Carlos, era um cliente regular de bordéis e visitada a maioria deles bem como as prostitutas da área. Era como se isto fosse o seu escape, o seu hobby, permitindo-lhe preencher todos aqueles longos espaços vazios que os infindáveis dias lhe proporcionavam.
Este velho senhor era eficaz na caça à secção classificada. Era o seu fan favorito a descobrir o maior número em escassos segundos. Entre milhares conseguiu divisar o meu primeiro anúncio e ganhou , de facto, a corrida. Deixou – me a pensar se gostava de visitar as raparigas mais porque eram novidade ou porque podia tirar partido tal como fizera comigo. Tinha eu tido sorte ou azar?
Rozen chegou a casa desejoso de saber como fora o meu primeiro dia de aventuras. Assim que comecei a contar-lhe a minha experiência, começou a ficar pior que estragado. Para além da recepção do dinheiro tinha alienado a maioria das regras que me tinha aconselhado seguir; não pedira o dinheiro antecipadamente, não respeitei o tempo estipulado, não alterei o meu nome, não usei preservativo durante o sexo bucal e beijei o cliente. Tudo o que fizera era exactamente o oposto do que devia ter feito.
A experiência do dia deixara – me exausta. Recebi centenas de chamadas mas não conseguia trabalhar de tarde pois havia surgido um problema com a minha tarefa. Desde que tivera o acidente e a série de acontecimentos daí derivados como não ter um supervisor que controlasse os meus negócios na minha ausência contratei um director. Naquele mesmo dia voltou para casa doente.
Eram agora dez horas da noite. Recebi uma chamada do que parecia ser de um jovem. Antes de responder ao telefonema pergunte a Rozen se se importava que eu trabalhasse enquanto ele estava em casa. Disse que não e então deixei o homem marcar para as onze horas.
De algum modo me sentia mais confiante. Talvez devido ao facto de Rozen se encontrar em casa? Talvez porque o jovem prestes a chegar parecia nervoso e inexperiente ao telefone?
A campainha da porta soou. Rapidamente Rozen desapareceu no seu quarto. Abri a porta a um homem de cabelo espetado com aproximadamente dezanove anos, com um grande sorriso.
À medida que caminhávamos para o quarto iluminado a velas e ele, de mãos atrás das costas, pedi-lhe para se sentar no edredão desculpando – me por ainda não ter comprado um colchão e comecei a quebrar o gelo contando-lhe a razão porque chegara ao ponto em que me encontrava e perguntando-lhe o que fazia na vida.
Russell era segurança numa das lojas do centro comercial. Não parecia ser uma das pessoas mais brilhantes e falava com sotaque vulgar. A sua presença desprendia um odor a bolas de naftalina. Estava extremamente nervoso e manteve-se calado até que lhe fiz uma pergunta.
Principiei a despir-me e, vendo-o ali estático, admirado e temeroso sugeri que fizesse o mesmo antes de nos deitarmos ao lado um do outro em cima do edredão.
Russell não parava de tremer e parecia ser completamente inexperiente. Era como se fosse a sua primeira vez. Comecei por lhe beijar o peito para o descontrair antes de lhe colocar o preservativo. Não tinha o pénis erecto e coloquei – lhe o preventivo mesmo asssim e pude começar a chupar-lho. Ao contrário de Carlos não argumentou mas sentindo – se intimidado enquanto eu me curvava e libava.
Por mais que me esforçasse e por mais força que fizesse não dava qualquer resultado. O seu corpo tremia nervosamente e não conseguia relaxar. O cheiro a naftalina tinha – se espalhado sufocando o odor corporal. Russel não possuía iniciativa e deixava-se estar para ali. Já estava farta de chupar aquele pénis molengão mas de algum modo achei que tinha de continuar até acabar o tempo a que tinha direito.
Repentinamente uma aragem passou pela abertura da janela do quarto trazendo consigo o cheiro mais desagradável que me penetrou na pituitária tornando - me o mais possível desconfortável.
Parei de lhe chupar o membro e disse – lhe que precisava de um intervalo já que a minha boca se estava a tornar insensível. Já que continuava sem se mexer, peguei no meu telemóvel e vi as horas. A sua meia hora estava prestes a chegar ao fim. Pensei em Rozen sabendo bem que me iria fazer um sermão ao permitir a um cliente mais tempo do que o estipulado.
Olhei para ele e dei-lhe a entender o que se passava. Insistia para que lhe desse mais uma chance. E dei. Desta vez, sabendo que tinha de apressar-se, tomou a iniciativa de se pôr em mim e, enquanto desesperadamente tentava penetrar-me com aquele pénis molengão, o desagradável cheiro a merda voltou com mais intensidade. Quanto mais se movia mais intenso o cheiro se tornava.
“Desculpa, Russel mas temos de parar por aqui. Não é nada saudável estares a tentar penetrar-me com um pénis que não consegues endireitar. Ademais, não te dás conta do sofrimento que me estás a causar. Não vai resultar. Tenho muita pena. Tenho um outro cliente a chegar dentro de momentos. Temos de fazer isso numa outra vez, certo?”
Russell não conseguia perceber que era em vão tentar persuadir-me a continuar e parou. Enrolei-me numa toalha enquanto ele se vestia, recebi o dinheiro e conduzi-o à porta. O forte cheiro que enchia o quarto ainda lá estava. Acendi a luz para ver se alguém tinha entrado com os pés sujos de merda de cão, mas nada. E o cheiro era mais activo do que nunca. Quando me curvei para limpar o edredão e o cheiro aumentou, repentinamente vi o que era. Russel havia deixado uma marca na minha coberta branca. Tivera tanto medo que se cagara. Enjoada, rapei a porcaria com a ponta dos dedos e fui colocá-la na varanda num grande saco, de molde a que Rozen não conseguisse encontrá-la. Por mais banhos e chuveiros que tomasse não conseguia ver-me livre daquele cheiro. Sentia-me contaminada e podia ainda cheirar o odor a toda a minha volta.
Provara-se que o meu primeiro dia fora de extremos. Havia recebido dois clientes; um velho por demais familiarizado com locais de prostitutas e que tentara tirar partido da minha inexperiência e um jovem inexperiente que, ao contrário do outro que fora a calma em pessoa havia ficado tão amedrontado que deixou a marca do medo no meu quarto.
Uma coisa era certa; por um lado aprendera a não deixar os homens tirar partido da minha situação. Por outro, fiquei a saber que devia sempre tentar persuadir futuros clientes a usar o quarto de banho antes de principiarmos. Mas o mais importante foi chegar à conclusão que homens que visitam prostitutas não podem ser classificados por idade ou classe mas, de preferência, pelo seu todo, pelo menos era o que estava prestes a descobrir!
CAPÍTULO 4
No decurso de algumas semanas choveram chamadas e visitas de todos os tipos de homens, de todas as condições sociais mas, a maioria, pertencente à classe média. Os que estavam familiarizados com a secção dos classificados, andavam sempre muito curiosos por saber das surpresas que algum anúncio novo tivesse para revelar.
Tornara – me numa notável recepcionista que constituía agora uma parte importante do meu ofício. Fosse quem fosse que procurasse pelo anúncio, as mesmas questões eram inquiridas inacreditavelmente pela mesma ordem. Tudo se processava como se os machos inquiridores tivessem frequentado as mesmas classes na mesma escola.
“Está lá? Estou a telefonar por causa do anúncio no jornal. Pode dar – me algumas informações, se faz favor?”.
Durante os primeiros tempos provou ser deveras intimidante, na medida em que eu deixava aos homens o controle do diálogo. Passados alguns dias respondia rápida e confidencialmente papagueando a, assim chamada, minha escrita, antes de serem proferidas as perguntas sacramentais:
“Olá! Tenho 27 anos, 1 metro e 65 de altura, sou elegante, uso cabelos longos castanhos, de busto agradável e medianamente desenvolvido e tenho olhos verdes, não tenho amigos comigo. Trabalho sozinha a partir de casa. Discrição absoluta.” Por vezes: “Não, não é completo. Não faço coito anal, na verdade não faço.” Outras vezes era assim: “Peço desculpa; não tenho qualquer graduação em massagens mas se quiser pode dar – me uma, acrescentava afim de dar um toque de humor.
Rozen tinha – me sido enviado para ser a minha força durante aquelas escassas semanas. Sem ele, não poderia ter recebido os clientes da última noite, enquanto se escondia secretamente no seu quarto.
Sempre que Rozen regressava do trabalho, contava – lhe os acontecimentos do dia. Seriam necessárias horas sem fim para transcrever todas as minhas análises e observações. No entanto, dava – me conta de omitir certos detalhes tais como de usar ainda o meu nome original em lugar de o substituir por “Natacha” e de não ter a coragem necessária para pedir aos clientes pagamento antecipado, e ainda de não os tratar friamente, tal como deve fazer uma verdadeira profissional.
Um dos principais tópicos de conversa era transmitir ao Rozen toda a informação que tinha recebido dos meus clientes no que dizia respeito a outras raparigas que exploravam a área. Inesperadamente, numa manhã de Sábado chuvoso, tirei partido da conversa para perguntar a Rozen se alguma vez tinha ido a uma prostituta. Rindo ruidosamente, disse – me que havia visitado muitas. Chocado pela pergunta, rapidamente rumou a discussão para a sua vida sexual passada. Por qualquer razão, Rozen tinha uma premência enorme em impressionar – me pensando que podia fazê – lo vangloriando – se das inúmeras mulheres com quem praticara sexo. Para um homem tão novo, estava decerto a exagerar, pensei, enquanto ele olhava para o tecto para computar os seus troféus, calculando números antes de, eventualmente chegar a cerca de cento e cinquenta. De nenhum modo o podia censurar pelo seu empenhado assunto de cogitação. Afinal de contas era originário de uma sociedade onde o domínio do homem parecia prevalecer. Todavia não achei surpreendente o seu comportamento no assunto e, assim, não perdi tempo argumentando contra, e, de preferência, orientei as minhas energias para algo diverso.
“Rozen, eras capaz de fazer algo por mim? Eras capaz de ir a uma prostituta?” perguntei.
Rebentou a rir. Era o seu modo de lidar comigo nos momentos de stress.
“ Diana, tu és louca! Porque é que eu havia de querer ir visitar uma prostituta? Já visitei muitas. Tu és mazinha!
Inicialmente relutante, com um pouco de persuasão consegui convencê – lo, com a condição de o acompanhar.
Passada que fora uma hora estávamos os dois na estação de serviço a comprar o jornal local. À medida que procurava na página de classificados, fazia um círculo em todos os anúncios das raparigas locais e dei o telefone a Rozen para fazer as chamadas. O plano era só visitar aquelas que concordassem em aceitar – nos a ambos.
Rozen ria escarninho quando desligou o telefone. O primeiro anúncio que contactara aceitou as nossas condições. Pusemos – nos os caminhos e dentro de cinco minutos chegávamos ao local do anúncio que estava colocado num canto vazio do jornal.
Entretanto, o meu telefone de serviço tocou. Atendi e, para meu desconsolo, era Russell, a perguntar se podia fazer uma marcação para a mesma hora, naquela noite. Quase morri! Uma baforada de cheiro a merda passou por mim de novo. Pedi desculpa e disse que estava completa por alguns dias pensando, entretanto, descobrir uma estratégia qualquer.
Quando desliguei, Rozen inquiriu acerca do que se passava. Achou estranho o facto de declinar um cliente. Rapidamente me desculpei argumentando que o dito era pouco limpo e que se recusara a tomar um banho de chuveiro na sua primeira visita.
O bairro, de classe média, estava tão sossegado que se podia ouvir o silêncio. Apeámos – nos e fomos à procura do número da porta do edifício. Antes de tocarmos a campainha do rés – do – chão, Rozen virou – se para mim e começou a dizer que seria melhor isto e aquilo e que não tinha alternativa senão juntar – me a ele.
Sorri e pressionei a campainha da porta de entrada. Uma dama elegante que aparentava estar no início dos quarenta, abriu-nos a porta. Trajando de preto, a condizer com o seu cabelo escuro com um forte, embora suave, sotaque brasileiro, mandou – nos entrar. Olhando a toda a volta para ver se alguém nos observava, seguimos as instruções da senhora e entrámos enquanto segurava a porta.
Conduziu – nos pela espaçosa sala de entrada, acabada em madeira clara de carvalho, dando para a sala de estar que consistia em dois grande sofás de couro e um bar a um canto, tudo assente em cima de um soalho de mármore. Duas esculturas decoravam o compartimento despido, preenchido com um fundo de música de jazz e o doce cheiro a lírios frescos colocados em cima do bar.
“Sentem – se, por favor, que vou chamar as raparigas”, Disse.
Eu e o Rozen sentámos – nos muito juntinhos no sofá de três peças como se se tivesse metamorfoseado num único assento e esperámos, sustendo a respiração, para ver as raparigas.
De repente, duas moças muito jovens apareceram, seguidas pela senhora. Fiquei estupefacta ao aperceber – me que não tinham mais de dezoito anos se é que os tinham. Nenhuma delas articulou uma única palavra, enquanto estavam para ali extraordinariamente intimidadas pela nossa presença. Parece que nem sabiam onde colocar os seus olhares fixos e inexpressivos. Pareciam humilhadas e cheias de medo na perspectiva de serem escolhidas enquanto enfrentavam, ao mesmo tempo, a possibilidade de serem rejeitadas, como se tivessem sido lançadas em competição; uma competição da carne, baseada no seu olhar, na atracção sexual ou em tudo o mais que leva um homem a escolher uma mulher.
Para cortar o silêncio, duma atmosfera tensa, a mulher olhou para nós, aclarou a garganta, e perguntou qual delas íamos escolher.
Olhei para Rozen que encolheu pura e simplesmente os ombros sem proferir uma única palavra. Olhei uma segunda vez para as infelizes jovens seminuas postadas na nossa frente, balançando as pernas como se tivessem vontade de ir ao WC. Ambas se encontravam meio vestidas, exibindo – se em trajos menores, uma de branco, a outra de preto. Uma com longos caracóis escuros, a outros castanhos-claros.
“A de cabelos pretos, se faz favor”, disse, “Penso que é essa.”
“A Cindi? Disse a mulher, “Muito bem, sigam – nos por favor”
Pousando o braço na vencedora, a mulher conduziu – nos ao lado oposto por um corredor de cor creme, difusamente iluminado, abriu a porta do quarto e pediu – nos para esperarmos alguns minutos antes de fechar a porta atrás de si. Logo que esta se fechou Rozen voltou – se rapidamente e perguntou por que é que escolhera a Cindi. De maneira nenhuma se encontrava feliz com a escolha. Abri a porta para ir encontrar Cindi na sala de entrada a receber instruções da patroa. Chamei esta de parte e informei – a de que mudara de ideias ao ler a expressão reprovadora de Rozen. Estava, de certo modo, satisfeita, na medida em que ambas as moças haviam sido escolhidas.
Enquanto esperávamos olhei à minha volta e observei o quarto limpo e asseado. Consistia numa cama muito larga, uma mesa-de-cabeceira, um toucador, e um enorme guarda – fato de uma só peça feito de madeira clara de carvalho. O soalho castanho dava mostras de ter sido brilhantemente polido enchendo o ar com um acentuado cheiro a cera. Quando menos esperávamos, a outra rapariga, tímida, de cabelos compridos claros, entrou, cabisbaixa. Olhando rapidamente para cima, esboçou um sorriso forçado antes de regressar à mesma posição. Não nos atrevemos a perguntar o nome. Parecia tão aterrorizada e estar ali contra sua vontade, como se tivesse sido vítima de contrabando ilegal de carne branca.
Começou a despir – se em silêncio. Rozen, seguiu – lhe imediatamente o exemplo. Permaneci sossegadamente na cadeira à beira da cama aprontando – me para o espectáculo.
Deitado, Rozen pegou na mão da rapariga nua e levou – a a sentar – se em cima dele. A jovem não se atrevia a olhar na minha direcção. Rozen olhou para mim, virou a cabeça pala o outro lado chamando – me para me juntar a eles. Fiquei abalada. Não estava ali para brincar e, acima de tudo, achava que o sexo não tinha graça nenhuma sem sentimentos. E que Deus ajudasse esta rapariga por eu juntar insultos à sua miséria!
Passado um curto espaço de tempo, vira tudo aquilo que tinha curiosidade de ver. Era sempre a mesma coisa. A jovem não alterava a sua posição, mas movia – se continuamente para baixo e para cima em contraste com a inactividade de Rozen ao mesmo tempo que, de quando em vez, puxava nervosamente o cabelo solto da cara para o fazer deslizar para trás e para baixo afim de esconder o seu embaraço. A única coisa que mudara naquele compartimento foi o cheiro. O ar enchera – se de um forte odor de fluido vaginal que se misturava com a substância do preservativo. Ocasionalmente, acariciava Rozen na cabeça mas não conseguia, no entanto, transmitir mais nada a não ser a sua humilhação. Sem palavras, a sua energia espelhava claramente a vergonha que experimentava do seu corpo inexperiente e jovem.
Haviam – se escoados vinte minutos e Rozen não mostrava sinais de clímax, nas ondas enérgicas que circulavam na decoração floral do aposento. Era como se se tivesse metido na pele da rapariga e compartilhasse da mesma ansiedade. Ei – lo desfrutando de uma linda jovem, mas isso não lhe estava a acontecer. Talvez estivéssemos em sintonia, pensei de mim para comigo à medida que me erguia e me dirigia para a cama. Coloquei a minha cabeça entre Rozen e a da rapariga, numa desesperada tentativa para suavizar e terminar com a situação. Com a parte posterior da minha cabeça na sua frente tentei esconder – lhe as expressões cheias de ansiedade, libertá – la da sensação de que estava a ser observada, no mínimo, para que se sentisse mais confortável.
Passados que foram alguns minutos, Rozen atingiu o clímax. Graças a Deus pela pobre rapariga, pois que assim tudo estava terminado! Pensei, com um suspiro de alívio.
CAPÍTULO 5
Seis meses se haviam escoado a partir do momento em que comecei, cinco depois da partida de Rozen e quatro depois de ter cortado com ele. Estava mais que provado que cada vez se tornava mais difícil viver na companhia dos ciúmes de Rozen, que estava absolutamente saindo do controle sempre que se mencionava qualquer cliente, especialmente daqueles que se tornavam regulares.
Quando nos encontrávamos, naquele Sábado, na sala de estar, ouvi o meu telefone tocar. Era um cliente a avisar para lhe fazer uma segunda marcação para ao noite de Sábado seguinte. Rozen permaneceu sossegado até eu desligar e continuou a ver o filme. Não sendo capaz de suster a raiva por mais tempo, desligou o aparelho e, de uma forma indirecta, acusou–me de ser demasiado simpática para os clientes. Sem retrucar, dei–lhe as boas noites, chamei o Napoleão, desliguei o telefone de serviço e fui – me deitar mas não consegui pregar um olho, até de madrugada, naquela atmosfera sufocante que o ciúme do Rozen havia desenvolvido.
Logo que me sentei na berma do meu colchão, principiei a fazer um esboço grosseiro de uma visita típica de cliente.
A rotina inicial era sempre a mesma. Nunca variava, na medida em que os fregueses atingiam o clímax quando tinham oportunidade de experimentar algo de novo.
Não tinha qualquer importância saber se era a primeira ou a quinta vez que essa pessoa me visitava. Sabiam perfeitamente, de algum modo, o que estava inicialmente programado, mas continuavam a proceder mecanicamente, fazendo mecanicamente sempre a mesma coisa.
O único aspecto que diferenciava a primeira visita de um cliente das restantes era aquilo a que chamava o ritual da quebra do gelo. Havia em mim uma certa necessidade de justificar o motivo de ter ido parar a um género de trabalho como aquele que lhe patenteava.
Tirando isso, era mais ou menos sempre o mesmo. Eventualmente, perguntava a um cliente para se dirigir ao quarto de banho antes de o questionar se o queria usar ou se, de preferência, queria o chuveiro.
O passo seguinte costumava ser o desnudar dos dois actuantes e deitar – mo – nos no colchão. Erecto o pénis, colocava – lhe a camisa de Vénus antes de o começar a chupar e, nalguns casos, como uma maneia de tornar a coisa difícil, precisamente como serviço extra, podia coloca – la, mesmo ainda mole.
A partir daí, perguntava sempre ao cliente, se queria ficar por cima ou por baixo. Isto é o que os distingue. Muitos preferiam ficar por baixo para fazer a experiência durar mais, enquanto outros não conseguiam esperar para penetrar.
Em poucos minutos tudo estava consumado. Na maioria dos casos o sexo oral prolongava a experiência.
O meu passo final costumava ser estar para ali deitada um bocado com o cliente a vasculhar – lhe a vida e a procura conhecê – lo um pouco melhor antes de dar a entender que tinha de tomar um banho porque um outro cliente estava a achegar. Chegada esta altura, pedia – lhe para me pagar antes de, como de costume, o conduzir até à porta da rua, embrulhada numa toalha.
De papo para o ar, começo a analisar, cogitando, porque é que num tão curto espaço de tempo ganhara tantos clientes regulares. Deveras admirada, fiquei fascinada ao descobrir possíveis razões para aquela reincidência de visitas pois que, no passado, sempre estivera dominada pela ilusão de que os homens iam às prostitutas para aumentar os seus egos e o número de troféus.
Porque é que estes homens voltavam, não fazia, de certa maneira, sentido para mim. Não é que me lamentasse! Na grande maioria dos casos, era exactamente do que necessitava; o maior número de clientes possível. Clientes igualados a Euros; cheques pagos em Euros! Contudo o mistério levou – me a dissecar o problema.
Primeiro especulei a ver se havia alguma coisa de especial em mim, mas não consegui chegar a respostas convincentes. De maneira diversa de muitas mulheres ou, neste caso, da grande maioria das prostitutas, não daria um cêntimo pela minha aparência. Manutenção, tal como ir ao cabeleireiro, institutos de beleza, e passar horas de sem conto encantada à volta das lojas de moda e boutiques, eram coisas que considerava perdas de tempo, evitava – as por si mesmas, com dinheiro no bolso ou não. Rejeitara este modo de vida, banindo – o, já que falso e eu, por todos os diabos do inferno, não podia aceitar uma coisa dessas porque era prostitua.
No pólo oposto da escala profissional, colocava as mulheres que lavavam e escovavam o cabelo duas vezes por semana, que trabalhavam, por norma, dois meses por ano nunca iam a manicuras ou pedicuras nem seguiam regimes de dieta, que sacrificavam o prazer das compras por calças de ganga. Era como eu me sentia confortável, de jeans e batom para os lábios. A minha divisa era: “Amar – me ou tolerar – me”, mas nunca transviar – me de molde a impressionar falsamente”.
Permanecendo fiel à minha personalidade, cogitava frequentemente na maneira como me devia apresentar, se tinha de adaptar – me a viver na pele desta “coisa humana” convencendo – me a mim própria de que podia ter um enorme sucesso com os clientes. Mas recusava – me a fazer isso porque era violar o meu ser. Assim, permanecia fiel a mim própria não querendo envolver – me demasiado, no caso de me achar, dessa maneira, confortável, quando o que realmente desejava era ver – lhe um fim.
No entanto, nunca ninguém me viu vestida formalmente. Nunca me viram fazer nenhuma espécie de esforço, senão, o que é que isso poderia ser? O meu lado selvagem? Ou seria porventura um ma mão cheia de senso de humor? Ou a minha família imbuída de forte personalidade? ou, finalmente, seria a minha meiga, embora, simultaneamente rebelde atitude? Talvez que ainda seja simplesmente inteligência misturada com ingenuidade, fortalecendo o retrato mítico que eu ostentava?
Havia uma coisa que era clara; era diferente das louras que conhecia no país e numa sociedade onde as pessoas que as consideram inteligentes se têm de comportar de uma maneira superior; uma sociedade preconceituosa, cujos sacrifícios, a individualidade e sermos “nós próprios” em nome de comportamentos e aparências convencionais. Talvez eu fosse uma lufada de ar fresco comparada com as outras?
As possíveis respostas seriam infindáveis embora não me pareça que possa materializar alguma delas. Todavia, tudo isso me conduz à minha própria conclusão teórica que era a minha natureza versátil que era capaz de adaptar a qualquer homem, fosse qual fosse o seu status social, raça, aparência, simpatia, inteligência, estupidez ou, meramente, o seu ego imbuído de ignorância. Era minha a habilidade de me colocar ao seu nível, actuando apenas o necessário, mas sendo, de preferência, o meu verdadeiro “eu”. Mais complicado ainda era ter capacidade para os tratar igualmente e com compreensão bem como não desdenhar as suas necessidades. Muito simplesmente podia tornar qualquer homem confortável com a minha presença, de tal modo que, para muitos, ultrapassava o grau de se sentirem bem – vindos.
No passado, muitos homens me apelidaram de “dotada”, arrepiando caminho, não obstante as circunstâncias encontradas. No entanto, só agora reconheço que não era um dom, trata – se, sim, de honestidade pessoal, e o isentar – me da falsidade social em prol da verdade da auto – existência.
Para mim foi compensador chegar a esta conclusão, aliada a outro facto de igual importância. Trabalhava a partir de casa e tinha uma única pessoa a influenciar o “volte sempre” do cliente, que era eu própria
Os bordéis estão, normalmente, ligados ao sub mundo onde as mulheres trabalham para um “patrão”, por regra um chulo. Tais personagens controlam estes estabelecimentos com extrema vigilância e cujas normas consistem em a mulher partilhar o pagamento dos clientes com os seus patrões em troca de um lugar para trabalhar e de protecção.
Pintando o meu próprio retrato, induzido de conversas sem fim com clientes, considero os bordéis mais baratos apartamentos superlotados, na maior parte dos casos (embora tenha tido sorte em ter visitado um higienicamente limpo com Rozen). Tais lugares consistiam numa mistura de mulheres de tosca aparência, emigrantes, usualmente do Brasil e do Leste Europeu, muitos dos quais estão preparados para fazer seja o que for por uma gorjeta extra mesmo que isso possa significar sexo de sem protecção.
Os bordéis de Primeira classe ou de Luxo, por outro lado, são mais seguros, porquanto, a maioria estão camuflados de salões de massagem e, assim, legais. As raparigas não são necessariamente mais bem parecidas do que as dos bordéis baratos, mas as facilidades tais como jacuzzi, suites privadas, piscinas e decoração geral, são de um padrão mais elevado e principalmente a segurança na entrada desses estabelecimentos.
Assim, acrescento uma outra razão válida às minhas análises; os homens talvez se sintam mais confortáveis, voltando para mim na medida em que eu lhes ofereço um ambiente de trabalho descontraído e limpo para além de ser totalmente discreto e não envolvendo qualquer espécie de intermediário.
Como meio extra de análise a apoiar a minha teoria inicial, a minha atenção voltava – se então para os clientes de comportamento sexual “regular” na cama, permitindo-me classificá-los nas seguintes categorias:
A) Os “Carentes”
Homens que romperam recentemente um relacionamento anterior e que precisam de afecto.
Estes homens reagem imediatamente a qualquer tipo de atenção e muitos deles desenvolvem um procedimento obsessivo.
O seu comportamento sexual varia, embora ocorra muita carícia e muito contacto.
Este tipo de freguês volta frequentemente, na medida em que sente que recebe a atenção que pretende, embora, ao sentir mudança de atitude da minha parte, ou mera rejeição, deixe de vir depois de a obsessão desaparecer.
B) Os “Infelizes”
Homens que não amam as companheiras e são infelizes mas que, de algum modo, se sentem prisioneiros dentro do relacionamento. Por regra, não é apenas um aspecto do seu relacionação que está estereotipado, mas sim o “todo.”
Estes homens reagem, por via de regra, imediatamente a qualquer tipo de afecto e podem usualmente apaixonar-se com facilidade já que precisam de preencher o espaço vazio.
O seu desempenho sexual transmite uma forte energia, melhor descrita pela expressão, fazer amor.
Se se lhes chamar a atenção para este vigor, vão, assim, relacionar o que falta nas suas vidas pessoais e tentar repô-lo.
C) Os “Solitários”
Homens solteiros e que se sentem solitários, principalmente porque são tímidos no mundo exterior ou porque não encontraram uma companheira para se relacionar.
Estes homens, geralmente, reagem ao sentir – se confortáveis e abrem-se quando são compreendidos, sendo capazes de se relacionar e sendo aceites por aquilo que são.
O seu comportamento sexual varia com o grau de envolvimento que conseguem. Após um curto período, isso conduz ao tipo dos que fazem amor.
Este tipo de cliente volta frequentemente na medida em que sente que aí existe uma parte de si que não encontra no mundo exterior e, assim, em muitos casos, acaba por se apaixonar só para acabar com a visita, aceitando que não existe reciprocidade.
C) Os “Convencidos”
Homens que acham necessário realizar-se. Criaram um falso ego, preenchido pela ilusão de que satisfazem as mulheres com certo número de factores irregulares. Procuram impressionar.
Estes indivíduos reagem a mulheres que pactuam com o seu desempenho e não dão sinais de serem impressionados, preenchendo, assim, a necessidade de conquista.
A sua peculiaridade sexual é a mesma em todos os casos, sendo esta a única razão para a sua classificação. Sentem a necessidade de impressionar com determinados factores tais como vigor, velocidade e tamanho do pénis. São desprovidos da experiência dos de fazer amor e do conhecimento do corpo de uma mulher devido ao seu comportamento.
Este tipo de cliente só ocasionalmente retorna porque altera com outras prostitutas, só voltando às mesmas na desesperada procura ao desenvolvimento do seu ego até sentir que controla a cena sexual.
D) Os “Casos perdidos”
Homens sem auto – respeito e mesmo pouco respeitadores das mulheres. É comum encontrar este tipo de homem entre o grupo etário dos quarenta aos cinquenta e cinco.
Estes sujeitos reagem habitualmente à aceitação da sua ignorância, ao mesmo tempo que são tratados como alguém superior.
O seu sexo é pobre e sujo e em muitos casos são portadores de linguagem vulgar. Desconhecedores das necessidades sexuais da mulher estão inquestionavelmente convencidos de que têm razão, resultando daí uma total falta de respeito.
Este tipo de cliente volta ocasionalmente, alternando frequentemente com a visita a outras prostituas. Regressa até ao momento em que o seu comportamento já não é aceite, o que, aliás, acontece no primeiro par de visitas.
CAPÍTULO 6
Fora um dia de trabalho em cheio, dois novos clientes e três regulares, um dos quais Simão e eram apenas três da tarde.
Simão acabava de fazer a sua terceira visita. Era um “Convencido” típico. Após a sua segunda visita compreendi o que fazia este homem mexer – se. Era vigor, desempenho e uma necessidade de impressionar. Carimbar, carimbar, carimbar, algumas posições atrevidas e, depois, após uns vinte minutos, o previsível.
Fora o meu último cliente. Fazendo – me companhia antes da minha marcação seguinte, ficou para conversar e para um café. Sabia que algo estava errado já que não via em mim a pessoa alegre habitual. Eventualmente, abria – me para ele e dizia – lhe que viver com Rozen estava – se a tornar um problema intolerável.
“Estou a ver. Está apaixonado por ti, não é? Bem, isso ia acontecer mais tarde ou mais cedo. Desencadeias, normalmente, este efeito nos homens”, disse, acabando com uma risada.
“Não, Simão, não tem graça. Isso só aconteceu no mês em que veio para cá. Acabou – se. Na verdade, algumas semanas depois, parou. O problema reside no facto de ainda gostar de mim. Está – se a tornar gradualmente mais difícil viver com ele. Sinceramente, penso que não poderá durar muito mais”.
Confirmou o que eu já sabia, arranjar coragem para falar com Rozen, na medida em que a minha saúde mental estava a ficar dependente disso.
O telefone tocou. Era o meu próximo cliente, avisando – me que se encontrava na minha rua. Foi obrigado a sair no meio da conversa, mas estava mais certa do que jamais estivera que necessitava de falar com Rozen e fazer alguma coisa em prol da incómoda situação.
Ouviu – se a campainha. Quase caí! Era Fred outra vez. Disfarçara a voz ao fazer a marcação e pretendia ser um cliente novo.
Fred era um homem elegante, bem parecido, com vinte e cinco anos, que trabalhava como comissário de bordo nas transportadoras aéreos. Era o meu primeiro cliente do grupo dos narcóticos. Era este o seu sexto ano limpo, mas de algum modo ainda mostrava sinais de outro género de dependência.
Era a décima visita de Fred em dez dias, dos quais cinco estivéramos a trabalhar a bordo. Esta foi a sua décima visita em nove dias. O primeiro dia visitou -me duas vezes!
“Fred, que diabo estás tu aqui a fazer outra vez? Tinha – te dito que isto assim não era saudável”.
Ainda na sala de entrada, levantou – se, cabisbaixo, de mãos nos bolsos.
“Eu sei, eu sei. Tens toda a razão mas é a última vez. Juro!”
“Mas a última vez devia ter sido a outra, Fred. Concordámos, estás lembrado? De qualquer modo só pretendias ser um novo cliente. Jesus, vocês homens, tomam – me por parva”
O meu telefone tocou. Olhando para ele, disse ao cliente do outro lado que estava a perguntar se estava livre e, para consternação de Fred, disse que aceitava a marcação para as quatro e meia. Eram nessa altura quatro e vinte. Quando desliguei olhou – me com uma expressão aborrecida.
“Fred, estás a fazer – me sentir pior que merda. Sabes bem que faço isto por ti. Para além disso, já esqueceste a minha crítica situação financeira? Podia usar – te e tu sabes isso! Podia tirar vantagem da tua situação e extorquir – te dinheiro mas só que não posso. Não posso fazer uma coisa dessas.
Levantei – lhe o queixo e olhei – o nos olhos.
“Não preciso de explicar – me outra vez, Fred, ou será que preciso? Já te disse antes e volto a dizer – te agora, que podemos continuar amigos. Podes mesmo aparecer para um café quando precisares de conversar. Só não podes estar a desperdiçar o teu dinheiro nesta merda”.
Fred olhou – me nos olhos e retendo as lágrimas pediu desculpa e abraçou – me com força antes de se dirigir para a porta. Olhou para trás e disse:
“Obrigado. És uma grande amiga. Admiro – te.”
Fred tinha recentemente saído de uma relação que se desenrolara na periferia. Embora ele e a namorada passassem pouco tempo juntos, durara dois anos e a separação afectou – o fortemente.
Devido ao seu comportamento compulsivo passado, relacionado com a droga, acredito que a sua obsessão em visitar – me estava ligada a um desequilíbrio fisiológico e, de modo nenhum, independentemente da minha situação, poderia tirar partido deste homem. Para além disso, ele estava a transmitir cada vez mais energia na medida em que gritava por amor na cama. Aquilo que seria recebido de braços abertos por algumas prostitutas, era para mim comportamento abusivo em relação à desgraça de alguém, fosse ela mental ou financeira.
Naquela noite Rozen chegou a casa por volta das oito horas. O telefone não cessava de tocar durante todo o dia e só por volta das oito e meia arranjei maneira de falar com ele. Quando ia começar, o telefone tocou de novo. Era uma marcação para a meia – noite. Como Rozen ia ficar em casa, aceitei.
“Finalmente, estás livre do telefone, Diana. Ultimamente parece passares a vida nele,” disse, com olhar contrariado antes de se dirigir para a cozinha.”
Lá se vai a oportunidade, pensei.
Morta de cansaço, a campainha da porta tocou. Para meu horror abri – a a um rosto que me era familiar. Num momento, um clarão iluminou um pedaço do meu passado. Merda, este é o rapaz do clube nocturno, recordei. Sentindo – me deveras embaraçada, escondi – me atrás da porta sem ser capaz de avaliar se o homem que lá se encontrava com a sua cabeça inclinada, estava ou não mais embaraçado do que eu.
“Desculpe, eu não o conheço? Sim, na verdade conheço! Oh meu Deus não posso acreditar que esteja aqui. Estou tão embaraçada! Há pouco tempo que estou a fazer isto e nunca tinha experimentado antes. Desculpe, nem sequer posso mandá – lo entrar. Estou demasiado chocada”.
O homem de aparência indiano, alto, permanecia de pé, sem proferir uma palavra, do outro lado. A sua cabeça continuava inclinada e um olhar de infinita tristeza estampava – se – lhe na cara. De algum modo senti uma inegável vontade de lhe perguntar porque razão eu teria de explicar tudo.
“Meu Deus, sinto – me tão mal, a comportar – me assim. Sou um idiota chapado!”
Pode vir se quiser mas será uma perda de tempo Eu só…
Sem proferir uma palavra, entrou pela pequena abertura, comigo do outro lado encostada à porta, visivelmente contrariada. Pedi – lhe para ir para o quarto, acrescentando que esta era a única secção privada do apartamento, na medida em que o partilhava com um inquilino.
Mandei – o entrar no meu recém comprado colchão enquanto pensava na maneira de explicar tudo isto. De algum modo acreditava que necessitava de justificar – me mais do que nunca, na medida em que estava lá sentado com os braços colocados à volta das pernas, e eu palmilhava o quarto de um lado para outro, falando – lhe acerca da minha história.
Quando consegui acalmar – me, sentei – me a seu lado na cama onde permaneci a conversar com este sossegado, tímido rapaz, de vinte e oito anos, até altas horas da madrugada.
Para duas pessoas quase estranhas como nós éramos, decerto que achámos muito para conversar acerca disso; a vida nocturna, o seu grupo de amigos, o seu trabalho e o seu recente divórcio e dos seus cinco anos de relacionamento.
Por um lado, Célio já se sentia mais confortável e portanto, aproveitei a oportunidade para lhe perguntar porque carga de água ia às prostitutas. Foi rápido a responder, que não tinha paciência para andar por ali em clubes nocturnos a conversar com mulheres para, no fim da noite, descobrir que tudo fora pura perda de tempo.
O tempo ia passando, por isso dei a entender a Célio, que me parecia com esperança que eu mudasse de opinião, de que era tempo de ir descansar. Sentindo – se muito mais descontraído, um agora muito mais confidente Célio, perguntou – me se não iria reconsiderar.
Não tenho bem a certeza se era o respeito que Célio havia demonstrado, ou simplesmente a minha desesperada situação, mas aceitei. Fizera sexo com o homem que encontrara por acaso, para durar, num bar local, no passado, e cujos amigos tentaram, aliás sem sucesso, aproximá – lo de mim. Ficou impresso na minha memória, não somente pela cor da sua pele, mas também porque, foi o único do seu grupo de amigos que não fez um movimento. Mas Célio fez um movimento esta noite. Célio foi o primeiro cliente que, na verdadeira acepção da palavra, fez amor comigo.
CAPÍTULO 7
Na manhã seguinte deparei com Rozen na cozinha. Sem proferir uma palavra, a sua expressão facial denunciava – o ao passar e ao roçar – se por mim. Ao decidir que não era o momento apropriado para conversar, mordi a língua e esperei que regressasse naquela noite.
Antes do meio – dia, Célio havia – me enviado já três mensagens escritas. A primeira a perguntar – me como estava. A segunda dizendo que apreciava muito estar comigo; A terceira, finalmente, arranjando a coragem necessária para dizer o que já tentara a princípio; que sentia a minha falta. Polidamente, respondi – lhe às duas primeiras, como tinha gostado dele e de algum modo como sentia o facto de ele sair de casa numa altura difícil, já que precisava o máximo de apoio possível.
Rozen chegou a casa um pouco mais descontraído do que quando saíra. Passei todo o dia a treinar um discurso.
“Bem vês, Diana, não pára. É admirável! Não se detém nem por minuto sequer. Simplesmente não pára, Diana”.
Esse comentário era precisamente tudo o que precisava ouvir e, sem que Rozen pudesse articular outra palavra, despejei e todo o discurso que tinha estado a praticar fora – se por água abaixo. Tudo o que o meu peito guardara durante todo aquele tempo, foi – se. As coisas tinham chegado a um ponto tal, devido ao seu ciúme, que eu não tardaria a dar – lhe um ultimato para se ir embora e, se não ia ele, ia eu. Era ele quem tinha de se ir embora. Não haveria mais oportunidades dado que caíam em orelhas moucas. Dei – lhe um mês para encontrar alternativa de alojamento e fui – me embora para o meu quarto.
Dali a uma hora, Rozen bateu à porta do meu quarto. Sentindo – me mais calma, dei – lhe permissão para entrar. Não podia acreditar no que estava a ouvir quando disse que precisava do dinheiro que me havia emprestado. Sabedora que era de propósito, justamente para me magoar, disse, “está bem”, e pedi – lhe para me deixar.
Saíra com o rabo entre as pernas. Sabia exactamente o que tentara fazer. O que ele conseguiu foi diminuir a consideração que ainda tinha por ele. Sabia que não tinha dinheiro para lhe pagar nesta altura. Sabia perfeitamente que tudo era esforço demasiado, que não podia mesmo permitir – me a comprar comida. Em resumo, colocou – me numa posição incómoda, usando um certo tipo de chantagem, o suborno. Saiu – lhe o tiro pela culatra quando lhe disse que lhe havia de arranjar o dinheiro, a par da ideia de o voltar a respeitar.
Nessa mesma noite, recebi uma chamada de alguém que parecia ser jovem demais. Disseram – me que era o décimo oitavo aniversário de um amigo e que gostava de fazer uma marcação para ele. Pensando que estava na brincadeira, tal como muitos outros tinham feito antes, aceitei a reserva afim de evitar que voltassem a ligar.
Às dez e meia, telefonaram de novo dizendo que já tinham chegado ao ponto de encontro. Como não havia dúvidas que agora estavam a falar a sério, dei – lhe os restantes pormenores e esperei que o seu amigo tocasse a campainha.
Passados cinco minutos, tocou. Abri a porta e deparei com uma aparência demasiado jovem, cabelo desmazelado, olhos azuis, e com bastante humor, pedi-lhe o Bilhete de Identidade. Tinha, de facto dezoito anos.
Levei o tímido rapaz para dentro do quarto com pouca conversa. Como pensara que a reserva inicial tinha sido uma partida, aceitara uma outra marcação de um cliente regular que estava para chegar dentro dos próximos vinte minutos.
Despi – me rapidamente pedindo ao jovem para fazer o mesmo. Encontrava – se extraordinariamente nervoso, talvez melhor, extremamente excitado. Levantou o olhar para o ar como se nunca tivesse visto o corpo de uma mulher nua em carne e osso.
Quando procurei o preservativo para colocar no seu dificilmente erecto pénis, o rapaz fechou os olhos com força e veio – se.
Antes de poder digerir o prazer começou a pedir desculpa, que lhe desse outra oportunidade, na medida em que era Virgem. Sentindo – me terrível, retruquei – lhe que não podia porque tinha alguém que estava a chegar; só não tinha tempo.
Vestiu – se com as lágrimas nos olhos, e foi – se embora tal como tinha vindo, virgem.
Na tarde seguinte abri a porta a um homem alto que aparentava estar no dealbar dos quarenta. O brincalhão de olhos verdes, cujo carácter inspira confiança, desculpou – se e dirigiu – se para a sala de entrada antes de eu lhe pedir.
“Como estás? Chamo – me Tom e tu…?
“Eu sou a Diana. Prazer em conhecer – te Tom. Segue – me, por favor, “ pedi – lhe na medida em que o conduzia para a sala de estar e coloquei uma cadeira à mesa, convidando – o para se sentar.
“Diana és muito bonita. És tu que conduzes um Mercedes CLK prateado? Estou certo de que já te vi por aí. Naturalmente que podia estar errado.”
Antes de ter tempo para responder, Tom pediu – me para me sentar no seu colo, e começou a acaricia – me os seios.
“Diana, estás há muito tempo nesta vida? Podia ter alguém como tu para minha secretária”.
Comecei a contar a minha história a Tom e, antes de lhe poder perguntar qual era a profissão dele, foi célere a dizer que era juiz no Supremo Tribunal. Pela minha vida que não era capaz de entender como alguém como ele tinha inteligência para desempenhar tal cargo e pedi – lhe para o provar. Anuiu. Mostrou – me a identificação.
Tom insistiu para que continuasse no seu colo enquanto continuava a tratar – me como uma jovem, uma criança estúpida, ou melhor, como se fora a boneca Barby. Sentindo – me desconfortável e vendo que o tempo se escoava, pedi ao tom para irmos para o quanto.
“Desculpa, Diana, mas já não tenho tempo. Tenho de estar no Tribunal dentro de uma hora. Importavas – te de jantar comigo esta noite?”
Desculpei – me, e insisti que isso era contra a minha política, conviver com os clientes. Tom levantou – se de semblante confuso, saiu, disse que voltaria a tentar a sua sorte para o futuro, e saiu. Não podia acreditar! Este assim chamado Juiz entrou em minha casa, tocou o meu corpo, e tratou-me simplesmente como uma peça de carne para seu entretenimento, saindo sem pagar, pela razão pura e simples de que não me penetrara.
Não pude tirar isso da minha cabeça durante toda a tarde. Será que este homem arranjou uma desculpa para se ir embora porque não me achou suficientemente atraente, ou esperava, porventura, tratamento especial devido ao facto de ser juiz?
Na manhã seguinte, Carlos marcou uma visita. Era agora um regular efectivo. Classificava os meus clientes de regulares na sua terceira visita. De acordo com o meu triste diário em anotar recordes, ia na sua sétima vez!
Já não era aquela rapariga ingénua que encontrara no meu primeiro dia de trabalho. Tinha ganho melhor intuição, conhecimento e, decerto, muito mais experiência. Sabia agora porque é que o seu pénis se não endireitava. Era vulgar com homens a rondar os setenta, qualquer espécie de disfunção psicológica, penso, mas não era esse o problema; longe disso. A principal preocupação, era para mim, o tempo que as suas visitas me tomavam Eu sabia que uma das razões porque havia ganho clientes era devida à minha sociabilidade, mas depois, muitos deles, queriam tratamento especial, sendo isto perdas de tempo. Não esperavam decerto ter um segundo clímax, se isto significasse dinheiro extra. O que esperavam era tempo de conversa, quando tudo girava na sua órbita.
Cada vez mais me convencia que não era talhada para isto. As profissionais taxariam por cada segundo ou não permitiriam nada disso. Eu não. Não cobrava, nem por sonhos. Fora culpa minha, tinha, apesar de tudo, condescendido. Passava tempo a escutar aqueles que necessitavam ser ouvidos, falando para aqueles que precisavam de ouvir, confortando os que precisavam de ser confortados, tudo pelo preço de uma cópula. Isso acontecia quando tinha tempo extra, quando podia, e quando queria fazê – lo, mas não era algo que pudesse ser solicitado ou esperado. Era como tirar partido do meu bom feitio.
Nas suas últimas visitas, tentei, subtilmente, dar a entender a situação a Carlos. Continuou a ignorá – la e, não obstante sentir – me mal com isso, não tinha escolha senão falar sem rebuço e fazer – lhe compreender que havia um tempo limite que tinha de ser respeitado devido à minha situação e à minha avantajada lista. A intuição disse – me que, provavelmente, ia perder um cliente, mas não me importou. Se não podiam respeitar a minha situação, porque cargas de água havia eu de os tolerar? Mas lá para o fim do dia, não haviam de me esquecer. Prestei – lhes atenção, fi – los sentirem – se confortáveis independentemente do seu carácter, raça ou classe social. fi – los sentirem – se iguais, não importando a qualidade do sexo que lhes oferecia.
Disse a Carlos naquela manhã. Não lhe disse como tinha planeado quando me senti incomodada, mas disse – lho de uma maneira mais subtil. Disse – lhe que, dali para diante, não podia continuar a fazer o que tinha feito com ele, explicando que perdia telefonemas de informação da parte da manhã que não podia dar – me ao luxo de perder
CAPÍTULO 8
Nos dias seguintes a minha intuição provou que tinha razão, Carlos tinha ficado ofendido com a conversa e, ao contrário dos outros dias, desde a sua primeira visita, não me enviou uma única mensagem como era seu costume.
Fazia agora três semanas e meia desde a altura em que dei a notícia ao Rozen. O tempo voara. Por alguma razão desconhecida o Rozen ainda não tinha encontrado onde alojar – se.
De manhã tinha – me decidido enfrentá – lo mas, quando abri a porta do quarto, estava vazio. Tinha ido embora mais cedo do que era seu costume, como se se apercebesse do meu estado de tensão na noite anterior. Ainda não tinha conseguido arranjar o dinheiro que lhe devia. Sabia que não precisava dele, que tinha tentado colocar – me numa situação embaraçosa mas era, de facto, o seu dinheiro e tinha de arranjar um acordo qualquer com ele. Sabedora de que tinha dito tudo aquilo por despeito, e que agora tinha acalmado, estava pronta para o enfrentar, arranjar um método adequado de pagamento.
Precisamente quando ia sentar – me e delinear um plano, o meu telefone tocou. Era um cliente que tinha ligado alguns dias atrás, feito uma marcação e que não apareceu, deixando – me muito aborrecida devido à perda de trabalho. Desculpando – se de diversas maneiras, concedi – lhe o benefício da dúvida e autorizei – o marcar de novo.
Abri a porta de entrada com um sorriso que logo se desvaneceu quando vi quem era que ali estava. Era um homem que frequentara o mesmo clube nocturno que eu e Célio!
Era a segunda vez que isso me acontecia, num curto lapso de tempo, a primeira tinha sido com Célio, mas desta vez, em lugar de estar habituada à situação, não senhor, foi pior do que nunca. E para piorar ainda mais as coisas, este extraordinariamente belo espécimen era o homem mais maravilhoso que já alguma vira em carne e osso.
De pé do lado de fora da minha porta, enchia o corredor com uma sensação de frescura. O feitio do fato e o seu espesso cabelo acinzentado davam – lhe uma aparência que parecia ter surgido de uma revista de moda. Fiquei atordoada, abismada, e deveras embaraçada, encostando – me à porta, como para salvar a vida. Simplesmente preguei os olhos nos seus impecáveis e brilhantes sapatos, para evitar olhá – lo de frente.
Não pareceu surpreendido em encontrar – me ali mas, senti – me humilhada como nunca estivera antes. Era como se me sentisse como aquela jovem actuando entre mim e Rozen. O sentimento era tão forte que não pude falar ou reagir, mas fiquei para ali confusa, hipnotizada pelos seus sapatos.
Repentinamente quebrou o encanto, e pediu – me para o deixar entrar. Abrindo a porta mais um pouco, pedi desculpa enquanto continuava ali num estado de dejavu, antes de, finalmente, dizer ao homem que não o podia aceitar como cliente. Ignorando a minha instância, deu a perceber perfeitamente que não ia a lado nenhum.
E era já suficientemente óbvio que o homem era insistente. Pedi – lhe para se ir embora. Fui forçada a fechar – lhe a porta na cara.
“Não faça uma coisa dessas, por favor”, disse, sei que faz isso agora, portanto não há nada de que possa envergonhar – se. Por favor, deixe – me entrar.”
Repentinamente, apareceu o meu vizinho do lado, forçando – me a deixá – lo entrar antes que pudesse reparar nalguma coisa.
André apresentou – se e dirigiu – se para a sala de estar onde andou continuamente à volta, tentando convencer – me que devia decidir – me a atendê – lo. Quanto mais eu resistia, mais ansioso ele se tornava e tentava fazer – me mudar de ideias dizendo – me que sempre me admirara como mulher; a minha atitude, a minha sensualidade.
“De algum modo, sempre me prendeu a minha atenção. Fez com que toda a mulher que se encontrasse na minha presença a desprezasse e odiasse, tornou – as invejosas. “
Não lhe respondi mas sabia exactamente do que estava a falar. Nas vezes que os nossos caminhos se cruzaram, estávamos sempre acompanhados. A namorada ficou enfurecida quando nos sorrimos mutuamente e, numa determinada ocasião, tendo mesmo abandonado, enraivecida, o clube nocturno, quando André me defendeu.
“Sabe, todos os homens que conheço a desejam. Fui sempre muito atraído por si, “ disse.
Continuei silenciosa sentada na berma da mesa, a ouvir e a analisar. De certo modo não tomava o que me estava a dizer como razão para me convencer. Já tinha sentido tudo isso no passado. Sabia que tinha vivido algo por mim. O meu desejo por ele erguia – se para além do sonho, já que o sentimento havia gerado reciprocidade.
“Tem alguma coisa para beber? Alguma coisa forte. Uísque, talvez?”perguntou.
Naquele momento pensei que André tinha conseguido disfarçar os seus nervos à custa dos meus.
Dirigi – me para a cozinha à procura da bebida, aproveitando a oportunidade para inspirar o mais possível de ar fresco que pudesse, na medida em que o ar da sala de estar estava a ficar abafado. Pensando, tolamente, como iria sair de tal situação, encontrei – me a preparar dois copos grandes. Estava desesperada, esperando que me subisse depressa à cabeça, e me descontraísse um pouco. Antes de deixar a cozinha, cheirei o conteúdo do copo, fechei os olhos e engoli um grande trago. O hausto foi tal que fiquei aflita com a força do gás, mas não me importei, só queria ganhar coragem. Passei o braço pela boca para a limpar do uísque que se havia derramado para os lados, peguei no outro copo e regressei à sala de estar onde ele se encontrava de pé.
Nalguns minutos, o potente conteúdo do copo transformou a atmosfera e, de algum modo, acabámos no quarto. Continuámos a falar sentados na cama., encontrando várias coisas que partilhávamos em comum. Tal como eu, André era Aquário e acreditava na influência dos planetas. Urano também não estava a ser bom para ele. Era corrector da bolsa que, como a maioria, sentia a influência do terrível e devastador acontecimento do 11 de Setembro.
André ia ser pai, pela primeira vez, daqui a quatro meses. Não parecia feliz com o seu relacionamento, e, embora descrevesse a namorada como sendo uma mulher muito bonita, não sentia nada por ela, mas sentia – se obrigado a permanecer a seu lado, porque engravidara. Tinha apenas acabado de conversar quando senti um olhar penetrante num dos lados do meu rosto.
Tocou – me a face durante alguns segundos o que originou uma corrente eléctrica através de todo o meu ser. O meu sorriso feneceu! A energia era demasiado forte para dar azo a expressões, pensamentos ou palavras.
“Anda cá. Sei que sentes o mesmo que eu. Já me disseste porque estavas a fazer isto, e compreendo perfeitamente a tua situação. Precisas dinheiro, não precisas?” sibilou.
Repetiu várias vezes, cada uma com mais desejo, mais apetite do que a anterior. Sentia – se como se precisasse de mim, necessitasse de me sentir, não me foder, mas fazer amor comigo!
Ao virar a cara para o lado, puxou – a para si e beijou – me nos lábios. Isso era proibido. Queria deixar – me ir, mas não podia. Era trabalho. Não podia beijar um cliente. Voltei – me.
“Não imaginas o quanto isto é difícil para mim. Não posso acreditar que vou levar isto avante.”
Ao dizer isso, uma forte corrente encheu o quarto, como se André estivesse quase a atingir o clímax, ao ouvir as minhas palavras. Antes que tivesse tempo para digerir o que acabava de dizer, abri – lhe o fecho das calças e puxei – lhas gentilmente para baixo, ao mesmo tempo que os seus olhos se fixavam o meus slipes, à medida que se destacavam do rabo e tombavam no chão. Movi – me na sua direcção e sentei – me nas suas pernas. Sem despregar os meus olhos dos seus, colei – me a ele, levando – o a sentar – se e despi tudo o que restava. Comecei a desapertar – lhe a camisa, afim de encontrar um perfeito e definido corpo. Colocou os lábios à volta dos meus mamilos, enquanto eu introduzia o seu pénis na minha vagina. Abraçando – me fortemente contra o peito, sem nos mexermos, sem balouçarmos, apenas dois vulcões prestes a entrar e erupção, sem de facto, compreendermos o que fazíamos, mas sentindo todas as sensações que estes últimos anos haviam acumulado. Já não podia conter a energia que partilhávamos por mais tempo. Veio – se enquanto lhe observava cada momento de paixão a escapar – se da sua face.
André foi – se embora meia hora antes de Rozen chegar a casa. Já não podia pensar no plano de pagamento. O meu espírito continuava influenciado pelo choque inicial e toda a cena que acabara de experimentar. Era tudo confuso. Nada parecia fazer sentido. Tinha – me transmitido algo de muito forte e eu tinha – me permitido corresponder – lhe.
Enquanto pensava, chegou uma mensagem. Quando estava a abri – la, chegou outra. A primeira era de André. Só se tinha ido embora há dez minutos:
“És muito especial. Gosto muito de ti”.
E logo abri a segunda. Era de Célio:
“Não posso parar de pensar em ti,” disse.
Rozen entrava, quando estava quase a responder. Pus imediatamente a ideia de lado, decidindo que a minha conversa com Rozen era mais prioritária. Perguntei – lhe se tinha encontrado onde ficar, só para ficar horrorizada quando o homem respondeu, com semblante triste, que não, que não tinha. Só nessa altura cheguei à conclusão que não me tinha levado a sério. Pensou que não iria avante com isso, que eu havia de mudar de ideias. Ao sentir – se ameaçado, começou logo a falar no seu dinheiro, dizendo que lhe fazia muita falta. Olhei para a sua cara zangada e repliquei
“Rozen, sabes a minha situação e sabes que te devolverei o dinheiro. Ouve, não to posso dar todo agora, sabes isso. É impossível. Tenho trabalhado demais; quinhentos por mês durante três meses”.
Discordou. Agira exactamente como planeara; um meliante! Começou para ali a argumentar, a argumentar, dando desculpas estúpidas de que precisava dinheiro, quando, na verdade, tinha mais que o suficiente.
E como se isso ainda não chegasse, começou a inventar quantidades ridículas acerca da divisão das contas. Decidi não descer ao seu nível, já que isso era o que ele queria que fizesse. Afirmei que pagaria e calou – se. Mais uma vez ouviu o que não queria. Sabia que não poderia desenvencilhar – me sozinha para lhe pagar e esperava que reagisse mal.
De repente, retomou a mesma conversa como se estivesse a bater um recorde que durou para cima de uma hora.
“Portanto, Diana, quando é que vais pagar – me? Diz lá, como vais arranjar o dinheiro para me pagar? Quando é que isso é, vá, diz lá?” argumentou.
Ainda não tinha acabado de repetir isto pela décima vez quando os meus nervos não puderam suportar aquilo por mais tempo. Peguei no copo de café que estava ao pé de mim, em cima da mesa, e arremessei – o na sua direcção passando – lhe a alguns milímetros da cara, antes de me dirigir, vociferando, para o meu quanto. Ficou paralisado sem articular palavra.
Passada meia hora, Rozen bateu à porta do meu quarta a pedir desculpa e a dizer que aceitava o plano de pagamento. Sabia ter – me provocado a um limite tal que não me poderia conter por mais tempo.
Rozen tinha – se dado conta de ter levado as coisas longe demais. Estava consciente do seu comportamento e compreendia que, mesmo que quisesse, as coisas só poderiam piorar dali para a frente. O que acontecera meia hora antes, acabou com o pequeno resíduo de respeito que tinha conseguido preservar nos meses anteriores.
Naquela mesma noite, recebi um cliente às zero horas. Super carregado com fatos e caixas, o homem que parecia muito cansado, pediu desculpa, dizendo que tinha acabado de regressar de uma reunião em Bruxelas e seguiu – me para o quarto.
Eduardo, como disse que se chamava, era um Político muito conceituado. Passámos uma boa meia hora a discutir política e, como a nossa conversa estava a chegar ao fim, Eduardo perguntou – me se eu era a filha do Marcos. Nem pude acreditar. O homem reconhecera – me desde o princípio e depois, conhecia o meu pai! Comecei a ficar nervosa e sugeri que Eduardo fosse para casa descansar, na medida em que parecia estar extremamente cansado. Deu – se conta que eu ficara repentinamente desassossegada e assegurou – me que não diria uma palavra ao meu pai. Para acabar de me convencer disse – me que também tinha outro tanto a perder, tal como o seu casamento.
Eduardo insistiu em pagar o meu tempo, pegou na bagagem, fez uma marcação para a semana seguinte e foi – se embora.
CAPÍTULO 9
Passara uma semana depois de Rozen se ter ido embora. Não obstante aquela lamentável altercação, na verdade, éramos capazes de continuar amigos. Era de algum modo estranho viver, de novo, no apartamento sozinha, sentia a falta daquele estado de tensão, daqueles curtos meses.
Célio viera visitar – me pela sua terceira vez na semana passada. Apesar de saber que a minha resposta seria um não, convidava – me todos os dias para sair. Como agora era a única usuária do apartamento, paguei – lhe o convite, convidando – o por minha vez, bem como ao amigo, para jantar. Antes de chegarem, Célio pediu – me para não falar do meu trabalho durante a refeição, já que o outro não fazia a menor ideia acerca disso. Achei bizarro que não o tivesse posto a par, mas em breve percebi porquê.
O jantar correu bem e, como era habitual, diverti – me imenso. Célio estava sobre brasas devido à minha abertura. Temia a cada momento que eu dissesse alguma coisa para fazer o seu amigo suspeitar. Pelo que pude avaliar este estava convencido que eu e Célio éramos um par de namorados, resultando daí alguns momentos embaraçosos, principalmente quando tentava tocar – me ou beijar – me.
No dia seguinte, acordei com o telefone. “Merda”, gritei, quando me dei conta do tempo. Eram já dez da manhã. Antes mesmo de poder pensar nalguma coisa, tive de ir passear o cão. Peguei nas chaves do carro, chamei Napoleão, e fomos dar uma volta, até às falésias onde o podia passear à vontade.
Este pedaço de costa era o posto de trabalho de muitas prostitutas que se postavam por ali na berma da estrada esperando os clientes e levando – os para as dunas da praia ou para detrás dos arbustos dispersos. Enquanto permanecia ali sentada, dentro do carro, a observar Napoleão à caça das abelhas, e tudo o mais que pudesse encontrar nos arbustos, apercebi – me de uma sombra a aproximar – se do automóvel. Era um homem, um dos meus regulares, o Luís.
“Olá, Diana. Estou a ver que andas a passear o monstro. Estás livre dentro de uma hora?”
“Olá Luís. Desculpa. Estou totalmente comprometida esta tarde. Disse – lhe.
Desculpando – me, chamei o cão, e regressei a casa.
Não estava comprometida. Na verdade até nem tinha marcações. Só que não era capaz de voltar a estar com aquele homem. Do mesmo modo que Carlos, Luís fora um dos meus primeiros clientes, e como o Carlos tirara partido da minha inexperiência, na medida em que tinha sido a minha primeira semana. Aceitei a sua segunda marcação, algumas semanas mais tarde, altura em que fui extremamente áspera para ele, preferindo perdê – lo como cliente do que aturar – lhe o seu revoltante comportamento.
Luís era um ex militante de aparência ordinária, e a sua linguagem normal ultrapassava as suas más maneiras. Tinha um pouco de peso a mais, embora tivesse uma grande barriga. A respiração e espesso cabelo castanho-escuro de corte arredondado, haviam sempre de persistir acompanhando uma estranha mistura de cheiro a alho e bebidas alcoólicas.
Na segunda visita, pedi – lhe delicadamente para parar de me apalpar enquanto me despia. As minhas calças de ganga estavam algures entre os joelhos e o tornozelo e estava mesmo a ver que ia cair. Ignorando – me, continuou até que fui forçada a atirar – me para cima da cama, antes que tentasse alguma posição atrevida que, de nenhum modo, iria beneficiar um tão pouco conveniente homem de cinquenta e tal anos.
Quando me estendia no leito, à procura de um preservativo, Luís começou a queixar – se.
“Já? Tão cedo? Da última vez chupaste – me sem preservativo. Vá lá, amor, suga lá”, implorava.
“Ouve, Luís, da última vez só estava a trabalhar há dois dias. Felizmente, agora sou um pouco mais sabida. Talvez tenha um pouco mais de experiência. Repliquei – lhe sarcasticamente.
Luís ficou aturdido. Decerto não estava à espera que reagisse daquela maneira. Pelo menos tinha conseguido mantê – lo sossegado por um pedaço! Pensava que era ainda a ingénua menina que estava apenas a trabalhar há poucos dias. Mal sabia que já o tinha caracterizado n’ “os casos perdidos”. Esses que sabiam tudo acerca de cada prostituta da área.
Naquele dia encontrava – me com uma enorme enxaqueca. Só de pensar que alguma coisa me havia de tocar a cabeça, era razão suficiente para se me gerar uma enorme dor. Luís colocou acidentalmente os braços em cima do meu cabelo quando se ia a pôr em cima de mim. Adverti – o da minha dor de cabeça e pediu desculpa. Também sabia que não beijava os clientes e, assim, usou a sua desculpa como um pretexto para o fazer, atirando – me para cima do rosto o seu revoltante hálito. Depois de lhe dizer duas vezes para estar quieto e, finalmente gritando – lhe, concentrou – se à procura da minha vagina, abrindo – a com os dedos, para tentar e conseguir beijar – me outra vez. Luís estava agora a usá – la sem ter proferido uma palavra, e continuou a esfregar – me a vagina a tal ponto que, a cada vez mais a pele seca estava a arder e doía – me. Não fazia a mínima ideia do que era um clítoris ou onde é que isso ficava para o efeito.
“Que tal o meu sexo? É bom?”, não se cansava de perguntar.
A princípio disse que sim porque ia simular um orgasmo. Depois, pensei de mim para comigo, merda, mesmo que eu simule um, é capaz de, provavelmente, continuar. É tão ignorante que naturalmente pensa que as mulheres se podem vir duas vezes em dois minutos! É mais que certo que este tipo nunca fez uma mulher vir – se, pelo menos com esta espécie de desempenho e desconhecimento!
Enquanto me concentrava em o enganar, a sua atenção foi desviada para o pénis e começou a penetrar – me na posição de missionário, uma vez mais colocando a sua tosca mão no meu cabelo e o seu hálito, com cheiro a peixe, na minha cara, ao mesmo tempo que dizia,
“Gostas, amor, É bom?” Gostas de estar comigo? Querida, diz que gostas do meu leitinho.”
Já não podia mais conter – me e comecei a gritar – lhe com ódio. Era demais! Estava – me a sentir usada, revoltada e, acima de tudo, desrespeitada. Automaticamente disse – lhe que o seu tempo estava a chegar ao fim, que me encontrava atrasada. Estes tipos de indivíduos têm uma habilidade inata pala tratar as mulheres como gado.
Fazia – se tarde. Ainda não estava na cama há dez minutos quando começou a penetrar – me, mas não podia aguentar nem mais um minuto. Continuei abraçada a ele um pouco mais, mas sem proferir uma palavra, precisamente para evitar que falasse e poluísse o ar com a sua respiração. Foi uma experiência que não quero repetir e, a partir daquele momento, jurei não permitir que este tipo de homens se repetisse. Preferiria perder o trabalho e dizer que estava ocupava, embora, nalguns casos, achasse que esses homens eram bem-educados.
Quando fez a sua segunda marcação, Luís tinha medo de ser rejeitado e não disse quem era ou que já se havia encontrado comigo. De maneira geral falava com ritmo através do telefone e ia ao cúmulo de perguntar as direcções. É, naturalmente, o que fazem alguns clientes deste género.
Escassos dias depois de o ter visto nas falésias, voltou a marcar. Sabia perfeitamente que lhe tinha dito que estava ocupada para evitar atendê – lo. Assim, esperou alguns dias e utilizou todo o processo do telefone outra vez e apareceu a bater – me à porta. Quando a abri, conduzi – o ao quanto e perguntei – lhe, tal como fazia com todos os meus clientes, se queria tomar banho de chuveiro ou se preferia utilizar o quarto de banho. Como de costume, declinou o convite. Desculpei – me e dirigi – me para o banheiro, só regressando quando arranjara uma desculpa válida para evitar atendê – lo.
“Peço imensa desculpa, Luís, receio ter más notícias. Acaba de me surgir o período. Não posso trabalhar, desculpa”.
Sem imaginar que eu estava a arranjar uma desculpa, tentou convencer – me de que, com período ou de sem período, não havia problema. Repliquei – lhe que era contra a minha religião, que não o faria. Engoliu e foi – se embora.
Revoltante é a palavra mais adequada com que posso designar estes clientes que são insolentes, opressivos, toscos, ignorantes, e pouco respeitadores. Não são poucas as vezes que penso nas mulheres destes indivíduos, sentindo – me triste por elas cujos maridos andam usualmente entre os quarenta e os cinquenta e cinco. Nunca devem ter experimentado o prazer com eles. Assim, mau sexo com um velho macho, condena – os a visitar diferentes lugares, frequentemente, de acordo com as suas possibilidades financeiras, sendo assim os bordéis locais de segunda classe, que eu considero “lixo”, no sentido literal da palavra.
Alguns dias passados, André fez outra marcação. Desta vez, a transmissão de energia era mesmo maior do que da última vez. A sua ternura havia triplicado em elação a mim. Correu tudo muito bem, desfrutámos da companhia um do outro mas ambos sabíamos que era perigoso continuarmos a encontrar – nos. Não discutimos esse ponto mas podíamos senti – lo
Nessa visita deixou o livro de cheques no carro. Era dos poucos clientes a quem tinha dado permissão de pagar por este método. A noite estava muito fria e húmida. Sugeriu uma transferência para a minha canta. Concordei e dei – lhe os pormenores.
Como combinado, Eduardo, um amigo de meu pai, veio visitar – me. Tal como da primeira vez, passámos uma boa parte do tempo a conversar sobre Política. Por alguma razão senti repulsa ante a ideia de dormir com ele. Não tirava da cabeça que era como dormir com o meu próprio pai.
Geralmente reunia a coragem suficiente para ir com ele só para descobrir que este homem estava obcecado em que lhe chupassem os testículos. Para ele, isto era o despoletar do acto sexual.
Esta semana, do mesmo modo que as outras, foi trabalhosa e, como é natural, estava a contar com o depósito de André. Para meu desespero, não havia depositado o dinheiro no dia seguinte.
Após o terceiro dia, ainda não havia sinais de depósito. Não tinha alternativa senão enviar – lhe uma mensagem a explicar o meu desespero.
Respondeu a pedir desculpa, que estivera muito ocupado. Fez o depósito nesse mesmo dia, mas as suas chamadas estavam para acabar dentro de alguns meses. Contactou – me ainda mais uma vez quando subi os preços. Disse – lhe que a parada havia subido, embora omitindo que os meus clientes regulares continuavam a pagar o mesmo. Suponho que disse isto para não me voltar a visitar. Ambos sabíamos o que podia resultar do episódio. Penso que ambos tínhamos desejado que alguma coisa nos iria salvar de uma situação difícil. Devemos tê – lo desejado muito. Eu desejei!
Naquela mesma noite, Tom ligou. A partir daquela visita, em que deixou um sentimento de desgosto, enviara – me uma colecção completa de mensagens, pedindo – me par almoçar com ele, ou jantar. Não lhe respondi a nenhuma mensagem; se queria ver – me teria de fazer uma marcação e vir ao meu apartamento.
Sem esquecer a sua visita, pela primeira vez, fiz perceber bem a Tom que não era a boneca Barby e que, se queria os meus serviços, teria de marcar encontro como toda a gente. Tom respondeu que me ia ligar na semana seguinte e arranjar tempo e dia que se adaptasse à sua agenda.
Pelo que deduzi, Tom estava à espera de tratamento PMI (pessoa muito importante) tal como o seu título exigia.
CAPÍTULO 10
Passados alguns meses de trabalho, ficava agradavelmente surpreendida ao receber chamadas de homens que me haviam sido referidos pelos seus amigos, como sendo colegas. Muitos recusavam – se a revelar quem me recomendara, enquanto outros até gostavam de se abrir completamente.
Um grande amigo meu trabalhava no ginásio local a tempo parcial como recepcionista e, durante as minhas horas livres, pagava – lhe frequentemente as visitas, no intuito de me libertar do apartamento por algum tempo.
O ginásio era próximo de um café e eu e Darre tínhamos por hábito ir lá nos nossos intervalos livres. Ali, sentados no terraço a beber café, comecei a contar ao Darre a preocupação que me começava a invadir devido ao comportamento de Célio. Após três visitas oficiais e alguns meses de envio de mensagens sem conto, o jogo começava agora começava a sair de controle, na medida em que, na noite anterior escreveu uma dizendo “amo – te”. Sinto a tua falta. Não posso estar longe de ti.” Tinha de pensar nalguma coisa e depressa, pois que nunca o tinha encorajado ou impressionado de algum modo.
Darre não podia dar – me conselhos. Estava a enfrentar uma situação semelhante e sentava – se ali de olhos abertos a olhar fixamente as pessoas que se encontravam à volta a beber os seus cafés matinais, enquanto eu começava a arquitectar, na parte que me competia, o meu próprio plano, no que respeitava a Célio.
Isto, assim, não podia continuar. Precisava de tentar explicar – lhe que não podia ter esses sentimentos mas, dado o seu estado de espírito, resultante do seu recente divórcio, tinha de ter cuidado para o não magoar mais. Estava carente e não queria melindrá – lo. Pegando no meu telefone, escrevi:
“A minha situação actual não me permite ter um relacionamento. Sou uma prostituta e continuarei a sê – lo nos futuros meses. Dá – me tempo para terminar.”
Eu sabia muito bem que o tempo é um bálsamo e durante o tempo de espera, iria eventualmente esquecer – se daqueles sentimentos que pensava que tinha.
Para me alhear do problema disse:
“Vês ali aquele rapaz? Chama – se Filipe e é jogador da Equipa Nacional de Hóquei.”
Não me teria preocupado se fosse o presidente dos Estados Unidos, mas respeitei, na medida em que regressávamos ao ginásio.
Darre pediu – me para deitar um olho na recepção, enquanto ia num instante ao quarto de banho. Neste lapso de tempo, o alto jogador de hóquei entrou muito timidamente, marcou o ponto no cartão – horário que continha toda a informação necessária no que dizia respeito a um membro do ginásio.
“Pode dizer – me quanto tenho de pagar para me tornar sócio?” perguntou polidamente.
“Desculpe, na verdade não trabalho aqui, mas o recepcionista demora pouco. Se não se importa de esperar um bocadinho, disse – lhe.”
Respondeu – me que não era necessário. O homem, estranhamente, tentou escapar – se rapidamente quando Darre apareceu, disse a Darre olá, mesmo quando ia já a sair. Darre perguntou o que é que queria, disse – lhe, e ele sorriu.
“Pois bem, doçura. Este homem é já membro. Na verdade, a mulher é que é e ele está agregado.
Darre continuou a explicar que Filipe, de vinte e quatro anos, era casado com uma mulher nove anos mais velha, que era uma figura dos media devido ao seu título Real. Pegando numa revista de debaixo do balcão, Darre apontou para a página central que abrira para me mostrar Filipe e a esposa. O engraçado disto tudo é que, nessa altura, ele devia estar, com toda a certeza, com outra pessoa. Este tipo “carente” não pode, usualmente, estar só por muito tempo.
Quando cheguei ao meu prédio, tive uma surpresa agradável, o meu amigo João acabara de chegar de Itália, onde passara uma grande parte dos sete meses a servir de enfermeiro à mãe que se encontrava doente. Quando lhe abri a porta não pude conter as lágrimas de felicidade. Tinha sentido a falta de João, tanto mais que, estando desempregado, podia passar mais do seu tempo no meu apartamento, enquanto a esposa trabalhava. Pela minha vida que não conseguia compreender como é que um homem tão inteligente como ele podia estar desempregado, mas, em realidade, não perdi tempo a analisar o problema.
Enquanto esteve em Itália nunca deixámos de estar em contacto. Já sabia da minha nova profissão e, embora fosse contra a ideia, prestava – me sempre carinhosa atenção.
João andava próximo dos quarenta. Era baixo e tinha, pelo menos, trinta quilos a mais. O seu cabelo preto, espesso e bigode de coronel a condizer, criava um ar autoritário à sua volta. Mas João era um dos mais amáveis, das mais amorosas pessoas que eu tivera o privilégio de encontrar, embora fosse um ex drogado de heroína confesso. Tinha – lhe roubado sete anos da sua vida e era agora o seu décimo terceiro ano limpo.
Quando nos sentávamos para saber as notícias, fomos interrompidos por uma chamada da porta. Era o meu novo cliente. Não me apercebera das horas. João foi – se imediatamente embora, antes que o homem tivesse tempo de chegar ao meu piso.
Estava para ser o meu décimo cliente do dia e eram só seis da tarde provando, de longe, ser o meu melhor dia.
O cliente chegou, um homem alto, de rosto agradavelmente limpo que oscilava pelos vinte e três anos. Parecia – me familiar mas, pela minha vida, não era capaz, sinceramente, de me lembrar onde o tinha visto. Quando passou pela porta e estava prestes a perguntar – lhe, lembrei – me que era o Filipe. Quase morri! Concentrando – me pensei; cá vamos nós com mais uma situação embaraçosa! A fingir que o não reconhecia, pedi – lhe para ir para o quarto. De facto, Darre não lhe tinha chamado a atenção para o facto; não teria feito a mínima ideia, já que nunca vejo televisão.
Filipe, que parecia extremamente embaraçado e era extraordinariamente tímido, portou – se como um rapazinho a quem a mamã estivesse a ralhar. Deve ter adivinhado que Darre me havia dito que ele já era um membro do ginásio. Para lhe evitar mais embaraços, não falei nisso, como se nunca o tivesse visto. Continuou a olhar confuso, a pensar se já o conhecera de algum lado.
Para partir o gelo, perguntei – lhe onde é que arranjara o meu número, só para me dizer que tinha sido do anúncio. Evitando perguntar – lhe mais coisas, acerca do jornal e pormenores sobre o anúncio, tinha decidido poupá – lo ao ridículo. No fim de contas, deve ter percebido que estava a mentir ao dizer que não o conhecia, ou melhor, a não ser que fosse, de todo, um idiota. De resto, fora uma coincidência um membro do ginásio estar a pedir detalhes para se inscrever.
Toda a cena fora ultra rápida. Estava a proceder mal, nunca gostei de espiolhar manifestamente a vida dos clientes. De resto, tinha pouco tempo e tinha de respeitar as regras. Não se queixou. Tenho praticamente a certeza que as outras raparigas que havia visitado eram também rigorosas com o tempo. De toda a informação que consegui recolher, cheguei à conclusão que eu era a única que fazia sexo oral. Não obstante passar apenas alguns minutos na cama, levava muito mais a falar com esses homens, dando – lhes um certo apoio.
Não me parece que Filipe estivesse a proceder do modo mais inteligente. O que eu quero dizer, é que um homem casado com alguém que possui um título de realeza, não deveria visitar uma prostituta que trabalha e vive na mesma área. Mais, sabia que eu era amiga do recepcionista do ginásio que, assim, conhecia a mulher e tinha toda a sua identificação. Era, de facto, inacreditável. Ali estava eu, uma prostituta, devido à minha situação financeira, e, assim, em desespero poderia ter destruído o casamento deste senhor, bem como toda a sua reputação, se eu assim muito bem o desejasse. Podia avisá – lo das minhas intenções e fazer – lhe um ultimato. Podia ter destruído a sua vida!
Mas não era caso único. Havia pelo menos uns outros oito em quem podia pensar. Para além disso, clientes famosos eram, também, vizinhos. Para além de vizinhos com casamentos comuns, havia vários famosos com esposas famosas. Uma dessas PMI (pessoas muito importantes), um moço que vivia no fundo da minha rua, Daniel.
Daniel era alto com cabelo escuro encaracolado, com os olhos verdes mais bonitos que jamais vira e era extraordinariamente atraente. A primeira vez que me visitou, tinha ficado aterrorizado e por alguma razão não podia imaginar porque é que ele era muito extrovertido. Algo se encontrava desajustado.
Quando se foi embora, sentia – se muito mais confortável e revelou – me o quanto estava excitado porque ia de férias no dia seguinte.
Como tinha achado divertido ver alguns clientes meus na revista, no ginásio, quando fui lá fora comprar cigarros comprei a edição seguinte da revista no quiosque local. Para minha surpresa, ao abrir a revista para encontrar Daniel, na quarta página, deparei com ele e a sua famosa esposa, apanhados durante as férias! Pelas informações que consegui, Daniel era realmente um homem famoso e a mulher ainda mais. Fora por isso que ele ficara aterrorizado! Tinha a certeza de que o conhecia e achou estranho que tenha dito que não. Além do mais, ele e a mulher viviam na minha rua!
Alguns dias mais tarde, Daniel chegou à porta do meu edifício sem avisar. Um regular tinha feito uma reserva para a hora seguinte e, aparte isso, estava furiosa porque um cliente batera à minha porta sem marcar encontro antecipadamente, o que era a violação da minha regra número um.
Não sei se Daniel estava à espera que lhe desse uma atenção especial devido à sua imagem ou espantosa figura, mas quando atendi o telefone da porta não continuou tão divertido pois fingi não o reconhecer.
“Olá, Diana, sou eu. Senti tanto a tua falta. Regressei. Podes abrir e deixar – me entrar, se fazes favor”? pediu.
“Oh, és tu, Daniel. Desculpa. Estou muito ocupada. A propósito, não respondo a chamadas da porta sem um a marcação. Espero que compreendas que não posso permitir – me uma coisa dessas. Seria demasiado complicado se toda a gente decidisse fazer o mesmo. Liga – me e faz uma marcação. Desculpa, tenho de ir tomar banho. Adeus”. E desliguei o intercomunicador.
Daniel ficou sem fala. A minha intuição disse – me que não voltaria e o tempo deu – me razão. Não estou certa se se sentiu insultado pela minha recusa em abrir – lhe a porta ou se procedeu intuitivamente devido aos perigos que envolviam a visita a uma prostituta que morava e trabalhava na mesma rua. Talvez pensasse que o havia reconhecido como figura pública e estivesse à espera de tratamento especial?
Até este dia não fazia a mínima ideia de como é que estas figuras públicas podiam arriscar a reputação e os casamentos ao visitarem meretrizes. Uma coisa é visitar uma mulher que não trabalha nem vive na mesma vizinhança, outra é ir a uma prostituta que foi parar à mesma área residencial, à mesma rua. Mais ainda, ir ter relações com uma rapariga que tinha informações em primeira-mão das suas esposas, mesmo antes de se tornarem clientes, e virem na mesma, ignorando esse facto. Tiveram sorte a mais por terem batido à minha porta. Tinha uma consciência e acreditava que “quem semeia ventos colhe tempestades”. Qualquer outra teria tirado partido da situação.
CAPÍTULO 11
Como estavam errados! Como estavam errados quando os Beatles cantavam “O dinheiro não pode amar a meu lado.” Todos os dias punha os pés fora de casa e via a falsa realidade ao redor, pensava como, na maioria das vezes estavam enganados. Durante a curta estadia no país, todo o tipo de homem de todo tipo de meio, e todo o tipo de profissão se havia aproximado de mim. Alguns pensavam que poderiam ter um pouco de sorte por causa da conta bancária. Outros estavam convencidos de que a sua imagem de figura pública ou estatuto político lhes era suficiente, enquanto cabeças ocas de belos rapazes tinham a certeza de que residia na sua aparência. Todos eles fruíam de um circunstância comum; estavam sob a ilusão social de que a saúde material ou as imagens vulgares prevaleciam, mas era muito cedo para descobrir que eu era excepção à regra, rejeitando a ilusão e, assim, rejeitava – os também. Naturalmente que não teria lançado mão da prostituição, se tivesse aceite estes falsos valores. Mal sabiam eles quão diferentes eram os meus. Tinha os pés assentes no mundo real. O mundo natural era feito de sentimentos onde a principal regra era de que as coisas materiais nada significavam sem a alma. Decidi vender o meu corpo mas, a minha alma, não.
Para minha surpresa recebi uma mensagem de Carlos. Passara – se alguns meses atrás! Não tinha mais ouvido uma palavra a seu respeito desde aquela manhã em que fui bem explícita dizendo que não o podia tratar de modo especial.
De alguma maneira estava contente por ter notícias dele já que isso era como deitar água para debaixo da ponte. Por outro lado estava desiludida com o modo como Carlos falara para mim, tal como o fez no passado, e logo mudei o meu tom de voz antes de lhe dar oportunidade de fazer outra marcação.
No meio de uma tarde deste Verão ensolarado, quente, uma marcação tinha sido confirmada para as quatro horas da tarde. O meu novo cliente foi pontual. Abri a porta a um homem que parecia rondar os cinquenta anos. De fino cabelo prateado, penteado para trás, tinha os olhos azuis mais penetrantes que eu já alguma vez vira. Dominariam o cenário de uma pintura perfeita. De pele bronzeada, usava um casaco tipo desporto azul -marinho, tradicional, com calças compridas beges.
Quando o mandei entrar e me apresentei, o amorável homem, pegou na minha mão direita, dobrou a cabeça lentamente e beijou – ma e, depois, apresentou – se.
António seguiu – me até ao sofá deixando um suave aroma de elegante loção pós – barbear atrás de si. Sentou – se, tendo o cuidado de não amarrotar o fato, no lado direito, apoiando o braço na cadeira, ao mesmo tempo que firmava a cara na mão. Pegando num grande charuto cubano pediu – me licença para fumar antes de o acender.
Por qualquer razão, estava a sentir – me muito intimidada e incomodada pela sua presença. Tudo o que concernia a esse homem, o vestuário, a atitude, o seu odor e, acima de tudo, o seu ar de superioridade, era demais para que, mesmo os mais resistentes pudessem lidar com isso. Se era isto que queria ostentar tinha, de facto, utilizados os ingredientes apropriados.
António não viera para fazer sexo. Tinha vindo para conversar. Parecia ser um homem só. Sentia isto na sua voz. Na amargura das suas palavras. Verdadeiramente em toda a sua presença; parecia ser o seu próprio maior inimigo e com a ideia que transmitia até mesmo os mais fortes se sentiriam amedrontados.
Era pouco conversador e ficava muito feliz por tirar o máximo de prazer do seu charuto que dominava o ambiente. Tal como era meu costume, comecei por explicar o “ritual”, de como chegara a uma tal situação e, ao mesmo tempo, perguntava – lhe que diabo estava fazendo ali, a visitar lugares como este. Nunca respondeu à pergunta mas, antes, disse que tinha rompido há pouco a relação e de como a mulher o estava a incomodar e a sua persistência em recuperá – lo. Depois de se calar, do mesmo modo como era usual com os outros clientes, comecei a perguntar – lhe pelo trabalho. Inaugurou a longa história da sua vida activa, dizendo como se tinha tornado o herdeiro de uma empresa familiar tradicional enorme, que envolvia a produção e vendas de cristal há várias gerações.
A atmosfera aligeirou – se a despeito de estar a ser conspurcada pelo fumo do tabaco, e falava mais livremente. No meio da história da sua vida profissional, mencionou os anos como alcoólico e como tinha sido vítima de um penetrante ataque. Tinha sido vítima de um ataque amargo. Vinte anos haviam passado desde que apanhou a esposa a dormir com outro sujeito no quarto do casal. Após tê – la deixado, esta começou a suborná – lo emocionalmente e continuou com a chantagem por tanto tempo que acabou por cair em orelhas moucas até ao dia em que se suicidou. Não sabia como reagir ou como confortar o homem sentado na minha frente com a aflição estampada nos olhos. Fiz o melhor que pude e não mais toquei no assunto nem fiz perguntas que lhe pudessem aumentar a aflição. Preferi solicitar – lhe descrições sobre a sua experiência como alcoólico e elogiei – o, depois, devido à habilidade em deixar tudo para trás.
Como o tempo estava a passar convidei António para o quarto. Olhou para mim e disse,
“Minha querida Diana, não queria pôr as coisas nestes termos, o seu tempo é dinheiro. Pagar – lhe – ei, descontraia – se.”
Comecei a sentir – me insegura pensado que este sujeito não tinha gostado de mim. Talvez não estivesse vestida do modo que ele esperava? Talvez estivesse à procura do estereótipo perfeito de uma prostituta de classe alta?
Conversámos durante mais um bocado antes de lhe dar a entender que me estava a roubar muito tempo. Levantou – se rapidamente, colocou a mão na parte mais inferior das minhas costas e deu – me cerca de três vezes mais dinheiro do que era obrigado a fazer. Fiz – lhe compreender que tinha cometido um erro, pois já me sentia culpada porque me estava a pagar apenas por conversar.
”Não, o seu tempo ainda valia mais”, insistiu enquanto se dirigia vagarosamente para a porta da frente.
De novo, antes de partir, levantou a minha mão direita, beijou – a e foi – se embora.
Para minha surpresa continuou a manter regularmente contacto comigo. Costumava marcar para conversar e sentia – me cada vez mais incomodada quando lhe aceitava o dinheiro, tentando desesperadamente dizer – lhe que não cobrava por falar. Mas António continuava a insistir, ameaçando até não voltar. Sempre que aparecia trazia – me um presente. A minha colecção de porcelanas estava a aumentar.
Um dia insistiu extremamente para que o acompanhasse a jantar. Ficou muito ofendido quando lhe disse que não fazia isso com clientes e melindrado com o facto de me referir a ele como tal e sentindo – me deveras culpada aceitei o convite.
Durante o jantar, António começou a contar – me a história do seu envolvimento com uma prostituta brasileira que tinha trabalhado num dos bares nocturnos de grande classe da cidade.
António fazia a reserva todas as semanas, de Quinta-feira à noite até Domingo. Na verdade acreditava que esta menina gostava dele. Que passava estes dias com ele por amor não obstante o facto de lhe estar a pagar. Para não ferir os seus sentimentos não tentei tirar – lhe as teias de aranha da cabeça. A assim chamada relação subsistiu, até ao dia em que a dita rapariga juntara o seu dinheiro e voou de regresso para o Brasil. Durou dois anos. De repente, comecei a ver o quadro claramente. António estava a pensar que poderia fazer o mesmo comigo sem saber que eu era diferente, que tinha valores indestrutíveis.
No regresso do restaurante, continuámos a conversar no Rolls Royce. O carro era tão grande que as nossas palavras pareciam ecoar no silêncio, devolvendo o cheiro a charutos e loção para de pós barbear. Não era capaz de me alhear da sensação que me pesava no estômago. Parecia querer criar o mesmo enleio surrealista que havia engendrado com a brasileira. Inesperadamente olhou para mim e perguntou:
“De quanto é que precisa para pagar as suas dívidas? A quanto monta o total?”
Hesitei mas respondi honestamente. Ainda era uma vasta quantia que rondava os milhares de euros. António estacionou o carro no lugar conveniente mais próximo, olhou para mim, pegou – me na mão e disse:
“Deixe – me oferecer – lhe essa quantia. Permita – me aliviá – la dessa dívida, querida.
António, está louco? Esta luta é minha, de mais ninguém.
“Insisto. Deixe – me pagar integralmente as suas dívidas.”
Continuei a resistir. Nunca sonharia na vida uma tal coisa. António queria comprar – me, pensando que pagando as minhas dívidas pudesse comprar – me a alma. Não compreendeu. Não conseguia ver que não o amava. Mas esta era a sociedade a que ele estava habituado. Uma oportunidade pela qual muitas raparigas seriam capazes de matar para a conseguir. Venderiam fosse o que fosse, para obter lucros materiais, incluindo a própria alma e a felicidade, em troca de um parceiro infeliz, um papel de fantasia, onde as recompensas financeiras são trocadas por dependência e controle. Raparigas que estariam dispostas, não só a vender o corpo, mas também a própria alma, bem como a própria existência.
As semanas que se seguiram foram preenchidas com chamadas, mensagens e visitas do persistente António, determinado a levar – me a aceitar a sua oferta. Durante todo este tempo, nunca tive sexo com ele. Parecia estar à espera que desistisse antes de começarmos, esperando que fosse sua para lhe dar, assim, prazer.
Lentamente, começou a perceber que não iria mudar de ideias e aceitar o papel que queria conferir – me. Pela primeira vez enfrentava um desafio que não sabia que existia e começou a ficar irritado e sarcástico, especialmente quando mencionava outros clientes. Principiava cada vez mais a penetrar que era uma batalha perdida e, nessa mesma noite encontrou uma desculpa para acabar com este embaraço, com este orgulho.
Encontrava – me com João a beber uns copos de vinho e sentia – me alegre. A mulher estava a trabalhar até tarde e, assim, fazia – me companhia. António telefonou. Pouco satisfeito com o meu risinho, desligou logo. Na manhã seguinte liguei – lhe a pedir desculpa de sem saber bem porquê.
“Minha querida Diana, nunca imaginei que uma jovem como a menina pudesse ter chegado a tal estado. Estou desiludido, deveras desiludido”, disse com uma voz profunda e firme.
Fiquei sem palavras perante a exageradamente débil desculpa. Não estava embriagada. Não fora grosseira, estava apenas a desfrutar a noite com um amigo. Lembrei – me em cada segundo daquela conversa sendo, tudo o que ele conseguiu aperceber em mim, apenas as minhas boas maneiras.
O que António queria era ter a última palavra e acabar com tudo como se a ideia tivesse partido dele. Não podia aceitar a derrota. Se ao menos se apercebesse que já o deixei ganhar por me recusar a esfolá – lo bem esfolado e não sendo desonesta. Fui a primeira a fazer – lhe ver que o ”dinheiro não lhe podia comprar o amor”, que o poder não é o dinheiro. O poder era ser forte para nós mesmos.
Aconteceram – me muitos casos parecidos embora não envolvendo as enormes quantias de dinheiro de António. No entanto, implicaram dinheiro e subornos. Até certo ponto, mesmo drogas. Muitos homens viram e sentiram o meu desespero. Apaixonaram – se por esta rapariga que encontraram e ficaram com ideias. Tiveram pensamentos como os de me ter, de me possuir. Sabiam que não aceitaria dinheiro sem contrapartida e, assim ofereciam – se para mo emprestar. No entanto, quando se aperceberam que a minha atitude para com eles não mudaria, começaram a subornar – me. Utilizavam a minha aflição e a minha dor para ganhar a contenda. Teriam preferido ver – me sofrer se não atingissem os objectivos. Não tiveram êxito e apareci como vencedora, embora pagando um preço elevado. Emergi com a minha consciência clara e eles com a sua manchada. Na maioria dos casos, continuam a pagar pelos seus actos. Persistem em me contactar para que no dia em que singrar na miséria possam ter outra oportunidade. Nunca terão. Aprendi a lição de perder tudo e esse dia não voltará.
CAPÍTULO 12
Passavam agora cinco meses desde que atendi o meu primeiro cliente e, de algum modo sentia-me mais confortável falando acerca disso com alguns amigos. Eram esses amigos em quem podia confiar para me fazerem companhia, sentindo – me livre para responder ao meu telefone de trabalho, quando estavam por ali.
Oley era um deles. Era um verdadeiro mafioso que a sua aparência testemunhava com clareza. Tinha um corpo musculado, olhos azuis, pele branca cabelo à Yul Bryner. O seu corpo encontrava – se coberto de tatuagens, esboços de experiências da vida e pontos de vista rebeldes. Oley andava envolvido em projectos ilegais a nível Internacional.
Após um encontro no ginásio local, há muito tempo, onde ele e a esposa estavam inscritos, eu e o Oley mantínhamos um contacto regular e permanecemos bons amigos, nos seis anos que se seguiram. Era recentemente livre após se ter divorciado da mulher no ano anterior. A esposa tinha um carácter forte e que inspira confiança. Não tivera opção, porquanto, muitas outras mulheres bonitas andavam sempre à volta do Oley. Por alguma razão, contudo, era demasiado paranóica, com a nossa relação, a tal ponto, que arruinou o seu casamento.
Oley aparentava ter muito tempo livre, e com o tempo, atrevi – me a falar – lhe do trabalho. Estava curiosa acerca do que esta figura de homem fazia na vida ou, pelo menos, o que dizia que fazia. A minha intuição levou – me a começar a analisar mais de perto até que um dia o enfrentei. Gostava do Oley, nunca permiti que classe ou emprego ou fosse o que fosse fizessem interferir no meu juízo. A avaliação que eu fazia de alguém era em relação a mim só a mim. Oley admitia que uma das suas muitas linhas de trabalho era um “salão de massagens”, por outras palavras, um bordel legal.
Oley só regressara ao país havia alguns meses. Tinha estado por fora num dos seus milhares de aventuras e, sabendo que era para negócios ilícitos, não queria, realmente, descobrir mais nada. Não queria o fardo de saber e, sendo muito inteligente, compreendeu porquê. O que percebia era que sentia a falta dele, já que cinco meses atrás o seu conselho poderia ter feito um mundo de diferença.
A liberdade de Oley era devida à sua esperteza. O seu traquejo e negócios eram cuidadosamente planeados e pensados, referindo – se constantemente aos seus advogados e implicações legais de tudo como se fora um jogo de xadrez.
Com o passar dos anos, tínhamos ganho tanto respeito um pelo outro, que, apesar desta imagem de conjunto e modo de vida, lhe tinha permitido morar comigo na altura do seu rompimento com a esposa.
Oley passou para um café e para avisar que, não sabia bem quando, mas que estava a planear deixar o país por mais alguns meses. O bordel veio à baila durante a conversa. Tinha – o fechado em consequência do divórcio. Enquanto Oley explicava quão lucrativo era tal negócio, comecei, repentinamente, a ter ideias.
Quando se foi embora, corri imediatamente a visitar outro amigo, Paulo. Paulo não era estranho às prostitutas e tinha arranjado muitos contactos nos bairros nocturnos que frequentava com os seus clientes. Paulo chamava – lhe “Destino Final”. Era sempre um ponto de encontro de agradável divertimento. Era mais que sabido que, na verdade, era um negócio muito lucrativo.
No meu exaltamento, sugeri que abríssemos algo idêntico; um bordel.
“Faz – me teu sócio” disse com um sorriso. “De certeza que queres incluir – me.”
Estava surpreendida. Era como se já tivesse planeado abrir um, como se já tivesse desenvolvido um projecto. Parecia saber toda a informação necessária e foi rápido a agarrar a bola, sem a mínima hesitação, só ideias de negócio.
Contente por ter um sócio, não perdi tempo a chamar o meu advogado para organizar uma reunião, naquela mesma tarde, no meu apartamento. Foram discutidos todos os subterfúgios e implicações legais. Estávamos prontos a arrancar. Abrira – se a luz verde.
Naquela mesma tarde, o meu vizinho João, passou por ali. Enquanto estava a fazer café na cozinha comecei a contar – lhe os acontecimentos daquela tarde.
“Eu e o Paulo vamos abrir um bordel”, disse.
O sorriso de João diminuiu gradualmente até se transformar em tristeza, na medida em que lutava desesperadamente para esconder as suas expressões, sorria com a boca fechada, como para evitar mostrar os dentes amarelos estragados devido à sua passada dependência.
Sentindo pena dele, na medida em que estava preso e dependendo da mulher para a subsistência e despesas. Naturalmente que me senti inclinada a perguntar – lhe se queria ser também sócio. Por alguma razão não esperava que aceitasse em ser incluído.
“Estás a falar a sério? Claro que adoraria”, disse com uma lágrima de felicidade enchendo – lhe os seus grandes olhos castanhos intumescidos.
“Tens a certeza, João? Sabes que és casado, certo? Compreendes tudo?”
Pela primeira vez João sorriu com uma boca aberta, como se não pudesse conter as emoções. Eram demasiado fortes para controlar as suas expressões. Estava excitado.
O resto da tarde foi passada a fazer planos em cima de planos. João estava de sobremaneira excitado para se preocupar com as implicações. Este projecto lucrativo era suficiente para sacudir quaisquer aflições ou quaisquer riscos. Não tinha dúvidas! O que contava era que eu estava envolvida, fazendo – o sentir – se seguro. De alguma estranha maneira estava feliz por ter o seu envolvimento na medida em que me via a mim própria contribuir para a sua emancipação. Talvez isto lhe desse um arranque, independência financeira? As justificações eram feitas e aceites. Era uma boa causa.
Eu e João não tínhamos outros tópicos de conversa durante os dias que se seguiram. Éramos como crianças no Natal à espera do dia de abrir as nossas caixinhas de surpresas. Era impossível parar a sua jovialidade, a sua excitação, e, acima de tudo, a sua demanda por aventura como meio de escapar à sua aborrecida vida. Tirámos partido da nossa boa disposição e dirigimos rapidamente todas as nossas energias para encontrar um lugar apropriado para abrir o novo bordel depois de termos decidido a sua situação. Seria num ambiente da classe trabalhadora, com um elevado índice de concentração populacional, e, o mais importante, de fácil acesso. O país entrou numa crise económica difícil e eram as classes médias que mais o sentiam. Não tínhamos alternativa senão eliminá – la.
Não podíamos acreditar! O primeiro lugar que vimos era perfeito. O apartamento era na vizinhança de um bairro social da classe trabalhadora. Todo o local tinha um aspecto falido com mobília muito velha e pobre. As paredes, com aparência de plástico, estavam adornadas com quadros fora de moda; o tipo que encontramos nas colecções dos nossos bisavós. Mesmo a TV tinha uma daquelas antenas que se encontram a cinco pés da sua grande caixa – ecrã. Contudo, tinha duas camas e dois sofás rasgados, o que era o mais importante. Como um bónus, salientava – se um aparador feito de madeira vinil castanho – escuro. O conjunto do local cheirava a bolas de naftalina bafientas mas devia servir. Não havia problema já que não estávamos a planear abrir um clube para pessoas muito importantes. Eu e o João olhámos um para o outro e abanámos a cabeça com um sorriso.
“Ficamos com este”, disse para o agente imobiliário.
Paulo não ajudava nada e já me encontrava desassossegada com a sua ausência. Estava tão preocupado com as suas companhias que tinha tido pouco tempo ou nenhum para contribuir para o nosso projecto. No meio da minha excitação, disse a João que não seríamos só os dois. Como de costume, o que eu dizia não era comentado. Chamei o Paulo, expressei – lhe o meu desagrado, e para meu alívio, compreendeu perfeitamente. Eu e o João ficámos a ser os únicos sócios.
João decidiu que o contrato de arrendamento ficaria só em seu nome e eu seria a sua fiadora. Chegámos a esta conclusão porque, ao contrário de mim, não tinha recibos salariais. Como a lei de arrendamento local considera o fiador como garantia real exigindo – lhe recibos salariais, diferentemente do actual possuidor do imóvel, provava ser assim o melhor arranjo.
Na manhã em que assinámos o contracto, eu e o João pegámos nas chaves e fomos ao apartamento, tão excitados que nenhum de nós pensara que era a nossa primeira casa.
João sentou – se no nosso novo sofá castanho e remendado tomando nota de uma lista de compras enquanto eu lia as páginas classificadas. Desta vez estava focando só os anúncios mais explícitos. Foi então que desviei a minha atenção para as páginas de recrutamento afim de ver quais eram os anúncios mais apropriados, com o devido cuidado das implicações legais.
Demorámos pouco tempo a realizar o trabalho. As listas estavam prontas, e redigidos ambos os anúncios; um para recrutamento, outro para anunciar as raparigas. A seguir fomos embora para casa.
Excitado com o nosso novo projecto, João começou a fazer planos para o futuro. Arranjar os dentes encontrava – se no topo das suas prioridades. Tinha – os escondidos por baixo do seu bigode de coronel há anos. Perder peso vinha em segundo lugar.
João tinha muito peso a mais e precisava realmente de fazer algo com isso. Depois surgiu uma bomba! Pediu – me para telefonar ao Oley a perguntar onde poderia comprar anfetaminas.
“Fazem – me tanto bem! É apenas por algumas semanas. Precisamente o tempo necessário para perder todos estes quilos extra” disse.
Embora estivesse convencida que era muito pouco provável que conseguisse perder vinte quilos extra em tão pouco tempo, João estava determinado a comprar estas pílulas. Tentei dissuadi – lo mas sabia que se não telefonasse ao Oley, ele arranjaria outra maneira. A pensar que era o melhor que sabia e que assim o poderia ajudar a controlá – lo, concordei e liguei a Oley.
“Está bem. Está bem. Vou passar por aí em trinta minutos”, disse, tentando cortar rapidamente a conversa não fosse uma gravação.
Quando Oley chegou, João quase praticamente se escondeu atrás de mim na sua presença. Dei – lhe um toque de cotovelo para falar com Oley. Numa voz calma, expôs rapidamente o assunto. E justificou – se só para ouvir o outro dizer
“Não, não, João. As anfetaminas são fortes demais para o teu coração. Sentir – te – às melhor com coca. Tem o mesmo efeito desejado e não é tão severa para o teu coração”, explicou Oley convincentemente a um intimidado mas igualmente excitado João.
“ Está bem. Se tiveres por aí uma grama…” disse João polidamente com os olhos muito abertos.
Oley estendeu – lhe o pequeno saco de plástico” e convenceu João que ia adorar a qualidade. Quando saíamos, João examinou a caixa que lhe deram como se fora uma criança recompensada com uns rebuçados por bom comportamento.
No auge da excitação, correu para a cozinha, regressando à sala de estar com um prato limpo, uma faca e um sorriso de gato do Cheirem. Com saliva a gotejar – lhe da boca, olhou para mim e perguntou se lhe podia ir buscar um cartão de crédito.
Quando estava prestes a esvaziar alguns dos conteúdos do saco de plástico para o prato, apercebeu – se que este estava húmido. Sem hesitar, levantou – se da cadeira, dirigiu – se para o meu porta CDs e voltou com um disco na mão. Como um verdadeiro profissional, colocou a cocaína no CD, cortou – a um pouco, depois dividiu – a igualmente em duas longas linhas com o cartão de crédito que lhe tinha dado. Antes de pegar no CD e dar – mo, João limpou a cocaína pegada ao lado do cartão de crédito e colocou – o no lugar.
Sentia – me fraca ou talvez simplesmente curiosa. Peguei no CD, coloquei – o em cima da mesa, agarrei uma nota que João tinha estado a enrolar, e levei – a à narina; ouvi as restantes instruções de João e depois aspirei. “Ai que bom”, exclamei. Dava a sensação de ervilhas entradas pela narina aberta do meu nariz até ao cimo. O meu septo ficou anestesiado. Quanto à minha garganta, ficou com resíduos de um gosto esquisito. Quando olhei para João, os meus olhos estavam mareados de lágrimas devido ao impacto que o meu nariz havia recebido. A sorrir prazenteiro, perguntou-me se era bom. Antes de ter hipótese de responder, senti uma sensação no meu peito. Passados que foram uns minutos, só me apetecia passear. Andei à volta do quarto até ficar com vertigens e então gritei violentamente:
“Vamos embora daqui”.
O efeito desapareceu passada meia hora, embora continuasse excitada para quase todo o resto do dia. Ainda estou a pensar se a minha snifadela era a meu favor ou contra.
A primeira coisa que fiz no dia seguinte foi telefonar para o jornal. Ana, a senhora, estava muito amigável e perguntou para quantos dias queria o anúncio. A rir, respondi – lhe que este era um anúncio diferente, e li;
Amistosa,
Extremamente voluptuosa,
Exótica 27 anos…
Tel.…
No decurso da mesma conversa dei – lhe instruções para o anúncio de recrutamento. Estava tudo pronto. Tínhamos comprado um telefone, postos os anúncios, agora tudo o que tínhamos que fazer era esperar que aparecessem algumas raparigas e começar a trabalhar.
CAPÍTULO 13
Na manhã seguinte muito cedo, um barulho pouco familiar acordou – me. Era o telefone do bordel. O anúncio de recrutamento saíra no mesmo dia, todavia ainda não possuíamos uma força de trabalho. Ansiosa, decidi responder e dar alguma informação relevante.
Pela tardinha, eu e João levámos a cabo exactamente o mesmo ritual, exactamente no mesmo lugar com exactamente as mesmas consequências. Era como um déjà vu.
Das dezenas de chamadas daquele dia, só respondi a três. Decidindo que ainda não era altura para promoção, respondi também à chamada seguinte e dei comigo a conversar ao ponto de dizer ao potencial cliente que embora o bordel ainda não estivesse aberto, aceitá – lo – ia no meu apartamento.
Chegou dali a uma hora. Quase nas nuvens abri a porta a um homem medianamente alto, de cabelo preto e uma mistura de uma tímida e contudo séria expressão.
Sentado na cama, Romano ouviu o meu ritual, tal como a maioria dos clientes ouvia. Desta vez, a única diferença foi explicar que o anúncio a que respondeu não era meu mas do bordel.
“Nunca usaria esse anúncio para mim. O meu é completamente diferente; pós graduada…”
Chegado àquele ponto, Romano chegou à conclusão que tinha falado para mim no passado, para o meu anúncio pessoal. Ao perguntar – lhe porque não viera, respondeu que, dada a descrição, pensava que eu tinha peso a mais. Durante esse primeiro contacto, havia –lhe dito a verdade, que pesava 57 quilos. Pensou que era demasiado para uma mulher e, para além disso, se uma prostituta dizia que tinha 57, na realidade pesava provavelmente mais de sessenta!
Inquirindo acerca do facto de inicialmente ter mentido acerca do peso, achou surpreendente descobrir que não mentira, que tinha, de facto, 57 quilos, mas mentira ao responder ao telefone do bordel dizendo que pesava 50 quilos. Não conseguia acreditar! Embora os tivesse, eu era esguia na medida em que o peso do meu corpo era formado de músculo. Ninguém me dava um grama a mais do que 50!
Alguma vez encontraria Romano se não tivesse colocado aquele anúncio para a nova casa? Será que o teria encontrado se não tivesse respondido ainda ensonada? Em primeiro lugar, era pouco provável que colocasse um anúncio como este com outro objectivo que não fora o bordel. Em segundo lugar, não estava a dizer que pesava 50 quilos para dar uma imagem perfeita das novas raparigas. Se tivesse dito a verdade, como sempre fazia, nunca o teria encontrado.
Mais tarde, naquela mesma noite, bateram à porta. Com um sorriso maior que o mundo, era João. Passou por mim a abanar as mãos, direitinho ao trabalho de preparar outra snifada. Nunca o tinha visto tão feliz.
Naquela tarde tinha encontros marcados, não me parecendo que surgisse algum trabalho, já que as chamadas telefónicas eram raras pois era feriado e a maioria dos homens não podia escapar – se das esposas.
João ofereceu – me outra dose e “com um raio de diabos”, inalei – a e em breve achei-me a dançar pelo quarto fora até que arquitectei um plano. Quando me apercebi das dificuldades olhei para João e disse:
“Toca a andar. Vamos confirmar a nossa competição João. Vamos embora daqui!
Naquele momento, João estava eufórico e faria fosse o que fosse, portanto aí vamos nós.
A viagem de carro parecia muito mais curta que o habitual, na medida em que não era capaz de conter o riso enquanto ouvia João telefonava para os anúncios que havíamos assinalado.
“Está lá? É sim. Estou a falar acerca do anúncio. Pode dar – me algumas informações se faz favor?”, perguntou à rapariga que se encontrava do outro lado do fio. ”
Não pude deixar de pensar “sim senhor, este indivíduo tem prática!” levando o pobre João a desligar embaraçado pois que eu continuava a rir. Nos poucos momentos em que consegui controlar – me, apontou todos os detalhes com ar circunspecto e, ao mesmo tempo, ensinava – me o caminho.
Chegámos em pouco tempo, sem dizer palavra, e estávamos a tentar descobrir onde nos encontrávamos.
“Não, Diana, não pode ser verdade”, disse admirado.
Dos poucos números da área, um tinha de ser na mesma rua! Olhámos um para o outro e dissemos ao mesmo tempo “Merda” e desatámos a rir.
Fechando a ignição, olhei para João e perguntei – lhe do que é que estava à espera. Chocado, mirou – me como se tivesse deixado cair o pequeno maço de plástico que tinha na mão. Olhou esgazeado para a frente durante um pedaço até que surgiu a ideia de irmos fazer uma visita às raparigas.
Chegámos ao escuro prédio de quatro andares cujo rés – do – chão era ocupado por mercearias, talhos, estação de correios e um cabeleireiro. Estava tudo muito movimentado, ouvindo – se as vozes sonoras das mães e das crianças não obstante ser já bastante tarde.
João tocou à campainha e logo responderam. Segui – o. Chegámos ao segundo andar do deteriorado edifício cujos corredores estavam pintados de um cinzento brilhante. Não fazia a mínima ideia do que estava à espera, já que as raparigas que estava prestes a encontrar competiam comigo! Limpei o nariz, esperei por João para sorver o que restava da primeira snifada e toquei à campainha do apartamento.
Abriu uma moça brasileira que libertou um forte odor a óleo do apartamento. Não consigo recordar quem ficou mais surpreendido; se eu, por me deparar com esta pobre aparência, ou ela a pensar que diabo eu estava a fazer ali, ou João, calado, concordando com a minha ideia. Esta fulana é realmente assim tão bera ou a cocaína afectou – me a vista? Pensava ao olhar para ela e, automaticamente, comecei a rir a bandeiras despregadas e cada vez mais na medida em que tentava conter – me. Rapidamente, pus – me a pensar em acontecimentos passados muito menos divertidos afim de me acalmar.
Esta anoréctica, de pele cor de azeitona e cabelo preto, estava extremamente nervosa na minha presença. Sem sorrisos desnecessários, perguntei – lhe se podíamos entrar afim de evitar a curiosidade dos vizinhos. Concordou mas deixou a porta aberta como sinal de visita curta. Imediatamente se lhe juntaram mais duas raparigas que parecia estarem tão confusas como ela e decerto tão feias como ela. Tive de quebrar imediatamente o gelo e perguntei,
“Têm Lésbicas?” evitando olhá – las a todo o custo afim de controlar os meus futuros acessos de riso.
“Talvez que a minha amiga, que está ali dentro, atenda mulheres” replicou uma delas, olhando para a porta de um quarto.
Repentinamente a porta do quarto abriu – se. Outra rapariga, vestida informalmente de cinzento, e cabelo atado, saiu. Era a única das quatro que não era uma carga de ossos. Olharam todas umas para as outras e fiz – lhe a pergunta.
“Não, não, não atendo Lésbicas, respondeu com doçura e educadamente a pensar o que diabo se estará a passar e porque é que a interrogaram em primeiro lugar.”
Tentando receber mais informações, tanto quanto possível, enquanto me esforçava por manter uma fisionomia séria, mudei de assunto. As raparigas estavam cada vez mais confusas com a minha presença quando comecei a descobrir alguma coisa a respeito do negócio. Sendo cuidadosa para não deixar perceber aquilo que queria saber e, naturalmente, também sem me denunciar, procurei convencê – las que pertencia ao departamento de emigração. No fim de contas, para ali estavam estas raparigas brasileiras que decerto residiam no país ilegalmente.
Ao mesmo tempo que falava, os meus olhos perscrutavam a toda a volta. O apartamento era todo igual, semelhante ao que nós tínhamos arrendado. A sala de estar era pequena e mobilada com um sofá de três pés já com buracos devido ao uso e rasgões. Havia dispersas por ali algumas cadeiras de madeira e de cozinha. Algumas travesseiras enchidas a lã à volta do quarto e uma unidade de prateleiras junto da janela com um aparelho de CDs colocado na última para evitar uma queda de grande altura. O conjunto do local era preenchido com vibrações negativas e desconfortáreis que pareciam prontas a desequilibrar a pilha de discos usados que podiam ver – se colocados no suporte através da porta da cozinha. Todavia, agradeci às raparigas, olhei para João e disse, “Vamos embora”.
Quando nos íamos embora, João, que estava mais branco do que a cal, perguntou:
“Como é que tu conseguiste meter medo aquelas raparigas que, tão intimidadas, ainda conseguiram responder –te?
“Bem, não era essa a minha intenção. Mas decerto não era eu que ia dar parte de fraca, principalmente com uma enorme dose preparada por mim”, disse com um sorriso.
Quando saíamos, à medida que o edifício ecoava, vimos os rostos das raparigas que ocupavam toda a janela, observando a direcção que tomávamos. Finalmente recuperando alguma cor, João começou – se a rir do que acabava de se passar. Quando entrámos para o carro, as cortinas fecharam – se, mas sentíamos que ainda nos estavam a espiar. Para lhes dar a saber que as podia estar a ver, liguei a ignição, pisei simultaneamente acelerador e embraiagem, provocando um desvio, ao mesmo tempo que olhava para a janela rindo – me e acelerando.
No caminho de regresso Fred ligou a ameaçar – me que ia visitar uma outra prostituta se eu não permitisse que lhe fizesse uma marcação. Com medo que tirasse partido disso e visitasse outras mulheres, aceitei. No fim de contas já haviam passado alguns meses depois do episódio inicial.
Para minha completa surpresa ele estava com melhor estado de espírito. Quando se ia embora avisei – o para não se habituar mas para, por favor, me contactar quando tivesse necessidade de visitar uma rapariga. Assim não iria parar à porta de alguém que lhe permitisse visitar em qualquer dia ou mesmo duas vezes por dia.
Finalmente, no dia seguinte, começaram a aparecer chamadas de raparigas a perguntar acerca do anúncio. Depois de observar os nossos competidores vizinhos, não estava tão interessada na aparência das novas raparigas e, assim, dei às cerca de dez inquiridoras o endereço, pedindo para estarem no apartamento na manhã seguinte, sabendo, de antemão, que só um punhado delas viriam. Tudo havia sido organizado. Estávamos agora prontos para o negócio.
CAPÍTULO 14
Era o dia da Grande abertura. João bateu à minha porta às 8 horas e trinta da manhã, uma hora e meia mais cedo do que o que tínhamos planeado.
Realmente nem dormira. Aquelas finas letras brancas mantiveram – me acordada até de madrugada. João inalara alguma cocaína. Os seus olhos, muito abertos, olhavam para mim cheios de surpresa quando abri a porta. Entrando rapidamente, continuou a olhar para trás para a porta do lado oposto do corredor. Muito agitado, palmilhava a minha sala de espera de um lado para o outro. Não podia estar sossegado, só para parar, finalmente, quando entrou na cozinha para tirar duas chávenas do aparador afim de fazer café.
“João, será que me vais dizer o que se passa? Perguntei.”
Começou a falar rapidamente como se quisesse compensar todos aqueles minutos de silêncio.
“Ouviste aquilo? Ouviste a algazarra esta manhã? Ouviste todo aquele barulho que ela estava a fazer? Deixei – a. Encontrou a lista do bordel. Sabe tudo.”
Olhei para ele confusa, como se não entendesse o que estava a tentar dizer – me. Em qualquer circunstância normal seria uma questão de vida ou de morte. Não faço a mínima ideia do que dizer excepto “Oh meu Deus”. Pela primeira vez numa situação de nervos desatei a rir! Não podia acreditar. “Mas porque é que isto está a acontecer?”, pensei de mim para comigo. Tentando dominar a situação, sorvemos outra dose antes de nos dirigirmos para o bordel.
Pelo caminho, João continuou sem dar sinais de remorsos mas, para o convencer a, mesmo assim, ver o lado bom das coisas, fiz – lhe ver que, pelo menos tinha onde ficar temporariamente, no bordel. Podia ser pior. A gravidade da situação desenhava – se – me ao ponto de ver que já se não tratava do dinheiro para as pequenas despesas, mas da subsistência.
Chegada ao bordel decidi que atenderia a primeira marcação já feita e as seguintes até que chegassem as raparigas, isto no caso de aparecerem. Abrindo a porta a um homem muito magro que aparentava andar próximo dos quarenta, mandei – o entrar.
O homem, pálido na aparência, de pé na minha frente e que parecia estar engripado ou coisa assim, drogava – se portanto, o que se devia à sua atitude nervosa e crítica e dava a impressão de ser o mais prometedor dos dois. Continuava calado fazendo – me sentir o mais desconfortavelmente possível. Repentinamente saiu do seu estado hipnótico.
“És muito bonita… Não estava à espera de encontrar uma coisa assim”, disse.
Subitamente, fomos interrompidos por um barulho nas traseiras e olhou nervosamente através do corredor.
Expliquei – lhe que era João na sala de estar, desejando não o ter feito dado que piorou as coisas! Recuou alguns passos, disse que não se sentia bem e foi – se embora.
Tinha uma estranha sensação acerca deste homem, “Nuno” como se chamava a si próprio. Fez – me pensar se não havia utilizado o barulho como um pretexto para se ir embora. Talvez estivesse a ser delicado e não gostasse de mim. Podia eventualmente acontecer, pensei a falar alto.
Embora tarde, as raparigas começaram a aparecer. Fiquei contente e por isso não mencionei a sua má pontualidade. Uma delas, Jessica, desenhava um pequeno sorriso e usava uma peruca. O espesso cabelo castanho claro caía – lhe até à cintura. Exprimia – se no seu vocabulário de rua com sotaque vulgar, toda ela vestida como prostituta. Usava sapatos de salto alto e um impermeável comprido de poliéster a cobrir – lhe o fato de trabalho. Jessica era mãe de uma criança ainda pequena. Durante o dia trabalhava como prostituta, e à noite dançava como stripper. Jessica tirou o casaco para revelar um soutien vermelho apertado que lhe comprimia de tal maneira os seios que quase rebentavam. Por baixo usava um par de calcinhas de cetim vermelhas. A cobrir – lhe a roupa interior qualquer cliente poderia ver uma capa branca que tinha uma peça encarnada de pele presa por trás. Embora demasiado exagerado para o meu gosto, o trajo de Jessica beneficiava – lhe o corpo vigoroso e escultural que podia admirar – se enquanto passeava pela casa.
Pouco depois chegava outra mulher, Maria. Usava cabelos compridos encaracolados, e era desprezível, na aparência, lembrando – me, de certo modo, as prostitutas de rua da estrada da costa. Era demasiado gorda e a aparência não era de trinta anos que declarava ter, mas de cerca de quarenta que provavelmente tinha. Maria discutia a sua história no emprego mas evitava a todo o custo focar a sua vida privada. Quando me disse que era o seu décimo ano nesta vida, logo me admirei como tinha sobrevivido tanto tempo com aquela aparência. Mas para minha surpresa era ela que ia receber o primeiro cliente da casa já que um dos seus leais telefonara – lhe naquela manhã para fazer uma reserva.
Passado um certo tempo, à tarde, surgiu – nos a terceira profissional, Cindi, uma brasileira ainda nova de altura mediana e bem constituída. Cindi tinha vinte e dois anos e longos cabelos castanhos e no seu simples mas elegante vestuário, aparentava ser a mais normal das três. Não tinha lá grande porte mas disfarçara com sucesso a gordura à volta da cintura. Nunca ficava mais de quinze dias em cada bordel, escolhendo de preferência a alternativa de vários dos numerosos espalhados pelo país. Acabara de chegar do Norte numa viagem de três horas. Decidira vir – se embora logo dois dias depois em consequência da falta de clientes. Coloquei – lhe a possibilidade de considerar permanecer uns tempos. Se fosse efectiva sempre podia conseguir alguns regulares mas de algum modo não podia compreender a validade do que eu estava a dizer.
Com todas as raparigas sentadas na sala de estar, e procurando conhecerem – se umas às outras, eu e o João demos uma fugida a um dos quartos para prepararmos outra snifada.
“Aquela Jessica tinha um bom traseiro”, exclamou.
Enquanto João estava ali sentado a babar – se, vi as horas e pensei que o melhor era ir para casa e preocupar – me com os meus próprios clientes. Tomei a dose e fui à sala de estar a dizer adeus às raparigas, só para ser interrompida pela Jessica que se estava a sentir em casa toda estatelada num dos sofás. Olhou para mim e perguntou se já sabia que antes o apartamento tinha sido um bordel. Estava “queimado” como ela dizia. Em tantos lugares, numa área tão vasta, havíamos de arrendar uma ex casa de passe que, para esse efeito estava etiquetada de “queimada”, o que significa destruída em gíria. Fantástico, pensava de mim para comigo, mas estava com pressa, olhei para as raparigas e despedi – me.
À medida que deixava o apartamento, a minha paranóia apoderou – se do melhor de mim após a conversa de Jessica, ou era eu que estava convencida disso. Fosse paranóia ou fosse a cocaína, o que é certo é que, ao ir – me embora para o carro, tinha os olhos de toda a gente postos em mim; ou é que seria apenas imaginação?
Após o meu regresso naquela noite, felizmente o João informou – me que embora alguns clientes se tivessem recusado a ficar, globalmente o número era bom. Isto era de esperar, na medida que os homens gostam de espiolhar e, principalmente as novidades.
Por agora, estava sozinha com João. Todas as raparigas tinham ido para casa com cinquenta por cento dos proventos, o que dividido igualmente dava trezentos euros por cinco horas de trabalho. Como recebera outra marcação, olhámo – nos reciprocamente, depois ambos fixando o pequeno saco de plástico, que estava em cima da mesa, avançámos na sua direcção. João sentou – se e começou a preparar outra dose.
“Vá lá João”, disse “despacha – te, não tenho o tempo todo do mundo”. João olhou para mim com um sorriso no rosto e respondeu:
“Calma! Um dos prazeres de inalar esta coisa é, na verdade, a sua preparação!”
Graças a Deus. Finalmente acabou. Peguei numa grande snifada sorvendo num instante a dose completa precisamente no momento em que tocava a campainha da porta. Era o meu cliente. Avisei João para ser cuidadoso pois que o freguês devia pensar que estava sozinha.
Abri a porta para deparar com Nuno! Nada havia mudado desde o nosso último encontro. Parecia tão estranho como de costume! E continuava a pensar que este fulano tinha tentado uma maneira airosa de se pôr a andar na primeira visita.
Ao conduzir Nuno para o quarto as suas perguntas começaram a chover e tão céleres que se sucediam umas às outras. Estava electrizada e rapidamente regurgitava as respostas. Parecia nervoso com a minha super confiante atitude. Disse que se lembrava de mim dum clube nocturno na cidade onde trabalhara alguns anos.
“Fantástico. Lembras – te de mim! Portanto agora deves estar desejoso de foder – me?” Respondi sarcasticamente e sem cerimónia.
Na verdade não estava com disposição para ouvir histórias, simplesmente queria despachar – me. De resto, é assim que as prostitutas normais que trabalham em bordéis fazem e ia tirar total partido disso. Muita conversa e pouco trabalho, pensei! Continuamente a tentar colocar a ênfase no sexo. No fim de contas era para isso que ele ali se encontrava. Ou não era? Dando os passos necessários, inclinei – me na cadeira que se encontrava na frente da cama. Nuno sentou – se no lado da cama e pôs – se a olhar para o meu rabo e de maneira a atrair toda a minha atenção, movimentando – se arreliadoramente de um lado apara o outro. Não estava a reagir mas apenas continuava fixando a bunda como se não houvera outro objecto no quarto. Dirigi – me para ele e coloquei – lhes as mãos nos meus seios. Não deu resultado. Não conseguiu erecção. Experimentámos diferentes posições mas sem efeito. Colocando – me à sua frente, comecei a brincar com o meu clítoris. Raios! Nada. Fosse o que fosse, fi – lo em vão. O rapaz não conseguia uma. Desfazia – se desmesuradamente em desculpas, uma das quais era que nunca pagara para ter sexo, a outra, não podia fazer nada com uma camisa de Vénus.
Desistimos finalmente e, como continuava a murmurar, caí imediatamente na introspecção. Os efeitos da coca mostravam – se. Queria – o ver pelas costas afim de poder preparar outra dose. Havia algo de errado mas não conseguia discernir o quê. Então surgiu repentinamente a resposta. “mas porque é que há – de trabalhar uma rapariga como tu?” dissera ele.
Olhara imediatamente para a minha reacção na medida em que continuava a perscrutar – me sabendo perfeitamente que eu era uma das sócias do bordel.
A pouco e pouca admitira que tinha casas suas. Não é bom jogador, pensei, na medida em que lhe permitir sentir – se no controle da conversa quando me ia a avisar da Máfia.
“Há um indivíduo, o Oley. É doido. Far – te – à desaparecer ou, no mínimo, obrigar – te – à a ter cuidado”, admoestou sem ter a mínima ideia da minha amizade com Oley.
“Oley é tão ruim que nem podes imaginar”, continuou.
Chegados a este ponto eu estava já enjoada da conversa e principalmente das suas atitudes e perguntei a Nuno se havia mais alguma coisa de que devia avisar – me antes de me ir embora para casa.
Quando saiu tirei as minhas conclusões, tinha vindo inicialmente para verificar a competição na sua área. Está certo. Mas agora, porque é que voltou uma segunda vez, principalmente para ser sujeito a humilhação?
Tal cromo esperava, Nuno telefonou – me outra vez no dia seguinte. Talvez quiseste apenas dar uma olhadela à situação, pensei para mim. A minha curiosidade era, no entanto, demasiada. Queria investigar e, por causa disso, aceitei nalgumas ocasiões o seu convite para um café. Todas as vezes que o fiz era sempre a mesma interrogação secreta tornando – se progressivamente mais agressivo com a minha mais que aparente atitude sarcástica. Desta vez arranjou coragem para dizer:
“Sabes que, as raparigas do bordel de um camarada receberam uma visita na última semana?”
“Está ainda aberto ou o assim chamado Oley fechou – o?”, perguntei com um sorriso.
“Mas que raio de merda queres dizer com isso, se ainda se encontra aberto?
Eis o estado do Nuno neste momento, furioso com as minhas respostas. Mas eu sabia que não havia nenhum ponto mais já que as raparigas tinham – me visto pela janela, portanto admiti que era à procura de lésbicas e dizendo quanto isso era mau na medida em que podiam prover às suas necessidades.
Nuno saltou da cadeira como um tufão, olhou para mim e disse – me para ter tento na língua com um tom de voz, extremamente zangado.
Parecia que queria que pedisse, mesmo mendigasse protecção. A minha resistência enfureceu – o desmesuradamente. A sua incapacidade de controlar a situação pô – lo fora de si o que deu como resultado um comportamento agressivo cada vez maior.
Nessa mesma tarde, à minha chegada ao bordel, tinha uma chamada.
“Sei quem tu és e vou meter – te uma bala na cabeça, minha puta de primeira classe, ouviu – se uma voz masculina a vociferar.
A última snifada de coca estava ainda a martelar – me a cabeça.
“Tu és?” e desatei a rir.
“ Queres ver. Desce cá para a porra do teu carro e vê, cabra”.
A voz estava a explodir de raiva devido à minha atitude, e desligou.
Sorri para João e para as raparigas que tinham ouvido parte da gritaria do homem na medida em que ecoava na sala de estar. Pareceram aflitas, chocadas e mudas. Uma delas ria histericamente com os nervos. As outras permaneciam quietas e caladas.
“Não se aflijam, era apenas uma ameaça. Isto é uma casa de prostitutas, lembram – se? É normal”, disse dirigindo – me para a porta.
Desci para o meu caro sem me aperceber do que iria encontrar na verdade ou o perigo que enfrentava por causa disso. Olhando à volta e para a cidade, tão longe quanto consegui abarcar, situada a grande distância, murmurei “sei que andais algures por perto. Aparece, malandro.”
De repente o meu telefone tocou outra vez
“Eu posso ver – te. És muito bonita, não és, cabra?” e desligou.
Pareça embora incrível, continuei imperturbável. A cocaína tinha – me sedado e não me permitia ver a seriedade da situação que estava enfrentando.
Depois desta história João encontrava – se apreensivo com o facto de estar só no apartamento. Não era o mais corajoso dos homens mas mais uma vez foi uma decisão inteligente. Nem mesmo a coca podia disfarçar o seu medo. Para aliviar a sua angústia, disse – lhe que podia ficar em minha casa até descobrirmos o fundo da questão.
As chamadas continuaram durante alguns dias, até que cheguei ao ponto de varrê – las como ameaças covardes, e, como planeado, dediquei mais tempo a atender os meus próprios clientes no meu domicílio. Nessa mesma tarde estava em casa a atender um regular, o Dr. Jaime quando recebi uma chamada de João. Achei urgente responder – lhe já que o meu sentido apurado dizia – me que havia algo de errado. Respondi e tinha razão!
“Diana, tens de vir imediatamente. Deram um tiro na porta!” Disse João com uma voz aterrorizada.
“Mas que raio de merda é essa? Estás a brincar?”, exclamei.
“Não, não estou a brincar, Diana. Atiraram à porta”, insistia enquanto o seu medo atravessava a linha telefónica.
O meu cliente estava sentado na cama a ouvir toda a conversa.
“Por favor, é uma urgência. Tenho de sair. Aqui tem o seu dinheiro. Faremos isto noutra altura”.
O Dr. Jaime não teve tempo de fazer perguntas. Já estava vestida e pronta à porta para me ir embora.
Ao mesmo tempo que conduzia telefonei ao Oley para conselho. Passados alguns minutos ligou – me. Estava para apanhar um sujeito, Bruno, no caminho, para me acompanhar a casa.
Quando chegámos encontrámos um buraco de bala na porta da frente e uma pintura manchando um bocado a toda a volta. João encontrava – se a um canto da sala de estar. Não se movia. Os resíduos da coca explodiam de cada poro do seu corpo. O suor corria – lhe abundantemente do rosto. Parecia que a camisa tinha passado a meio do programa da máquina de lavar para o secador. Nem mesmo os efeitos da coca contra atacavam o seu medo. Por alguma razão tentei acalma – lo só para perguntar a mim própria porque estava inerte.
“João, porque raio de cargas de água não chamaste a polícia? Perguntei.
João não disse nada.
Ergueu os olhos para mim com um estranho esgazear e após alguns momentos disse que já ali tinham estado, uma vez que os vizinhos os tinham chamado, ajuntando que se encontrava muito perturbado.
João pediu – me para me sentar e começou a explicar como tinha ficado envolvido numa empresa fraudulenta que incluiu alguns colegas de trabalho e empregados da estação de serviço. Entre eles idearam um plano simples que consistia em sacar dinheiro à companhia com cartões de crédito de consumo de gasolina. Foram todos apanhados e punidos. João não comparecera no tribunal e por isso fora emitido mandato de prisão.
Começava tudo a encaixar – se e a inverter a imagem. João tinha uma razão para estar desempregado e não era a mulher que estava a tentar torná – lo dependente. Era um cenário completamente diferente daquele que vimos. A despeito do que tinha dito a respeito da esposa, ela trabalhava doze horas por dia seguidas para governar os dois.
Naquela noite João ficou mais uma vez no meu apartamento. Por volta das 12:30 recebi uma chamada do meu próprio anúncio pessoal. Por via de regra, desde que Rozen se fora embora recebia clientes novos aquelas horas e especialmente um casual, mas como estava lá o João recebi. Tomei outra dose para me manter em forma e peguei numa arma que tinha comprado antes para auto protecção. Se havia uma altura em que eu precisava mais dela, era agora. Coloquei – a no bolso de trás e dirigi – me para a porta.
Abri a porta a dois indivíduos de aspecto amigável. Ambos rondavam o fim da casa dos vinte e pareciam muito educados. Um deles olhou de relance para a arma mas não fez comentários. “Estranho”, pensei de mim para comigo enquanto me dirigia para o quarto. Eram extremamente conversadores e confidentes mas de algum modo não estavam à vontade embora não fosse a sua primeira visita, o que, aliás, acontecia com muitos.
Algo prendeu a minha atenção. Embora fossem muito amigáveis estavam mais interessados em conversar do que outra coisa. Um deles parecia fascinado com o retrato do cão que eu tinha tatuado nas costas e acabou por me dizer que era sócio num negócio de limpeza de casotas para cães. Perguntou – me onde e estava o meu cão, só para me mostrar a cicatriz na perna enquanto eu replicava que estava na cozinha. Parecia – me ser uma maneira de me dizer que não estava amedrontado.
Comecei a falar para o outro rapaz afim de o incluir na conversa. Por qualquer estranha razão, perguntei se eram um casal. Antes que pudessem responder senti – me autorizada a contar – lhes a minha passada relação com uma mulher. Deste modo sentir – se – iam mais à vontade admitindo a situação. Um respondeu que não só para ser interrompido pelo outro a dizer que sim.
Fiz sexo com os dois individualmente. À medida que praticava o sexo, o outro mostrava – se nervoso e procurava claramente abstrair – se. Não me parecia serem um casal. O seu comportamento era por demasiado estranho. Um de cada vez? Não estão a tirar partido da situação, a três ou coisa assim? Não estava a dizer – me a verdade, pensei.
Quando se foram embora, fui ter com João à sala de estar. Estava extremamente inquieto e nervoso e aparentava estar a escrever mensagens no seu telefone, que presumo eram para a esposa. Estava de tal maneira a balouçar os pés onde se encontrava sentado que quase senti uma brisa. Disse – lhe que pensava que os indivíduos eram polícias disfarçados. João disse – me que tinha olhado pela janelas enquanto estávamos todos no quarto de banho e visto uma terceira pessoa na carrinha Mercedes de onde saíram. Alguma coisa não fazia sentido e não era capaz de me concentrar nisso! Seria por causa do tiroteio? Deixei ali o João e fui – me deitar.
João foi para o bordel na manhã seguinte. Passada uma hora ligou – me a dizer que a polícia tinha batido à porta outra vez. Tentando explicar – lhe que isso era um procedimento normal, era tarde demais. Tinha – se esgueirado pela janela do rés – do – chão.
Antes de poder dizer mais alguma coisa, João pediu desculpa e desligou. A casa ficou abandonada.
Até hoje, penso que envolveu a mulher nesse dia. Quando entrei na sala de estar depois de que acreditara que eram polícias disfarçados de clientes, João escrevia numerosas mensagens. Nunca escrevera mensagens a não ser para mim. Depois, tinha um carácter muito fraco e após os anteriores acontecimentos do dia, deve ter querido arranjar uma desculpa para sair do negócio, lamentando ter – se envolvido. Foi o que fez fechando assim um capítulo do nosso relacionamento.
CAPÍTULO 15
João abandonou o bordel, abrindo – se, assim, um novo capítulo com um novo tipo de problemas para resolver. Estava a começar a admirar – me como é que tudo isso me acontecia só a mim, qual a razão porque era envolvida nos problemas e complicações dos outros quando tinha os meus que me sobravam.
Tudo se representou na minha cabeça em retrospectiva. Como podia alguém que anda a evitar a polícia sugerir alguma vez um contrato de arrendamento destinado a ser para um bordel, em seu nome? Alguém que foge pela janela porque tem a polícia à porta! Que estranho! Como é bizarro! Pensava e voltava a pensar. Por alguma razão achei-me a analisar, tentando convencer – me a mim própria que nunca tinha feito nada de mal; é claro que tinha uma casa de passe mas não forçava nenhuma mulher a trabalhar. Assim, o que é que se estava a passar? Por que era eu a pagar por isto? Estava a minha teoria correcta que quem semeia ventos colhe tempestades?
No caminho para o bordel chamei Jessica para perguntar se podia encontrar – se lá comigo naquela tarde.
Devo de certeza ter passado mais de meia horas a olhar para aquelas paredes mórbidas à espera de Jessica. Quando chegou contou – me a história do dia anterior. Também saltara pela janela quando dispararam, embora naquela ocasião João não o tivesse feito.
Liguei a Oley para lhe dizer o que tinha acontecido e a pedir ajuda, eventualmente convencê – lo a organizar um encontro com os possuidores de negócios similares. Tinha de fazer alguma coisa na medida em que era uma figura influente.
Naquela mesma noite permaneci na casa com Jessica. Um cliente meu, António, ligou afim de fazer uma reserva. Repliquei – lhe que se me queria ver tinha de vir ao bordel já que não tinha processo de me ir embora durante as próximas horas. António ficou surpreendido quando ouviu falar do bordel e muito excitado pediu o endereço enquanto perguntava “Quantas raparigas estão lá? Como são? São sensuais? E quanto a Medidas? O que fazem?”
A sua curiosidade não tinha limites. Depois rebentou a pergunta. Disse – me que tinha mais dois amigos.”
“Vamos fazer uma orgia. Vamos”, pedira
Pedi – lhe para esperar um bocado enquanto ia perguntar a Jessica. Ficou relutante a princípio mas quando lhe falei na quantidade de dinheiro envolvida rapidamente assentiu com a cabeça.
Dirigi – me para o quarto de banho a preparar uma snifada, e uma que fosse bem grande para o efeito antes que chegasse. Comecei a pensar na conversa e como as maneiras de António me chocaram quando telefonou. Traduzia em cada polegada o homem de quarenta anos, responsável. Era aquilo a que habitualmente chamamos um santo, na aparência. Era campeão nacional de salto em espectáculos, para além de ser o treinador.
Quem havia de dizer que este homem que à vista desarmada respirava respeito por todos os poros ia pedir uma coisa destas? Mas não estava a brincar. Chegavam quando acabava de tomar banho.
Jessica era um espelho de profissional, tal como de costume. Tinha a certeza que a moça iria ser uma sensação com os homens. Foi para a porta e desviou o cabelo rapidamente à volta da cara, ao mesmo tempo que a abria e, então, os homens começaram a entrar. Um por um olharam – me de cima abaixo e começaram a segredar. De pé, um pouco afastada, comecei a ganhar contacto ocular com os homens que se encontravam do outro lado do corredor. António dirigiu – se para mim para me cumprimentar. Os amigos seguiram atrás dele. Virou – se para o lado e apresentou – me o segundo homem, Pedro. Antes de Pedro me cumprimentar com um beijo, na face, olhou – me bem nos olhos durante uns segundos, virei – me e examinou – me dos pés à cabeça por várias vezes, acabando por me apalpar os seios. Chegado ali, retomou contacto visual e comentou que lhe agradava sobremaneira o que estava a ver. Sorri e olhei para a minha retaguarda para saudar o último homem, Rogério. Rogério era mais reservado, não tão extrospectivo e extremamente tímido. Acima de tudo, parecia pouco à vontade a lidar com a situação em que os outros o meteram.
Tudo se passou tão rapidamente como se o mundo se acabasse dali por dez minutos. Nada de paleios com as raparigas. Só trabalho. Jessica veio colocar – se a meu lado. Olhei para ela e disse “Toca a andar”, enquanto nos deslocávamos para o quarto principal com os homens na peugada.
Começaram na brincadeira e a apalpar – nos. Desatámos a rir.
“Calma”, disse. “Não vai destruir – me o material?!
Comecei a despir – me e, ao mesmo tempo, António levantava Jessica no ar. Pedro e Rogério não despegavam os olhos de mim com a pulsação acelerada; tal dois cachorros aguardando avidamente que lhe lançassem um biscoito. Já tinham examinado o mostruário do que a Jessica tinha para vender pois que quando foi abrir a porta ia praticamente com tudo ao léu. Agora queriam ver – me a mim. Logo que desvendei a minha greta garbo, Pedro começou logo a lamber – me perna. Rogério continuou a guardar silêncio sem saber o que fazer. Jessica tinha – se colocado por cima do António, movimentando – se ritmada e lentamente pala cima e para baixo. O António que se encontrava agora ali na minha frente, era um António totalmente diferente do outro que era meu cliente. Tornara – se vulgar e gritava para Jessica como se a mulher estivesse uns graus abaixo de cão.
Pedro chegara à minha vulva. Lambia como o gato quando lhe colocam a jeito uma tigela cheia de apetecível leite e ouvindo – se sensivelmente idêntico ruído. Sentei – me na cadeira para me sentir mais confortável e, lentamente, dispus – me de modo a que Pedro enfronhasse completamente a cabeça entre as minhas pernas e, enquanto metia na minha boca a glande de Pedro, soavam – me aos ouvidos os altos gritos de António, em Inglês, mas que Jessica não conseguia compreender.
“Esta rapariga é trampa. Vamos trocar”.
Fizemos ouvidos de mercador. Pedro ergueu – se e ia sentar – se em cima de mim quando Jessica e António finalizavam. Comecei a tocar os peitos de Jessica. António ficou excitado. Pedro não! Queria – me a mim e só a mim. Pegou – me na mão e corremos para a sala de estar a rir às gargalhadas e Pedro fechou a porta atrás de nós.
Os outros começaram a bater mas nós bloqueámos ligando a música. Aparte a música, os únicos ruídos que podiam se ouviam eram os das nossas respirações. Tudo o que podíamos sentir era a ternura que envolvia, mutua e unissonamente, as mãos de ambos. Pedro rejeitara a orgia para me tratar como uma verdadeira mulher. Continuava a acariciar – me, a falar – me dizendo “És tão bonita”, ao meu ouvido. Erguia – me no ar passando – me, a roçar, as minhas pernas pelo seu peito. Devagarinho, foi – me encostando à parede e, gentilmente, e contra ela, começou a meter – me o pénis vela vagina dentro. Depois, transportou – me para o sofá e poisou – me para ficar em cima de mim. E todo este show ao ritmo lento da música e seus movimentos. Repentinamente tive uma sensação, como se não pudesse conter – se por mais tempo, que ia vir – se. E veio – se. Os nossos corpos tinham vibrado em uníssono.
Alguns momentos após tomou consciência e lá nos surgiram as vozes no outro lado da porta trancada enquanto estávamos ali olhando – nos mútua e reciprocamente nos olhos. Pedro tinha não só entrado dentro do meu corpo mas tinha também tocado a minha alma.
Chegado o momento, abrimos a porta aos outros. O envolvimento tinha sido difícil para o pobre do Rogério. Estava pouco à vontade. Tinha feito alguns movimentos e, todavia, havia sido deixado nos obscuros bastidores. António não estava feliz. Não gostava da Jessica por alguma razão, embora atingisse o clímax pensei que o corpo de Jessica fizesse parte dos sonhos de muitos homens mas, aparentemente, não. António recusava – se a pagar a parte que lhe competia. Pedro tomou – me de lado e, enquanto discutiam o resto, pagou a parte de António do seu bolso, dizendo que não se podia permitir que António passasse depois a moer – lhe o juízo.
Decorridos alguns minutos, António o que queria era ver – se livre daquele inferno. Sabia que por ali tinha havido alguma espécie de entendimento entre mim e o Pedro. Tanto Pedro como Rogério eram dois grandes industriais que viviam lá para o Norte, a uma grande distância, e era raro virem à cidade. Era como se António não quisesse que Pedro trocasse quaisquer impressões. Todos dissemos adeus uns aos outros, todos excepto António e Jessica. Depois, foram – se embora.
No caminho para casa, naquela noite, não parava de pensar em Pedro. Pensar em como um homem que tivera a oportunidade de gozar tinha rejeitado. Nunca sequer tocara em Jessica. Não disse nem uma palavra do seu desempenho sexual. Enquanto continuava a pensar e a analisar, António chamou. Estava num WC num bar. Perguntou – me se podia aparecer e encontrar – se comigo num lugar qualquer. Perguntei – lhe se se encontrava só ou ainda acompanhado. A resposta foi que ainda estava com os amigos, mas que queria deixá – los no bar. Num ponto qualquer da conversa notei que tivera ciúmes do que se havia passado entre mim e Pedro. Devido à sua alienação, ligou – me sem resultado. Pedro tinha querido estar comigo e António tinha ciúmes e eis a razão porque os queria para ali deixar. Podia ver o que se passava e quão desagradável era tudo isto. “Não, António, desculpa. Estou cansada e preciso dormir”, disse – lhe.
Deste momento em diante cortei a ligação com António. Sabia que perdera um regular. Não tinha bem a certeza mas a minha intuição, apurada como de costume, dizia – me que sim. Talvez fosse porque António gostava de mim secretamente e ficara melindrado com o meu envolvimento com Pedro Talvez que tivesse dito a Pedro que tinha perdido o meu número e, assim não podíamos entrar em contacto. Todavia, para dar realismo ao facto, tinha de deixar de ligar – me. No fim de contas, este mundo até era pequeno. Acontecimentos mais miraculosos haviam tido lugar. Nunca soube se o Pedro e eu iríamos um dia dar de caras um com o outro.
Depois de falar com Oley, as ameaças diminuíram durante algum tempo apenas para recomeçarem alguns dias depois. Telefonei a Oley zangada. Disse que ia avisá – los e organizar um encontro para, finalmente, pôr cobro a tão estúpido jogo. Havia, no entanto um problema. Oley não ia estar por ali durante os próximos dias, antes de partir para uma longa viagem.
“Não dá”, respondi. Esquece. “Resolverei eu própria o meu problema com a Máfia
Repentinamente, Nuno veio – me à cabeça. Não podia deixar de pensar que tinha um papel relevante neste pequeno quadro. Inventei uma estratégia e chamei – o. Combinei encontrar – me com ele naquela mesma tarde. Escolheu ele o local. Não poderia ser de outro modo.
Queria estar no controle, deixá – lo – ia sentir – se desses modo.
Encontrou – se comigo nessa mesma noite num café ao lado do bordel dele. Uma vez mais agiu de um modo paranóico. Não queria luta, estragaria os meus planos e portanto permiti – lhe estar no comando. Acima de tudo, tinha de fazê – lo acreditar que naquela situação ele é que mandava. Comecei por lhe perguntar se estava interessado em fazer negócio.
“Negócio contigo? Desatou a rir.
“E porque não? Tens mais experiência do que eu”.
Nuno não era fácil de competir nem nenhum ingénuo no assunto. Queria descobrir as razões para a minha mudança de atitude em relação a ele. Parecia – me muito desconfiado e suspeitoso. Quem é que se compromete e repentinamente muda de atitude? É difícil de engolir. Já que nas sociedades tem de haver um certo grau de confiança. Como é que isto poderia ser, especialmente com a nossa história?
Estavas envolvido nas ameaças, não estavas, disse sem me poder controlar.
O que tu és é uma cabra maldosa, disse, abanando a cabeça com uma expressão terrível.
Mas sabia que tinha razão. Oleou tinha confirmado o seu envolvimento naquele dia. . Oleou também me dissera que Nuno ficara apaixonado por mim logo na primeira noite em que me viu no clube nocturno mas refutava sempre qualquer acusação. Negava que tinha falado secretamente com Oleou. Estava a mentir. Começámos a argumenta devido ao choque mas eu tinha de manter a calma e encontrar maneira de o fazer voltar aos seus modos de mandão.
“Não me vais convencer de maneira diferente Nuno mas porque é que não perdoamos e esquecemos? Águas passadas não moem moinho. O que é que tu pensas?” perguntei com uma voz significativa.
“Penso que tu és doida, é o que eu penso. Penso que és doida varrida. E sorriu.
“Está certo. Mas quero pôr um fim a esta ridícula rivalidade. Tu sabes bem, estou certa que actuaste deste modo porque realmente não me conheces”, disse, franzindo o sobrolho.
O que estava para vir a seguir era algo que nunca fizera na minha vida. Nunca tinha dormido fosse com quem fosse por interesse e se foi por interesse era para receber recompensa financeira.
Convidei Nuno para minha casa. Ele estava descontraído. Falámos, rimos, e depois dormimos os dois. Metamorfoseou – se numa pessoa completamente diferente naquela cama. Transmitia sentimentos intensos, tentando fazer amo. Pela primeira vez estava a dormir com alguém por interesse só para ter aqueles que ameaçavam prejudicar – me fora do meu controle. E era exactamente o que estava a fazer com esta figura da Máfia que lá bem no fundo tinha princípios de humanidade básicos. Precisava amor e afecto.”
No dia seguinte Nuno era uma pessoa totalmente diferente. Tinha mergulhado na sua alma desmontado a sua fachada. Ficou a saber, graças à conversa da noite anterior que eu estava com falta de raparigas devido ao tiroteio e oferece – se para ir colocar anúncios no jornal afim de encontrar raparigas. A missa vai comprida. Para Nuno era o desabar de alguma coisa. O começa do que ele tinha começado pôr querer ganhar através do autoritarismo e do domínio. Estava a principiar a conhecer – me e a amar o que estava descobrindo. Por outro laco, na parte que me toca, estava em vias de apagar a desistência de Nuno no meu espírito depois das notícias que apareceriam no dia seguinte.
Logo de manhãzinha recebi um telefonema do agente do estado. O homem disse – me que o proprietário do imóvel tinha telefonado para o informar das más notícias. Haviam regressado de férias para encontrarem as suas casas vandalismos com grafita. Grafita vermelha, “Casa de passe no rés – do – chão”. A grafita tivera lugar antes do meu encontro com Nuno mas era ainda a ponta do icebergue para mim.
E pronto. Chega de toda esta Merda, pensei de mim para comigo. Chamei rapidamente a mulher de João que tinha andado a tenta contactar – me por causa de remover o nome do marido do contrato. Avisei – a de que ia acabar com isto tudo alijando de mim todas as responsabilidades tala como pedia. Assim ela tinha de tomar conta de tudo e rematar os molhos. Entretanto João escapulira – se para França enquanto a esposa limpava esta confusão legal. Nunca mais falámos.
A aventura do bordel chegara ao fim cerca de cinco semanas após ter começado. Terminei o meu envolvimento apenas quando senti que tinha vencido. Quanto a mim, consegui vencê – lo. Não aceitei ameaças por mais desagradáveis que fossem. Saí vencedora embora acabasse com o negócio. O perdedor era o rapaz, o Nuno. Logo quando começara a conhecer – me perdeu – me com um telefonema abrupto. Quis fazer – lhe ver quão baixo era ter envolvido os senhorios. Era degradante e chocante evolver terceiras pessoas. Nunca mais quis voltar a vê – lo. Nuno começou a arengar “Não, por favor. Não faças isso. Não acabes com isto agora”. O enorme marau era feito de vidro. E repeti “Sai – me da minha vista. Nunca mais quero voltar a falar contigo”.
CAPÍTULO 16
Estava para ver o Nuno pela última vez. Era um encontro fugaz. Apenas algumas palavras. Ele queria “mais uma vez ser herói” aparecendo sempre que surgia uma situação crítica.
Fechar o bordel tinha as suas consequências. Só o facto de ter de voltar lá afim de esvaziar tudo, era uma missão! Assim, nessa mesma manhã, pouco depois, decidira fechá – lo. Arranjei, portanto, a coragem necessária e fui para lá. Tinham passado poucos dias desde que o abandonara mas de algum modo pareceram-me anos. O local cheirava mal. O lixo tinha sido colocado na sala de espera e uma salada de maionese de ovo fermentara e estava a tornar tudo insuportável. Começando pela sala de estar, um por um, andei a espiolhar tudo para não deixar para trás nada de importante. Quando entrei na cozinha vi uma pilha de pratos que tinham sido deixados ao lado da pia. Estas peças engorduradas tinham uma espessa camada de bolor, colado, resultante de uma travessa de chili com carne. Tirei um grande saco de plástico de uma das gavetas e, um por um, com a ponta dos dedos, coloquei os pratos e tudo o mais que por ali havia dentro dele. Depois fui investigar os quartos. Ao lado da cama achei os restos dos coitos de Jessica abandonados. Não tinha destruído nenhuns dos preservativos que usara e, até agora tinha arranjado uma colecção impressionante metida num copo de água vazio. Nem dava para acreditar. Ela poderia ter ganho dinheiro extra se tivesse vendido isto ao banco de esperma. De qualquer maneira, a demanda desta casa inanimada chegou ao fim. Fechei a porta furada de bala atrás de mim para não voltar.
Quando me fui embora, não olhei à minha volta. Havia vizinhos à soleira da porta a falar e a segredar em voz baixa, procurando dar – me a entender que era a meu respeito mas não lhes dei satisfações nem lhes prestei atenção, simplesmente desci a escada e saí. Estava aliviada por ver aquilo pelas costas. Parecia como que saído da Bronx. O edifício era extremamente escuro e deprimente; as paredes estavam cobertas de graffiti e o barulho das crianças a gritar ecoava pelos corredores. Quando, finalmente, entrei no meu carro, respirei de alívio e dei uma olhada. Apercebi – me de oito vizinhos em seis janelas diferentes a olhar par baixo para o carro. Acima de tudo, não podiam perder o momento. A menina que se ia embora trouxera – lhes montes de excitação às suas vidas, dera – lhes com prodigalidade assunto para bisbilhotar. Olhando o ecran, liguei o aparelho, afim de receber uma retrospectiva da experiência que o edifício havia fornecido. Respirei fundo, dei graças a Deus por ter acabado, olhei para a audiência e sorri. Foi a última vez que fixei os olhos no edifício. As cortinas haviam – se fechado.
Ainda na redondeza mas já com três quilómetros de estrada, recebi um telefonema importante. Era uma vez mais o banco a avisar – me da minha infindável miséria. Um cheque de grande quantidade de dinheiro tinha sido depositado na minha conta. Achei – me a travar uma batalha perdida com o banqueiro do outro lado. Estava difícil convencê – lo a pagar o cheque. Antes de me aperceber, um policial seguia atrás de mim. “Oh, merda! Gritei”, “Desculpe?”, perguntou o banqueiro.
“Peço muita desculpa. Posso voltar a ligar – lhe? perguntei. E desliguei.”
Era a última coisa de que eu precisava. E estava tramada. “ Multa – me, multa – me, pensava à medida que seguia o policial até a um sítio seguro para estacionar. Multa – me, mas não. Que o meu cheque não me seja devolvido”. Pensava tentando enviar ao banqueiro uma mensagem telepática.
O policial desceu do seu ridículo veículo parecido com uma vespa em que estava montado. Na verdade, aquilo era mais uma bicicleta movida a bateria; ou melhor, um arremedo de vespa. Tive que analisar o lado cómico da questão. Precisava força para ganhar coragem e actuar positivamente em relação ao agente da autoridade que se dirigia agora em direcção à janela do carro.
Apertei imediatamente o botão para baixar a janela. Tive uma encrenca com essa maldita janela. Às vezes abria, embora tivesse um problema eléctrico e fosse muito temperamental; outras não. Outras ainda parecia que estava a brincar e abria tão devagarinho que mal se notava. Desta vez resolveu proceder desta última forma com o policial a observar – me através do vidro. Sorri. Estava a ficar agitado e aborrecido e, abanando a cabeça, cruzou os braços e bateu com os pés afim de o demonstrar. Continuei a olhar para ele e, com um sorriso encolhi os ombros. O agente é que não estava a achar isto engraçado.
“Com licença. Vou sair.” O agente recuou e eu saí. Era um dia extremamente quente e eu usava algo apertado, calças de ganga e sapatos de salto alto.
“Sabe por que a mandei parar?”, perguntou examinando – me da cabeça aos pés.
“Estava ao telefone.”
“Só ao telefone? Esqueceu – se que era obrigatório usar cinto de segurança?”
“Sim, Sr. agente. Quero dizer estava a sentir – me um pouco doente.”
“Ah, você quer dizer um pouco doente da sua conversa telefónica.”
“De facto sim.”
O polícia não achou esta resposta nada interessante e foi ficando cada vez mais frustrado com a minha atitude. Levantou o chapéu e começou a coçar a cabeça e a pensar no que deveria fazer a seguir que foi nem mais nem menos do que pedir – me os documentos.
“Ainda não reparou que não me mostrou o certificado da inspecção?”
“Não, e porque é que hei – de precisar de um? Acrescentei inocentemente à sua fúria.
“Há quanto tempo é que pediu a sua última licença? Parece que não tem nenhuma. Mostre – me os seus documentos.”
“Desculpe, Sr. guarda, mas não os tenho comigo.”
“Apercebe – se ao menos da gravidade da transgressão que está a cometer? Por acaso tem alguma coisa, um nome, enfim?”
Antes mesmo de encontrar outra desculpa estúpida, o telefone de serviço tocou. “Merda”, pensei de mim para comigo.
“Responda, se é isso que quer” disse o agente à medida que se retirava para a sua vespa para passar a multa ou, neste caso, as multas”.
Subitamente tive uma ideia. “Hum” Peguei no telefone dirigi – me para a vespa:
“Olá, posso ajudá – lo? Sou a Diana”, disse com uma voz sensual. Sim. Está a telefonar por causa do anúncio? Sim, é comigo. Não, é normal. Eu não faço anal. Oh, desculpe. Estou completamente cheia hoje. Pode voltar a ligar amanhã?” O policial parou imediatamente o que estava a fazer. O chapéu dele pareceu crescer um par de polegadas na cabeça. Fingiu ter caído em orelhas moucas durante alguns segundos, mas acabou por não ser capaz de se controlar.
“Assim, Diana, o que faz você na vida?”
“Tenho uma loja, Sr. guarda.”
“ Tem uma loja?”
“Sim Sr. guarda. Respondi com um largo sorriso.”
“Que tipo de loja?”
“Oh, não é exactamente uma loja.”
Afinaram – se – lhe os ouvidos pensando que eu ia dizer – lhe precisamente o que ele queria ouvir.
“Assim, o que é então?”
“É um restaurante”, Sr. guarda.”
O agente da polícia pôs – me em “cheque” e desviou os olhos de novo para a multa. Inesperadamente não pôde conter – se por mais tempo. Tinha – lhe dado “cheque – mate”.
“É tudo o que faz, Diana?”, perguntou finalmente.
“Não, Sr. guarda, não é só isso. Faço paralelamente outras coisas”.
“Ah faz?”
“Faço , sim senhor”. Tenho um certo número de amigos do sexo masculino que se encontram comigo em casa. Conhece alguns, dado que vejo alguns amigos seus. Devia um dia ir visitar – me. Faço – lhe um desconto, está prometido!”
O policial não sabia o que fazer e dizer sobre o convite e ter – se – ia escondido debaixo da vespa na primeira oportunidade. Quanto mais envergonhado ficava no silêncio que se gerou, tanto mais era o combate que travava para evitar olhar para os meus seios. Era como se fossem magnetes que lhe atraíam os olhos para si.
Durante o intervalo em que estive a pensar, entre todas as pessoas que existem no mundo, quem é que me havia de aparecer pela frente? Nuno, precisamente! Aparecera ali para me embaraçar. Poderia ver que estava em dificuldade e que parecia continuar. ”Precisamente o que ele queria”, pensei para mim mesma quando me voltei.
Nuno perguntou se estava tudo bem, se precisava de ajuda. Mantendo o carácter sarcástico usual que eu tinha sempre com ele voltei para trás e disse – lhe para se preocupar com a vida dele. Pôs – se a andar.
Olhando o guarda pensava, como se atrevera aquela peste a gorar – me os planos outra vez? Até parecia que adorava a negatividade. O agente continuou a olhar para baixo para a multa e disse:
“Está bem. Vou passar – lhe uma multa pela transgressão do portátil. Isso não posso evitar já que o meu colega também a viu a falar. Agora, como é que quer resolver o resto? É um molho de transgressões.”
“É consigo, Sr. guarda. Como pensa que será a melhor maneira de resolver isto? Disse com um sorriso.”
“Penso que devíamos marcar um encontro”.
“ Onde? Em minha casa?”
“ Não. Decerto que não! Dê – me o seu número e eu telefonarei amanhã.”
Parou por um momento como que a pensar nas implicações de tudo aquilo e então disse:
“Está bem. Chamá – la – ei amanhã. Conheço um centro de inspecções e levo – a lá. E conduza com cuidado.”
Entrei para o meu carro e arranquei só para notar quanto ia a meio do caminho que não tinha colocado o cinto de segurança. Que raio? Pensa que ele está no seu elemento e pode apanhar – te. Cogitei sozinha.
No caminho de regresso recebi uma chamada de Tim. Não dava para acreditar! A última vez que telefonara tinha – o avisado para não voltar a contactar – me. Topei Tim a seguir – me pela cidade algumas vezes e o assunto estava – me a sair fora de controle.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que me aconteceu foi acordar com o telefonema do agente da polícia,
“Olá, Diana. Podemos encontrar – nos às quatro, portanto, podemos levar o seu carro para inspecção. Eu estarei na estação de serviço na mesma bicicleta, como ontem; conhece o local, um pouco por cima do sítio onde estava estacionada.
“Peço desculpa, Sr. guarda. Esqueci – me dizer – lhe que tenho um encontro esta tarde”.
Ficou calado por um momento como se visse a sua autoridade violada.
“Está bem. Amanhã. No mesmo lugar e sem desculpas”!
No dia seguinte fui para a estação de serviço um pouco acima do local onde estivéramos. O agente já se encontrava lá.
“Olá, Diana! Siga – me. Vou só assinar e devolver a bicicleta. Siga – me e espere do lado de fora da esquadra de polícia. Depois veja o carro em que vou entrar e continue a seguir – me.
Segui – o tal como pedira, esperei alguns minutos antes de ir atrás do carro branco em que entrara. Fui atrás dele durante o que pareceram milhas e milhas e depois, após curvas e mais turvas que começavam a causar – me enjoo, chegámos ao que parecia ser uma garagem de manutenção mecânica. Fiquei aliviada e realmente não estava com medo na medida em que já avaliara a situação.
O polícia saíu do carro uma vez mais e dirigiu – se para a janela do meu veículo. Tinha – se desembaraçado do uniforme e vestido à paisana na esquadra, o que lhe dava um ar mais tangível na aparência. Desta vez como a janela funcionou sem problemas, levou – o a comentar, como se eu tivesse estado a brincar com ele no dia anterior:
“Então conseguiu fixar a janela?”
“Na verdade, não! Tem espírito próprio. O Sr. sabe. Tem os seus dias.”
“Como eu sorri, o agente sorriu também.”
“Muito bem. Agora vou deixá – la aqui para inspeccionar o veículo. Vou cortar o cabelo. Encontrar – nos – emos dentro de quarenta e cinco minutos para um café. Na mesma estação de serviço, está bem?
“Encantada. Vemos – nos então lá”.
Dava – me a impressão que o bairro todo tinha decidido levar os carros à inspecção naquele dia. Meti a cabeça pela janela do escritório para descobrir que estava cheio de pessoas de semblante triste à espera dos seus automóveis. Os mais inteligentes, tais como eu, estavam à espera que deixassem entrar os carros. Na verdade não era local em que eu desejasse estar naquele dia e no reverso do meu espírito estava a sombra dos numerosos clientes que deixava escaparem – se enquanto permanecia ali.
Passados que foram alguns minutos, chegando à conclusão de que a bicha não se movia, pensei para os meus botões “desenrasca – te”. Na verdade, não posso estar a ser prejudicada com tudo isto. E lá vou eu.
É engraçado que só a meio do caminho, na estrada, me lembrei do encontro com o agente da polícia e tomei a saída mais próxima para voltar para trás.
Cheguei à estação de serviço seis minutos antes da hora para encontrar o polícia já à minha espera e sentindo – se mais confiante do que nunca, com o seu corte de cabelo. Em abono da verdade, penso que nunca me teria apercebido dele se não mo tivesse lembrado.
“Olá, Diana, siga – me por favor”, pediu.
Por que havia de perguntar? Parecia ser a sua linha favorita.
Devo ter contado de certeza pelo menos cem cafés diferentes no caminho e não podia pela minha vida compreender porque é que nenhum deles lhe agradava. “Onde diabo me leva este sujeito?”comecei eu a pensar quando tudo isso começou realmente a confundir – me
Neste momento estava a seguir descendo um trecho vazio que parecia surgir de nenhures. O descampado conduzia a uma abertura de uma pequena área arborizada que se elevava do enevoado da cidade exibida em toda a sua extensão, lá em baixo. Não havia vivalma. Estava deserto, apenas os nossos carros e as árvores eram visíveis.
O polícia saíu do carro, eu saí do meu e dirigi – me na sua direcção. Quando cheguei ao pé dele estava encostado de braços cruzados à capota do seu automóvel.
“Que lindo local, Sr. guarda. Vem aqui frequentemente?”
“Por vezes” replicou numa voz enrouquecida, olhando para o panorama lá em baixo.
“Há mais alguma coisa a fazer aqui?”
“Tudo depende daquilo que gosta de fazer, suponho”.
Após um bocado compreendi onde me tinha conduzido. Se não me engano estávamos nas mesmas paragens onde as prostituas de rua levam os seus clientes. Tinha de ser inteligente e rápida.”
Comecei discretamente a remexer na sua vida pessoal, apenas para descobrir que era casado. Repentinamente apareceu um carro à distância e um plano apareceu imediatamente na minha cabeça.
“Oh meu Deus! Não me diga que estão a seguir – me mesmo aqui”
“Quem é que anda a segui – la? Porquê?”
“Oh nada, esqueça.”
“Vá, lá, diga lá quem é”
“Nada! Honestamente…apenas uma paranóia”
“Diga, de qualquer modo”.
O polícia colocou – me o braço à volta do ombro e depois moveu – o para baixo para o peito. Dentro de alguns minutos estava a apertar – me firmemente contra si usando o meu aparente desconforto como desculpa para iniciar o primeiro movimento. Já tinha visto isso antes; homens a tirar partido daquilo que era ou daquilo que eles acreditavam ser momentos vulneráreis. Embarcavam neles; tentavam usá – los em seu em seu proveito.
Antes de reunir coragem para me tocar nos seios, ela perguntou – me mais uma vez.
“Vá lá querida, não tenhas medo. Podes dizer – me. Ninguém te pode fazer mal aqui”.
“Tens razão. Nunca farão. Não compreendo porque é que ainda estou preocupada?”
“Mas preocupada com quê?” disse ao mesmo tempo que me apertava o seio esquerdo e colocava a sua face na parte de trás do meu pescoço.
“São os malvados rapazes da Polícia secreta. Têm esta ideia de seguir – me. Passou – me pela cabeça que podiam ser eles. Mas não são, não te preocupes. Tenho uma imaginação muito exaltada, bem sabes, é por vezes o que tenho de melhor.”
“O quê? Estás a falar a sério?”
“Terrivelmente…”
O seu tom de voz mudou abruptamente com a sua atitude de James Dean. Inesperadamente tirou a sua face do meu pescoço e a mão do meu seio.
“Já são horas? Merda, não pensava que já fosse tão tarde”.
O meu anjo da Guarda viera salvar – me no último minuto. Arranjei maneira de evitar o mesmo episódio que se havia passado com Nuno. Arranjei ensejo de obviar fazer sexo por um interesse que não pertence à natureza profissional. Tinha evitado ser a rapariga de liceu que nunca fora; a escolar que não larga de vista o seu Professor Pessoal de educação, roçando – se por ele acidentalmente afim de conseguir boas notas. Eu preferia conseguir aquilo que queria sem utilizar o meu corpo mas sim usando a cabeça. O meu corpo, esse, era para pagar cheques, só para isso, excepto naquela terrível experiência chamada Nuno.
As últimas pontas envolvendo o bordel tinham sido atadas. O que parecia não parar de prosseguir era o meu vício pela cocaína.”
CAPÍTULO 17
O episódio do bordel chegou ao fim em meados do Verão. O que tinha de continuar era o meu vício da cocaína.
A minha vida começou a girar à volta destes saquinhos de plástico. Quanto mais a miúdo eu comprava estas gramazinhas, mais pequenas me passavam a parecer. Duravam cada vez menos. Começaram a chegar com mais plástico para compensar a falta de peso. Estou certa de que se tenho estado sóbria o suficiente para pesá – los teria descoberto que pesavam menos de metade.
Em poucas semanas cheguei à conclusão que tinha de cortar. A minha rotina do dia a dia começou a contentar – se com um simples grama por dia e só um grama por dia, pensei para comigo. A minha claustrofobia estando enclausurada, expandia – se em terrível medo de ser constrangida, não apenas fisicamente mas também espiritualmente e esta sensação de dependência estava – me a violar o espírito. Um espírito que podia não ser só ser financeira, sexual ou emocionalmente limitado. Tinha de encontrar a chave da solução e, pelo menos temporariamente, convencer – me a mim própria que a tinha encontrado. Decidi que o consumo seria reduzido a três vezes por semana.
Foi exactamente aquilo que fiz. Os meus dias limpos encheram – se de ansiedade e de mau senso de humor. Era a ansiedade de estar desejando uma outra grama tal como nos dias de consumo. Era perfeitamente intolerável. Esta sensação ascendente irritava – me. Afectava – me o corpo e a alma, todo o meu ser. Em certa medida não tinha a certeza se a minha irritação provinha de eu a desejar ou se de estar a “combatê – la”. O resultado estava a revelar – se péssimo tanto para mim como para o meu bolso. No fim de contas tornei – me prostituta não para levar uma vida de luxo mas sim para pagar as minhas dívidas. O que agora aparentava é que tinha sido para pagar as contas da droga.
Afinal arranjei maneira de reduzir para uma vez por semana, o que foi um pouco difícil mas sabia que era necessária mais acção e força de vontade. Na altura em que atingia esta bitola estava – me a sentir mais molestada com a situação. Uma sensação de aprisionamento prevalecia.
Que coisa seria esta que se estava a apoderar de mim? Perguntava – me continuamente. Só o pensamento que antecipava aquela minha sensação desagradável no dia seguinte era suficiente para me criar o desejo de atirar comigo do cimo de um penhasco. O pensamento de ter de alijar as minhas próprias responsabilidades até que me sentisse ligeiramente melhor, era de sobremaneira temível. Conhecedora disto antes da situação de ressaca, dava – me a sensação de que devia dormir primeiro e enfrentar os fantasmas do passado que viriam de novo para me assombrar.
Num curto espaço de tempo, alguns clientes e amigos descobriram – me a dependência. Um ou outro tirava partido da situação e tentava pagar – me os serviços com algumas gramas. Um deles, Fernando, fez isso uma vez mas depois recusou – se a continuar.
Fernando era um dos meus regulares. Estudava em Londres mas ia frequentemente visitar os pais de avião. Tinha vinte e cinco anos. Era alto e magro, e cabelo preto encaracolado. O estilo de Fernando era único para um homem da sua idade. Em vez de desempenhar o papel de um rico homem de negócios e irmão de uma mulher casada dentro da família Real, não o fez. Tinha a intrigante aparência de um hippie moderno.
Da primeira vez que o Fernando veio ver – me apaixonou – se logo por mim. Como muitos outros antes dele, disse – me que nunca fora a uma prostituta. Estava mais interessado em conquistar – me como uma verdadeira mulher e, de preferência, queria ver – me como mulher do que como prostituta. Fernando tinha cortado recentemente com um relacionamento de muito anos. Era como se se sentisse inseguro devido a esse divórcio, e que necessitaste que alguém o convencesse que ainda tinha os melhores anos da sua vida pela frente. Acima de tudo estava “carente” de atenção e afecto.
Lembro – me de ter uma conversa com ele, sugerindo que devia consumir menos cocaína. Ficou aborrecido e disse que não havia problema. Sempre de pé atrás, tentava, e punha isso bem claro, que era um caso pontual. Fazia – o apenas por graça e o seu consumo era irrisório.
Para mim a sua história era diferente. As suas palavras espelhavam – se em mim própria. Vi a maneira como eu também tentava convencer as pessoas de que não tinha problema. Naturalmente. Era coisa de uma semana e, acima de tudo, um controle perfeito.
Fernando permanecia – me no espírito sempre que pensava na cocaína ou em consumi – la. Dava – me ainda uma sensação de maior negatividade só a perspectiva de pensar nele. Fora talvez porque lhe vi os efeitos. Um belo jovem proveniente de um distinto meio social, uma educação de primeira classe e com o mundo a seus pés, com tudo o que um ser humano precisa para ser feliz. Todavia, o que conseguia transmitir era só melancolia. Uma tristeza que não era apenas devida à sua recente separação, mas sim devida às malditas mazelas que o fino pó branco deixa para a retaguarda.
O meu espírito deteriorava – se. Havia uma guerra de sem tréguas no meu corpo e na minha alma. O negativo versus positivo. Os meus clientes começaram a aperceber – se da luta que se travava dentro de mim. Não era uma situação que se desejasse e que não desejaria ao meu maior inimigo. Um momento decisivo tinha de surgir rapidamente e só eu podia desempenhar esse papel e mais ninguém. Tinha de ser forte uma vez mais.
Então, uma noite, chegou o momento decisivo. Romano tinha – me telefonado para fazer uma marcação que eu aceitei. Não era a primeira vez que me tinha visto na coca. Tinha – o, de facto, convencido em várias ocasiões para dar um salto a um bairro das proximidades afim de comprar alguma comigo quando não a podia obtê – la de Oley ou de qualquer outro fornecedor meu conhecido. Nesta noite em particular queria tirar o máximo partido. No final de contas esta era a noite que eu tinha reservado para snifada. Pedi – lhe para me acompanhar ao bairro. Concordou. Acredito piamente que sabia que, se ele não fosse comigo, me aventurava sozinha.
Chegámos ao bairro. Como era costume, pedi a romano par arrumar o carro pelo menos a meio quilómetro de distância na estrada para, assim, não o envolver em nenhum perigo. Não que previsse qualquer espécie de perigo, mas porque o que eu sentia era desespero. Não senti medo na primeira vez que lá pus os pés devido à minha “grande excitação” mas era, de facto, perigoso e muito!
O bairro inteiro albergava residentes pretos que simplesmente sobreviviam do crime já que tinham muito poucas opções diferentes. A sociedade não lhes dera a escolher. As casas eram constituídas de pedaços de madeira que haviam crescido ao longo das décadas. Muito poucas eram feitas de cimento mas de preferência eram afeiçoadas por pregos enferrujados encontrados no lixo, tudo num trabalho complicado semelhante ao das aves quando constroem o ninho; placas e tábuas de madeira ficavam berrantemente a chamar a atenção devido ao enfeite das roupas nas cordas que, para o efeito, se prendiam cravadas nas assim denominadas prateleiras. As cordas da roupa tornavam – se invisíveis bem como as portas que não podiam ser vistas. O que se aparecia era uma escuridão através delas como se a luz nunca iluminasse estas casas deprimidas.
Estas barracas tristonhas que apenas eram apenas coloridas pela roupa pendente a secar, forneciam cenários às gerações mais velhas que permaneciam sentadas em cadeiras contra as paredes das casas. Era como se até eles tivessem medo de se mover no meio da confusão. Não tinham mais opções. Para um lugar assim tão pequeno, com tais ruelas, era densamente povoado; era aí que os residentes pareciam viver, naquelas ruazitas que eram, de facto, as suas ruas.
Adolescentes corriam por ali, fazendo caretas, lutando, gritando e fugindo de todo aquele que quisesse andar atrás deles. Muitos andavam já a aprender as manhas do negócio com os irmãos. Homens e mulheres andavam à volta dos drogados nas ruas que cheiravam a bairros degradados. A cada momento tudo ficava paralisado como com um disparo de arma de fogo e um grito; uma onda eléctrica de adrenalina a iluminar o escuro. Mas os drogados ignoravam tudo isso como se fosse algo de normal e rotineiro, como se fossem personagens de Oliver Twist pedindo dinheiro de preferência a comida. O dinheiro pagava a droga e as drogas matavam – lhes a fome. Este era o seu modo de vida. Expunham – se como fornecedores nas ruas precisamente para conseguirem uma comissão por se deslocarem ao interior do bairro a buscar as drogas enquanto as restantes pessoas que lá viviam pareciam encontrar – se na última moda.
Último grito da moda hip – hop. Todos tinham os modelos mais recentes de telefones celulares, usavam fatos com feitios de rua. O seu status parecia depender disso.
Sempre que me aproximava deste enorme bairro com cheiro a restos de comida, os perigos com que me confrontava pareciam uma insignificância comparados com a recompensa que iria receber. Contudo, em duas ocasiões tive muita sorte em ter regressado sem o meu prémio mas com vida. Na primeira ocasião teve lugar naquele bairro. Noutra acontecera noutro bairro parecido. Mas a minha dependência da cocaína não me deixava dar conta do perigo.
Um dia, ao chegar a esse bairro peculiar arrumei o carro fora da entrada que dividia o mundo do bairro de lata. No curto espaço de alguns segundos, o meu veículo ficou rodeado por não menos de quinze indivíduos de cor que deviam oscilar entre os dezasseis e os trinta anos de idade. Abri a janela do assento do passageiro e disse – lhes o que queria. Não me tinha apercebido que havia uma brecha na janelas do meu lado e acomodei – me inclinada do lado do passageiro afim de falar com os homens que competiam no negócio. Repentinamente um dos rapazes mais novos tirou – me o meu celular das mãos através da abertura na minha própria janela. Entrei em pânico! O meu telefone era a minha vida. Continha todos os meus contactos.
“Recuperem – me o móvel. Recuperem o móvel”, gritava.
Os rapazes para quem estava a falar disseram – me que era tarde demais; não havia esperança no inferno de recuperar tal coisa. Sem ele eu não era nada. O meu instinto natural era continuar a gritar até que não tivessem opção salvo recuperar – mo. Gritei aos indivíduos que estavam a tentar negociar a venda e disse:
“Oiçam, irmãos. Sem celular não há negócio”.
“Apanhem o telefone à rapariga, pedia ele a um outro rapaz.” Isso mesmo, recupera – me o telefone. Pago – te, só que tens de ir buscar essa merda.”.
“Tarde demais. O rapaz fugiu com ele”, respondeu um deles.” Continuei a gritar sem hesitação.
“Não vos vou dar nem a merda de um cêntimo se fugiu. Tira – lhe o telefone e acabou – se. Sem telefone não há negócio”!
Ouvi uma palavra de esperança. Um deles estava a dizer ao outro para correr atrás dele. Gritei imediatamente:
“Queres ganhar 65 euros?” Era tudo quanto tinha comigo.
“Já o tenho”, disse o rapaz que gostou de ouvir a palavra recompensa. O telefone regressara à minha posse.
A outra quase fuga aconteceu num bairro das proximidades que era semelhante ao outro, apenas com uma densidade populacional mais baixa.
Estava na companhia de João. Não pudemos obter droga do nosso fornecedor e, por isso, persuadi o João para nos conduzir ali. Quando chegámos pedi – lhe para esperar no carro no local onde havia um pequeno vale.
Este bairro encontrava – se num escala muito menor na medida em que a administração local tinha entre mãos o processo de realojamento dos residentes. Só me pude aperceber de três indivíduos de cor na casa dos trinta quando cheguei ao sopé da colina. Quando lhes prendi a atenção, imediatamente deixaram de jogar às cartas e olharam uns para os outros, um de cada vez, lentamente. Estava cheia de medo. Começava – me a dar voltas o estômago quando um deles se levantou lentamente do seu assento sorrindo para os outros com um sorriso sarcástico forçado. Não gostava de ter medo. Dava para aumentá – lo; e assim foi. A sua aparência fez – me pele de galinha. Tentei criar uma atitude sem medo, engoli a minha saliva e olhei para o homem que estava de pé e disse:
“Peço desculpa por interromper – lhes o jogo. “Sabem onde posso arejar coca?”
Disse que sim e pediu – me para ir atrás dele. Fui, enquanto os outros continuavam a jogar às cartas permanecendo, ao mesmo atempo, conhecedores da situação; à medida que me conduzia por uma rua estreita, pensei que algo devia estar mal. Os indivíduos que estava à mesa tinham abanado a cabeça quando falei em cocaína, e subitamente pensei “onde é que diabo este indivíduo me leva?”
“Quer cocaína, não quer? Então siga – me”, acrescentou enquanto, ao mesmo tempo, ia à minha frente. Continuou a descer uma ruelazita lá do bairro da lata que não tinha mais que um metro de largura. Comecei a sentir claustrofobia no exíguo espaço e no meio de todo esse cenário. Detive – me alguns metros atrás dele quando estava prestes a entrar por uma abertura de um tugúrio.
“Porque é que queres que entre para aí contigo? Espero aqui”, disse.
“Queres dinheiro pela coca, não queres”, disse a sorrir.
“Oh não! Peço desculpa. Percebeste mal. Quero comprar. Não preciso dinheiro, obrigado”. Acrescentei enquanto ia olhando a minha retaguarda para ver se algum dos outros havia decidido vir.
Graças a Deus que não. Olhei outra vez para o rapaz e arranjei coragem para dizer em voz alta:
“Não entendo qual é a tua ideia, mas deixa – me dizer –te uma coisa. Vim para comprar coca. Nada mais! Mas, com mil e seiscentos diabos do inferno. Será que por acaso tenho ares de prostituta?”
Continuou a tentar convencer – me a entrar.
“Agradeço – te muito, mas estou a ouvi – los a chamar – me lá em cima. Tenho de ir porque de outro modo vêem eles buscar – me. Encantada por ter estado contigo! Adeus e obrigado”.
Fora quase uma fuga de uma cena de rapto. Estava a tremer e rapidamente fui ter com João sem sequer olhar para trás por causa do medo que sentia.
Eu e Romano voltámos a casa. Deviam ser onze da noite. O regresso do bairro da lata tinha parecido uma infinidade de tempo devido à ansiedade de abrir a gramazinha de coca. A minha prioridade fundamental era passar através da porta para alcançar o meu CD e o meu cartão de crédito. Romano estava sentado a um canto da mesa a ver – me tratar do ritual mais uma vez.
Não posso realmente lembrar – me de muitas coisas daquilo que dissemos naquela noite. Estava muito mais interessada em ganhar contacto com a cocaína. O que recordo com nitidez é que tínhamos de falar baixinho e que o CD já não ultrapassava o número três da escala de volume. Era uma paranóia que tinha evoluído e estava a piorar decididamente sempre que eu consumia uma dose. Cada pequenino som ecoava – me pelo cérebro como se ecoasse através do todo o edifício de cinco andares e viesse esbarrar cá em baixo dentro de mim.
Esta suposta energia estava patenteando o seu reverso e a aniquilar as minhas reservas de energia. Comecei a interrogar – me de quando em vez. Como podia isto ser possível? Era porque eu possuía mais energia do que ninguém que conhecia e por isso se estava anulando a si mesma, ou melhor, a inverter os efeitos? Fosse qual fosse a razão era normal e estava a sair – me do controle.
Os pensamentos negativos estavam a ter um efeito drástico em mim. Queria estar só. Não podia esperar que Romano se fosse embora. Na verdade desejava cada vez mais vê – lo pelas costas mas não conseguia dizer – lho. Tinha – me acompanhado ao bairro. Estava – lhe a tomar o seu tempo estupidamente em vez de lhe permitir fazer aquilo que inicialmente tinha vindo fazer.
Sem desperdiçar mais tempo, escapei ao problema e sugeri a Romano para começar.
O tempo que levámos a ir da sala de estar até ao quarto de banho parecia não ter fim. Era uma sensação tal que dava a impressão que tudo se estava a processar em câmara lenta. Era como se tivesse sido apanhada numa nuvem negativa que tivesse suspendido a marcha do tempo. Acabámos por conseguir nas não posso lembrar – me do sexo com Romano. Fora como se estivesse lá apenas com o corpo e a minha alma vagueasse por algum sítio distante. Estava perdida e continuei perdida até “ele”
ter finalizado.
Romano continuou estirado na cama como habitualmente. Nem uma palavra. O local estava em silêncio e naquela altura tinha encontrado a minha alma. Era a primeira vez que corpo e alma estavam reunidos desde o momento em que tinha posto os pés naquele quarto. Agora o meu desejo era que tivessem continuado separados na medida em que o que vai seguir – se é indescritível.
É possível descrever um tempo de pesadelos? É possível começar a explicar as emoções negativas acumuladas de toda a nossa vida apainelada na minha frente simultaneamente? Quero dizer, todos os sentimentos negativos resplandecendo diante de nós numa opressiva sensação? Era algo de indescritível aquilo que estava a experimentar. A emoção era tão grande que não podia respirar. Estava a sufocar. Senti – me doente porque o meu estômago começou a andar à volta como se fora um tornado a varrer os oceanos. Naquele momento podia bem ter morto alguém sem sentir qualquer espécie de remorso, pena ou dor. Era a sensação de se ser possuído e de não ter um padre à mão para nos salvar com um exorcismo. Era o ultimato. Era o inferno. Senti – me completamente espontânea, descontrolada. As minhas acções saíam – me fora de mão.
Romano sabia que havia algo de errado. Era impossível que se não apercebesse e que perguntasse o que é que estava mal. Foi precisamente nessa altura que lhe pedi para se ir embora.
“Tens mesmo a certeza? Não me parece boa ideia”, disse.
“Com certeza. Não tenho qualquer espécie de dúvida. Vai – te embora por favor”. Quanto mais ele dizia que parecia que eu não estava bem mais ansiosa me tornava e estava com uma enorme vontade de vomitar. Gritei – lhe uma última vez. Hesitou mas, finalmente, compreendeu que não tinha alternativa, tinha que se pôr a andar.
O alívio que senti após a partida de Romano era indescritível. Estava agora só para combater os demónios que tinha cá dentro da minha cabeça. Comecei a palmilhar a minha sala de estar para trás e para diante como uma louca, na ponta dos pés afim de não fazer barulho. A queda de um alfinete podia a obrigar – me a dar um salto. Regressei ao meu quanto no escuro e atirei – me para cima da cama. O meu espírito continuava sem repouso e combatia contra o meu corpo inerte. Não tinha energia física de reserva. Estava para ali deitada olhando para a vela que tinha posto a arder no chão. Consegui escapar durante um breve segundo aos pensamentos negativos. Desesperadamente tentei agarrar algo de positivo e, afim de desanuviar, concentrei – me na vela e continuei a fixá – la até poder acreditar ser a luz da esperança.
A vela era a minha salvação. Estava para ali a queimar toda a negatividade à minha volta. Parecia que fazia perguntas e dava as respostas ao mesmo tempo, utilizando o meu espírito para servir de canal de comunicação. Era o meu subconsciente reconduzido à vida tal como se eu tivesse sido violada e abandonada. Permiti – me ser consumida lentamente pela chama. Continuei a olhá – la até que desapareceu ofuscada pela luz do sol nascente. A verdade havia brilhado diante de mim naquela noite e deu – me forças para combater o meu inimigo número um: a cocaína!
Uma poderosa sensação de negatividade governava o meu corpo e o meu espírito quando acordei após um sono de algumas horas. Tudo o que havia sido mostrado e ensinado tinha de ser posto em prática. A história de horror da noite antecedente era o último numa longa cadeia de avisos. Não haveria mais oportunidades. Como iria ser? Como iria executar isso? Não sabia mas teria de descobrir.
Tinha de tirar o dia, porquanto as consequências eram muito difíceis de suportar. Já não podia aguentar o apartamento. O todo da experiência remanescia ainda à volta dos quartos. Tinha de me despegar disso. Apanhei as chaves do carro sem saber qual seria o meu destino. Acabei por ir parar a um santuário a centenas de quilómetros de distância. É interessante, não acredito em Religião mas acredito em energias. Peguei na oportunidade de arrumar o carro do lado de fora do Santuário. Milhões de energias acumuladas num local são melhores do que uma só, acabava de convencer – me.
Quando cheguei fiz um grande giro em torno da igreja a observar os fiéis a cumprir os seus deveres religiosos. Sorri, porquanto não acredito na igreja mas acredito na existência de um Deus, uma luz positiva que fornece energias positivas. Mas no entanto, respeitava essa pessoas, acima de tudo por derramarem as sua crenças no Santuário e encherem – no até às bordas como se fora dinamite.
Dinamite explosivo que um crente podia utilizar como ferramenta. Não menos do que uma ferramenta miraculosa.
Após um longo passeio não pude resistir a entrar dentro da igreja. Sentei – me lá, olhei para a imagem que estava na minha frente a tentar abarcar – me o espírito. Sem analisar a validade do nada, apenas vazio que eu fixava postada ali na frente. Finalmente consegui pensar na minha situação e concentrar – me na retrospectiva das noites anteriores que começaram a passar – me pelo espírito como se fora um filme projectado na parede. A cocaína tem de parar. Está a destruir – me, conclui de mim para comigo em surdina antes de me levantar e ir embora.
Enquanto ia para o carro prometi a mim mesma que os meus fantasmas haviam agora de abandonar – me. Decidi que sairia comprar cocaína até à Passagem de Ano, que eram, escassamente, três meses. Mas felizmente não voltei a tocar no material. Algumas horas de prazer pagas com uma ressaca infernal.
No meu regresso a casa recebi uma marcação de um homem com uma voz calma e hesitante. Aceitei a marcação para as oito horas, naquela noite, permitindo – me um tempo extra do caso de ser apanhada pelo trânsito.
Ao abrir a porta deparei com um homem calvo, ligeiramente mais alto do que eu parecendo muito confuso e amedrontado. Dei – lhe as boas vindas e mandei – o entrar a sorrir e recebi um “olá” com um sorriso forçado que fez os seus óculos inclinarem – se ligeiramente para o lado. Pedro estava extremamente tenso e nem no mínimo confortável com a visita. Era o mais nervoso de todos os meus clientes. As mãos tremia – lhe desesperadamente tal como se fora um rapaz que estivesse a ser castigado. Quanta mais tentava controlar – se, mais desajeitado se tornava, e, a certa altura, tropeçou nos seus próprios pés quando se dirigia para a porta. Era desagradável estar a testemunhar um tal comportamento mas mais desagradável era saber que eu me sentia incomodada a observá – lo.
Acabei por pedir a Pedro para ir para o quarto tendo nesse entrementes criado alguma espécie de conversa afim de quebrar o gelo na esperança de que esta pobre alma acabasse por se descontrair. Na altura eu sabia que esse particular “partir de gelo com conversa” era no sentido puro e simples de o acalmar sem lhe dar a entender que me apercebera do miserável estado de nervos com que se debatia.
Pedro era divorciado, era doutor graduado em Física e trabalhava em electrónica.
Pedro continuou desconfiado e inseguro até se ir embora naquela noite. O balanço do sexo também não era famoso já que os seus nervos conseguiam superar – lhe o desejo sexual.
O que também não ajudou lá grande coisa foi que, quando se ia embora, viu o meu cão através da janela da cozinha e este começou a ladrar já que embirrara com o homem.
“Não se apoquente. É o Napoleão, o meu cão. É como se fora minha filha”, disse para lhe evitar um aumento de stress.
“Mas, mas, qual a espécie do seu cão?”
Perguntou com um outro sorriso confuso.
Em realidade não sabia como dizer – lhe sem que tivesse um ataque de coração.
“Ah, Napoleão, é um gato grande…É uma Rottweiler, Pedro, mas muito meiga. Dizem muito mal deles nos média mas não é verdade. ”
Pedro continuou impassível mas, corajosamente, aguentou a tempestade. Para quebrar o silêncio e afugentar o medo que sentia, disse:
“Ah Tenho um par de Dobermanes”, sorriu e saiu.
CAPÍTULO 18
O episódio do bordel chegou ao fim em meados do Verão. O que tinha de continuar era o meu vício da cocaína.
A minha vida começou a girar à volta destes saquinhos de plástico. Quanto mais a miúdo eu comprava estas gramazinhas, mais pequenas me passavam a parecer. Duravam cada vez menos. Começaram a chegar com mais plástico para compensar a falta de peso. Estou certa de que se tenho estado sóbria o suficiente para pesá – los teria descoberto que pesavam menos de metade.
Em poucas semanas cheguei à conclusão que tinha de cortar. A minha rotina do dia a dia começou a contentar – se com um simples grama por dia e só um grama por dia, pensei para comigo. A minha claustrofobia estando enclausurada, expandia – se em terrível medo de ser constrangida, não apenas fisicamente mas também espiritualmente e esta sensação de dependência estava – me a violar o espírito. Um espírito que podia não ser só ser financeira, sexual ou emocionalmente limitado. Tinha de encontrar a chave da solução e, pelo menos temporariamente, convencer – me a mim própria que a tinha encontrado. Decidi que o consumo seria reduzido a três vezes por semana.
Foi exactamente aquilo que fiz. Os meus dias limpos encheram – se de ansiedade e de mau senso de humor. Era a ansiedade de estar desejando uma outra grama tal como nos dias de consumo. Era perfeitamente intolerável. Esta sensação ascendente irritava – me. Afectava – me o corpo e a alma, todo o meu ser. Em certa medida não tinha a certeza se a minha irritação provinha de eu a desejar ou se de estar a “combatê – la”. O resultado estava a revelar – se péssimo tanto para mim como para o meu bolso. No fim de contas tornei – me prostituta não para levar uma vida de luxo mas sim para pagar as minhas dívidas. O que agora aparentava é que tinha sido para pagar as contas da droga.
Afinal arranjei maneira de reduzir para uma vez por semana, o que foi um pouco difícil mas sabia que era necessária mais acção e força de vontade. Na altura em que atingia esta bitola estava – me a sentir mais molestada com a situação. Uma sensação de aprisionamento prevalecia.
Que coisa seria esta que se estava a apoderar de mim? Perguntava – me continuamente. Só o pensamento que antecipava aquela minha sensação desagradável no dia seguinte era suficiente para me criar o desejo de atirar comigo do cimo de um penhasco. O pensamento de ter de alijar as minhas próprias responsabilidades até que me sentisse ligeiramente melhor, era de sobremaneira temível. Conhecedora disto antes da situação de ressaca, dava – me a sensação de que devia dormir primeiro e enfrentar os fantasmas do passado que viriam de novo para me assombrar.
Num curto espaço de tempo, alguns clientes e amigos descobriram – me a dependência. Um ou outro tirava partido da situação e tentava pagar – me os serviços com algumas gramas. Um deles, Fernando, fez isso uma vez mas depois recusou – se a continuar.
Fernando era um dos meus regulares. Estudava em Londres mas ia frequentemente visitar os pais de avião. Tinha vinte e cinco anos. Era alto e magro, e cabelo preto encaracolado. O estilo de Fernando era único para um homem da sua idade. Em vez de desempenhar o papel de um rico homem de negócios e irmão de uma mulher casada dentro da família Real, não o fez. Tinha a intrigante aparência de um hippie moderno.
Da primeira vez que o Fernando veio ver – me apaixonou – se logo por mim. Como muitos outros antes dele, disse – me que nunca fora a uma prostituta. Estava mais interessado em conquistar – me como uma verdadeira mulher e, de preferência, queria ver – me como mulher do que como prostituta. Fernando tinha cortado recentemente com um relacionamento de muito anos. Era como se se sentisse inseguro devido a esse divórcio, e que necessitaste que alguém o convencesse que ainda tinha os melhores anos da sua vida pela frente. Acima de tudo estava “carente” de atenção e afecto.
Lembro – me de ter uma conversa com ele, sugerindo que devia consumir menos cocaína. Ficou aborrecido e disse que não havia problema. Sempre de pé atrás, tentava, e punha isso bem claro, que era um caso pontual. Fazia – o apenas por graça e o seu consumo era irrisório.
Para mim a sua história era diferente. As suas palavras espelhavam – se em mim própria. Vi a maneira como eu também tentava convencer as pessoas de que não tinha problema. Naturalmente. Era coisa de uma semana e, acima de tudo, um controle perfeito.
Fernando permanecia – me no espírito sempre que pensava na cocaína ou em consumi – la. Dava – me ainda uma sensação de maior negatividade só a perspectiva de pensar nele. Fora talvez porque lhe vi os efeitos. Um belo jovem proveniente de um distinto meio social, uma educação de primeira classe e com o mundo a seus pés, com tudo o que um ser humano precisa para ser feliz. Todavia, o que conseguia transmitir era só melancolia. Uma tristeza que não era apenas devida à sua recente separação, mas sim devida às malditas mazelas que o fino pó branco deixa para a retaguarda.
O meu espírito deteriorava – se. Havia uma guerra de sem tréguas no meu corpo e na minha alma. O negativo versus positivo. Os meus clientes começaram a aperceber – se da luta que se travava dentro de mim. Não era uma situação que se desejasse e que não desejaria ao meu maior inimigo. Um momento decisivo tinha de surgir rapidamente e só eu podia desempenhar esse papel e mais ninguém. Tinha de ser forte uma vez mais.
Então, uma noite, chegou o momento decisivo. Romano tinha – me telefonado para fazer uma marcação que eu aceitei. Não era a primeira vez que me tinha visto na coca. Tinha – o, de facto, convencido em várias ocasiões para dar um salto a um bairro das proximidades afim de comprar alguma comigo quando não a podia obtê – la de Oley ou de qualquer outro fornecedor meu conhecido. Nesta noite em particular queria tirar o máximo partido. No final de contas esta era a noite que eu tinha reservado para snifada. Pedi – lhe para me acompanhar ao bairro. Concordou. Acredito piamente que sabia que, se ele não fosse comigo, me aventurava sozinha.
Chegámos ao bairro. Como era costume, pedi a romano par arrumar o carro pelo menos a meio quilómetro de distância na estrada para, assim, não o envolver em nenhum perigo. Não que previsse qualquer espécie de perigo, mas porque o que eu sentia era desespero. Não senti medo na primeira vez que lá pus os pés devido à minha “grande excitação” mas era, de facto, perigoso e muito!
O bairro inteiro albergava residentes pretos que simplesmente sobreviviam do crime já que tinham muito poucas opções diferentes. A sociedade não lhes dera a escolher. As casas eram constituídas de pedaços de madeira que haviam crescido ao longo das décadas. Muito poucas eram feitas de cimento mas de preferência eram afeiçoadas por pregos enferrujados encontrados no lixo, tudo num trabalho complicado semelhante ao das aves quando constroem o ninho; placas e tábuas de madeira ficavam berrantemente a chamar a atenção devido ao enfeite das roupas nas cordas que, para o efeito, se prendiam cravadas nas assim denominadas prateleiras. As cordas da roupa tornavam – se invisíveis bem como as portas que não podiam ser vistas. O que se aparecia era uma escuridão através delas como se a luz nunca iluminasse estas casas deprimidas.
Estas barracas tristonhas que apenas eram apenas coloridas pela roupa pendente a secar, forneciam cenários às gerações mais velhas que permaneciam sentadas em cadeiras contra as paredes das casas. Era como se até eles tivessem medo de se mover no meio da confusão. Não tinham mais opções. Para um lugar assim tão pequeno, com tais ruelas, era densamente povoado; era aí que os residentes pareciam viver, naquelas ruazitas que eram, de facto, as suas ruas.
Adolescentes corriam por ali, fazendo caretas, lutando, gritando e fugindo de todo aquele que quisesse andar atrás deles. Muitos andavam já a aprender as manhas do negócio com os irmãos. Homens e mulheres andavam à volta dos drogados nas ruas que cheiravam a bairros degradados. A cada momento tudo ficava paralisado como com um disparo de arma de fogo e um grito; uma onda eléctrica de adrenalina a iluminar o escuro. Mas os drogados ignoravam tudo isso como se fosse algo de normal e rotineiro, como se fossem personagens de Oliver Twist pedindo dinheiro de preferência a comida. O dinheiro pagava a droga e as drogas matavam – lhes a fome. Este era o seu modo de vida. Expunham – se como fornecedores nas ruas precisamente para conseguirem uma comissão por se deslocarem ao interior do bairro a buscar as drogas enquanto as restantes pessoas que lá viviam pareciam encontrar – se na última moda.
Último grito da moda hip – hop. Todos tinham os modelos mais recentes de telefones celulares, usavam fatos com feitios de rua. O seu status parecia depender disso.
Sempre que me aproximava deste enorme bairro com cheiro a restos de comida, os perigos com que me confrontava pareciam uma insignificância comparados com a recompensa que iria receber. Contudo, em duas ocasiões tive muita sorte em ter regressado sem o meu prémio mas com vida. Na primeira ocasião teve lugar naquele bairro. Noutra acontecera noutro bairro parecido. Mas a minha dependência da cocaína não me deixava dar conta do perigo.
Um dia, ao chegar a esse bairro peculiar arrumei o carro fora da entrada que dividia o mundo do bairro de lata. No curto espaço de alguns segundos, o meu veículo ficou rodeado por não menos de quinze indivíduos de cor que deviam oscilar entre os dezasseis e os trinta anos de idade. Abri a janela do assento do passageiro e disse – lhes o que queria. Não me tinha apercebido que havia uma brecha na janelas do meu lado e acomodei – me inclinada do lado do passageiro afim de falar com os homens que competiam no negócio. Repentinamente um dos rapazes mais novos tirou – me o meu celular das mãos através da abertura na minha própria janela. Entrei em pânico! O meu telefone era a minha vida. Continha todos os meus contactos.
“Recuperem – me o móvel. Recuperem o móvel”, gritava.
Os rapazes para quem estava a falar disseram – me que era tarde demais; não havia esperança no inferno de recuperar tal coisa. Sem ele eu não era nada. O meu instinto natural era continuar a gritar até que não tivessem opção salvo recuperar – mo. Gritei aos indivíduos que estavam a tentar negociar a venda e disse:
“Oiçam, irmãos. Sem celular não há negócio”.
“Apanhem o telefone à rapariga, pedia ele a um outro rapaz.” Isso mesmo, recupera – me o telefone. Pago – te, só que tens de ir buscar essa merda.”.
“Tarde demais. O rapaz fugiu com ele”, respondeu um deles.” Continuei a gritar sem hesitação.
“Não vos vou dar nem a merda de um cêntimo se fugiu. Tira – lhe o telefone e acabou – se. Sem telefone não há negócio”!
Ouvi uma palavra de esperança. Um deles estava a dizer ao outro para correr atrás dele. Gritei imediatamente:
“Queres ganhar 65 euros?” Era tudo quanto tinha comigo.
“Já o tenho”, disse o rapaz que gostou de ouvir a palavra recompensa. O telefone regressara à minha posse.
A outra quase fuga aconteceu num bairro das proximidades que era semelhante ao outro, apenas com uma densidade populacional mais baixa.
Estava na companhia de João. Não pudemos obter droga do nosso fornecedor e, por isso, persuadi o João para nos conduzir ali. Quando chegámos pedi – lhe para esperar no carro no local onde havia um pequeno vale.
Este bairro encontrava – se num escala muito menor na medida em que a administração local tinha entre mãos o processo de realojamento dos residentes. Só me pude aperceber de três indivíduos de cor na casa dos trinta quando cheguei ao sopé da colina. Quando lhes prendi a atenção, imediatamente deixaram de jogar às cartas e olharam uns para os outros, um de cada vez, lentamente. Estava cheia de medo. Começava – me a dar voltas o estômago quando um deles se levantou lentamente do seu assento sorrindo para os outros com um sorriso sarcástico forçado. Não gostava de ter medo. Dava para aumentá – lo; e assim foi. A sua aparência fez – me pele de galinha. Tentei criar uma atitude sem medo, engoli a minha saliva e olhei para o homem que estava de pé e disse:
“Peço desculpa por interromper – lhes o jogo. “Sabem onde posso arejar coca?”
Disse que sim e pediu – me para ir atrás dele. Fui, enquanto os outros continuavam a jogar às cartas permanecendo, ao mesmo atempo, conhecedores da situação; à medida que me conduzia por uma rua estreita, pensei que algo devia estar mal. Os indivíduos que estava à mesa tinham abanado a cabeça quando falei em cocaína, e subitamente pensei “onde é que diabo este indivíduo me leva?”
“Quer cocaína, não quer? Então siga – me”, acrescentou enquanto, ao mesmo tempo, ia à minha frente. Continuou a descer uma ruelazita lá do bairro da lata que não tinha mais que um metro de lagura. Comecei a sentir claustrofobia no exíguo espaço e no meio de todo esse cenário. Detive – me alguns metros atrás dele quando estava prestes a entrar por uma abertura de um tugúrio.
“Porque é que queres que entre para aí contigo? Espero aqui”, disse.
“Queres dinheiro pela coca, não queres”, disse a sorrir.
“Oh não! Peço desculpa. Percebeste mal. Quero comprar. Não preciso dinheiro, obrigado”. Acrescentei enquanto ia olhando a minha retaguarda para ver se algum dos outros havia decidido vir.
Graças a Deus que não. Olhei outra vez para o rapaz e arranjei coragem para dizer em voz alta:
“Não entendo qual é a tua ideia, mas deixa – me dizer –te uma coisa. Vim para comprar coca. Nada mais! Mas, com mil e seiscentos diabos do inferno. Será que por acaso tenho ares de prostituta?”
Continuou a tentar convencer – me a entrar.
“Agradeço – te muito, mas estou a ouvi – los a chamar – me lá em cima. Tenho de ir porque de outro modo vêem eles buscar – me. Encantada por ter estado contigo! Adeus e obrigado”.
Fora quase uma fuga de uma cena de rapto. Estava a tremer e rapidamente fui ter com João sem sequer olhar para trás por causa do medo que sentia.
Eu e Romano voltámos a casa. Deviam ser onze da noite. O regresso do bairro da lata tinha parecido uma infinidade de tempo devido à ansiedade de abrir a gramazinha de coca. A minha prioridade fundamental era passar através da porta para alcançar o meu CD e o meu cartão de crédito. Romano estava sentado a um canto da mesa a ver – me tratar do ritual mais uma vez.
Não posso realmente lembrar – me de muitas coisas daquilo que dissemos naquela noite. Estava muito mais interessada em ganhar contacto com a cocaína. O que recordo com nitidez é que tínhamos de falar baixinho e que o CD já não ultrapassava o número três da escala de volume. Era uma paranóia que tinha evoluído e estava a piorar decididamente sempre que eu consumia uma dose. Cada pequenino som ecoava – me pelo cérebro como se ecoasse através do todo o edifício de cinco andares e viesse esbarrar cá em baixo dentro de mim.
Esta suposta energia estava patenteando o seu reverso e a aniquilar as minhas reservas de energia. Comecei a interrogar – me de quando em vez. Como podia isto ser possível? Era porque eu possuía mais energia do que ninguém que conhecia e por isso se estava anulando a si mesma, ou melhor, a inverter os efeitos? Fosse qual fosse a razão era normal e estava a sair – me do controle.
Os pensamentos negativos estavam a ter um efeito drástico em mim. Queria estar só. Não podia esperar que Romano se fosse embora. Na verdade desejava cada vez mais vê – lo pelas costas mas não conseguia dizer – lho. Tinha – me acompanhado ao bairro. Estava – lhe a tomar o seu tempo estupidamente em vez de lhe permitir fazer aquilo que inicialmente tinha vindo fazer.
Sem desperdiçar mais tempo, escapei ao problema e sugeri a Romano para começar.
O tempo que levámos a ir da sala de estar até ao quarto de banho parecia não ter fim. Era uma sensação tal que dava a impressão que tudo se estava a processar em câmara lenta. Era como se tivesse sido apanhada numa nuvem negativa que tivesse suspendido a marcha do tempo. Acabámos por conseguir nas não posso lembrar – me do sexo com Romano. Fora como se estivesse lá apenas com o corpo e a minha alma vagueasse por algum sítio distante. Estava perdida e continuei perdida até “ele”
ter finalizado.
Romano continuou estirado na cama como habitualmente. Nem uma palavra. O local estava em silêncio e naquela altura tinha encontrado a minha alma. Era a primeira vez que corpo e alma estavam reunidos desde o momento em que tinha posto os pés naquele quarto. Agora o meu desejo era que tivessem continuado separados na medida em que o que vai seguir – se é indescritível.
É possível descrever um tempo de pesadelos? É possível começar a explicar as emoções negativas acumuladas de toda a nossa vida apainelada na minha frente simultaneamente? Quero dizer, todos os sentimentos negativos resplandecendo diante de nós numa opressiva sensação? Era algo de indescritível aquilo que estava a experimentar. A emoção era tão grande que não podia respirar. Estava a sufocar. Senti – me doente porque o meu estômago começou a andar à volta como se fora um tornado a varrer os oceanos. Naquele momento podia bem ter morto alguém sem sentir qualquer espécie de remorso, pena ou dor. Era a sensação de se ser possuído e de não ter um padre à mão para nos salvar com um exorcismo. Era o ultimato. Era o inferno. Senti – me completamente espontânea, descontrolada. As minhas acções saíam – me fora de mão.
Romano sabia que havia algo de errado. Era impossível que se não apercebesse e que perguntasse o que é que estava mal. Foi precisamente nessa altura que lhe pedi para se ir embora.
“Tens mesmo a certeza? Não me parece boa ideia”, disse.
“Com certeza. Não tenho qualquer espécie de dúvida. Vai – te embora por favor”. Quanto mais ele dizia que parecia que eu não estava bem mais ansiosa me tornava e estava com uma enorme vontade de vomitar. Gritei – lhe uma última vez. Hesitou mas, finalmente, compreendeu que não tinha alternativa, tinha que se pôr a andar.
O alívio que senti após a partida de Romano era indescritível. Estava agora só para combater os demónios que tinha cá dentro da minha cabeça. Comecei a palmilhar a minha sala de estar para trás e para diante como uma louca, na ponta dos pés afim de não fazer barulho. A queda de um alfinete podia a obrigar – me a dar um salto. Regressei ao meu quanto no escuro e atirei – me para cima da cama. O meu espírito continuava sem repouso e combatia contra o meu corpo inerte. Não tinha energia física de reserva. Estava para ali deitada olhando para a vela que tinha posto a arder no chão. Consegui escapar durante um breve segundo aos pensamentos negativos. Desesperadamente tentei agarrar algo de positivo e, afim de desanuviar, concentrei – me na vela e continuei a fixá – la até poder acreditar ser a luz da esperança.
A vela era a minha salvação. Estava para ali a queimar toda a negatividade à minha volta. Parecia que fazia perguntas e dava as respostas ao mesmo tempo, utilizando o meu espírito para servir de canal de comunicação. Era o meu subconsciente reconduzido à vida tal como se eu tivesse sido violada e abandonada. Permiti – me ser consumida lentamente pela chama. Continuei a olhá – la até que desapareceu ofuscada pela luz do sol nascente. A verdade havia brilhado diante de mim naquela noite e deu – me forças para combater o meu inimigo número um: a cocaína!
Uma poderosa sensação de negatividade governava o meu corpo e o meu espírito quando acordei após um sono de algumas horas. Tudo o que havia sido mostrado e ensinado tinha de ser posto em prática. A história de horror da noite antecedente era o último numa longa cadeia de avisos. Não haveria mais oportunidades. Como iria ser? Como iria executar isso? Não sabia mas teria de descobrir.
Tinha de tirar o dia, porquanto as consequências eram muito difíceis de suportar. Já não podia aguentar o apartamento. O todo da experiência remanescia ainda à volta dos quartos. Tinha de me despegar disso. Apanhei as chaves do carro sem saber qual seria o meu destino. Acabei por ir parar a um santuário a centenas de quilómetros de distância. É interessante, não acredito em Religião mas acredito em energias. Peguei na oportunidade de arrumar o carro do lado de fora do Santuário. Milhões de energias acumuladas num local são melhores do que uma só, acabava de convencer – me.
Quando cheguei fiz um grande giro em torno da igreja a observar os fiéis a cumprir os seus deveres religiosos. Sorri, porquanto não acredito na igreja mas acredito na existência de um Deus, uma luz positiva que fornece energias positivas. Mas no entanto, respeitava essa pessoas, acima de tudo por derramarem as sua crenças no Santuário e encherem – no até às bordas como se fora dinamite.
Dinamite explosivo que um crente podia utilizar como ferramenta. Não menos do que uma ferramenta miraculosa.
Após um longo passeio não pude resistir a entrar dentro da igreja. Sentei – me lá, olhei para a imagem que estava na minha frente a tentar abarcar – me o espírito. Sem analisar a validade do nada, apenas vazio que eu fixava postada ali na frente. Finalmente consegui pensar na minha situação e concentrar – me na retrospectiva das noites anteriores que começaram a passar – me pelo espírito como se fora um filme projectado na parede. A cocaína tem de parar. Está a destruir – me, conclui de mim para comigo em surdina antes de me levantar e ir embora.
Enquanto ia para o carro prometi a mim mesma que os meus fantasmas haviam agora de abandonar – me. Decidi que sairia comprar cocaína até à Passagem de Ano, que eram, escassamente, três meses. Mas felizmente não voltei a tocar no material. Algumas horas de prazer pagas com uma ressaca infernal.
No meu regresso a casa recebi uma marcação de um homem com uma voz calma e hesitante. Aceitei a marcação para as oito horas, naquela noite, permitindo – me um tempo extra do caso de ser apanhada pelo trânsito.
Ao abrir a porta deparei com um homem calvo, ligeiramente mais alto do que eu parecendo muito confuso e amedrontado. Dei – lhe as boas vindas e mandei – o entrar a sorrir e recebi um “olá” com um sorriso forçado que fez os seus óculos inclinarem – se ligeiramente para o lado. Pedro estava extremamente tenso e nem no mínimo confortável com a visita. Era o mais nervoso de todos os meus clientes. As mãos tremia – lhe desesperadamente tal como se fora um rapaz que estivesse a ser castigado. Quanta mais tentava controlar – se, mais desajeitado se tornava, e, a certa altura, tropeçou nos seus próprios pés quando se dirigia para a porta. Era desagradável estar a testemunhar um tal comportamento mas mais desagradável era saber que eu me sentia incomodada a observá – lo.
Acabei por pedir a Pedro para ir para o quarto tendo nesse entrementes criado alguma espécie de conversa afim de quebrar o gelo na esperança de que esta pobre alma acabasse por se descontrair. Na altura eu sabia que esse particular “partir de gelo com conversa” era no sentido puro e simples de o acalmar sem lhe dar a entender que me apercebera do miserável estado de nervos com que se debatia.
Pedro era divorciado, era doutor graduado em Física e trabalhava em electrónica.
Pedro continuou desconfiado e inseguro até se ir embora naquela noite. O balanço do sexo também não era famoso já que os seus nervos conseguiam superar – lhe o desejo sexual.
O que também não ajudou lá grande coisa foi que, quando se ia embora, viu o meu cão através da janela da cozinha e este começou a ladrar já que embirrara com o homem.
“Não se apoquente. É o Napoleão, o meu cão. É como se fora minha filha”, disse para lhe evitar um aumento de stress.
“Mas, mas, qual a espécie do seu cão?”
Perguntou com um outro sorriso confuso.
Em realidade não sabia como dizer – lhe sem que tivesse um ataque de coração.
“Ah, Napoleão, é um gato grande…É uma Rottweiler, Pedro, mas muito meiga. Dizem muito mal deles nos média mas não é verdade. ”
Pedro continuou impassível mas, corajosamente, aguentou a tempestade. Para quebrar o silêncio e afugentar o medo que sentia, disse:
“Ah Tenho um par de Dobermanes”, sorriu e saiu.
Tudo me levava a pensar que não voltaria a vê – lo.
CAPÍTULO 19
Pedro regressou uma semana mais tarde. Dá para imaginar como diabo o seu coração iria lidar com outra situação como esta. Surpreendentemente, desta vez não estava tão nervoso, embora ainda muito tímido e reservado.
No entanto, na segunda vez ficou igualmente tão nervoso na cama como da primeira, tentando atingir o clímax tal como se fora um debutante. A certa altura estava a transpirar abundantemente e não parava de pedir desculpa, porquanto, as gotas de suor que lhe gotejavam da testa entravam - me directamente para os olhos e gritava excitado. Em algumas ocasiões só me apetecia gritar mas não podia.
Tinha compromissos para essa noite e o tempo não parava. Naquele ritmo ia ficar atrasada. Tive de arranjar uma maneira polida de lhe dizer que não tinha tempo. Parou imediatamente, pediu desculpa mais de mil vezes, foi ao quarto de banho, vestiu - se rapidamente e logo a seguir foi - se embora.
Do mesmo modo que muitos dos regulares, começou ocasionalmente a ligar para saber se estava tudo bem e eu entusiasmava - o como a qualquer outro cliente, com vigor e vibrações positivas. Talvez fosse essa a razão porque começou a visitar - me cada vez mais frequentemente. Mas nesse dia estava longe da minha melhor forma e não conseguia disfarçar.
Numa das suas visitas seguintes pude, durante um escasso segundo, conter a amargura e a miséria acumuladas. Senti – me confusa, só, e pensamentos suicidas cruzaram – se no meu espírito. Pedro sabia que alguma coisa estava errada e começou discretamente a experimentar - me. Pus - me na defensiva a princípio, mas depois comecei a exprimir - me em enigmas para me explicar, tendo o devido cuidado para não dizer demais. Mas porque é que ninguém me queria ajudar? Por vezes abria - me para este inteligente, sabedor, doce e carinhoso Pedro que estava a tornar - se o meu maior amigo e a minha maior força através de todo o episódio.
Pedro fazia - me sentir tão confortável que em pouco tempo sabia tudo a meu respeito. Tinha – o autorizado a entrar na parte proibida da minha alma e consequentemente, dei comigo a consultá – lo automaticamente para me aconselhar. Ele era o ombro em cima do qual eu chorava. Era aquele que via as coisas que outros não podiam saber que existiam por detrás da minha bem construída fachada.
Pedro era bem conhecedor que eu não aceitaria esmolas, que a única coisa que admitia eram empréstimos e trabalho. Assim, foi o que fez. Deu - me trabalho. Marcava para ele durante algumas noites por semana. Assim, podia aceitar - lhe o dinheiro. Não havia sexo nessa altura e como sabia que não gostava de aceitar remuneração por tempo de conversa, meteu inteligentemente dentro da minha cabeça que me estava, assim, a fazer perder trabalho. Deste modo podia aceitar.
Comecei a avaliar a situação quando comecei a ser bombardeada com ramos de flores ao domicílio e uma infindável colecção de poemas escritos. A certa altura as suas mensagens chegaram a um ritmo de dez por dia:
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era teu, esse olhar que os inspirou?
(06.08.03
Que embriagante filtro me deste a beber?
Até de mim me esqueço,
E de ti não me posso esquecer.
(06.08.03.)
Cada vez mais frequentemente dei por mim a tomar a iniciativa de convidar Pedro para uma conversa, que era o meu modo de fazer com que ele se sentisse confortável sem que tivesse de pensar que tinha de me pagar o tempo. Nestas ocasiões o Pedro costumava chegar à soleira da porta com um saco cheio de compras:
“Oh, até pensei que estavas com fome”.
Sabia que eu andava sem comer na medida em que o meu apetite tinha desaparecido com o peso dos meus problemas.
Pedro costumava então estar na conversa e esperar que me deixasse dormir, antes de ele se ir embora. Depois encontrava notas suas espalhadas por todo o meu apartamento na manhã seguinte.
Obrigado!
Entre nós existe um mar,
Um imenso mar que nos quer separar
Mas é no desejo imenso de amar
Que, à força, vou entrar para esse mar atravessar.
(20.08.03)
Progressivamente estava – me a sentir cada vez mais desconfortável com o que estava a acontecer. Começara a acreditar que Pedro me estava a ajudar por alguma razão, que se tinha apaixonado por mim. Chegada a este ponto considerei que tinha de actuar com presteza de modo a não lhe ferir a susceptibilidade ou enganá - lo de algum modo e fazê - lo sofrer. Costumava, assim, passar horas a falar com ele, acerca de como os homens frequentemente tentavam ajudar – me com a esperança de me conquistar, apenas para aumentar a minha miséria quando chegavam à conclusão que eu não queria ficar com eles. O meu propósito era fazê - lo pensar que não devia estar a ajudar - me com essas intenções. Tornei bem claro que eu não podia e não pretenderia estar fosse com quem fosse, só porque isso era financeiramente conveniente.
Fez que não entendeu. Estava ainda com esperança e continuou; desta vez, no entanto, mudando de estratégia, começou a referir - se a mim como a um amigo muito querido.
Minha querida Diana,
És uma pessoa tão maravilhosa. A tua força, a tua colossal beleza interior! E tens razão; és a mais cristalina das águas.
Quando vim para ti nunca podia imaginar que iria encontrar alguém como tu. E os meus sentimentos estão muito confusos. Por um lado sinto que sou um homem de sorte porque no teu dia a dia podes ter a ventura de encontrar uma pessoa igual a ti dentro de um milhão ou mesmo nunca encontrar nenhuma, mas, por outro lado, penso que nos encontrámos na altura errada, no local errado. Admiro - te, respeito - te por causa do teu sonho pois lutas contra o mundo para o tornar sincero. Gostaria de imaginar como estes tempos estão a ser difíceis para ti, mas não posso. Só alguém que estivesse metido dentro disso o poderia saber. Não desistas. Nunca desistas. Pessoas maravilhosas como tu não deviam ter de passar por estas coisas, mas mesmo pessoas maravilhosas como tu, hão-de fazer coisas de que não se sentirão orgulhosas. Admiro – te realmente, respeito - te, e estou cem por cento seguro de que hás - de ter sucesso. És uma lutadora e uma vencedora.
Não me agradeças, estou a fazer muito pouco por uma pessoa tão grande como tu. E por favor, deixa - me continuar. Se precisares de uma mão, pega na minha. Se precisares de um sorriso, eu sorrirei para ti. Se precisares de uma palavra, eu falo para ti. Se precisares de ouvir, emprestar - te - ei os meus ouvidos. . Se precisares de um abraço, dar - te ei os meus braços, Se precisares de um ombro, dar - te - ei o meu. Se precisares de um beijo dar - te - ei os meus lábios..
Prometo – te que usarei a tua ajuda sempre que precisar de ti. Adoro estar contigo.
E por favor, não me esqueças quando acabares por tornar o teu sonho verdadeiro. Hei - de estar lá para ver a felicidade na tua face, para ver a luz irradiar dos teus olhos maravilhosos e para te dar um grande, grande abraço e um beijo.
Mudaste a minha vida para melhor. Com todo o meu amor, para uma mulher maravilhosa. Sinto, realmente a tua falta.
30.08.03
Pedro tinha – me realmente providenciado um ombro para chorar. A certa altura emprestou-me uma grande quantidade de dinheiro que ainda estou a pagar - lhe aos poucos. Sempre respeitou a minha pessoa e a minha luta. Era este o factor mais importante da nossa amizade. Confiava nele.
Pedro passou a contactar - me cada vez menos quando descobriu que começara a namorar um velho amigo algumas semanas mais tarde. Para Pedro, isso quis dizer muito. Provou que eu era capaz de me relacionar embora me tivesse recusado a relacionar - me com ele. Ainda me contacta ocasionalmente, e o sentimento que eu guardei no meu coração por ele, nunca há – de morrer. No entanto, ninguém me tira da cabeça, que estava envolvido com os Serviços Secretos. Logo suspeitei disto na sua primeira visita. Porque é que me veio visitar, em primeiro lugar, quando se encontrava tão nervoso? Porque é que a sua primeira visita coincide com o que eu pensava ser a primeira visita da polícia secreta? Porque é que nunca saía de ao pé de mim até que eu adormecesse, e uma vez, pensando que estava a dormir no meu quarto andou por ali por uns bons dez minutos?
Para além disso, durante um ou vários jantares, Pedro ficou um pouco tocado com alguns copos de vinho, porque ele raramente bebia; quando mencionei o facto de que estava a receber visitas da polícia secreta, falou – me do seu “passado” envolvimento com a polícia de investigação e com o FBI.
Fosse lá quem fosse, a verdade é que me tratava com respeito, e, devido a isso, ficar – lhe – ei eternamente agradecida, fosse qual fosse a natureza das suas visitas.
CAPÍTULO 20
Desde a minha primeira visita daquilo a que eu pensava ser a polícia secreta, um novo capítulo começou a desenvolver – se. Passadas que foram algumas semanas após a primeira visita de que suspeitei, a bola de neve começou a crescer.
Certa tarde recebi um telefonema.
“Olá, dois colegas meus que a visitaram na semana passada disseram – me que era uma rapariga muito meiga. É possível que eu e um amigo meu a visitemos?”
Por qualquer razão desconhecida, aceitei. Atendera aqueles dois amigos ao mesmo tempo, só porque não estava sozinha em casa. João encontrava – se comigo nessa altura portanto, era uma situação completamente diferente. Mas, de qualquer modo, embora tivesse fortes suspeitas de que os dois outros clientes pertenciam à polícia secreta, tinham sido simpáticos e, bom! Seja como for, homens que vão às prostitutas não têm classe. Sejam eles da Polícia, Ministros, ou mesmo da Realeza. Todos eles partilham de uma premente necessidade comum, especialmente aqueles desprovidos de alguma coisa lá em casa.
Os dois homens chegaram. Um era extremamente bem parecido, o protótipo do “vizinho do lado”; era mediano de altura, muscularmente bem constituído e educado, possuía cabelo louro encaracolado, e olhos grandes e bonitos. O outro era muitíssimo alto, de cabelo aveludado preto acastanhado, penteado para o lado. O Tim, de olhos azuis, irradiava confiança por todos os poros. O outro, o Filipe, era completamente o oposto e o seu acanhamento fá – lo – ia saltar ao barulho produzido pela queda de um alfinete.
No espaço de tempo que mediou até à sua chegada, reavaliei os perigos de me encontrar sozinha com dois homens, independentemente do facto de ter estado com os seus dois amigos simultaneamente. Olhando para eles no corredor disse:
“Desculpem. Não posso, de facto, consentir que entrem os dois ao mesmo tempo.”
“Vá lá”, disse o que se chamava Tim, “Podes confiar em nós”.
“Tenho muita pena mas não me sinto bem com ambos os senhores aqui ao mesmo tempo. Só me apetece trabalhar com vocês individualmente”, expliquei.
Olharam um para o outro, concordaram mas continuaram pregados no mesmo sítio. Só pouco depois é que cheguei à conclusão que não tinham percebido completamente.
“Peço muita desculpa por voltar a insistir mas o que eu quis dizer – lhes foi que um dos senhores tem de esperar noutro lado. Isto é, fora do apartamento. Está bem, disse.
Voltaram a olhar – se. Desta vez Filipe ficou nervoso com a ideia e tentou convencer – me a deixá – los continuar a ambos.
Tim expressou ao amigo um aceno tranquilizante de assentimento”.
“Está bem,”, concordou. “Vamos a isso. Filipe, eu vou primeiro, certo?”
Um relampejar de alívio apareceu então rosto de Filipe que fazia a sua retirada afim de esperar no carro.
Tim era, em cada centímetro, o protótipo do playboy. Logo que me despi, e exactamente como os seus dois amigos foi rápido a apontar – me a tatuagem e a perguntar o que significava. Ao querer saber qual era a razão de tal curiosidade disse – me que os outros que me haviam visitado eram seus sócios no negócio de casotas para cães. Parecia fazer realmente sentido mas de algum modo não soava a algo real, no entanto procurei não analisar enquanto estive na cama com ele.
Tim era extremamente meigo e possuía a imagem estereotipada do homem sensual no mais alto grau que isso pode atingir. No entanto, o comportamento sexual desmentia tal imagem masculina. Apercebi – me de um escorpião tatuado na parte debaixo da perna de Tim e perguntei – lhe qual era o significado. Disse então que a namorada era Escorpião.
Tirei partido do tópico da conversa e disse – lhe que, então, devia significar bastante para ele. Quanto admitiu que era verdade perguntei – lhe porque diabo andava metido com prostitutas se, de facto, estava a ser sincero. Olhou para o lado, sorriu como se estivesse à procura de uma resposta válida.
“Ouve cá. Pareceu – me os meus amigos estarem de tal maneira encantados com a tua pessoa, que eu tinha, pela certa, de vir verificar com os meus próprios olhos aquilo que estava a perder. Talvez fosse só curiosidade…”, replicou com um sorriso de alívio.
Era uma justificação muito débil mas recusei – me a discuti – la afim de evitar futuros embaraços.
Passámos um bom pedaço a rir e a brincar, o que me deu espaço ara penetrar na pessoa real, por baixo da fachada. A dado momento olhei – o nos olhos e trouxe à baila o assim chamado negócio das “casotas para cães”. Foi célere a mudar de assunto desviando a atenção para o meu corpo.
”Uau, não tens celulite!” Disse, ao mesmo tempo que me acariciava uma das nádegas, fazendo movimentos circulares.
Inesperadamente tocou o telefone dele. Desculpou – se e respondeu. Era o Filipe a perguntar se estava tudo bem e a pedir – lhe que se apressasse.
O toque salvara – o e ele sabia – o. Em lugar de fazer todas as perguntas que planeara, desviou a conversação para um ponto em que podia ver que eu estava a ser esperta. O meu tom sarcástico de voz, que de vez em quando ostentava, fez – lhe ver isso mesmo.
Tim estava agora com vontade de atar os molhos antes que o tempo acabasse. Era sumamente afectivo e carinhoso na cama, o tipo que preferia sentir uma mulher e transmitir – lhe os seus sentimentos do que chegar ali e “toca a despachar.”
Quando finalmente acabámos a impetuosa sessão, Tim convidou – me para almoçar no dia seguinte. Tinha por norma não sociabilizar com clientes fora do apartamento; quer fosse para almoço, férias, ou mesmo chamadas pagas no exterior. Em casa, era onde me sentia segura e, assim, declinei o convite.
Filipe começava a iniciar a subida. Tim insistia até que acabei por aceitar só para conseguir que se fosse embora. Quando lhe perguntei onde, balbuciou:
“Ma…Eu depois digo” replicou arrependendo – se das suas sílabas iniciais.
“Ma…”, pensei para comigo sem me importar o que é que sugeria de início.
Filipe bateu à porta. Tim respondeu e acenou para o amigo, que parecia bastante pálido, e saíu.
Conduzi Filipe para o quarto. Não estava a achar nada disto interessante e examinava cada polegada da parede do corredor que conduzia ao quarto de dormir. Ria – me e brincava, mas Filipe não era capaz de se descontrair ou fingir que se descontraía. Era como se o obrigassem a estar ali, forçado a fazer algo que, na verdade, não queria fazer. Filipe tinha pouco para dizer. Estava demasiado aterrado com toda aquela experiência.
Tirei a toalha que me estava a tapar o corpo. Filipe ficou paralisado. Regressou da sua abstracção, mas parecia estupidamente medroso enquanto eu estava na cama à espera.
Acabou por arranjar coragem de se despir e juntou – se a mim na cama. Quando estendia o braço para agarrar uma camisa de Vénus do chão, Filipe encheu – se de medo e pôs – se a dizer que era hábito seu prevenir – se por conta própria e foi ao bolso de trás das suas calças tirar uma. Quando acabei por lhe ver o pénis, compreendi então a razão da sua preocupação: Eram um dos maiores objectos que eu jamais vira.
Filipe permaneceu frio na cama, mumificado! Para meu e espanto, o pénis tinha ficado erecto a partir do momento em que se despira, levando – me, assim, a acreditar que andava no Vigara, devido aos nervos.
Não perdeu tempo. Só lhe interessava acabar com isto quanto antes e apanhar – se lá fora. Pôs – se em mim e começou logo a penetrar – me sem fazer qualquer diversidade de movimentos. Estava ainda muito indisposto e isso estava a começar a afectar – me; ficava cada vez mais seca com toda aquela maçada mas continuei sem dizer uma palavra. De repente, quando eu menos o esperava, atingiu o clímax e, em menos de um segundo, tirou o pénis da minha vagina.
“Oh, não. Oh meu Deus. O preservativo rompeu – se.”
Pensei que estava a brincar, mas não. Tinha entrado em pânico e começou a passear de um lado para o outro do quarto descontrolado enquanto eu estava para ali na cama com a toalha de banho enrolada à minha volta! Tentei desesperadamente acalmá – lo dizendo – lhe que estava limpa. O pobre homem deve ter pensado “claro, claro, isso é o que todas dizem”, mas era verdade. Se havia alguém que temia uma coisa destas, esse alguém era eu!
Tinha, no entanto, acontecido que o meu período chegara naquele dia. Em tais ocasiões, usava uma esponja medicinal contraceptiva para evitar que o sangue remanescesse. Falei – lhe na esponja, tentando desesperadamente convencer este homem aterrorizado de que estava limpa. “Não seria prevenção mas…”
Filipe pegou no celular e chamou Tim continuando ao mesmo tempo a passear de um lado para o outro. Passados uns momentos, Tim chegou. No meio da confusão dei – lhes autorização para estarem juntos no apartamento enquanto ia ao quarto de banho. Quando voltei estavam os dois de pé no corredor. Olhei para Tim e tentei convencê – lo que não havia perigo. Tim desatou a rir para o amigo antes de os avisar que tinha de me ir embora e saia para fora do edifício na sua companhia.
Os dois homens dirigiram – se para uma carrinha Mercedes prateada. Uma das janelas tinha um protector solar infantil. Entrei no meu carro e respondi a uma extensa chamada antes de abrir a ignição para inverter a marcha. Não podia acreditar! Tim e Filipe estavam ainda na conversa no carro de Filipe. Passei por eles e quis saber se o amigo de Tim se encontrava bem.
“Não. Realmente não está bem. Quer ir consultar um médico nosso amigo.”
Naquele instante apercebi – me que não adiantava tentar continuar persuadi – los. Até me encontrava aliviada por Filipe estar tão aflito o que era sinal evidente de que estava limpo.
Durante o trajecto pensei em toda aquela situação dissecando a visita até ao mais ínfimo detalhe e concluindo que tinha de esperar pela data do almoço com Tim até me preocupar de novo em analisar os acontecimentos.
À hora do almoço combinado Tim foi – me buscar a casa. Tinha um carro similar ao de Filipe; a mesma cor e modelo também. Tinha mesmo um cão desenhado no painel separador dos bancos traseiros, apenas o do carro de Filipe era um Whinny the Pooh enquanto o de Tim era um Dálmata. Logo que pus os pés dentro do carro Tim perguntou se tinha preferência por algum restaurante. Quando recomendei um em particular, observou:
“Oh, não! Desculpa! Só agora me lembrei que tenho a mesa reservada no Marina! Porque é que não vamos para o Marina?!”
Repentinamente lembrei – me que ele tinha querido sugerir o Marina quando inicialmente me convidou para almoçar. O “Ma…”, mas guardei a observação para mim.
Fomos conduzidos à nossa mesa que estava reservada logo que chegámos e, dentro de poucos segundos, uma trupe de empregados de mesa surgiu a estender – nos o menu. Pareceu – me que a cara de Tim lhes era familiar pois que lhes deram as boas vindas com uma certa rotina. Sentei – me em frente aos barcos na mesa do terraço, no lugar que Tim havia escolhido.
Apesar de não ter evidências suficientes, continuei a suspeitar de que estes cavalheiros pertenciam à polícia secreta. A única maneira em que os ia descobrir era através de uma conversa normal. Não tinha nada a esconder, portanto continuei a explicar a Tim porque é que a minha situação financeira actual atingiu o estádio em que se encontrava.
Tim estava ali atento a tudo o que dizia sem se atrever a mudar o rumo da conversa já que era inapto para responder às perguntas que lhe iria apresentar depois. Sabia que eu não era nada estúpida. Tinha – o observado bastante desde o dia anterior, na medida em que foi de encontro a alguns momentos difíceis.
Um homem gordo e careca, embora vestido normalmente, que parecia ter qualquer ligação ao restaurante, interrompeu – nos, a Tim e a mim. Tim levantou – se e deu – lhe um aperto de mão com muito poucas palavras de conversa. O homem olhou para mim, a seguir para Tim e disse, “Bom apetite para o jantar”, antes de se dirigir para o interior do restaurante. Tim perguntou se conhecia o homem que era dono do restaurante. Respondi sarcasticamente se eu tinha aparência de quem sabia.
Enquanto continuávamos na conversa pelo almoço dentro, não pude deixar de notar o interesse de Tim no que se passava à sua volta. A certa altura, olhei para a retaguarda sistematicamente mas a mesa de trás bloqueava – me a vista. De súbito, o mesmo homem passou por nós de novo e dirigiu – se para um dispendioso Porsche último modelo, estacionado no outro lado da estrada. Nem podia acreditar! O Marina dava a sensação de ser uma cidade fantasma nos seus melhores tempos e não podia imaginar como é que um homem daqueles podia ser bom para o negócio, especialmente para comprar um último modelo de carro como aquele.
Quando terminámos o prato principal, Tim perguntou – me se queria sobremesa. Declinei e preferi café uma vez que o tempo se escoava.
Tim pediu dois cafés, e, simultaneamente, a conta. Meti automaticamente a mão no bolso para tirar o dinheiro. Tim insistiu em pagar e tirou a carteira, exibindo um brilhante cartão de crédito Gold que colocou na travessa da conta com uma gorjeta.
A travessa foi imediatamente levantada pelo empregado e trazida de volta antes de podermos terminar os cafés.
Na viagem de regresso perguntei a Tim por Filipe.
“Isso é uma longa história. Basicamente fomos consultar o médico nosso amigo que pôs Filipe numa espécie de programa. Não sei lá muito bem que programa é esse mas o que entendo é que o pobre Filipe vai passar um mau bocado. Pobre rapaz que está mais doente do que um porco e foi informado que a doença continua por umas semanas dentro. Qualquer coisa como purificação ou coisa assim, penso”.
Não fiz mais perguntas acerca do tratamento e não tinha intenção de sair da minha rotina para analisar a sua existência. O meu interesse principal era fazer a minha jogada como devia ser e investigar secretamente aqueles que acreditava andarem – me a investigar.
Eu e o Tim trocámos mensagens escritas durante algumas semanas. Na sexta-feira seguinte recebi uma chamada dos dois homens que ele me referira. O mais estranho do seu telefonema era que não me queriam visitar a mim mas sim que eu fosse beber com eles. Recusei abertamente e desculpei – me antes de desligar para voltar a ser chamada alguns minutos depois.
“Vocês homens, julgam que eu sou estúpida? Ou melhor, será que crêem isso realmente? A conclusão a que eu chego é que pensam que sou ingenuamente crédula para ir na vossa conversa enquanto insistem em telefonar – me para ir convosco a um clube porque sou uma rapariga muito bonita, quando aquilo que eu de facto concluo é que, dado não me conhecerem de parte nenhuma, é que não têm mais que fazer.” E ri sarcasticamente.
O rapaz hesitou durante um pedaço. Apanhei – o com a guarda aberta e, por certo, não estava esperando a investida.
Passadas umas horas voltaram a insistir, desta vez utilizando uma estratégia diferente.
“Está bem, Diana. Ganhaste. Não tens que te deslocar a lado nenhum, vamos nós aí, se não te importas.”
Esperando vir a saber mais alguma coisa, concordei.
Eram passados apenas alguns minutos quando chegaram e lhes abri a porta, não podendo acreditar no que via dado os palhaços que confrontava. Um era preto, vestia um espesso casaco de basebol vermelho e usava um par de óculos de lentes vermelhas. Este personagem parecia – me estar no meio da década dos vinte. O outro era branco, sensivelmente da mesma idade mas muito mais magro, vestia – se como um trintão em elegante trajo de passeio. Estavam à porta como dois idiotas acabados! O panorama conjunto era tão exageradamente ridículo que tinha de me controlar para não desatar a rir perante aquelas duas figuras.
Encaminhei – os para a sala de estar e convidei – os a sentarem – se no sofá. Quanto a mim, decidi sentar – me em cima da enorme mesa da sala de jantar que se encontrava em frente de um grande espelho. “Vejamos onde é que isto os vai levar”, pensei para comigo que não iriam intimidar – me, antes eu é que os iria amedrontar.
A visita não iria ser tão sucinta como eu imaginara e, assim, levantei as pernas da cadeira e cruzei – as. O cabelo cobri a – me metade da cara. Olhei para o lado e fixei – os a um de cada vê: um por um, directamente nos olhos. Sabia o poder do contacto ocular e usei – o. Estava – me a sentir um pouco frustrada por ter permitido a este par de arlequins que viessem aqui tomar – me por uma estúpida tonta e decidi que o jogo ia começar e manobraria de maneira a que saíssem com o rabo entre as pernas.
O “super – mosca” homem branco olhou para mim do sofá. Fosse o que fosse que viesse a lume dessa boca era por certo algo pior do que lixo, pensei para comigo. Estava convencido ser o mais esperto dos dois e não fazia a menor ideia quão patético se representava e se fazia ouvir. Abriu a boca para disparar a maior quantidade de estúpida esperteza saloia que jamais ouvira. Era de tal modo caricato que passados alguns momentos começou a entrar – me por um ouvido e a sair – me pelo outro. Olhei – o de novo bem de frente, olhos nos olhos, e forcei um grande sorriso de mofa na minha face sem que fizesse esforço para erguer os lados da minha boca. Olhava a minha vítima e perscrutava – lhe a alma com os meus olhos, enquanto ele continuava a falar para surdos. A minha concentração nos olhos dele prosseguia e dizia – lhe telepaticamente para se calar, ao mesmo tempo advertindo – o que tinha postada na sua frente a adversária à altura. Inesperadamente começou a baixar o tom de voz cada vez mais até que a última palavra enviada pelo cérebro para a boca ficou, silenciosa, sem sair. Não sabia o que fazer quando o colega o salvou, mais uma vez, ao tentar persuadir – me a sair com eles.
O branco estava desesperadamente a tentar recuperar o fôlego e perguntou – me se gostava do colar de contas que tinha à volta do pescoço.
“Comprei – o em África. É um objecto
propício”, disse.
Olhei fugazmente para o objecto, ganhei de novo o contacto ocular com ele e disse – lhe que se devia livrar daquilo, pois parece que era de mau, terrível agouro, que dava às pessoas um ar patético!
Mal tinha pronunciado esta última frase quando a sua voz começou a descer de tom outra vez e a sua expressão perdeu vigor.
Antes de os avisar que o seu tempo tinha terminado, olhei para o preto que ainda estava a insistir para que me juntasse a eles e disse:
“Sinceramente, não tenho tempo para andar com vocês, rapazes. Sugiro que procuremos algumas pessoas interessantes e compremos umas drogas, que tal?”
As orelhas do moço pareceram subir. Não era o que ele estava à espera de ouvir, era o que ele queria fazer, para ver se combinava com a cena de bastidores.
Pouco tempo decorrido, argumentando que se estava a fazer tarde para a minha marcação, consegui persuadi – los a irem – se embora. O branco não se atreveu mais a olhar – me nos olhos. Ao fechar a porta, passei ao modo de análise. “Pertencem ao departamento da droga”, disse para mim mesma.
Romano fez uma marcação para as dez da noite de Sábado. Quando chegou, passei uma grande e parte do nosso tempo a explicar – lhe as linhas gerais mais salientes que eram, segundo eu pensava, nem mais nem menos, da polícia secreta.
Romano era argumentativo. Não tomava o “eu penso” por resposta e, para além disso, não fazia a mínima ideia de como eu chegara a tais conclusões, sugerindo de maneira indirecta que podia muito bem acontecer que isso fosse paranóia.
No auge da nossa conversa, recebi uma mensagem de Tim. Trocámos mensagens por algum tempo, até que acabou por dizer que estava num estádio lá para o Norte. Tinha falado da viagem durante o almoço e, de novo, convidava – me para ir ter com ele.
Deve decerto ter – me tomado por tola. Estávamos, no mínimo, separados por trezentos quilómetros de distância embora soubesse pelas nossas conversas anteriores que eu era suficientemente tarada para me pôr a caminho e cobrir o percurso.
Como se fora um relâmpago, toda a experiência da noite da véspera se me representou na minha cabeça. O que eu quero dizer é que os seus, assim chamados amigos, me tomavam por idiota. Por isso decidi – me brincar também com Tim. Disse – lhe que ia partir imediatamente e que ia ter com ele.
Romano olhou para mim com uma expressão confusa sem perceber se estava a brincar ou não. Perguntei – lhe se me ia ajudar ou não a fazer o jogo. Concordou e a brincadeira começou.
Tim não imaginava que a estrada que conduzia ao Norte me fosse familiar. Conhecia – a como as palmas das minhas mãos. A longa cadeia de mensagens começou.
Primeiro escrevi uma mensagem a dizer que levava outro carro, já que não tinha a certeza se estava, de facto, onde dizia estar, depois, não podia arriscar – me à possibilidade de que um dos seus colegas passasse por ali de automóvel e visse o meu carro lá fora chegando, assim, à conclusão de que aquilo era um logro.
Depois comecei a enviar o resto das mensagens de quinze em quinze minutos! Eu e o Romano calculávamos os quilómetros e o tempo e, por experiência própria, imaginávamos o troço da estrada em que possivelmente nos encontrávamos, transmitindo os sinais e as estações de serviço que tinha vindo a memorizar após tão numerosas viagens.
Um dos parentes de Romano possuía um carro muito caro, com um sistema de computador raro, que muitas pessoas não fazia sequer ideia que existia, não importando não saber como de facto trabalhava, já que Romano estava familiarizado com ele e, portanto, usei os seus conhecimentos e mandei a Tim mais mensagens a explicar a leitura do sistema GPS que o informava sobre a viagem. Eu e o Romano estávamos de tal modo envolvidos, como se estivéssemos a fazer um filme.
Por fim, calculámos que eu devia estar a chegar ao meu destino e avisei Tim descrevendo locais e lojas por onde eu imaginariamente passava antes de chegar à primeira ponte. Tim respondeu indicando um ponto de encontro e repliquei que lá estaria em cerca de dez minutos.
Passado que fora este lapso de tempo, Tim telefonou a perguntar onde estava já que não conseguia ver – me. Desatei a rir e disse – lhe que estava em casa.
“Oh meu Deus, nem dá para acreditar. Por que diabo sou tão ingénuo?” e desligou.
Voltei a telefonar – lhe e pedi desculpa. Estava furioso mas aceitou. Depois comecei a pensar se o último riso seria de mim por pedir desculpa ou se porque talvez não estivesse onde disse que se encontrava com o rádio ou em lado nenhum.
Uma coisa era evidente para mim. Isto era polícia secreta e eu não fazia ideia daquilo que queriam. Podia muito bem ser por várias razões.
A minha primeira suspeita incidiu sobre Oley na medida em que viveu comigo durante seis semanas na altura em que rompera com a mulher. No entanto, o tempo provou que tal possibilidade era remota, dado Oley ter desaparecido alguns meses depois, só que eles não estavam a par. A minha associação com o bordel podia também ser uma razão. Tinha confrontado a Máfia e tomado cuidado com isso e especialmente na parte que me tocava já que era mulher e menos credível. Provavelmente pensavam que alguém estaria por trás de mim e andassem a tentar descobrir quem era?
Outra possibilidade era a de procurarem utilizar – se dos meus contactos e natureza extrovertida como uma ferramenta para conseguir entrar em certos círculos, fossem eles pobres ou ricos. Podia entrar em conversa fosse com quem fosse e tinha o dom de fazer com que as pessoas se abrissem para mim.
Finalmente, o episódio do bordel, coincidia com a altura em que Romano se tornara meu cliente, o que, por seu lado coincidia com a data em que começou a visitar – me. Alguns dos parentes de Romano tinham acesso a documentos secretos governamentais.
Fosse qual fosse a natureza da razão, os meses seguintes conduziram a mais visitas, a mais análises e o enigma encolhia – se para metade das possibilidades citadas acima.
Oley telefonou a convidar – me para um café. Estava na cidade por um dia antes de se ir embora por alguns meses. Disse – lhe que sim e estive com ele na hora exacta para o informar de tudo o que se passava. Oley não fez perguntas, sabedor de que antes de eu afirmar fosse o que fosse, estava lá, pronta para justificar a minha resposta. Perguntei – lhe se sabia de alguma coisa do que se passava no seio da Marina, especialmente em conexão com o dono de um certo restaurante. Olhou para mim abismado como se eu tivesse completado com êxito um enxame de graduação com distinção.
“Sei. O indivíduo esteve envolvido num enorme negócio de tráfico de droga, o ano passado”.
Naquele momento tudo encaixara. Não havia hipótese de paranóia. Tinha razão. Eram polícias de investigação e, no encalço da Marina, trilhavam o caminho certo. Em particular, adoravam a loja de gelados que era na porta ao lado de um restaurante muito particular na medida em que recebera inúmeros convites pua me encontrar lá com eles.
Mais tarde, Pedro, que eu acreditava ter ligações com os serviços secretos, pôs – me ao corrente de que uma rusga visando a droga tivera lugar na Marina. Mas havia qualquer coisa mais que permanecia desconhecido e até esse dia não consegui encontrar evidências suficientes para provar a minha teoria.
Continuava a receber clientes assim. Era tão previsível! Era como se eu estivesse vocacionada para os cheirar a uma milha de distância. Todos eles diziam o mesmo género de coisas ou agiam da mesma maneira. A maioria estava mais interessada em falar do que em fazer sexo. Acima de tudo estavam mais interessados em convidar – me para o exterior e em tornarem – se amigos. Eram todo um desastre no que respeita a manterem o disfarce embora se esforçassem tremendamente até ao fim para me fazer ver exactamente o contrário. Tratavam – me tal como se eu fora uma mulher ingénua e indefesa. Ou será que era essa a maneira de abordarem as mulheres? Mas toda esta alhada estava a começar a sair – me de controle. Uma coisa era estar com disposição para jogar o seu jogo, outra era estar tão envolvida nos meus próprios problemas e frustrações para tolerar isso. A certa altura surgiu um feliz acaso.
Telefonei ao Pedro a pedir ajuda. Sabia das minhas visitas e esperava poder lançar alguma luz sobre tudo isto.
“Farei o melhor possível. Vou telefonar a um amigo que é um dos homens mais influentes no Departamento da Polícia Secreta.
Pedro respondeu – me num espaço de tempo que mediou entre os cinco e os dez minutos a confirmar as visitas e ajuntando que o meu telefone estava também gravado. A intriga tomava corpo! Mais, no seu contacto com o Departamento descobrira também que não havia qualquer processo aberto e nada assinado para dar autorização a que fosse investigada.
“Está tudo bem, Diana. Portanto, agora acho que chega. Tinha sido feita uma queixa ao Departamento de Investigação, assegurou – me.”
As visitas acabaram durante uns tempos, apenas para começarem outras em poucos meses. Quando andava a suspeitar deles olhava pela janela quando se iam embora. Nove em dez vezes entravam para uma carrinha Mercedes ou BMW. Fazia tudo parte da imagem secreta do seu cartão Gold dirigido para o “Crime do colar” mas haviam mudado de estratégia e tentado tapar os buracos que haviam feito no passado.
Um homem ligou numa determinada manhã e reconheci – o como sendo um amigo de um cliente antigo. Procurou uma manobra diferente para ver se o aceitava. Em vez de dizer que fora um amigo que o recomendara declarou ter visto o anúncio no jornal. Ao perguntar – lhe qual a edição respondera:
“Foi no jornal desta manhã, naturalmente. Comprei – o na estação de serviço.”
Ri e pedi desculpa, ao constatar que naquele dia não trabalhara. A verdade era que há cinco dias que não saía um anúncio meu no jornal porque tinha estado doente. De qualquer modo não queria meter – me no jogo e desmarcará – lo. Livrei – o de embaraços. Para quê perder tempo? Corrigiria provavelmente dizendo que não tinha sido hoje que comprara o jornal mas na semana anterior.
Outra estratégia que usavam era mudar totalmente a aparência e pensar que podiam fazer de mim parva, mas não era a aparência deles que me enganava. Nesse dia dirigi – me à cidade para pagar a minha multa do carro sendo mandada parar por aquele polícia que eu vira sentado nuns degraus a meio da rua, quando ia descê – la. Quando entrei para o carro ele apareceu – me à janela:
“Olá, Diana. Lembras – te de mim? Tivemos um encontro próximo da tua casa”.
Sabia perfeitamente o que o indivíduo queria, portanto repliquei – lhe que me lembrava vagamente. Naquele momento não há dúvida que se sentiu sortudo e perguntou – me a se queria ir beber um copo com ele qualquer dia.
“Com certeza. Porque não? Tem o meu número. Ligue – me,” respondi ao mesmo tempo que testava a sua reacção.
Nunca tinha visto este homem, mas simplesmente não o quis contrariar. Depois, como podia ter alguma vez encontrado alguém na minha área onde só andava de automóvel e nunca falava com os transeuntes?
Finalmente, quando lhe disse que tinha o meu número ele não negou, o que significava que o recebera de um amigo.
Pelo seu comportamento, esse amigo era da Polícia Secreta. Além do mais, porque é que havia alguém de andar a espiar – me, tentando seguir – me directamente a casa.
Até este dia não fazia a mínima ideie do exacto interesse da polícia Secreta na minha pessoa. Enigmas aparecerem – me no meu trajecto. Excluíam – se algumas possibilidades.
Mesmo a convincente chamada de Pedro conduziu – me a acreditar que poderia ter sido uma desculpa para dizer:
“Está bem, tu sabes que procurávamos qualquer coisa mas se dissermos agora que não, é porque não andávamos e tu acreditas em nós, e podemos ser mais cautelosos para o futuro”.
Mas uma coisa é clara, todos desertaram durante um curto período após ter falado para Pedro, só para voltarem depois com um disfarce diferente. Olhando para o lado positivo disto tudo, arranjei maneira de lhes modificar o comportamento e, pelo menos “arranquei – lhes a máscara.”
CAPÍTULO 21
Tinham agora decorrido dez meses desde que começara e já excedia em cinco meses o primitivo tempo planeado. Romano, que ligara nesse dia por causa do anúncio do bordel, acabara por visitar o meu apartamento e permaneceu um fiel regular durante oito meses.
Romano, ao contrário de mim, não tinha, tido tanta sorte como eu em arranjar um grande número de amigos. Era mais reservado, e, assim dedicava o seu tempo apenas ao negócio, trabalhando no duro, para colocar os seus produtos na liderança do mercado.
A quantia que eu cobrava tinha um tempo limite de meia hora sabendo – se muito bem que nunca passaria esse tempo todo na cama com um cliente, mas tinha de haver um tempo obrigatório.
Falando com sinceridade, o tempo requerido depois de me despir, era na generalidade inferior a cinco minutos, dependendo, naturalmente, do dedicado a diversão. Em casos raros, em que um freguês não atingia o clímax ao fim de cinco ou dez minutes, usava uma certa técnica secreta, uma determinada posição em que, rapidamente o atingia sem, no entanto, parecer que estava a apressá – lo porque, acontecesse o que acontecesse, não podia sentir – se pressionado.
Nunca dei uma segunda hipótese a não ser, é claro, no caso de pagarem para isso. O que me diferenciava das outras congéneres era o meu cuidado com os clientes. Embora não fosse obrigada a fazê – lo, e a maioria das profissionais não o fariam, encontrava – me insensivelmente a conversar naturalmente com eles, a compensá – los assim pela sua máxima prodigalidade. Para além disso, dava especial atenção aos meus regulares, especialmente aqueles que eu achava mais carentes.
Após a sua segunda visita, Romano passou a ser um dos poucos clientes que reservada uma hora por inteiro. Embora, na verdade, passássemos pouco tempo a fazer sexo, conversávamos horas a fio, muito para além da sua hora de retribuição e não raras vezes dava comigo a convidá – lo para jantar e conversar, na medida em que achava que precisava de companhia.
Ao longo da nossa história cheguei, afinal, a imaginar algo que não estava certo. Passava todo o seu tempo ocupado com o negócio, o que era perfeitamente compreensível, para alguém para quem a vida é o trabalho, mas havia qualquer coisa que não conseguia compreender. Isto começou a ser mais perceptível quando pus o Romano a par duma espécie de namoro com um velho amigo. O relacionamento durou algumas semanas e, desde o princípio, nunca levei isso a sério, na medida em que não podia sentir – me confortável com um homem que não acatasse a minha linha de trabalho. Estava condenado à partida.
A atitude cooperante de Romano com o seu comportamento começou a mudar determinantemente a partir do momento em que lhe disse que me envolvera com Harry, e, chegado ao ponto de não mais poder conter – se disse:
“Como é isso humanamente possível que um homem se conforme com o facto da sua namorada andar neste género de vida? Devias tomar atenção e ver que ele te quer ver fora disto”.
Fiquei baralhada com a observação, na medida em que antes tinha resmungado qualquer coisa que significava exactamente o oposto. Além disso, sabia que Harry estava desempregado. Mesmo que o pobre homem quisesse, não conseguiria.
Era o começo do fim, e daí para a frente as coisas começaram a mudar. Certa noite, decidi ir a uma boîte, pela primeira vez desde há anos, limitando a visita de Romano à hora que tinha marcado. Amuou e disse que estava a ser pressionado. A partir daquele momento modifiquei a minha atitude em relação a ele. Chegou à conclusão que tinha feito asneira e na visita a seguir deu – me de gorjearia o equivalente a quatro horas.
O que depois estragou os meus pensamentos e atitudes em relação a Romano foi algo que permaneceu como uma arma apontada devido a ter-se apaixonado por mim. As minhas tentativas para encontrar uma alternativa de trabalho, estavam absolutamente fora de questão e nesse dia mencionei – lhe um certo projecto na medida em que se tinha outrora posto à disposição para me dar apoio com os seus conhecimentos. Sinceramente, penso que Romano estava convencido que a ideia era completamente outra, que eu nunca me abalançaria a tal coisa.
Como o trabalho dele consistia no aprovisionamento de uma grande cadeia de armazéns, era – me indispensável para abrir algumas portas. Miguel concordou em dar uma ajudava a lançar uma selecção especial de cartões de cumprimentos dirigidos ao mercado, arranjando os contactos necessários.
Foi aqui que a minha consideração por ele baixou. Pela primeira vez, Romano “sentiu-se no controle”, algo que antes não era capaz de sentir comigo, independentemente do seu status financeiro. Começou progressivamente a ignorar as minhas mensagens. Sabia quão importante era este projecto para mim e provavelmente, chegou à conclusão que poderia ser um êxito. Fiquei danada.
Não obstante este facto, continuei a aceitá – lo como meu cliente. Durante uma conversa ouvi – o dizer a certa altura, “Mesmo se conseguires, não percas os teus clientes por agora!”
Era enigmático. Tudo o que dizia parecia contraditório em relação às suas observações passadas, contradição essa ligada a certo período, na medida em que num determinado passo diligenciava acalentar a possibilidade de eu abandonar a profissão. Comecei a juntar o puzzle chegando à conclusão de que após ter presenciado o meu relacionamento recente, andava de certo modo a tentar castigar – me ou, simplesmente, desejava que continuasse nesta vida. Nesse caso tinha de o fazer até pagar as minhas dívidas. Isto quer dizer naturalmente que levaria muito mais tempo a saldá – las. Tentar o Jackpot era, na realidade, temível. Para além do mais, seria intimidante para um homem que considera o poder como sendo a base dos investimentos financeiros. Felizmente para mim e infelizmente para ele, não considero o poder derivado da riqueza. Tentei em muitas ocasiões dizer – lhe que o dinheiro não podia garantir a felicidade.
Sentindo – me cada vez mais frustrada com o decurso dos acontecimentos, comecei a dizer para mi mesma que era preciso ganhar coragem. Não mereces uma coisa destas! Tens sido sempre a primeira a ajudar toda a gente! Mas a frase que se destacava na minha mente era “Quem semeia ventos, colhe tempestades”. Sentindo – me zangada com respeito a Romano e muito emocionada, convenci – me que um dia havia de pagar a sua conta.
“O tempo de lhe – de mostrar chegará! Um dia há – de olhar para trás e respeitar – me por ter sido sua amiga, pela compreensão ante a sua melancolia, e tornando – o bem-vindo a despeito da amargura que crescera dentro de mim. Mais importante ainda, um dia fará uma retrospectiva e há – de meditar e interrogar – se porque é que fez o que fez, na medida em que eu podia ter sido uma cabra autêntica e, ter querido controlá – lo e sugar – lhe a maior quantidade de dinheiro que fosse possível”.
Mau grado toda esta animosidade, Romano não deixava de visitar – me e aprendi a engolir o meu ressentimento.
Certa manhã acordei com o mais bizarro dos sentimentos. Não podia nem pela minha vida deixar de pensar em Romano. Nunca acontecera antes e sentia – me peculiarmente estranha. E continuou até à sua visita seguinte.
Eu e Romano encontrávamos – nos deitados na cama, ele com um copo de whisky e eu com um cigarro. Como era seu costume, Romano falava dos êxitos do negócio enquanto os olhos de ambos fixavam a vela que iluminava o quarto. Não ouvia nem uma palavra daquilo que estava a dizer. As suas palavras eram bloqueadas pelos meus pensamentos:
“Diacho, porque é que hás – de estar a tentar sempre impressionar – me? Porque é que exageras sempre que falas de dinheiro para impressionar? Meu Deus, fazes alguma ideia de que as pessoas podem gostar de ti, sem ser em resultado daquilo que um dia serás capaz de comprar? Não vês que se não falares da maneira como o fazes, estaria loucamente apaixonada por ti?” Pensei.
Regressei do meu aturdimento e ele continuava ainda a falar de dinheiro. Fiquei triste porque as más recordações eram mais fortes do que o que começava o sentir por ele. No final de contas, como podia apaixonar – me por alguém que quer estar no controle? Queria – lhe falar acerca do que tinha sentido no passado e o que começava a sentir. Assim poderia talvez defender – se, talvez convencer – me de que o passada era uma má interpretação da minha parte. Contudo não podia. O passado ainda dominava o presente.
O meu espírito voltou rapidamente ao trabalho e, como de costume Romano tomou a chefia. Deitado na minha frente começou a acaricia – me o rabo com as duas mãos. As frustrações dos meus recentes pensamentos amplificara – me os sentimentos, provocando – me formigueiros, desejando que me preenchesse um indescritível vazio que ocupava todo o meu estômago. Na medida em que olhava para a vela apercebi – me do desejo intenso que sentia por dentro. Transmitindo a explosão interior, Romano começou morder – me as nádegas como nunca havia feito antes; meigamente chupando e beijando – as antes de se aventurar na descida à procura do meu clítoris. Virei – me para lhe dar mais acesso. Queria senti – lo bem dentro de mim de maneira a aniquilar – me a fome, a concupiscência. Com a boca, foi deslizando desde o meu clítoris até à abertura da vagina, já que estava muito húmida. Abri os olhos para ver a nossa sombra na parede com o reflexo da luz da vela. Estava pronta para explodir. A sensação era tão maravilhosa, tinha um poder tão grande que eu queria fazer parar o tempo e viver assim…sempre. Como um eco perfeito, Romano transmitia – me cada bit de desejo que lhe oferecia, agarrando com um intensidade crescente os escaldantes sentimentos que partilhávamos. Depois, levantou – se, olhou profundamente a minha alma e beijou – me a face enquanto o seu pénis penetrava na minha vagina. Não se moveu, pois que era uma bomba prestes a explodir. Todo aquele poder se apossou do meu ser e me forçou a fechar os olhos uma vez mais. Não me podia aguentar por muito mais tempo. Inesperadamente senti Romano a acelerar a respiração conduzindo – me a libertar toda a energia acumulada e pronta para detonar quando estivéssemos juntos.
Virei – me e comecei a olhar para a vela outra vez, embaraçada com o que tinha sentido, embaraçada por não ter conseguido controlá – lo. O quarto estava de tal modo silencioso que quase podia ouvir o tremeluzir da vela. Eu e Romano estávamos demasiado tímidos para nos olharmos. Sentíamos – nos intimidados pela experiência. Passado um pedaço atravessou – me com o seu olhar como se o tivesse fixo na vela.
“O que se passa?”, disse num tom de voz quase inaudível.
Sabia exactamente o que se passava porque experimentara o mesmo, mas estava a ser educado e tentava cortar silêncio. Voltando mais uma vez ao passado, repliquei:
“Deus meu! Que intensidade!”, numa voz quase confundida com o silêncio que continuava a imperar.
Assim permaneceu Romano, sem falar, forçando – me a acrescentar alguma coisa para quebrar o gelo.
“Oh! acontece cada vez mais depressa…denoto – o.” E não continuou.
“O que é que tu sentes?”
Levei o meu tempo a responder e finalmente disse:
“Sinto cada vez mais que estás a fazer amor comigo”.
Evitando o “estamos a todo o custo.”
Não tardaria a acontecer que eu dissesse que tinha começado a pensar que o todo da situação se estava a tornar perigosa. Tinha – me passado pela cabeça alvitra – lhe que devia espaçar as visitas. Mas o que estava para acontecer no dia a seguir ia pôr fim à nossa história.
Quando Romano me visitava nas noites dos últimos dias, não era raro estar a dormir quando ele se ia embora, e deixava o dinheiro em cima da quebra – luz.
No dia seguinte fiquei admirada por verificar que o dinheiro que me deixara não correspondia ao seu valor habitual. De modo nenhum podia mandar – lhe uma mensagem a perguntar se se enganara e isso estava, naquela noite, a dar comigo em doida. Lembrei – me de todas aquelas vezes em que me deixava sempre boas gorjetas e senti uma vontade incontrolável de lhe enviar uma mensagem. Mas logo a seguir pensei ”calma, certo? deixou – te gorjetas ocasionalmente, mas e as vezes que havia reservado uma hora e passava várias a fio, sem sonhar sequer em cobrar – lhe por isso, … E então aquele tempo em que ele…”
Naquele momento peguei no meu celular e escrevi:
“Olá, tudo bem? Penso que te enganaste com o dinheiro na noite passada”.
Respondeu prontamente:
“Sim! Pensei que te tivesse deixado… Isso não estava certo? Se houve engano não tenhas medo de me dizer e assim posso rectifica – lo – ei.”
Havia equívoco, sim senhor, mas como podia eu expressá – lo? Se sempre guardara para mim todo o seu aborrecido comportamento passado, como diabo iria explicar – lho? Tinha a mesma sensação tal como se parecesse que estava tensa ou coisa similar e que não era eu que estava ali. Era ao nosso passado que a obsessão procurava lembrar – me da inevitabilidade da sua presença. Era a propósito de ser boa e leal para ele não obstante o que acontecera. Era acerca de ser recompensada desta maneira. Talvez fosse também a tentativa de se escapar daquele sentimento profundo que sentira juntamente com ele na noite anterior afim de evitar o imprevisível?
Comecei a bombardeá – lo com várias mensagens acerca de quão estúpida tinha sido com os meus clientes. Todos os meus sentimentos de raiva eram interpretados numa sequência de mensagens que eram lógicas para mim mas indecifráveis para ele. O ódio transportado por tais mensagens devia estar a extravasar nele. Os insultos à sua atitude devem ter sido lidos e interpretados com uma marca de pergunta psicologicamente alienada. Mas não, não teve hipótese quando lhe expliquei sem rebuço na última mensagem, que era isso.
Um dia depois, Romano pediu – me os dados da minha conta bancária para transferir dinheiro que lhe havia pedido para efectuar. Respondia – lhe continuamente que o a transferência devia somente ter lugar como tinha sido combinado, no fim do mês, replicando – me:
“Ao invés das pessoas que dizem coisas e que não mantêm a palavra dada, eu mantenho. Portanto, se disse no fim do mês será no fim do mês.”
Continuou a insistir até que aceitei enviando – lhe os meus dados bancários. Romano transferiu o dinheiro que tinha em mente, apenas com a diferença de ser Sábado à noite o que acarretou uma mensagem do seguinte teor:
“Recebi a transferência. Bem hajas. Um dia avaliarás porque reagi como o fiz. Não era por causa do dinheiro.”
De certo modo tentei compreender o seu ponto de vista. Romano sempre havia marcado uma hora e nessa hora só costumávamos fazer sexo uma vez. Nas poucas ocasiões que fizemos duas vezes, pagava – me extra. Os outros clientes eram onerados por meia hora e tinham uma oportunidade, mas possuíam a opção de marcar uma hora e ter, assim, uma segunda oportunidade. Naquela noite tínhamos feito sexo uma vez antes daquela cena tão intensa. Todavia esperava que deixasse mais dinheiro pois fora o que me ensinara a esperar no passado.
Duas semanas se haviam escoado desde ou nosso mútuo contacto. Quando lhe escrevi a última mensagem, não me passava pela cabeça que havia de começar a escrever este livro dentro de alguns dias. E agora, ao escreve estas palavras, sei que Romano há – de algum dia ser conhecedor por que é que reagi como de facto reagi. Será talvez um sucesso, e será graças a ele que possivelmente consiga realizar milhões. A seu tempo se verá.
CAPÍTULO 22
A minha lista de “clientes regulares ” estava a ser criada. Em, pouco menos de um ano chegava a praticamente aos trezentos. De cada vez que atendia um cliente fazia uma nota com todas as observações e outras informações que me dava então azo a baptizar um cliente como “regular” na sua terceira visita.
Estávamos no princípio do ano e enfrentava a minha depressão pós Natal. Tinha banido Romano de me visitar após a ruptura e isso também não ajudava. Afinal, quanto a ele, dá a impressão de que não fazia a mínima ideia da razão de ter reagido daquela maneira. Enquanto pensava, recebi uma chamada no meu telefone de trabalho. Era uma mulher! Achei isso muito estranho e estava céptica. Disse que procurara na secção classificada do jornal e que o meu anúncio lhe chamara a atenção.
Comentei que não podia ajudar, já que trabalhava só e não era empregada.
“Chamo – me Marilyn, compreendo. Mas estou em apuros. Sou educada e com responsabilidades. Desempreguei – me no ano passado e já não aguento mais. Não tenho alternativa”.
Não me deu espaço para colocar qualquer palavra à margem e, antes que me apercebesse, tinha – me convencido a encontra – me com ela na manhã seguinte.
Ligou quando eu andava a patinar ao longo da avenida do mar, com a minha filha. Tinha – lhe dito para se encontrar lá comigo afim de evitar dar – lhe o meu endereço e mal tinham passado dez minutos, chegou.
Estava muito ocupada com a minha filha para me aperceber que a senhora estava ao pé de mim. Quando me prendeu a atenção, sorriu e desculpou – se por me incomodar, apresentando – se.
Marilyn perguntou – me se a minha filha vivia comigo. Respondi – lhe que morava com os meus pais antes de a avisar que tinha limite de tempo para conversar dado que passava pouco com ela desde que me tornara prostituta. Marilyn pediu, uma vez mais desculpa antes de me expor a sua situação.
“Estou deveras desesperada. Perdi tudo o que tinha! Auferia um salário bastante elevado durante os passados 20 anos. Agora não tenho nada. Não tenho escolha. Preciso trabalhar. Farei seja o que for”.
Pela primeira vez olhei para ela. Deparei com uma mulher triste, cheia de amargura com cerca de quarenta e cinco anos. As cicatrizes da vida eram visíveis na sua expressão. Era de constituição pouco volumosa, baixa e muito educada. A sua voz era pouco mais que audível e, no seu desespero, fazia – a soar como um grito de pedido de ajuda. Achei – a genuína. Olhei – a nos olhos pela primeira vez. Nunca o fazia com ninguém que não fosse para verificar a sua sinceridade.
Respondi – lhe que deveria ir ao meu apartamento no dia seguinte. Dei – lhe o endereço e aconselhei – a ser positiva e a despedir – se.
Logo de manhã cedo, no outro dia, Marilyn ligou e chegou à minha porta em poucos minutos. Entrou, sentou – se à minha mesa e começou a desenvolver os poucos detalhes que tinha tocado no dia anterior.
Tal como eu, Marilyn tomara uma decisão errada no que dizia respeito à sua carreira. Decidira que era tempo de começar a ganhar como independente aos dezoito anos no seu posto de trabalho. Não resultou. As consequências tinham sido devastadoras. Inopinadamente, esta mulher divorciada, que ganhava quatro vezes o salário mínimo nacional durante todos aqueles anos, encontrou – se num beco sem saída com pesadas consequências financeiras. Trabalhadora independente não resultou e daí a má situação económica provou revelar – se fatal.
Senti verdadeira compaixão por Marilyn; Estive lá e continuava a estar embora tivesse já aceitado a ideia. Era – me mais que familiar tal situação. Sabia quão difícil e verdadeiro era após a análise das suas respostas e concordei em deixá – la usar o meu apartamento para trabalhar. Compreendi que não podia utilizar o dela porque os filhos viviam lá. Assim, autorizei a Marilyn a utilizar a minha casa para trabalhar na condição de, a despeito do número de clientes, me pagar uma renda diária fixa.
Ajudei – a a colocar um anúncio e providenciei – lhe os conselhos necessários que precisasse.
Esta mulher que estava a ajudar, estava confusa, economicamente embaraçada e pessoalmente desmoralizada. O seu recente envolvimento amoroso chegara ao fim mas estava ainda muito vivo na sua memória. O efeito era violento e invadira – lhe todas as áreas da vida e por vezes preocupava – se mais com o relacionamento acabado do que em enfrentar as suas responsabilidades financeiras.
Fiquei desarmada com ela. Não tinha mesmo dinheiro suficiente para comprar leite para a mãe doente ou comprar cigarros. Tinha de agir rapidamente e decidi – me a contactar dois dos meus clientes regulares, André e Pedro. Falei – lhes de Marilyn pedi – lhes para irem a ela em vez de mim na sua próxima visita. Ambos concordaram e, para minha surpresa, fizeram imediatamente as marcações.
André era engenheiro e ia nos seus cinquenta, possuía cabelo grisalho e usava óculos. De carácter sério, era pouco conversador. Ao contrário de outros regulares meus não vinha ali para falar do tempo ou algo mais para esse efeito. Fazia tudo mecanicamente. Conhecia a sua própria rotina e respeitava – a com fidelidade.
André era um homem forte. As nossas experiências conjuntas eram invariavelmente as mesmas. Costumava chegar pela manhã, dar – me um beijo de boas vindas, depois dirigia – se directamente para quarto, acendia um cigarro enquanto eu me despia e, a seguir, deitava – se na cama a fumar, sem cuecas, sem esquecer um único pormenor.
Quando acabava de me despir, o cigarro balouçava – lhe ainda entre os dedos, de mão estendida para a parede como para me permitir a inaugurar a acção. Começava por lhe sugar o pénis e dentro de alguns segundos os seus gemidos começavam, ante os quais a ponta do cigarro era violentamente amachucada.
Pedia depois para me estender a seu lado, com o rabo virado para ele, Era tudo tão previsível! Costumava depois sussurrar “gostas? Gostas, huuum?” Quanto maior era a arremetida mais audível o seu cântico se tornava. A sua voz, quando chegava a este ponto tornava – se dominadora. Era este o meu sinal. Era o sinal de que tudo estava prestes a terminar. Eu habituara – me também, então, a gemer ao seu ritmo afim de acelerar o processo, movendo o meu rabo ao mesmo tempo e cada vez mais. André dava depois um grande suspiro de alívio, embora na realidade nunca ejectasse líquido. A sua recente operação inibia – o. A missão estava cumprida e nalguns minutos estava vestido, deixava o dinheiro em cima do meu banco de ginástica, despedia – se e ia – se embora.
Pedro, o outro cliente que contactara para Marilyn, era um cavalheiro realmente encantador, usava o cabelo, brilhante e prateado, penteado para trás; devia rondar a casa dos setenta. Exprimia – se num inglês puro e com sotaque aristocrático. O seu nível desta língua era notável. Trabalhara no estrangeiro durante muitos anos da sua já longa vida e durante os nossos muitos encontros, era seu hábito tratar – me por “Senhora Cardiff.” O aspecto rechonchudo de Pedro era sempre bem disfarçado num fato e terminava com um par de brilhantes sapatos pretos. A camisa era sempre abotoada no pescoço com uma gravata cuidadosamente colocada.
Referia – me a ele como o “velho” Pedro para o diferençar dos muitos que tinha. Nunca tirava as cuecas. Penso que a idade não o autorizava a ter uma erecção. O seu objectivo era dar – me prazer a mim e só a mim. Era também seu hábito fazer – se sempre acompanhar de um a bisnaga de gel lubrificante e se esquecia dela no carro, umas vezes por outras, tinha de pôr tudo em suspenso enquanto a ia buscar.
Nunca lhe vi o pénis. Seria naturalmente difícil com as suas cuecas que não largava. Tirava a camisa e a gravata e sentava – se na beira da cama à espera que me despisse enquanto me lisonjeava com bonitos comentários.
Gentil e lentamente, começava a sugar – me os peitos logo que acabava de me deitar a seu lado, enchendo então o outrora silencioso aposento com o som do seu chupar. Enquanto o fazia, pegava no gel e colocava um pouco no seu dedo. Depois, movia lentamente a mão para baixo e colocava o pedacinho no meu clítoris antes de espalhar o frio creme a toda a volta, para cima e para baixo, desde o clítoris até à minha abertura vaginal. Os momentos eram tão delicados e vagarosos que me estimulavam juntamente com o gel cuja sensação era já de si suficiente!
Nalgumas ocasiões atingia o clímax juntamente com Pedro. Era como se fosse uma obrigação, como se não pudesse enganá – lo. Conhecia muito bem o corpo feminino e certamente não ia acabar a não ser que soubesse que me tinha vindo. Possuía um objectivo… dar – me prazer. Era como provar a si mesmo que ainda tinha potencial. Que ainda era um homem. Que ainda podia fazê – lo.
Recordo – me de estar com Pedro naquela cama só em corpo enquanto o meu espírito vagueava e se enchia de cenários eróticos de maneira a poder conferir – me o seu desejo e o clímax. No fim de contas era esse o objectivo de Pedro.
Marilyn recebeu o seu primeiro freguês naquela tarde. Era o André. Estava muito nervosa e precisamente antes da campainha da porta soar acabava de lhe descrever a rigorosa rotina de André.
A campainha soou. Chegava. Marilyn ficou paralisada na sala de estar durante uns breves segundos, perguntando o que diabo iria fazer com ele.
“Vamos, Marilyn. Fazes o que sempre costumas fazer”, acrescentei.
Não teve tempo de me dar resposta. André já se encontrava na porta da frente do apartamento. Ela abriu – lha, saudou – o e André portou – se como habitualmente, foi directo para o quarto de dormir. Marilyn olhava para mim, sentada na sala de estar, mordia os lábios, arranhava a cara e lá foi a juntar – se a André.
Os minutos começaram a desfilar e um silêncio total preenchia o aposento. Tudo se passava no vazio. Meia hora se escoou e ainda não havia sinais de vida. Estava a achar o caso estranho já que a rotina de André nunca ocupara mais de doze minutos do meu tempo; três para se despir, três para fumar o seu cigarro, três para me voltar de lado e atingir o clímax e três para se vestir e ir – se embora. Mas que diabo se estava a passar? Pensei e sossegando – me ao mesmo tempo já que André era simpática e inofensivo.
Tinha passado precisamente uma hora quando Marilyn abriu a porta da alcova. André dirigiu – se para o quarto de banho enquanto ela esperava para o acompanhar à porta. Depois foi para a sala de estar com um sorriso estampado no rosto.
Estava desmesuradamente satisfeita e quando lhe perguntei porque é que tinha os olhos marejados de lágrimas replicou:
“Diana, vim – me. Acreditas? Só agora vejo quão grosso é o meu namorado na cama. O alma do diabo trata – me pior do que um animal e só se interessa por ele. Este é que é um homem, Diana. Um homem na verdadeira acepção da palavra! Gentil, um verdadeiro cavalheiro! Tratou – me com afecto”.
Enquanto falava, comecei a pensar bastante confusa como é que o tal namorado devia ser, naturalmente sem nenhum préstimo, e quão carecida tinha Marilyn permanecido todo este tempo. No final de contas, se a sua experiência com André era algo de excitante…
Sentimo – nos aliviadas, tudo ia muito bem e antes de Marilyn se aprontar para ir embora para casa, puxou pelo dinheiro da renda e colocou – mo em cima das mesa da sala de jantar. Peguei nele e coloquei – lho nas mãos. Recusei – me a recebê – lo e disse – lhe que o primeiro dia era de graça. Continuava teimosa mas consegui convencê – la a usá – lo para comprar leite à mãe.
No dia seguinte era a vez do velho Pedro visitar Marilyn. Agora Marilyn estava mais descontraída e poupou – me aos pormenores.
O seu anúncio saíra no jornal naquela mesma manhã e quando ela e Pedro acabaram começou a atender as chamadas depois de lhe ter dado algumas breves instruções de como se comportar. Para seu horror, uma das primeiras que recebeu era do namorado! Ficou pior do que estragada e desligou antes que ele se apercebesse quem era.
Passou o resto do dia a amaldiçoá – lo, mesmo sabendo do seu comportamento habitual. Não era nenhuma novidade. Isabel começou então a contar como é que um dia se apaixonara por uma stripper do Leste Europeu. Deixou – a só para retomar o relacionamento anterior quando a outra regressou ao seu país. Fiquei a saber que era um relacionamento anormal que tinha entre mãos mas também naquele momento senti que Marilyn estava a fazer aquilo não só por dinheiro mas decerto também para provar que era capaz de o fazer. Para ela era a confirmação de que possuía ainda a mesma das outras mulheres.
A idade dela constava nos anúncios e ambas estávamos surpreendidas com a quantidade de chamadas de jovens que recebia. Achei isso bizarro, mas era verdade. No entanto, Marilyn tinha um problema; perdia clientes devido ao seu comportamento ao telefone. Em lugar de ser breve na conversa, pelo contrário passava mais de quinze minutos a tagarelar com os potenciais clientes.
Um jovem que costumava telefonar – lhe todos os dias e, perante a minha incredibilidade, quando eventualmente a convidou para um copo, ela aceitou. Depois de desligar, comecei a repreendê – la.
Eu e Marilyn chegamos a um acordo, que me pagaria uma renda mas não poderia fazê – lo se mal recebia clientes. Tinha – a autorizado os primeiros dias para a ajudar e começou a tirar partido da situação.
Embora passasse a maior parte do seu tempo a lamentar – se da situação financeira, os problemas de relacionamento tomaram conta dela. Alguns dias nem chegava a ligar o telefone e naqueles que o fazia era como se andasse à procura de homens para conversar em vez de o fazer para trabalhar. Comecei a sentir – me usada e cada vez mais zangada na medida em que perdi muitas marcações devido aos clientes de que estava à espera à mesma hora.
Passadas algumas semanas, cobrei ânimo para falar com ela. Não tinha alternativa, andava a fazer de mim parva e a bomba dentro de mim estava prestes a explodir. Disse – lhe exactamente o que sentia e que preferia pôr um ponto final nisso. De resto, passara para ela alguns dos meus clientes e não estava a receber nada em troca. Em vez disso, estava a perder dinheiro e a minha situação era pior do que a dela.
Marilyn respeitava tudo quanto lhe dissesse. Sabia que tinha toda a razão. Conseguimos maneira de continuarmos boas amigas e apoiávamo – nos mutuamente nas nossas longas conversas quando estava à espera de clientes.
Partilhámos muitos segredos e discussões e compreendíamo – nos e respeitávamo – nos reciprocamente. Éramos cúmplices. Chegámos a reunir – nos com as nossas famílias guardando o nosso segredo a chave e cadeado. Ganhei uma boa amiga, uma amiga que alguns meses depois recebeu uma oferta de professora no Sul que lhe ia conferir a estabilidade financeira de outrora. Mas a minha luta continuava.
CAPÍTULO 23
O período natalício tinha deixado a situação económica de toda a gente pior do que nunca e os dias começaram a passar muito lentamente. Os telefonemas eram mais raros e a certa altura fui forçada a sair e comprar o jornal para ver se o meu anúncio tinha sido colocado. Tinha de mudar de estratégia. Só devido aos meus regulares continuava a ter trabalho.
Marilyn tinha passado por ali uma tarde para me fazer companhia e comecei a contar – lhe o que se passara com Romano e como e porque o tinha banido algumas semanas atrás. Expliquei – lhe como me sentia mal por não ter compreendido porque reagi da maneira como o fiz.
Este pensamento já me obcecava pois que detestava deixar correr as coisas ambiguamente ou sem explicações. Todavia fiquei surpreendida com os sentimentos de culpa e por alguns momentos comecei a lembrar – me o que Romano frequentemente me sugeria que devia fazer: subir o preço.
Disse a Marilyn que ia tentar com a classe média mais rica. E assim fiz. Coloquei um anúncio num jornal diferente que subia o preço para evitar chamadas desnecessárias.
Para ser agradável, os meus regulares, por outro lado continuavam com os preços habituais. Dali para diante alguns novos visitantes seriam debitados pela nova tarifa. Triplicara os meus preços e naquele mesmo dia saí a comprar um telefone diferente afim de receber chamadas dos potenciais clientes “caros.”
No dia seguinte tentei fazer um esforço em relação a esta nova categoria de clientes pensando que não poderia abrir a porta sem melhorar a maquilhagem. Depois, os telefonemas iriam começar. Ao responder ao telefone, a primeira coisa que ia perguntar era se a pessoa estava inteirada da nova tabela citada no anúncio. Era assim a minha maneira de poupar tempo ao telefone. É, na verdade, interessante que nas escassas ocasiões em que não fiz esta pergunta ao interlocutor, e quando no fim perguntavam o custo da parada, achavam muito caro.
A despeito da diferença de custos, o processo global era o rotineiro menos o facto de os clientes não serem restritos a trinta minutos (embora costumasse passar mais tempo a falar com os meus regulares) mas passavam a usufruir de uma hora. Sexo era igual para todos. Quer fosse ministro, doutor ou meramente desempregado, o sexo não diferia embora achasse que a maioria destes sujeitos eram mais indecentes, mais vaidosos do que os outros. Alguns deles utilizavam linguagem vulgar, especialmente aqueles que usufruíam de posições superiores.
Os mais jovens estavam por via de regra envolvidos em medicina. Raramente viam as esposas devido ao seu longo horário de trabalho e a maior parte deles dava a impressão de que eram casados com mulheres que partilhavam carreiras similares bem como o status social. Um dos homens no início da década dos trinta que viria a ser um regular, disse – me que aguentava o casamento por causa dos congressos:
“É bom chegar a estes encontros acompanhado de uma mulher pertencente à mesma actividade.”
Não dava para acreditar ou, na verdade, era eu que não podia. Isto é, só porque tinham meia dúzia de congressos por ano, suportavam um casamento sem significado algum que não lhes dava felicidade nem satisfação o que implicava para muitos encontrarem -se a visitar prostitutas.
Nos intervalos entre clientes, continuava a convidar Marilyn para me manter entretida embora metade do tempo costumasse distrair – se com cartas de taró. A certa altura encontrava – me deveras preocupada na medida em que consultava as cartas por dá cá aquela palha e tomava as respostas como verdade irrefutável conduzindo por vezes a situações negativas extremas. Parecia que as cartas haviam assumido o controle da sua vida e passaram a dominar -lhe cada movimento ou acção.
A outra metade do tempo passávamo – la a rir e a brincar a respeito das minhas experiências com os clientes. Mas um deles não era motivo para risota. O modo como banira Romano cada vez me preocupava mais. Marilyn costumava lançar as cartas para consulta e depois insistia que eu apenas me sentia culpada porque o que acontecera fora nem mais nem menos por me sentir atraída por ele. Isto constituía novidade para mim.
À medida que os dias iam passando continuava a insistir que eu tinha sentimentos em relação a romano. Discordava por via de regra e insistia que era devido ao que ficara em aberto.
Certo dia quando voltou à sua teima veio – me à ideia aquela noite em que Romano fez amor comigo. Concentrei – me uns momentos a recordar e revivi na carne os sentimentos que me havia transmitido. Marilyn continuava a falar enquanto eu mergulhava nas minhas reminiscências. Saí da minha quimera e principiei a ouvi – la na medida em que continuava a falar. Naquele momento visualizei a validade daquilo que dizia. Podia, de facto, ser verdade aquilo que ela estava para ali a arengar? Considerei em voz alta.
Cada vez que pensava em Romano lembrava os momentos em que ele estava a falar para mim e em breve dei comigo a pensar nele cada vez com mais frequência. Era como se estivesse a pensar em mim e não o pudesse sacudir da cabeça. Era com se me atraísse por qualquer espécie de telepatia e se estivesse tornando desagradavelmente incontrolável. Contudo, o sentimento de culpa prevaleceu. Tinha de fazer alguma coisa. No mínimo desanuviar o ambiente e torná – lo conhecedor das minhas acções passadas, dar – lhe satisfações afim de explicar a minha atitude prévia. Assim, havia de me sentir melhor e mais leve. A minha rectidão de carácter não precisaria de continuar a carregar o fardo.
Algumas semanas se passaram desde a discussão com Romano e não podia esperar mais tempo. Ganhei coragem e decidi enviar – lhe uma mensagem escrita. Quando ia executar o plano lembrei – me que já não tinha o número, tinha – o apagado cheia de raiva.
Procurei no arquivo de mensagens a ver se o podia recuperar numa das suas mensagens passadas. Lembrei – me dos quatro primeiro números do seu telefone e encontrei uma mensagem que os mostrou. Rapidamente coloquei uma adenda na e enviei – a.
Alguns minutos depois recebi uma chamada do mesmo número. Não era ele! Era o número de qualquer outra pessoa. Avisei – os do engano e desliguei. “Talvez fosse isso mesmo que eu desejava que acontecesse. Talvez não quisesse contactar mais o Romano”, pensei de mim para mim.
Precisamente quando julgava toda a esperança perdida, lembrei – me de vasculhar no meu telefone antigo. Tinha sido forçada a mudar de telefone devido à sua irrealidade de datas arquivadas. Era estranho, sempre que desligava costumava recuperar o antigo data do passado. Peguei no telefone e liguei – o. Bolas! Também ali havia apagado o número de Romano. Procurei na memória das mensagens, nas chamadas falhadas, nas marcadas, e nas recebidas mas nada. Inopinadamente o telefone pregou uma das suas velhas partidas e desligou. Para meu assombro, ao voltar a liga – lo, o data havia sido reposto. Lá estava o número do Romano! Durante horas pensei que não queria dizer que fosse mas, afinal de contas, até era!
Durante muito tempo estive a pensar até que acabei por encontrar a mensagem certa para lhe enviar. Estava ainda apreensiva na medida em o processo global de recuperação tinha sido bizarro! Rabisquei algumas linhas a dizer que esperava que tudo estivesse bem com ele. Para minha surpresa recebi resposta dentro de alguns minutos.
Estava receosa de abrir o texto, já que me sentia insegura em relação ao modo como iria reagir. Por tudo quanto sabia podia ter dito que me lixasse e não me dar hipótese alguma de explicação pelas minhas acções passadas. Quando finalmente abri foi deveras consolador aquilo que li,
“Estou bem, obrigado. Encantado por ter notícias tuas!”
Sentia como se ele tivesse estado em cada momento esperando para ver quando é que finalmente chegaria uma mensagem. Estava feliz, na medida em que a resposta tinha diminuído a minha tensão. Fiquei aliviada ao pensar que, se um dia o calhasse a encontrar teria a oportunidade de me explicar em lugar de apanhar só o reverso da medalha.
Na noite seguinte Romano escreveu – me uma mensagem a perguntar se estava ocupada. Era a maneira de saber se podia reservar. Infelizmente, nessa noite estava ocupada.
No dia seguinte, escreveu uma similar. Não tinha compromisso e respondi convidando – o.
Era uma situação complicada. A princípio, nem eu nem Romano falámos sobre o passado. Actuámos como se nada tivesse acontecido embora uma sensação estranha enchesse o aposento. Numa tentativa de quebrar o gelo disse – lhe que estava a escrever um novo livro. Peguei no meu computador portátil que se encontrava num dos lados da cama e mostrei – lhe extractos do texto que já escrevera, especialmente a parte que lhe dizia respeito que continha o nosso envolvimento e as razões da minha reacção.
Estava demasiado embaraçada para lhe mostrar o resto da informação, principalmente as cenas detalhadas envolvendo outros clientes. Romano estava sem palavras ao ler aquilo que eu escrevera. Olhou para mim sem saber exactamente o que dizer. Colocou a cabeça e disse:
“Não percebeste nada. Apanhaste tudo mal na parte que me diz respeito.”
A Segunda-feira seguinte foi um excelente dia de trabalho. Todos os meus clientes eram do meu novo anúncio e recebi também algumas boas gorjetas. O meu último cliente daquela noite foi Juan. Este moço possuía vários negócios, muitos deles envolvendo turismo e, a sua cultura geral era muito elevado. Era um homem de aparência débil e baixo. Fiquei surpreendida quando me disse que tinha sessenta e cinco anos. Não parecia ter nem mais um dia do que cinquenta.
A princípio Juan não se sentia à vontade. Talvez esperasse encontrar uma secretária de sapatos de salto alto em vez de uma franganota de olhar selvagem? Passado pouco tempo, no entanto, após a minha breve apresentação sentiu – se mais confortável, mais descontraído.
Logo que nos despimos, deitámo – nos na cama lado a lado. Ficou encantado com a minha aparência e estava constantemente a elogiar – me enquanto me acariciava à volta dos mamilos com movimentos suaves. Definitivamente sentia - se mais confortavelmente instalado agora e arranjou a coragem necessária para conduzir a minha mão ao peito dele enquanto fechava os olhos. Conduziu os meus dedos para os seus mamilos e pediu – me para pressionar. Pressionei – os com gentileza enquanto lhe beijava suavemente o peito de maneira a não o magoar.
Começou a gemer num elevado tom de voz, solicitando – me que pressionasse um pouco mais até que começou a pedir – me cada vez mais que pressionasse cada vez com mais força. Quanto mais pressionava, mais ele pedia que apertasse mais. Obedeci e continuei a fazer – lhe a vontade até ao ponto em que já não conseguia compreender como é que aguentava a dor. A certa altura apertei com quanta força tinha e todo aquele corpo franzino ficou chocado ao mesmo tempo que gritava e atingia o clímax.
Juan permaneceu de olhos fechados por algum tempo. Fiquei aliviada por ter chegado ao fim. Quando, finalmente, os seus olhos se abriram, estavam cheios de profunda satisfação e a sua expressão era de alegria. Acendendo o seu cigarro, regressou ao homem que tinha passado pela porta da rua. Eram cerca de dez e dez da noite quando saiu.
Passados alguns minutos sobre a partida de Juan, Romano contactou – me para ver se podia reservar. Achei estranho que tivesse ligado precisamente quando Juan se estava a ir embora. Era como se estivesse lá fora a espreitar. Achei isto muito estranho e ainda mais esquisito na medida em que nunca apareceu à Segunda – feira. Disse – lhe que podia vir.
A energia entre mim e Romano veio de novo à superfície naquela noite. Ele era o mesmo e, contudo, muito diferente. Continuou por algumas horas e discutimos diversos assuntos como de costume. Um dos tópicos de conversa foram os quatro dias de viagem de negócios que ele ia empreender no dia seguinte.
Quando estava para se ir embora, meteu a mão no bolso para retirar o dinheiro de pagamento. Disse – lhe para parar:
“Não quero o teu dinheiro. Tive um dia excelente. A sério, fica com ele”, disse. Olhou – me receoso com uma expressão extremamente confusa e, após alguns momentos, perguntou se estava louca pois que não havia dúvidas que ia pagar. Deixou o dinheiro e despediu – se.
Estava determinada a devolver o dinheiro a Romano e no dia seguinte envie – lhe uma mensagem pedindo – lhe o número dos sapatos. Totalmente surpreso perguntou – me qual a razão. Não respondi mas fui sair
e comprei – lhe um par de patins e estojo com o dinheiro que ele deixara na noite anterior. Pensei que seria uma grande ideia para Romano juntar – se a nós a patinar nos fins-de-semana.
Romano regressou da sua viagem de negócios na Quinta-feira seguinte. Na Sexta ligou – me a fazer uma reserva. Já tinha planos mas sugeri – lhe para se juntar a nós na patinagem na tarde seguinte. Utilizando a desculpa mais óbvia, respondeu que não podia, dado não ter patins. A minha resposta não se fez esperar dizendo – lhe que não era desculpa válida porque eu lhe havia comprado um par com o dinheiro deixado na sua última visita. Ficou se m saber o que dizer.
Romano estava nervoso com a aventura mas compareceu no nosso local de patinagem habitual à hora combinada. Ambos nos sentimos um pouco estranhos. Romano era extremamente tímido e eu não me encontrava no meu habitual à vontade perante os meus amigos.
Em poucas horas decidi arrumar os patins e ir – me embora de modo a que pudesse voltar aos meus telefones. Romano decidiu ir na mesma altura. Despedimo – nos e, em seguida, tomámos cada um o seu caminho.
Naquela mesma noite Romano ligou a perguntar se estava livre. Naquele momento não estava mas arranjou – se um buraco para a sua marcação para dali a bocado.
Quando Romano chegou, portámo – nos como autênticos estranhos sem sabermos de facto o que fazer. E onde nos metermos.
Dirigi – me logo para o quarto seguida de Romano. Estava tão nervosa que até me esqueci de lhe oferecer um whisky como fazia habitualmente e, assim, ele perguntou se podia ir servir – se a ele mesmo.
Romano regressou com o pouco habitual tríplice. Estava demasiado contrafeito e roçava – se a mim. Deitámo – nos ambos em cima da cama completamente vestidos, conversámos durante um bocado como era nossa rotina. Toda a conversa girou à volta da tarde de patinagem. Nem eu nem Romano conseguimos trazer ao âmbito da conversa mais coisa nenhuma na medida em que tanto eu como ele nos sentíamos intimidados em relação aquela situação.
Passadas algumas horas estava tudo na mesma. Pela primeira vez Romano não chegou ao ponto de perguntar “Vamos a isso?” como habitualmente fazia. E temia esse momento que nunca chegou a aparecer.
A certo altura começámos a rir – nos histericamente ao lembrar – mo – nos de como ele foi de encontro a um carro quando andava a patinar. Quando as risadas desapareceram, os nosso olhos encontraram – se e permaneceram focados até que o nosso riso esmoreceu totalmente. Pus os olhos em Romano que olhava fixamente para a vela que habitualmente tinha colocado à nossa frente no chão. O meu estômago estava pejado de uma sensação indescritível prestes a explodir. Era uma espécie de mistura de adrenalina, precisamente o que havia sentido com o meu ex namorado. Quanto mais sentia que me não era permitido beijá – lo, tanto mais sentia uma grande urgência em perpetua – lo. Romano permanecia no seu silêncio enquanto prosseguia a minha batalha interior. O paladar imaginário da sua saliva provocava-me aquela sensação incontrolável que, cada vez mais húmida, me levava a ansiar pelo caminho em que queria atingir o clímax. Passado um longo segundo, não resisti, voltei – me para Romano e comecei a beijá – lo. Ambos cedemos à tentação e ficámos ali até altas horas.
Algo tinha acontecido. Ambos o sabíamos. Quando Romano se foi embora não fez qualquer tentativa de deixar dinheiro. Sabíamos os dois que algo tinha começado.
CAPÍTULO 24
O nosso primeiro beijo marcou o começo de um novo relacionamento. Nunca quis considerar Romano como cliente ou mesmo lembrar – me que tinha sido um para esse género. Anteriormente nunca saltara para a cama com namorados na minha segunda ou terceira vez e embora tenha dormido com Romano centenas de vezes recusei – me a fazer sexo com ele durante a primeira semana do nosso relacionamento. É que não estava na minha natureza e era algo que, apesar da minha profissão, tinha permanecido intacto.
O meu último cliente desse dia já se tinha ido embora e Romano veio para o pé de mim, tal como havia feito nos sete dias anteriores.
Enquanto estávamos estendidos na cama a ouvir música de jaz, a olhar para a vela, lembrei – me da noite em que Romano fizera amor comigo. Ao idealizar a cena ao rubro, o meu desejo começou a arder por dentro.
Romano beijou – me e, então, foi impossível conter – me por mais tempo. Não pude aguentar a luxúria, o desejo, a paixão que me queimavam interiormente. A paixão estava a encher a minha vagina com o anseio de ser penetrada e dominada e cada vez me senti mais como uma virgem, mas desta vez era diferente. Pensava – me virgem com Romano. Era a nossa primeira vez desde que nos namorávamos.
Lado a lado no leito, lentamente, começo a desapertar-lhe as calças. O suor começou logo a mostrar – se ante a perspectiva do que estava prestes a desenrolar – se. A mão de Romano tomou o seu lugar na minha vulva humedecida instantaneamente. Desviei – lha, já que a sensação era demasiada e estava quase a vir – me. Precisava primeiro de o sentir dentro de mim mas igualmente precisava tempo. Havia algo que faltava. Era ele dentro do meu corpo.
Romano sabia que era chegada a altura de se pôr em mim. Logo que entrou não pude mais conter – me. Olhei – o nos olhos e atingi o clímax. Mais uns escassos segundos e ele veio – se também. Os sentimentos eram na verdade demasiado poderosos.
Seguiram – se as primeiras semanas de uma camaradagem maravilhosa. Recusámos – nos a admitir fosse o que fosses afim de não deteriorar a nossa ilusão da realidade e tentámos, tanto quanto nos foi possível, ser um casal normal. Procurámos esquecer a minha profissão e concentrámo – nos no nosso desfrute mútuo e em fazer coisas que os casais fazem quando estão apaixonados.
Algumas semanas depois eram os nossos dias de aniversário e celebrámos ambos com uma viagem para o Sul. Férias fantásticas na realidade mas, o pensamento de gozar à custa de perdas de trabalho criaram – me sentimentos de culpa. A minha posição interdizia -me de gozar tais momentos. No final de contas era preciso trabalhar para o dinheiro aparecer.
Regressada a casa, senti – me angustiada e comecei a conjecturar o que é que de facto me aborrecia. Durante as nossas férias recebera várias chamadas no meu telefone privado de clientes regulares e só o pensamento de perder todo aquele trabalho pôs – me a cabeça a andar à roda. De todas as vezes que respondi a uma chamada, o Romano sentiu a minha mudança de humor.
Inúmeras ocasiões me surgiram em que propôs uma contribuição mensal para me ajudar, mas rapidamente chegou à conclusão que eram apenas estúpidas sugestões logo que compreendeu com evidência que eu não aceitaria e, para além disso, contrariava – me só o facto de me sugerir tal coisa. Pensava agora, depois de ter sido um cliente durante nove meses e de prestar atenção às minhas infindáveis histórias, que devia conhecer – me melhor e, por conseguinte, compreender descabidas tais propostas.
Com o tempo comecei a achar aquele retrato que idealizara de Romano feito de material e cores erradas e que a minha avaliação não era de modo nenhum exacta. Embora no passado Romano tivesse discutido jogos financeiros e de poder, o que é certo é que também lutava para resolver problemas. Aquilo por que lutava não era a posição em que no presente se encontrava, mas por aquela posição de que me falou, de muito mais valor. Na realidade enfrentava dívidas sem fim que tinha ao Estado por ter comprado uma companhia na banca rota alguns anos atrás. Por detrás desta confiante fachada encontrava – se um homem cheio de problemas que escolhera sofrer em silêncio.
A crise económica estava a deteriorar – se a um ponto tal que todos nós estávamos a pensar que só podia piorar. Os clientes eram raros e embora aparecessem regulares, faziam – no menos periodicamente. Quando o faziam, todos tinham as mesmas histórias tristes para contar. Os que trabalhavam por conta própria queixavam – se do deplorável estado da economia e os compradores é que suportavam as facturas dos clientes.
A depressão era cada vez pior e chegava a todos. Fui ficando cada vez mais frustrada e senti – me ainda mais prisioneira na medida em que não via luz no fundo do túnel. A escuridão não desmerecia.
Havia um ano que começara a trabalhar e o meu plano inicial tinha sido por um período de cinco meses. Se este ritmo se mantivesse teria de trabalhar mais oito extra perfazendo o total de quase dois anos, ou um ano e meio mais do que traçara na minha primeira estratégia. Em realidade precisava escapar e largar esta profissão. Afectava – me já a vida toda mas, e principalmente o meu relacionamento.
Durante este período de depressão, passei o meu tempo sozinha a olhar fixamente o céu da janela do meu quarto a contar e a baptizar a variedade e a forma das nuvens que passavam na sua caminhada. O meu tempo livre era de tal modo que nem mesmo Marilyn podia preencher os espaços vazios que a falta de trabalho providenciava.
As chamadas dos clientes eram bastante poucas e nos intervalos de espera ocupava o tempo a pensar, a analisar e a acumular pensamentos negativos. A maior parte deles era dedicada ao meu relacionamento e especialmente a pensar como é que Romano se atrevia a estar comigo e a amar – me. Como podia aceitar o facto de ter dormido com todos aqueles homens? Como poderia ele aceitar algo que eu nunca aceitaria do meu namorado? Seria na realidade possível que alguém me pudesse amar sinceramente sendo eu uma prostituta? Estes pensamentos tinham – se habituado a ocupar – me o espírito.
Um dia em que as minhas “dores de cabeça”, como eu lhe chamava, eram mais acentuadas, foram notadas por Romano quando se encontrava no meu apartamento e eu atendia os meus clientes. Isto confundiu – me mais do que posso explicar. Fez – me sentir usada por ele, como se, fossem quais fossem os meus problemas, isso não o incomodasse nem lhe fizesse diferença alguma. Cada avaliação que fazia respondia – me com uma conclusão negativa. Tinha de conversar com ele acerca disso. Não sabia exactamente como mas tinha de fazê – lo. Não podia conter esta bomba por mais tempo. Estava prestes a explodir. Tinha de me abrir rapidamente.
Romano percebeu o que eu queria dizer quando afinal resolvi abrir – me. Explicou – me então que desejava passar comigo os seus tempos livres já que tinha premonições que auguravam que algo poderia acontecer – me, que o perigo rondava a minha porta. Compreendeu, no entanto, o meu ponto de vista e dali para o futuro aparecia pouco enquanto eu atendia clientes.
Numa noite de Sábado, Romano encontrava – se sentado na bacia do banheiro como era seu costume enquanto eu tomava banho. Era a minha rotina no fim do atendimento de cada cliente. Era como um ritual de purificação.
Fomos interrompidos por uma chamada. Foi o meu telefone fixo que tocou. Estendeu – mo e atendi. Uma voz cava de sotaque africano soou do outro lado. Embora bastante ousado, o homem gaguejava e dava erros simultaneamente. Como é que um homem que aparentava nem sequer ter concluído metade do liceu se atrevia a responder ao meu anúncio tão dispendioso? Perguntei – me.
Sou anti – racista de todo mas havia algo que estava errado. Contudo concordei em aceitá – lo e dei – lhe uma hora e um local de encontro pedindo – lhe para me ligar uma hora mais tarde de modo a poder guiá – lo para ao apartamento do meu edifício.
Romano olhou para mim quando desliguei e perguntou – me o que é que não batia certo. Não pude explicar mas havia alguma coisa de estranho com este indivíduo sem saber bem o quê. Romano sugeriu – me que evitasse recebê – lo, mas não podia permitir – me perder trabalho.
Perguntei ao Romano se poderia aguardar na sala de espera enquanto o atendia. Estava incomodado com a ideia desde a nossa última conversa não se abstendo de dizer que depois virar – me - ia provavelmente contra ele.
Após insistir acabou por concordar, perguntou a hora da chegada do homem e sem demora foi à procura de um DVD para se entreter no quarto de hóspedes.
Enquanto me vestia, o telefone soou. Era o mesmo indivíduo. Agora estava mesmo mais aflita já que tinha pedido para demorar trinta minutos mas não dez minutos depois! O homem estava já no local de encontro. Desculpei – me e pedi – lhe para telefonar dentro de trinta minutos.
Passados vinte telefonou outra vez mas Romano não tinha ainda chegado. Disse – lhe então a minha morada mas não lhe dei o número da porta e então telefonei ao Romano rapidamente afim de o avisar de que o homem estava a chegar. Romano já se encontrava no elevador quando telefonei e entrou rapidamente, pegou no Napoleão e levou – o com ele para a sala de estar. O homem ligou poucos minutos depois da chegada de Romano. Eu indiquei – lhe o caminho para o meu edifício e, em seguida, para o meu andar. Abri a porta a um homem negro, alto, com pelos menos vinte anos de idade, tranquilo, tímido e de físico débil.
Disse educadamente “olá” e pedi – lhe para entrar. Seguiu – me através do corredor até ao quarto e começou a dizer – me que não estava à espera de encontrar alguém como eu em vez de uma mulher gorda feia. Olhei para ele, sorri, pedindo – lhe para pagar antecipadamente na medida em que tivera um acidente com um rapaz que fugira sem me pagar enquanto eu estava a tomar banho.
Estivemos para ali deitados muito tempo e a conversar. Perguntei – lhe o que fazia na vida tal como perguntava a toda a gente como tópico de conversa. Nessa altura notei que tinha uma cicatriz no pé esquerdo. Deixei – o continuar antes de lhe perguntar como tinha arranjado a cicatriz.
“Sou jogador de futebol. Chamo – me Ben. Jogo num dos melhores clubes do país…os vermelhos.” Bem, de facto jogo na equipe B.
Acreditei. Em primeiro lugar não percebia absolutamente nada de futebol, depois este moço parecia desmiolado e da minha experiência anterior com jogadores de futebol, eram todos iguais. Continuou por ali fora e às tantas começou a descrever a história da cicatriz.”Vês esta cicatriz? Bem, quase que dei cabo da minha vida. Tinha um pé ferido. A equipe de futebol arranjou – me o melhor médico da Europa Conseguimos salvá – lo e conseguimos salvar a minha carreira. Foi o que se chama um final feliz.”
Não sabia o que dizer. No fim de contas era uma história triste que acabara bem.
Comecei a roçar – me no corpo franzino de Ben. O seu corpo era vigoroso mas de uma amplitude menor do que aquela que eu esperava ver num jogador de futebol. O tempo passava. Tudo aquilo em que podia pensar era no Romano ali ao lado. Era tempo de acabar com o assunto.
Pus – me em cima de Ben e continuei a roçar – me. Coloquei – me na ponta do seu pénis, ergui – me nas pernas e comecei a mover – me para baixo e para cima. Era esta uma a posição que os punha normalmente malucos. Era a minha melhor opção para acabar com aquilo que já não era sem tempo. Não resultou. Testámos todas as posições. Havia algo que estava errado. Começava a sentir – me dorida porque o preservativo já estava seco e estava a tornar – se intolerável. Tudo o que Ben perguntava era se podia passar cá a noite. Macacos me mordam se eu passava assim uma noite inteira. De resto, Romano estava ali ao lado. Não havia mesmo hipótese.
Achei estranho o seu comportamento mas tentava convencer – me de que, sendo futebolista, tinha vigor natural. Olhei para ele e encontrei rapidamente uma desculpa para sair durante alguns segundos afim de me dirigir ao quarto de hóspedes perguntar ao Romano se se importava que passasse mais ma hora com Ben.
“Mas com certeza, não há problema. Ainda faltam quarenta minutos para acabar o filme”, disse.
Voltei para Ben que não fez qualquer comentário acerca do que tinha ficado no quarto. Não se mexera. Nu, em cima da cama de pernas estendidas e cruzadas, de olhar fixo para diante, tal como o tinha deixado.
Quando me juntei a ele começou a falar de prostitutas e de escândalos passados envolvendo jogadores famosos e prostitutas que, há alguns anos atrás, marcavam os encontros por telefone.
“Tinha sido um escândalo enorme. Primeiro bateram nas raparigas e, depois, violaram – nas. Eram realmente maus rapazes. Não queres acreditar?”
Regressámos ao trabalho e uma outra hora se passou com as mesmas actividades tal como de início. Ben não conseguira ainda o clímax. Voltei – me de lado exausta, e disse que tinha de parar pois que marcara encontro com um amigo às treze horas.
“Vá lá. passa a noite comigo. Concorda lá.”
Por várias vezes tentou convencer – me a concordar em ficar mas eu, pelo contrário, insistia em terminar e sentei – me na berma da cama de cabeça baixa.
Ben dirigiu – se para as suas roupas que se encontravam na parte anterior do banco de ginástica. Mal eu o tinha pensado e já me fechava a porta na cara. Antes que pudesse olhar para cima senti qualquer coisa na minha cabeça e ouvi:
“Não te mexas. Não te mexas ou rebento – te com o estupor da cabeça! Estás a ouvir, minha cabra?”
“O quê, o que é que estás tu para aí a fazer? Deixa – te de merdas.”
Mas não estava a brincar. Estava paralisada, confusa e insensível. Não tinha a mínima ideia de como reagir. No ano passado havia – me confrontado com tanta coisa que já nada me surpreendia. Corpo e alma tinham ficado imunes, violados!
O meu primeiro reflexo fora levantar – me e sair porta fora.
“Onde é que pensas que vais minha cabra?” Disse calmamente e comprimiu – me contra a parede paralisando – me os sentidos por momentos.
Repentinamente cheguei à conclusão de que precisava de uma estratégia. Não era só eu que me estava em perigo mas era também o Romano e ele não fazia a mínima ideia da situação em que eu me encontrava. Estava tudo tão sossegado. Tudo se estava a passar no meio de um doloroso e negro silêncio. Mas precisava de encontrar um modo discreto de avisar Romano; era a minha primeira prioridade e necessitava de uma solução imediata. Tinha de lhe dar a entender o que se estava a passar antes que fosse demasiado tarde para ambos. Rezava para que pudesse arquitectar algum ardil, alguma coisa.
Não podia permitir que Ben se apercebesse que havia mais alguém no apartamento. Podia baralhá – lo e então haveria poucas probabilidades de salvação. Como diabo iria resolver o problema? Os meus breves momentos de lucidez permitiam – me recordar a minha claustrofobia. Veio – me ao pensamento que estava ali fechada num quarto e comecei a sentir a minha respiração, o meu oxigénio violado numa ampola sufocante. Comecei a bater em Ben e a gritar apavorada:
“Abre essa janela! Abre a merda da janela” enquanto me dirigia para ela. Empurrou – me para trás, para o local inicial e avisou – me de que atiraria.
“Por favor acaba com isto. Estou a ficar assustada. Acaba com esta porcaria já!”, disse em voz alta de modo que Romano pudesse ouvir e perceber que algo se passava e viesse preparado.
Fora a primeira vez que determinada estratégia se pusera em prática. Uma desculpa para falar alto sem que Ben pensasse que eu estava a avisar alguém do que se estava a passar.
Romano ouviu nitidamente. Já tinha ouvido alguns barulhos que lhe haviam chamada a atenção e estava alerta. Repentinamente ouvi a voz de Romano:
“Está tudo bem por aí?” Disse alto e bom som.
“Não! Não e está tudo bem”, disse ao mesmo tempo que me lembrava que Ben não percebia uma palavra de Inglês.
Antes que eu e Ben nos apercebêssemos, Romano empurrou a porta. Ben estava encostado à parte direita da porta detrás da parede. Romano não fazia a mínima ideia do que estava prestes a ver.
Quando cruzo a porta viu – me nua a olhar fixamente para Ben. Ben não se encontrava ainda sob o seu ângulo de visibilidade. Eu estava em pânico. Não fazia a mínima ideia se a arma estava carregada ou qual seria a reacção de Romano. Romano deu um passo em frente e olhou para a direita. Ficou paralisado por momentos com aquilo que via, Ben ali de pé com uma arma apontada para ele. Antes que tivesse tempo para pensar, Romano gritou:
“Mas o que é isso? Que diabo pensas que estás a fazer? Que raio de estupidez estás a fazer à minha namorada?”
Romano dirigiu – se para Ben e agarrou – lhe na arma. Ben surpreso e sem reacção permaneceu calmo e silencioso enquanto o outro verificava se estava carregada. Eu não me fiz esperar e corri para o quarto de hóspedes para soltar o cão que correu para o quarto e foi direito a Ben. Parei – a precisamente a tempo.
Imediatamente me lembrei da minha arma e corri para fora do quarto mais uma vez. O meu cão postou – se ao lado de Romano e permaneceu lá até que entrei de novo com a minha 0.22. Dei a arma a Romano e deixei – o a argumentar com Ben enquanto chamava um dos meus clientes, Pedro para me ajudar. Se alguém sabia o que fazer e rapidamente, esse alguém era ele. Se chamasse a polícia teria muita sorte se lá aparecesse dentro de uma hora.
Para meu alívio Pedro respondeu. Eram cerca de uma e trinta da manhã. Expliquei o que se havia passado e ele disse para ter calma. Estava a chegar socorro.
Romano continuava a argumentar com Ben. Entretanto remexia em todos os bolsos de Ben à procura de dinheiro para queimar tempo para completar as minhas duas horas combinadas. Depois perguntou – me se podia deixá – lo ir embora. Disse – lhe que não.
Fechei o corredor à chave de modo a que Ben não pudesse tentar escapulir – se e mandei Napoleão ficar por perto. Eu e Romano estávamos ainda convencidos de que era um jogador de futebol e de algum modo comecei a falar para ele acerca de advogados.
“Seu bandido de merda. Não sabes com quem te estás a meter. Vou buscar o meu spray para te obrigar a sair. Vais lamentar o ocorrido, principalmente quando o meu advogado saltar em cima de ti.”
A polícia chegou à minha porta dentro de minutos e eu abri – a para me deparar com quatro agentes armados. Alguns outros aguardavam lá fora. Levaram – me para a sala de estar para ouvir a minha história antes de conduzirem Ben para o meu quarto afim de ser interrogado. Para minha surpresa Ben admitiu tudo mas insistia que tinha feito aquilo por razões relacionadas com “feitiçaria”. A polícia levou – o.
No dia seguinte eu e Romano éramos chamados a prestar declarações na esquadra de polícia local. Tive sorte de que a lei vigente não considerasse prostituição ilegal. Também não era legal para uma coisa dessas e talvez fosse essa a razão porque Ben pensava que podia escapar sem castigo.
Contudo, eu estava na fronteira e não havia infringido a lei. Após fazermos o nosso depoimento, o oficial de polícia informou – nos de que tínhamos tido muita sorte. O assim chamado “Ben” estava a cumprir uma longa sentença de prisão por assalto à mão armada e violação. Tinha sido posto em liberdade por bom comportamento no dia anterior à visita que me fizera. Na noite precedente tinha surpreendido um outro casal de arma na mão, roubados os seus haveres, bem como o automóvel.
“Tive muita sorte em Romano estar comigo naquela noite porque se lá não estivesse nem faço a mínima ideia de qual o rumo que as coisas teriam levado.”
CAPÍTULO 25
O episódio do “assalto” fez – me chegar à conclusão de que tinha de largar rapidamente aquela profissão. Romano pediu – me para lhe dar um par de chaves suplentes por razões de segurança. O plano consistia em lhe enviar uma mensagem escrita sempre que fosse aceitar um novo cliente. Um período de vinte minutos seria estipulado para os clientes que pagassem menos e uma hora para os que pagassem mais. Se não respondesse às suas chamadas telefónicas após aquele período, devia ter por certo que eu estava com problemas e, portanto, actuava.
O trabalho estava – se a tornar cada vez mais escasso. Toda a gente se queixava e eu estava a senti – lo muito mais do que nunca. A certa altura comecei a ficar paranóica e pensei que os meus regulares tinham fugido para outras raparigas. Não era o caso. Contactei todos os que conhecia e que estavam relacionados com casas de passe ou com mulheres a trabalhar individualmente. A situação era igualmente deprimente para toda a gente.
Tinha ainda cheques para pagar diariamente no banco e lutava para continuar a fazê – lo. O meu orçamento não se realizou como planeado. Havia cheques pré – datados para liquidar a minha dívida sob a ilusão de que seria capaz de fazê – lo. A minha lista não era de modo nenhum o objectivo.
Romano também se debatia com uma situação semelhante. Às vezes fazia o impossível para arranjar dinheiro para me ajudar. Contudo, guardava os problemas dele para si pois não queria carregar – me com mais nada e, por sua vez, sofria em silêncio.
Quanto a mim, ia sempre alargando os períodos de contemplação das nuvens a partir da janela do meu quarto, alimentando e forjando pensamentos negativos. As minhas dores de cabeça eram activas e doíam. As minhas análises estavam no máximo. Cada pedacinho de informação, cada momento que Romano correspondia ou falhava, encontrava – se sob a mira do meu microscópio. O microscópio encontrava – se agora mais focado do que nunca e nem sequer uma bactéria na sua lâmina poderia deixar de ser examinada, podia deixar de ser varrida. Se tivesse vendido a minha aparelhagem a tempo poderia ter feito uma pequena fortuna.
Até agora nunca fora a casa de Romano e nem sequer lhe conhecia o cheiro. Nunca me havia convidado e todo o nosso tempo era passado em minha. Vivia na área e a ideia de não ser bem vinda em casa dele frustrava – me. Podia compreender a razão porque não era convidada mas não a podia aceitar. Tinha receio que alguém do seu prédio me reconhecesse, que alguém soubesse da minha profissão. Era um homem de negócios e consequentemente tinha muito a perder se mexericasse a seu respeito. Além disso estava – me a comer viva e o facto de ser sincero acerca das suas razões adicionava sal às minhas feridas. Tudo o que desejava ouvir era a verdade. Não importava que fosse dolorosa, era a verdade o lugar de um conjunto de desculpas sem fim. Porque me estaria tomando por estúpida?
Os pais eram outro grande tópico de investigação e não escapavam à poderosa lente de que o microscópio era constituído. Nunca me tinha encontrado com eles embora desde o princípio tivesse insistido em visitar os meus. Romano deu – me pura e simplesmente uma infindável colecção de desculpas contendo as razões porque não devia conhecê – los. “Não vale a pena”, costumava dizer, “São irrelevantes para mim”. Deve ter pensado que eu era burra, já que sabia da relevância do Pai no que lhe dizia respeito e a sua ocupação no dia a dia.
Mais uma vez Romano era temeroso. Sabia que nada poderia acontecer e alguém poderia descobrir o que eu fazia. Não queria de modo nenhum encontrar – se numa posição em que tivesse de escolher entre mim e eles. Mais uma vez me senti extremamente magoada e aborrecida. Porque é que este homem não me podia dizer a verdade? Porque me estava ele tomando por idiota?
Nos intervalos dos meus períodos de “transe” respondia mesmo a um número menor de chamadas e nunca perdia uma oportunidade de atender clientes regulares.
Numa sexta – feira à tarde um dos telefonemas prendeu – me a atenção. A minha cabeça ainda se encontrava a trabalhar de vez em quando no incidente que envolveu a arma. Precisava de continuar a confiar na minha intuição que me levava a sentir que qualquer coisa não batia certo com o cliente que estava para aparecer à minha porta pela primeira vez.
Telefonei ao Romano e disse – lho. Mas aconteceu que naquela tarde se tinha ausentado para um encontro de negócios e se encontrava já a uns duzentos quilómetros de distância. Comecei a explicar que um cliente com entoação londrina me tinha ligado. Romano sugeriu que não atendesse o cliente mas a minha situação financeira não permitia tal escolha.
Romano tomou todas as precauções e recordou – me que tinha um determinado período para estar com este cliente e que não podia violar o tempo estipulado. Se não respondesse ao telefonema ele havia de arranjar uma maneira de modo a que alguém batesse à minha porta. Senti – me mais segura. Ganhei coragem e o novo cliente chegou.
Era um homem que possuía um olhar muito intenso com um metro e sessenta e três de altura com cabelo e pele bem tratados. Vestia de preto e usava uma comprida camisa branca caindo – lhe asseadamente por sobre as calças. Tudo da melhor qualidade e corte e contudo acentuadamente simples. Tinha poucos anéis nas mãos mas os que tinha eram de valiosa platina e, a completar o quadro, usava uma longa corrente de platina. O seu estilo não dava para o incluir em nenhuma das minhas categorias. Era o que se chama sui generis.
“Olá querida. Eu sou o Cristóvão. Bom, não estava à espera de encontrar alguém como tu aqui, amor” disse no seu sotaque londrino.
Enquanto falava dava também uma volta pela sala de estar. As fotografias pendentes na parede chamaram – lhe também a atenção.
“Uau, estás magnífica, não estás Querida?” Disse ao mesmo tempo que olhava para mim com uma expressão convencida.
Sentámo – nos na minha sala de estar. Senti – me estranhamente bem com este personagem e perguntei – lhe se queria tomar alguma coisa ao mesmo tempo que me dirigia para a cozinha.
Voltei com a bebida e sentei – me no sofá que se encontrava do lado oposto e estivemos ali a conversar pelo período de pelo menos meia hora antes de nos dirigirmos para o quarto.
Quando chegámos finalmente ao quarto demorei pouco tempo a despir – me na medida em que o tempo estava agora a escassear.
“És de facto formidável, não és amor? Olha para o teu corpo! Mas então o que faz uma jovem como tu por estas paragens?” Perguntou.
Os meus nervos não deixaram que expusesse todo o “ritual” da explicação usual com um novo cliente antes mesmo de lhe dar oportunidade de passar a soleira da porta! Mas tinha-me entusiasmado com este personagem que se encontrava na minha frente. Talvez fosse porque me estava a contar as suas milhentas aventuras fascinantes que havia experimentado através do mundo nas suas viagens.
Cristóvão mandou – me ficar de pé na sua frente durante um pedaço com as costas voltadas para a janela. Nessa altura as persianas estavam semi – cerradas permitido aos quentes raios de sol passar através delas. Parecia em êxtase a olhar para mim. Deu – se conta de que eu me tinha apercebido e quebrou o silêncio perguntando se podia fumar um cigarro de marijuana.
Começou a queimar a haxixe e a enrolar o tabaco. Durante uns breves momentos o silêncio foi novamente total enquanto se concentrava em enrolar a sua obra de arte. Na parte que me toca eu mergulhava já na introspecção da minha alma que sentira a falta destes doces mas também amargos efeitos destas pequenas escapadelas a que damos o nome de drogas.
Regressei em silêncio para encontrar Cristóvão na última etapa do seu projecto. O cigarro estava pronto e quando ia a acendê – lo olhou para mim e perguntou – me se alguma vez fumara haxixe. Respondi – lhe que houve um tempo em que costumava fazê – lo mas que agora preferia não voltar mais a esse vício. Para ali ficou com um enorme olhar de contentamento à medida que inalava as suas primeiras fumaças.
Comecei a explicar que fumara em algumas ocasiões omitindo o facto de que na verdade tinha fumado em períodos alternados durante um bom par de anos.
Durante um breve período quedei – me a focar os meus pensamentos, a analisar o negrume em que fizera a viagem de ida e volta ao inferno da coca. A noite em que cheguei à conclusão de que, fosse qual fosse a droga inalada, pesada ou leve tinha sempre grande quantidade de efeitos colaterais, alguns imediatos, outros a longo termo. Lembrei – me de regressar às minhas poucas experiências do início com a haxixe e não deixei de visualizar aquela primeira e infeliz paranóia que se seguiu logo a seguir. Basicamente compreendi todo o mundo da droga e estava suficientemente apta a ver que não tanto o agora mas é sim o dia de amanhã que temos de enfrentar com cuidado.
Cristóvão deteve – se alguns momentos a apreciar as suas primeiras e profundas fumaças que inalava. Estava agora muito mais descontraído e uma expressão de prazer inundava – lhe a face.
Colei – me mais a ele e começou a tocar – me o rabo vagarosamente perguntando se gostava, enquanto o fazia.
“É, de facto, uma vergonha ter de ir a uma reunião daqui a pouco. O que eu adorava era abrir essas pernas em cima daquela mesa da sala de jantar. Querida. Isto é, abri – las em toda a acepção da palavra”, disse.
Enquanto dizia isto, Cristóvão abriu – me as pernas quando eu estava com o meu rabo voltado para cima. Então colocou um dedo entre as minhas nádegas a que as minhas pernas abertas permitiram livre acesso. Os seus dedos começaram a dirigir – se para as minhas costas deixando uma marca electrizante no percurso traçado, calcorreando o caminho na direcção do meu pescoço. Mal o atingira, voltou – me encostando – me ao seu peito como para me abrigar, possuindo todo o poder e domínio num movimento carinhoso.
“Tudo bem, querida? Não consigo tirar partido suficiente de ti, Querida.”, Inquiriu ao mesmo tempo que me voltava de costas e me abria as pernas muito devagarinho antes de colocar o seu bem tonificado corpo em cima de mim e penetrar na minha vagina. Cada passo que efectuava era lento, muito lento, mesmo numa deliberada tentativa de devorar cada segundo e cada movimento.
Cristóvão encontrava – se ali para sentir amor e prazer. Não estava definitivamente ali para “despejar” e depois de derramar os seus sentimentos com os seus movimentos acabasse por atingir o clímax naquela posição.
Eu tinha agora a experiência para analisar os homens e as suas necessidades. Criara as minhas próprias categorias de classificar homens e determinar as suas razões para visitar estes lugares. Conhecia o motivo porque Cristóvão visitava mulheres como eu. Cristóvão carecia de alguma coisa e era simplesmente amor e afecto. Precisava de sentir a ternura de outro corpo, de alguém que o acarinhasse e pudesse retribuir – lhe aquilo que ele dava. Necessitava sentir a meiguice tanto como o oxigénio que respirava. Queria ter a certeza de que a minha análise estava certa e comecei por isso a mergulhar discretamente na sua alma.
Antes de ter oportunidade de o interrogar, desculpou – se por ter atingido o clímax tão rapidamente assegurando – me que essa ocorrência era rara. Confortei – o dizendo – lhe que era tolice, que não fora assim tão depressa. De facto, era a verdade. Estava dentro da média.
“Cristóvão, está tudo bem? Pareces em baixo. Parece que tens alguma coisa em mente. A propósito, porque diabo é que alguém como tu se encontra a visitar lugares como este?”, perguntei como por acaso.
“Não sei, Querida. Talvez porque as coisas não vão lá muito bem entre mim e a minha mulher.”
Para o fazer sentir – se mais à vontade falei – lhe de Romano e quão mal me sentia em ter – me permitido um envolvimento numa altura destas da minha vida. A situação não permitia tal arrojo e estava a ser cada vez mais frustrante.
Cristóvão acabou por se abrir tal como eu havia planeado e falou – me do seu antigo amor pela esposa e como actualmente o tinha atraiçoado; não com outro homem mas com outra coisa qualquer de que se sentia muito incomodado para falar nisso. Deve de ter sido de facto mau na medida em que Cristóvão já não tinha a certeza se ainda a amava.
Quando lhe perguntei porque é que continuava com ela, disse que realmente não sabia, mas que a principal razão eram as crianças.
A conversa não era nenhuma surpresa. Já tinha ouvido tudo isso antes e estava mais que familiarizada com a situação; as pessoas preferiam estar presas a vínculos infelizes pala conveniência do todo. Alguns eram demasiado fracos para se escaparem e perdiam – se em desculpas; Cristóvão era um deles, mas era humano e precisava desesperadamente de afecto.
Olhou para o relógio e apercebeu – se de que atrasado estava, vestiu – se rapidamente e foi – se embora.
Passadas algumas horas chegou Romano. Antes que pudéssemos pôr a discutir os acontecimentos do dia, o meu telefone tocou de novo. Era Cristóvão a perguntar se podia fazer nova marcação. Romano foi-se outra vez embora e aprontei – me para receber Cristóvão.
Cristóvão tinha várias casas espalhadas pela Europa. Uma delas encontrava – se a cinco minutos de automóvel do meu apartamento. Era esta casa que a esposa utilizava como residência principal. Encontrava – se lá quando me telefonou e dali a um pedaço estava de regresso à soleira da minha porta.
Cristóvão estava muito mais à vontade e descontraído desta vez e andava pelo meu apartamento como se fosse o seu. Talvez alguns copos que bebeu ao jantar o tivessem descontraído?
Desta vez nem chegámos a ir para o quanto. Cristóvão disse logo o que queria sem papas na língua. Queria continuar o que tinha estado a descrever naquela mesma tarde e sem proferir uma única palavra empurrou – me suavemente para a frente na direcção da mesa.
Estava de jeans e sapatos de salto alto e uma camisola sem mangas muito justinha a definir – me o peito. Um espelho enorme estava dependurado mesmo atrás apanhando três quartos do aposento à luz da vela. Enquanto me inclinava para a mesa, Cristóvão podia apreciar cada movimento meu no espelho à frente dele.
Abriu o fecho das calças, primeiro as dele e depois as minhas sem alterar no mínimo as nossas posições e antes que eu me tivesse apercebido, senti um pénis forte a entrar – me pela vagina dentro obrigando a mover – me ligeiramente pala a frente afim de tentar sentir menos pressão. Cristóvão deu conta de que me tinha mexido um milímetro e puxou – me para trás. Queria – me fazer conhecedora que era ele que estava no comando, que dominava a situação, que era nem mais nem menos o propósito do seu prazer, e só, absolutamente sem mais nada a acrescentar!
Ainda com o pénis dentro de mim, parou por um segundo e gentilmente abriu – me as pernas, continuando a separá – las até que estivessem tão abertas de modo que lhe sentisse o pénis ainda com mais força, marcando ainda maior presença. Não dei pela conta, mas Cristóvão tinha acabado de atingir o clímax muito rapidamente mas continuava a actuar até que o pénis deixou de fica erecto. O álcool estava a tomar conta dele.
Em escassos segundos Cristóvão perguntou numa voz ensonada, pedrada e extremamente vagarosa se tinha uma bebida.
Quando voltei da cozinha com a sua bebida encontrei Cristóvão a olhar para as minhas fotografias outra vez. Estas fotografias tinham sido tiradas alguns anos antes e pertenciam a duas colecções tiradas por dois fotógrafos diferentes. Ambos os fotógrafos me tinham parado na rua e perguntado se me deixava fotografar. Um queria fotografias para a sua carteira o outro para uma competição organizada por uma revista internacional. Cristóvão ficou fascinado com elas e sugeriu que eu devia fazer trabalhos como modelo.
Fiquei silenciosa por um pedaço e esqueci a voz de Cristóvão para me concentrar na minha alma. A verdade é que, naturalmente, nunca pensara em fazer qualquer trabalho como modelo antes e havia declinado propostas feitas por esses fotógrafos. Agora, no entanto, tinha de fazer alguma coisa dado estar tão desesperada. As experiências dos poucos anos passados tinham talhado o seu curso através de qualquer material concreto. Esse alguma coisa era uma pequena parte de mim, vibrações e todos os seis sentidos incluídos mas não havia dúvida de que os tempos eram difíceis.
A situação económica enfrentada actualmente pelo país tornava – os mais difíceis ainda. A minha prioridade era deixar este episódio para trás e libertar – me rapidamente do inferno afim de aliviar corpo e alma e restabelecê – los totalmente antes que fosse demasiado tarde. Não podia partilhá – los por muito mais tempo. Não podia carregar com o peso de todas essas almas que me visitavam transportando algum tipo de problema, deixando para trás a sua negatividade grudar – se à minha personalidade. Eu já estava marcada e o dinheiro que nessa altura fazia não justificava o sacrifício.
Os violentos efeitos do conjunto estava a levar a melhor sobre o meu relacionamento o que era para mim mais do que evidente. O tempo que tinha que pensar e desenvolver mais “dores de cabeça” era sem dúvida contagiosamente doentio.
Fazia exactamente uma semana em que estivera pensando em soluções alternativas para fazer dinheiro, à janela do meu quarto. Considerava – me uma pessoa inteligente e tinha dado a ganhar muito dinheiro com as minhas ideias que distribuía aos meus amigos mas por outro lado sentia – me extraordinariamente estúpida por não ter sido capaz de eu própria ter posto algumas em prática.
Repentinamente o porno leve veio – e à ideia dado que me podia lembrar das reacções dos meus clientes quando viam as fotografias. Podia ser uma resposta ao meu auto questionar. Sabia que as coisas não eram assim tão simples mas havia algo a ajudar, não era? No mesmo instante, dado a mulher impulsiva que me caracteriza, peguei no telefone e liguei a um dos fotógrafos. A escolha entre os dois era fácil na medida em que um estava automaticamente eliminado por me ter chantageado no passado ao recusar-lhe qualquer espécie de relacionamento.
O fotógrafo estava de férias mas ficou encantado com a minha proposta sugerindo que fizéssemos uma sessão de fotografias quando regressasse três semanas mais tarde.
Naquele momento voltei ao Cristóvão e por qualquer razão estranha achei urgente contar – lhe o meu plano. Disse – lhe que os tempos corriam difíceis e que eram necessárias alternativas. Disse – lhe que iria tentar qualquer coisa e que contactara um fotógrafo para produzir um foto filme em semi – nu.
Cristóvão começou a fazer montes de perguntas no respeitante ao fotógrafo, principalmente acerca do seu nível de profissionalismo. Continuou:
“Desiste, amor! Eu trabalho com o que há de melhor no país. Posso arranjar uma equipe completa de profissionais para ti. Só depende de mim.”
Cristóvão era um dos melhores profissionais na sua área a nível mundial e tinha ganho reconhecimento como cabeleireiro profissional a trabalhar com um grupo top de celebridades. Deu a volta ao mundo a prepará – los para sessões de fotografia e filmes. Sabia exactamente o que era necessário e não perdeu tempo a telefonar ao seu amigo, o fotógrafo que ele considerava ser o melhor do país.
Eu e Cristóvão encontrávamo-nos absorvidos na conversa quando o telefone tocou. Era Romano. O meu tempo estipulado estava a chegar ao fim e expliquei a Cristóvão qual era o motivo.
“Tudo bem, querida, não precisas de explicar nada. A propósito, era esse o teu namorado que encontrei no elevador quando subia? Parecia – me ser um homem às direitas. Admiro – o por estar a teu lado. Chama – o para cima Querida”, sugeriu.
Não queria colocar Romano defronte a uma tal situação mas liguei – lhe e disse – lhe o que Cristóvão aventara. Como era de esperar, Romano hesitou e sentiu – se muito incomodado com tal convite perguntando – me se eu era maluca.
Levou alguns momentos mas finalmente consegui convencer Romano dizendo – lhe que precisava dele a meu lado e, assim, acabou por concordar.
Quando abri a porta a Romano deitou – me um olhar expressivamente rude que me partiu a alma. De modo nenhum se sentia à vontade com o embaraço da situação. Tentei permanecer positiva e absorver toda a energia negativa que ele estava a libertar.
Entrou na sala de estar. Cristóvão levantou – se e dirigiu – se a Romano para se apresentar.
“Não se preocupe” disse Cristóvão. “Eu sei por que é que ela está a fazer isto. Já me pôs a par da situação. Compreendo e, na verdade, respeito – vos muito a ambos.”
Fui buscar uma bebida a Romano afim de acalmá – lo e comecei a explicar – lhe toda a conversa na medida em que a sua opinião era tudo para mim.
Romano estava já ambientado e ia agora no seu segundo whisky. A atmosfera estava mais quente e o frio glacial já não dava azo a sentir – se em doses extremas.
“Oh meu Deus. Vejam que horas já são! De certeza que a minha mulher vai matar – me. Vá lá, rapazes, venham até à minha casa”, acrescentou.
Eu e Romano não dissemos uma palavra mas as nossas expressões traduziram tudo. Olhámos um para o outro, receosos e admirados, como para nos tranquilizar pensando que Cristóvão estava a brincar. Mas não pudemos porque Cristóvão repetiu o convite.
Acabámos por ir para casa de Cristóvão. Não tínhamos, de facto, a certeza se aquilo era ditado pelo álcool ou não mas o que é certo é que nos encontrámos em frente da sua porta.
Por um feliz acaso, quando chegámos a mulher e os dois filhos já estavam deitados. Dois dos seus primos encontravam – se sentados nos seus luxuosos sofás a ver filmes na sala de estar semi obscurecida e que era reflectido pelo luar que iluminava a piscina.
De vezes em quanto fazia algum comentário indirecto no que dizia respeito à minha profissão o que deixavam tanto Romano como Cristóvão paralisados e de corações acelerados. Todos estavam sobre brasas até que fui eu a sugerir que fôssemos até a um clube local.
Cristóvão não se juntou a nós mas aposto a minha vida em como ficou aliviado por ter acabado a situação. Por respeito para com Romano Cristóvão nuca mais voltou como cliente embora nos reuníssemos todos ocasionalmente. Cumpriu também a promessa de me apresentar ao fotógrafo e as datas para a sessão foram marcadas. Pedi alguns meses de prazo para pôr o meu corpo em melhor forma. Aqueles meses que se aproximavam far – me – iam mudar, mais uma vez, de direcção. No fim de contas acabei por não voltar a chamar o fotógrafo. No entanto, a partir deste dia ele telefona de vez em quando e pergunta se estou interessada em posar para isto ou aquilo. Nunca lhe dei uma resposta concreta. Pode ser que deixe isso em aberto para outro dia chuvoso.
CAPÍTULO 26
Durante as horas que referi como “espaços vazios”, se não me encontrava à janela de olhar fixo para o interior, para a minha alma, passava horas no meu computador portátil. Após cinco anos readquiri contacto com alguns dos meus melhores amigos da universidade, um dos quais era como uma irmã que se perdeu há muito tempo. Tínhamos muito em comum e através dos ecrãs começámos a escrever infindáveis e – mails.
Nos intervalos dos e – mails costumava calcorrear a net para o quê, nem sei. Numa tarde comecei a procurar medicinas alternativas por qualquer razão desconhecida. Talvez estivesse passando por um período hipocondríaco ou coisa parecida. Pois bem, mais longo que a menopausa, foi suficientemente bom para mim. A acupunctura chamou – me a atenção e comecei a investigar mais. Tinha um problema com a circulação do sangue e isso parecia – me uma excelente opção.
Durante os dias que se seguiram, os únicos tópicos de conversação que tinha com os meus clientes era acupunctura. Acupunctura isto, acupunctura aquilo. Estava à espera de resposta em que tinha referências respeitantes a um bom Médico.
Pois bem, um cliente meu, Francisco tinha sido tratado por ele com excelentes resultados. Disse – me que tinha ido ao mais conhecido médico de acupunctura Chinês no país. Certo, pensei. É àquele que me vou dirigir. Liguei – lhe para a clínica. Maldição, pensei quando me disseram que estava completamente marcado para os próximos três meses! Pedi à senhora para me informar de qualquer desistência e bem depressa ela o fez. Faltei uma tarde ao trabalho e viajei para norte para ver pessoalmente este homem sem ter a mínima ideia do porquê de não ir a nenhuma das muitas clínicas da área.
Cheguei lá numa tarde miserável. Chovia a cântaros e o vento soprava de rajada. Aguentei a tempestade desde o carro até à clínica mas quando cheguei à recepção verifiquei que não era um lugar dos mais encantadores. A recepcionista guardou silêncio quando entrei. Era um pinto a verter água e as minhas calças de ganga estavam cobertas de lama devido a um carro que passara. Sorri para toda a gente e rapidamente tomei lugar sentada à espera da minha vez.
Fui chamada quarenta e cinco minutos depois. Cumprimentei o Médico e sentei – me tal como me fora indicado e instruí – o acerca do meu problema. O médico sentou – se a olhar – me a boca, como se estivesse a tentar ler – me nos lábios, o que me levou a dizer:
“Desculpe, Doutor. O meu sotaque não é lá muito bom, eu sei.”
Mas até era. O que eu estava era a tentar dizer – lhe polidamente que não precisava ler – me os lábios. Não obstante continuou a fazê – lo.
O Doutor levantou – se da cadeira e andou uma meia-lua à volta da secretária. Deteve – se de pé à minha frente e começou a apalpar – me o pulso. Fez algumas perguntas e passados alguns segundos comecei a contar – lhe os meus traumas passados como se ele fosse um psicólogo. Depois pediu – me para me instalar na marquesa afim de me examinar o estômago.
Voltou à secretária e principiou a dizer – me que tinha um desequilíbrio nos rins. Receitou um tratamento e perguntou – me onde vivia antes de me informar de uma clínica mais próxima da minha casa.
Pegou depois num cartão e esteve a olhar para ele durante um bocado. A seguir começou a anotar rapidamente qualquer coisa e estendeu – mo depois.
“Diana, verá que pus aí o meu número de telefone do celular e o e – mail. Sempre que tenha problemas, contacte – me pessoalmente.”
Agradeci – lhe e saí.
Só quando voltei para o meu carro é que me ocorreu: porque diabo este médico me teria dado os seus números de telefone? Pensei. De qualquer maneira depressa comecei a pensar em melhores soluções e deixei – me de análises.
No dia seguinte dei – me conta de que o Doutor se havia esquecido de me dar uma informação vital, forçando – me assim a contactá – lo. Enviei – lhe um e – mail pedindo – lhe para clarificar a situação e passados alguns minutos recebi um telefonema dele.
“Olá Diana. Desculpe. Deve diluir as cinquenta gotas em água duas vezes por dia.”
“Olá Doutor. Muito obrigada. Por favor desculpe – me. Por vezes sou a pessoa mais tola que há.”
Era minha vez de actuar como estúpida sendo ao mesmo tempo maldosa. O médico sabia que eu não era maluca.
Informou – me então que ia abrir uma clínica na minha área no dia seguinte e perguntou – me se queria tomar um café com ele. Concordei e combinámos o local e o ponto de encontro.
Tudo começava a fazer sentido. Quero dizer que era conveniente ter omitido informação vital.
Na tarde seguinte, às duas horas voltou a telefonar – me como combinado. Dei – lhe os pormenores da minha direcção e meteu – os no computador do carro.
Em cinco minutos apresentou – se à minha porta numa “máquina” que fez paralisar os mirones da vizinhança. Vivia num área da classe média mais favorecida e não era habitual verem – se porsches nos estacionamentos das habitações mas este automóvel era um Mercedes de dois lugares feito de uma liga especial, última série. Só havia dois no país e este era um deles.
Desci as escadas para ir ao seu encontro e entrei para o carro quando me solicitou para o fazer. Pediu – me para o orientar para um café próximo do mar e, assim, sugeri – lhe o Marina na medida em que normalmente não era barulhento. Concordou e lá fomos em cruzeiro.
Chegámos ao Marina de descapotável. Toda a gente parou por uns momentos para admirar o carro. Todos os olhos estavam postos em nós. O Doutor deu uma volta afim de encontrar um lugar sossegado num dos pontos mortos. Apeámos – nos e fiquei de pé frente à amurada. Tudo o que podíamos ver daquele ângulo era o mar.
“Gosto disto. É um dos meus maiores prazeres. É mágico. Tem montes de energia”, disse ele.
Começámos a desenvolver energias. Depressa o café ficou esquecido e substituído por profunda conversa espiritual. Parecia compreeendermo – nos mutuamente. Ambos apreendíamos os nossos pontos de vista acerca de energias e de como o mundo é feito, o Yin e Yang. Tínhamos ambos trabalhado teorias, as nossas próprias teorias que pareciam geminar.
“Porque é que se esqueceu de me dar os pormenores da receita?” Perguntei.
“Não me esqueci. E você é muito inteligente. Conhece a razão.”
Olhei para ele como se não fizesse a mínima ideia do que estava a falar.
“Um dia há – de usar isso e utilize – o bem. Vai ser muito bem sucedida nos próximos anos”, acrescentou.
Fiquei calada durante um instante e a olhar o mar tranquilo. Se ao menos este sujeito soubesse a minha profissão. Se pelo menos adivinhasse. Pensei para mim. O Doutor interrompeu o momento para expressar o seu pensamento:
“Há qualquer coisa à volta da sua pessoa. Algo tão raro e simultaneamente tão forte. Quando se sentou em frente da minha secretária, cada palavra que proferiu… É realmente muito difícil encontrar pessoas com uma energia como a sua. O modo como fala, numa palavra, todo o conjunto. É raro. Nunca na minha vida fui confrontado com este tipo de hipnotismo.”
Comecei a lembrar – me de como o médico me olhava para a boca durante a consulta mas nada disse; mudei de assunto de conversa e mergulhei em directo na sua vida privada.
Era casado. Ia já no sexto enlace. Disse que estava a apaixonar – se constantemente. Chegados a este ponto rumei a conversa para o meu namorado, Romano, afim de evitar que começasse a ter ideias.
O tempo escasseava. Tinha um cliente às quatro e, por isso, pedi desculpa justificando que tinha um encontro às quatro horas e não tinha alternativa senão regressar.
Levou – me a casa e deixou – me no mesmo lugar em que me agarrara!
Durante os dias mais próximos o Doutor passou a telefonar – me sob o mínimo pretexto e falámos horas esquecidas. Muitos dos tópicos eram sobre confissões do seu passado que o perturbavam. A certa altura fiquei com receio por me estar a contar tanta coisa. Assuntos do seu foro pessoal vedados à própria mulher e aos mais íntimos amigos. Era deveras assustador para mim. Era como se fosse sua cúmplice.
Durante uma conversa acabou por dizer o quão desmesuradamente gostava de mim, o quanto desejava viver comigo. Romano foi também trazido à conversa. Lembrei – lhe outra vez o meu amor por Romano. A certa altura começou a fazer que não entendia. Eu disse-lhe sem mais reservas “Sou prostituta”. Não cheguei a analisar o seu pedido mas concordei em arranjar um dia e tempo.
Duas horas depois voltou a ligar.
“Olá Diana, sou eu outra vez. Podemos encontrar – nos hoje? Tenho algum tempo disponível antes da minha entrevista para a TV. É possível que vá antes agora do que na quinta – feira?”
“Mas com certeza que sim. Não tenho marcação nenhuma para essa hora.”
Mais uma vez o Doutor foi pontual. A sua atitude havia mudado e já não era a sua mais meiga atitude de falar. Depois de tudo o que fez já não precisava de jogar às escondidas. Estava excitado. Era como se fosse a primeira vez que ia tocar e examinar o corpo de uma mulher bem como brincar com ele.
Tinha pouco tempo. Tinha de estar no centro da cidade dentro de uma hora e o tráfico era sempre horrível. Quis que fôssemos directos para a cama. Assim, despimo – nos rapidamente.
Tinha um corpo esguio, demasiado para o meu gosto e muito bem musculado devido às artes marciais que praticava. Passados alguns segundos depois de se ter deitado na cama, o Doutor pôs – se em mim e olhou – me fixamente nos olhos enquanto me penetrava a vagina. Era como se estivesse tentando conectar – se com a minha alma. Talvez tivesse conseguido porque passados segundos após a penetração atingiu logo o clímax.
Parecia um pouco embaraçado. Era como se já não estivesse com uma mulher há cerca de um mês. Desculpou – se e pôs a culpa à sua falta de tempo. Aquela era original, pensei enquanto ele se continuava a vestir.
Poucos minutos haviam passado e deixara já a minha casa. Voltou a telefonar – me quando se dirigia para Baixa para me dizer que gostara muito de estar comigo pedindo de novo desculpa pela pressa e carregando as culpas na sua agenda.
Apesar de tudo, o doutor passou a telefonar – me cada vez menos. Talvez tivesse arranjado o que desejava? Ou talvez tivesse ficado demasiado embaraçado com o cenário? Uma coisa era certa, embora falando muito bem da esposa, não parecia ter uma vida sexual muito activa!
CAPÍTULO 27
Na semana seguinte recebi uma chamada de Londres. Era a Molly. Há meses que receava uma chamada dela. Era a última coisa que eu precisava. Só de pensar neste telefonema me dava vontade de vomitar. As coisas não corriam financeiramente como planeado, como todo o resto que se relacionasse. De modo nenhum os objectivos estavam a ser atingidos. Tudo era uma sombra mais negra do que anteriormente se imaginara.
Molly tinha – me emprestado uma grande quantidade de dinheiro. Pusera nas minhas mãos as poupanças da sua vida. E não era a primeira vez já que seis anos antes fizera exactamente o mesmo. O que me preocupava agora era o segundo empréstimo que me fez há dois anos. Já tinha sido alargado para muito mais do que o combinado, um ano. Dado ter compreendido a situação nunca me pressionou.
Todas as vezes que falara com ela ao telefone fiz – me forte na voz tentando fingir – me o mais optimista possível. Em várias ocasiões era essa, de facto, a verdade. Os clientes visitavam – me cada vez mais e as coisas corriam – me bem. Mas os planos foram desfeitos pela situação que o país atravessava.
Sabia exactamente porque é que a Molly estava a telefonar naquela tarde. Havíamos combinado ela vir visitar – me e ao mesmo tempo receber o dinheiro. Eu tinha razão. A viagem de que me tinha estado a falar para os próximos cinco meses estava próxima. Em realidade muito próxima mesmo. Na segunda – feira seguinte estaria aqui tal como me informou. “Ótimo”, repliquei – lhe fazendo uma voz corajosa.
Romano chegou a casa naquela noite e contei – lhe as notícias. Estava ainda muito aquém da quantia por saldar. Precisava rapidamente de uma estratégia. Não havia maneira, fizesse eu embora o impossível, de deixar esta mulher de mãos a abanar.
Antes de Romano chegar eu planeava já pedir a dois amigos para me emprestarem o dinheiro. Não estava, no entanto, optimista. Quem é que se sentiria seguro em emprestar dinheiro a alguém que se encontra numa situação como a minha? Antes de poder continuar a pensar, já estava a discutir este assunto com Romano. Manteve – se calado a ouvir. Não contava com a sua ajuda. Ele não podia. Não era de nenhum modo uma opção para mim.
Levei os meus problemas para a cama naquela noite e comecei a pensar positivo. Ia inquirir os dois amigos em que inicialmente pensara. Nunca me tinham deixado mal, porque haviam de fazê – lo agora? Auto convenci – me e fui dormir.
Na manhã seguinte Romano acordou, falou muito pouco e dirigiu – se para o trabalho. Passadas que eram algumas horas ligou – me a explicar que foi falar com o gerente do seu banco e conseguiu alargar o limite do cartão de crédito para muito próximo do valor da dívida. “Não é o total mas não falta muito”, disse.
“O quê? Fizeste isso por mim? Não o devias ter feito. Conheço a tua situação. Não podes”.
Romano tinha saído da sua rotina até ao impossível por mim, mais uma vez, e até hoje ainda lhe devo esse valor que se aproxima do salário mínimo médio anual.
Na véspera da chegada de Molly eu e Romano estávamos deitados na cama à luz da vela tal como fazíamos sempre ao princípio da noite. A vela esvai colocada num castiçal que por sua vez se encontrava em cima de um mini – frigorífico ao lado da minha cama. O frigorífico tinha espaço suficiente para guardar algumas mini garrafas ou latas de bebidas. Não era o lugar habitual para pôr a vela mas sim deixada a arder no soalho.
Adormeci, já que Romano era muito responsável. Era de admirar embora eu sentisse a urgência de lhe lembrar a vela. Infelizmente não lhe lembrei.
Estava profundamente adormecida quando Romano interrompeu.
“Levanta – te. Levanta – te imediatamente”, gritava.
Era o frigorífico. Era constituído por fibras de vidro e a vela tinha gotejado em cima dele tendo pegado fogo! As chamas estavam a ficar fora de controlo e quadruplicava a cada segundo que passava.
Enquanto Romano pensava e combatia as chamas, corri para o banheiro à procura de uma toalha molhada. Foi então que pensei na gravidade da actual situação. Os corredores estavam cheios de fumo espesso e pesado e as paredes já estavam a ficar sujas de fuligem. O ar continha um peso sufocante na medida em que se estava apoderando da reserva de oxigénio. Peguei na toalha molhada e regressei ao quarto.
“Aqui. Põe – na por cima do frigorífico. Rapidamente, vá põe – na por cima.”
Ainda não era suficiente pois que as chamas haviam quadruplicado. Durante aqueles momentos sabia que iria perder tudo o que tinha mas as nossas vidas eram mais importantes.
“Vamos embora daqui, romano. Que se lixe. Toca a andar.”
Corri para fora do quarto em direcção à porta da frente. Pensei que Romano se encontrava atrás de mim mas não estava. Não tinha escolha. Não o ia deixar ali. Não senhor! Voltei a correr para trás, dirigindo – me para o quarto afim de o ir buscar.
Com muito esforço Romano conseguira atirar com o frigorífico para a varanda. Apenas ficaram dentro do quarto pequenas ilhas de chamas no chão alimentadas por pedaços de material líquido e cera.
Romano continuava ainda na varanda a combater as chamas que se agarravam ao frigorífico mas depressa as apagámos com mais toalhas molhadas.
Romano ficou severamente queimado nos pés durante a ocorrência. Embrulhámo-los em panos de cozinha molhados e azeite na medida em que se recusou a ir ao hospital naquela noite.
Ambos agradecemos à nossa estrela da sorte que Romano tenha acordado naquela altura. Ambos agradecemos à nossa estrela da sorte que o frigorífico que se encontrava ao lado do nosso candeeiro da mesa-de-cabeceira não lhe tivesse pegado
fogo. Tinha um chapéu de papel com cerca de um metro e vinte, uma típica lâmpada chinesa. Nessa altura não haveria qualquer esperança. Seria um inferno. Teríamos sido queimados vivos com a cama em labaredas!
Por fim, tanto eu como o Romano, acalmámo – nos e tentámos dormir alguma coisa na bruma do quarto cheio de fumo.
Na manhã seguinte acordámos para ver a extensão do prejuízo que o episódio havia criado. Um canto inteiro do meu quarto tinha sido todo queimado. O chão tinha as suas próprias cicatrizes. Todo o apartamento se encontrava repleto de fuligem, que se pegava às paredes e ao nosso corpo. Nem queríamos acreditar na sorte que tivéramos e tentávamos ver o lado cómico da coisa. Começámos a comentar a vinda dos vizinhos para ver o que estava a acontecer já quando o fogo estava extinto. Nem sequer um se lembrou de trazer uma das muitas mangueiras de incêndio colocadas no corredor do edifício.
A dor apoquentava Romano. Desatámos as ligaduras do pé. A pele tinha explodido em borbulhas do tamanho de morangos maduros. Não havia alternativa a não ser ir ao hospital. Eu tinha de ficar pois tinha de andar trezentos quilómetros, afim de ir buscar a Molly ao aeroporto.
Faltavam três horas para a partida e passei – as a esfregar o chão do quarto. Esfregando e raspando afim de eliminar a obra de arte que tinha sido desenhada pelo fogo.
O quarto danificado era um dos mais importantes do apartamento. Era nesse quarto que trabalhava o santuário que me pagava os cheques. O outro quarto não era apropriando por causa dos muitos ecos que emanava. As camas eram barulhenta e uma exposição total à vizinhança.
Mesmo quando estava a partir para o aeroporto recebi uma chamada de Romano. Estava ligado e tinham – lhe dito que tinha tido muita sorte. Estava pronto para deixar o hospital.
“Vou passar o resto da tarde a descansar e portanto vou contigo” disse por fim.
Foram as melhores notícias do dia.
Ambos estávamos exaustos mas Romano insistiu em conduzir. Sabia que não me encontrava em forma para ser eu a conduzir. Sempre que movia o pé nos pedais eu sentia, com intensidade, a sua dor. Estava desarmada e não sabia o que dizer para o confortar.
O tópico de conversação durante a viagem foi acerca da sorte que tivemos. Mal nos apercebemos que estávamos a chegar ao aeroporto. Molly estava também à espera. Tinha aterrado havia quinze minutos.
Logo que me viu apercebeu – se que havia algo que não corria absolutamente nada bem. Tinha a cara ainda suja de fuligem. Comecei a explicar a história. Molly acabou por acrescentar que havia tido uma premonição na noite anterior de que alguma coisa iria correr mal. Calei – me durante um pedaço e comecei a consultar a minha alma. Tudo fazia sentido. Molly havia talvez fiado com medo de descobrir quando chegasse que partiria de mãos a abanar e o seu desespero para pagar ao advogado, uma enorme quantia legal, que atingira o cúmulo e lhe estava a dar conta dos nervos. A sua ansiedade podia ter contribuído para esta triste história mas permaneci silenciosa e não mencionei o meu raciocínio. No fim de contas como ia eu provar a minha análise? A maioria nem iria sequer compreender o meu raciocínio.
O estado de espírito de Molly durante o regresso era decerto estranho. Talvez fossem os nervos que lhe conferiam aquele sarcástico tom de voz. Mas Molly era como uma segunda mãe para mim e eu não mencionei nada do que pensava.
Molly continuou a fazer perguntas a Romano. Era a primeira vez que se viam. Romano estava extenuado mas respondia. Mudei de assunto por um breve intervalo e comecei a explicar a proposta que tinha recebido do fotógrafo. Molly não se encontrava bem disposta. Cada resposta era negativa e eu vi escaparem – se – me as minhas réstias de optimismo precisamente naquele troço de estrada. Não era o que eu queria ouvir naquele dia.
O encontro não tinha boas perspectivas para mim. Meses a fio, tinha consumido a minha paciência num perfeito inferno. Naquele momento até parecia que Molly estava a contribuir para isso. Não era suficientemente forte para resistir à prova. Encontrava – me tão fraca que estava a sugar toda aquela indesejável negatividade o que para alguém na minha posição era como tomar um remédio mortal.
Molly não era estranha ao que eu tinha estado a fazer. Foi ela uma das primeiras pessoas em quem confiei. Tinha – me visitado no ano anterior e observado como as coisas se passavam.
Sempre que tinha uma marcação ia dar um passeio para me evitar embaraços, embora fossem tempos diferentes. Rapidamente se deu conta de que os seus passeios eram em número muito menor e desta vez chegou depressa à conclusão de que o problema não residia em mim.
Durante o lapso de tempo que durou a sua visita, pus diversos anúncios no jornal para testar ainda melhor a situação no exterior e os resultados mostraram – se dramáticos. Não havia aumento de chamadas. Era um sinal dos tempos e não tinha agora alternativa senão fazer malabarismos com os meus preços. Tinha triplicado a parada para cento e cinquenta euros mas mantive o preço inicial para os clientes regulares. No entanto, agora tinha de aceitar o que vinha dependendo do anúncio a que se reportavam e se eram ou não novos clientes.
Nos primeiros dias da sua visita, ia já no sexto, Molly não teve coragem de discutir os seus reembolsos. Pressenti que estava receosa de o fazer temendo que a deixasse a ver navios e que não lhe arranjasse sequer um cêntimo. Com a ajuda de Romano e o pouco que eu tinha poupado a quantia quase que era totalizada. Mas tinha ainda de arranjar o que faltava para dar a conta certa.
Num dia ou coisa assim consegui reunir quanto pude. Estava quase mas não quase o suficiente. No entanto, comparada com muitas pessoas, fora uma façanha fazer aquele dinheiro aparecer. Era o desespero de muitas situações que tinham passado por mim durante os horríveis meses anteriores, a luta, a determinação, e o impossível.
Reuni – me com a Molly nessa manhã afim de discutir a situação. Senti na minha frente os seus nervos e os seus medos tornarem o ar pesado à nossa volta
Antes que empalidecesse ainda mais disse – lhe que não havia conseguido arranjar – lhe o dinheiro. Por alguma razão me tinha expressado mal. Em lugar de dizer “todo” eu disse “o”. Caiu – lhe o coração aos pés e o seu rosto, branco como a cal, assim permaneceu até eu rapidamente emendar sem lhe dar tempo para pensar uma resposta ou gritar ou pior ainda ter um ataque cardíaco: “Peço muita desculpa mas faltam – me dois mil e quinhentos euros.”Deu um enorme suspiro de alívio. Não era nada comparado com o que estava por saldar. Sorriu e disso:
“Está bem querida. Por breves instantes pensei…Está bem, paga – me depois quando puderes” acrescentou enquanto readquiria alguns sinais de vida.
Disse – lhe que se fizesse diferença sairia e havia de encontrá – lo. No fim de contas penso que ainda podia contar com aqueles dois amigos, embora evitasse fazê – lo. De facto não queria.
Alguns dias antes de Molly estar para se ir embora recebi uma chamada inquirindo acerca do meu anúncio barato. O homem fez uma marcação e, por isso, Romano e Molly foram dar um passeio de automóvel afim de não criarem embaraços.
O cliente chegou. Abri a porta a um homem super – pesado que enchia o corredor com o intenso cheiro de odor corporal. Tinha o cabelo loiro e muito oleado e usava – o em rabo-de-cavalo com atilho na base. A pele brilhava – lhe de transpiração. Tudo o que havia na personagem que tinha diante de mim estava longe de ser higiénico.
Não me alarguei em conversas e pedi – lhe para me seguir para o quarto. Resmungou o nome, que eu percebi ser Jorge. O que eu queria era tudo acabado e de modo nenhum estava interessada em o ganhar como regular. Ademais tinha as minhas dúvidas se este homem não era responsável por um certo número de chamadas mal intencionadas que havia recebido. Não o apertei com perguntas, não valia a pena mas a sua voz não me enganou.
Dormir com Jorge era uma das cenas mais repelentes que alguma vez experimentara. Durante o coito babava – se como um cão à espera do osso e, como se isso não bastasse, levou todo o tempo em que decorreu o acto a insultar – me gritando:
“Cabra! Sua grande cabra do inferno.”
A camisa de Vénus estava a ficar seca e a magoar – me enquanto ele não mostrava sinais de atingir o clímax.
O tempo passava. Romano havia de telefonar em breve. Disse a Jorge que tínhamos que terminar.
“Ainda não. Dá – me mais um minuto para eu me vir”, pediu.
Como não dava sinais de se vir, voltei a recordar – lhe o tempo mas começava agora a ficar zangado, pois que sabia que não estava a ser sincera. A atmosfera estava a ficar tensa e terrivelmente abafadiça. A minha ansiedade atingiu – lhe o estômago e o seu tom de voz mudou abruptamente:
“Eu disse mais um minuto! Está bem?” gritei.
Ele não podia disfarçar. Estava muito zangado e continuava a escumar e a babar – se mais do que nunca. Era revoltante e pela primeira vez eu estava com medo. Havia alguma coisa de errado com este homem pervertido. Peguei na minha toalha, corri para fora do quarto, agarrei no telefone e fingi fazer um telefonema.
“Está bem, dá – me dois minutos que ele está – se a ir embora”, gritei.
Não queria ligar ao Romano para o não apoquentar.
Quando voltei para o quarto para dizer a Jorge que se não estivesse fora durante os próximos minutos alguém estaria à porta a inquirir o que se está a passar. Jorge estava já meio vestido. O tom da sua voz voltou ao normal e não pareceu mais possesso. Pegou na camisa e dirigiu – se para a porta da frente com apenas dois dos seus botões abotoados.
Pensando na sorte que tivera em escapar à situação voltei para o quarto para me vestir. Estava demasiado enervada para ser capaz de ainda tomar um banho. Repentinamente lembrei – me do dinheiro que tinha deixado no meu sapato ao lado da cama. Fui buscá – lo e acabei por perceber que ele o apanhara enquanto estive ao telefone. Viu onde o pus e levou – o.
Foi aí que me apercebi que devia ser um dos velhos truques de Jorge. Provavelmente não podia dar – se ao luxo de visitar prostitutas principalmente com todas aquelas chamadas que indecentemente havia feito antes sem que fizesse uma única marcação.
Parece que as coisas lhe correram como planeara. Por outro lado, na parte que me toca fiquei aliviada com a sua partida.
Quando o Romano e a Molly regressaram sentia – me mais calma e decidi – me a dar uma rápida limpeza ao quarto afim de me certificar de que não teria posto o dinheiro em qualquer lado naquela confusão toda. Mas encontrei uma pulseira de ouro que pertencia a um cliente novo que me visitara nessa mesma tarde.
No dia seguinte, o senhor que a deixara telefonou e perguntou se podia dar uma saltada a buscar a pulseira. Eu disse:
“Oh meu Deus! Não vai decerto acreditar o que me aconteceu na noite passada… Fui roubada”
A voz do outro lado do telefone estava em silêncio. Ele deve ter pensado que eu estava a utilizar uma ridícula e fraca desculpa para lhe dizer que já não tinha a pulseira. Mas imediatamente o confortei dizendo – lhe que tinha tido muita sorte por Jorge não a ter descoberto quando se encontrava mesmo à beirinha da cama.
Se a tivesse visto e levado podia ter parecido coincidência e de tal modo improvável que eu teria sido culpada de roubar aquela valioso objecto que, de acordo com o dono, tinha mais valor sentimental do que material.
Estávamos na véspera da partida de Molly. Não recebi qualquer texto de mensagem de Romano durante toda a manhã. Havia algo que decerto estava errado! Enviava sempre uma dúzia à hora do almoço. Finalmente chamou.
“O maldito banco! Ainda não alargaram o meu limite de crédito. Estão a dizer que o processo vai ainda arrastar – se por alguns dias.”
Nem podia crer no que estava a ouvir. O meu espírito estava possesso de milhentos pensamentos negativos.
“Porque não me avisou mais cedo? Oh meu Deus. Não acredito que isto esteja a acontecer”, gritei.
Era demasiado tarde para fazer arranjos alternativos. Estava tramada e incapaz de digerir a situação.
Romano sentiu – se sem saber o que fazer e disse – me que me telefonaria dentro de dez minutos. Sabia que me tinha deixado muito em baixo e era demasiado tarde para tentar arranjar o dinheiro em qualquer outro lado. Tinha confiado nele e adquirido a certeza de que era assunto encerrado.
Romano voltou a telefonar como prometera. Tinha conversado pessoalmente com o gerente do banco e ameaçado suspender todo e qualquer negócio bem como conta pessoal com o banco, acrescentando que era um erro inaceitável.
O gerente acabara por concordar que isso era, de facto, completamente fora do normal e conseguiu uma alternativa; conceder – lhe o dinheiro até ao limite estipulado da sua conta. Era outra conta secreta.
No dia seguinte levámos Molly ao aeroporto. Desta vez a viagem foi diferente. Todos íamos calmos e descontraídos. A semana acabou alegremente. Era mais uma tarefa cumprida.
CAPÍTULO 28
Molly partira com mais uma preocupação. Muito embora eu tenha sido forçada a pedir mais dinheiro para lhe pagar, tinha de o fazer. Devia menos dinheiro do que inicialmente mas os meus problemas ainda continuavam. Durante os primeiros dias após a sua partida a sua ausência provocou vários espaços vazios e só as nuvens que visualizava da minha janela podiam preencher essas lacunas.
Nesse dia, um ex “caso” meu, Ricardo a quem tinha confessado o meu trabalho, surpreendeu – me por querer fazer uma marcação. Mendigos não podem escolher, pensei e, embora relutante não hesitei em aceitar.
Ricardo era alto e charmoso mas acima de tudo muito oco. De facto, nunca tinha visto ninguém tão fútil como ele. A vaidade governava a sua vida em tal medida que parecia ser doença psicológica. Se pentear o cabelo em cada cinco minutos e olhar – se no espelho de dois em dois minutos não chegasse, trazia consigo pasta dentífrica e escova de dentes com que limpava estes religiosamente na hora. Uma camisa e uma gravata suplentes costumavam andar pendentes no seu automóvel precisamente para obviar um caso como um toque de mosquito. Ricardo nunca dispensava as suas lentes verdes de contacto afim de disfarçar os olhos castanhos. Eu era uma das poucas pessoas a partilhar este segredo. Era vaidoso em toda a acepção da palavra. Era como se essa palavra tivesse sido inventada de propósito para ele.
Ricardo voltou a telefonar antes da hora combinada e perguntou se estava livre para tomarmos juntos um café. Aceitei e ainda vinte minutos não eram passados, estava a pôr – me ao corrente das últimas notícias na loja de café local. Tinha muito para dizer, naturalmente. Desde a gravidez da esposa até ao seu esplendoroso porche novinho em folha que parecia olhar para nós sorrindo através da janela.
Há anos que Ricardo vivia obcecado com a minha pessoa. Intrigava – o a minha personalidade ao ponto de imitar as minhas expressões, rir e falar. Era como se este homem tivesse uma personalidade completamente vazia e a quisesse desesperadamente encher escolhendo, para isso, a minha. Era um erro absolutamente crasso, pelo menos para mim. Podia ver através dele, embora pense ser uma opinião subjectiva.
Pura e simplesmente, era um carácter previsível. Repetia mentiras frequentemente de tal modo que acabava por pensá – las verdadeiras e era tudo uma consequência da sua indispensabilidade de impressionar os outros.
Olhando outra vez para o reluzente carro azul que nos deslumbrava da estrada disse ao Ricardo que as coisas deviam estar na maior para ele. Com uma risadinha infantil disse que tinha comprado finalmente o carro dos seus sonhos, corrigindo imediatamente o que dissera quando me viu a olhar para ele com aspecto enigmático.
Ricardo sentiu imediatamente necessidade de se corrigir pois sabia muito bem que o que se encontrava lá fora era o carro que eu estava em vias de adquirir antes de as coisas voltarem a piorar.
Convidara – me para um café para me esfregar as minhas feridas com sal, só que isso não aconteceu, especialmente devido ao que ia seguir – se. E era uma prova a acrescentar à sua falta de personalidade, a sua total ausência de carácter e desespero de ser como eu, diferente.
Foi comprar um carro precisamente com as mesmas características, cor, motor interior e volante que eu tinha na ideia. O conjunto do imaginário tornava o carro diferente, único.
Passado algum tempo sentiu que era necessário dizer – me que tinha comprado o carro com o dinheiro da venda da casa da avó. Quando disse “sinto muito”, pensando que a senhora tinha falecido, emendou imediatamente, que havia recentemente decidido ir viver com ele e a sua família.
Não precisou de dizer mais nada. O que se via lá fora era a casa da avó. Em nome da vaidade ou no meu nome, este homem tinha finalmente arranjado maneira de subornar a avó para lhe oferecer a herança enquanto viva!
Estava a ficar tonta com tal estupidez de conversa e o meu espírito partiu em deambulações cíclicas, para trás e para diante sobre os meus problemas e sua previsibilidade. Sugeri que regressámos e lá partimos.
Mal tínhamos posto os pés no apartamento Ricardo tirou o chapéu e disse que tinha uma questão melindrosa a colocar – me.
Precisamente quando começava a pensar em regressar e sair pela porta fora, disse:
“Quero que me trates como se fora um escravo. Posso ser teu escravo? Posso? Farei tudo o que me mandares, patroa.”
Olhei para ele de cara crispada para me convencer de que estava a brincar. Mas não estava! Estava mortalmente sério. As suas expressões haviam – se transformado. Vulnerabilidade e inocência apoderaram – se do seu rosto tal como um rapazinho a ser repreendido pelo seu mestre – escola. Fiquei sem palavras. Não sabia o que dizer ou que fazer. Nunca me tinha aparecido uma situação idêntica e enquanto a ia digerindo pedi – lhe para ir para o quarto.
Não sabia quem estava mais admirado se era ele ou eu, a patroa ou o escravo. Não podia acreditar no que estava em vias de fazer. Senti – me de novo no meu primeiro dia só que agora um ano mais tarde com dolorosas recordações e cada vez mais distantes.
“Estou a trabalhar. Isto é trabalho”, convenci – me a mim mesma à medida que abria o meu guarda-vestidos ao mesmo tempo que experimentava um novo e delirante conjunto de emoções. Estou a trabalhar e sou actor. Resmunguei de mim para mim num sussurro.
“Disseste alguma coisa, patroa?” perguntou Ricardo gentilmente.
O meu novo papel surgiu – me instantaneamente no meu espírito:
“Não, não falei. E quem te deu o estuporado direito de falares em minha casa? Põe – te aí de pé em cima da cama e puxa já as calças para baixo até aos tornozelos. Já!”
“Está bem, patroa. Desculpa lá, patroa. Com certeza patroa”.
A experiência para Ricardo era religiosamente séria. Nem por sombras uma brincadeira. Era como se fosse a sua profissão.
Voltei – me e pus – me a vasculhar o guarda – fato pondo toadas as minhas roupas num monte no chão até que finalmente consegui encontrar alguns brinquedos que havia escondido por debaixo das minhas fiadas de fatos, autenticamente empacotadas, tropeçando por entre uma colecção extraordinariamente sexy de lingerie branca e agarrando nela, pensei, se a havia de vestir ou não. Repentinamente acordo do deslumbramento. Visto algo sexy e … mas estarei perdendo o juízo? Nunca saíra da minha rotina para impressionar os meus clientes. Será que seria esta a altura de começar? Balbuciei intimamente. Sou naturalmente sexy segundo a opinião da clientela e não pela decoração que possa adornar o meu corpo e, assim, despi a colecção …
O que acabei por tirar do guarda – vestidos foi nem mais nem menos do que um par de punhos de camisa e um fio de contas de prata. Com uma das mãos a segurar as contas e com a outra a libertar o cabelo do rolo, voltei para Ricardo que não se atrevera a mover no meio do silêncio e permanecia na em cima da cama com as calças puxadas até aos tornozelos.
“Quanto é que me desejas?” Disse enquanto encostava o peito à cara de Ricardo.
“Muito, patroa. Tanto que até faz doer”, replicou levantando a mão para sentir.
Bati – lhe com ela na cara e repliquei:
“Quem manda? quem é aqui a patroa?” Bradei.
Patroa, perdoa – me por favor. Por favor deixe – me tocar – lhe. Por amor de Deus deixe – me chupá – la. Suplicou.
Não era uma estranha para o seu corpo e sabia bem como reagia. Queria fazê – lo sofrer tal como pedira e coloquei – lhe o meu mamilo na boca até ter a certeza que era suficiente para aguentar até ao momento em que sentia que estava dependente de o pôr a sugar. Sabia bem que adorava chupar – me os mamilos. Sabia do prazer que desfrutava já que outrora havia sido a sua paixão. De repente tirei – lhos e ordenei – lhe que se levantasse.
“Está bem, patroa”, respondeu humildemente.
Fui sentar – me no banco de ginástica e antes de poder voltar – me senti um leve soprar na minha retaguarda. Era Ricardo.
“Mas que fazes tu aqui?
“Por favor, mestra, perdoa – me, mestra”.
Caiu postado de joelhos e começou a lamber – me violentamente os pés pala obter perdão. Agarrei – o pelos cabelos e conduzi – lhe a cabeça na direcção dos meus mamilos e perguntei – lhe se os desejava, se precisava deles.
“Quero, patroa! Dêmos por favor. Quero sim. Não quero outra coisa. Farei tudo o que quiser, patroa”, gaguejou e voltou – se continuando a gaguejar.
Peguei – lhe na cabeça à distância dos braços para o arreliar, algemei – o atrás e sentei – me em cima das suas pernas.
Os fios de contas encontravam – se ainda na minha mão e olhava – os fixamente a pensar o que é que eu iria fazer com aquilo. Um por um acabaram por desaparecer na minha vagina até o sexo ser também engolido e restando apenas o fio pendente da minha vulva. Ricardo proferiu um ligeiro grunhido de êxtase psicológico. Puxei as contas devagarinho e a um ritmo consonante com o seu grunhir que gradualmente se silenciada afim de ser retomado de novo.
Pendurei o fio na minha cabeça provocado gentilmente um estalar na minha boca como se de uvas se tratasse.
Quando o terceiro entrou, puxei – o outra vez para fora no mesmo ritmado movimento Os grunhidos de sensualidade de Ricardo enchiam o apartamento e quando lhe perguntei se estava a entrar em pânico, ele respondeu:
“Estou sim, patroa. Por favor deixe – me chupar as contas. Por favor”, gritou em desespero.
Libertei – lhe os pulsos das algemas permitindo – lhe que se levantasse do banco para o algemar atrás das costas e arremessei – o para cima da cama. O fio de contas estava ainda na minha mão. Ricardo não podia ver nada!
“O que estás a fazer, patroa?”
Precisamente quando estava a perguntar, comecei a empurrar uma pequena conta de prata pelo seu ânus acima. Resfolegou ruidosamente.
“Sossegadinho, escravo. Quem é que te mandou fazer barulho?” gritei enquanto continuava a meter as contas até que a última se evaporou.
Voltei – o na cama, olhei – o nos olhos e perguntei de novo quem é que mandava antes de me sentar em cima do rosto e permitir – lhe que me lambesse a vagina ao mesmo tempo que continuava algemado.
Passados uns segundos ergui – me um pouco e esperei que pedisse para descer mas não regressei à mesma posição.
Era tempo de acabar com aquilo e, portanto, acomodei – me no seu corpo e, de costas para ele, sentei – me em cima do pénis movimentando – me para cima e para baixo num ritmo lento mas firme.
Quando me apercebi que Ricardo estava prestes a atingir o clímax peguei no fio de contas e puxei – o para fora num gesto penetrante. Ricardo começou a gritar em pânico e êxtase e continuou em transe durante alguns minutos. O orgasmo prolongara – se com uma curiosa mistura de pânico e prazer.
Logo que o Ricardo se foi embora, passei horas a analisar – lhe o comportamento e tentando compreender, de facto, o que fazia este homem saltar de prazer. Já o tinha colocado sob o meu microscópio no passado e, portanto, conhecia – o de sobejo ou era assim que eu pensava.
Puxei cá para fora toda a informação armazenada na minha mente acerca desta personagem e comparei com a sua recente fantasia; a insistência em ser comandado; o mendigar; a necessidade de domínio. Qual a razão?
Concluí que a sua necessidade de ser comandado era um espelho da sua natural premência de agradar e ser, assim, incondicionalmente aceite.
A necessidade de Ricardo ser dominado era, sem qualquer dúvida, devida ao facto de que, na verdade, nenhuma mulher seria capaz de fazer isto. Tinha todas as mulheres a seus pés, caso o desejasse, e não as queria todas a atirar – se a ele, isto é, todas com uma única excepção e era essa a razão de ter estado todos estes anos obcecado por mim. Tinha sido a mulher ímpar que nunca receberia ordens dele, que nunca me ajoelharia na sua frente, que nunca me punha para ali com merdas. Concretamente, tinha de lutar por mim como nunca lutara na sua vida fosse por aquilo que fosse.
A sua paixão por mim chegou ao ponto de me pedir em casamento, prometendo deixar tudo ante um gesto meu, totalmente às minhas ordens. Para além disso, ele tinha de se comportar como eu, e desejava ser como eu porque era mais forte do que ele, porque era mais forte do que qualquer mulher com quem se havia cruzado. Talvez estivesse a ficar farto do jogo e, regressando ao homem, desejava, assim, copiar as minhas expressões e comportamento de mulher?
Fosse qual fosse a razão, Ricardo expressava o seu verdadeiro eu e o seu sincero desejo nas representações daquele quarto. As suas frustrações haviam aflorado o seu carácter. Tinha sido a privilegiada em ver os seus verdadeiros sentimentos já que tudo tinha ficado claro para mim. Perdeu a batalha. Talvez escondesse ainda alguma réstia de esperança que não ganhava em vir à superfície, já que não valia a pena; eu estaria sempre lá, indiferente, no controle.
CAPÍTULO 29
Naquela tarde a minha energia fora completamente absorvida naquele joguinho com Ricardo no reino da fantasia. Pedro Filipe, um dos meus regulares ligou para fazer uma marcação. Eu fiquei contente. Mal eu sabia quão diferente ia ser esta visita das anteriores.
Pedro Filipe tinha sido um dos regulares durante cerca de seis meses. Não vinha frequentemente mas sempre que o fazia sentia uma grande urgência de justificar porque é que não tinha aparecido recentemente. As desculpas eram sempre as mesmas. A esposa andava sempre vigilante, levava as crianças para a escola e depois ia buscá – las.
Telefonava – me frequentemente entre as visitas para dizer isto como se tivéssemos uma espécie de relacionamento. Nunca prestei demasiada atenção na medida em que isso não era raro no círculo dos meus clientes.
Pedro Filipe era excessivamente alto, media pelo menos 1, 95 m. Era muito belo e o seu cabelo curto, espesso e grisalho fazia – o parecer – se com George Clooney. O seu todo era extremamente atraente, o sonho de qualquer mulher. Mas Pedro Filipe tinha um carácter introvertido admiravelmente inseguro e sempre demasiadamente na defensiva.
A primeira visita do Pedro Filipe ficou viva na minha memória. Por qualquer razão tornava-se hesitante, mesmo medroso quando era para tirar as calças. Pela minha vida que não conseguia compreender porque é que um homem tão bonito que orçava pelos quarenta anos se sentia tímido a fazer uma coisa dessas.
Quando por fim acabou, o próximo obstáculo iria provar – se ainda mais difícil. Não queria tirar as cuecas. Continuavam coladas à sua virilidade até que por fim tive de lhe dizer que o tempo estava a passar.
Quando Pedro Filipe finalmente arranjou coragem para descer as suas desesperadamente agarradas cuecas, percebi logo a razão de toda esta ansiedade. O pénis do Pedro Filipe era pequenino. Nunca tinha visto nada mais pequeno. Falando sinceramente, o seu membro viril não ultrapassava os seis centímetros. Estava admirada mas tentei desesperadamente não o mostrar para evitar que ficasse atormentado.
Da minha experiência pessoal, quanto mais alto era o homem, maior o seu membro viril. No entanto, Pedro Filipe era decerto a pior excepção à regra. O pénis era tão pequeno que quando depois acabámos por ter relações sexuais era extremamente difícil encontrar uma posição que permitisse a penetração.
As frustrações e o azedume acumulados de Pedro Filipe foram aliviados pela primeira vez nesta visita. Estava – se a comportar estranhamente e muito longe de ser o homem descontraído que tinha aprendido a ser nas suas visitas anteriores.
Gostava de Pedro Filipe e queria ajudar na medida em que sabia intimamente que ele queria ouvir – me perguntar se necessitava de ajuda ou pelo menos, um ombro para chorar. Toda a atmosfera estava preenchida por um grito mudo, o grito do silêncio de Pedro a pedir para ser ouvido.
Naquela tarde não tinham acabado as marcações e as chamadas. Romano telefonara a avisar – me que chegaria mais tarde do que o costume e por isso decidi criar um ambiente acolhedor para ajudar Pedro Filipe a sentir – se confortável afim de se libertar fosse do que fosse que tinha de extirpar da sua alma.
Perguntei – lhe se queria um café e dirigi – me para a cozinha. Seguiu – me e encostou – se ao meu frigorífico enquanto preparava o super – filtrado café que enchia a cozinha com o seu cheiro divinamente forte e quente.
“Então, Pedro, o que é que se passa contigo? Vá lá, então um homem tão bonito como tu com tudo a seu favor?” disse para lhe incutir confiança sobre aquilo que eu receava iria contar – me. O meu receio não era infundado.
“Um homem que tem tudo. É isso que pensas? Está bem, não tenho pénis, ou será que tenho?” respondeu.
Tentei encontrar as palavras adequadas para lutar contra a sua inferioridade já que estava tomado de emoção. O seu malogro podia ser sentido a ressaltar de cada peça de mobília que havia naquela sala de estar e a ricochetear para mim. Senti a sua dor e a sua tristeza e achei – me desarmada ante o seu desespero. Mas sabia que estava errado acerca de alguma coisa. Sabia que estava sob a mesma falsa ilusão que se encontrava subjacente em muitos. Estava convencido como tantos outros de que o orgulho do homem e o prazer da mulher estavam dependentes do tamanho de um órgão de um homem.
“Estás completamente enganado, Pedro. Estás muito mal informado. Só uma mulher é que pode responder a essa pergunta e eu sou uma e posso dizer – te que estás mal documentado.”
Pedro Filipe olhava para o chão enquanto eu continuava.
“Pedro, eu posso orientar – te através de toda a minha experiência passada e penso que sabes que tenho mais do que a maior parte das mulheres. Estão enganadas! Alguns homens estão cônscios de que é só a penetração que agrada a uma mulher e eles estão também enganados. Alguns como tu acreditam que é o tamanho que faz a diferença, quero dizer, quanto maior melhor. Não podem estar mais enganados. O problema reside em que as mulheres também possuem um corpo que precisa de ser explorado e muitos homens não fazem sequer a mínima ideia de como reage ou funciona uma mulher. O tamanho do pénis é irrelevante na maioria dos casos. O que é importante é o modo como o corpo de uma mulher é captado e muitos homens nem mesmo se dão ao trabalho de considerar isto como relevante.”
Pedro Filipe continuava ali sentado a ouvir sem interromper a conversa. Decidi contar – lhe algo acerca de um ex-namorado, o Rui.
Sentia – me na lua de tão apaixonada pelo Rui mas aquele relacionamento foi efémero devido a uma transferência de serviço repentina. Rui tal como Pedro era um homem muito atraente. Era invulgarmente popular com as mulheres e era, ao mesmo tempo, o assunto de todas as conversas na cidade.
O pénis do Rui era a coisa mais diminuta que eu já alguma vez vira num homem. Mas amava – o e de todas as vezes que fazíamos amor podia sentir as sensações, não através da penetração mas também através de toda a sua experiência. Rui sabia como tocar – me. Ele sabia como despertar cada célula adormecida do meu corpo e enchê – la de êxtase, como despertar sensações que muitos desejariam poder conhecer embora nunca o consigam. E porquê? Por estarem mais preocupados com o tamanho e comparação com os dos outros e não atingem ou então são demasiado egoístas para tentarem fazê – lo, a noção de como o corpo de uma mulher funciona e reage.
Rui era também complexado com o tamanho do pénis. Na nossa primeira noite, estava excessivamente tímido o que o impediu de ter uma erecção.
Nessa altura eu não compreendia o porquê e senti – me pior do que ele mas era simplesmente o seu embaraço que havia causado a impotência. Só quando se começou a aperceber de que o tamanho do seu membro viril não significava coisa nenhuma para mim é que finalmente se descontraiu.
Pedro Filipe continuava portanto sentado como antes cheio de atenção a ouvir o que lhe dizia. Havia uma outra história que não contei e que queria apresentar – lhe. Desta vez era algo de trágico mas achei que devia saber.
Um dos meus clientes passados, um famoso economista chamado Paulo tinha sido aconselhado a ligar – me pelo seu médico. Paulo tinha cinquenta e cinco anos. Tinha – se divorciado havia alguns anos e residia numa vivenda, na praia.
Paulo fizera uma operação ao pénis devido a um cancro, alguns anos antes da sua primeira visita ao meu apartamento. Por mais que tentasse não conseguia uma erecção depois da operação; o seu membro simplesmente ficava flácido e sem vitalidade.
Em abono da verdade eu não podia ver qualquer sinal de esperança para Paulo mas ele continuava sob a falsa ilusão criada pelo seu médico de que precisava de exercitar o músculo, que era meramente falta de prática. Estou ciente de que era a maneira do médico escapar ao sentimento de culpa de uma operação mal conduzida.
Lá bem no fundo, penso que Paulo tinha a mesma opinião e a verdade deprimia – o. Era uma das mais tristes e trágica situação que experimentei com um cliente. As únicas palavras de filosofia que podia oferecer a Paulo era dizer – lhe que era ainda afortunado. Pertencemos a uma geração onde tudo é possível e implantes podem ser inseridos como opção extrema. Todo o resto se resume a saber como o corpo da mulher na verdade funciona.
Pedro Filipe continuava sem articular palavra quando acabei de lhe falar das minhas experiências. Agarrei a oportunidade para derivar por alguns momentos e retomar onde lhe tinha estado a falar e questionar sobre um certo comportamento masculino.
Na maioria dos casos eram mesmo os homens com grandes pénis que mais provavelmente eram mais promíscuos. Talvez pensassem estar a fazer uma grande coisa e continuassem a tentar e a impressionar o maior número possível de mulheres? Talvez fosse porque nunca conseguiram, de facto, impressionar nenhuma que não experimentam fazer amor em lugar do oposto, “foder?”
A linha basilar para mim é que, um grande pénis é sinónimo de ilusão de egos, que em contrapartida despojam o macho de desfrutar as sensações de que continuam à procura. Para atingir esta sensação, são necessárias uma total compatibilidade, compreensão, química, inteligência, entrega e sensibilidade. Talvez que estes homens sejam pura e simplesmente desprovidos destes atributos e continuem as suas vidas à procura de alguma coisa que ainda não experimentaram. Afinal, há alguns homens que não sentem a necessidade de pesquisar mais além. Têm tudo o que precisam enrolado num… talvez saibam como fazê – lo funcionar instantaneamente e não só.
Quando finalmente voltei para o lado de Pedro Filipe em corpo e alma, a luz do quarto ganhou um brilho muito mais intenso. Pedro desenhava um sorriso na sua face e estava apto a deixar a minha porta com um estado de espírito totalmente diferente. Quanto a mim estava mental e fisicamente exausta. Tinha sido um dia muito longo.
CAPÍTULO 30
Enquanto me encontrava à janela do meu quarto naquela desesperante tarde soalheira, Francisco ligou para me salvar o dia. Nem uma única pergunta havia sido proferida naquela jornada levando – me a ir comprar o jornal diário para ter a certeza de que o meu anúncio tinha saído. Mas com certeza que sim! As pessoas estavam a ser afectadas pela situação económica mais do que nunca e, portanto, esta chamada de um regular foi recebida de braços abertos.
Francisco era um homem formidável a rondar os trinta anos. Sofria de uma disfunção renal o que o forçava a fazer sessões de diálise semanais. Francisco era um elo de uma longa cadeia de clientes de um grupo de drogados que me havia sido recomendado. Embora limpo há seis anos, continuava a frequentar o grupo devido à sua grande dependência da droga que tinha durado dez anos. A sua condição degradante era o resultado da experiência passada.
Durante uma visita de Francisco, e por qualquer razão falou acerca do grupo, descobrindo que a cadeia de visitas começara com um certo cliente, Alfredo, o comissário de bordo. Tal como foi mencionado antes, bani este das minhas visitas porque o seu comportamento se estava a tornar obsessivo. Se o tivesse permitido ele faria uma marcação diária, mesmo duas. Apesar de tudo, eu e o Alfredo continuámos em contacto porque compreendera exactamente a razão das medidas que eu tomara. Durante uma chamada de Alfredo mencionei o nome de Francisco levando aquele a alertar – me para a situação: Francisco era seropositivo.
Eu e Francisco nunca havíamos tido relações sexuais. A sua situação física proibia – lho. E era semi – paralítico do lado esquerdo. Embora pudesse arrastar a perna não podia mover o braço. Depois de falar com Alfredo fiquei sem ter a certeza se Francisco evitava a penetração devido a isto ou simplesmente para não me pôr em contacto com o vírus.
Francisco chegou. Conversámos na cama durante um pedaço como era o nosso costume antes de se decidir a enrolar – se em mim do meu lado e penetrar – me por detrás. Estava receosa mas não consegui dizer – lhe o que Alfredo me tinha confidenciado. Não sabia o que fazer salvo senão dar isso como caso arrumado pedindo a Deus que tudo estivesse bem, e sem problemas. Na verdade, Francisco era um dos homens mais abençoados que conheci. Tinha um pénis muito desenvolvido e, acima de tudo muito amplo de tal modo que quando mo metia pela retaguarda e o sentia deslizar pela vagina dentro, o meu coração parecia que parava de bater ao mesmo tempo que crispava a face, dificilmente movendo o corpo. Convencia – me que estava tudo bem. Tinha colocado a esponja contraceptiva no interior da vulva (comecei por usá – la durante os meus períodos mas, devido à minha preocupação crescente, senti – me de algum modo mais acautelada ao fazê – lo regularmente).
Francisco, deitado de lado, penetrava – me apenas com a ponta do pénis, sentindo o meu corpo a movimentar – se terna, suavemente mas permaneci paralisada, inerte, sem me atrever a um movimento sequer, sem saber o que fazer.
Quanto mais tentava sossegar – me e convencer que tudo estava bem, de que Francisco era sincero, que nunca seria capaz de me colocar em perigo, maior era o meu pânico. Francisco era psicólogo. Outrora tentara ajudar – me com os meus problemas. Sabe bem que tenho o suficiente no prato da minha balança, não é verdade? Pergunto a mim própria à procura de mais certezas.
Para meu alívio, Francisco atingiu o clímax. Aqueles dois minutos tinham sido duas horas para mim.
“Desculpa, Diana”.
“Oh não te preocupes”, disse pensando que se estava a desculpar pelo curto desempenho.
“Sempre me acontece isto. O maldito preservativo voltou a romper – se”
.
“O quê, rompeu – se? Oh meu Deus! Diz – me que estás limpo. Diz – me que não tens SIDA! Não tiveste, não? Estavas a fazer isso com a ponta do pénis porque a tens.”
“Acalma – te, Diana. Não sou seropositivo. Fiz isso com a ponta do pénis exactamente porque as malditas camisas de Vénus estão sempre a romper – se quando tenho relação sexuais com alguém.”
Francisco podia avaliar a minha miséria e ver o medo a derramar – se por todos os poros do meu corpo. Estava desesperada para lhe contar o que Alfredo me tinha confidenciado mas por mais que tentasse fazê – lo não conseguia. Desejava que Alfredo se tivesse enganado, que tivesse sido um estúpido quiproquó, mistura de identidades, qualquer coisa no género! …
Mas tudo se apresentava ante mim como se estivesse a malhar em ferro frio. Porque é que Francisco evitara sempre a penetração?
Não pude evitá – lo por mais tempo e, sem qualquer hesitação, emocionadamente perguntei:
“Houve quem me dissesse que tens SIDA, Francisco, é por isso que estou com medo, que estou tão aterrorizada. Não posso acreditar…”
“Mas que grande estupidez. Quem diabo te enfiou essa patranha? Mas tu és louca? És pateta? Toma atenção, mas primeiro acalma – te. Sabes que todas as semanas vou à hemodiálise, não sabes? Pois bem, todos os meses faço um teste e vou trazer – te os relatórios, está bem assim?”
“Oh, mas que bom! Trás - mos! Não te esqueças por favor”
Disse numa voz alterada.
As semanas seguintes provaram ser o inferno. Passei a maior parte do tempo livre a passear de um lado para o outro no apartamento como um prisioneiro na sua cela. Não podia aguentar mais e tinha necessidade de encontrar um ombro para chorar. Queria acreditar em Francisco mas Alfredo também me parecia fazer sentido; Francisco era muito franzino e doente.
Não podia suportar aquilo dentro de mim depois de passada a primeira semana. Confessei a Romano o incidente que, em contrapartida tentou acalmar – me assegurando – me que tudo haveria de correr bem. Não haveria de ter a doença; tinha de fazer um teste e decidi telefonar a um cliente meu que era médico para me fazer o teste.
Estivemos um bocado na conversa e confessei – lhe que não era a primeira vez que isto tinha acontecido. Era uma ocorrência rara mas acontecera algumas vezes. Perguntei – lhe quais eram os sintomas e todas as informações que conhecia a respeito do vírus.
Uma das suas respostas foi que na fase inicial podia haver um período de febre prolongada com a duração de cerca de um mês. Senhor! Era a última coisa que precisava de ouvir. Podia lembrar – me que tivera um longo período de febre que acreditei na altura estava relacionada a dor muscular e problemas ciáticos.
Caiu – me o coração aos pés. Estava a tirar conclusões precipitadas Seria ciática, dores musculares ou os primeiros sintomas da SIDA? Ia dar em maluca ou iria tirar conclusões fora de tempo?
Pouco mais de duas semanas eram passadas e estava pronta para o teste sanguíneo. Telefonei para um laboratório privado para fazer uma marcação só para ficar a saber que apenas me podiam marcar para o dia seguinte.
Cheguei à clínica cedo e esperei petrificada na sala de estar! Não gosto nada da sensação de que algo me esteja a assustar. Estava com medo de ter medo e, assim, tinha medo de estar lá.
Chamaram pelo meu nome e fui atrás de uma senhora para um compartimento que cheirava acentuadamente aos químicos. Sentei – me numa cadeira que me indicou. Perguntou-me o que é que eu fazia ali. Não podia acreditar que me estava a fazer uma pergunta dessas mas respondi – lhe com delicadeza, que o meu namorado rompera a camisa de Vénus durante o coito.
“Sinceramente? É então esse o tipo de contraceptivo que usa com o seu namorado?” inquiriu.
“De facto não é. Não nos relacionámos durante muito tempo… Um mês, pouco mais ou menos”, respondi para evitar mais perguntas.
Precisamente quando me ia embora olhei para a senhora e perguntei – lhe quanto tempo demoravam os resultados. Respondeu que habitualmente era uma semana. Não dava para acreditar! Olhei – a nos olhos tentando que ela descodificasse a mensagem que estava a tentar transmitir – lhe sem palavras. Num abrir e fechar de olhos percebeu exactamente o que eu estava a tentar dizer: é assim que este país funciona! Olho por olho, dente por dente. No que me diz respeito “se não poderes vencê – los, alia – te a eles”.
Mais tarde, naquele domingo, encontrava – me distraída da penosa espera quando o meu cão foi levado de emergência para o teatro de operações. Havia desenvolvido uma infecção uterina que começava a espalhar-se através do sangue. O veterinário não deu garantia se sobreviveria ao anestésico. O seu estado estava – se a deteriorar minuto a minutou e a operação não era uma opção.
Fiquei com ela naquela noite. Eu era uma ruína emocional ao pensar que iria perder a minha companhia de seis anos. De manhã cedo, quando estávamos para deixar o veterinário o telefone tocou. Era a senhora do laboratório a avisar – me que os resultados estavam prontos para recolha. Perguntei – lhe se mos podia dizer pelo telefone. Ficou em silêncio e o meu coração parou de bater.
“Oh meu Deus…Isso quer dizer que não estão bem…?” perguntei.
“Está tudo bem, Diana, prometo. Apareça e leve – as quando puder”.
“Quase pulei ao telefone para a beijar. Estava tão aliviada! Tinha tido sorte, uma vez que frequente e permanentemente continuava numa profissão de alto risco. Era sem dúvida outro aviso de que tinha de tomar nota. Nunca mais perguntei a Francisco pelos resultados.
CAPÍTULO 31
Toda a história da saga da “SIDA” me deixou esgotada e juntou – se à minha infindável lista de quebra – cabeças. O ponto mais alto de tudo isto era colocar o meu já débil relacionamento sob severa pressão. Pensando bem, tudo o que se encontrava sob extrema pressão, principalmente a minha sanidade.
Todos os dias me confrontava com o mesmo maldito problema. Não havia um único dia que não andasse por ali a examinar as paredes do apartamento; o colchão da cama, as nuvens através da janela e, principalmente, Romano.
Não se punha o sol num único dia sem que tivesse efectuado uma completa investigação das informações da minha conta bancária e de quanto necessitava para atingir o zero e começar de novo. Vendera o meu corpo para conservar a minha alma mas até isso me estava a escapar. Sem este quesito intacto tudo deixaria de ter significado e não sabia como continuar.
Algo havia de dar de si. Alguma coisa tinha de desaparecer da minha vida rapidamente. Não podia mais controlar sentimentos e trabalho entre estas paredes. Tinham dado de si durante muito tempo mas agora podia vê – las na minha pele. Mais alguns meses entre elas e ficaria mortalmente sufocada.
Não passava um único dia que eu e Romano não discutíssemos. Havia alturas em que não conseguia olhá – lo nos olhos. Havia certas ocasiões em que perdia totalmente o respeito por ele e não o podia levar a sério. Simplesmente, não havia condições na minha vida para um relacionamento. Tinha – me convencido a mim própria exactamente desde o princípio mas de algum modo cometi o enorme erro de cair nele.
Estava a afundar – me e a levar Romano comigo. Era um sentimento inexplicavelmente difícil e um dos mais difíceis alguma vez experimentados por mim enquanto prostituta. Enfrentando os dois problemas simultaneamente era demasiado complicado, era destrutivo. Mas o pior de tudo é que originava “dores de cabeça” que tocavam a insanidade. Este autêntico inferno que eu criava tinha de desaparecer antes eu própria desaparecesse. Era demasiado poderoso e tornando – me cada vez mais fraca, dissolvia a minha tolerância.
Uma das maiores dores de cabeça era deixar o local que tinha e encontrar outro de modo a separar casa e trabalho. Precisava de encontrar paz de espírito mas o meu apartamento era demasiado pequeno para permitir uma coisa dessas. Alem dos dias em que discutíamos e cada um tomava rumos diferentes, Romano tinha praticamente vivido comigo através do nosso relacionamento.
Depois de um desmoralizante argumento no mês anterior, Romano insistia que passássemos algumas noites por perto da sua residência Mas nessa altura não me apetecia a mim. Se eu nunca a tivesse mencionado o seu apartamento nunca me teria convidado para lá. Levou meses de penosas análises antes que eu pudesse, de facto, dar – lho a perceber. Não queria permanecer por mais tempo num lugar onde inicialmente não tinha sido bem vinda. Tinha o meu orgulho e os meus valores e ninguém iria tirar – mos.
Como Romano continuava praticamente a viver em minha casa sugeri que considerássemos a possibilidade de procurar uma casa para arrendar, uma casa nossa. O meu apartamento teria de, como é óbvio, ser usado só para fins laborais e o novo como um lar onde pudesse esquecer o trabalho. Sempre que tocava no assunto, Romano costumava dizer que nós já tínhamos duas casas e não precisávamos de outra.
Em silêncio, ia ficando cada vez mais aborrecida. Será porque ele não se importa? É melhor permanecer na minha casa, é mais barato…não compensa… portanto este relacionamento é uma brincadeira de certeza. Pensava.
Todo o drama em relação a Romano e apartamento se tornou um dos factores mais importantes que estava a determinar o findar do relacionamento e iria torneá – lo sozinha. Para mais, como é que este homem podia ter um relacionamento com uma prostituta? Era uma coisa, na realidade, incompreensível.
Estes dois factores produziram a bola de dinamite na minha mente que estava prestes a explodir deixando para trás outro capítulo. Automaticamente devastava os meus sentimentos em relação a ele sabendo pela experiência passada de que seria uma questão de tempo antes dos sentimentos se tornarem irrelevantes de maneira que, quanto mais o amava, mais depressa deixava tudo para trás. Tinha acontecido no passado.
Desesperadamente tentei libertar – me de Romano sem qualquer sucesso. O meu amor por ele tinha estagnado a um ponto de recuo. Quanto mais eu tentava escapar mais aprisionada me sentia. Por sua vez ele não se ia embora.
Estava a sufocar. Era de certo modo muito opressivo; a experiência de um ano, cada simples segundo dessa experiência de um ano era uma enorme acumulação de gases letais que se pegavam às paredes prontos a explodir e a matar a minha alma.
Fazia quatro meses que eu e Romano nos encontrávamos juntos. Sabia como compreender e interpretar o que me estava a acontecer, partilhava a minha dor, a minha angústia e o meu sofrimento, mas estava demasiado ocupada a analisar o estado confuso dos negócios para apreciar tudo isso e, assim, permitia com essa trapalhada despojar os meus sentidos, de experimentar o seu amor e apoio. Negatividade na sua mais pura e inalterada forma era tudo o que eu sentia. Romano tinha estado sempre lá. Tinha visto o amargo e triste mundo do meu silêncio de sobrevivência e ficou cada vez mais consciente de que alguma coisa tinha dar de si.
Embora considerasse que fossem esperanças positivas, eu e Romano falámos de tempos melhores. O período que eu inicialmente planeara trabalhar era de cinco meses. Encontrava – me no décimo quarto e, pelo menos, uns outros sete meses eram necessários. Mas ambos sabíamos que não podia aguentar a situação até lá. Podia safar – me sozinha mas não com um relacionamento.
Em várias ocasiões sugeri a Romano que nos separássemos por uns tempos até eu acabar. Era a minha maneira de o convencer a deixar – me ir embora e permitir – me respirar na medida em que as outras tentativas se haviam gorado. Mas ainda desta vez Romano não havia de concordar na medida em que tinha a sensação que o plano era irrealista por causa da deterioração continuada da economia que tornava tudo frouxo. No ritmo em que seguia podia demorar uma eternidade.
As coisas pareciam regredir em vez de andarem para a frente. Romano sentia – se cada vez mais desarmado na medida em que sabia que nos íamos perder um ao outro. Também sentia o desagradável fim do relacionamento e continuava a lutar para reduzir o débito da sua empresa. Era confrontado com enormes pagamentos ao governo; as suas paredes estavam também a ceder; sofria em silêncio para não me carregar ainda mais.
Os únicos pensamentos positivos que partilhávamos ao tempo eram a nossa fome de atingir grandes sonhos para o futuro, os sonhos que estavam sepultados debaixo de uma espessa camada de imundície. A despeito da nossa situação ambos sentíamos que estávamos destinados a fazê – lo em grande.
Romano veio para casa após mais um dia de troca de mensagens negativas e pediu – me para me sentar na cama. Sentei – me apenas para o ouvir dizer que encontrara uma solução.
“Uma solução? Mas que solução?” Perguntei confusa.
“Uma solução para acabar com esta merda! Uma solução para pôr fim a este capítulo.”
Movimentei os olhos, como se fosse fácil falar e sonhar. Tínhamos passado horas sem fim fazendo isso antes. Entre nós tínhamo – nos proposto mais de um milhão de dólares de ideias mas não tivemos a possibilidade ou a sorte de vê – las realizadas. Por deferência deixei – o falar e rabiscar números nas costas de um velho envelope.
”Tudo o que tens a fazer é encontrar investidores. É tão simples como isso.”
Não podia acreditar no que ouvia e perguntei:
“Como é que uma banca rota como eu, que tem dificuldades para comprar um jornal vai arranjar investidores? Quem seria suficientemente rico para comprar tal ideia?”
Mas Romano ignorou o meu comentário e passou algumas horas em volta do assunto. Cada detalhe era planeado com diagramas. O plano consistia em arranjar dinheiro para comprar os seus produtos às manufactureiras. Tinhas vários destes mediadores que utilizava afim de ter um nonagésimo dia de crédito limite. A ideia era de que nós fôssemos um destes mediadores. Era uma excelente ideia e, acima de tudo, grandemente lucrativa.
Após algumas semanas de pensar e de examinar, perguntando e avaliando, aceitei a ideia. Primeiro fiquei apreensiva porque me parecia ser uma espécie de controlo. Não tinha pensado que isso podia também beneficiar Romano. Pensei que era a sua maneira de tentar ajudar e em várias ocasiões rejeitei a ideia.
Uma vez que deixasse de ser prostituta nunca mais quereria voltar para trás, preferindo alijar a oferta e recusei a proposta até que Romano me fez ver de que ele em realidade precisava de todo o crédito que pudesse obter e se isso significava eu ganhar uma percentagem tal como todos os outros mediadores, isso era formidável. Agora, como é que ia arranjar o capital inicial?
Concluindo que os benefícios eram bilaterais, aceitei. Surgia agora o maior problema, os investidores. Como é que alguém sem crédito como eu se podia aproximar fosse de quem fosse para obter empréstimos? Para ganhar investidores tenho de ser confiante, certo? Senão como posso vender a ideia? Pensei de mim para comigo.
Após alguns dias a considerar decidi que antes de tentar fazer isso tinha de tentar pedir dinheiro emprestado por razões diferentes permitindo – me ter um projecto para mostrar aos investidores.
Eu e Romano entregámo – nos ao trabalho e tentámos arranjar o máximo dinheiro possível afim de realizarmos a primeira aquisição. Tentei a minha sorte e perguntei a uma das pessoas a quem tinha restituído dinheiro se podia, mais uma vez, emprestar – me uma quantia significativa. Ante a minha admiração, concordou. Depois falei com algumas outras a quem ainda devia largas somas pedindo – lhes para deferir os pagamentos. Fiquei deliciada quando consentiram. De parceria com Romano que levou o cartão de crédito ao limite, permititir – nos – ia preparar para o primeiro negócio a realizar dali a um mês.
Eu e Romano passámos os dias seguintes a fazer planos e a determinar prazos para fazer dinheiro de investimentos para os dois meses extra afim de garantir um fluxo de aquisições mensais. A ideia era, assim, tornar – me mais confiante e realizar uma aproximação ao negócio. Contudo, por agora, continuava a trabalhar por mais quatro semanas; por outras palavras, até que o primeiro negócio estivesse em marcha.
Algumas semanas mais tarde recebi um cliente novo, um homem que rondava os seus trinta anos. Sabendo que tudo estava a chegar ao fim, era mais que suficiente para me diminuir a pouca paciência que tinha sobrado. Sem lhe perguntar sequer o nome pedi – lhe para ir para o quarto.
O homem não levou o meu procedimento a peito já que era normal para as raparigas da minha profissão comportarem – se de modo idêntico. Era tímido e permanecia calado, a não ser que lhe perguntassem alguma coisa. Tinha um pedido a fazer; tinha visto a minha colecção de CDs maior do que o normal que se poderia ver a uma milha da minha sala de estar.
“Reparei na sua colecção de CDs quando passei. Tem, por acaso, Joe Cocker?” perguntou, ficando surpreendido quando lhe disse que sim. Fui à sala de estar buscá – lo.
Voltei ao quarto aproximando – me do reprodutor de CDs e programei a canção que pedira: “podes deixar ficar o chapéu.”
Quando me estava a ajoelhar ele aproximou – se por detrás e colocou gentilmente a mão num dos lados da minha cara enquanto eu continuava a mirar o reprodutor de CDs.
“Sabes uma coisa? Tenho uma confissão a fazer – te”, disse em voz baixa e rouca que até parecia o Bruce Willis, “Sou viciado em sexo. Adoro mulheres. Nunca me farto. Tenho o vício. É a minha doença”, continuou enquanto eu carregava no play.
A voz de Joe Cocker começou a dominar o outrora silencioso quarto. O homem levantou – me detrás e, ao ritmo da música, conduziu – me para o banco de ginástica, colocou a cabeça no meu pescoço e começou a respirar profundamente ao mesmo tempo que, levantando – me os braços e levando as minhas mãos a agarrar o poste do banco de ginástica por cima da minha cabeça.
Começou por me apalpar os seios cobertos por um soutien justo. Ao som da música, foi conduzindo as mãos para baixo até ao meu derrame, colocando – as depois debaixo do meu top seguindo com elas depois até ao peito para atingir os meus mamilos. Pressionava – os gentilmente como se estivesse a tentar provocar – me ao ritmo da música.
Depois andou à minha volta até se colocar face a face. Ajoelhou – se, abriu – me o fecho das calças tendo antes agarrado firmemente as minhas nádegas. Abrindo – me as pernas colocou a cara próxima da minha vagina e cheirou – a tentando arreliar – me na mediada em que olhava para os meus olhos antes de começar a lambê – la.
Repentinamente desapareceu o contacto ocular enquanto a chupava cada vez com mais força antes de desapertar o fecho das calças. Dirigiu – se a seguir para a minha cara de modo que pude cheirar – lhe os lábios. Olhei – lhe para o pénis. Estava dolorosamente erecto a explodir com a contracção de energia com que estava pronto a explodir.
Voltando a colocara – se de pé atrás de mim, passou – me as mãos pelos seios para recapturar os meus braços que permaneciam ainda agarrados ao espaldar. Inclinou – me para o banco e começou a penetrar – me por detrás enquanto se ancorava nos meus ombros. O ritmo da música controlava – lhe os movimentos respiratórios enquanto penetrava cada vez mais fundo obrigando – me a dar pela sua presença, a dar – me conta do seu domínio, da sua força e poder. Quanto mais penetrava, mais pesado surgia o seu canto.
A canção chegou ao fim. Uma outra mais sexy, mais poderosa substituiu a anterior. Tirou o pénis para fora e voltou – me de modo a encará – lo de frente. Colocando um pé nas minhas calças que pendiam dos meus tornozelos, deixou – as para trás enquanto reentrava na minha vagina. O seu corpo começou a balançar – se para trás e para a frente num progressivo bater e um doce começar de um borbotão de cada poro do seu corpo. Estava completamente possuído, obcecado em penetrar e deixar a sua marca no meu corpo. Depois atirou – me para cima da cama e continuou os seus loucos movimentos, já em cima de mim. Por um momento abrandou para ganhar contacto ocular e atingir o clímax.
As coisas haviam mudado dramaticamente. Senti – o mais do que nunca. Já não me encontrava mais envolvida na realização, na totalidade do acto não era mais o actor naquele quarto. Sabendo que ia escapar – me fugi ainda antes de o pano estar prestes a cair. Estava livre!
Mal este cliente saíra, logo entrou outro. Este estava em vias de marcar o fim prematuro e o terminar de uma era. Tratei – o do mesmo modo que o anterior. Não quis saber o nome, em realidade não me interessou. Suspeitei que seria outro dos meus companheiros da polícia secreta na medida em que estava mais interessado em saber do meu negócio mas não levei tempo a analisar e a fazer o jogo.
Enquanto nos encontrávamos estendidos na cama, o meu espírito moveu – se ao sabor das circunstâncias. Comecei a pensar na história do décimo quinto mês. Tinha atingido mais de trezentos regulares muitos dos quais me visitavam algumas vezes por mês enquanto que uma mão cheia deles vinha todas as semanas. Alguns apaixonaram – se por mim. Outros tentaram comprar – me, havendo também os que me pretenderam subornar – me porque a minha afectividade não era igual.
Contudo, em lugar de me sentir segura de mim mesma, sentia – me cada vez mais hesitante, não acerca da minha pessoa mas porque tinha aprendido a verdade acerca do mundo real. Tinha visto coisas, muitas das quais nem sonhara ou mesmo imaginara possíveis. Era cúmplice destes homens que via andando por aí com as esposas e as namoradas. Observei a desonestidade e a verdade atrás daqueles que permaneciam num relacionamento infeliz, aqueles que são traídos em nome da infelicidade. Não me sentia intimidada ou insegura naquele nível mas porque vi o mundo real e triste da traição, da mentira, da desonestidade e da tristeza. Sentira a dor de muitos homens, compreendi – lhes as esposas também. Sentira as angústias de muitas consortes e compreendi os seus maridos. Na verdade não era um vista de um lado apenas, era a uma vista dos dois. Na maioria dos casos havia sempre razões.
Toda esta experiência me transformou para a vida. Embora enfrentasse sérios riscos, e tivesse escapado de perigosas situações, tinha sido psicologicamente afectada. Não mais vi o mundo sob um prisma da mulher mas aprendi a vê – lo através dos olhos dos homens.
O cliente rebentou – me a bolha enquanto me encontrava a fitar o tecto.
“Sentes – te bem? Pareces tão distante.”
“Desculpa. Realmente estou. Não consigo continuar com isto. Estou a perder paciência. Na verdade já não tenho mais paciência.”
Repentinamente olhou para mim muito admirado como se pudesse sentir o que eu sentia. Olhou – me fixamente nos olhos durante alguns momentos antes de me responder que percebia perfeitamente.
Deixámos as coisas por ali.
Apesar de tudo larguei o ofício três semanas antes da data planeada. Sabendo que o fim estava tão próximo, não foi o suficiente. Não podia mais continuar. Tinha saudado o primeiro cliente com uma “desculpa” e vi sair o meu último também com uma “desculpa”. Mas tinha começado com a minha alma e acabado quase perdendo – a.
Quando Romano chegou a casa naquele fim de tarde cumprimentei – o à porta e comecei a abraçá – lo antes de lhe dar as notícias. Não podia acreditar na minha decisão, mas sabia que tinha de estar desesperada para abandonar, uma vês que faltavam três semanas.
Agarrou – me a mão, conduziu – me para o automóvel e fomos comprar umas garrafas de Champanhe. Durante quatro horas ficámos a olhar o mar do cimo dos rochedos junto dos quais estávamos estacionados.
“Vamos encontrar um lugar e vamos os dois?” perguntou.
“O quê? Estás por certo a brincar. No fim de contas, estás a pensar que vou realmente contigo.”
“Estava à espera de verificar se falavas a sério, se ias de facto largar. Não queria ir viver contigo enquanto trabalhasses. Não compreendes que quero coabitar contigo e não partilhar – te?
Comecemos a olhar o dia de amanhã!”
LIVRARIA SATURNO – BRASIL
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